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EBOOK CLAUDIA AMORESCER

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Amorescer 
 
 
Florescendo através do Amor e 
sendo transformada pela Arte. 
O RECONHECIMENTO PESSOAL NA DUPLA EXCEPCIONALIDADE. 
 
 
 FICHA CATALOGRÁFICA 
AMORESCER 
Florescendo através do Amor e sendo transformada pela Arte. 
O reconhecimento pessoal na Dupla Excepcionalidade. 
 
FICHA CATALOGRÁFICA 
 
Copyright © 2022 – Cláudia Coelho de Moraes; ONDA; AutismoS 
Todos os direitos reservados. 
1ª Edição – Editora Brilliant Mind Brasil – setembro de 2022. E-book. 
ISBN: 978-65-5941-802-2 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP/CDU) 
Palavras Chave: Autismo, Autoajuda, Informativo. 
 
 
 
 
 
 
 
CDD: 028 
CDU: -316.4 
 
 
CLÁUDIA COELHO DE MORAES; ONDA; Autismos 
AMORESCER 
Florescendo através do Amor e sendo transformada pela Arte. 
O reconhecimento pessoal na Dupla Excepcionalidade 
 
1ª Ed. – Campo Grande, MS: Editora Brilliant Mind, 2022. ??? páginas – E-book 
WhatsApp: (67) 99291-7113 
e-mail: editorabrilliantmind@gmail.com 
ISBN: 978-65-5941-802-2 
 
Todos os direitos desta edição são reservados ao autor. Proibida a cópia ou reprodução 
por qualquer meio, inclusive eletrônico, conforme a lei nº 10.695 de 4 de julho de 2003. 
 
Coordenação e Organização da Obra: Drº H.c. Alas Alvarenga 
Projeto Gráfico e Finalização: Editora Brilliant Mind 
Ilustrações e história: Francilene Vaz da Silva Rabelo 
Editado por: Editora Brilliant Mind 
Patrocinadores: AutismoS e ONDA-Autismo 
Impressão e Acabamento: Editora Brilliant Mind 
CNPJ: 38.100.453/0001-62 
Cidade: Campo Grande - MS 
mailto:editorabrilliantmind@gmail.com
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
2 Apresentação - ONDA-Autismo .................................................................. 01 
Prefácio - Patrícia Feijó Evangelista Winck – Arteterapeuta ACAT 
045/0313 ...................................................................................................... 02 
Introdução .................................................................................................... 06 
Autismo Feminino ...................................................................................... 07 
Capítulo 1 – Autismo Feminino .................................................................... 10 
Capítulo 2 – Autismo e Superdotação: a Dupla Excepcionalidade ................25 
Capítulo 3 – Autismo e Superdotação: ........................................................ 59 
Posfácio – A Participação, com Admiração, de outras Mulheres Autistas .... 71 
Recado da autora .......................................................................................... 76 
Patrocinadores ............................................................................................. 79 
 Ilustração – Francilene Vaz da Silva Rabelo 
Após um reencontro, Francilene e Cláudia, numa construção de irmandade e 
reciprocidade, em uma descoberta mútua por meio da Arteterapia, 
compreenderam a vida com nova perspectiva de fé, amor e generosidade. 
A beleza das ilustrações para este e-book, que também “só foram 
possíveis chegar a esse processo, graças às intervenções da Arteterapia”. 
Francilene Vaz. 
Tais ilustrações, precisavam estar presentes nesta obra para 
, representar a essência dos textos aqui apresentados. 
2 
PG 01 
 
Este e-book é a continuação da série de e-books gratuitos 
disponibilizados pela ONDA-Autismo em seu site www.ondaautismo.com.br e no 
perfil do Instagram @ondaautismo. 
Mas este, em especial, é o segundo e-book da autora, Cláudia 
Moraes, para a associação. Seu primeiro e-book intitulado de “TEA & Educação 
& Família” falava da perspectiva de ativista, profissional e mãe de uma pessoa 
autista, porém, este e-book aborda um aspecto mais intimista, sobre os 
diagnósticos de TEA e Superdotação. 
No decorrer do ano passado, 2021, após receber os diagnósticos, 
Cláudia, começou a escrever em seu perfil @claudiacoelhodemoraes sobre 
autismo feminino e superdotação, e para composição deste e-book selecionamos 
alguns textos desse perfil. 
Vivi ao lado do Autismo por 33 anos, pesquisei, estudei, me formei, 
mas todo o meu foco estava no autismo masculino devido ao meu filho, e talvez 
esse fator é que não tenha me permitido enxergar o meu próprio. 
Durante a vida sofri de condições que deveriam ter alertado os 
médicos para essa possibilidade de associações com o autismo como: depressão 
pós-parto, pânico, fibromialgia, enxaqueca. 
Ao conviver mais de perto com mulheres autistas, por observação e 
associação com o recente diagnóstico de Ansiedade e Depressão, resolvi por 
mim mesma buscar maior entendimento num possível diagnóstico de autismo. 
Não deu outra, diagnóstico confirmado: autismo nível 1, com necessidade de 
investigar provável TDAH. Após muitos testes, ficou comprovado o autismo, 
descartado TDAH, mas confirmado superdotação. Aí a princípio minha maior 
surpresa a superdotação, mas ao estudar essa condição me encontro de maneira 
muito clara em suas características. 
Escrevo esse post para as mulheres que sofrem dessas condições 
(que nem sempre determinam autismo) mas que até por fatores genéticos 
possam abrir caminhos diagnósticos. Não se prendam, busquem quanto antes, 
para que se tenha maiores chances de tratamento e de entendimento pessoal. 
Cláudia Moraes 
Esta obra foi divida em 3 capítulos, tentando promover uma leitura 
atenta e flúida, para que você leitor, consiga absorver o conteúdo, em sua 
integralidade. 
http://www.ondaautismo.com.br/
PG 02 
 
 
 
 
 
 
Ilustração FADA ARTEIRA- Homenagem à Patrícia Winck 
PG 03 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Quanta honra e alegria estar aqui prefaciando a obra de uma 
pessoa que passei a admirar em minha caminhada profissional, como 
Arteterapeuta. 
Estou falando de Cláudia Moraes, essa mulher que tem como 
predicados, a delicadeza que não lhe cabe, transborda; a empatia que lhe 
é pureza da alma e o respeito ao próximo, incomensurável. A beleza 
interna é visível a cada gesto de doação aos que se aproximam para 
compartilhar e vibrar. A beleza externa é aquela que se admira, ao 
conviver com ela em sorrisos, simplicidade e simpatia. 
Sua verdade surge com tom nobre e altivo, justa e leal, permitindo 
aos que têm o privilégio de desfrutar de sua amizade, conseguem 
perceber sua autenticidade e reciprocidade. 
Busca sempre estar com o humor elevado, sem esquecer sua luta 
diária com seu filho Gabriel, autista nível 3, adulto. Mãe dedicada e ativista 
desde sempre, pois foi na busca por respostas para seu filho, que se 
entregou ao conhecimento do autismo até os dias de hoje, onde finaliza 
seu Mestrado em Educação. 
Palestrante inata, construiu uma carreira no ensino superior, 
realizando cursos, atuando na causa autista e nos surpreende como 
escritora, trazendo sua expertise de vida, depois que foi diagnosticada 
com autismo e superdotação. 
Eis que a dupla excepcionalidade chega e mexe com a mulher 
Cláudia Moraes. E é nesse momento em que a Arteterapia veio acomodar 
as emoções, o sentir, o entender, o “aceitar” ... enfim, um novo viver. 
Nessa caminhada da arte terapêutica, Cláudia se entrega ao seu 
processo de corpo e alma, fazendo de cada dia um dia novo. Às vezes 
confuso, melancólico, injusto, inquietante, decepcionante e até mesmo 
revoltante, mas, cotidianamente reflexivo. Tais dias, trouxeram-lhe a 
escuridão, mas permitiram que neles uma fresta de luz chegasse, 
oportunizando a escrita terapêutica para o seu perfil Autismo Feminino. 
PG 04 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Os textos desse perfil são frutos da sabedoria adquirida durante 
a vida, união do agora, (auto)conhecimento e do imenso trabalho 
terapêutico ao encontrar na sua vida, desde criança, situações que se 
conectassem com as características do autismo e a superdotação,positiva ou negativamente, mas que, a partir daquele momento, 
começaram a justificar situações que até então eram de uma criança 
problema, ou melhor, fugindo deles por ser quem era, sem entendê-la ser. 
E com Presença e Arte, Cláudia Moraes inicia sua trajetória de 
resgate a sua autenticidade e essência, sua alegria genuína, nesse 
encontro com sua história. 
Esse e-book vem trazer a pureza de alma e a empatia integrada 
ao seu ser e fazer pelo outro, seus próximos, os amigos de caminhada 
da causa autista. Tudo isso mostra como Cláudia sentiu, viveu e 
(sobre)viveu à dupla excepcionalidade, compartilhando assim sua 
história, em forma de textos temáticos. 
Sua maior alegria publicando seus textos, é ler em cada 
comentário e agradecimento dos leitores, o retorno por tanto a “ensinar”, 
partilhando suas conquistas, descobertas e vitórias, seu novo ser que se 
transforma a cada dia. 
 
“Evolua tanto, que os outros precisarão lhe conhecer de 
novo.” Autor desconhecido. 
 
