Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Departamento de Direito CRISE CLIMÁTICA E PANDEMIA Alunas: Luciana Tse Chaves Garcia Rego e Maria Eduarda Segovia Barbosa Neves Orientadora: Danielle de Andrade Moreira Introdução O primeiro trimestre do ano de 2020 foi marcado pela propagação mundial de um novo vírus, o SARS-CoV-2, causador da COVID-19 (doença por coronavírus 2019, ou, em inglês, Coronavirus Disease 2019), levando a Organização Mundial da Saúde – OMS (em inglês, World Health Organization – WHO), no dia 11 de março do mesmo ano, a caracterizar a situação da COVID-19 como pandemia.1 Na data em que foi constatada a emergência pela OMS, o diretor-geral da organização proferiu discurso alertando sobre a importância de considerar os direitos humanos no combate à pandemia por todos os países.2 Embora a maior parte da população e dos tomadores de decisão tenham deslocado seus esforços para o combate desse problema mundial, outra urgência persiste: a crise climática. A atenção para as mudanças climáticas não pode ser afastada por conta da pandemia, é preciso que ambos os problemas sejam enfrentados em conjunto e com esforços igualitários, considerando, principalmente, as interseções entre eles. Tanto a crise climática quanto a de saúde possuem origens convergentes e acarretam consequências desastrosas para a humanidade. Esses impactos globais são sentidos principalmente por populações mais pobres, com acesso precário a direitos básicos, como moradia adequada, saneamento, disponibilidades de alimento, serviços de saúde, água potável, dentre outros. As emergências também pressionam o ambiente natural e as espécies que o habitam, modificando o funcionamento dos ecossistemas. Considerando essa crítica realidade, a OMS já reconhece que epidemias são problemas sociais tanto quanto de saúde e que para seu enfrentamento é necessária uma abordagem para além da lógica médica tradicional.3 A partir dessa perspectiva, a pesquisa foi elaborada e o presente relatório se desenvolverá em três partes. Primeiramente, será abordado o histórico das mudanças climáticas antropogênicas e o contexto que levou ao cenário de crise climática, bem como as injustiças que permeiam essa problemática. Depois, se apresentará a relação entre eclosão de epidemias e pandemias causadas por doenças zoonóticas, especialmente a COVID- 19 e a emergência climática, considerando principalmente os impactos das mudanças do clima para o equilíbrio do ecossistema. Por fim, pretende-se realizar uma análise das vulnerabilidades de populações aos impactos das mudanças climáticas e aos efeitos da pandemia de COVID-19, com o objetivo de se demonstrar como uma situação de pandemia reforça as desigualdades e flagelos já existentes que atingem uma parcela específica da população. 1 WORLD HEALTH ORGANIZATION. WHO Director-General's opening remarks at the media briefing on COVID-19 - 11 March 2020. Disponível em: https://www.who.int/director-general/speeches/detail/who-director- general-s-opening-remarks-at-the-media-briefing-on-covid-19---11-march-2020. Acesso: 16 abr. 2021 2 “All countries must strike a fine balance between protecting health, minimizing economic and social disruption, and respecting human rights”. Cf. WORLD HEALTH ORGANIZATION. WHO Director-General's opening remarks at the media briefing on COVID-19 - 11 March 2020. Disponível em: https://www.who.int/director- general/speeches/detail/who-director-general-s-opening-remarks-at-the-media-briefing-on-covid-19---11-march- 2020. Acesso em: 16 abr. 2021. 3 WHO. Managing epidemics: key facts about major deadly diseases. Geneva: WHO, 2018, p. 27. Disponível em: https://www.who.int/emergencies/diseases/managing-epidemics-interactive.pdf. Acesso em: 15 abr. 2021. https://www.who.int/director-general/speeches/detail/who-director-general-s-opening-remarks-at-the-media-briefing-on-covid-19---11-march-2020 https://www.who.int/director-general/speeches/detail/who-director-general-s-opening-remarks-at-the-media-briefing-on-covid-19---11-march-2020 https://www.who.int/director-general/speeches/detail/who-director-general-s-opening-remarks-at-the-media-briefing-on-covid-19---11-march-2020 https://www.who.int/emergencies/diseases/managing-epidemics-interactive.pdf Departamento de Direito Objetivos Considerando o mencionado contexto, o presente trabalho propõe-se a explicitar as relações entre a crise climática, a pandemia da COVID-19 e a ocorrência possível de futuras epidemias e pandemias, sob a ótica da justiça climática, de modo a estabelecer que uma crise pode certamente piorar os impactos de outra. A pesquisa visa analisar o entendimento de que tais emergências são indissociáveis. A tendência é que as consequências de ambas sejam cada vez mais visíveis e intensas, haja vista a interseção de causa e consequência entre as duas. Desse modo, buscou-se relacionar a crise climática com o surgimento de zoonoses, potenciais causadores de futuras epidemias e pandemias. Analisou-se também de forma crítica os impactos das mudanças climáticas, tendo em vista as vulnerabilidades sociais e populações desigualmente afetadas tanto pela crise climática, quanto pela pandemia de COVID-19. O trabalho pretendeu identificar de que maneira as mudanças climáticas antropogênicas influenciam o surgimento e a distribuição de doenças que afetam seres humanos e as dificuldades no enfrentamento dessa realidade, sob a ótica da Justiça Climática. Metodologia A presente pesquisa foi realizada no âmbito do grupo de pesquisa Direito, Ambiente e Justiça no Antropoceno (JUMA), que integra a Coordenação de Direito Ambiental do Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente da PUC-Rio (NIMA-Jur). Primeiramente, fez-se uma análise do histórico das mudanças climáticas antropogênicas, em especial a partir da leitura de textos dos autores Paul Crutzen, Will Steffen e Paulo Artaxo, que abordam o início de uma nova época geológica, chamada Antropoceno. Posteriormente, foi realizado um levantamento bibliográfico de relatórios elaborados por organizações internacionais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), dentre outros, além de artigos científicos que interligam a crise climática com a crise sanitária, em especial a pandemia da COVID-19. Por fim, partiu-se para o estudo da Justiça Climática e sua relação com os flagelos ocasionados pela pandemia. Esse estudo foi feito a partir da leitura de diversos artigos acadêmicos e científicos sobre as iniquidades e vulnerabilidades tanto no contexto da crise climática quanto daquelas expostas pelo enfrentamento à pandemia. 1. A Crise Climática 1.1. Emissões Antropogênicas de Gases de Efeito Estufa As atividades humanas sempre afetaram o meio ambiente. Em épocas pré-industriais, o ser humano não possuía a capacidade tecnológica ou organizacional para dominar efetivamente as forças da natureza, portanto os impactos de suas atividades eram predominantemente locais e transitórios, dentro dos limites da variabilidade natural do ambiente.4 A humanidade começa a alterar o equilíbrio do ecossistema com a Revolução Industrial, entre 1800 e 1945. Devido ao descobrimento e à exploração de combustíveis fósseis, houve o 4 STEFFEN, Will et. al. The Anthropocene: Are Humans Now Overwhelming the Great Forces of Nature. AMBIO: A Journal of the Human Environment, v. 36, n. 8, p. 614-621, 2007, p. 614 e 615. Disponível em: http://www.bioone.org/doi/full/10.1579/0044-7447%282007%2936%5B614%3ATAAHNO%5D2.0.CO%3B2. Acesso em: 13 mar. de 2021. http://www.bioone.org/doi/full/10.1579/0044-7447%282007%2936%5B614%3ATAAHNO%5D2.0.CO%3B2 Departamento de Direito desenvolvimento de novas atividades humanas e o aperfeiçoamento de outras já existentes .5 A intensificação das atividades fez com que a humanidade influenciasse o funcionamento do planeta Terra de tal maneira que pode ser comparado às forças geológicas,em vista da sua capacidade de interferir em processos críticos do planeta Terra.6 Por conta disso, pode-se dizer que o planeta adentra em uma nova época geológica, chamada o Antropoceno. O Antropoceno é considerado uma época geológica posterior ao Holoceno. Apesar de esse entendimento não ser unânime na comunidade científica, já é utilizado por uma grande gama de pesquisadores7 e, para a presente pesquisa, a compreensão dessa realidade é essencial para a busca de adaptação e mitigação aos efeitos da crise climáticas, bem como para orientar possíveis soluções frente aos seus impactos. No período da Grande Aceleração, que se inicia por volta de 1945, os impactos humanos no ecossistema se intensificaram ainda mais, principalmente após fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Houve um crescimento exponencial da população, bem como diversas alterações no modo de vida das pessoas, devido aos efeitos da globalização da economia, entre os anos 1870 e 1914. 8 De modo a analisar quanticamente os impactos humanos no sistema terrestre, utiliza-se os dados de acumulação de CO2 na atmosfera. O CO2 é o mais abundante dos gases de efeito estufa (GEE), sendo utilizado como referência para classificar o impacto do aquecimento global de todos os GEE. 9 Em níveis pré-industriais, a concentração de CO2 era de 225 partes por milhão (ppm). Por volta de 1800/50 a 1945, a concentração de CO2 aumentou cerca de 25 ppm, ultrapassando com isso o limite máximo da variação natural que havia durante o Holoceno.10 Em 1950, a concentração era cerca de 310 ppm, 11 sendo que em 2015 a concentração já chegava a 399 ppm. 12 A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (National Oceanic and Atmospheric Administration – NOAA) demonstrou que a concentração média de 5 STEFFEN, Will; CRUTZEN, Paul J. e MCNIELL, John R. The Anthropocene: conceptual and historical perspectives. Philosophical Transactions of the Royal Society A: Mathematical, Physical and Engineering Sciences, v. 369, n. 1938, p. 842-867, 2011, p. 847-848. 