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ANATOMIA FOLIAR DE Unonopsé guaterioides A DC (ANNONACEAE) EM MATA DE GALERIA

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Anais VII Simpósio da Amazônia Meridional em Ciências Ambientais: 
Resumos Expandidos I – Scientific Electronic Archives. Vol 11: 2018, 
Special Edition 
 
 
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ANATOMIA FOLIAR DE Unonopsis guatterioides A.DC. 
(ANNONACEAE) EM MATA DE GALERIA 
 
Jaidle Irasnin Evangelista do Vale¹; Igor Pereira do Nascimento¹; Jôine Cariele 
Evangelista do Vale²; Paulo Sérgio Morandi
3
; Norberto Gomes Ribeiro Júnior
4
; Ivone 
Vieira da Silva
5 
 
¹Acadêmicos do curso de Licenciatura Plena e Bacharelado em Ciências Biológicas, 
Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus de Alta Floresta – MT; E-mail: 
jaidlebiologia@gmail.com 
²Mestranda do Programa de Pós-Graduação (Stricto Sensu) em Biodiversidade e 
Agroecossistemas Amazônicos (UNEMAT). E-mail: jc.valebiologia@gmail.com 
3
Pós-doutorando no Projeto PELD - Transição Cerrado-Floresta Amazônica: bases ecológicas 
e sócio-ambientais para a conservação, Universidade do Estado de Mato Grosso, campus de 
Nova Xavantina. E-mail: morandibio@gmail.com 
4 
Doutorando do Programa de Pós-Graduação (Stricto Sensu) em Ecologia e Conservação. 
5 
Docentes da Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus de Alta Floresta-MT. E-mail: 
ivibot@hotmail.com 
 
Resumo 
O Cerrado abriga grande diversidade florística influenciada por inúmeros fatores, entre eles a 
latitude, sazonalidade e precipitação. Padrões morfológicos e anatômicos das plantas podem 
revelar a capacidade de adaptação ao ambiente e auxiliar na taxonomia dos taxa. Neste 
trabalho caracterizamos anatomicamente folhas de Unonopsis guatterioides (A.DC.) REFR. 
presentes no estrato arbóreo em uma Mata de Galeria em Nova Xavantina-MT e identificamos 
possíveis estruturas adaptativas da lâmina foliar. Nas amostras foliares foram realizadas 
secções transversais à mão livre, montadas lâminas histológicas e posteriormente fotografadas 
com uso de microscopia óptica. A espécie é composta de cutícula delgada, epidermes 
uniestratificadas, estômatos anomocíticos, mesofilo dorsiventral com duas camadas de 
parênquima paliçádico e três a quatro camadas de parênquima lacunoso. Destacam-se a 
presença de macroesclereídes e alguns canais secretores dispersos pela lâmina foliar. Na 
nervura central destacam-se presença de colênquima anelar e fibras esclerenquimáticas. O 
padrão anatômico de U.guatterioides nos revela uma planta mesófita, o que é esperado para o 
ambiente de mata de galeria a qual a espécie ocorre. A presença de sílica na epiderme, de 
tecidos colenquimáticos e esclerenquimáticos (fibras e esclereídes) evidenciam adaptação à 
região de Cerrado onde ocorrem constantes ventos. 
 
Palavras-chave: Adaptação evolutiva; Anatomia ecológica; Ecótono; Mata de Galeria. 
 
Introdução 
Entre todos os países de grande diversidade biológica, o Brasil é o mais rico em 
plantas, animais e microrganismos, além de abrigar a maior parte das florestas intactas do 
planeta (MITTERMEIER et al., 2005). As pressões promovidas pelo clima tropical 
possibilitaram o surgimento de uma grande variedade de estruturas adaptativas na vegetação, 
tendo em vista que as plantas apresentam uma grande capacidade adaptativa de aspectos 
morfológicos, anatômicos e fisiológicos que surgem com certo grau de regularidade e lhes 
atribuem vantagens ecológicas para sobrevivência em ambientes hostis (CUTLER et al., 2011). 
A anatomia ecológica procura entender esses mecanismos de adaptação morfológica e 
anatômica das espécies vegetais, tentando relacionar tais adaptações aos fatores ambientais 
 