Eis-me aqui, a “FADA ARTEIRA”, mola propulsora dessa mulher 
incrível, que, comprometida com SUA TRANSFORMAÇÃO, pautada em 
cada texto presente nesse e-book recheados de momentos de vida, em 
seu terapêutico e acolhedor perfil @claudiacoelhodemoraes, Autismo 
Feminino, trazendo consigo: confiança, determinação, 
aprendizado, humildade, alegria, amorosidade, compaixão, coragem, 
esperança, vida, mas, sobremaneira a Fé, guia de seus passos em sua 
trajetória firme em propósitos e significados. 
Querida amiga Cláudia, siga em frente, siga seu coração, siga a luz! 
PG 05 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Um beijo, um abraço abençoado, um sorriso encantado, minha 
homenagem com as mãos bem postadas em sinal de gratidão! 
E a você leitor, desejo que realize um prazeroso percurso, 
bailando pelos textos e histórias, vivas memórias, que a você, de presente 
aqui estão. 
E por ser em essência, deixo a você esta frase em presença: 
 
“Só aquilo que somos realmente tem o poder de nos curar.” 
Carl Gustav Jung 
 
 
Patrícia Winck, Arteterapeuta, amiga e carinhosamente 
intitulada pela Cláudia, a Fada Arteira ! 
PG 06 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
Nem sempre fazer parte de uma minoria significa que você faça 
parte de um grupo constituído por poucas pessoas. 
Deve-se entender por minoria não ser participante de um grupo 
dominante que determina padrões em um meio social. O que se conceitua 
como maioria ou minoria são as relações de dominação, e não o número de 
pessoas que as compõe. 
Estima-se que 1% da população mundial seja autista, e que 5% 
tenham altas habilidades/superdotação. Pensando sobre isso, vejo que não 
é apenas o diagnóstico de Dupla Excepcionalidade que determina o meu 
grupo estabelecido, sou parte de algumas outras minorias. E analisando isso 
bem, eu adoro ser minoria. Adoro romper e quebrar padrões. Nunca me 
adaptei a caixas, e espero nunca me manter em qualquer uma delas. 
A luta contra a discriminação e preconceito vem regendo o modo de 
vida que escolhi viver. A melhor sensação é a de ver que atualmente autistas 
e familiares vivem amparados por lei, e que o capacitismo vem sendo 
enfrentado, e que a aceitação do preconceito não nos rege mais. Que existe 
é óbvio, mas que há reação e não aceitação de maneira muito mais 
contundente, organizada e com apoios dos grupos, isso também é notório. 
Viver em qualquer minoria que seja é se tornar elemento 
transformador. Minha mãe já dizia: “você não é todo mundo”, o que encarei 
sempre como elogio. Nelson Rodrigues (escritor, jornalista, teatrólogo) 
avalizou meu jeito diverso de pensar quando disse: “toda unanimidade é 
burra”. 
Viva as minorias, viva os de pensamento divergentes e viva Eu, que 
concordo com Frida Kahlo e, digo que sou minha única musa (ou diva 
degradê).
 
PG 07 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 Ilustração ANNE BRONTE 
PG 08 
 
 
 
 
 
 
O Orgulho Autista e o Orgulho em Ser Humano 
A melhor resposta para o preconceito é a arte! Cláudia Moraes 
 
Acabei de assistir a um vídeo em que apareciam xingamentos 
xenófobos de uma inglesa a imigrantes africanos viajantes do mesmo trem 
que ela, mandando-os retornarem à “Negolândia”. A situação fica ainda pior 
porque a senhora inglesa estava com uma criança no colo. A criança 
assistiu à mãe fazendo uma cena dantesca daquelas, exemplificando ao 
filho um dos piores comportamentos. Até que uma das pessoas africanas 
começou a cantar a linda música do filme Rei Leão, e logo foi acompanhada 
por muitos outros passageiros. O coro de vozes calou a voz única da 
xenofobia e mostrou mais uma vez que a união é que derruba os muros. A 
arte venceu mais uma vez! 
Refletindo sobre o dia 18 de junho, “Dia do Orgulho Autista”, o 
qual é uma data para a celebração da neuro diversidade, percebi ser um 
dia para aumentarmos o volume da nossa voz e, em coro, cantarmos por 
uma sociedade justa e igualitária, para todos. Data que dá a oportunidade 
de nos desculparmos pelas injustiças praticadas pelas sociedades 
antepassadas com as pessoas autistas, ao longo da história. Autistas foram 
jogados de penhascos para morrer, autistas foram para as câmaras de gás, 
autistas foram trancafiados e esquecidos em manicômios, além de muitas 
outras atrocidades feitas para se extinguir os pensamentos diversos e 
celebrar a eugenia (“o estudo dos agentes sob o controle social que podem 
melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras gerações seja 
física ou mentalmente"). 
Já caminhamos muito na defesa de direitos e leis que os 
legitimam, mas ainda precisamos caminhar mais, até alcançarmos justiça 
para as pessoas autistas e todas as minorias. 
Não adianta eu levantar a minha voz pelo autismo, se me calo 
quando o ferido é o nível 3, porque meu filho é nível 1.Não adianta eu 
levantar a voz pelo autismo, e não me solidarizar para a diminuição do alto 
índice do suicídio entre as mulheres autistas, porque sou homem. Não 
adianta eu não levantar a voz e enxergar as demandas do autista idoso, 
porque sou jovem. Não adianta eu levantar minha voz pelo autismo, e 
compactuar com o preconceito sofridos pelos autistas negros, porque sou 
branco. 
PG 09 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A arte é valorada por todas as sociedades, e, pelo poder dela, 
muitas sociedades se modificaram. Através dela, celebramos todos os 
seres humanos; através dela, calamos a voz do preconceito. 
Faço da literatura a minha arte, bandeira quanto a qualquer tipo 
de preconceito. A minha bandeira não é só a autista, é a humana! 
E, se um dia a minha luta e a minha arte forem reconhecidas, 
gostaria não fosse apenas pelo meu autismo, e sim por minha 
humanidade, que respeita e luta por todos os tipos de pensamento e 
suas liberdades de expressão. 
Orgulho-me sim de ser autista e me orgulho ainda mais de ser 
humana, e que meus textos (que figuradamente aqui chamo de canto) 
contra o preconceito una cada dia mais, vozes para que fazermos do 
nosso país, do nosso planeta um lugar de celebração para uma 
humanidade realmente humana! 
 
Cláudia Moraes 
PG 10 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 1 
AUTISMO FEMININO 
Receber o diagnóstico de autismo em qualquer idade 
é um desafio, mas principalmente na idade adulta, 
creio ser um desafio maior, porque é necessário 
desconstruir o arquétipo da mulher típica; 
para assumir a identidade atípica. 
E esse é um processo lento, 
até a descoberta de ser quem 
você sempre foi, 
só não sabia. 
Cláudia Coelho de Moraes 
 
Uma vez ouvi numa palestra espírita que o tratamento para o autismo é 
o próprio autismo. Seguindo nessa linha estou buscando tratar as condições que 
o autismo me impõe com os hiperfocos que ele me trouxe. Tenho descoberto e 
redescoberto caminhos através da Arteterapia. Buscando conhecimento sobre 
mim mesma, minhas visões de mundo e daqueles que estão ao meu redor. 
Nas postagens que estou fazendo colocosempre aquilo que vejo de 
belo dentro da minha atual perspectiva. Eu mesma e minha transformação, flores, 
frases, livros, pinturas, animais, crianças. Enfim, 
aquilo que agregue valor a terapia e ao seu processo. 
Por que estou falando sobre isso hoje? Algumas mulheres têm se 
identificado comigo, e perguntam como chegar ao diagnóstico e quais terapias 
escolher. Só ontem foram três mulheres adultas a me procurar. Se essa 
caminhada, além de mim, puder ajudar mais alguém a se reconhecer, ficarei 
gratificada. 
Procurem aquilo que há de mais bonito dentro de vocês e doem, em 
algum momento receberão de volta! 
Cabe ressaltar, que as mulheres com TEA demonstram seus interesses 
de maneira muito intensa, seus hiperfocos mais provavelmente se concentrarão 
em pessoas do que objetos. Podem demonstrar comportamentos introspectivos, 
infantilizados e serem julgadas por serem muito inocentes. Garotas autistas 
podem ficar obcecadas por um artista ou banda e isso pode mantê-las ansiosas 
para conhecer todos os fatos das vidas desses artistas. 
PG 11 
 
 
 
 
 
 
 
 
Quanto a isso, penso que a superdotação me ofereceu um bom 
contraponto, apesar de gostar de bandas de rock, o único hiperfoco 
que tenho até hoje é Eddie Vedder, mas não sei quase nada da vida 
dele. Sempre quis saber sobre os escritores, e isso no colégio me fazia 
parecer mais madura, e não infantil. 
Mulheres envolvidas em relacionamentos afetivos podem ficar 
tão focadas em seus pares e chegar a perder a noção sobre suas 
próprias necessidades. Ocasionando dessa forma graves sofrimentos 
psíquicos e isolamento social. Também por isso, a necessidade de 
tratamentos e terapeutas que entendam suas demandas é muito 
necessário. 
Hiperfoco é algo que precisa ser saudável para proporcionar o 
bem. 
PG 12 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Orgulho Autista 
Ser autista é muito diferente de ter autismo. 
Ser autista é o conjunto de crenças que trago, é parte de minha 
personalidade, é imutável, intenso, e é o meu modus operandi, de onde 
partem e recebo as visões de mundo. 
Ter autismo, é algo externo a mim, é mutável, é como adquirir algo 
e descartar quando não se deseja mais. 
Meu diagnóstico foi tardio, e ainda estou no processo de entendê- 
lo, algumas vezes esse entendimento é difícil, e em outros são respostas a 
tantas vivências na vida. Mas, uma das minhas certezas é que, embora a 
adaptação ao mundo seja muitas vezes complicada, eu me amo autista. 
O mundo externo pode pensar: 
– Como amar um transtorno que muitas vezes te deixa exposto, 
vulnerável, traz dores? 
E eu respondo: 
- Amo porque já havia entendido desde o diagnóstico de meu filho que o 
remédio para o autismo é o próprio autismo. 
Não deveríamos ser nós a nos adaptarmos num mundo contrário as 
diferenças, mas seria esse mundo “normalizado”, que está se destruindo, 
notar e bendizer as nossas diferenças. As nossas características muitas 
vezes nos causam dor, não pelo autismo, mas pelas condições 
inadequadas de lidar com pessoas despreparadas, com a falta de serviços 
e o acesso a eles. 
É o capacitismo que dói, é a falta de diagnóstico precoce e 
intervenções adequadas. 
O que dói são as pessoas com as invalidações de nossos diagnósticos, 
é a falta de crença em nossos potenciais, é a falta de oportunidades justas 
para atuarmos no mundo de maneira funcional. 
Sim, eu amo ser autista, e eu sinto um orgulho imenso de 
mim. Sinto orgulho de meu filho, meus amigos e todos os 
autistas. 
PG 13 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Penso que o aumento na prevalência do autismo se deva 
também ao fato de que o planeta precisa mudar para continuar a existir, 
à Terra pede socorro por estar sendo tão violada, e autistas, a neuro 
diversidade em suas características evoluídas é que irão criar um modo 
de ser/estar no mundo. 
Trazemos a mudança! 
Há muito orgulho em mim por ser agente de mudança, há muito 
orgulho em mim por ser autista! 
 
