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A planta carnívora Um clarão no céu, mas nenhum estrondo. Estavam em meados de novembro, por isso não podia ser um daqueles relâmpagos de verão. Além disso, eles costumavam ser brancos e essa luz tinha um brilho alaranjado bem forte que contrastava com o céu estrelado do outono. Deve ter sido uma estrela cadente, pensou Nicole Philips. Eu só a vi pelo canto dos olhos. [...] Talvez não tenha sido uma estrela cadente e sim uma nave espacial, pensou Nicole. Pode ter sido um Objeto Voador Não Identificado. [...] Cinco minutos depois, Nicole estava entrando na mata com a lanterna de seu pai na mão. [...] Ela chegou ao ponto onde algo havia caído. Um buraco com cerca de um metro de diâmetro e sessenta centímetros de profundidade havia sido aberto na terra batida. No meio da cratera havia uma rocha incandescente do tamanho de uma bola de beisebol. Ela podia sentir no rosto o calor da rocha fumegante, que chiava em contato com o ar gelado. Nicole queria levar a rocha para casa, mas ela estava quente demais. Decidiu voltar no dia seguinte, quando a rocha já estivesse fria. Mas havia outra coisa que ela levaria para casa. À beira da cratera, um pequeno broto havia conseguido atravessar a poeira, arqueando a cabecinha em direção ao céu estrelado. As pequeninas folhas daquela planta com apenas dez centímetros de altura eram verdes, com um leve toque de roxo. Não havia nada parecido crescendo por ali — ela andava sempre pela mata. Não havia nada parecido... Até aquela rocha chegar. Com cuidado, Nicole arrancou a plantinha do chão. Ela era macia e meio aveludada ao toque dos dedos. [...] Quando Nicole acordou na manhã seguinte, a planta já estava dez vezes maior... Ela tinha agora mais de um metro de altura! Havia tomado conta do parapeito da janela, e da parede. O tapete estava coberto por um emaranhado de ramos roxos e verdes. No caule de um metro de altura, que parecia um pescoço fino, havia brotado um grande botão do tamanho de uma bola de basquete. O botão era laranja, vermelho e azul... lindo! A parte da frente estava bem fechada, como uma flor que ainda não desabrochou. Parecia uma enorme boca. — O que está acontecendo? — perguntou Nicole, em voz alta. Na noite anterior, depois de levar a planta para casa, ela a colocou num dos vasos vazios de sua mãe com um pouco de terra, água e adubo. Depois de mostrar a planta a seus pais, ela a colocou no parapeito da janela e foi para a cama. De um dia para o outro, a planta havia ficado maior do que o vaso, agora espatifado no chão como uma casca de ovo. [...] ] Ela tentou arrancar a planta carnívora do parapeito da janela, mas ela nem se mexia. Os ramos da planta enrolaram-se em volta das pernas do pijama da menina. A força da planta era surpreendente. Nicole não conseguia se desvencilhar do aperto. — Mamãe! Papai! — ela gritou. Mas depois se lembrou que era sábado de manhã e eles costumavam ir à padaria. Não estavam em casa. Ela tinha que lutar contra aquela gigantesca planta alienígena sozinha! Nicole esticou o braço para pegar sua lixa de unha em cima do criado-mudo. Enfiou a ponta com força no botão da planta. — GROOOOOOOOAAAAAAAAR! — a coisa urrou de dor. Uma gosma preta escorreu do botão e cobriu a mão da menina. A meleca tinha um cheiro parecido com o de um sanduíche de atum rançoso que passou muito tempo no sol. Nicole lutava, mas a planta não queria soltá-la. O Sr. e a Sra. Philips voltaram da padaria. Traziam para casa o pão favorito de Nicole, de gergelim com requeijão. [...] Ela atravessou o corredor em direção ao quarto de Nicole, enquanto o Sr. Philips folheava o jornal, procurando as palavras cruzadas. Ele escutou o grito da esposa. Largando o jornal, correu para o quarto de Nicole. — O que houve? — ele perguntou ao chegar à porta do quarto. Parou ao ver a estranha planta que ocupava o quarto inteiro. Galhos e folhas subiam pelas paredes e pelo teto. — Mas o que...? Nicole e sua mãe estavam enroladas nos terríveis tentáculos verdes da planta e sendo arrastadas em direção à sua enorme boca escancarada. Ramos amordaçavam- nas, por isso elas não podiam gritar. As duas lutavam para escapar dos fortes galhos, mas não conseguiam. Sem pensar duas vezes, o pai de Nicole agarrou o abajur que estava no criado- mudo e o atirou naquela boca enorme e cheia de baba. Ainda preso à tomada, o abajur soltou uma forte descarga elétrica quando a planta o mordeu. — GROOOOOOOOAAAAAAAAR! — a coisa gritou de dor novamente, soltando Nicole e sua mãe. CRÁS! A planta alienígena quebrou a janela do quarto de Nicole e — usando suas raízes como pés — pulou a janela e desceu pela lateral da casa. Em seguida, desapareceu na mata. — Vocês duas estão bem? — perguntou o pai. Nicole e sua mãe assentiram com a cabeça. Não tinham fôlego para responder. — Se aquela... coisa cresceu tanto assim em poucas horas, vai saber de que tamanho ela pode ficar! — disse o pai de Nicole, olhando para a janela à procura da planta assassina. Recuperando o fôlego, Nicole disse por fim: — Precisamos avisar a polícia. Ninguém está seguro enquanto aquela coisa estiver solta. — Ninguém está seguro... — repetiu o pai.
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