6 ARTAXO, Paulo. Uma nova era geológica em nosso planeta: o Antropoceno?. Revista USP, São Paulo, n. 103, p. 13-24, 2014, p. 15. 7 VEIGA, José Eli da. A primeira utopia do Antropoceno. Ambiente e Sociedade: Revista da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ambiente e Sociedade, São Paulo, v. XX. n. 2, p. 233-252, abr./jun. 2017, p. 241-242. 8 STEFFEN, Will et al. The Anthropocene: Are Humans Now Overwhelming the Great Forces of Nature. AMBIO: A Journal of the Human Environment, v. 36, n. 8, p. 614-621, 2007, p. 617. Disponível em: http://www.bioone.org/doi/full/10.1579/0044-7447%282007%2936%5B614%3ATAAHNO%5D2.0.CO%3B2. Acesso em: 13 mar. 2021. 9 O CO2 é o mais abundante dos gases de efeito estufa (GEE), sendo utilizado como referência para classificar o impacto do aquecimento global de todos os GEE. Cf. FERRETTI, André Rocha. Mudanças Climáticas: causas e consequências. In: Associação Brasileira dos Membros do Ministério Público de Meio Ambiente – ABRAMPA. A atuação do Ministério Público frente às mudanças climáticas, 2018, p. 5-13, p. 7. 10 STEFFEN, Will et al. The Anthropocene: Are Humans Now Overwhelming the Great Forces of Nature. AMBIO: A Journal of the Human Environment, v. 36, n. 8, p. 614-621, 2007, p. 616. Disponível em: http://www.bioone.org/doi/full/10.1579/0044-7447%282007%2936%5B614%3ATAAHNO%5D2.0.CO%3B2. Acesso em: 13 mar. 2021. 11 STEFFEN, Will et al. The Anthropocene: Are Humans Now Overwhelming the Great Forces of Nature. AMBIO: A Journal of the Human Environment, v. 36, n. 8, p. 614-621, 2007, p. 618. Disponível em: http://www.bioone.org/doi/full/10.1579/0044-7447%282007%2936%5B614%3ATAAHNO%5D2.0.CO%3B2. Acesso em: 13 mar. 2021. 12 ARTAXO, Paulo. Uma nova era geológica em nosso planeta: o Antropoceno?. Revista USP, São Paulo, n. 103, p. 13-24, 2014, p. 16. http://www.bioone.org/doi/full/10.1579/0044-7447%282007%2936%5B614%3ATAAHNO%5D2.0.CO%3B2 http://www.bioone.org/doi/full/10.1579/0044-7447%282007%2936%5B614%3ATAAHNO%5D2.0.CO%3B2 http://www.bioone.org/doi/full/10.1579/0044-7447%282007%2936%5B614%3ATAAHNO%5D2.0.CO%3B2 Departamento de Direito CO2 chegava a 416,21 ppm em abril de 2020. 13 Confirmando que os níveis seguem aumentando, especialistas do Met Office, serviço meteorológico do Reino Unido, divulgaram dados prevendo que a concentração de CO2 em 2021 será cerca de 2,29 ppm maior do que em 2020 e ainda que alcançará níveis 50% maiores do que os pré-industriais. 14 Esses dados são alarmantes em vista dos efeitos dos gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera. A concentração de GEE gera um processo de isolamento térmico do planeta, pois impedem que os raios solares penetrem na atmosfera e retornem ao espaço. 15 Assim, o planeta enfrenta um aquecimento global que aumenta cerca de 0,2ºC por década por conta principalmente das atividades humanas.16 Esse aquecimento contribui para a instabilidade climática terrestre, gerando diversos riscos para os sistemas naturais e humanos.17 Considerando o cenário crítico que diz respeito às mudanças climáticas antropogênicas e a necessidade de se atuar urgentemente para combater os seus efeitos, é adequado chamar a questão climática como emergência climática e/ou crise climática. Afasta-se, com isso, a visão passiva com relação a essa problemática, enfatizando o cenário catastrófico que o planeta Terra enfrentará caso a sociedade siga com comportamentos omissivos quanto a essa urgência. 1.2. Os impactos da crise climática ao equilíbrio do planeta O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (Intergovernmental Panel on Climate Change – IPCC) já relatou que, apesar de ainda alarmante, o aumento da temperatura global em 1,5°C impactará em menor grau o planeta em relação a um aumento de 2°C. Dentre as principais diferenças que o relatório prevê está o aumento da temperatura média na maioria das terras e regiões oceânicas, do calor extremo na maioria das regiões inabitadas, de fortes precipitações em diversas regiões e da probabilidade de seca e déficit de precipitação em 13 Concentração global de CO2 bate recorde mesmo durante crise do COVID-19. United Nations Environment Programme, 11 maio 2020. Disponível em: https://www.unep.org/pt-br/noticias-e- reportagens/reportagem/concentracao-global-de-co2-bate-recorde-mesmo-durante-crise- do#:~:text=Em%20abril%20de%202020%2C%20a,n%C3%ADveis%20nos%20%C3%BAltimos%20800.000% 20anos. Acesso em: 01 mar. 2021. 14 Mauna Loa carbon dioxide forecast for 2021. Meteorological Office – Met Office, Governo do Reino Unido, jan. 2021. Disponível em: https://www.metoffice.gov.uk/research/climate/seasonal-to-decadal/long- range/forecasts/co2-forecast. Acesso em: 02 mar. 2021. 15 CARVALHO, Délton Winter de. Mudanças Climáticas e as implicações jurídico-principiológicas para a gestão dos danos ambientais futuros numa sociedade de risco global. 14º Congresso Internacional de Direito Ambiental. In: LAVRATTI, Paula; PRESTES, Vanêsca Buzelato (org.). Direito e Mudanças Climáticas 2: responsabilidade civil e mudanças climáticas. São Paulo: Instituto o Direito por um Planeta Verde, 2010, p. 39-59, p. 43. Disponível em: http://www.planetaverde.org/mudancasclimaticas/index.php?ling=por&cont=publicacoes. Acesso em: 13 mar. 2021. 16 MASSON-DELMOTTE, V. et al. (eds.). Summary for Policymakers. In: Global warming of 1.5ºC. An IPCC Special Report on the impacts of global warming of 1.5 C above pre-industrial levels and related global greenhouse gas emission pathways, in the context of strengthening the global. World Meteorological Organization: Geneva, 2018, p. 4. Disponível em: https://www.ipcc.ch/site/assets/uploads/sites/2/2019/05/SR15_SPM_version_report_LR.pdf. Acesso em: 02 mar. 2021. 17 MASSON-DELMOTTE, V. et al. (eds.). Summary for Policymakers. In: Global warming of 1.5ºC. An IPCC Special Report on the impacts of globalwarming of 1.5 C above pre-industrial levels and related global greenhouse gas emission pathways, in the context of strengthening the global. World Meteorological Organization: Geneva, 2018, p. 5. Disponível em: https://www.ipcc.ch/site/assets/uploads/sites/2/2019/05/SR15_SPM_version_report_LR.pdf. Acesso em: 02 mar. 2021. https://www.unep.org/pt-br/noticias-e-reportagens/reportagem/concentracao-global-de-co2-bate-recorde-mesmo-durante-crise-do#:~:text=Em%20abril%20de%202020%2C%20a,n%C3%ADveis%20nos%20%C3%BAltimos%20800.000%20anos https://www.unep.org/pt-br/noticias-e-reportagens/reportagem/concentracao-global-de-co2-bate-recorde-mesmo-durante-crise-do#:~:text=Em%20abril%20de%202020%2C%20a,n%C3%ADveis%20nos%20%C3%BAltimos%20800.000%20anos https://www.unep.org/pt-br/noticias-e-reportagens/reportagem/concentracao-global-de-co2-bate-recorde-mesmo-durante-crise-do#:~:text=Em%20abril%20de%202020%2C%20a,n%C3%ADveis%20nos%20%C3%BAltimos%20800.000%20anos https://www.unep.org/pt-br/noticias-e-reportagens/reportagem/concentracao-global-de-co2-bate-recorde-mesmo-durante-crise-do#:~:text=Em%20abril%20de%202020%2C%20a,n%C3%ADveis%20nos%20%C3%BAltimos%20800.000%20anos https://www.metoffice.gov.uk/research/climate/seasonal-to-decadal/long-range/forecasts/co2-forecast https://www.metoffice.gov.uk/research/climate/seasonal-to-decadal/long-range/forecasts/co2-forecast http://www.planetaverde.org/mudancasclimaticas/index.php?ling=por&cont=publicacoes https://www.ipcc.ch/site/assets/uploads/sites/2/2019/05/SR15_SPM_version_report_LR.pdf https://www.ipcc.ch/site/assets/uploads/sites/2/2019/05/SR15_SPM_version_report_LR.pdf Departamento de Direito algumas regiões.18,19 O Fórum Econômico Mundial (World Economic Forum) também ressaltou que as mudanças climáticas estão causando impactos de forma mais grave e mais rápida do que era previsto. Segundo a pesquisa, falhar em tomar medidas de mitigação e adaptação às mudanças climáticas é o risco global número um ao se considerar os seus impactos e o número dois com relação à probabilidade de ocorrência nos próximos 10 anos.20 A emergência climática já produz sérios impactos também na biodiversidade. A Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (Intergovernmental Science-Policy Platform on Biodiversity and Ecosystem Services – IPBES) concluiu que os impulsionadores diretos de mudança na natureza com maior impacto global são, em ordem: mudanças no uso da terra e do mar; exploração direta de organismos; mudanças climáticas; poluição; e invasão de espécies exóticas. Eles são resultados de uma série de causas subjacentes - impulsionadores indiretos - que, por sua vez, são sustentados por valores e comportamentos sociais que incluem padrões de produção e consumo, dinâmica e tendências da população humana, comércio, inovações tecnológicas e locais por meio da governança global. Importante ressaltar que a taxa de variação dos fatores diretos e indiretos difere entre regiões e países.21 As mudanças climáticas representam um risco crescente devido ao seu ritmo acelerado junto a diversas interações com outros impulsionadores diretos. Já são evidentes mudanças na distribuição de espécies de diversos animais, na fenologia, na dinâmica populacional e na estrutura e função do ecossistema, sendo ainda mais aceleradas em sistemas marinhos, terrestres e de água doce. Indica-se que muitas espécies são incapazes de lidar localmente com esse ritmo por meio de processos evolutivos ou comportamentais. A continuação de sua existência dependerá da extensão em que são capazes de se dispersar, para rastrear as condições climáticas adequadas, e preservar sua capacidade de evoluir. Muitas dessas mudanças podem ter impactos significativos em vários setores econômicos e efeitos em cascata para outros componentes da biodiversidade. 