 
 
 
Vamos falar sobre a importância do dia 02 de Abril? 
Essa data foi designada para chamar a atenção do mundo para 
o autismo, e a partir de daí melhorar tratamentos, educação, e outros 
serviços, mas também promover a inclusão social e o respeito com os 
autistas. 
O diagnóstico de meninas e mulheres está crescendo e 
consequentemente a prevalência masculina no espectro está diminuindo. 
Nesse 02 de abril, quero chamar a atenção para o autismo feminino: 
poucos profissionais acessíveis para o diagnóstico, poucos serviços 
especializados, desconhecimento na própria causa, gerando capacitismo 
e exclusão. 
Lembrando que mulheres autistas tem maior tendência para 
condições que causam dores físicas e mentais, como: fibromialgia, 
ansiedade, depressão, enxaqueca, síndrome do pânico, bulimia, 
anorexia, etc. 
Vou te propor um desafio: amanhã (02 de abril) faça um elogio 
bem gentil para uma menina/mulher autista. Esse pequeno gesto ajudará 
a promover a empatia, o reconhecimento e o amor-próprio! 
Feliz Dia de Conscientização para todos! 
PG 14 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Autismo e Amizade 
Um dos mitos do autismo é que autistas preferem ficar sozinhos, 
e não gostam de fazer amizades devido ao déficit de interação social. Por 
experiência pessoal, penso que, as maiores dificuldades para ter amigos, 
se dão por excesso de timidez, problemas de comunicação e falta de 
treino social. 
Os superdotados, pelo contrário, são geralmente comunicativos, 
com facilidades para criar vínculos. Mas alguns preferem se isolar, mesmo 
após fazer amizades por se sentirem incompreendidos pelas pessoas. 
Na dupla excepcionalidade (autismo + superdotação), penso que 
podemos alterar momentos de introspecção e de extroversão, o que 
familiares e amigos podem ter dificuldades para assimilar e entender. 
Saber dosar às duas condições para não cair em extremos, nem sempre 
é fácil, mas é um aprendizado importante. 
Ser amiga de outra autista, é bem mais simples do que ser de 
uma mulher típica, pois as autistas sabem bem as dificuldades e as 
semelhanças que nos envolvem. Já as típicas podem presumir como é, 
mas nunca sentirão igual. Não que isso me impeça de ter várias amigas 
típicas, mas que há diferenças, isso não posso negar. Mas, uma coisa é 
certa, eu sempre busco formas de me divertir, e dar risadas com todas 
elas. Se isso não acontecer, prefiro ler um livro do que ir adiante numa 
conversa que não me atraia. 
Uma das coisas mais legais em ter amigas autistas, é que 
conversamos de vários assuntos simultaneamente, de um assunto triste 
passamos para outro alegre em segundos e já estamos dando risadas. 
Muitas conversas são sérias e acolhedoras, mas outras são totalmente 
aleatórias. E sempre é interessante aprender com elas. 
PG 15 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Autistas Mentem? 
E ela se deve, não apenas pela conduta moral de se falar a 
verdade, mas as características do próprio transtorno, como: déficit em 
Teoria da Mente, Literalidade, Rigidez de Pensamento, Déficits nas 
Funções Executivas. Não dá para eu falar nesse post sobre cada uma 
delas, ficaria muito longo. Então se você não sabe o que são, escreva nos 
comentários que farei posts sobre essas características. 
A nossa sociedade é perniciosa, mente, engana e deturpa, e por 
isso se espanta quando alguém é sincero, e muitas vezes se ofendem 
com a sinceridade do autista. 
A sociedade também usa as “pequenas mentiras” como algo 
admitido em prol da convivência social. É permitido dizer “você está linda” 
quando realmente se achou que a roupa da pessoa é horrível, para não 
magoá-la, e por um fim na amizade por exemplo. Muitos autistas diriam: 
essa roupa não ficou bem em você, troque. Sem nenhuma intenção de 
ofender ninguém, ele está apenas respondendo com base nas suas 
características próprias. 
Mas, é verdade que autistas não mentem? Para responder preciso 
dizer que em autismo, não generalizamos nada. Cada um é diferente do 
outro. Então dizer, que nenhum autista mente, é acreditar em mais ummito do senso comum sobre o Transtorno. A maior parte tem dificuldades, 
sim, em mentir, mas não são todos. Conheço autistas que aprenderam 
com louvor a técnica da mentira, e quando você os, pega mentindo, ainda 
são capazes de subverter a situação e colocar a culpa da mentira em 
você. E, esses saem por aí reforçando que autistas não mentem jamais, 
para trazer maior credibilidade a si mesmo. 
Mentir não deveria ser aceitável para nenhum ser humano, mas 
não julgue um autista por te falar a verdade. Ele não quer ferir o seu ego, 
está apenas sendo sincero. 
E você acredita que autistas não mentem? 
PG 16 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Nomenclatura 
A primeira coisa é para sairmos do senso comum e utilizar a 
nomenclatura científica correta. O capacitismo se apoia em mitos pré- 
concebidos sobre o autismo, por isso como autistas e familiares devemos 
combater as terminologias errôneas. 
Hans Asperger foi um médico austríaco que deu nome a síndrome, cujos sujeitos 
estudados por ele apresentavam características como isolamento, falta de 
empatia, movimentos descoordenados, hiperfocos, entre outros. A então 
descoberta deu seu nome à síndrome. 
O DSM-5 retirou o nome síndrome de “Asperger”, substituindo o termo 
por Nível I do TEA, considerado um quadro mais leve e funcional do espectro 
autista. 
No livro Asperger’s Children: The Origins of Autism in Nazi Vienna 
(“Crianças de Asperger: As Origens do Autismo na Viena Nazista”), a autora 
Edith Sheffer relata que Hans Asperger enviou dezenas de crianças autistas para 
médicos nazistas fizessem experiências com elas, torturando-as, condenando- 
as a morte de maneiras desumanas e grotescas. 
Porque na ONDA Autismo pensamos que esse nome não deva mais ser 
usado, além do apoio ao nome científico correto? Porque somos autistas, 
estamos em todos os conselhos da organização e lutamos pelo reconhecimento 
do pensamento neurodiverso, por direitos e respeito. Não podemos compactuar 
de maneira alguma com qualquer nome ou ação que causou ou cause prejuízos 
a qualquer pessoa autista. Tornamo-nos a maior Organização de luta pelos 
direitos dos autistas disseminando informação séria e com responsabilidade. 
Afinal para nós da ONDA-Autismo a valorização, o respeito, o protagonismo e a 
representatividade importam sempre. 
Nosso Presidente, Fábio Cordeiro, foi um dos primeiros a dar o 
exemplo, seu perfil no Instagram deixou de se chamar “ Aspie Sincero” para se 
chamar “ Autie Sincero”. 
Você aí, que ainda usa o termo síndrome de asperger, pense se não 
está dando apoio a uma figura que esteve ao lado de nazistas, em um dos 
períodos mais horrendos da humanidade. Figura que enviou para mortes 
bárbaras, crianças autistas a quem deveria proteger. 
PG 17 
 
 
 
 
 
 
 
 
A maioria de nós autistas, não quer ter o nome de nosso 
transtorno, que abrange um número grande de pessoas geniais, que lutam 
pelo reconhecimento social e por derrubar as barreiras que o preconceito 
impõe, ligado a uma figura que desonrou o próprio nome ao se aliar a um 
regime que desolou e lesou a humanidade. 
Pense bem, não é apenas um nome, é um posicionamento político, 
contrário ao uso crianças autistas inocentes para alimentar o ódio e 
disseminar dor. Pense bem! 
 
Fonte: Crianças de Asperger – As Origens do autismo na Viena Nazista – Autora: Edith 
Sheffer – Tradução de Alessandra Bonrruquer – Editora Record,2019. 
 
 
 
 
 
 
A automutilação e a Vida 
Automutilação ou autolesão é quando a pessoa intencionalmente se 
fere. No autismo isso pode ser uma maneira encontrada para comunicar algo, ou 
expressar dores emocionais. 
As causas podem ser ansiedade, estresse, ou algo que não se consiga expressar. 
Também pode ocorrer que a pessoa se fira por autoestimulação, para se 
autorregular (fazer baixar ou elevar os níveis de excitação). 
Esse processo autolesivo acontece com uma boa parte de autistas, e é algo 
difícil de se vivenciar tanto para a pessoa que se lesa, quanto para seus 
cuidadores. 
Meu filho está em um momento de autolesão, está ferindo os dedos, não 
consegue parar e não aceita curativos. Estou buscando entender os motivos disso, 
nesse movimento de entendê-lo, fiquei pensando em mim mesma e já julgando: 
eu não me machucaria desse jeito, deve doer muito! 
Ontem, numa live sobre Arteterapia, um dos oradores disse que 
nossos excessos na vida penalizam nossos corpos e mentes, esses 
excessos se transformam em doenças ou transtornos. E citou ansiedade, 
estresse, fibromialgia, depressão, como exemplos. Nesse momento a minha 
ficha começou a cair. 
PG 18 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Eu me machuquei a vida toda, embora minhas feridas não 
sangrassem palpáveis como as de Gabriel. 
Há um tempo vi um filme de Jodie Foster, onde ela era mãe de um 
menino superdotado, Mentes que brilham (1991). Em determinado 
momento, ele disse algo que nunca esqueci, sobre a intensidade dos 
seus sentimentos: “As piores dores são as mentais”. 
As minhas autolesões são mentais, vieram durante a vida como: 
excesso de medo, baixa autoestima, depressão pós-parto, síndrome do 
pânico, fibromialgia, enxaqueca, ansiedade e depressão. Julguei meu 
filho, mas me lesei e leso mais que ele. A intensidade dessas dores, são 
inimagináveis para quem não as vive, e o índice alto de suicídio em 
mulheres autistas vem delas tentando, da pior forma a se livrar dessas 
dores. 
Não estou aqui tentando diminuir o que Gabriel sente, pelo 
contrário, ele tem se mostrado muito mais forte que eu. No autismo é 
assim, somos diferentes até nas dores. 
A arteterapia e a terapia cognitiva comportamental estão me 
ajudando bastante a descobrir e encarar meus excessos na vida, 
entender de onde transbordam e sangram minhas dores. Assim, espero 
ajudar Gabriel com as dele. 
Agora para você que me lê: se você se automutila, se as suas 
dores são intensamente doloridas, física ou mentalmente, procure ajuda 
rapidamente! Terapeutas e medicações podem ajudar, a vida pode ser 
boa sem os excessos. 
PG 19 
 
 
 
 
 
 
 
