Buscar

crise climatica tcc onu 568 puc

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 22 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 22 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 22 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Departamento de Direito 
CRISE CLIMÁTICA E PANDEMIA 
 
 
Alunas: Luciana Tse Chaves Garcia Rego e Maria Eduarda Segovia Barbosa Neves 
Orientadora: Danielle de Andrade Moreira 
 
 
 
Introdução 
O primeiro trimestre do ano de 2020 foi marcado pela propagação mundial de um novo 
vírus, o SARS-CoV-2, causador da COVID-19 (doença por coronavírus 2019, ou, em inglês, 
Coronavirus Disease 2019), levando a Organização Mundial da Saúde – OMS (em inglês, 
World Health Organization – WHO), no dia 11 de março do mesmo ano, a caracterizar a 
situação da COVID-19 como pandemia.1 Na data em que foi constatada a emergência pela 
OMS, o diretor-geral da organização proferiu discurso alertando sobre a importância de 
considerar os direitos humanos no combate à pandemia por todos os países.2 
 Embora a maior parte da população e dos tomadores de decisão tenham deslocado seus 
esforços para o combate desse problema mundial, outra urgência persiste: a crise climática. A 
atenção para as mudanças climáticas não pode ser afastada por conta da pandemia, é preciso 
que ambos os problemas sejam enfrentados em conjunto e com esforços igualitários, 
considerando, principalmente, as interseções entre eles. Tanto a crise climática quanto a de 
saúde possuem origens convergentes e acarretam consequências desastrosas para a 
humanidade. Esses impactos globais são sentidos principalmente por populações mais pobres, 
com acesso precário a direitos básicos, como moradia adequada, saneamento, disponibilidades 
de alimento, serviços de saúde, água potável, dentre outros. As emergências também 
pressionam o ambiente natural e as espécies que o habitam, modificando o funcionamento dos 
ecossistemas. 
 Considerando essa crítica realidade, a OMS já reconhece que epidemias são problemas 
sociais tanto quanto de saúde e que para seu enfrentamento é necessária uma abordagem para 
além da lógica médica tradicional.3 A partir dessa perspectiva, a pesquisa foi elaborada e o 
presente relatório se desenvolverá em três partes. Primeiramente, será abordado o histórico das 
mudanças climáticas antropogênicas e o contexto que levou ao cenário de crise climática, bem 
como as injustiças que permeiam essa problemática. Depois, se apresentará a relação entre 
eclosão de epidemias e pandemias causadas por doenças zoonóticas, especialmente a COVID-
19 e a emergência climática, considerando principalmente os impactos das mudanças do clima 
para o equilíbrio do ecossistema. Por fim, pretende-se realizar uma análise das vulnerabilidades 
de populações aos impactos das mudanças climáticas e aos efeitos da pandemia de COVID-19, 
com o objetivo de se demonstrar como uma situação de pandemia reforça as desigualdades e 
flagelos já existentes que atingem uma parcela específica da população. 
 
1 WORLD HEALTH ORGANIZATION. WHO Director-General's opening remarks at the media briefing on 
COVID-19 - 11 March 2020. Disponível em: https://www.who.int/director-general/speeches/detail/who-director-
general-s-opening-remarks-at-the-media-briefing-on-covid-19---11-march-2020. Acesso: 16 abr. 2021 
2 “All countries must strike a fine balance between protecting health, minimizing economic and social disruption, 
and respecting human rights”. Cf. WORLD HEALTH ORGANIZATION. WHO Director-General's opening 
remarks at the media briefing on COVID-19 - 11 March 2020. Disponível em: https://www.who.int/director-
general/speeches/detail/who-director-general-s-opening-remarks-at-the-media-briefing-on-covid-19---11-march-
2020. Acesso em: 16 abr. 2021. 
3 WHO. Managing epidemics: key facts about major deadly diseases. Geneva: WHO, 2018, p. 27. Disponível 
em: https://www.who.int/emergencies/diseases/managing-epidemics-interactive.pdf. Acesso em: 15 abr. 2021. 
https://www.who.int/director-general/speeches/detail/who-director-general-s-opening-remarks-at-the-media-briefing-on-covid-19---11-march-2020
https://www.who.int/director-general/speeches/detail/who-director-general-s-opening-remarks-at-the-media-briefing-on-covid-19---11-march-2020
https://www.who.int/director-general/speeches/detail/who-director-general-s-opening-remarks-at-the-media-briefing-on-covid-19---11-march-2020
https://www.who.int/emergencies/diseases/managing-epidemics-interactive.pdf
Departamento de Direito 
Objetivos 
Considerando o mencionado contexto, o presente trabalho propõe-se a explicitar as 
relações entre a crise climática, a pandemia da COVID-19 e a ocorrência possível de futuras 
epidemias e pandemias, sob a ótica da justiça climática, de modo a estabelecer que uma crise 
pode certamente piorar os impactos de outra. A pesquisa visa analisar o entendimento de que 
tais emergências são indissociáveis. A tendência é que as consequências de ambas sejam cada 
vez mais visíveis e intensas, haja vista a interseção de causa e consequência entre as duas. 
Desse modo, buscou-se relacionar a crise climática com o surgimento de zoonoses, 
potenciais causadores de futuras epidemias e pandemias. Analisou-se também de forma crítica 
os impactos das mudanças climáticas, tendo em vista as vulnerabilidades sociais e populações 
desigualmente afetadas tanto pela crise climática, quanto pela pandemia de COVID-19. 
O trabalho pretendeu identificar de que maneira as mudanças climáticas antropogênicas 
influenciam o surgimento e a distribuição de doenças que afetam seres humanos e as 
dificuldades no enfrentamento dessa realidade, sob a ótica da Justiça Climática. 
 
Metodologia 
A presente pesquisa foi realizada no âmbito do grupo de pesquisa Direito, Ambiente e 
Justiça no Antropoceno (JUMA), que integra a Coordenação de Direito Ambiental do Núcleo 
Interdisciplinar de Meio Ambiente da PUC-Rio (NIMA-Jur). 
Primeiramente, fez-se uma análise do histórico das mudanças climáticas antropogênicas, 
em especial a partir da leitura de textos dos autores Paul Crutzen, Will Steffen e Paulo Artaxo, 
que abordam o início de uma nova época geológica, chamada Antropoceno. 
Posteriormente, foi realizado um levantamento bibliográfico de relatórios elaborados por 
organizações internacionais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Programa das 
Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), dentre outros, além de artigos científicos que 
interligam a crise climática com a crise sanitária, em especial a pandemia da COVID-19. 
Por fim, partiu-se para o estudo da Justiça Climática e sua relação com os flagelos 
ocasionados pela pandemia. Esse estudo foi feito a partir da leitura de diversos artigos 
acadêmicos e científicos sobre as iniquidades e vulnerabilidades tanto no contexto da crise 
climática quanto daquelas expostas pelo enfrentamento à pandemia. 
 
1. A Crise Climática 
 
1.1. Emissões Antropogênicas de Gases de Efeito Estufa 
As atividades humanas sempre afetaram o meio ambiente. Em épocas pré-industriais, o 
ser humano não possuía a capacidade tecnológica ou organizacional para dominar efetivamente 
as forças da natureza, portanto os impactos de suas atividades eram predominantemente locais 
e transitórios, dentro dos limites da variabilidade natural do ambiente.4 
A humanidade começa a alterar o equilíbrio do ecossistema com a Revolução Industrial, 
entre 1800 e 1945. Devido ao descobrimento e à exploração de combustíveis fósseis, houve o 
 
4 STEFFEN, Will et. al. The Anthropocene: Are Humans Now Overwhelming the Great Forces of Nature. 
AMBIO: A Journal of the Human Environment, v. 36, n. 8, p. 614-621, 2007, p. 614 e 615. Disponível em: 
http://www.bioone.org/doi/full/10.1579/0044-7447%282007%2936%5B614%3ATAAHNO%5D2.0.CO%3B2. 
Acesso em: 13 mar. de 2021. 
http://www.bioone.org/doi/full/10.1579/0044-7447%282007%2936%5B614%3ATAAHNO%5D2.0.CO%3B2
Departamento de Direito 
desenvolvimento de novas atividades humanas e o aperfeiçoamento de outras já existentes .5 A 
intensificação das atividades fez com que a humanidade influenciasse o funcionamento do 
planeta Terra de tal maneira que pode ser comparado às forças geológicas,em vista da sua 
capacidade de interferir em processos críticos do planeta Terra.6 Por conta disso, pode-se dizer 
que o planeta adentra em uma nova época geológica, chamada o Antropoceno. 
O Antropoceno é considerado uma época geológica posterior ao Holoceno. Apesar de 
esse entendimento não ser unânime na comunidade científica, já é utilizado por uma grande 
gama de pesquisadores7 e, para a presente pesquisa, a compreensão dessa realidade é essencial 
para a busca de adaptação e mitigação aos efeitos da crise climáticas, bem como para orientar 
possíveis soluções frente aos seus impactos. 
No período da Grande Aceleração, que se inicia por volta de 1945, os impactos humanos 
no ecossistema se intensificaram ainda mais, principalmente após fim da Segunda Guerra 
Mundial (1939-1945). Houve um crescimento exponencial da população, bem como diversas 
alterações no modo de vida das pessoas, devido aos efeitos da globalização da economia, entre 
os anos 1870 e 1914. 8 
De modo a analisar quanticamente os impactos humanos no sistema terrestre, utiliza-se 
os dados de acumulação de CO2 na atmosfera. O CO2 é o mais abundante dos gases de efeito 
estufa (GEE), sendo utilizado como referência para classificar o impacto do aquecimento global 
de todos os GEE. 9 Em níveis pré-industriais, a concentração de CO2 era de 225 partes por 
milhão (ppm). Por volta de 1800/50 a 1945, a concentração de CO2 aumentou cerca de 25 ppm, 
ultrapassando com isso o limite máximo da variação natural que havia durante o Holoceno.10 
Em 1950, a concentração era cerca de 310 ppm, 11 sendo que em 2015 a concentração já chegava 
a 399 ppm. 12 
A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (National 
Oceanic and Atmospheric Administration – NOAA) demonstrou que a concentração média de 
 