22 1.3. Injustiças causadas pela crise climática Segundo relatório do IPCC, entende-se que populações como as indígenas, as comunidades locais dependentes de agricultura e de meios de subsistência costeiros estão em uma situação de alto risco com relação aos impactos adversos da crise climática, sendo mais 18 MASSON-DELMOTTE, V. et al. (eds.). Summary for Policymakers. In: Global warming of 1.5ºC. An IPCC Special Report on the impacts of global warming of 1.5°C above pre-industrial levels and related global greenhouse gas emission pathways, in the context of strengthening the global. World Metem: 02 mar. 2021. 19 Recentemente, foi lançado o sexto relatório de avaliação do IPCC que confirma a influência humana no aquecimento global, contribuindo para alterações sem precedentes. Cf. MASSON-DELMOTTE, V. et al. (eds.). Summary for Policymakers. In: Climate Change 2021: The Physical Science Basis. Contribution of Working Group I to the Sixth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Cambridge University Press. In Press. Disponível em: https://www.ipcc.ch/report/sixth-assessment-report-working-group-i/. Acesso em: 13 ago. 2021. 20 WORLD ECONOMIC FORUM. Executive Summary. In: The global risks report 2020. Insight Report, 15 ed., 15 jan. 2020, p. 6-7. Disponível em: http://www3.weforum.org/docs/WEF_Global_Risk_Report_2020.pdf. Acesso em: 16 mar. 2021. 21 S. DÍAZ, J. et al. (eds.). Summary for policymakers of the global assessment report on biodiversity and ecosystem services of the Intergovernmental Science-Policy Platform on Biodiversity and Ecosystem Services. IPBES secretariat: Bonn, 2019, p. 12. Disponível em: https://www.ipbes.net/global-assessment. Acesso em: 14 mar. 2021. 22 S. DÍAZ, J. et al. (eds.). Summary for policymakers of the global assessment report on biodiversity and ecosystem services of the Intergovernmental Science-Policy Platform on Biodiversity and Ecosystem Services. IPBES secretariat: Bonn, 2019, p. 29. Disponível em: https://www.ipbes.net/global-assessment. Acesso em: 14 mar. 2021. https://www.ipcc.ch/report/sixth-assessment-report-working-group-i/ http://www3.weforum.org/docs/WEF_Global_Risk_Report_2020.pdf https://www.ipbes.net/global-assessment https://www.ipbes.net/global-assessment Departamento de Direito vulneráveis à essa emergência. Ademais, há regiões do planeta que sofrerão mais com os impactos, como o ecossistema ártico, regiões secas, pequenos Estados insulares em desenvolvimento e países menos desenvolvidos.23 Os desafios da crise climática evidenciam, com isso, um cenário desigual: enquanto os Estados mais ricos e poderosos, como os Estados Unidos da América (EUA),24 são os principais responsáveis históricos por esse cenário emergencial, os seus riscos e impactos adversos são sentidos pelos mais pobres e vulneráveis.25 Considerando que a emergência climática possui incidências ambientais e sociais que não afetam todos de forma igual, diversos movimentos reivindicatórios de comunidades mais impactadas pela crise surgem objetivando garantir espaço em políticas e negociações climáticas. 26 Assim, o movimento de Justiça Climática nasce, sendo o conceito empregado pela primeira vez no informe Greenhouse Gângsters vs. Climate Justice,27 elaborado pelo grupo Corporate Watch,28 publicado em 1999. As injustiças da crise climática já são observadas por meio de diferentes efeitos na sociedade. O IPCC havia projetado que qualquer aumento no aquecimento global afetará a saúde humana, principalmente por conta de consequências negativas. Os riscos de morbidade e mortalidade relacionados ao calor são menores com o aumento de 1.5ºC em relação ao de 2ºC. Os riscos de algumas doenças transmitidas por vetores, como malária e dengue, também devem aumentar com o aquecimento de 1.5ºC para 2ºC, incluindo possíveis mudanças em sua área geográfica.29 Entende-se que a crise climática contribuirá para a disseminação de diversas doenças pelo mundo, como pôde ser observado pela pandemia da COVID-19. Neste contexto, o cenário de injustiça reforçado pelasmudanças climáticas antropogênicas fica cada vez mais evidente, considerando as respostas desiguais para diferentes parcelas da população. Apesar de as consequências da crise climática para a saúde humana terem efeitos para toda a sociedade, a população mais vulnerável é a mais criticamente impactada. 2. Efeitos das mudanças climáticas na saúde 23 MASSON-DELMOTTE, V. et al. (eds.). Summary for Policymakers. In: Global warming of 1.5ºC. An IPCC Special Report on the impacts of global warming of 1.5°C above pre-industrial levels and related global greenhouse gas emission pathways, in the context of strengthening the global. World Meteorological Organization: Geneva, 2018, p. 9. Disponível em: https://www.ipcc.ch/site/assets/uploads/sites/2/2019/05/SR15_SPM_version_report_LR.pdf. Acesso em: 02 mar. 2021. 24 BORRÀS, Susana. Movimientos para la justicia climática global: replanteando el escenario internacional del cambio climático. Relaciones Internacionales. Madrid, n. 33, out. 2016/jan. 2017, p. 103. 25 BORRÀS, Susana. Movimientos para la justicia climática global: replanteando el escenario internacional del cambio climático. Relaciones Internacionales. Madrid, n. 33, out. 2016/jan. 2017, p. 98. 26 BORRÀS, Susana. Movimientos para la justicia climática global: replanteando el escenario internacional del cambio climático. Relaciones Internacionales. Madrid, n. 33, out. 2016/jan. 2017, p. 100. 27 Disponível em: http://www.corpwatch.org/sites/default/files/Greenhouse%20Gangsters.pdf. Acesso em: 09 abr. 2021. 28 BORRÀS, Susana. Movimientos para la justicia climática global: replanteando el escenario internacional del cambio climático. Relaciones Internacionales. Madrid, n. 33, out. 2016/jan. 2017, p. 100. 29 MASSON-DELMOTTE, V. et al. (eds.). Summary for Policymakers. In: Global warming of 1.5ºC. An IPCC Special Report on the impacts of global warming of 1.5°C above pre-industrial levels and related global greenhouse gas emission pathways, in the context of strengthening the global. World Meteorological Organization: Geneva, 2018, p. 9. Disponível em: https://www.ipcc.ch/site/assets/uploads/sites/2/2019/05/SR15_SPM_version_report_LR.pdf. Acesso em: 02 mar. 2021. https://www.ipcc.ch/site/assets/uploads/sites/2/2019/05/SR15_SPM_version_report_LR.pdf http://www.corpwatch.org/sites/default/files/Greenhouse%20Gangsters.pdf https://www.ipcc.ch/site/assets/uploads/sites/2/2019/05/SR15_SPM_version_report_LR.pdf Departamento de Direito 2.1. O alerta de organismos internacionais O Antropoceno traz problemáticas ambientais profundas, tal qual a crise climática. Essa emergência, por sua vez, possui relação direta com situações de crise de saúde global. Relatórios produzidos por organismos internacionais, anteriores ao início da pandemia de COVID-19, alertaram para a possibilidade de algumas doenças já existentes poderem causar epidemias ou pandemias, tanto ocasionadas por zoonoses, quanto por novas bactérias - estabelecendo relação direta desses fenômenos com as mudanças climáticas. Para facilitar o entendimento quanto aos conceito, destaca-se que epidemia é a rápida disseminação de uma doença infecciosa para um grande número de pessoas de uma localidade em um curto período de tempo.30 Pandemia, por sua vez, consiste na disseminação mundial de uma nova doença, que ocorre quando um novo vírus infeccioso surge, se dissemina globalmente e a maior parte da população não possui imunidade a ele.31 Zoonoses ou doenças zoonóticas são doenças infecciosas que podem contaminar humanos e animais.32 Em relação a doenças causadas por bactérias, já há estudos que indicam que o derretimento da camada do permafrost do Ártico pode fazer reviver micro-organismos – dentre eles as bactérias – há muito tempo congelados.33 A Organização Pan-Americana de Saúde e o Ministério da Saúde Brasileiro, no relatório “Mudança Climática e Saúde: Um Perfil do Brasil” em 2009, alertam sobre a relação entre problemas de saúde e as mudanças climáticas. Dentre os impactos climáticos mencionados estão: mudanças no ambiente como alteração de ecossistemas e ciclos biológicos, geográficos e químicos, classificados como impactos indiretos das mudanças climáticas. Reconhece-se que as mudanças do clima podem aumentar a incidência de doenças infecciosas e de não- transmissíveis, a exemplo de desnutrição e enfermidades mentais.34 O relatório também afirma que, com o aquecimento global, micro-organismos podem se proliferar para além de suas fronteiras geográficas naturais. A elevação da temperatura planetária também pode afetar a distribuição de vetores de doenças infecciosas e endêmicas, como malária, dengue, febre amarela, leishmaniose tegumentar americana, esquistossomose, leptospirose, hepatites virais, dentre outras. Ademais, o relatório reconhece o impacto 30 WORLD HEALTH ORGANIZATION. Managing epidemics: key facts about major deadly diseases. Geneva: WHO, 2018, p. 34. Disponível em: https://www.who.int/emergencies/diseases/managing-epidemics- interactive.pdf. Acesso em: 15 abr. 2021. 31 UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME; INTERNATIONAL LIVESTOCK RESEARCH INSTITUTE. Preventing the Next Pandemic: Zoonotic diseases and how to break the chain of transmission. Nairobi: UNEP, 2020, p. 69. Disponível em: https://www.unep.org/resources/report/preventing-future-zoonotic- disease-outbreaks-protecting-environment-animals-and. Acesso em: 15 abr. 2021. 32 UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME; INTERNATIONAL LIVESTOCK RESEARCH INSTITUTE. Preventing the Next Pandemic: Zoonotic diseases and how to break the chain of transmission. Nairobi: UNEP, 2020, p. 72. Disponível em: https://www.unep.org/resources/report/preventing-future-zoonotic- disease-outbreaks-protecting-environment-animals-and. Acesso em: 15 abr. 2021. 