A desconstrução do Capacitismo 
Capacitismo é o preconceito contra pessoas com deficiência. O termo, 
que vem da tradução do inglês ‘Ableism’, significa destratar ou ofender uma 
pessoa por sua deficiência. (CNN Brasil – Saúde, 2021). 
De acordo com a Lei 12764/12 o autista é considerado pessoa com 
deficiência. 
Agora que já sabemos a conceituação do termo Capacitismo, podemos 
refletir sobre ele, trazendo- o para o contexto do autismo. 
Pensamos que sim, o preconceito é estrutural, vindo de sociedades que buscavam 
e ainda buscam a perfeição, a beleza e o poder. E a desconstrução dele é trabalho 
de anos, séculos, talvez milênios. Estamos correndo contra o tempo, mas já 
iniciamos, já estamos falando sobre isso e nos posicionando. 
Numa visão pessoal, percebo o capacitismo que é indireto, e vem de 
pessoas de fora do círculo familiar, de trabalho ou amizade das pessoas autistas, 
e não que não deva ser punido visto que é crime, mas aí ainda podemos pensar 
que seja a falta de informação, de conscientização e até mesmo de convivência. 
Por isso a nossa militância pela informação sobre o transtorno, e também a 
punição para todo aquele que praticar, induzir ou incitar discriminação a pessoas 
autistas. 
E o capacitismo direto, o qual é aquele direcionado pelas pessoas do 
próprio círculo familiar, de trabalho ou de amizades do autista. É aquela 
“brincadeirinha” que não era para ofender, são os adjetivos imputados relativos a 
algum déficit, é a incredulidade nas capacidades, entre outros. Muitos de nós não 
desejamos que um familiar ou “amigo” seja punido criminalmente por agir com 
preconceito. E, por isso, eles continuam abusando de nós no dia a dia, continuam 
com suas piadinhas “inocentes”, continuam nos chamando por diminutivos, 
continuam nos rotulando...Ouvimos calados, vamos nos magoando, vamos 
adoecendo, muitas vezes vamos nos convencendo do nosso “desvalor”. Isso está 
errado! Precisaparar! Toda ação leva a uma reação! 
Quebremos as correntes de qualquer preconceito contra nós autistas, 
mesmo os que se fingem de inocentes, ou o “foi sem querer”. Não aceite, não se 
cale, divida a sua indignação e a sua dor. 
Um dos piores flagelos da humanidade é a maldade mascarada de 
bondade. 
 
Referências: CNN Brasil Saúde 
https://www.cnnbrasil.com.br/saude/capacitismo-entenda-o-que-e-e-como-evitar- 
preconceito- disfarcado-de-brincadeira/ 
https://www.cnnbrasil.com.br/saude/capacitismo-entenda-o-que-e-e-como-evitar-preconceito-disfarcado-de-brincadeira/
https://www.cnnbrasil.com.br/saude/capacitismo-entenda-o-que-e-e-como-evitar-preconceito-disfarcado-de-brincadeira/
PG 20 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Será que sou autista? Será mesmo? 
Receber um diagnóstico em qualquer idade é um desafio, 
principalmente na idade adulta, porque é necessário desconstruir o 
arquétipo de uma pessoa típica, para assumir a identidade atípica. 
Transformar-se é um processo que imputa quase sempre, dor 
mesmo que mais tarde surjam novos sabores, saberes e prazeres. O 
caminho onde esse processo se dá é um caminho essencialmente solitário, 
onde você se desconhece, se conhece e reconhece em tantos fatos, em 
tantos sentimentos, em tantas lembranças, em tantas reflexões. 
Mesmo que você divida isso com um profissional, um amigo, um 
familiar, eles nunca chegarão perto de reconhecer aquilo que realmente se 
passa em ti. 
Existe tanta negação ao seu redor.” Nossa, você autista? Nunca 
iria imaginar. Você tem certeza? Já tentou outro médico? Como não 
desconfiou antes?” 
E você em um momento tão sensível, em que suas 
vulnerabilidades ficam expostas em contradição a toda força e coragem 
que teve de demandar para revelar isso. Não pelo o diagnóstico ser algo 
ruim, alguns dizem ser libertador, mas justamente pelos julgamentos que 
você sabe que irá enfrentar. 
No autismo infelizmente ainda ocorrem muitos mitos, o de que 
autistas são gênios é um deles. E para uma parte das pessoas ao seu redor 
vem a ideia de que se você sobreviveu uma vida inteira “escondendo” o 
autismo e deu conta da vida, da faculdade, do trabalho. Ou você é um 
gênio, ou mentiroso. 
Ter um diagnóstico negado já é péssimo, mas e quando você tem 
mais de um como eu? No caso, a superdotação. Coloque duas vezes na 
sua balança a negação das pessoas, e as coisas maldosas com carinha de 
anjo que te falam. Pela falsa ideia de que os superdotados são todos gênios 
da física, da matemática, da informática. E eu reles mortal não me encaixo 
nesse estereótipo. 
As pessoas continuam enxergando os rótulos, não seres 
humanos, com fortalezas e fraquezas, com capacidades e dificuldades, 
com risos e lágrimas. 
Será que sou autista mesmo? Sim! E sou mais, muito mais. 
PG 21 
 
 
 
 
 
 
 
 
Eu, criança autista sem autismo 
Por que o título é esse? Porque fui laudada autista aos 56 anos. 
Então a criança que fui nunca circulou sequer por um psiquiatra, neuro ou 
terapias, meus pais nunca cogitaram um diagnóstico, não por negação, 
mas por desconhecimento. 
Fui uma criança solitária com mais 4 irmãos e muitos coleguinhas. 
Eu interagia, eu imitava, queria fazer tudo igual, mas na maioria das vezes 
não entendia, e guardava minhas perguntas pra mim, aquelas que se 
referissem a sentimentos, porque pensava que iriam zombar mais de mim, 
que já tinha o rótulo de birrenta e chorona. 
As outras perguntas que eu fazia, relacionadas ao dia a dia e 
minhas “visões de mundo”, eram para minha mãe, às vezes meu pai e para 
meus professores, embora amasse todos eles, quase sempre saía com a 
ideia de que não me responderam tudo ou adequadamente. 
Minha mãe para eu parar as arguições, tinha frases que eu 
detestava que eram: “É porque é!” ou “Deus fez assim”. 
E assim fui eu, menina autista sem autismo, enfrentando os 
oceanos de medos, de anseios, de não entendimento, de estranheza. 
A falta do diagnóstico precoce me causou alguns déficits é 
verdade, mas me orgulho da minha trajetória de coragem, e de 
enfrentamento da vida. Não fui a autista que superou ou passou de nível, 
nunca busquei cura para uma doença porque autismo não é, e eu nem 
sabia. Nunca fui modelo de nada porque a diversidade do espectro nem 
mesmo o permitiria. 
Hoje, quando recordo minha infância, vou encontrando respostas 
para tantas questões, vou me perdoando pelos rótulos que levei e assumi 
como defeitos meus e que, na verdade eram características do transtorno. 
Hoje enxergo minha infância mais bonita porque: não! Eu não tinha culpa 
de nada! 
E hoje pretendo que respeitem a minha quase terceira idade 
autista, não me rotulem por meus déficits, compreendam o quanto a idade 
cronológica pode intensificar sintomas e outras condições, porque nem eu, 
nem o autismo temos culpa! 
PG 22 
 
 
 
 
 
 
 
Autismo e Menopausa 
A menopausa corresponde ao último ciclo menstrual, ou seja, a última 
menstruação. Ocorre, em geral, entre os 45 e 55 anos. Quando ocorre por volta 
dos 40 anos, é chamada de menopausa prematura ou precoce. (Dr Dráuzio 
Varela, Biblioteca Virtual em Saúde,MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2020) 
“As mulheres (autistas), por exemplo, tem um risco maior da 
menopausa precoce ou que se inicia antes dos 40 anos.” 
(Instituto BukoKaesemodel, 2021) 
 
A menopausa acontece também em mulheres autistas que ainda 
nem são idosas, e ela é um assunto tão desconhecido para nós quanto o 
próprio autismo feminino quanto o autismo na velhice. 
Alguns dos sintomas da menopausa são: ondas de calor (fogachos), 
alterações do sono, da libido e do humor, bem como atrofia 
(enfraquecimento ou definhamento) dos órgãos genitais. 
Pensemos o quanto essa fase da vida mal acompanhada pode ser 
prejudicial para a pessoa autista. Mesmo as de nível um que necessitam de 
menos suporte enfrentarão mais uma fase de grandes mudanças, só que 
agora com menos vitalidade e às vezes maior engessamento que a idade 
pode trazer. 
Mulheres *autistas em geral são as mais afetadas pelos 
diagnósticos de depressão, ansiedade e transtornos alimentares 
(comorbidades comuns ao TEA), diz o site da Genial Care. 
Quando falamos de menopausa em mulheres típicas, e citamos 
sintomas psíquicos, podemos perceber: a redução dos níveis de hormônios 
femininos, interferindo no bom funcionamento do sistema nervoso central, o 
que pode aumentar queixas de irritabilidade, descontrole emocional, choro 
excessivo, depressão, distúrbios de ansiedade, melancolia, perda da 
memória e insônia. Vimos acima que muitos desses sintomas fazem parte 
do TEA e podem se potencializar. 
A reposição hormonal deve acontecer sempre com 
acompanhamento médico e não é indicada para um percentual de mulheres 
típicas, o que nos faz pensar que em relação a mulheres autistas deve haver 
acompanhamento médico ginecológico e especialista em autismo. 
https://www.genialcare.com.br/blog/o-que-s%C3%A3o-comorbidades
PG 23 
 
 
 
 
 
 
 
 
É importante que médicos, familiares, parceiros, amigos, 
cuidadores aprendam a lidar com a mulher autista nessa fase. 
Compreendendo, atendendo suas necessidades, e não aumentando os 
desconfortos e dores que ela pode proporcionar. Entender principalmente 
a parte emocional que pode se descontrolar, aumentar a carência, ou a 
necessidade de se isolar um pouco. Como tudo no autismo, cada uma 
viverá essa fase na sua forma. 
Boa alimentação, exercícios físicos, regularidades nos 
tratamentos, socialização respeitando dificuldades sensoriais ou de rotinas, 
muita compreensão e cuidado amoroso! 
 