5 STEFFEN, Will; CRUTZEN, Paul J. e MCNIELL, John R. The Anthropocene: conceptual and historical 
perspectives. Philosophical Transactions of the Royal Society A: Mathematical, Physical and Engineering 
Sciences, v. 369, n. 1938, p. 842-867, 2011, p. 847-848. 
6 ARTAXO, Paulo. Uma nova era geológica em nosso planeta: o Antropoceno?. Revista USP, São Paulo, n. 103, 
p. 13-24, 2014, p. 15. 
7 VEIGA, José Eli da. A primeira utopia do Antropoceno. Ambiente e Sociedade: Revista da Associação Nacional 
de Pós-Graduação e Pesquisa em Ambiente e Sociedade, São Paulo, v. XX. n. 2, p. 233-252, abr./jun. 2017, p. 
241-242. 
8 STEFFEN, Will et al. The Anthropocene: Are Humans Now Overwhelming the Great Forces of Nature. AMBIO: 
A Journal of the Human Environment, v. 36, n. 8, p. 614-621, 2007, p. 617. Disponível em: 
http://www.bioone.org/doi/full/10.1579/0044-7447%282007%2936%5B614%3ATAAHNO%5D2.0.CO%3B2. 
Acesso em: 13 mar. 2021. 
9 O CO2 é o mais abundante dos gases de efeito estufa (GEE), sendo utilizado como referência para classificar o 
impacto do aquecimento global de todos os GEE. Cf. FERRETTI, André Rocha. Mudanças Climáticas: causas e 
consequências. In: Associação Brasileira dos Membros do Ministério Público de Meio Ambiente – ABRAMPA. 
A atuação do Ministério Público frente às mudanças climáticas, 2018, p. 5-13, p. 7. 
10 STEFFEN, Will et al. The Anthropocene: Are Humans Now Overwhelming the Great Forces of Nature. 
AMBIO: A Journal of the Human Environment, v. 36, n. 8, p. 614-621, 2007, p. 616. Disponível em: 
http://www.bioone.org/doi/full/10.1579/0044-7447%282007%2936%5B614%3ATAAHNO%5D2.0.CO%3B2. 
Acesso em: 13 mar. 2021. 
11 STEFFEN, Will et al. The Anthropocene: Are Humans Now Overwhelming the Great Forces of Nature. 
AMBIO: A Journal of the Human Environment, v. 36, n. 8, p. 614-621, 2007, p. 618. Disponível em: 
http://www.bioone.org/doi/full/10.1579/0044-7447%282007%2936%5B614%3ATAAHNO%5D2.0.CO%3B2. 
Acesso em: 13 mar. 2021. 
12 ARTAXO, Paulo. Uma nova era geológica em nosso planeta: o Antropoceno?. Revista USP, São Paulo, n. 103, 
p. 13-24, 2014, p. 16. 
http://www.bioone.org/doi/full/10.1579/0044-7447%282007%2936%5B614%3ATAAHNO%5D2.0.CO%3B2
http://www.bioone.org/doi/full/10.1579/0044-7447%282007%2936%5B614%3ATAAHNO%5D2.0.CO%3B2
http://www.bioone.org/doi/full/10.1579/0044-7447%282007%2936%5B614%3ATAAHNO%5D2.0.CO%3B2
Departamento de Direito 
CO2 chegava a 416,21 ppm em abril de 2020.
13 Confirmando que os níveis seguem aumentando, 
especialistas do Met Office, serviço meteorológico do Reino Unido, divulgaram dados prevendo 
que a concentração de CO2 em 2021 será cerca de 2,29 ppm maior do que em 2020 e ainda que 
alcançará níveis 50% maiores do que os pré-industriais. 14 
Esses dados são alarmantes em vista dos efeitos dos gases de efeito estufa (GEE) na 
atmosfera. A concentração de GEE gera um processo de isolamento térmico do planeta, pois 
impedem que os raios solares penetrem na atmosfera e retornem ao espaço. 15 Assim, o planeta 
enfrenta um aquecimento global que aumenta cerca de 0,2ºC por década por conta 
principalmente das atividades humanas.16 Esse aquecimento contribui para a instabilidade 
climática terrestre, gerando diversos riscos para os sistemas naturais e humanos.17 
Considerando o cenário crítico que diz respeito às mudanças climáticas antropogênicas 
e a necessidade de se atuar urgentemente para combater os seus efeitos, é adequado chamar a 
questão climática como emergência climática e/ou crise climática. Afasta-se, com isso, a visão 
passiva com relação a essa problemática, enfatizando o cenário catastrófico que o planeta Terra 
enfrentará caso a sociedade siga com comportamentos omissivos quanto a essa urgência. 
 
1.2. Os impactos da crise climática ao equilíbrio do planeta 
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (Intergovernmental Panel on 
Climate Change – IPCC) já relatou que, apesar de ainda alarmante, o aumento da temperatura 
global em 1,5°C impactará em menor grau o planeta em relação a um aumento de 2°C. Dentre 
as principais diferenças que o relatório prevê está o aumento da temperatura média na maioria 
das terras e regiões oceânicas, do calor extremo na maioria das regiões inabitadas, de fortes 
precipitações em diversas regiões e da probabilidade de seca e déficit de precipitação em 
 
13 Concentração global de CO2 bate recorde mesmo durante crise do COVID-19. United Nations Environment 
Programme, 11 maio 2020. Disponível em: https://www.unep.org/pt-br/noticias-e-
reportagens/reportagem/concentracao-global-de-co2-bate-recorde-mesmo-durante-crise-
do#:~:text=Em%20abril%20de%202020%2C%20a,n%C3%ADveis%20nos%20%C3%BAltimos%20800.000%
20anos. Acesso em: 01 mar. 2021. 
14 Mauna Loa carbon dioxide forecast for 2021. Meteorological Office – Met Office, Governo do Reino Unido, 
jan. 2021. Disponível em: https://www.metoffice.gov.uk/research/climate/seasonal-to-decadal/long-
range/forecasts/co2-forecast. Acesso em: 02 mar. 2021. 
15 CARVALHO, Délton Winter de. Mudanças Climáticas e as implicações jurídico-principiológicas para a gestão 
dos danos ambientais futuros numa sociedade de risco global. 14º Congresso Internacional de Direito Ambiental. 
In: LAVRATTI, Paula; PRESTES, Vanêsca Buzelato (org.). Direito e Mudanças Climáticas 2: responsabilidade 
civil e mudanças climáticas. São Paulo: Instituto o Direito por um Planeta Verde, 2010, p. 39-59, p. 43. Disponível 
em: http://www.planetaverde.org/mudancasclimaticas/index.php?ling=por&cont=publicacoes. Acesso em: 13 
mar. 2021. 
16 MASSON-DELMOTTE, V. et al. (eds.). Summary for Policymakers. In: Global warming of 1.5ºC. An IPCC 
Special Report on the impacts of global warming of 1.5 C above pre-industrial levels and related global greenhouse 
gas emission pathways, in the context of strengthening the global. World Meteorological Organization: Geneva, 
2018, p. 4. Disponível em: 
https://www.ipcc.ch/site/assets/uploads/sites/2/2019/05/SR15_SPM_version_report_LR.pdf. Acesso em: 02 mar. 
2021. 
17 MASSON-DELMOTTE, V. et al. (eds.). Summary for Policymakers. In: Global warming of 1.5ºC. An IPCC 
Special Report on the impacts of globalwarming of 1.5 C above pre-industrial levels and related global greenhouse 
gas emission pathways, in the context of strengthening the global. World Meteorological Organization: Geneva, 
2018, p. 5. Disponível em: 
https://www.ipcc.ch/site/assets/uploads/sites/2/2019/05/SR15_SPM_version_report_LR.pdf. Acesso em: 02 mar. 
2021. 
https://www.unep.org/pt-br/noticias-e-reportagens/reportagem/concentracao-global-de-co2-bate-recorde-mesmo-durante-crise-do#:~:text=Em%20abril%20de%202020%2C%20a,n%C3%ADveis%20nos%20%C3%BAltimos%20800.000%20anos
https://www.unep.org/pt-br/noticias-e-reportagens/reportagem/concentracao-global-de-co2-bate-recorde-mesmo-durante-crise-do#:~:text=Em%20abril%20de%202020%2C%20a,n%C3%ADveis%20nos%20%C3%BAltimos%20800.000%20anos
https://www.unep.org/pt-br/noticias-e-reportagens/reportagem/concentracao-global-de-co2-bate-recorde-mesmo-durante-crise-do#:~:text=Em%20abril%20de%202020%2C%20a,n%C3%ADveis%20nos%20%C3%BAltimos%20800.000%20anos
https://www.unep.org/pt-br/noticias-e-reportagens/reportagem/concentracao-global-de-co2-bate-recorde-mesmo-durante-crise-do#:~:text=Em%20abril%20de%202020%2C%20a,n%C3%ADveis%20nos%20%C3%BAltimos%20800.000%20anos
https://www.metoffice.gov.uk/research/climate/seasonal-to-decadal/long-range/forecasts/co2-forecast
https://www.metoffice.gov.uk/research/climate/seasonal-to-decadal/long-range/forecasts/co2-forecast
http://www.planetaverde.org/mudancasclimaticas/index.php?ling=por&cont=publicacoes
https://www.ipcc.ch/site/assets/uploads/sites/2/2019/05/SR15_SPM_version_report_LR.pdf
https://www.ipcc.ch/site/assets/uploads/sites/2/2019/05/SR15_SPM_version_report_LR.pdf
Departamento de Direito 
algumas regiões.18,19 O Fórum Econômico Mundial (World Economic Forum) também 
ressaltou que as mudanças climáticas estão causando impactos de forma mais grave e mais 
rápida do que era previsto. Segundo a pesquisa, falhar em tomar medidas de mitigação e 
adaptação às mudanças climáticas é o risco global número um ao se considerar os seus impactos 
e o número dois com relação à probabilidade de ocorrência nos próximos 10 anos.20 
A emergência climática já produz sérios impactos também na biodiversidade. A 
Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos 
(Intergovernmental Science-Policy Platform on Biodiversity and Ecosystem Services – IPBES) 
concluiu que os impulsionadores diretos de mudança na natureza com maior impacto global 
são, em ordem: mudanças no uso da terra e do mar; exploração direta de organismos; mudanças 
climáticas; poluição; e invasão de espécies exóticas. Eles são resultados de uma série de causas 
subjacentes - impulsionadores indiretos - que, por sua vez, são sustentados por valores e 
comportamentos sociais que incluem padrões de produção e consumo, dinâmica e tendências 
da população humana, comércio, inovações tecnológicas e locais por meio da governança 
global. Importante ressaltar que a taxa de variação dos fatores diretos e indiretos difere entre 
regiões e países.21 
As mudanças climáticas representam um risco crescente devido ao seu ritmo acelerado 
junto a diversas interações com outros impulsionadores diretos. Já são evidentes mudanças na 
distribuição de espécies de diversos animais, na fenologia, na dinâmica populacional e na 
estrutura e função do ecossistema, sendo ainda mais aceleradas em sistemas marinhos, terrestres 
e de água doce. Indica-se que muitas espécies são incapazes de lidar localmente com esse ritmo 
por meio de processos evolutivos ou comportamentais. A continuação de sua existência 
dependerá da extensão em que são capazes de se dispersar, para rastrear as condições climáticas 
adequadas, e preservar sua capacidade de evoluir. Muitas dessas mudanças podem ter impactos 
significativos em vários setores econômicos e efeitos em cascata para outros componentes da 
biodiversidade. 22 
 