33 BOREN, Zach. The permafrost pandemic: could the melting Arctic release a deadly disease?: As the Arctic heats up, a group of scientists are interrogating the risk that deadly diseases from the distant past may return. Unearthed, 03 set. 2020. Disponível em: https://unearthed.greenpeace.org/2020/07/03/arctic-permafrost- pandemic-life-uh-finds-a-way/ . Acesso em: 14 abr. 2021; e UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME; INTERNATIONAL LIVESTOCK RESEARCH INSTITUTE. Preventing the Next Pandemic: Zoonotic diseases and how to break the chain of transmission. Nairobi: UNEP, 2020, p. 17. Disponível em: https://www.unep.org/resources/report/preventing-future-zoonotic-disease-outbreaks-protecting-environment- animals-and. Acesso em: 15 abr. 2021. 34 ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE; MINISTÉRIO DA SAÚDE – BRASÍLIA. Mudança Climática e Saúde: Um Perfil do Brasil. Série Saúde Ambiental 3. Brasília: OPAS, 2009, 44 p., p. 17. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/mudanca_climatica_saude.pdf. Acesso em: 15 abr. 2021. https://www.who.int/emergencies/diseases/managing-epidemics-interactive.pdf https://www.who.int/emergencies/diseases/managing-epidemics-interactive.pdf https://www.unep.org/resources/report/preventing-future-zoonotic-disease-outbreaks-protecting-environment-animals-and https://www.unep.org/resources/report/preventing-future-zoonotic-disease-outbreaks-protecting-environment-animals-and https://www.unep.org/resources/report/preventing-future-zoonotic-disease-outbreaks-protecting-environment-animals-and https://www.unep.org/resources/report/preventing-future-zoonotic-disease-outbreaks-protecting-environment-animals-and https://www.unep.org/resources/report/preventing-future-zoonotic-disease-outbreaks-protecting-environment-animals-and https://www.unep.org/resources/report/preventing-future-zoonotic-disease-outbreaks-protecting-environment-animals-and http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/mudanca_climatica_saude.pdf Departamento de Direito desproporcional das mudanças climáticas sobre as populações mais pobres e vulneráveis, por não disporem de meios para se protegerem.35A vulnerabilidade de uma comunidade depende de diversos fatores, como densidade demográfica, nível de desenvolvimento econômico, disponibilidade de alimentos e água potável segura, nível e distribuição de renda, condições ambientais locais, estados de saúde pré- existentes e qualidade e disponibilidade de assistência médica pública.36 Outros problemas da área de saúde também estão relacionados com a crise climática, como alterações na produção agrícola de subsistência devido a eventos extremos, que podem comprometer o abastecimento e segurança alimentar, gerando subnutrição.37 Todos esses fatores causados pela emergência climática são considerados de risco do ponto de vista epidemiológico. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA (em inglês, United Nations Environment Programme – UNEP), em “Frontiers 2016: Emerging Issues of Environmental Concern” (“Frontiers 2016”), afirma que o século XX foi o período de mudanças ecológicas sem precedentes, que resultaram em um aumento mundial do surgimento de novas doenças zoonóticas, crescimento de epidemias de doenças zoonóticas já existentes e a persistência de doenças dessas espécies, mas negligenciadas em países pobres.38 A UNEP classifica as doenças zoonóticas negligenciadas como as que estão continuamente presentes em algumas populações, em maior ou menor grau e que são normalmente marginalizadas pelos sistemas de saúde a nível nacional e internacional.39 O relatório Frontiers 2016 aponta que essas doenças zoonóticas negligenciadas são endêmicas em populações afetadas menos favorecidas, vez que recebem menor atenção internacional e insumos financeiros para seu combate em comparação a doenças zoonóticas novas. Portanto, entende-se que essas doenças, em razão da omissão quanto a respostas efetivas, tendem a continuar existindo em comunidades com complexos problemas de desenvolvimento, constituindo um problema crucial para a garantia da proteção dos direitos humanos dessas comunidades.40 35 ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE; MINISTÉRIO DA SAÚDE – BRASÍLIA. Mudança Climática e Saúde: Um Perfil do Brasil. Série Saúde Ambiental 3. Brasília: OPAS, 2009, 44p., p. 7. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/mudanca_climatica_saude.pdf. Acesso em: 15 abr. 2021. 36 WORLD HEALTH ORGANIZATION. Mudança climática e saúde humana – riscos e respostas: sumário atualizado 2008. Brasília: OPAS, 2008, 37p., p. 11. Disponível em: https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_docman&view=download&alias=69-mudanca-climatica-e- saude-humana-riscos-e-respostas-sumario-revisado-2008-9&category_slug=mudancas-climaticas- 711&Itemid=965. Acesso em: 14 abr. 2021. 37 ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE; MINISTÉRIO DA SAÚDE – BRASÍLIA. Mudança Climática e Saúde: Um Perfil do Brasil. Série Saúde Ambiental 3. Brasília: OPAS, 2009, 44p., p. 27. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/mudanca_climatica_saude.pdf. Acesso em: 15 abr. 2021. 38 A UNEP classifica as doenças zoonóticas negligenciadas como as que estão continuamente presentes em algumas populações, em maior ou menor grau e que são normalmente marginalizadas pelos sistemas de saúde a nível nacional e internacional. Cf. UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME. UNEP Frontiers 2016 Report: Report: Emerging Issues of Environmental Concern. Nairobi: UNEP, 2016, p. 19. Disponível em: https://www.unep.org/resources/frontiers-2016-emerging-issues-environmental-concern. Acesso em: 10 abr. 2021. 39 UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME. UNEP Frontiers 2016 Report: Report: Emerging Issues of Environmental Concern. Nairobi: UNEP, 2016, p. 19. Disponível em: https://www.unep.org/resources/frontiers-2016-emerging-issues-environmental-concern. Acesso em: 10 abr. 40 UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME. UNEP Frontiers 2016 Report: Report: Emerging Issues of Environmental Concern. Nairobi: UNEP, 2016, p. 19. Disponível em: https://www.unep.org/resources/frontiers-2016-emerging-issues-environmental-concern. Acesso em: 10 abr. 2021. http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/mudanca_climatica_saude.pdf https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_docman&view=download&alias=69-mudanca-climatica-e-saude-humana-riscos-e-respostas-sumario-revisado-2008-9&category_slug=mudancas-climaticas-711&Itemid=965 https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_docman&view=download&alias=69-mudanca-climatica-e-saude-humana-riscos-e-respostas-sumario-revisado-2008-9&category_slug=mudancas-climaticas-711&Itemid=965 https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_docman&view=download&alias=69-mudanca-climatica-e-saude-humana-riscos-e-respostas-sumario-revisado-2008-9&category_slug=mudancas-climaticas-711&Itemid=965 http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/mudanca_climatica_saude.pdf https://www.unep.org/resources/frontiers-2016-emerging-issues-environmental-concern https://www.unep.org/resources/frontiers-2016-emerging-issues-environmental-concern Departamento de Direito Estudos feitos pelos cientistas Woolhouse e Gowtage-Sequeria41 comprovam que 58% de todas as doenças humanas infecciosas são zoonoses e elas são responsáveis pela maior parte das doenças emergentes deste tipo. Em média, uma nova doença infecciosa surge a cada quatro meses, segundo o relatório Frontiers 2016.42 O PNUMA ressalta que o surgimento de doenças zoonóticas pode estar associado às mudanças no ambiente ou desequilíbrios ecológicos, incluindo-se aqui as mudanças climáticas, e tendem a infectar hospedeiros que já sofrem com condições ambientais, sociais ou econômicas adversas. O relatório conclui que as mudanças climáticas são o principal fator para o surgimento de doenças, pois influenciam as condições ambientais que podem permitir ou dificultar a sobrevivência, reprodução, abundância e distribuição de patógenos – agentes infecciosos –, vetores, hospedeiros, os meios de transmissão de doenças e suas frequências.43 Como exemplo, pode-se citar que as mudanças climáticas influenciam na precipitação, o que afeta a disseminação de patógenos transmitidos pela água. Além disso, com o aumento de temperatura, insetos que vivem em regiões de baixa latitude podem encontrar novos habitats em regiões de latitude média ou alta e em áreas de grande altitude, levando à expansão geográfica ou mudança de doenças. 44 No ano de 2018, a OMS, divulgou o relatório “Managing epidemics: key facts about major deadly diseases”, em que são listadas diversas doenças já existentes capazes de promover epidemias, bem como os locais mais vulneráveis a esses eventos e a relação intrínseca de algumas delas com as mudanças climáticas. Dentre as consequências adversas apontadas, destaca-se que as mudanças climáticas podem aumentar a ocorrência de fortes chuvas e inundações, bem como influenciam a intensidade de ciclones e tempestades tropicais devido ao aumento do nível e da temperatura do mar e da superfície terrestre. Além disso, os desastres naturais também aumentam o risco de doenças infecciosas ao interromper os serviços e infraestruturas de saúde e danificar as redes de água e saneamento.45 O documento aponta como um fator de risco a demora em diagnosticar essas doenças, o que pode ocorrer majoritariamente em países mais pobres e permitir que o vírus circule mais facilmente, como no caso do Ebola no Oeste da África46. No documento são abordadas 15 doenças mortais. Dentre essas, epidemias de leptospirose e febre amarela são citadas expressamente como doenças que têm relação com as mudanças climáticas. 41 WOOLHOUSE, Mark E. J.; GOWTAGE-SEQUERIA, Sonya. Host range and emerging and reemerging pathogens. Emerging Infectious Diseases, v. 11, n. 12, p. 1842-1847, dez. 2005, p. 1842. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3367654/pdf/05-0997.pdf. Acesso em: 15 abr. 2021. 42 UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME. UNEP Frontiers 2016 Report: Report: Emerging Issues of Environmental Concern. Nairobi: UNEP,2016, p. 18. Disponível em: https://www.unep.org/resources/frontiers-2016-emerging-issues-environmental-concern. Acesso em: 10 abr. 2021. 