 
Referências: 
Biblioteca Virtual em Saúde, MINISTÉRIO DA SAÚDE 
https://bvsms.saude.gov.br/menopausa-e-climaterio/ 
Genial Care 
https://genialcare.com.br/blog/saude-mental-autismo/ 
Instituto BukoKaesemodel 
https://www.eudigox.com.br/blog/vida-adulta-e-autismo-senior/ 
https://www.eudigox.com.br/blog/vida-adulta-e-autismo-senior/
PG 2426 
Ilustração ELIZABETH BENNET- personagem de Jane Austen 
PG 25 
 
 
 
 
 
 
 
 
Capítulo 2 
AUTISMO & SUPERDOTAÇÃO: 
Dupla Excepcionalidade 
Os diagnósticos de autismo/superdotação que recebi no último ano, 
vem se mostrando desafiadores. 
Meu dia a dia, se transformou em intervalos de reflexão entre o 
trabalho e as terapias, entre o papel de mãe cuidadora 
e o de mulher com dupla excepcionalidade. 
A busca pelo (re)conhecimento interior e por conhecer mais 
sobre os diagnósticos, também me dividem. 
Estou vendo surgir uma nova mulher, que visa ter voz e dar 
voz a outras mulheres, que ainda não se sentem à vontade 
para falar de seus diagnósticos, seja por falta de conhecimento, 
de acolhimento ou outros motivos. 
Que esse espaço seja aberto para quem quiser refletir junto comigo! 
 
A Superdotação é uma deficiência? 
Muitos encaram a superdotação apenas como uma habilidade 
extraordinária, mas sim, a superdotação é vista como deficiência porque, 
principalmente na infância, é necessário adaptar ambientes, e é necessário 
haver mudanças atitudinais, haver entendimento sobre a superdotação, para 
lidarem bem com a criança e suas características. Mas, e os adultos 
superdotados, são deficientes? 
No Brasil, a literatura especializada sobre as necessidades no que 
concerne às altas habilidades/superdotação e à deficiência é bastante escassa, 
e necessita com urgência de que haja promoção de mais pesquisas e 
publicações. Se a literatura é escassa para crianças, imagine para adultos e 
idosos. Como no autismo, parece que pesquisadores se esquecem que 
crescemos e envelhecemos. 
Então, a resposta para a pergunta é sim. 
PG 26 
 
 
 
 
 
 
 
Adultos superdotados podem ser encarados como deficientes, 
pois prescindem também de adaptações e mudanças atitudinais do 
entorno. 
Algumas características possíveis nos superdotados: ansiedade, 
depressão, sentimentos exacerbados, inadequação, perfeccionismo, forte 
senso de justiça, muito intuitivo e empático com os sentimentos dos outros. 
O lado visto pela sociedade, é somente pela habilidade, e até por falta de 
pesquisas, só contamos infelizmente com o senso comum. Mas, o lado 
das dificuldades também precisa ser mostrado, pois a vida sem 
reconhecimento é pouco significativa. 
Por isso, como no autismo, estamos falando de deficiência, não 
doença. E, como no autismo, precisamos conscientizar e incluir. 
 
A Superdotação é uma deficiência? 
Muitos encaram a superdotação apenas como uma habilidade 
extraordinária, mas sim, a superdotação é vista como deficiência porque, 
principalmente na infância, é necessário adaptar ambientes, e é necessário haver 
mudanças atitudinais, haver entendimento sobre a superdotação, para lidarem 
bem com a criança e suas características. 
Mas, e os adultos superdotados, são deficientes? 
No Brasil, a literatura especializada sobre as necessidades no que 
concerne às altas habilidades/superdotação e à deficiência é bastante escassa, 
e necessita com urgência de que haja promoção de mais pesquisas e 
publicações. Se a literatura é escassa para crianças, imagine para adultos e 
idosos. Como no autismo, parece que pesquisadores se esquecem que 
crescemos e envelhecemos. 
Então, a resposta para a pergunta é sim. Adultos superdotados podem 
ser encarados como deficientes, pois prescindem também de adaptações e 
mudanças atitudinais do entorno. 
Algumas características possíveis nos superdotados: ansiedade, 
depressão, sentimentos exacerbados, inadequação, perfeccionismo, forte senso 
de justiça, muito intuitivo e empático com os sentimentos dos outros. 
O lado visto pela sociedade, é somente pela habilidade, e até por falta 
de pesquisas, só contamos infelizmente com o senso comum. Mas, o lado das 
dificuldades também precisa ser mostrado, pois a vida sem reconhecimento é 
pouco significativa. Por isso, como no autismo, estamos falando de deficiência, 
não doença. E, como no autismo, precisamos conscientizar e incluir. 
PG 27 
 
 
 
 
 
 
 
Mitos: TEA e AH/SD Femininos 
1- Não precisam de suportes 
2- Existem mais homens do que mulheres com TEA e AHSD 
3- Todas as mulheres autistas nível 1 e/ou superdotadas tem QI (Quociente 
Intelectual) alto. 
Então vamos às explicações, primeiro o que se entende por mito. 
Segundo o Dicionário de Filosofia (Russ, 1994), um mito é uma "representação 
coletiva muito simplista e muito estereotipada, comum a um grupo de indivíduos" (p. 
187). 
Tanto o autismo quanto a superdotação são repletos de mitos, e separei 
3 comuns para abordar. 
 Mito 1- Autistas níveis 1 e superdotadas não precisam de adaptações 
escolares e sociais porque sabem se comunicam e podem se virar sozinhas. 
Para derrubar esse mito, as pessoas precisam saber que TEA e AH/SD são 
deficiências, e as deficientes necessitam de suporte e adaptações de acordo 
com suas demandas. Geralmente, as professoras mal-informadas, pensam 
que aquela menina quietinha, tímida e que aprende rápido não tem grandes 
problemas e nem precisam de ajuda. Algumas vezes disse às professoras 
que perguntavam se alguém tinha dúvida (tinha pena delas porque ninguém 
respondia, e eu achava falta de educação) que tinha dúvidas ou não tinha 
entendido, só para conversar com elas, e parecer que eu não era pedante 
por demonstrar já saber (isso também é comum, se diminuir para se 
encaixar). 
 
 Mito 2- O número de TEA e AH/SD homens é maior que o de mulheres. Isso 
só ocorre porque as mulheres estão subdiagnosticadas ou não 
diagnosticadas. Justamente porque sabem mascarar alguns sintomas, o que 
a longo prazo traz malefícios para sua saúde física e mental. 
 
 Mito 3- Tanto autistas níveis 1 e superdotadas tem QI acima da média. 
Temos, por exemplo, autistas com um domínio excepcional em uma área 
específica, mas domínio pobre em atividades simples. Como também 
existem superdotadas cujo talento é artístico, mas seu escore para exatas, 
por exemplo, fica na média. A inteligência não é estática e pré-determinada, 
no TEA ou na superdotação cada um tem a sua, no TEA ou na superdotação 
os talentos são múltiplos, como a necessidade de suportes/adaptações 
também. 
 
FONTE: Russ, J. (1994). Dicionário de Filosofia São Paulo: Scipione. 
PG 28 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sensibilidade 
Em quase todos os artigos que tenho lido sobre Superdotação, 
fala- se em sensibilidade acentuada. 
Essa sensibilidade pode se apresentar como: pessoas 
superprotetoras, compassivas, fáceis de magoar, tem crises de choro 
intensas, reagem mal as críticas, defendem intensamente suas ideias, 
perfeccionistas, hiperfocadas, inclusive sendo reativas ao ambiente, por 
exemplo, excesso de luz, barulhos, texturas, inclusive alimentos. 
Como muitos dizem, quando você recebe um diagnóstico é como 
se sua vida passasse num filme, e você vai se entendendo e até 
perdoando, tanto você quanto os outros. 
Durante a vida levei rótulos justamente sobre as características 
da superdotação potencializada pelo autismo. O estranho é que ninguém 
conseguiu ver o produto advindo desses rótulos. Não por maldade dessas 
pessoas, se bem que algumas, sim, mas pelo desconhecimento e pela falta 
de um diagnóstico. 
Quando você vai sendo chamada de isso ou aquilo durante sua 
vida, e principalmente na infância, você vai assimilando esses traços como 
se fossem intrínsecos a sua personalidade, mas, na verdade, são os 
sintomas gritando para pessoas que não ouviam. 
Pense e veja as pessoas ao seu redor, acolha-as e não seja mais 
um disseminador de rótulos. Pais e professores, estejam atentos às 
características que suas crianças apresentam, conversem, ouçam e atuem 
positivamente. 
 
Memória 
Pessoas autistas podem apresentar dificuldades para armazenar 
informações complexas. Isso pode afetar sobremaneira sua vida pelos déficits 
em: recordar, armazenar e organizar informações recebidas. 
Autistas parecem processar mais rapidamente as informaçõesligadas 
as áreas sensoriais do cérebro, por exemplo, vindas dos olhos, pele, etc. Em 
áreas que processam informações complexas, como a memória, irão processar 
mais lentamente. 
PG 29 
 
 
 
 
 
 
 
 
Já as pessoas superdotadas podem apresentar maior número de 
conexões com a região da memória e resolução de problemas. O que se 
denota grande capacitação de memorização e atenção. 
Quero deixar claro para vocês que o diagnóstico de Dupla 
Excepcionalidade (autismo/superdotação) pode apresentar 
características mais marcadas para um ou outro, ou potencializadas, ou 
até mesmo divergentes, como é caso da memória. 
Atualmente uma das minhas condições mais afetadas é da 
memória recente. Me pego lembrando nome e sobrenome das crianças 
que estudaram comigo aos sete anos, e não lembro o que comi ontem. 
As médicas me explicaram também que o fato de eu ter vivido 
uma vida sem tratar a dupla excepcionalidade, pode ter acarretado piora 
dos sintomas. 
Então, seja sempre empático e não se importe de repetir algumas 
coisas para mim. Ah, e pode me chamar de Dory, pois você não me 
ofende, acho fofo! 
 