1.3. Injustiças causadas pela crise climática 
Segundo relatório do IPCC, entende-se que populações como as indígenas, as 
comunidades locais dependentes de agricultura e de meios de subsistência costeiros estão em 
uma situação de alto risco com relação aos impactos adversos da crise climática, sendo mais 
 
18 MASSON-DELMOTTE, V. et al. (eds.). Summary for Policymakers. In: Global warming of 1.5ºC. An IPCC 
Special Report on the impacts of global warming of 1.5°C above pre-industrial levels and related global greenhouse 
gas emission pathways, in the context of strengthening the global. World Metem: 02 mar. 2021. 
19 Recentemente, foi lançado o sexto relatório de avaliação do IPCC que confirma a influência humana no 
aquecimento global, contribuindo para alterações sem precedentes. Cf. MASSON-DELMOTTE, V. et al. (eds.). 
Summary for Policymakers. In: Climate Change 2021: The Physical Science Basis. Contribution of Working 
Group I to the Sixth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Cambridge University 
Press. In Press. Disponível em: https://www.ipcc.ch/report/sixth-assessment-report-working-group-i/. Acesso em: 
13 ago. 2021. 
20 WORLD ECONOMIC FORUM. Executive Summary. In: The global risks report 2020. Insight Report, 15 ed., 
15 jan. 2020, p. 6-7. Disponível em: http://www3.weforum.org/docs/WEF_Global_Risk_Report_2020.pdf. 
Acesso em: 16 mar. 2021. 
21 S. DÍAZ, J. et al. (eds.). Summary for policymakers of the global assessment report on biodiversity and 
ecosystem services of the Intergovernmental Science-Policy Platform on Biodiversity and Ecosystem Services. 
IPBES secretariat: Bonn, 2019, p. 12. Disponível em: https://www.ipbes.net/global-assessment. Acesso em: 14 
mar. 2021. 
22 S. DÍAZ, J. et al. (eds.). Summary for policymakers of the global assessment report on biodiversity and 
ecosystem services of the Intergovernmental Science-Policy Platform on Biodiversity and Ecosystem Services. 
IPBES secretariat: Bonn, 2019, p. 29. Disponível em: https://www.ipbes.net/global-assessment. Acesso em: 14 
mar. 2021. 
https://www.ipcc.ch/report/sixth-assessment-report-working-group-i/
http://www3.weforum.org/docs/WEF_Global_Risk_Report_2020.pdf
https://www.ipbes.net/global-assessment
https://www.ipbes.net/global-assessment
Departamento de Direito 
vulneráveis à essa emergência. Ademais, há regiões do planeta que sofrerão mais com os 
impactos, como o ecossistema ártico, regiões secas, pequenos Estados insulares em 
desenvolvimento e países menos desenvolvidos.23 
Os desafios da crise climática evidenciam, com isso, um cenário desigual: enquanto os 
Estados mais ricos e poderosos, como os Estados Unidos da América (EUA),24 são os principais 
responsáveis históricos por esse cenário emergencial, os seus riscos e impactos adversos são 
sentidos pelos mais pobres e vulneráveis.25 Considerando que a emergência climática possui 
incidências ambientais e sociais que não afetam todos de forma igual, diversos movimentos 
reivindicatórios de comunidades mais impactadas pela crise surgem objetivando garantir 
espaço em políticas e negociações climáticas. 26 Assim, o movimento de Justiça Climática 
nasce, sendo o conceito empregado pela primeira vez no informe Greenhouse Gângsters vs. 
Climate Justice,27 elaborado pelo grupo Corporate Watch,28 publicado em 1999. 
As injustiças da crise climática já são observadas por meio de diferentes efeitos na 
sociedade. O IPCC havia projetado que qualquer aumento no aquecimento global afetará a 
saúde humana, principalmente por conta de consequências negativas. Os riscos de morbidade e 
mortalidade relacionados ao calor são menores com o aumento de 1.5ºC em relação ao de 2ºC. 
Os riscos de algumas doenças transmitidas por vetores, como malária e dengue, também devem 
aumentar com o aquecimento de 1.5ºC para 2ºC, incluindo possíveis mudanças em sua área 
geográfica.29 
Entende-se que a crise climática contribuirá para a disseminação de diversas doenças 
pelo mundo, como pôde ser observado pela pandemia da COVID-19. Neste contexto, o cenário 
de injustiça reforçado pelasmudanças climáticas antropogênicas fica cada vez mais evidente, 
considerando as respostas desiguais para diferentes parcelas da população. Apesar de as 
consequências da crise climática para a saúde humana terem efeitos para toda a sociedade, a 
população mais vulnerável é a mais criticamente impactada. 
 
2. Efeitos das mudanças climáticas na saúde 
 
 
23 MASSON-DELMOTTE, V. et al. (eds.). Summary for Policymakers. In: Global warming of 1.5ºC. An IPCC 
Special Report on the impacts of global warming of 1.5°C above pre-industrial levels and related global greenhouse 
gas emission pathways, in the context of strengthening the global. World Meteorological Organization: Geneva, 
2018, p. 9. Disponível em: 
https://www.ipcc.ch/site/assets/uploads/sites/2/2019/05/SR15_SPM_version_report_LR.pdf. Acesso em: 02 mar. 
2021. 
24 BORRÀS, Susana. Movimientos para la justicia climática global: replanteando el escenario internacional del 
cambio climático. Relaciones Internacionales. Madrid, n. 33, out. 2016/jan. 2017, p. 103. 
25 BORRÀS, Susana. Movimientos para la justicia climática global: replanteando el escenario internacional del 
cambio climático. Relaciones Internacionales. Madrid, n. 33, out. 2016/jan. 2017, p. 98. 
26 BORRÀS, Susana. Movimientos para la justicia climática global: replanteando el escenario internacional del 
cambio climático. Relaciones Internacionales. Madrid, n. 33, out. 2016/jan. 2017, p. 100. 
27 Disponível em: http://www.corpwatch.org/sites/default/files/Greenhouse%20Gangsters.pdf. Acesso em: 09 abr. 
2021. 
28 BORRÀS, Susana. Movimientos para la justicia climática global: replanteando el escenario internacional del 
cambio climático. Relaciones Internacionales. Madrid, n. 33, out. 2016/jan. 2017, p. 100. 
29 MASSON-DELMOTTE, V. et al. (eds.). Summary for Policymakers. In: Global warming of 1.5ºC. An IPCC 
Special Report on the impacts of global warming of 1.5°C above pre-industrial levels and related global greenhouse 
gas emission pathways, in the context of strengthening the global. World Meteorological Organization: Geneva, 
2018, p. 9. Disponível em: 
https://www.ipcc.ch/site/assets/uploads/sites/2/2019/05/SR15_SPM_version_report_LR.pdf. Acesso em: 02 mar. 
2021. 
https://www.ipcc.ch/site/assets/uploads/sites/2/2019/05/SR15_SPM_version_report_LR.pdf
http://www.corpwatch.org/sites/default/files/Greenhouse%20Gangsters.pdf
https://www.ipcc.ch/site/assets/uploads/sites/2/2019/05/SR15_SPM_version_report_LR.pdf
Departamento de Direito 
2.1. O alerta de organismos internacionais 
 O Antropoceno traz problemáticas ambientais profundas, tal qual a crise climática. Essa 
emergência, por sua vez, possui relação direta com situações de crise de saúde global. 
Relatórios produzidos por organismos internacionais, anteriores ao início da pandemia de 
COVID-19, alertaram para a possibilidade de algumas doenças já existentes poderem causar 
epidemias ou pandemias, tanto ocasionadas por zoonoses, quanto por novas bactérias - 
estabelecendo relação direta desses fenômenos com as mudanças climáticas. 
 Para facilitar o entendimento quanto aos conceito, destaca-se que epidemia é a rápida 
disseminação de uma doença infecciosa para um grande número de pessoas de uma localidade 
em um curto período de tempo.30 Pandemia, por sua vez, consiste na disseminação mundial de 
uma nova doença, que ocorre quando um novo vírus infeccioso surge, se dissemina globalmente 
e a maior parte da população não possui imunidade a ele.31 Zoonoses ou doenças zoonóticas 
são doenças infecciosas que podem contaminar humanos e animais.32 Em relação a doenças 
causadas por bactérias, já há estudos que indicam que o derretimento da camada do permafrost 
do Ártico pode fazer reviver micro-organismos – dentre eles as bactérias – há muito tempo 
congelados.33 
 A Organização Pan-Americana de Saúde e o Ministério da Saúde Brasileiro, no relatório 
“Mudança Climática e Saúde: Um Perfil do Brasil” em 2009, alertam sobre a relação entre 
problemas de saúde e as mudanças climáticas. Dentre os impactos climáticos mencionados 
estão: mudanças no ambiente como alteração de ecossistemas e ciclos biológicos, geográficos 
e químicos, classificados como impactos indiretos das mudanças climáticas. Reconhece-se que 
as mudanças do clima podem aumentar a incidência de doenças infecciosas e de não-
transmissíveis, a exemplo de desnutrição e enfermidades mentais.34 
O relatório também afirma que, com o aquecimento global, micro-organismos podem 
se proliferar para além de suas fronteiras geográficas naturais. A elevação da temperatura 
planetária também pode afetar a distribuição de vetores de doenças infecciosas e endêmicas, 
como malária, dengue, febre amarela, leishmaniose tegumentar americana, esquistossomose, 
leptospirose, hepatites virais, dentre outras. Ademais, o relatório reconhece o impacto 
 