43 UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME. UNEP Frontiers 2016 Report: Report: Emerging Issues of Environmental Concern. Nairobi: UNEP, 2016, p. 22. Disponível em: https://www.unep.org/resources/frontiers-2016-emerging-issues-environmental-concern. Acesso em: 10 abr. 2021. 44 WU, Xiaoxu et al. Impact of climate change on human infectious diseases: Empirical evidence and human adaptation. Environment international, v. 86, p. 14-23, jan. 2016, p. 15-18. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0160412015300489. Acesso em: 14 abr. 2021. 45 WORLD HEALTH ORGANIZATION. Managing epidemics: key facts about major deadly diseases. Geneva: WHO, 2018, p. 197. Disponível em: https://www.who.int/emergencies/diseases/managing-epidemics- interactive.pdf. Acesso em: 15 abr. 2021. 46 WORLD HEALTH ORGANIZATION. Managing epidemics: key facts about major deadly diseases. Geneva: WHO, 2018, p. 18. Disponível em: https://www.who.int/emergencies/diseases/managing-epidemics- interactive.pdf. Acesso em: 15 abr. 2021. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3367654/pdf/05-0997.pdf https://www.unep.org/resources/frontiers-2016-emerging-issues-environmental-concern https://www.unep.org/resources/frontiers-2016-emerging-issues-environmental-concern https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0160412015300489 https://www.who.int/emergencies/diseases/managing-epidemics-interactive.pdf https://www.who.int/emergencies/diseases/managing-epidemics-interactive.pdf https://www.who.int/emergencies/diseases/managing-epidemics-interactive.pdf https://www.who.int/emergencies/diseases/managing-epidemics-interactive.pdf Departamento de Direito Por ser uma doença cuja ocorrência é bastante influenciada por questões ambientais, a crise climática é fator determinante para a leptospirose, visto que aumenta a ocorrência de chuvas, inundações, ciclones tropicais e tempestades, fatores que influenciam na disseminação da doença, além de esses fenômenos poderem prejudicar o saneamento das cidades.47 Em relação à febre amarela, a OMS aponta as mudanças climáticas como um fator de risco de surtos urbanos de febre amarela com disseminação internacional.48 Em relação às áreas tropicais, o cientista brasileiro Paulo Artaxo afirma que 60% das doenças infecciosas são zoonoses e grande parte delas é causada por patógenos com origem na vida silvestre. O cientista entende que o avanço dos patógenos é resultado das mudanças ambientais globais, gerando impactos para saúde pública e para a conservação da fauna. Notou- se que mudanças no uso do solo, alterações na precipitação e aumento da temperatura alteram a migração de mosquitos e facilitam a propagação de doenças tropicais negligenciadas.49 O PNUMA, já em 2020, elaborou o relatório “Preventing the Next Pandemic: Zoonotic diseases and how to break the chain of transmission”, publicado em meio à pandemia de COVID-19, em que reconhece os impactos da crise climática nas zoonoses. Para além do que fora apontado no relatório de 2016, o documento destaca que a variação climática propicia a disseminação de doenças transmitidas por insetos, carrapatos e outros artrópodes vetores. Temperaturas mais quentes podem contribuir para o aumento da duração da estação do ano em que espécies vetores de doença são mais presentes e doenças infecciosas podem surgir ou aumentar em regiões tropicais onde as temperaturas quentes permitem a proliferação de patógenos e seus vetores.50 A emergência climática também influencia na distribuição geográfica e no tamanho da população de morcegos, macacos e roedores – animais em que patógenos zoonóticos surgem – e em mosquitos e outros vetores que transmitem vírus como Chikungunya e vírus do Oeste do Nilo. A crise climática também pode influenciar na incidência da doença de Chagas, leishmaniose e outras doenças que necessitam de vetores, bem como prevê-se um aumento dos índices de doenças passíveis de ocorrer em temperaturas mais elevadas. São apontados estudos sobre relações entre surtos de doenças infecciosas e eventos extremos, cuja frequência pode ser afetada pelas mudanças climáticas. Além disso, as regiões árticas e subárticas são vulneráveis à crise climática principalmente por conta do derretimento do permafrost, o que transforma o solo, vegetação e habitats e pode expor e fazer com que infecções por microrganismos já extintos voltem a contaminar os seres vivos,51 reforçando o que fora apontado anteriormente. 47 WORLD HEALTH ORGANIZATION. Managing epidemics: key facts about major deadly diseases. Geneva: WHO, 2018, p. 197. Disponível em: https://www.who.int/emergencies/diseases/managing-epidemics- interactive.pdf. Acesso em: 15 abr. 2021. 48 WORLD HEALTH ORGANIZATION. Managing epidemics: key facts about major deadly diseases. Geneva: WHO, 2018, p. 88. Disponível em: https://www.who.int/emergencies/diseases/managing-epidemics- interactive.pdf. Acesso em: 15 abr. 2021. 49 ARTAXO, Paulo. As três emergências que nossa sociedade enfrenta: saúde, biodiversidade e mudanças climáticas. Estudos avançados, v. 34, n. 100, p. 53-66, 2020, p. 60. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142020000300053&script=sci_arttext. Acesso em: 16 mar. 2020. 50 UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME; INTERNATIONAL LIVESTOCK RESEARCH INSTITUTE. Preventing the Next Pandemic: Zoonotic diseases and how to break the chain of transmission. Nairobi: UNEP, 2020, p. 17. Disponível em: https://www.unep.org/resources/report/preventing-future-zoonotic- disease-outbreaks-protecting-environment-animals-and. Acesso em: 15 abr. 2021. 51 UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME; INTERNATIONAL LIVESTOCK RESEARCH INSTITUTE. Preventing the Next Pandemic: Zoonotic diseases and how to break the chain of transmission. Nairobi: UNEP, 2020, p. 17. Disponível em: https://www.unep.org/resources/report/preventing-future-zoonotic- disease-outbreaks-protecting-environment-animals-and. Acesso em: 15 abr. 2021. https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142020000300053&script=sci_arttext https://www.unep.org/resources/report/preventing-future-zoonotic-disease-outbreaks-protecting-environment-animals-and https://www.unep.org/resources/report/preventing-future-zoonotic-disease-outbreaks-protecting-environment-animals-and https://www.unep.org/resources/report/preventing-future-zoonotic-disease-outbreaks-protecting-environment-animals-and https://www.unep.org/resources/report/preventing-future-zoonotic-disease-outbreaks-protecting-environment-animals-and Departamento de Direito 2.2. Pandemia de COVID-19, crise climática e desequilíbrio ecológico Embora os cientistas ainda não possam afirmar com certeza a origem do SARS-CoV-2, a provável hipótese é que tenha se originado em morcegos. Segundo o relatório “Preventing the next pandemics” do PNUMA, coronavírus são um grande grupo de vírus que infectam animais e humanos e são responsáveis por inúmeras doenças.52 O genoma desse vírus foi comparado a outros já existentes e 96% dele foi tido como idêntico a vírus anteriormente identificados em morcegos,53 porém a maneira pela qual ocorreu sua mutação que possibilitou a infecção em humanos ainda é incerta. Apesar disso, há estudos que indicam a influência das mudanças climáticas na emergência do SARS-CoV-2. O número de coronavírus presente em uma área está fortemente relacionado com a quantidade local de espécies de morcegos, tendo em vista que eles carregam a maior proporção de vírus zoonóticos entre todos os mamíferos. Caso haja um aumento da quantidade de morcegos em determinado local, aumenta-se a probabilidade do desenvolvimento de novos coronavírus. Por sua vez, a quantidade de morcegos é afetada pela crise climática, vez que impulsiona a distribuição geográfica das espécies, alterando a adequação de habitatse forçando suas migrações. Essas alterações impactam a distribuição espacial das zoonoses e levam a mudanças na composição das espécies e da ecologia, podendo resultar em novas interações patógeno- hospedeiro responsáveis por gerar novas vias de transmissão ou facilitar a evolução de variantes de doenças. A partir dessas informações, conclui-se que a distribuição global de espécies de morcegos e, portanto, de coronavírus transmitidos por esses animais são uma das consequências da crise climática.54 Considerando o inegável impacto das mudanças climáticas antropogênicas no equilíbrio natural do ecossistema e seu papel em surtos de doenças já existentes, é provável que elas tenham contribuído para a disseminação da COVID-19. Nesse sentido, como demonstrado ao longo desta seção, organismos internacionais, dentre os quais a OMS e PNUMA, têm alertado para a possibilidade de ocorrência de novas epidemias e pandemias55 por influência das mudanças do clima e, portanto, ambos os problemas devem ser combatidos conjuntamente. Além das epidemias causadas por leptospirose, malária, dengue e febre amarela, sobre as quais a comunidade científica reconhece a influência das mudanças climáticas, há a doença de MERS (Síndrome Respiratória do Oriente Médio, ou, em inglês, Middle East respiratory syndrome), também causada por um coronavírus, o MERS-CoV – mais letal do que o SARS- CoV-2 – e possível causador de uma futura pandemia, com relação direta com as mudanças no 52 UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME; INTERNATIONAL LIVESTOCK RESEARCH INSTITUTE. Preventing the Next Pandemic: Zoonotic diseases and how to break the chain of transmission. Nairobi: UNEP, 2020, p. 21. Disponível em: https://www.unep.org/resources/report/preventing-future-zoonotic- disease-outbreaks-protecting-environment-animals-and. Acesso em: 15 abr. 2021. 