 
 
Transições 
Tenho percebido dois tipos de transições relativas ao meu diagnóstico de 
*Dupla Excepcionalidade. Uma é a minha própria transição quanto ao entendimento 
do que esse diagnóstico representa, da falta que fez ao longo da vida, e todos os 
prejuízos acarretados por não ter sido tratado adequadamente, como, por exemplo, 
um déficit substancial de atenção e memória. 
A outra transição é externa, é a dos sujeitos que circulam ao meu redor, 
posso chamá-la de transição do meio-social, embora eu nem saiba realmente da 
existência desse termo. Algumas pessoas do meu convívio sabem muito bem as 
características, principalmente as do Autismo, todavia existe uma diferença grande 
entre saber os conceitos, e aplicá-los na vida cotidiana, com empatia. 
Consigo perceber nitidamente o julgamento, que toma forma de conduta 
moral mesmo, atribuindo aos sintomas do autismo como rigidez comportamental, 
dificuldades na partilha social ou comportamentos repetitivos, com avaliações 
pessoais de normas de conduta, tipo esse comportamento seu é bom/mau, 
feio/bonito, aceitável/inaceitável, etc. 
PG 30 
 
 
 
 
 
 
 
 
Não que eu pense que deva haver aceitação e passividade quanto 
aos meus atos, até porque sei discernir muito bem os valores. O que sinto 
que falta, em sua maioria, é o diálogo sem julgamento. É mostrar 
claramente o que se espera de mim, sem colocar as discussões saudáveis 
que possamos ter no âmbito de “você não quer entender” ou “você é muito 
teimosa”, “você é egoísta “, você está de má vontade “. 
O que já percebi disso tudo é que consigo entender as razões do 
outro, mas irei acatá-las quando fizerem sentido para mim. É necessário 
que o outro esteja aberto para explicar suas razões. E eu penso que o 
explicar para dar sentido, é uma das coisas mais difíceis para um ser 
humano fazer. Todos querem que suas razões sejam aceitas sem 
questionamentos porque entendem que a sua tipicidade é modelo. Daí 
receber a forma diversa do pensamento autista, aliada no meu caso ao peso 
das emoções extremadas da superdotação, é tarefa apenas para quem já 
superou os instintos básicos. 
E, por mais estranho que possa parecer, nessa hora penso que 
não sou só eu a ter déficits quanto à * Teoria da Mente! 
Claudia Moraes, 2022. 
 
 A Dupla Excepcionalidade é definida como a associação 
das Altas Habilidades/Superdotação com alguma síndrome, transtorno ou 
deficiência. 
 Teoria da mente é a habilidade humana de atribuir estados 
mentais a outras pessoas, prevendo crenças, emoções e comportamentos. 
Reconhecimento de Emoções – Parte 1 
Tenho pensado bastante sobre esse tema, a intensidade de 
sentimentos que está ligada aos dois diagnósticos: TEA/Superdotação. 
Eu sempre pensei que algumas pessoas eram muito frias comigo, que 
não se doavam como eu, ou que até me menosprezavam. A importância de 
conhecer o diagnóstico, para mim, está bem concentrada nessa parte, entender a 
minha intensidade, a rapidez com que ela chega a níveis extremos, e a relação 
com os outros que são incapazes de serem recíprocos, e a carga negativa com 
que me retornam pelo não entendimento. 
PG 31 
 
 
 
 
 
 
 
 
Nos testes diagnósticos e agora fazendo exercícios com uma 
neuropsicóloga, vejo o quanto sou ruim em reconhecer as emoções nos 
outros. O déficit em Teoria da Mente é comum em autistas, e penso que aí 
as características da superdotação me ajudam um pouco, pois sou muito 
empática aos sentimentos dos outros quando há facilidade de percepção, 
já outros, preciso que relatem para haver maior empatia. 
Na superdotação sintomas bastante presentes sobre as emoções 
são: hipersensibilidade, senso de justiça acentuado, necessidade de 
aceitação, stress, insegurança, ansiedade, intensidade, etc. 
No TEA relativo ao déficit na interação social, está presente: 
inabilidade em relacionamentos interpessoais, dificuldades para olhar nos 
olhos, reconhecer e manifestar sentimentos, entre outros. E, embora essas 
sejam dificuldades gerais no transtorno, lembrando que cada é único e 
sente do seu jeito), no autismo feminino, a maioria dos relatos que tenho 
ouvido é também de excesso/intensidade de emoções. 
Assistindo um vídeo de @umamulherautista ontem, ela dizia que 
o diagnóstico salva, e concordo com ela. Mas, não adianta entendermos 
sozinhas, sem a empatia dos pares. Se você convive com uma mulher 
autista, fale sobre emoções e como vocês podem melhorar juntos a relação, 
seja amorosa, de amizade ou de trabalho. 
 
Reconhecimento de Emoções - Parte 2 
Nos testes para o diagnóstico de Dupla Excepcionalidade pude 
perceber minha dificuldade para o reconhecimento de expressões faciais que não 
fossem básicas. A dificuldade para o reconhecimento de emoções faciais é um 
dos déficits do TEA, mas por mim só reconhecido após o diagnóstico. Hoje percebo 
claramente que passei a vida pensando saber reconhecer emoções, complexas, e 
agora vejo que não é bem assim. 
“Pessoas no espectro autista parecem não conseguirem vivenciar 
determinadas emoções, como, por exemplo: vergonha, orgulho e culpa, ou pelo 
menos não conseguem senti-las na mesma intensidade do que as outras 
pessoas.” (GRANDIN, 1995). 
Gosto muito de Temple Grandin, e sempre a admirei. Vejo sentido no 
pensamento dela escrito acima, só acrescentaria que “não senti-las na mesma 
intensidade” deve-se ler que esses sentimentos podem ser sentidos com muito 
mais intensidade. 
PG 32 
 
 
 
 
 
 
 
 
O reconhecimento de emoções, e a carga emocional sentida, são 
características autísticas que permeiam e interferem nas relações sociais, e 
é importante que os autistas e as pessoas típicas com quem se relacionam 
tenham essa noção. 
Uma coisa que acho bacana em tudo isso, é que os autistas 
parecem ter mais facilidade em reconhecer emoções positivas, o que por 
uma opinião me faz pensar o quanto pessoas autistas são seres humanos 
com upgrade. 
Resolvi pensar nisso tudo hoje, por um fato que achei muito 
engraçado.Ontem a noite, estava escolhendo fotos para um post, e sem 
saber, postei uma das fotos nos stories. E foi justamente uma foto que eu 
não escolheria por pensar estar com uma expressão “esquisita”. 
Hoje acordei, e havia muitas mensagens para mim, e estranhei. 
Os comentários eram de elogios devido à foto que eu nem sabia estar lá! As 
pessoas deram muitos likes, e diziam: que foto bonita, sexy, sedutora. E eu 
não conseguindo entender porque enxergaram dessa forma. 
Bem, meu ego se sentiu alimentado, não posso negar…Mas o 
meu lado prático me diz que tenho de trabalhar muito com a neuropsicóloga 
o reconhecimento de expressões faciais. 
 
Fontes: GRANDIN, T. Thinking in pictures: and other reports from my life with autismo. 
New York: RandomHouse, 1996. 
 
 
TEA, Superdotação & Memória 
Autistas podem apresentar dificuldades para armazenarinformações 
complexas. Isso pode afetar sobremaneira sua vida pelos déficits em: recordar, 
armazenar e organizar informações recebidas. 
Parecem processar mais rapidamente as informações ligadas as áreas 
sensoriais do cérebro, por exemplo, vindas dos olhos, pele, etc. Em áreas onde se 
processam informações complexas, como a memória, acontecerá mais 
lentamente. 
Já as pessoas superdotadas podem apresentar maior número de 
conexões com a região da memória e resolução de problemas. O que se denota 
grande capacitação de memorização e atenção. 
PG 33 
 
 
 
 
 
 
 
 
Quero deixar claro para vocês que o diagnóstico de Dupla 
Excepcionalidade (autismo/superdotação) pode apresentar características 
mais marcadas para um ou outro, ou potencializadas, ou até mesmo 
destoantes, como é caso da memória. 
Atualmente uma das minhas condições mais afetadas é da 
memória recente. Me pego lembrando nomes e sobrenomes das crianças 
que estudaram comigo aos sete anos, e não lembro o que almocei ontem. 
As médicas explicaram também que o fato de eu ter vivido tantos 
anos sem tratar a dupla excepcionalidade, pode ter acarretado a piora de 
alguns sintomas. 
Então, seja sempre empático e não se importe de repetir algumas 
coisas, fingir que ainda não ouviu aquela história, que não troquei seu nome. 
Em um estudo da Universidade de medicina Pittsburgh (EUA) 
constatou-se que autistas diferem de outras crianças em duas 
potencialidades específicas da memória. 
Segundo o estudo, autistas não possuem “conversa transversal 
automática entre os sistemas do cérebro” – o raciocínio e os sistemas de 
memória – o que sinalizaria ao cérebro aquilo que é mais importante de se 
observar ou como organizar sistematicamente as informações. 
Autistas podem apresentar dificuldades no armazenamento de 
informações complexas, em recordar e organizar. Ao contrário dos 
superdotados, que podem apresentar memória aguçada e tendência a criar 
sistemas organizados. 
Quanto a mim, penso que em relação à atenção e memória, o que 
é déficit no autismo, é potência na superdotação, então acabou se 
equilibrando por um tempo. 
Com o diagnóstico tardio, a falta de intervenções durante minha 
vida, fez com que esse “equilíbrio” se perdesse, e o déficit de memória se 
agravou. Minha memória recente é péssima, e estou trabalhando com uma 
neuropsicóloga para melhorar. Lembro detalhes da infância, mas não lembro 
de coisas que aconteceram ontem. 
Esqueço (só os recentes) nomes, datas, direções, dados... Então, 
aos que convivem comigo ou com outros autistas, relevem se esquecermos 
seu nome, seu aniversário, seu endereço, e não se importe em repetir 
informações se solicitarmos, pois essa atitude empática será muito 
reconhecida e agradecida por nós. 
E você? Como é sua memória? 
PG 34 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Características 
As pessoas criticam muito quem romantiza o 
autismo. Mas, e quem glamourizar a superdotação? 
Vamos falar sobre isso? 
As pessoas tendem a pensar que por alguém ter inteligência acima da 
média, consequentemente é alguém mais esperto, melhor habilitado que os 
demais e, por esse diferencial, se dará muito bem na vida. 
Esse é mais um mito a ser derrubado. 
As pessoas superdotadas que se darão bem na vida, serão aquelas 
capazes de gerir melhor os conflitos, o stress e os sintomas que ele acarreta. 
Destaquei na imagem, três (embora haja outras mais) características 
capazes de elevar o nível de stress na pessoa superdotada: perfeccionismo, 
sensibilidade extrema e autocrítica. Quanto mais cedo a pessoa aprender a 
lidar com essas características, mais chance terá de manter sua saúde 
mental, e mais habilitada a gerir problemas no dia a dia. 
Por isso também a importância de diagnósticos precoces e assertivos, 
para então propor intervenções e ensino adequado. 
Romantizar o autismo e glamorizar a superdotação são duas atitudes que 
podem mascarar as reais necessidades em relação a serviços e direitos das 
pessoas com dupla excepcionalidade. 
 