30 WORLD HEALTH ORGANIZATION. Managing epidemics: key facts about major deadly diseases. Geneva: 
WHO, 2018, p. 34. Disponível em: https://www.who.int/emergencies/diseases/managing-epidemics-
interactive.pdf. Acesso em: 15 abr. 2021. 
31 UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME; INTERNATIONAL LIVESTOCK RESEARCH 
INSTITUTE. Preventing the Next Pandemic: Zoonotic diseases and how to break the chain of transmission. 
Nairobi: UNEP, 2020, p. 69. Disponível em: https://www.unep.org/resources/report/preventing-future-zoonotic-
disease-outbreaks-protecting-environment-animals-and. Acesso em: 15 abr. 2021. 
32 UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME; INTERNATIONAL LIVESTOCK RESEARCH 
INSTITUTE. Preventing the Next Pandemic: Zoonotic diseases and how to break the chain of transmission. 
Nairobi: UNEP, 2020, p. 72. Disponível em: https://www.unep.org/resources/report/preventing-future-zoonotic-
disease-outbreaks-protecting-environment-animals-and. Acesso em: 15 abr. 2021. 
33 BOREN, Zach. The permafrost pandemic: could the melting Arctic release a deadly disease?: As the Arctic 
heats up, a group of scientists are interrogating the risk that deadly diseases from the distant past may return. 
Unearthed, 03 set. 2020. Disponível em: https://unearthed.greenpeace.org/2020/07/03/arctic-permafrost-
pandemic-life-uh-finds-a-way/ . Acesso em: 14 abr. 2021; e UNITED NATIONS ENVIRONMENT 
PROGRAMME; INTERNATIONAL LIVESTOCK RESEARCH INSTITUTE. Preventing the Next Pandemic: 
Zoonotic diseases and how to break the chain of transmission. Nairobi: UNEP, 2020, p. 17. Disponível em: 
https://www.unep.org/resources/report/preventing-future-zoonotic-disease-outbreaks-protecting-environment-
animals-and. Acesso em: 15 abr. 2021. 
34 ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE; MINISTÉRIO DA SAÚDE – BRASÍLIA. Mudança 
Climática e Saúde: Um Perfil do Brasil. Série Saúde Ambiental 3. Brasília: OPAS, 2009, 44 p., p. 17. Disponível 
em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/mudanca_climatica_saude.pdf. Acesso em: 15 abr. 2021. 
https://www.who.int/emergencies/diseases/managing-epidemics-interactive.pdf
https://www.who.int/emergencies/diseases/managing-epidemics-interactive.pdf
https://www.unep.org/resources/report/preventing-future-zoonotic-disease-outbreaks-protecting-environment-animals-and
https://www.unep.org/resources/report/preventing-future-zoonotic-disease-outbreaks-protecting-environment-animals-and
https://www.unep.org/resources/report/preventing-future-zoonotic-disease-outbreaks-protecting-environment-animals-and
https://www.unep.org/resources/report/preventing-future-zoonotic-disease-outbreaks-protecting-environment-animals-and
https://www.unep.org/resources/report/preventing-future-zoonotic-disease-outbreaks-protecting-environment-animals-and
https://www.unep.org/resources/report/preventing-future-zoonotic-disease-outbreaks-protecting-environment-animals-and
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/mudanca_climatica_saude.pdf
Departamento de Direito 
desproporcional das mudanças climáticas sobre as populações mais pobres e vulneráveis, por 
não disporem de meios para se protegerem.35A vulnerabilidade de uma comunidade depende de diversos fatores, como densidade 
demográfica, nível de desenvolvimento econômico, disponibilidade de alimentos e água 
potável segura, nível e distribuição de renda, condições ambientais locais, estados de saúde pré-
existentes e qualidade e disponibilidade de assistência médica pública.36 Outros problemas da 
área de saúde também estão relacionados com a crise climática, como alterações na produção 
agrícola de subsistência devido a eventos extremos, que podem comprometer o abastecimento 
e segurança alimentar, gerando subnutrição.37 Todos esses fatores causados pela emergência 
climática são considerados de risco do ponto de vista epidemiológico. 
O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA (em inglês, United 
Nations Environment Programme – UNEP), em “Frontiers 2016: Emerging Issues of 
Environmental Concern” (“Frontiers 2016”), afirma que o século XX foi o período de 
mudanças ecológicas sem precedentes, que resultaram em um aumento mundial do surgimento 
de novas doenças zoonóticas, crescimento de epidemias de doenças zoonóticas já existentes e 
a persistência de doenças dessas espécies, mas negligenciadas em países pobres.38 A UNEP 
classifica as doenças zoonóticas negligenciadas como as que estão continuamente presentes em 
algumas populações, em maior ou menor grau e que são normalmente marginalizadas pelos 
sistemas de saúde a nível nacional e internacional.39 
O relatório Frontiers 2016 aponta que essas doenças zoonóticas negligenciadas são 
endêmicas em populações afetadas menos favorecidas, vez que recebem menor atenção 
internacional e insumos financeiros para seu combate em comparação a doenças zoonóticas 
novas. Portanto, entende-se que essas doenças, em razão da omissão quanto a respostas efetivas, 
tendem a continuar existindo em comunidades com complexos problemas de desenvolvimento, 
constituindo um problema crucial para a garantia da proteção dos direitos humanos dessas 
comunidades.40 
 
35 ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE; MINISTÉRIO DA SAÚDE – BRASÍLIA. Mudança 
Climática e Saúde: Um Perfil do Brasil. Série Saúde Ambiental 3. Brasília: OPAS, 2009, 44p., p. 7. Disponível 
em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/mudanca_climatica_saude.pdf. Acesso em: 15 abr. 2021. 
36 WORLD HEALTH ORGANIZATION. Mudança climática e saúde humana – riscos e respostas: sumário 
atualizado 2008. Brasília: OPAS, 2008, 37p., p. 11. Disponível em: 
https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_docman&view=download&alias=69-mudanca-climatica-e-
saude-humana-riscos-e-respostas-sumario-revisado-2008-9&category_slug=mudancas-climaticas-
711&Itemid=965. Acesso em: 14 abr. 2021. 
37 ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE; MINISTÉRIO DA SAÚDE – BRASÍLIA. Mudança 
Climática e Saúde: Um Perfil do Brasil. Série Saúde Ambiental 3. Brasília: OPAS, 2009, 44p., p. 27. Disponível 
em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/mudanca_climatica_saude.pdf. Acesso em: 15 abr. 2021. 
38 A UNEP classifica as doenças zoonóticas negligenciadas como as que estão continuamente presentes em 
algumas populações, em maior ou menor grau e que são normalmente marginalizadas pelos sistemas de saúde a 
nível nacional e internacional. Cf. UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME. UNEP Frontiers 2016 
Report: Report: Emerging Issues of Environmental Concern. Nairobi: UNEP, 2016, p. 19. Disponível em: 
https://www.unep.org/resources/frontiers-2016-emerging-issues-environmental-concern. Acesso em: 10 abr. 
2021. 
39 UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME. UNEP Frontiers 2016 Report: Report: Emerging 
Issues of Environmental Concern. Nairobi: UNEP, 2016, p. 19. Disponível em: 
https://www.unep.org/resources/frontiers-2016-emerging-issues-environmental-concern. Acesso em: 10 abr. 
40 UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME. UNEP Frontiers 2016 Report: Report: Emerging 
Issues of Environmental Concern. Nairobi: UNEP, 2016, p. 19. Disponível em: 
https://www.unep.org/resources/frontiers-2016-emerging-issues-environmental-concern. Acesso em: 10 abr. 
2021. 
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/mudanca_climatica_saude.pdf
https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_docman&view=download&alias=69-mudanca-climatica-e-saude-humana-riscos-e-respostas-sumario-revisado-2008-9&category_slug=mudancas-climaticas-711&Itemid=965
https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_docman&view=download&alias=69-mudanca-climatica-e-saude-humana-riscos-e-respostas-sumario-revisado-2008-9&category_slug=mudancas-climaticas-711&Itemid=965
https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_docman&view=download&alias=69-mudanca-climatica-e-saude-humana-riscos-e-respostas-sumario-revisado-2008-9&category_slug=mudancas-climaticas-711&Itemid=965
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/mudanca_climatica_saude.pdf
https://www.unep.org/resources/frontiers-2016-emerging-issues-environmental-concern
https://www.unep.org/resources/frontiers-2016-emerging-issues-environmental-concern
Departamento de Direito 
Estudos feitos pelos cientistas Woolhouse e Gowtage-Sequeria41 comprovam que 58% 
de todas as doenças humanas infecciosas são zoonoses e elas são responsáveis pela maior parte 
das doenças emergentes deste tipo. Em média, uma nova doença infecciosa surge a cada quatro 
meses, segundo o relatório Frontiers 2016.42 
O PNUMA ressalta que o surgimento de doenças zoonóticas pode estar associado às 
mudanças no ambiente ou desequilíbrios ecológicos, incluindo-se aqui as mudanças climáticas, 
e tendem a infectar hospedeiros que já sofrem com condições ambientais, sociais ou econômicas 
adversas. O relatório conclui que as mudanças climáticas são o principal fator para o surgimento 
de doenças, pois influenciam as condições ambientais que podem permitir ou dificultar a 
sobrevivência, reprodução, abundância e distribuição de patógenos – agentes infecciosos –, 
vetores, hospedeiros, os meios de transmissão de doenças e suas frequências.43 Como exemplo, 
pode-se citar que as mudanças climáticas influenciam na precipitação, o que afeta a 
disseminação de patógenos transmitidos pela água. Além disso, com o aumento de temperatura, 
insetos que vivem em regiões de baixa latitude podem encontrar novos habitats em regiões de 
latitude média ou alta e em áreas de grande altitude, levando à expansão geográfica ou mudança 
de doenças. 44 
 No ano de 2018, a OMS, divulgou o relatório “Managing epidemics: key facts about 
major deadly diseases”, em que são listadas diversas doenças já existentes capazes de promover 
epidemias, bem como os locais mais vulneráveis a esses eventos e a relação intrínseca de 
algumas delas com as mudanças climáticas. Dentre as consequências adversas apontadas, 
destaca-se que as mudanças climáticas podem aumentar a ocorrência de fortes chuvas e 
inundações, bem como influenciam a intensidade de ciclones e tempestades tropicais devido ao 
aumento do nível e da temperatura do mar e da superfície terrestre. Além disso, os desastres 
naturais também aumentam o risco de doenças infecciosas ao interromper os serviços e 
infraestruturas de saúde e danificar as redes de água e saneamento.45 O documento aponta como 
um fator de risco a demora em diagnosticar essas doenças, o que pode ocorrer majoritariamente 
em países mais pobres e permitir que o vírus circule mais facilmente, como no caso do Ebola 
no Oeste da África46. No documento são abordadas 15 doenças mortais. Dentre essas, epidemias 
de leptospirose e febre amarela são citadas expressamente como doenças que têm relação com 
as mudanças climáticas. 
 