53 UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME; INTERNATIONAL LIVESTOCK RESEARCH INSTITUTE. Preventing the Next Pandemic: Zoonotic diseases and how to break the chain of transmission. Nairobi: UNEP, 2020, p. 21. Disponível em: https://www.unep.org/resources/report/preventing-future-zoonotic- disease-outbreaks-protecting-environment-animals-and. Acesso em: 15 abr. 2021. 54 BEYER, Robert M.; MANICA, Andrea.; MORA, Camilo. Shifts in global bat diversity suggest a possible role of climate change in the emergence of SARS-CoV-1 and SARS-CoV-2. Science of the Total Environment, v. 767, n. 145413, 2021, p. 1-2. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0048969721004812?via%3Dihub. Acesso em: 13 abr. 2021. 55 V. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Managing epidemics: key facts about major deadly diseases. Geneva: WHO, 2018. Disponível em: https://www.who.int/emergencies/diseases/managing-epidemics- interactive.pdf. Acesso em: 15 abr. 2021; e UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME; INTERNATIONAL LIVESTOCK RESEARCH INSTITUTE. Preventing the Next Pandemic: Zoonotic diseases and how to break the chain of transmission. Nairobi: UNEP, 2020. Disponível em: https://www.unep.org/resources/report/preventing-future-zoonotic-disease-outbreaks-protecting-environment- animals-and. Acesso em: 15 abr. 2021. https://www.unep.org/resources/report/preventing-future-zoonotic-disease-outbreaks-protecting-environment-animals-and https://www.unep.org/resources/report/preventing-future-zoonotic-disease-outbreaks-protecting-environment-animals-and https://www.unep.org/resources/report/preventing-future-zoonotic-disease-outbreaks-protecting-environment-animals-and https://www.unep.org/resources/report/preventing-future-zoonotic-disease-outbreaks-protecting-environment-animals-and https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0048969721004812?via%3Dihub https://www.who.int/emergencies/diseases/managing-epidemics-interactive.pdf https://www.who.int/emergencies/diseases/managing-epidemics-interactive.pdf https://www.unep.org/resources/report/preventing-future-zoonotic-disease-outbreaks-protecting-environment-animals-and https://www.unep.org/resources/report/preventing-future-zoonotic-disease-outbreaks-protecting-environment-animals-and Departamento de Direito clima.56 Isso porque os camelos são portadores do vírus de MERS e há estudos que apontam para a opção de troca de vacas por camelos em razão de serem mais resistentes às secas causadas pelas mudanças climáticas. A MERS é uma que afeta seres humanos. Em recente reportagem da BBC Future57, há divulgação do estudo realizado no Marsabit, Quênia, liderado por cientistas do PREDICT58, em que se alerta o risco da proximidade entre esses animais e humanos, aumentando a probabilidade de transmissão de doenças. Isso ocorre pois, devido aos maiores e mais frequentes períodos de secas proporcionados pela emergência climática, os pastores da região analisada tiveram de optar por camelos, que são mais resistentes à falta de água do que as vacas. Como entram em maior contato com humanos, essa situação favorece surtos de doenças zoonóticas. Ademais, no Quênia frequentemente se consome leite cru de camelos e há o manuseamento de couro in natura, que são práticas de risco para infecções - segundo a OMS, consumo de produtos de origem animal crus ou mal cozidos apresentam um potencial risco de contaminação, bem como deve-se atentar para práticas básicas de higiene, como lavar as mãos antes e depois de tocar os animais.59 Esse cenário ratifica os alertas previstos nos relatórios apresentados acerca de zoonoses negligenciadas em países mais pobres. Além disso, o condado de Marsabit possui uma quantidade ínfima de médicos. Há apenas um médico para cada 64.000 pessoas, sendo uma proporção 64 vezes maior do que o recomendado pela OMS.60 Esse cenário ilustra as vulnerabilidades da região e serve de alerta da provável incapacidade de contornar uma futura epidemia da doença, podendo gerar uma crise sanitária ainda mais grave, até mesmo porque não há um plano de contingência de surtos. A crise climática e o desequilíbrio nos ecossistemas são um fator-chave para o equilíbrio entre a existência de vírus na natureza e sua possibilidade de infectar humanos, causando epidemias ou pandemias. O fator temperatura também é essencial para a proliferação de doenças infecciosas, como foi demonstrado pelos estudos científicos apresentados. Com a 56 Os camelos são portadores do vírus de MERS e há estudos que apontam para a opção de troca de vacas por camelos em razão de serem mais resistentes às secas causadas pelas mudanças climáticas. Cf. KAGUNYU, Anastasia W.; WANJOHI, Joseph. Camel rearing replacing cattle production among the Borana community in Isiolo County of Northern Kenya, as climate variability bites. Pastoralism, v. 4, n. 13, p. 1-5, 2014. Disponível em: https://pastoralismjournal.springeropen.com/articles/10.1186/s13570-014-0013-6. Acesso: 14 abr. 2021; e KUSHNER, Jacob. Why camels are worrying coronavirus hunters. BBC, Kenya, 25 jan. 2021. Disponível em: https://www.bbc.com/future/article/20210122-the-coronavirus-10-times-more-deadly-than- covid#:~:text=One%20recent%20study%20found%20that,but%20people%20around%20the%20world. Acesso: 8 abr. 2021. 57 KUSHNER, Jacob. Why camels are worrying coronavirus hunters. BBC, Kenya, 25 jan. 2021. Disponível em: https://www.bbc.com/future/article/20210122-the-coronavirus-10-times-more-deadly-than- covid#:~:text=One%20recent%20study%20found%20that,but%20people%20around%20the%20world. Acesso: 8 abr. 2021. 58 PREDICT é um projeto do programa de Ameaças Pandêmicas Emergentes (em inglês, Emerging Pandemic Threats – EPT) da Agência para Desenvolvimento Internacional dos EUA (em inglês, U.S. Agency for International Development – USAID) iniciado em 2009. Seu objetivo é fortalecer a capacidade global de detecção de vírus com potencial pandêmico que podem transitar entre animais e pessoas. Cf. UC DAVIS VETERINARY MEDICINE. Programs & Projects. PREDITC. Disponível em: https://ohi.vetmed.ucdavis.edu/programs- projects/predict-project.Acesso em: 15 abr. 2021. 59 Segundo a OMS, consumo de produtos de origem animal crus ou mal cozidos apresentam um potencial risco de contaminação, bem como deve-se atentar para práticas básicas de higiene, como lavar as mãos antes e depois de tocar os animais. Cf. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Managing epidemics: key facts about major deadly diseases. Geneva: WHO, 2018, p. 152. Disponível em: https://www.who.int/emergencies/diseases/managing- epidemics-interactive.pdf. Acesso em: 15 abr. 2021. 60 KUSHNER, Jacob. Why camels are worrying coronavirus hunters. BBC, Kenya, 25 jan. 2021. Disponível em: https://www.bbc.com/future/article/20210122-the-coronavirus-10-times-more-deadly-than- covid#:~:text=One%20recent%20study%20found%20that,but%20people%20around%20the%20world. Acesso: 21 jun. 2021. https://pastoralismjournal.springeropen.com/articles/10.1186/s13570-014-0013-6 https://www.bbc.com/future/article/20210122-the-coronavirus-10-times-more-deadly-than-covid#:~:text=One%20recent%20study%20found%20that,but%20people%20around%20the%20world https://www.bbc.com/future/article/20210122-the-coronavirus-10-times-more-deadly-than-covid#:~:text=One%20recent%20study%20found%20that,but%20people%20around%20the%20world https://www.bbc.com/future/article/20210122-the-coronavirus-10-times-more-deadly-than-covid#:~:text=One%20recent%20study%20found%20that,but%20people%20around%20the%20world https://www.bbc.com/future/article/20210122-the-coronavirus-10-times-more-deadly-than-covid#:~:text=One%20recent%20study%20found%20that,but%20people%20around%20the%20world https://ohi.vetmed.ucdavis.edu/programs-projects/predict-project https://ohi.vetmed.ucdavis.edu/programs-projects/predict-project https://www.who.int/emergencies/diseases/managing-epidemics-interactive.pdf https://www.who.int/emergencies/diseases/managing-epidemics-interactive.pdf https://www.bbc.com/future/article/20210122-the-coronavirus-10-times-more-deadly-than-covid#:~:text=One%20recent%20study%20found%20that,but%20people%20around%20the%20world https://www.bbc.com/future/article/20210122-the-coronavirus-10-times-more-deadly-than-covid#:~:text=One%20recent%20study%20found%20that,but%20people%20around%20the%20world Departamento de Direito urgência climática, certas localidades sofrerão com estações quentes mais duradouras e maiores temperaturas. Dessa forma, a comunidade internacional deve dar a devida atenção às vulnerabilidades de determinadas regiões com vistas à proteção da dignidade humana. 3. A injustiça climática exposta no enfrentamento à pandemia 3.1. Populações vulnerabilizadas Há urgência na redução das emissões de GEE, com o objetivo de diminuir cenários de eventos climáticos extremos e a proteger a saúde humana, sendo que os efeitos adversos das mudanças climáticas já estão ocorrendo. A necessidade de se mitigar e se adaptar às mudanças climáticas já foi reconhecida pelas Partes da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas – CQNUMC (em inglês, United Nations Framework Convention on Climate Change – UNFCCC)61, e com relação às adaptações referentes à saúde, por meio de resoluções da Assembleia Mundial de Saúde (em inglês, World Health Assembly)62 e dos Comitês Regionais da Organização Mundial de Saúde – OMS (em inglês, World Health Organization – WHO)63.64 O IPCC projetou que é altamente provável que as mudanças climáticas impactarão a saúde humana, principalmente por conta de problemas de saúde já existentes. Espera-se que a crise climática leve ao aumento de problemas de saúde em muitas regiões, especialmente em países em desenvolvimento com baixa renda.65 A questão da saúde não se esgota com as epidemias e a emergência de novas doenças. Ela tem relação com diversos aspectos quanto às desigualdades nas respostas e as possibilidades de se adaptar frente a um cenário de crise sanitária, que são consequência de estruturas sociais já existentes. É importante ressaltar que 61 A CQNUMC foi promulgada no Brasil pelo Decreto nº 2.652, de 1º de julho de 1998. Como exemplo, faz-se referência ao artigo 4 da Convenção que prevê o seguinte: “1. Todas as Partes, levando em conta suas responsabilidades comuns mas diferenciadas e suas prioridades de desenvolvimento, objetivos e circunstâncias específicos, nacionais e regionais, devem: (...) b) Formular, implementar, publicar e atualizar regularmente programas nacionais e, conforme o caso, regionais, que incluam medidas para mitigar a mudança do clima, enfrentando as emissões antrópicas por fontes e remoções por sumidouros de todos os gases de efeito estufa não controlados pelo Protocolo de Montreal, bem como medidas para permitir adaptação adequada à mudança do clima; (...)”