Maternidade, autismo e superdotação 
Estive a pensar em como o autismo e a superdotação não 
diagnosticados influenciaram na minha maternidade. 
Até a alguns meses atrás, eu me achava a mãe típica com um filho atípico e 
outro típico. E já pensava ser uma boa mãe, até porque achei sempre que 
essa era a minha maior missão terrena. Com o fato de ter recebido o 
diagnóstico, a questão aparentemente mudou, pois assumi a condição de 
mãe atípica. 
PG 35 
 
 
 
 
 
 
 
 
E foi então, que parei para pensar, em como as condições do 
autismo e da superdotação me ajudaram nesse processo. 
Fui e sou a mãe ideal para Gabriel, pois o autismo se fez 
hiperfoco, e eu estudei, pesquisei, me formei por causa dele, mas penso 
que foi meu próprio autismo o responsável para que eu intendesse melhor 
o Gabriel, e utilizasse ferramentas próprias para seu desenvolvimento. 
Seguindo atrás desse hiperfoco, não medi, e ainda não meço esforços, 
para prover o que sinto ser melhor para ele. 
Creio que para Matheus, a superdotação me fez uma mãe 
melhor na parte em que eu tentei através da arte (que nós dois amamos) 
o elo para me conectar mais intensamente com ele. Em alguns momentos 
não pude ser a mãe muito presente, porque a demanda de Gabriel 
consumia muito do meu tempo. Mas tudo o que pude incentivar em relação 
às artes, eu fiz. Me orgulho dele ser um leitor crítico, de ser um exímio 
desenhista, fotógrafo, designer, de conhecer os grandes pintores, de se 
interessar por museus, de ter bom gosto musical, entre outras coisas que 
formam sua personalidade tão interessante. 
E concluindo, enxergo na convergência dessas duas 
maternidades ter alcançado meus dois iniciais e maiores objetivos, que 
fossem homens íntegros e aptos para a felicidade, cada um, a sua maneira. 
Em tudo observo a Bondade Divina, e nessa reflexão sou grata 
a Ele de ter feito em mim potência justamente aquilo que muitos pensam 
ser deficiência. 
 
 
A Dupla Excepcionalidade e a Dupla Maternidade 
Tenho dois filhos, Gabriel o mais velho é autista, Matheus o mais 
novo é artista (típico). O espaço de tempo entre eles, é de apenas um ano, 
então eu cuidava de dois bebês, duas crianças, dois jovens e agora dois 
adultos. Eles são muito diferentes entre si, diferem em aparência, gostos, 
estados de espírito, tipicidade/atipicidade, enfim quase tudo. Para mim, são 
filhos perfeitos, e não mudaria nada em nenhum dos dois. 
PG 36 
 
 
 
 
 
 
 
 
Hoje, sabendo do meu recente diagnóstico, Dupla 
Excepcionalidade, paro para pensar como a vida e a espiritualidade nos 
permitem doar o melhor, ou o pior, dependendo do que escolhermos. Sinto 
que fui e sou uma boa mãe para os dois. 
Tentei fazer dos meus pontos fortes ferramentas para educá-los 
melhor. Já nos meus déficits me humanizei, e eles perceberam que até as 
boas mães são passíveis de erros. 
Hoje me vejo diminuindo a autocrítica e percebendo o quanto fui 
forte, persistente, superando as minhas condições para oferecer-lhes a eles 
o meu melhor. 
A dupla excepcionalidade e a dupla maternidade moldaram minha 
vida de uma maneira intensa. A dualidade nos pensamentos, nas atitudes, 
nos sentimentos me ajudou a experimentar e gostar mais de mim, como 
pessoa e como mãe. Sou grata a Deus e aos meus filhos. 
Feliz Dia das Mães para todas nós! 
 
Autismo, Superdotação e Empatia 
Nos diz a conceituação que Empatia “é a capacidade psicológica de sentir 
o que sentiria outra pessoa, caso estivesse na mesma situação vivenciada por ela.” As 
palavras semelhantes são afeto, afeição e afinidade. 
Quando você recebe o diagnóstico de Dupla Excepcionalidade (autismo 
+superdotação), você percebe que sua vida se converte a três momentos distintos, um 
onde características das deficiências são parelhas, outro onde as características são 
avessas, e outro em que uma suplanta a outra completamente. Segundo o 
maravilhoso, poeta que amo Walt Whitman “Meu espírito é amplo, contenhomultidões”. 
E é justamente assim que me sinto. São muitas Cláudias dentro de mim e elas 
discutem o tempo todo. 
Voltando a empatia, essa é uma característica muito marcante da Superdotação, 
e ela suplanta completamente qualquer déficit quanto a Teoria da Mente (capacidade 
de se colocar no lugar do outro) que o Autismo me imponha. 
A minha empatia é algo tão exacerbado que sinto o que o outro sente mesmo, e 
descubro que até fisicamente consigo sentir. Me preocupo, quero resolver seus 
problemas, quero encontrar formas de ajudar. 
Mesmo as pessoas com quem não me afino muito, se me pedirem ajuda com 
humildade, as ajudo sem pestanejar. 
PG 37 
 
 
 
 
 
 
 
 
A empatia é o sentimento perfeito para uma civilização já 
espiritualizada, mas ainda não é o caso aqui na Terra, por isso sofro, sou 
mal interpretada, enganada e muitas vezes chamada de ingênua. Eu 
mudaria isso? Não! Estou em paz com o fato de ser empática! O mundo 
que mude, eu estarei lá no futuro aguardando! 
 
Autismo, superdotação e Matilda. O que será que tem a ver? 
Não assisto quase nada na televisão atualmente, exceto pelo canal 
Disney Jr, que Gabriel gosta, especialmente. Outro dia estava passando o f ilme 
Matilda, que já tinha visto anteriormente, na época de seu lançamento 1996, mas que 
não havia me prendido em detalhes, como fiz agora. 
Matilda é uma criança superdotada e que ama livros, o que já desperta 
muita empatia em mim, ela tem pais que relatam que não se dão conta do brilhantismo 
da criança. Ela aprendeu a ler sozinha, corroborando a ideia de Schwartz (2005) 
quando diz: As crianças superdotadas aprendem de uma forma qualitativamente 
diferente fazendo as coisas ao seu modo, precisando de ajuda mínima dos adultos 
para dominar a área e passam grande parte do tempo ensinando a si mesmas. 
Conforme fui assistindo ao filme, embora seja uma comédia/ fantasia, fui 
me identificando com Matilda em alguns aspectos, em qualidades intrínsecas a dupla 
excepcionalidade, como forte senso de justiça, liderança, emoções intensas, 
necessidade de respostas, entre outras. Sabemos que cada autista é único, que 
mesmo estando ao nível de suportes semelhantes, apresentarão características 
próprias. Com os superdotados acontece algo parecido, eles demonstram mais 
diferenças entre si do que semelhanças. Na superdotação explica Winner (1988, 
p.49):“[...] a desigualdade é mais a regra do que a exceção”. E, Matilda sem dúvida 
nenhuma era uma criança única. 
Uma das áreas de superdotação é a linguística, e é exatamente onde se 
deu meu diagnóstico. Matilda tinha essa área também muito desenvolvida, sendo que 
essa é a área mais comum e democrática da inteligência humana. Para ficar mais 
claro, vejamos a conceituação de Sabatella (2005, p.46) sobre a inteligência 
linguística: [...] a capacidade de usar a linguagem para atingir certos objetivos, 
expressar e avaliar conceitos complexos, além do ler, escrever e interpretar os textos”. 
PG 38 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Quando Matilda entrou para a escola, recebeu a atenção aos seus 
questionamentos e sua sede de aprender, assim se ligou de maneira profunda 
a sua professora. Temple Grandin, autista e Phd em ciência animal, sempre 
alertou para a importância das pessoas autistas terem bons professores, que 
os desafiassem. Peguei-me lembrando de minha primeira professora (Dona 
Tânia) pela qual eu tinha adoração, e depois dela foi difícil que outros 
professores ultrapassassem essa expectativa. Eu gostava tanto dela que, para 
ter mais a sua atenção e também porque já era solidaria com a missão dos 
educadores, eu fingia que não sabia uma palavrinha ou outra, para que ela 
me ensinasse. 
Mais para o final do filme, Matilda começa a apresentar poderes 
mágicos, na visão do filme. Eu chamaria de dons mediúnicos ou paranormais. 
Com os quais também me identifiquei, não pelo fato de mexer objetos com o 
poder da mente, pois não tenho essa capacidade desenvolvida, mas por 
começar a desenvolver uma teoria própria (que ainda procurarei para ver se 
tem base de pesquisa), de que muitos autistas e/ ou superdotados possam ser 
sensitivos. Mas, isso é história para outro texto! 
Senão assistiu Matilda, principalmente para pais e professores, eu 
recomendo! 
 
 
Fonte: SABATELLA, Maria Lúcia Prado. Talento e Superdotação: problema ou solução? 
Curitiba, Editora IBPEX, 2005. 
SCHWARTZ, Vanessa. PADRÕES MOTORES DE CRIANÇAS SUPERDOTADAS NA 
FAIXA ETÁRIA DE 6 A 8 ANOS. Curitiba, 2007. PDF 
WINNER, Ellen. Crianças Superdotadas: mitos e realidades. Porto Alegre, Artes Médicas, 
1998. 
PG 39 
 
 
 
 
 
 
 