41 WOOLHOUSE, Mark E. J.; GOWTAGE-SEQUERIA, Sonya. Host range and emerging and reemerging 
pathogens. Emerging Infectious Diseases, v. 11, n. 12, p. 1842-1847, dez. 2005, p. 1842. Disponível em: 
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3367654/pdf/05-0997.pdf. Acesso em: 15 abr. 2021. 
42 UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME. UNEP Frontiers 2016 Report: Report: Emerging 
Issues of Environmental Concern. Nairobi: UNEP,2016, p. 18. Disponível em: 
https://www.unep.org/resources/frontiers-2016-emerging-issues-environmental-concern. Acesso em: 10 abr. 
2021. 
43 UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME. UNEP Frontiers 2016 Report: Report: Emerging 
Issues of Environmental Concern. Nairobi: UNEP, 2016, p. 22. Disponível em: 
https://www.unep.org/resources/frontiers-2016-emerging-issues-environmental-concern. Acesso em: 10 abr. 
2021. 
44 WU, Xiaoxu et al. Impact of climate change on human infectious diseases: Empirical evidence and human 
adaptation. Environment international, v. 86, p. 14-23, jan. 2016, p. 15-18. Disponível em: 
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0160412015300489. Acesso em: 14 abr. 2021. 
45 WORLD HEALTH ORGANIZATION. Managing epidemics: key facts about major deadly diseases. Geneva: 
WHO, 2018, p. 197. Disponível em: https://www.who.int/emergencies/diseases/managing-epidemics-
interactive.pdf. Acesso em: 15 abr. 2021. 
46 WORLD HEALTH ORGANIZATION. Managing epidemics: key facts about major deadly diseases. Geneva: 
WHO, 2018, p. 18. Disponível em: https://www.who.int/emergencies/diseases/managing-epidemics-
interactive.pdf. Acesso em: 15 abr. 2021. 
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3367654/pdf/05-0997.pdf
https://www.unep.org/resources/frontiers-2016-emerging-issues-environmental-concern
https://www.unep.org/resources/frontiers-2016-emerging-issues-environmental-concern
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0160412015300489
https://www.who.int/emergencies/diseases/managing-epidemics-interactive.pdf
https://www.who.int/emergencies/diseases/managing-epidemics-interactive.pdf
https://www.who.int/emergencies/diseases/managing-epidemics-interactive.pdf
https://www.who.int/emergencies/diseases/managing-epidemics-interactive.pdf
Departamento de Direito 
 Por ser uma doença cuja ocorrência é bastante influenciada por questões ambientais, a 
crise climática é fator determinante para a leptospirose, visto que aumenta a ocorrência de 
chuvas, inundações, ciclones tropicais e tempestades, fatores que influenciam na disseminação 
da doença, além de esses fenômenos poderem prejudicar o saneamento das cidades.47 Em 
relação à febre amarela, a OMS aponta as mudanças climáticas como um fator de risco de surtos 
urbanos de febre amarela com disseminação internacional.48 
 Em relação às áreas tropicais, o cientista brasileiro Paulo Artaxo afirma que 60% das 
doenças infecciosas são zoonoses e grande parte delas é causada por patógenos com origem na 
vida silvestre. O cientista entende que o avanço dos patógenos é resultado das mudanças 
ambientais globais, gerando impactos para saúde pública e para a conservação da fauna. Notou-
se que mudanças no uso do solo, alterações na precipitação e aumento da temperatura alteram 
a migração de mosquitos e facilitam a propagação de doenças tropicais negligenciadas.49 
O PNUMA, já em 2020, elaborou o relatório “Preventing the Next Pandemic: Zoonotic 
diseases and how to break the chain of transmission”, publicado em meio à pandemia de 
COVID-19, em que reconhece os impactos da crise climática nas zoonoses. Para além do que 
fora apontado no relatório de 2016, o documento destaca que a variação climática propicia a 
disseminação de doenças transmitidas por insetos, carrapatos e outros artrópodes vetores. 
Temperaturas mais quentes podem contribuir para o aumento da duração da estação do ano em 
que espécies vetores de doença são mais presentes e doenças infecciosas podem surgir ou 
aumentar em regiões tropicais onde as temperaturas quentes permitem a proliferação de 
patógenos e seus vetores.50 
A emergência climática também influencia na distribuição geográfica e no tamanho da 
população de morcegos, macacos e roedores – animais em que patógenos zoonóticos surgem – 
e em mosquitos e outros vetores que transmitem vírus como Chikungunya e vírus do Oeste do 
Nilo. A crise climática também pode influenciar na incidência da doença de Chagas, 
leishmaniose e outras doenças que necessitam de vetores, bem como prevê-se um aumento dos 
índices de doenças passíveis de ocorrer em temperaturas mais elevadas. São apontados estudos 
sobre relações entre surtos de doenças infecciosas e eventos extremos, cuja frequência pode ser 
afetada pelas mudanças climáticas. Além disso, as regiões árticas e subárticas são vulneráveis 
à crise climática principalmente por conta do derretimento do permafrost, o que transforma o 
solo, vegetação e habitats e pode expor e fazer com que infecções por microrganismos já 
extintos voltem a contaminar os seres vivos,51 reforçando o que fora apontado anteriormente. 
 
 
47 WORLD HEALTH ORGANIZATION. Managing epidemics: key facts about major deadly diseases. Geneva: 
WHO, 2018, p. 197. Disponível em: https://www.who.int/emergencies/diseases/managing-epidemics-
interactive.pdf. Acesso em: 15 abr. 2021. 
48 WORLD HEALTH ORGANIZATION. Managing epidemics: key facts about major deadly diseases. Geneva: 
WHO, 2018, p. 88. Disponível em: https://www.who.int/emergencies/diseases/managing-epidemics-
interactive.pdf. Acesso em: 15 abr. 2021. 
49 ARTAXO, Paulo. As três emergências que nossa sociedade enfrenta: saúde, biodiversidade e mudanças 
climáticas. Estudos avançados, v. 34, n. 100, p. 53-66, 2020, p. 60. Disponível em: 
https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142020000300053&script=sci_arttext. Acesso em: 16 mar. 2020. 
50 UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME; INTERNATIONAL LIVESTOCK RESEARCH 
INSTITUTE. Preventing the Next Pandemic: Zoonotic diseases and how to break the chain of transmission. 
Nairobi: UNEP, 2020, p. 17. Disponível em: https://www.unep.org/resources/report/preventing-future-zoonotic-
disease-outbreaks-protecting-environment-animals-and. Acesso em: 15 abr. 2021. 
51 UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME; INTERNATIONAL LIVESTOCK RESEARCH 
INSTITUTE. Preventing the Next Pandemic: Zoonotic diseases and how to break the chain of transmission. 
Nairobi: UNEP, 2020, p. 17. Disponível em: https://www.unep.org/resources/report/preventing-future-zoonotic-
disease-outbreaks-protecting-environment-animals-and. Acesso em: 15 abr. 2021. 
https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142020000300053&script=sci_arttext
https://www.unep.org/resources/report/preventing-future-zoonotic-disease-outbreaks-protecting-environment-animals-and
https://www.unep.org/resources/report/preventing-future-zoonotic-disease-outbreaks-protecting-environment-animals-and
https://www.unep.org/resources/report/preventing-future-zoonotic-disease-outbreaks-protecting-environment-animals-and
https://www.unep.org/resources/report/preventing-future-zoonotic-disease-outbreaks-protecting-environment-animals-and
Departamento de Direito 
2.2. Pandemia de COVID-19, crise climática e desequilíbrio ecológico 
 Embora os cientistas ainda não possam afirmar com certeza a origem do SARS-CoV-2, 
a provável hipótese é que tenha se originado em morcegos. Segundo o relatório “Preventing the 
next pandemics” do PNUMA, coronavírus são um grande grupo de vírus que infectam animais 
e humanos e são responsáveis por inúmeras doenças.52 O genoma desse vírus foi comparado a 
outros já existentes e 96% dele foi tido como idêntico a vírus anteriormente identificados em 
morcegos,53 porém a maneira pela qual ocorreu sua mutação que possibilitou a infecção em 
humanos ainda é incerta. Apesar disso, há estudos que indicam a influência das mudanças 
climáticas na emergência do SARS-CoV-2. O número de coronavírus presente em uma área 
está fortemente relacionado com a quantidade local de espécies de morcegos, tendo em vista 
que eles carregam a maior proporção de vírus zoonóticos entre todos os mamíferos. Caso haja 
um aumento da quantidade de morcegos em determinado local, aumenta-se a probabilidade do 
desenvolvimento de novos coronavírus. Por sua vez, a quantidade de morcegos é afetada pela 
crise climática, vez que impulsiona a distribuição geográfica das espécies, alterando a 
adequação de habitatse forçando suas migrações. 
Essas alterações impactam a distribuição espacial das zoonoses e levam a mudanças na 
composição das espécies e da ecologia, podendo resultar em novas interações patógeno-
hospedeiro responsáveis por gerar novas vias de transmissão ou facilitar a evolução de variantes 
de doenças. A partir dessas informações, conclui-se que a distribuição global de espécies de 
morcegos e, portanto, de coronavírus transmitidos por esses animais são uma das consequências 
da crise climática.54 
Considerando o inegável impacto das mudanças climáticas antropogênicas no equilíbrio 
natural do ecossistema e seu papel em surtos de doenças já existentes, é provável que elas 
tenham contribuído para a disseminação da COVID-19. Nesse sentido, como demonstrado ao 
longo desta seção, organismos internacionais, dentre os quais a OMS e PNUMA, têm alertado 
para a possibilidade de ocorrência de novas epidemias e pandemias55 por influência das 
mudanças do clima e, portanto, ambos os problemas devem ser combatidos conjuntamente. 
 Além das epidemias causadas por leptospirose, malária, dengue e febre amarela, sobre 
as quais a comunidade científica reconhece a influência das mudanças climáticas, há a doença 
de MERS (Síndrome Respiratória do Oriente Médio, ou, em inglês, Middle East respiratory 
syndrome), também causada por um coronavírus, o MERS-CoV – mais letal do que o SARS-
CoV-2 – e possível causador de uma futura pandemia, com relação direta com as mudanças no 
 
