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Fundamentos de administração financeira Aparecido Lisboa Pires Introdução Tomar decisões financeiras adequadas assume mais importância para uma empresa, pois apresenta uma complexidade ainda maior. Não importa o tipo e o porte da empresa, a adminis- tração financeira tem um papel decisivo para o seu sucesso ou fracasso, tornando relevante um estudo sobre as finanças corporativas. Objetivos de aprendizagem Ao final desta aula, você será capaz de: • entender a importância do estudo da Administração Financeira para o desenvolvimento das organizações no contexto de um ambiente competitivo e inovador; • compreender a importância da função financeira nas organizações. 1 Visão geral da Administração financeira Administração financeira é a área da empresa responsável por tomar dois grandes tipos de decisão: de orçamento de capital e financeiras. EXEMPLO Ao decidir adquirir um equipamento, a empresa está tomando uma decisão de orçamento de capital. Já a forma pela qual esse equipamento será adquirido, ou seja, se com recursos próprios ou por financiamento, é uma decisão financeira. Conforme Chiavenato (2014, p. 12), a decisão de orçamento de capital envolve o planejamento e a gestão dos investimentos de longo prazo da empresa. O desafio está em identificar e localizar as oportunidades de investimento cujo valor para a empresa seja superior ao seu custo de aquisição”. Figura 1 – Decisão de orçamento de capital e decisão financeira Fonte: Team Oktopus/Shutterstock.com FIQUE ATENTO! O propósito final da administração financeira é tomar decisões que permitam au- mentar a riqueza de uma companhia. Além de conseguir remunerar os financiadores dos investimentos realizados, as operações da empresa devem gerar lucro. Decisões inadequadas podem gerar prejuízos enormes, compro- metendo o equilíbrio financeiro da empresa e a sua capacidade produtiva. EXEMPLO Você investiria ou continuaria investindo em um produto cujo mercado não está mais disposto a adquirir? Com certeza, a resposta é não. Isso traria grandes preju- ízos para a empresa e até ameaçaria o seu cargo. 2 Objetivos e funções da administração financeira O principal objetivo da administração financeira é maximizar o valor da empresa e qualquer decisão que aumente este valor é considerada uma boa decisão (DAMODARAN, 2004). Em uma companhia, a administração financeira realiza as seguintes funções: • planejamento financeiro: está relacionado ao futuro da empresa, aos seus objetivos, envolvendo a definição sobre em quais bens a empresa investirá e quais serão as for- mas de captação que maximizarão sua riqueza; • controle financeiro: ocorre a partir da execução do planejamento financeiro, verificando se os resultados estão dentro do esperado. Caso não estejam, realizam-se ações corretivas, podendo-se até rever o planejamento. Esta área é denominada controladoria. A compara- ção entre o planejado e o realizado ocorre, principalmente, a partir de indicadores, como o de retorno sobre os investimentos (ROI), de retorno sobre os ativos (ROA) e muitos outros; • administração de ativos: executa, entre outras atividades, a gestão do capital de giro e do próprio fluxo de caixa da empresa. A gestão inadequada desses itens pode significar perdas de ativos (dinheiro, por exemplo). Administrar ativos de modo que apresentem uma relação eficiente entre risco e retorno é também uma atividade dessa função. Se um gestor financeiro assume o risco de investir em um equipamento novo é porque ele espera por retornos no futuro que compensem o risco assumido; • administração de passivos: toma decisões acerca da estrutura de capital desejada pela empresa. Decide se é melhor obter financiamento de terceiros (como empréstimos ban- cários) ou a partir de recursos próprios (dos sócios ou acionistas, por exemplo). O ideal é ter compromissos de curto prazo em um total inferior aos seus bens e direitos de curto prazo e a administração financeira deve atuar para garantir essa situação ou podem ocor- rer sérios problemas de liquidez, aumentando os riscos e comprometendo os resultados. FIQUE ATENTO! São essas as funções da administração financeira: planejamento financeiro; con- trole financeiro; administração de ativos; e administração de passivos. 3 Forma de organização dos negócios Em uma empresa individual inexistem parceiros ou acionistas. Nessa forma de organização, na maior parte das vezes, não há separação entre a propriedade e a gestão, ou seja, o proprietário realiza a sua administração. Esse formato é muito comum em empresas de pequeno porte, em que um empresário individual assume responsabilidades ilimitadas e o seu patrimônio pessoal pode ser executado para honrar eventuais obrigações não cumpridas pela empresa. No Brasil, a forma jurídica do tipo Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI) foi instituída para incentivar a atividade empresarial, pois o seu proprietário não tem responsa- bilidades ilimitadas como acontece com as clássicas empresas individuais. Essa forma jurídica EIRELI foi autorizada pela Lei nº 12.441, de 11 de julho de 2011 (BRASIL, 2011). SAIBA MAIS! Muitas empresas começam com apenas um proprietário e depois se tornam grandes negócios. Um exemplo disso é a Lego. Leia a história dessa empresa no link: <https://www.lego.com/pt-br/aboutus/lego-group/the_lego_history>. Uma sociedade é a empresa cuja propriedade é de um ou mais sócios, que podem ter respon- sabilidades limitadas ou ilimitadas, dependendo da formalização jurídica. No Brasil, nas empresas limitadas (Ltda.), desde que com capital totalmente integralizado, os sócios têm responsabilidade limitada, ou seja, o seu patrimônio pessoal não pode executado na hipótese de a empresa não honrar com as suas obrigações. É mais comum existir a separação entre