 
Autismo, Superdotação e Desconstrução 
Por que falo sempre de estruturas para o autismo? Alguns autistas 
para construírem pensamentos e conceitos encontram muitas dificuldades, 
então se apegam a imutabilidade das estruturas para sentirem-se mais 
seguros nesse mundo tão caótico. 
Ultimamente, terapeutas e professores têm usado muito esse 
termo “desconstrução”, o que para mim ao invés da ideia que propõem 
“desconstruir para deixar brotar o novo”, a ideia que me passa e o que 
entendo é: desconstruir para voltar ao caos. Existe uma diferença grande 
entre saber e compreender. Sei muito sobre o que as pessoas típicas querem 
que eu saiba, mas existem as coisas que sei e não compreendo. E uma delas 
é desconstruir. Eu me imagino sempre como a clássica imagem do garotinho 
na praia construindo seu lindo castelo de areia, vem as ondas do mar e 
destroem tudo num segundo. 
Aí sei também que poderão pensar: 
- ah, mas é desconstruir o que é negativo. Entendo isso também, 
mas para a minha mente autista, até o que é negativo foi criado com muito 
trabalho cerebral, e “desconstruir” isso sem ter me adaptado a ideia, é muito 
desconfortável, me deixa sem chão. Mesmo o que é negativo, mas já é 
conhecido, às vezes pode ser mais confortável do que criar algo novo. Então, 
o processo do pensamento autista pode demandar mais tempo para 
desconstruir e iniciar nova obra. 
Ontem vi um trecho do seriado Modern Family, em um post. E a 
atriz latina Sofia Vergara dizia ao marido americano como era difícil para sua 
mente latina traduzir tudo rápido para o inglês e a resposta surgir instantânea. 
É mais ou nemos assim o meu processo de pensamento, após o diagnóstico 
tive a percepção, antes isso acontecia mais no automático, eu ouço o que me 
dizem, aí meu pensamento autista retorna para mim de uma forma, meu 
pensamento superdotado de outra, minha personalidade também responde, 
e ainda busco a resposta mais adequada ao que o interlocutor deseja ouvir. 
Isso é trabalhoso e desgastante. Por isso é importante entender que as 
estruturas físicas ou mentais são muito necessárias para autistas e que o 
trabalho de desconstrução delas deve ser no tempo que o autista demande, 
sem que se sinta pressionado por seu interlocutor. 
PG 40 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Autismo Feminino e Superdotação: sobre-excitabilidade 
Também pode ser chamada de Superexcitabilidade ou 
Hiperexcitabilidade e é uma característica presente em indivíduos 
superdotados, e os acompanham ao longo da vida. 
Foi conceituada pelo psicólogo e psiquiatra polonês, Kazimierz 
Drabowski, e consiste em uma das características que compõem o rol de 
elementos não cognitivos. 
Se trata de um fenômeno orgânico e neurológico que se caracteriza 
por reação intensa, muito mais do que o esperado para situações corriqueiras. 
Essa reação amplia a atividade mental, o que por consequência 
altera o comportamento, o que pode causar estranheza por sua intensidade 
aos que não possuem superdotação. 
Não se trata de uma habilidade, mas de uma atividade mental 
intensa. A sua manifestação pode acontecer em diversas áreas. 
São essas 5, as sobre-excitabilidades: intelectual, emocional, 
imaginativa, motora e sensorial que ampliam os talentos da superdotação. 
 
1. Sobre-excitabilidade Intelectual: é um refinamento da sensibilidade no 
indivíduo superdotado, aresposta aos estímulos, chega mais rapidamente do 
que o esperado. Uma das sobre-excitabilidades é a intelectual, ela se manifesta 
por curiosidade, lembranças detalhadas, incessante busca por leitura e 
conhecimento, planejamento detalhado, meta-cognição, foco e persistência na 
resolução de problemas, criticidade nos pensamentos, busca sempre a análise 
e a lógica. Seguem alguns exemplos de como sobre- excitabilidade intelectual 
pode se expressar: tendência a perguntas polêmicas, interesse no eu interior, 
capacidade marcante de análise e síntese, preocupação intensa com a solução 
de problemas, forte necessidade por obter conhecimento, busca sempre o 
“como” e o “porque” dos fatos. Pensei que muitas dessas características cabem 
a mim, e a vida de minha mãe teria sido bem mais fácil se ela soubesse o meu 
diagnóstico na infância. O que mais me irritava e frustrava era quando eu fazia 
alguma pergunta e ela respondia: “é porque é” ou “é assim porque Deus fez 
assim”. Só posso concluir que o diagnóstico salva-vidas! 
PG 41 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2. Sobre-excitabilidade Emocional: podemos identificá-la como sensibilidade 
intensa, expressando emoções exacerbadas, afetividade e empatia 
desmedidas, relações com grande carga emocional, como também o indivíduo 
apresentar sentimentos em relação ao eu de maneira diversa. 
As expressões dos superdotados em relação a essa sobre-excitabilidade 
podem acontecer potencializadas da seguinte forma: 
- consciência da sua gama de emoções 
- relações intensas com lugares, animais e objetos 
- afetuosidade 
- criar vínculos fortes 
- a adaptação a novos ambientes pode ser complicada 
- inibição, orgulho, euforia 
- diálogos internos muito críticos 
- autoavaliação 
- preocupação com os outros e a solução de seus problemas. 
- sensação de inadequação, medo, culpa, ansiedade 
- estados depressivos 
- dor de estômago, melancolia, manchas roxas, rubor, sudorese, palpitações 
entre outros. 
 
A Sobre-excitabilidade Emocional é a principal responsável pelo 
desenvolvimento da personalidade: pois ela integra e potencializa as demais 
sobre-excitabilidades, como também os aspectos da cognição. Tive um 
estranhamento quando recebi o diagnóstico de superdotação, e houve até uma 
negação em relação a ele, pois a minha visão também era a do senso comum, 
que vê o superdotado como um gênio acadêmico. Estudando para me apropriar 
do conhecimento sobre essa deficiência, a cada texto fui me encontrando. As 
minhas características estão muito marcadas dentro da superdotação. E, como 
uma pessoa de carga emocional intensa, a cada texto que escrevo me 
reconheço e ressignifico uma vida inteira sem saber quem eu realmente era. 
Hoje digo que sou, sim, autista e superdotada, e me muito orgulho disso. 
PG 42 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3. Sobre-excitabilidade Imaginativa: a sobre-excitabilidade é uma 
característica da superdotação que potencializa os estímulos internos e 
externos, é uma sensibilidade maior do que a dos pares. Essa é das que 
mais me identifiquei, embora me veja nas cinco existentes. Podemos 
identificá-la como imaginação super criativa, ligada a imagens e percepções, 
fantasias, criação de mundos e personagens, percepção dramática, 
pensamento mágico, forte reação a sentir tédio, companhias imaginárias, 
percepção poética, busca pelo novo. Nas características da sobre- 
excitabilidade imaginativa, vejo que em mim também são potencializadas 
características do autismo, como: busca forte por imagens (pessoas autistas 
são extremamente visuais), medo do desconhecido (pessoas autistas 
necessitam de previsibilidade), associação de ideias com imagens (pessoas 
autistas necessitam de imagens na criação de conceitos). Além das 
características ligadas ao autismo, percebo outras em mim: sonhos 
detalhados, preferências por histórias mágicas (contos de fadas), realidades 
imaginárias, muitos planos e ideias, inventividade, diálogos internos 
fantasiosos, mistura realidade e fantasia, criação poética. Ah, que lindo isso! 
Adorei minha identificação com essa característica. Vejo o quanto a minha 
diversidade é linda e interessante. Por muitos anos mascarei não 
intencionalmente essas características, para tentar me aproximar das outras 
pessoas. Muitas vezes ouvi ser esquisita, e assim fui me fechando. A 
Arteterapia está me ajudando a retomar minhas emoções e sentimentos 
genuínos. Essa minha escrita nos posts é terapêutica. Minhas fotos nas 
imagens é autoafirmação do amor em mim e por mim. Eu nunca coube nas 
“caixas” que me impuseram, eu sempre transbordei! E hoje, posso dizer, 
como Anne de Green Gables: “Não é maravilhoso imaginar?” 
 
4. Sobre-Excitabilidade Motora: alcança os indivíduos da seguinte forma: há 
uma busca incessante por atividades físicas, jogos e esportes intensos, são 
competitivos demais, podem ser impulsivos, ter tiques nervosos, fala 
acelerada, entre outras características. Exemplos de como se expressam as 
pessoas que tem mais características dessa forma de sobre-excitabilidade: 
agitação, hiperatividade, buscam por jogos violentos, são curiosos, fazem 
esportes radicais, tem muita necessidade de mudanças, sua fala e 
pensamentos são acelerados, além de também agirem sem refletir. 
PG 43 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5. Sobre-excitabilidade Sensorial: é identificada por uma intensa busca por 
saciar os 5 dos sentidos (visão, audição, paladar, tato e olfato) e interesse 
intenso por tudo o que diz respeito a estética, como produtos de beleza, 
necessidade que as atenções voltem para si, e os prazeres que os sentidos 
podem proporcionar. Temos como maneira de expressar-se nessa sobre- 
excitabilidade as seguintes formas: gostar de beijos e abraços, mesmo de 
desconhecidos, não gostar de estar só, interesse intenso por sexo, explorar 
seu corpo e do outro. 
 
Fonte: https://ahsdtdp.wixsite.com/meusite/sobre-excitabilidades. 
 
 
 
Onde você guarda seu capacitismo? 
Voltando há alguns anos, era transmitido pela TV Educativa um comercial 
do IBASE (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas) e a questão 
provocativa que levava ou pretendia levar a reflexão era a seguinte: onde você 
guarda o seu racismo? 
Me lembro que esse comercial sempre me fazia refletir, pois por mais que 
tentemos esconder nossos preconceitos, ele é estrutural e se apresenta uma hora 
ou outra. 
Definimos como capacitismo, o preconceito direcionado às pessoas com 
deficiência, no meu caso a dupla excepcionalidade (TEA e superdotação). 
Durante minha vida aprendi a lutar com diversos “quadrados” onde o 
meio social tentava me enquadrar, não só a mim, como também ao meu filho autista. 
Na realidade, sempre lutei mais por ele. As atitudes preconceituosas contra mim, eu 
ia engolindo ou fingindo que não percebia. 
Sei que desejar uma sociedade não capacitista, é uma utopia, mas ainda 
sonho com ela. E, sonho mais ainda pelas quebras de padrões daqueles que abrem 
a boca e discursam lindamente contra o capacitismo, mas travestem de 
brincadeirinha o seu próprio. Conseguem enxergar o capacitismo contra alguém 
alheio ao seu convívio, mas continua com uma trave no olho para o autista que está 
ao seu lado. 
E você, como responderia à questão do post: onde você guarda o seu 
capacitismo? 
PG 44 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Mitos da Superdotação 
Durante tanto tempo tenho trabalhado pela desmistificação do 
Autismo e, agora, me vejo na necessidade de desmistificar também a 
Superdotação. 
Primeiro identifiquemos quem são as pessoas superdotadas: 
conforme o Ministério da Educação (MEC), pessoas superdotadas são 
aquelas que demonstram potencial elevado em qualquer uma das seguintes 
áreas: intelectual, acadêmica, liderança, psicomotricidade (como nos 
esportes) e artes. Elas também podem ser conhecidas por sua alta 
capacidade criativa e envolvimento na aprendizagem. 
Portanto, esqueçam o estereótipo do garoto magrinho, de óculos 
grossos e gênio. A superdotação não é sinônimo

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