52 UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME; INTERNATIONAL LIVESTOCK RESEARCH 
INSTITUTE. Preventing the Next Pandemic: Zoonotic diseases and how to break the chain of transmission. 
Nairobi: UNEP, 2020, p. 21. Disponível em: https://www.unep.org/resources/report/preventing-future-zoonotic-
disease-outbreaks-protecting-environment-animals-and. Acesso em: 15 abr. 2021. 
53 UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME; INTERNATIONAL LIVESTOCK RESEARCH 
INSTITUTE. Preventing the Next Pandemic: Zoonotic diseases and how to break the chain of transmission. 
Nairobi: UNEP, 2020, p. 21. Disponível em: https://www.unep.org/resources/report/preventing-future-zoonotic-
disease-outbreaks-protecting-environment-animals-and. Acesso em: 15 abr. 2021. 
54 BEYER, Robert M.; MANICA, Andrea.; MORA, Camilo. Shifts in global bat diversity suggest a possible role 
of climate change in the emergence of SARS-CoV-1 and SARS-CoV-2. Science of the Total Environment, v. 767, 
n. 145413, 2021, p. 1-2. Disponível em: 
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0048969721004812?via%3Dihub. Acesso em: 13 abr. 2021. 
55 V. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Managing epidemics: key facts about major deadly diseases. 
Geneva: WHO, 2018. Disponível em: https://www.who.int/emergencies/diseases/managing-epidemics-
interactive.pdf. Acesso em: 15 abr. 2021; e UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME; 
INTERNATIONAL LIVESTOCK RESEARCH INSTITUTE. Preventing the Next Pandemic: Zoonotic diseases 
and how to break the chain of transmission. Nairobi: UNEP, 2020. Disponível em: 
https://www.unep.org/resources/report/preventing-future-zoonotic-disease-outbreaks-protecting-environment-
animals-and. Acesso em: 15 abr. 2021. 
https://www.unep.org/resources/report/preventing-future-zoonotic-disease-outbreaks-protecting-environment-animals-and
https://www.unep.org/resources/report/preventing-future-zoonotic-disease-outbreaks-protecting-environment-animals-and
https://www.unep.org/resources/report/preventing-future-zoonotic-disease-outbreaks-protecting-environment-animals-and
https://www.unep.org/resources/report/preventing-future-zoonotic-disease-outbreaks-protecting-environment-animals-and
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0048969721004812?via%3Dihub
https://www.who.int/emergencies/diseases/managing-epidemics-interactive.pdf
https://www.who.int/emergencies/diseases/managing-epidemics-interactive.pdf
https://www.unep.org/resources/report/preventing-future-zoonotic-disease-outbreaks-protecting-environment-animals-and
https://www.unep.org/resources/report/preventing-future-zoonotic-disease-outbreaks-protecting-environment-animals-and
Departamento de Direito 
clima.56 Isso porque os camelos são portadores do vírus de MERS e há estudos que apontam 
para a opção de troca de vacas por camelos em razão de serem mais resistentes às secas causadas 
pelas mudanças climáticas. 
A MERS é uma que afeta seres humanos. Em recente reportagem da BBC Future57, há 
divulgação do estudo realizado no Marsabit, Quênia, liderado por cientistas do PREDICT58, em 
que se alerta o risco da proximidade entre esses animais e humanos, aumentando a 
probabilidade de transmissão de doenças. Isso ocorre pois, devido aos maiores e mais 
frequentes períodos de secas proporcionados pela emergência climática, os pastores da região 
analisada tiveram de optar por camelos, que são mais resistentes à falta de água do que as vacas. 
Como entram em maior contato com humanos, essa situação favorece surtos de doenças 
zoonóticas. Ademais, no Quênia frequentemente se consome leite cru de camelos e há o 
manuseamento de couro in natura, que são práticas de risco para infecções - segundo a OMS, 
consumo de produtos de origem animal crus ou mal cozidos apresentam um potencial risco de 
contaminação, bem como deve-se atentar para práticas básicas de higiene, como lavar as mãos 
antes e depois de tocar os animais.59 Esse cenário ratifica os alertas previstos nos relatórios 
apresentados acerca de zoonoses negligenciadas em países mais pobres. 
Além disso, o condado de Marsabit possui uma quantidade ínfima de médicos. Há apenas 
um médico para cada 64.000 pessoas, sendo uma proporção 64 vezes maior do que o 
recomendado pela OMS.60 Esse cenário ilustra as vulnerabilidades da região e serve de alerta 
da provável incapacidade de contornar uma futura epidemia da doença, podendo gerar uma 
crise sanitária ainda mais grave, até mesmo porque não há um plano de contingência de surtos. 
A crise climática e o desequilíbrio nos ecossistemas são um fator-chave para o equilíbrio 
entre a existência de vírus na natureza e sua possibilidade de infectar humanos, causando 
epidemias ou pandemias. O fator temperatura também é essencial para a proliferação de 
doenças infecciosas, como foi demonstrado pelos estudos científicos apresentados. Com a 
 
56 Os camelos são portadores do vírus de MERS e há estudos que apontam para a opção de troca de vacas por 
camelos em razão de serem mais resistentes às secas causadas pelas mudanças climáticas. Cf. KAGUNYU, 
Anastasia W.; WANJOHI, Joseph. Camel rearing replacing cattle production among the Borana community in 
Isiolo County of Northern Kenya, as climate variability bites. Pastoralism, v. 4, n. 13, p. 1-5, 2014. Disponível em: 
https://pastoralismjournal.springeropen.com/articles/10.1186/s13570-014-0013-6. Acesso: 14 abr. 2021; e 
KUSHNER, Jacob. Why camels are worrying coronavirus hunters. BBC, Kenya, 25 jan. 2021. Disponível em: 
https://www.bbc.com/future/article/20210122-the-coronavirus-10-times-more-deadly-than-
covid#:~:text=One%20recent%20study%20found%20that,but%20people%20around%20the%20world. Acesso: 
8 abr. 2021. 
57 KUSHNER, Jacob. Why camels are worrying coronavirus hunters. BBC, Kenya, 25 jan. 2021. Disponível em: 
https://www.bbc.com/future/article/20210122-the-coronavirus-10-times-more-deadly-than-
covid#:~:text=One%20recent%20study%20found%20that,but%20people%20around%20the%20world. Acesso: 
8 abr. 2021. 
58 PREDICT é um projeto do programa de Ameaças Pandêmicas Emergentes (em inglês, Emerging Pandemic 
Threats – EPT) da Agência para Desenvolvimento Internacional dos EUA (em inglês, U.S. Agency for 
International Development – USAID) iniciado em 2009. Seu objetivo é fortalecer a capacidade global de detecção 
de vírus com potencial pandêmico que podem transitar entre animais e pessoas. Cf. UC DAVIS VETERINARY 
MEDICINE. Programs & Projects. PREDITC. Disponível em: https://ohi.vetmed.ucdavis.edu/programs-
projects/predict-project.Acesso em: 15 abr. 2021. 
59 Segundo a OMS, consumo de produtos de origem animal crus ou mal cozidos apresentam um potencial risco de 
contaminação, bem como deve-se atentar para práticas básicas de higiene, como lavar as mãos antes e depois de 
tocar os animais. Cf. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Managing epidemics: key facts about major deadly 
diseases. Geneva: WHO, 2018, p. 152. Disponível em: https://www.who.int/emergencies/diseases/managing-
epidemics-interactive.pdf. Acesso em: 15 abr. 2021. 
60 KUSHNER, Jacob. Why camels are worrying coronavirus hunters. BBC, Kenya, 25 jan. 2021. Disponível em: 
https://www.bbc.com/future/article/20210122-the-coronavirus-10-times-more-deadly-than-
covid#:~:text=One%20recent%20study%20found%20that,but%20people%20around%20the%20world. Acesso: 
21 jun. 2021. 
https://pastoralismjournal.springeropen.com/articles/10.1186/s13570-014-0013-6
https://www.bbc.com/future/article/20210122-the-coronavirus-10-times-more-deadly-than-covid#:~:text=One%20recent%20study%20found%20that,but%20people%20around%20the%20world
https://www.bbc.com/future/article/20210122-the-coronavirus-10-times-more-deadly-than-covid#:~:text=One%20recent%20study%20found%20that,but%20people%20around%20the%20world
https://www.bbc.com/future/article/20210122-the-coronavirus-10-times-more-deadly-than-covid#:~:text=One%20recent%20study%20found%20that,but%20people%20around%20the%20world
https://www.bbc.com/future/article/20210122-the-coronavirus-10-times-more-deadly-than-covid#:~:text=One%20recent%20study%20found%20that,but%20people%20around%20the%20world
https://ohi.vetmed.ucdavis.edu/programs-projects/predict-project
https://ohi.vetmed.ucdavis.edu/programs-projects/predict-project
https://www.who.int/emergencies/diseases/managing-epidemics-interactive.pdf
https://www.who.int/emergencies/diseases/managing-epidemics-interactive.pdf
https://www.bbc.com/future/article/20210122-the-coronavirus-10-times-more-deadly-than-covid#:~:text=One%20recent%20study%20found%20that,but%20people%20around%20the%20world
https://www.bbc.com/future/article/20210122-the-coronavirus-10-times-more-deadly-than-covid#:~:text=One%20recent%20study%20found%20that,but%20people%20around%20the%20world
Departamento de Direito 
urgência climática, certas localidades sofrerão com estações quentes mais duradouras e maiores 
temperaturas. Dessa forma, a comunidade internacional deve dar a devida atenção às 
vulnerabilidades de determinadas regiões com vistas à proteção da dignidade humana. 
 
3. A injustiça climática exposta no enfrentamento à pandemia 
 
3.1. Populações vulnerabilizadas 
Há urgência na redução das emissões de GEE, com o objetivo de diminuir cenários de 
eventos climáticos extremos e a proteger a saúde humana, sendo que os efeitos adversos das 
mudanças climáticas já estão ocorrendo. A necessidade de se mitigar e se adaptar às mudanças 
climáticas já foi reconhecida pelas Partes da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre 
Mudanças Climáticas – CQNUMC (em inglês, United Nations Framework Convention on 
Climate Change – UNFCCC)61, e com relação às adaptações referentes à saúde, por meio de 
resoluções da Assembleia Mundial de Saúde (em inglês, World Health Assembly)62 e dos 
Comitês Regionais da Organização Mundial de Saúde – OMS (em inglês, World Health 
Organization – WHO)63.64 
O IPCC projetou que é altamente provável que as mudanças climáticas impactarão a 
saúde humana, principalmente por conta de problemas de saúde já existentes. Espera-se que a 
crise climática leve ao aumento de problemas de saúde em muitas regiões, especialmente em 
países em desenvolvimento com baixa renda.65 A questão da saúde não se esgota com as 
epidemias e a emergência de novas doenças. Ela tem relação com diversos aspectos quanto às 
desigualdades nas respostas e as possibilidades de se adaptar frente a um cenário de crise 
sanitária, que são consequência de estruturas sociais já existentes. É importante ressaltar que 
 