 
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(CUTTER, 1978). Neste sentido, a identificação de caracteres anatômicos adaptativos na 
espécie permite compreender de que forma os fatores ambientais estão interferindo na 
composição florística dos ambientes e o quanto estas espécies apresentam plasticidade 
fenotípica. 
Integrando essa imensa biodiversidade pantropical, a família Annonaceae é composta 
por 130 gêneros e aproximadamente 2.200 espécies, sendo considerada a maior família da 
ordem Magnoliales. Cerca de 250 espécies de 33 gêneros ocorrem em solo brasileiro, tendo 
maior ocorrência na Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica, podendo ocorrer em floresta de 
igapó, floresta de terra firme e floresta de várzea (FLORA DO BRASIL, 2020). O gênero 
Unonopsis R.E.Fr. apresenta problemas taxonômicos (MAAS et al., 2007), estudos com 
detalhes das estruturas corporais podem fornecer base para solucionar essas dificuldades na 
classificação (WATERMAN & GRAY, 1987). Sendo assim, no presente trabalho 
caracterizamos anatomicamente a lâmina foliar da espécie Unonopsis guatterioides (A.DC.) 
REFR e procuramos identificar possíveis estruturas adaptativas ao ambiente. 
 
Metodologia 
 
Coletamos o material no município de Nova Xavantina-MT em uma fitofisionomia de 
Cerrado denominada Mata de Galeria, sendo estas “formações florestais que margeiam 
córregos e rios de pequeno porte formando galerias sobre o curso d’água” (RIBEIRO et al., 
2008). Após a identificação, coletamos amostras da extremidade do galho com folhas 
completamente expandidas na base da copa de cinco indivíduos com diâmetro a altura do peito 
(DAP) >10 cm. As amostras foram herborizadas e transportadas para o Laboratório de 
Anatomia Vegetal na Universidade do Estado de Mato Grosso (campus de Alta Floresta). 
Em laboratório realizamos a reversão da herborização conforme SMITH & SMITH 
(1942), e armazenamos as amostras em álcool a 70%. Em seguida seccionamos 
transversalmente a mão livre a região mediana da lâmina foliar com a utilização de lâminas de 
aço. As finas secções obtidas foram clarificadas em hipoclorito sódico (2%) e corados com 
fucsina e azul de Astra (KRAUS et al., 1998). 
Para analisar as estruturas da epiderme foliar usamos o método de dissociação de 
Jeffrey (JOHANSEN, 1940) modificado, onde colocamos amostras de 1cm
2
 da lâmina foliar 
dos diferentes indivíduos imersas em uma solução de ácido acético e peróxido de hidrogênio 
proporção 1:1; levamos para estufa à 60ºc por 26 horas; após sucessivas lavagens em água 
destilada, com o auxílio de um pincel, separamos a epiderme adaxial e abaxial do mesofilo; por 
fim coramos as epidermes limpas em fucsina básica (KRAUS & ARDUIN, 1997). Com as 
secções anatômicas coradas montamos lâminas histológicas semipermanentes em gelatina 
glicerinada e registramos fotomicrografias por meio do fotomicroscópio Leica® ICC50 (LAS 
E.Z. 1.7.0 Leica®). 
 
Resultados e Discussão 
 
Unonopsis guatterioides possui folhas hipoestomáticas, ou seja, estômatos presentes 
apenas na face abaxial, com a presença de estômatos paracíticos com células guardas 
reniformes (Fig. B). As células epidérmicas apresentam paredes retas e espessadas, com 
presença de sílica (Figs. A, B). Características dos estômatos como a distribuição, tamanho e 
formato são específicas para cada espécie, podendo estar relacionadas a adaptações às 
condições ambientais (LARCHER, 2000). Distribuição hipoestomáticas é comum em plantas 
de ambientes tropicais (BIERAS & SAJO, 2009). 
 