. Cf. BRASIL. Decreto nº 2.652, de 1º de julho de 1998. Promulga a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, assinada em Nova York, em 9 de maio de 1992. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d2652.htm. Acesso em: 13 abr. 2021. 62 A exemplo da Resolução WHA61.19 de 24 de maio de 2008 sobre mudanças climáticas e saúde. Disponível em: https://www.who.int/globalchange/climate/EB_CChealth_resolution/en/. Acesso em: 13 abr. 2021. 63 A exemplo da mesa redonda realizada pelo 48º Conselho Diretor da Organização Pan-Americana de Saúde, CD48/16, de 22 de agosto de 2008, que tratou da perspectiva regional acerca das mudanças climáticas e seu impacto na saúde pública. Disponível em: https://www.paho.org/portuguese/gov/cd/CD48-16-p.pdf?ua=1. Acesso em: 13 abr. 2021. Pode-se citar aqui também o relatório “Proteger a saúde frente à mudança climática: avaliação da vulnerabilidade e adaptação” elaborado pela Organização Pan-Americana da Saúde e publicado em 2014. Disponível em: https://iris.paho.org/bitstream/handle/10665.2/9999/9789275716984_prt.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 13 abr. 2021. 64 WORLD HEALTH ORGANIZATION. Strengthening health resilience to climate change: Technical briefing. WHO, 2015, 24p., p. 7. Disponível em: https://www.who.int/globalchange/publications/briefing-health- resilience/en/. Acesso em 13 abr. 2021. 65 FIELD, C.B. et al. (eds.). IPCC, 2014: Summary for policymakers. In: Climate Change 2014: Impacts, Adaptation, and Vulnerability. Part A: Global and Sectoral Aspects. Contribution of Working Group II to the Fifth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Cambridge University Press: Cambridge e Nova Iorque, 2014, p. 1-32, p. 19. Disponível em: https://www.ipcc.ch/site/assets/uploads/2018/02/ar5_wgII_spm_en.pdf. Acesso em: 13 abr. 2021. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d2652.htm https://www.who.int/globalchange/climate/EB_CChealth_resolution/en/ https://www.paho.org/portuguese/gov/cd/CD48-16-p.pdf?ua=1 https://iris.paho.org/bitstream/handle/10665.2/9999/9789275716984_prt.pdf?sequence=1&isAllowed=y https://www.who.int/globalchange/publications/briefing-health-resilience/en/ https://www.who.int/globalchange/publications/briefing-health-resilience/en/ https://www.ipcc.ch/site/assets/uploads/2018/02/ar5_wgII_spm_en.pdf Departamento de Direito quase todos os impactos na saúde são moderados pela força do sistema de saúde e sua capacidade de gerenciar e se adaptar aos riscos à saúde sensíveis ao clima.66 A pandemia da COVID-19 e a crise climática compartilham semelhanças, especialmente quanto à sua origem e às suas consequências. O cenário de emergência climática é resultado, principalmente, de atividades humanas desenvolvidas após a Revolução Industrial, por causa do aumento das emissões de GEE na atmosfera e da transformação na biodiversidade. Como já exposto, as mudanças do clima são um dos fatores por trás da tendência de surgimento de novas doenças zoonóticas e o reaparecimento de outras já conhecidas. Ademais, as respostas perante a pandemia evidenciaram as vulnerabilidades de determinados grupos e comunidades. No Brasil, os indígenas são um grupo em especial vulnerabilidade à COVID-19.A invasão e o desmatamento de suas terras não foram reduzidos durante a pandemia.67 Com as invasões ilegais, especialmente de garimpeiros, doenças como febre amarela, malária e COVID-19, dentre outras, contaminam populações indígenas.68 A transmissão de COVID-19 para esses indivíduos é alarmante, haja vista suas comunidades serem localizadas em regiões remotas e de difícil acesso ao sistema de saúde.69 Aponta-se que uma única pessoa infectada com o Sars-CoV-2 pode escalar um surto epidemiológico para até 30% da população indígena, considerando uma população de 148 pessoas70. Ademais, as comunidades indígenas costumam ter alto grau de contato social, com moradias coletivas e práticas comunitárias de subsistência, dentre outras características culturais que inviabilizam as medidas de isolamento social necessárias para o enfrentamento da pandemia.71 Assim, além de serem uma das mais 66 WORLD HEALTH ORGANIZATION. Strengthening health resilience to climate change: Technical briefing. WHO, 2015, 24p., p. 7. Disponível em: https://www.who.int/globalchange/publications/briefing-health- resilience/en/. Acesso em 13 abr. 2021. 67 OVIEDO, Antonio et al. Relatório técnico sobre o risco iminente de contaminação de populações indígenas pelo novo coronavírus em razão da ação de invasores ilegais. São Paulo: Instituto Socioambiental, 2020, 36p., p. 35. Disponível em: https://acervo.socioambiental.org/acervo/documentos/relatorio-tecnico-sobre-o-risco-iminente-de-contaminacao- de-populacoes-indigenas Acesso em: 13 abr. 2021. 68 OVIEDO, Antonio et al. Relatório técnico sobre o risco iminente de contaminação de populações indígenas pelo novo coronavírus em razão da ação de invasores ilegais. São Paulo: Instituto Socioambiental, 2020, 36p., p. 4. Disponível em: https://acervo.socioambiental.org/acervo/documentos/relatorio-tecnico-sobre-o-risco-iminente-de-contaminacao- de-populacoes-indigenas. Acesso em: 13 abr. 2021. 69 OVIEDO, Antonio et al. Relatório técnico sobre o risco iminente de contaminação de populações indígenas pelo novo coronavírus em razão da ação de invasores ilegais. São Paulo: Instituto Socioambiental, 2020, 36p., p. 5. Disponível em: https://acervo.socioambiental.org/acervo/documentos/relatorio-tecnico-sobre-o-risco-iminente-de-contaminacao- de-populacoes-indigenas. Acesso em: 13 abr. 2021. 70 OVIEDO, Antonio et al. Relatório técnico sobre o risco iminente de contaminação de populações indígenas pelo novo coronavírus em razão da ação de invasores ilegais. São Paulo: Instituto Socioambiental, 2020, 36p., p. 6. Disponível em: https://acervo.socioambiental.org/acervo/documentos/relatorio-tecnico-sobre-o-risco-iminente-de-contaminacao- de-populacoes-indigenas. Acesso em: 13 abr. 2021. 71 Em vista da omissão do governo brasileiro em tomar medidas para proteger a população indígena, em especial os povos Yanomami e Ye’kwana, durante a crise sanitária de COVID-19, a Associação Hutukara Yanomami e o Conselho Nacional de Direitos Humanos peticionaram à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) requerendo medidas protetivas contra o garimpo ilegal e para o fortalecimento de um sistema de saúde adequado. Em 17 de julho de 2020, a CIDH emitiu medida cautelar sobre o caso, pois entendeu a urgência da demanda no contexto da pandemia de COVID-19, com vistas a proteger os direitos à vida e à integridade dos possíveis beneficiários, garantindo também o acesso a tratamento médico adequado. Cf. CIDH. Resolução nº 35/20, Medida Cautelar nº 563-20. Disponível em: https://www.oas.org/es/cidh/decisiones/pdf/2020/35-20MC563-20-BR- PT.pdf. Acesso em: 15 abr. 2021. https://www.who.int/globalchange/publications/briefing-health-resilience/en/ https://www.who.int/globalchange/publications/briefing-health-resilience/en/ https://acervo.socioambiental.org/acervo/autor/oviedo-antonio https://acervo.socioambiental.org/acervo/documentos/relatorio-tecnico-sobre-o-risco-iminente-de-contaminacao-de-populacoes-indigenas https://acervo.socioambiental.org/acervo/documentos/relatorio-tecnico-sobre-o-risco-iminente-de-contaminacao-de-populacoes-indigenas https://acervo.socioambiental.org/acervo/autor/oviedo-antonio https://acervo.socioambiental.org/acervo/documentos/relatorio-tecnico-sobre-o-risco-iminente-de-contaminacao-de-populacoes-indigenas https://acervo.socioambiental.org/acervo/documentos/relatorio-tecnico-sobre-o-risco-iminente-de-contaminacao-de-populacoes-indigenas https://acervo.socioambiental.org/acervo/autor/oviedo-antonio https://acervo.socioambiental.org/acervo/documentos/relatorio-tecnico-sobre-o-risco-iminente-de-contaminacao-de-populacoes-indigenas https://acervo.socioambiental.org/acervo/documentos/relatorio-tecnico-sobre-o-risco-iminente-de-contaminacao-de-populacoes-indigenas https://acervo.socioambiental.org/acervo/autor/oviedo-antonio https://acervo.socioambiental.org/acervo/documentos/relatorio-tecnico-sobre-o-risco-iminente-de-contaminacao-de-populacoes-indigenas https://acervo.socioambiental.org/acervo/documentos/relatorio-tecnico-sobre-o-risco-iminente-de-contaminacao-de-populacoes-indigenas https://www.oas.org/es/cidh/decisiones/pdf/2020/35-20MC563-20-BR-PT.pdf https://www.oas.org/es/cidh/decisiones/pdf/2020/35-20MC563-20-BR-PT.pdf Departamento de Direito vulneráveis à crise climática, também são uma das mais vulneráveis à atual emergência de saúde. Um estudo de Harvard, por sua vez, concluiu que uma maior exposição das pessoas à poluição histórica está associada a uma taxa maior de mortalidade por COVID-19. Vê-se, por exemplo, que as comunidades estadunidenses compostas por pessoas negras são desproporcionalmente afetadas pela má condição do ar em comparação aos demais habitantes;72 e pessoas expostas à poluição tendem a responder de forma pior a uma infecção respiratória. Dessa forma, pessoas com condições crônicas de saúde, de baixa renda e comunidades compostas predominantemente por pessoas negras são impactadas de maneira desmedida tanto pelo COVID-19 quanto pelas mudanças climáticas.73 Em lugares em que há maior poluição do ar, há indivíduos que são mais expostos ou vulneráveis à poluição, como as pessoas em situação de rua, bem como aqueles que não têm filtragem de ar em suas casas ou aqueles cuja saúde já está comprometida, o que os torna ainda mais vulneráveis à COVID-19.74 Portanto, as vulnerabilidades à COVID-19 e à crise climática estão relacionadas a condições socioeconômicas. Além disso, o Consultative Group on International Agricultural Research – CGIR ressaltou a maior vulnerabilidade de mulheres de países mais pobres aos impactos da COVID- 19 e que a pandemia intensifica os efeitos da crise climática a essas mulheres. 