61 A CQNUMC foi promulgada no Brasil pelo Decreto nº 2.652, de 1º de julho de 1998. Como exemplo, faz-se 
referência ao artigo 4 da Convenção que prevê o seguinte: “1. Todas as Partes, levando em conta suas 
responsabilidades comuns mas diferenciadas e suas prioridades de desenvolvimento, objetivos e circunstâncias 
específicos, nacionais e regionais, devem: (...) b) Formular, implementar, publicar e atualizar regularmente 
programas nacionais e, conforme o caso, regionais, que incluam medidas para mitigar a mudança do clima, 
enfrentando as emissões antrópicas por fontes e remoções por sumidouros de todos os gases de efeito estufa não 
controlados pelo Protocolo de Montreal, bem como medidas para permitir adaptação adequada à mudança do 
clima; (...)”. Cf. BRASIL. Decreto nº 2.652, de 1º de julho de 1998. Promulga a Convenção-Quadro das Nações 
Unidas sobre Mudança do Clima, assinada em Nova York, em 9 de maio de 1992. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d2652.htm. Acesso em: 13 abr. 2021. 
62 A exemplo da Resolução WHA61.19 de 24 de maio de 2008 sobre mudanças climáticas e saúde. Disponível 
em: https://www.who.int/globalchange/climate/EB_CChealth_resolution/en/. Acesso em: 13 abr. 2021. 
63 A exemplo da mesa redonda realizada pelo 48º Conselho Diretor da Organização Pan-Americana de Saúde, 
CD48/16, de 22 de agosto de 2008, que tratou da perspectiva regional acerca das mudanças climáticas e seu 
impacto na saúde pública. Disponível em: https://www.paho.org/portuguese/gov/cd/CD48-16-p.pdf?ua=1. Acesso 
em: 13 abr. 2021. Pode-se citar aqui também o relatório “Proteger a saúde frente à mudança climática: avaliação 
da vulnerabilidade e adaptação” elaborado pela Organização Pan-Americana da Saúde e publicado em 2014. 
Disponível em: 
https://iris.paho.org/bitstream/handle/10665.2/9999/9789275716984_prt.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso 
em: 13 abr. 2021. 
64 WORLD HEALTH ORGANIZATION. Strengthening health resilience to climate change: Technical briefing. 
WHO, 2015, 24p., p. 7. Disponível em: https://www.who.int/globalchange/publications/briefing-health-
resilience/en/. Acesso em 13 abr. 2021. 
65 FIELD, C.B. et al. (eds.). IPCC, 2014: Summary for policymakers. In: Climate Change 2014: Impacts, 
Adaptation, and Vulnerability. Part A: Global and Sectoral Aspects. Contribution of Working Group II to the Fifth 
Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Cambridge University Press: Cambridge 
e Nova Iorque, 2014, p. 1-32, p. 19. Disponível em: 
https://www.ipcc.ch/site/assets/uploads/2018/02/ar5_wgII_spm_en.pdf. Acesso em: 13 abr. 2021. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d2652.htm
https://www.who.int/globalchange/climate/EB_CChealth_resolution/en/
https://www.paho.org/portuguese/gov/cd/CD48-16-p.pdf?ua=1
https://iris.paho.org/bitstream/handle/10665.2/9999/9789275716984_prt.pdf?sequence=1&isAllowed=y
https://www.who.int/globalchange/publications/briefing-health-resilience/en/
https://www.who.int/globalchange/publications/briefing-health-resilience/en/
https://www.ipcc.ch/site/assets/uploads/2018/02/ar5_wgII_spm_en.pdf
Departamento de Direito 
quase todos os impactos na saúde são moderados pela força do sistema de saúde e sua 
capacidade de gerenciar e se adaptar aos riscos à saúde sensíveis ao clima.66 
A pandemia da COVID-19 e a crise climática compartilham semelhanças, 
especialmente quanto à sua origem e às suas consequências. O cenário de emergência climática 
é resultado, principalmente, de atividades humanas desenvolvidas após a Revolução Industrial, 
por causa do aumento das emissões de GEE na atmosfera e da transformação na biodiversidade. 
Como já exposto, as mudanças do clima são um dos fatores por trás da tendência de surgimento 
de novas doenças zoonóticas e o reaparecimento de outras já conhecidas. Ademais, as respostas 
perante a pandemia evidenciaram as vulnerabilidades de determinados grupos e comunidades. 
No Brasil, os indígenas são um grupo em especial vulnerabilidade à COVID-19.A 
invasão e o desmatamento de suas terras não foram reduzidos durante a pandemia.67 Com as 
invasões ilegais, especialmente de garimpeiros, doenças como febre amarela, malária e 
COVID-19, dentre outras, contaminam populações indígenas.68 A transmissão de COVID-19 
para esses indivíduos é alarmante, haja vista suas comunidades serem localizadas em regiões 
remotas e de difícil acesso ao sistema de saúde.69 Aponta-se que uma única pessoa infectada 
com o Sars-CoV-2 pode escalar um surto epidemiológico para até 30% da população indígena, 
considerando uma população de 148 pessoas70. Ademais, as comunidades indígenas costumam 
ter alto grau de contato social, com moradias coletivas e práticas comunitárias de subsistência, 
dentre outras características culturais que inviabilizam as medidas de isolamento social 
necessárias para o enfrentamento da pandemia.71 Assim, além de serem uma das mais 
 
66 WORLD HEALTH ORGANIZATION. Strengthening health resilience to climate change: Technical briefing. 
WHO, 2015, 24p., p. 7. Disponível em: https://www.who.int/globalchange/publications/briefing-health-
resilience/en/. Acesso em 13 abr. 2021. 
67 OVIEDO, Antonio et al. Relatório técnico sobre o risco iminente de contaminação de populações indígenas pelo 
novo coronavírus em razão da ação de invasores ilegais. 
São Paulo: Instituto Socioambiental, 2020, 36p., p. 35. Disponível em: 
https://acervo.socioambiental.org/acervo/documentos/relatorio-tecnico-sobre-o-risco-iminente-de-contaminacao-
de-populacoes-indigenas Acesso em: 13 abr. 2021. 
68 OVIEDO, Antonio et al. Relatório técnico sobre o risco iminente de contaminação de populações indígenas pelo 
novo coronavírus em razão da ação de invasores ilegais. 
São Paulo: Instituto Socioambiental, 2020, 36p., p. 4. Disponível em: 
https://acervo.socioambiental.org/acervo/documentos/relatorio-tecnico-sobre-o-risco-iminente-de-contaminacao-
de-populacoes-indigenas. Acesso em: 13 abr. 2021. 
69 OVIEDO, Antonio et al. Relatório técnico sobre o risco iminente de contaminação de populações indígenas pelo 
novo coronavírus em razão da ação de invasores ilegais. 
São Paulo: Instituto Socioambiental, 2020, 36p., p. 5. Disponível em: 
https://acervo.socioambiental.org/acervo/documentos/relatorio-tecnico-sobre-o-risco-iminente-de-contaminacao-
de-populacoes-indigenas. Acesso em: 13 abr. 2021. 
70 OVIEDO, Antonio et al. Relatório técnico sobre o risco iminente de contaminação de populações indígenas pelo 
novo coronavírus em razão da ação de invasores ilegais. 
São Paulo: Instituto Socioambiental, 2020, 36p., p. 6. Disponível em: 
https://acervo.socioambiental.org/acervo/documentos/relatorio-tecnico-sobre-o-risco-iminente-de-contaminacao-
de-populacoes-indigenas. Acesso em: 13 abr. 2021. 
71 Em vista da omissão do governo brasileiro em tomar medidas para proteger a população indígena, em especial 
os povos Yanomami e Ye’kwana, durante a crise sanitária de COVID-19, a Associação Hutukara Yanomami e o 
Conselho Nacional de Direitos Humanos peticionaram à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) 
requerendo medidas protetivas contra o garimpo ilegal e para o fortalecimento de um sistema de saúde adequado. 
Em 17 de julho de 2020, a CIDH emitiu medida cautelar sobre o caso, pois entendeu a urgência da demanda no 
contexto da pandemia de COVID-19, com vistas a proteger os direitos à vida e à integridade dos possíveis 
beneficiários, garantindo também o acesso a tratamento médico adequado. Cf. CIDH. Resolução nº 35/20, Medida 
Cautelar nº 563-20. Disponível em: https://www.oas.org/es/cidh/decisiones/pdf/2020/35-20MC563-20-BR-
PT.pdf. Acesso em: 15 abr. 2021. 
https://www.who.int/globalchange/publications/briefing-health-resilience/en/
https://www.who.int/globalchange/publications/briefing-health-resilience/en/
https://acervo.socioambiental.org/acervo/autor/oviedo-antonio
https://acervo.socioambiental.org/acervo/documentos/relatorio-tecnico-sobre-o-risco-iminente-de-contaminacao-de-populacoes-indigenas
https://acervo.socioambiental.org/acervo/documentos/relatorio-tecnico-sobre-o-risco-iminente-de-contaminacao-de-populacoes-indigenas
https://acervo.socioambiental.org/acervo/autor/oviedo-antonio
https://acervo.socioambiental.org/acervo/documentos/relatorio-tecnico-sobre-o-risco-iminente-de-contaminacao-de-populacoes-indigenas
https://acervo.socioambiental.org/acervo/documentos/relatorio-tecnico-sobre-o-risco-iminente-de-contaminacao-de-populacoes-indigenas
https://acervo.socioambiental.org/acervo/autor/oviedo-antonio
https://acervo.socioambiental.org/acervo/documentos/relatorio-tecnico-sobre-o-risco-iminente-de-contaminacao-de-populacoes-indigenas
https://acervo.socioambiental.org/acervo/documentos/relatorio-tecnico-sobre-o-risco-iminente-de-contaminacao-de-populacoes-indigenas
https://acervo.socioambiental.org/acervo/autor/oviedo-antonio
https://acervo.socioambiental.org/acervo/documentos/relatorio-tecnico-sobre-o-risco-iminente-de-contaminacao-de-populacoes-indigenas
https://acervo.socioambiental.org/acervo/documentos/relatorio-tecnico-sobre-o-risco-iminente-de-contaminacao-de-populacoes-indigenas
https://www.oas.org/es/cidh/decisiones/pdf/2020/35-20MC563-20-BR-PT.pdf
https://www.oas.org/es/cidh/decisiones/pdf/2020/35-20MC563-20-BR-PT.pdf
Departamento de Direito 
vulneráveis à crise climática, também são uma das mais vulneráveis à atual emergência de 
saúde. 
Um estudo de Harvard, por sua vez, concluiu que uma maior exposição das pessoas à 
poluição histórica está associada a uma taxa maior de mortalidade por COVID-19. Vê-se, por 
exemplo, que as comunidades estadunidenses compostas por pessoas negras são 
desproporcionalmente afetadas pela má condição do ar em comparação aos demais habitantes;72 
e pessoas expostas à poluição tendem a responder de forma pior a uma infecção respiratória. 
Dessa forma, pessoas com condições crônicas de saúde, de baixa renda e comunidades 
compostas predominantemente por pessoas negras são impactadas de maneira desmedida tanto 
pelo COVID-19 quanto pelas mudanças climáticas.73 
Em lugares em que há maior poluição do ar, há indivíduos que são mais expostos ou 
vulneráveis à poluição, como as pessoas em situação de rua, bem como aqueles que não têm 
filtragem de ar em suas casas ou aqueles cuja saúde já está comprometida, o que os torna ainda 
mais vulneráveis à COVID-19.74 Portanto, as vulnerabilidades à COVID-19 e à crise climática 
estão relacionadas a condições socioeconômicas. 
Além disso, o Consultative Group on International Agricultural Research – CGIR 
ressaltou a maior vulnerabilidade de mulheres de países mais pobres aos impactos da COVID-
19 e que a pandemia intensifica os efeitos da crise climática a essas mulheres. 75 A ONU 
Mulheres elaborou relatório em que reconhece que as medidas para mitigar a COVID-19 
impactam em maior grau a renda de mulheres e seus empregos, pois elas tendem a depender 
mais de trabalhos informais e do setor de serviço. As mulheres representam 70% dos 1,3 bilhão 
de pessoas que vivem atualmente na pobreza extrema. Como muitos dos empregos que exercem 
não podem ser realizados remotamente, por conta do isolamento social, muitas mulheres têm 
sido demitidas.76 
Com a intensificação do distanciamento social e o empobrecimento das famílias, devido 
à perda de empregos, a violência doméstica também tende a aumentar. O relatório da ONU 
 