 
 
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Figura 1. Secções anatômicas foliares de Unonopsis guatterioides. Secções paradérmicas (A-
B) e secções transversais (C-H). Est- Estômatos; Xi- Xilema; CE- Células Esclerenquimáticas; 
Epi- Epiderme; PP- Parênquima Paliçádico; PL- Parênquima Lacunoso; Duc- Ductos; Mac- 
Macroesclereídes. Barras: 50 µm 
 
Na nervura central em vista transversal, as epidermes tanto da face adaxial quanto 
abaxial são compostas por células de paredes espessas (Fig. C). Identificamos a presença de 
tricomas tectores em ambas as faces da asa foliar da maioria dos indivíduos estudados (Fig. D). 
Os tricomas podemapresentar diversas formas e tamanhos, que podem ser encontrados 
geralmente em indivíduos jovens de U. guatterioides (CARVALHO & WEBBER, 2000). 
Logo abaixo das epidermes registramos colênquima anelar, mais evidente na face 
abaxial (Fig. D). Nessa região ocorrem macroesclereídes e canais secretores (Fig. E). 
Circundando o feixe vascular há um cordão de fibras esclerenquimáticas (Fig. C), o feixe 
vascular é composto de diversos feixes acessórios com disposição colateral (Fig. C). A grande 
quantidade de fibras que envolvem os xilemas na nervura central podem ser um indicador de 
 
 
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resistência ao vento pelo fato de serem plantas de Cerrado expostas constantemente (SIMIONI 
et al., 2017). Mesmo sendo amostras de Mata de Galeria, os indivíduos coletados não são 
protegidos do vento por uma grande extensão de vegetação, o que justifica a ocorrência de 
colênquima e tecido esclerenquimático em grande proporção na nervura central. 
Na asa foliar registramos epiderme uniestratificada nas duas faces da lâmina foliar (Fig. 
F), sendo que na face adaxial ocorre presença de cutícula delgada, células epidérmicas cúbicas 
e retangulares. Já as células epidérmicas da face abaxial tem paredes menos espessas, pouca 
cutícula e são menores em relação a face adaxial (Figs. F-H). O mesofilo é do tipo dorsiventral, 
com parênquima paliçádico em uma camada bem definida e uma segunda camada de células 
não contíguas (Fig. F). O parênquima lacunoso apresenta entre três e cinco camadas de tecido, 
onde observamos câmaras subestomáticas não volumosas (Fig. G). Detectamos no mesofilo a 
presença de ductos secretores (Fig. G) e macroesclereídes (Fig. H). 
A presença de ductos pode ser uma característica de espécies do gênero Unonopsis 
conhecidas por seus óleos essenciais, mas nem todas possuem resina com valor comercial 
(CARVALHO & WEBBER, 2000). Já macroesclereídes estão entre as estruturas que 
promovem sustentação dos órgãos vegetais (CUTTER, 1978). 
 
Conclusões 
 
A presença de cutícula fina, estômatos nivelados na epiderme, ausência de tricomas na 
asa foliar, são indicativos de que a espécie não fica exposta à restrições hídricas, estando 
adaptada ao ambiente de Mata de Galeria. Já a ocorrência de sílica na epiderme, colênquima, 
fibras xilemáticas envolvendo o feixe vascular e macroesclereídes indicam adaptação a 
exposição aos ventos do Cerrado brasileiro. Canais secretores e macroesclereídes que 
atravessam epiderme e mesofilo da lâmina foliar podem ser usados como marcadores 
anatômicos a serem utilizados na taxonomia da espécie. 
 
Agradecimentos 
 
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) e a 
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (CAPES) pela concessão de 
bolsa. À Universidade do Estado de Mato Grosso pelo apoio ao Projeto portaria n. 2369/2017; 
e ao PELD Cerrado-Amazônia por ceder o material botânico. 
 
Referências 
 
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JOHANSEN, D. A. Plant microtechnique, Editorial McGraw Hill, London, UK. 1940. 523 
p. 
 
 
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_________________________________ 
Projeto/número do projeto: Anatomia de espécies arbóreas como preditoras de mudanças 
ambientais no Sul da Amazônia / nº2369/2017/Unemat. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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