75 A ONU Mulheres elaborou relatório em que reconhece que as medidas para mitigar a COVID-19 impactam em maior grau a renda de mulheres e seus empregos, pois elas tendem a depender mais de trabalhos informais e do setor de serviço. As mulheres representam 70% dos 1,3 bilhão de pessoas que vivem atualmente na pobreza extrema. Como muitos dos empregos que exercem não podem ser realizados remotamente, por conta do isolamento social, muitas mulheres têm sido demitidas.76 Com a intensificação do distanciamento social e o empobrecimento das famílias, devido à perda de empregos, a violência doméstica também tende a aumentar. O relatório da ONU 72 WU, Xiao et al. Air pollution and COVID-19 mortality in the United States: Strengths and limitations of an ecological regression analysis. Science advances, v. 6, n. 45, eabd4049, 2020, p. 2. Disponível em: https://advances.sciencemag.org/content/6/45/eabd4049. Acesso em: 15 abr. 2021. 73 O estudo em questão analisou a relação entre exposição à poluição do ar e gravidade dos sintomas da COVID- 19, tomando como base a concentração de partículas poluentes (particulate matter – PM) nos Estados Unidos. As partículas poluentes têm origem em diversos componentes químicos, como construções,combustão e demais poluentes gerados por indústrias e automóveis. Cf. Wu, X., Nethery, R. C., Sabath, M. B., Braun, D. and Dominici, F., 2020. Air pollution and COVID-19 mortality in the United States: Strengths and limitations of an ecological regression analysis. Science advances, 6(45), p.eabd4049. Disponível em: https://projects.iq.harvard.edu/covid- pm. Acesso em: 23 jun. 2021; e UNITED STATES ENVIRONMENTAL PROTECTION AGENCY (EPA). Particulate Matter (PM) Basics. Disponível em: https://www.epa.gov/pm-pollution/particulate-matter-pm-basics. Acesso em: 23 jun. 2021. 74 CENTER FOR CLIMATE, HEALTH, AND THE GLOBAL ENVIRONMENT (C-CHANGE) OF HARVARD T.H. CHAN, SCHOOL OF PUBLIC HEALTH. Coronavirus, Climate Change, and the Environment: A Conversation on COVID-19 with Dr. Aaron Bernstein, Director of Harvard Chan C-CHANGE. Disponível em: https://www.hsph.harvard.edu/c-change/subtopics/coronavirus-and-climate- change/#:~:text=For%20those%20interested%20in%20research,in%20COVID%2D19%20death%20rate. Acesso em: 15 abr. 2021. 75 HUYER, Sophia; MULEMA, Annet Abenakyo; FREEMAN Kathlee A. A. Equality in a post-pandemic era: gender, COVID-19, agriculture and climate change. Consultative Group on International Agricultural Research (CGIAR), Research Program on Climate Change, Agriculture and Food Security (CCAFS), maio 2020. Disponível em: https://ccafs.cgiar.org/news/equality-post-pandemic-era-gender-covid-19-agriculture-and-climate-change. Acesso em: 13 abr. 2021 76 UNITED NATIONS WOMEN: Asia and the Pacific. Gender and Climate Change in the Context of COVID- 19. UN WOMEN, 2020, 16p., p. 7-8. Disponível em: https://asiapacific.unwomen.org/en/digital- library/publications/2020/05/gender-and-climate-change-in-the-context-of-covid-19. Acesso em: 15 abr. 2021. https://advances.sciencemag.org/content/6/45/eabd4049 https://projects.iq.harvard.edu/covid-pm https://projects.iq.harvard.edu/covid-pm https://www.epa.gov/pm-pollution/particulate-matter-pm-basics https://www.hsph.harvard.edu/c-change/subtopics/coronavirus-and-climate-change/#:~:text=For%20those%20interested%20in%20research,in%20COVID%2D19%20death%20rate https://www.hsph.harvard.edu/c-change/subtopics/coronavirus-and-climate-change/#:~:text=For%20those%20interested%20in%20research,in%20COVID%2D19%20death%20rate https://ccafs.cgiar.org/news/equality-post-pandemic-era-gender-covid-19-agriculture-and-climate-change https://asiapacific.unwomen.org/en/digital-library/publications/2020/05/gender-and-climate-change-in-the-context-of-covid-19 https://asiapacific.unwomen.org/en/digital-library/publications/2020/05/gender-and-climate-change-in-the-context-of-covid-19 Departamento de Direito Mulheres aponta que situação similar de vulnerabilidade é observável em relação às mudanças climáticas, por possuírem impacto maior em populações com situação socioeconômica frágil, o que acarreta menor capacidade de adaptação. Há evidências de que em algumas das populações mais pobres, a mortalidade feminina associada a inundações é muito maior e atinge mulheres em idade mais jovem quando comparada essa causa de mortalidade em relação aos homens. Além disso, as mulheres grávidas são particularmente vulneráveis a doenças infecciosas e pré-eclâmpsia, que é influenciada pela variação sazonal e variabilidade climática.77 Mulheres são desproporcionalmente impactadas pela crise climática devido ao acesso desigual a recursos essenciais como terra, água, energia, financiamento, informação e tecnologia.78 Portanto, nota-se que normas sociais discriminatórias baseadas no gênero fazem com que para as mulheres seja mais difícil a adaptação aos estresses causados pela emergência climática e pela pandemia.79 Isso exige que uma perspectiva de gênero seja integrada à política de saúde e clima, incluindo a consideração sistemática das diferenças de gênero nas avaliações de vulnerabilidade e adaptação.80 3.2. O papel do setor de saúde no enfrentamento à crise climática Devido à forte influência dos determinantes sociais nas vulnerabilidades da saúde, a diminuição da pobreza, a redução das iniquidades sociais e ambientais da saúde e o fortalecimento das intervenções básicas de saúde pública são essenciais para a proteção da dignidade humana em face da crise climática. Para enfrentar os enormes desafios, é necessária a construção de mais resiliência nos sistemas de saúde. Requer-se uma abordagem ampla de saúde pública, incluindo não apenas as funções preventivas e curativas, mas aspectos de liderança, orientação e regulamentação adequadas com relação aos setores e funções determinantes da saúde, como água e saneamento, ou redução do risco de desastres. 81 O relatório do IPCC também confirma que é altamente provável que as medidas mais eficazes de redução de vulnerabilidades relacionadas à saúde no curto prazo são programas que implementam e melhoram medidas básicas de saúde pública, como: (i) fornecimento de água potável e saneamento; (ii) assistência médica essencial segura, incluindo vacinação e serviços de saúde infantil; (iii) aumento da capacidade de preparação e resposta a desastres; e (iv) reduzir a pobreza.82 77 WORLD HEALTH ORGANIZATION. Strengthening health resilience to climate change: Technical briefing. WHO, 2015, 24p., p. 10. Disponível em: https://www.who.int/globalchange/publications/briefing-health- resilience/en/. Acesso em: 13 abr. 2021 78 UNITED NATIONS WOMEN: Asia and the Pacific. Gender and Climate Change in the Context of COVID- 19. UN WOMEN, 2020, 16p., p. 10. Disponível em: https://asiapacific.unwomen.org/en/digital- library/publications/2020/05/gender-and-climate-change-in-the-context-of-covid-19. Acesso em: 15 abr. 2021 79 UNITED NATIONS WOMEN: Asia and the Pacific. Gender and Climate Change in the Context of COVID- 19. UN WOMEN, 2020, 16p., p. 7-10. Disponível em: https://asiapacific.unwomen.org/en/digital- library/publications/2020/05/gender-and-climate-change-in-the-context-of-covid-19. Acesso em: 15 abr. 2021. 80 WORLD HEALTH ORGANIZATION. Strengthening health resilience to climate change: Technical briefing. WHO, 2015, 24p., p. 10-11. Disponível em: https://www.who.int/globalchange/publications/briefing-health- resilience/en/. Acesso em: 13 abr. 2021. 81 WORLD HEALTH ORGANIZATION. Strengthening health resilience to climate change: Technical briefing. WHO, 2015, 24p., p. 4. Disponível em: https://www.who.int/globalchange/publications/briefing-health- resilience/en/. Acesso em: 13 abr. 2021. 82 FIELD, C.B. et al. (eds.). IPCC, 2014: Summary for policymakers. In: Climate Change 2014: Impacts, Adaptation, and Vulnerability. Part A: Global and Sectoral Aspects. Contribution of Working Group II to the Fifth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Cambridge University Press: Cambridge https://www.who.int/globalchange/publications/briefing-health-resilience/en/ https://www.who.int/globalchange/publications/briefing-health-resilience/en/ https://asiapacific.unwomen.org/en/digital-library/publications/2020/05/gender-and-climate-change-in-the-context-of-covid-19 https://asiapacific.unwomen.org/en/digital-library/publications/2020/05/gender-and-climate-change-in-the-context-of-covid-19 https://www.who.int/globalchange/publications/briefing-health-resilience/en/ https://www.who.int/globalchange/publications/briefing-health-resilience/en/ https://www.who.int/globalchange/publications/briefing-health-resilience/en/ https://www.who.int/globalchange/publications/briefing-health-resilience/en/ Departamento de Direito Observa-se que a emergência climática já apresenta riscos para a saúde, e esses riscos continuarão no futuro, caso medidas de mitigação e de adaptação efetivas não sejam tomadas. Importante ressaltar que essas medidas devem considerar as vulnerabilidades e aspectos relacionados aos direitos humanos com vistas a proteger e a garantir a igualdade entre povos e nações. Muitas das cargas potenciais
Compartilhar