72 WU, Xiao et al. Air pollution and COVID-19 mortality in the United States: Strengths and limitations of an 
ecological regression analysis. Science advances, v. 6, n. 45, eabd4049, 2020, p. 2. Disponível em: 
https://advances.sciencemag.org/content/6/45/eabd4049. Acesso em: 15 abr. 2021. 
73 O estudo em questão analisou a relação entre exposição à poluição do ar e gravidade dos sintomas da COVID-
19, tomando como base a concentração de partículas poluentes (particulate matter – PM) nos Estados Unidos. As 
partículas poluentes têm origem em diversos componentes químicos, como construções,combustão e demais 
poluentes gerados por indústrias e automóveis. Cf. Wu, X., Nethery, R. C., Sabath, M. B., Braun, D. and Dominici, 
F., 2020. Air pollution and COVID-19 mortality in the United States: Strengths and limitations of an ecological 
regression analysis. Science advances, 6(45), p.eabd4049. Disponível em: https://projects.iq.harvard.edu/covid-
pm. Acesso em: 23 jun. 2021; e UNITED STATES ENVIRONMENTAL PROTECTION AGENCY (EPA). 
Particulate Matter (PM) Basics. Disponível em: https://www.epa.gov/pm-pollution/particulate-matter-pm-basics. 
Acesso em: 23 jun. 2021. 
74 CENTER FOR CLIMATE, HEALTH, AND THE GLOBAL ENVIRONMENT (C-CHANGE) OF HARVARD 
T.H. CHAN, SCHOOL OF PUBLIC HEALTH. Coronavirus, Climate Change, and the Environment: A 
Conversation on COVID-19 with Dr. Aaron Bernstein, Director of Harvard Chan C-CHANGE. Disponível em: 
https://www.hsph.harvard.edu/c-change/subtopics/coronavirus-and-climate-
change/#:~:text=For%20those%20interested%20in%20research,in%20COVID%2D19%20death%20rate. Acesso 
em: 15 abr. 2021. 
75 HUYER, Sophia; MULEMA, Annet Abenakyo; FREEMAN Kathlee A. A. Equality in a post-pandemic era: 
gender, COVID-19, agriculture and climate change. Consultative Group on International Agricultural Research 
(CGIAR), Research Program on Climate Change, Agriculture and Food Security (CCAFS), maio 2020. Disponível 
em: https://ccafs.cgiar.org/news/equality-post-pandemic-era-gender-covid-19-agriculture-and-climate-change. 
Acesso em: 13 abr. 2021 
76 UNITED NATIONS WOMEN: Asia and the Pacific. Gender and Climate Change in the Context of COVID-
19. UN WOMEN, 2020, 16p., p. 7-8. Disponível em: https://asiapacific.unwomen.org/en/digital-
library/publications/2020/05/gender-and-climate-change-in-the-context-of-covid-19. Acesso em: 15 abr. 2021. 
https://advances.sciencemag.org/content/6/45/eabd4049
https://projects.iq.harvard.edu/covid-pm
https://projects.iq.harvard.edu/covid-pm
https://www.epa.gov/pm-pollution/particulate-matter-pm-basics
https://www.hsph.harvard.edu/c-change/subtopics/coronavirus-and-climate-change/#:~:text=For%20those%20interested%20in%20research,in%20COVID%2D19%20death%20rate
https://www.hsph.harvard.edu/c-change/subtopics/coronavirus-and-climate-change/#:~:text=For%20those%20interested%20in%20research,in%20COVID%2D19%20death%20rate
https://ccafs.cgiar.org/news/equality-post-pandemic-era-gender-covid-19-agriculture-and-climate-change
https://asiapacific.unwomen.org/en/digital-library/publications/2020/05/gender-and-climate-change-in-the-context-of-covid-19
https://asiapacific.unwomen.org/en/digital-library/publications/2020/05/gender-and-climate-change-in-the-context-of-covid-19
Departamento de Direito 
Mulheres aponta que situação similar de vulnerabilidade é observável em relação às mudanças 
climáticas, por possuírem impacto maior em populações com situação socioeconômica frágil, 
o que acarreta menor capacidade de adaptação. 
Há evidências de que em algumas das populações mais pobres, a mortalidade feminina 
associada a inundações é muito maior e atinge mulheres em idade mais jovem quando 
comparada essa causa de mortalidade em relação aos homens. Além disso, as mulheres grávidas 
são particularmente vulneráveis a doenças infecciosas e pré-eclâmpsia, que é influenciada pela 
variação sazonal e variabilidade climática.77 Mulheres são desproporcionalmente impactadas 
pela crise climática devido ao acesso desigual a recursos essenciais como terra, água, energia, 
financiamento, informação e tecnologia.78 
Portanto, nota-se que normas sociais discriminatórias baseadas no gênero fazem com 
que para as mulheres seja mais difícil a adaptação aos estresses causados pela emergência 
climática e pela pandemia.79 Isso exige que uma perspectiva de gênero seja integrada à política 
de saúde e clima, incluindo a consideração sistemática das diferenças de gênero nas avaliações 
de vulnerabilidade e adaptação.80 
 
3.2. O papel do setor de saúde no enfrentamento à crise climática 
Devido à forte influência dos determinantes sociais nas vulnerabilidades da saúde, a 
diminuição da pobreza, a redução das iniquidades sociais e ambientais da saúde e o 
fortalecimento das intervenções básicas de saúde pública são essenciais para a proteção da 
dignidade humana em face da crise climática. Para enfrentar os enormes desafios, é necessária 
a construção de mais resiliência nos sistemas de saúde. Requer-se uma abordagem ampla de 
saúde pública, incluindo não apenas as funções preventivas e curativas, mas aspectos de 
liderança, orientação e regulamentação adequadas com relação aos setores e funções 
determinantes da saúde, como água e saneamento, ou redução do risco de desastres. 81 
O relatório do IPCC também confirma que é altamente provável que as medidas mais 
eficazes de redução de vulnerabilidades relacionadas à saúde no curto prazo são programas que 
implementam e melhoram medidas básicas de saúde pública, como: (i) fornecimento de água 
potável e saneamento; (ii) assistência médica essencial segura, incluindo vacinação e serviços 
de saúde infantil; (iii) aumento da capacidade de preparação e resposta a desastres; e (iv) reduzir 
a pobreza.82 
 
77 WORLD HEALTH ORGANIZATION. Strengthening health resilience to climate change: Technical briefing. 
WHO, 2015, 24p., p. 10. Disponível em: https://www.who.int/globalchange/publications/briefing-health-
resilience/en/. Acesso em: 13 abr. 2021 
78 UNITED NATIONS WOMEN: Asia and the Pacific. Gender and Climate Change in the Context of COVID-
19. UN WOMEN, 2020, 16p., p. 10. Disponível em: https://asiapacific.unwomen.org/en/digital-
library/publications/2020/05/gender-and-climate-change-in-the-context-of-covid-19. Acesso em: 15 abr. 2021 
79 UNITED NATIONS WOMEN: Asia and the Pacific. Gender and Climate Change in the Context of COVID-
19. UN WOMEN, 2020, 16p., p. 7-10. Disponível em: https://asiapacific.unwomen.org/en/digital-
library/publications/2020/05/gender-and-climate-change-in-the-context-of-covid-19. Acesso em: 15 abr. 2021. 
80 WORLD HEALTH ORGANIZATION. Strengthening health resilience to climate change: Technical briefing. 
WHO, 2015, 24p., p. 10-11. Disponível em: https://www.who.int/globalchange/publications/briefing-health-
resilience/en/. Acesso em: 13 abr. 2021. 
81 WORLD HEALTH ORGANIZATION. Strengthening health resilience to climate change: Technical briefing. 
WHO, 2015, 24p., p. 4. Disponível em: https://www.who.int/globalchange/publications/briefing-health-
resilience/en/. Acesso em: 13 abr. 2021. 
82 FIELD, C.B. et al. (eds.). IPCC, 2014: Summary for policymakers. In: Climate Change 2014: Impacts, 
Adaptation, and Vulnerability. Part A: Global and Sectoral Aspects. Contribution of Working Group II to the Fifth 
Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Cambridge University Press: Cambridge 
https://www.who.int/globalchange/publications/briefing-health-resilience/en/
https://www.who.int/globalchange/publications/briefing-health-resilience/en/
https://asiapacific.unwomen.org/en/digital-library/publications/2020/05/gender-and-climate-change-in-the-context-of-covid-19
https://asiapacific.unwomen.org/en/digital-library/publications/2020/05/gender-and-climate-change-in-the-context-of-covid-19
https://www.who.int/globalchange/publications/briefing-health-resilience/en/
https://www.who.int/globalchange/publications/briefing-health-resilience/en/
https://www.who.int/globalchange/publications/briefing-health-resilience/en/
https://www.who.int/globalchange/publications/briefing-health-resilience/en/
Departamento de Direito 
Observa-se que a emergência climática já apresenta riscos para a saúde, e esses riscos 
continuarão no futuro, caso medidas de mitigação e de adaptação efetivas não sejam tomadas. 
Importante ressaltar que essas medidas devem considerar as vulnerabilidades e aspectos 
relacionados aos direitos humanos com vistas a proteger e a garantir a igualdade entre povos e 
nações. Muitas das cargas potenciais

Continue navegando