a propriedade e a gestão, pois donos e gestores são pessoas diferentes. As corporações têm como exemplo as empresas de capital aberto, ou seja, o seu capital é constituído por ações e há separação entre a propriedade e a gestão. Essa é a forma de orga- nização de negócios mais comum em negócios complexos de atuação e maiores, em que fica impraticável a propriedade e a gestão estarem concentradas em uma única pessoa. Os donos (acionistas) têm responsabilidade limitada e seus bens não podem ser executados, caso a corpo- ração não cumpra suas obrigações. Figura 2 – A Bolsa de Valores de Nova Iorque Fonte: Stuart Monk/Shutterstock.com O fato de as corporações emitirem ações faz com que existam dois tipos de mercados: pri- mário e secundário. No mercado primário, a companhia emite ações pela primeira vez. Uma vez emitidas, essas ações podem ser revendidas de uma pessoa para outra infinitas vezes por meio do mercado secundário, em que as bolsas de valores têm um papel central. 4 A empresa e o ambiente de negócios Uma empresa é considerada um sistema aberto e está em constante interação com o seu ambiente de negócios, o qual se tem demonstrado cada vez mais competitivo, necessitando que os seus gestores, inclusive da área financeira, realizem as decisões mais corretas possíveis. Figura 3 – Interações da empresa com o ambiente Fonte: keport/Shutterstock.com Uma empresa realiza diversas trocas com o seu ambiente de negócios: os inputs represen- tam fatores, como recursos humanos e recursos materiais, que a empresa adquire do meio e que são processados, transformando-se em produtos e/ou serviços, ou seja, os outputs. 5 Mercados financeiros Um gestor financeiro pode realizar operações de captação de recursos para o investimento em ativos, como um equipamento novo ou a construção de uma nova unidade fabril. Caso a empresa tenha excedentes de caixa, deverá aplicá-los nas alternativas mais rentáveis possíveis. Assim, é importante conhecer a estrutura dos mercados financeiros na qual a empresa está inserida. O mercado financeiro é formado por agentes deficitários, agentes superavitários e intermedi- ários financeiros. Os agentes deficitários necessitam derecursos para a realização de suas ope- rações, como uma companhia que precise de um financiamento para a aquisição de um veículo. Os agentes superavitários precisam aplicar seus recursos em excesso para obter retorno, como quando uma pessoa investe em cadernetas de poupança ou em títulos do Tesouro Nacional. Veja que agentes superavitários e deficitários dependem um do outro para satisfazerem as suas necessidades. Contudo, torna-se impraticável um deficitário procurar diretamente um supe- ravitário. Adicionalmente, os dois, em geral, não são especialistas, então, contratam um interme- diário financeiro para terem suas necessidades atendidas. Os agentes intermediários (como bancos) têm a vantagem de reunirem milhares de clientes e, desta forma, centralizam uma quantia enorme de recursos obtidos por meio dos depósitos e das aplicações dos agentes superavitários, podendo emprestá-los aos agentes deficitários a partir da cobrança de uma taxa superior à taxa de remuneração dos recursos captados. Essa diferença entre a taxa cobrada na concessão de um empréstimo e a taxa de remuneração dos recursos captados pelos bancos é conhecida como spread (a remuneração bruta do agente intermediário). Figura 4 – O intermediário financeiro Fonte: kolopach/Shutterstock.com FIQUE ATENTO! No mercado financeiro, atuam três principais tipos de agentes: agentes superavitá- rios, agentes deficitários e intermediários financeiros (bancos). As empresas, no caso as de capital aberto, podem captar recursos por meio das ofertas públicas de ações (OPA). As novas ações que uma empresa emite são negociadas no mercado primário. Por outro lado, é no mercado secundário que ocorre a venda entre os investidores das ações já existentes. Além de ações, as empresas, notadamente as de capital aberto, podem, no mercado de capi- tais, emitir debêntures, que são também valores mobiliários, mas diferem das ações por serem considerados títulos de dívida e de renda fixa e não títulos patrimoniais e de renda variável. SAIBA MAIS! No Brasil, as corporações que emitem ações devem obedecer às normas da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Saiba mais sobre essa comissão no link: <http://www.cvm.gov.br/menu/acesso_informacao/institucional/sobre/cvm.html>. Fechamento Nesta aula, você teve a oportunidade de: • entender que a Administração Financeira é importante para o desenvolvimento das organizações no contexto de um ambiente competitivo e inovador; • compreender o papel da área financeira para as organizações; • conhecer as formas de organização dos negócios; • entender que uma empresa interage intensamente com o seu ambiente de negócios; • conhecer as estruturas do mercado financeiro em que a empresa está inserida e a atu- ação dos seus agentes (deficitários, superavitários e intermediários financeiros). Referências BRASIL. Presidência da República. Lei n. 12.441, de 11 de julho de 2011. Disponível em: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12441.htm>. Acesso em: 15 mar. 2017. CHIAVENATO, Idalberto. Gestão financeira: uma abordagem introdutória. 3. ed. Barueri, SP: Manole, 2014. COMISSÃO de Valores Mobiliários (CVM). Sobre a CVM. Disponível em: <http://www.cvm.gov.br/ menu/acesso_informacao/institucional/sobre/cvm.html>. Acesso em: 15 mar. 2017. DAMODARAN, Aswath. Finanças corporativas: teoria e prática. Tradução de Jorge Ritter. 2. ed. Porto Alegre, Bookman, 2004. LEGO. Cronologia da história do Lego. A história do Lego Group. Disponível em: <https://www. lego.com/pt-br/aboutus/lego-group/the_lego_history>. Acesso em: 21 mar. 2017.
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