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A familia na perpectiva de Deus

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Dedicatória
Para minha esposa, Sara. Para minha sogra, Gildete. Para
minha filha, Alice, que enche a minha vida de alegria.
Para minha mãe, Ilza, cujo amor e graça sou diariamente
inspirado.
Para meu pai, Lupério, e irmãos, Miguel e Nilson.
Alan Ruas. Soli Deo Gloria
Sumário
Prefácio
Agradecimentos Ideologia de Gênero: Definição Introdução: A Criação da
Família Capítulo 1: O Plano de Antônio Gramsci A Escola de Frankfurt A
Estratégia Gramsciana no Brasil A Política LGBT no Brasil Destruição ou
Adulteração da Bíblia Capítulo 2: Deus e o Gênero Macho e Fêmea O
Casamento na Perspectiva da Ideologia de Gênero Capítulo 3: O Casamento
na Perspectiva de Deus O Casamento Bíblico O Casamento Bíblico É
Monogâmico O Casamento Bíblico É Heterossexual O Casamento Bíblico É
de Jugo Igual No Casamento Bíblico, Homem e Mulher São Iguais Desiguais
No Casamento Bíblico, os Papeis dos Cônjuges São bem Definidos O “para
quê” da Criação da Mulher O “para quê” da Criação do Homem Os Benefícios
do Casamento de Acordo com a Bíblia Os Filhos no Lar Cristão Capítulo 4:
Moral e Imoral: Quem os Qualifica é o Amor?
Capítulo 5: Esperança para os Homossexuais Conclusão:
O Propósito da Família Deus Está no Controle da História, portanto, Descanse
Nele!
Prefácio
Tenho a subida honra e grande alegria de apresentar aos
leitores o livro A família na perspectiva de Deus: Uma resposta
à ideologia de gênero. Faço-o com retumbante entusiasmo e
isso por algumas razões que passo a elencar:
Primeiro, porque conheço o autor da obra. Alan Ruas é
ministro do evangelho, homem de vida irrepreensível, de
conduta ilibada, que escreve não como um teórico, mas como
um servo do Altíssimo, como um intérprete fiel das Escrituras.
Segundo, porque sua obra é apologética sem deixar de
ser pastoral. Alan é um erudito. Sua mente peregrina garimpou
obras importantes antes de escrever seu texto. O conteúdo que
o leitor tem em mãos é fruto de um laborioso trabalho. O
esforço laboral do autor aparece em cada página desta
consistente obra.
Terceiro, porque o autor traz à baila um assunto polêmico
e atual, que ocupa a mídia e as discussões nos centros
acadêmicos, nos parlamentos e nas cortes. Faz isso com
perícia invulgar. Busca fontes primárias. Expõe as entranhas
desse grande conflito que marca a sociedade hodierna. Mostra
como essa tentativa insana de desconstruir a família esteve na
pauta de grandes pensadores do passado e como essa
tentativa ainda insiste em atacar os alicerces da família.
Quarto, porque o autor deixa claro que a família foi
instituída por Deus. O próprio Deus estabeleceu princípios
permanentes que devem regular a família. O casamento é
heterossexual, monogâmico, monossomático e indissolúvel. O
casamento foi instituído por Deus para cumprir o mandato
cultural, social, moral e espiritual. Os papéis no casamento
precisam ser entendidos para que não haja competitividade
entre marido e mulher, mas complementaridade.
Quinto, porque o autor não apenas conhece com
profundidade o assunto em tela, mas o expõe com clareza
diáfana, com eloquência notória e com fidelidade inegociável às
Escrituras.
Minha palavra final é de congratulações a Alan Ruas pela
primorosa obra e de recomendação efusiva aos leitores. Estou
certo de que sua vida será impactada com a leitura deste
precioso livro.
Boa leitura! 
Hernandes Dias Lopes
Agradecimentos
A Deus, razão da minha existência, bem maior. Deus, creio,
tem sido o meu maior incentivador, pois Ele — no dizer do
apóstolo Paulo — “é quem efetua em [nós] o querer como o
realizar, segundo a sua boa vontade” (Fl 2.13). Deste modo, a
minha crença é de que Deus nos impulsiona a produzir obras
que glorifiquem o seu santo nome (Tg 1.17). Portanto, a Ele
toda honra e glória.
Ao Rev. Hernandes Dias Lopes pelo carinho e atenção
direcionados a minha pessoa. Ao Rev. Itamar Bezerra pelas
orientações enquanto conversávamos acerca desse material.
Ideologia de Gênero: Definição
A ideologia de gênero é uma espécie de dicotomismo da
pessoa humana, pois separa o corpo do seu aspecto psicológico,
com intuito de separar o sexo biológico do gênero. Os ideólogos de
gênero, portanto, com isso, ensinam que o gênero não deve ser
definido a partir do sexo biológico, mas da psicologia de cada
indivíduo. Destarte, a ideologia de gênero sustenta a “tese” de que
cabe ao indivíduo definir o seu gênero independente da sua
realidade biológica e, por conseguinte, fazer com que a sua
sexualidade atenda as indicações subentendidas do aspecto
psicológico do seu corpo. Deste modo, na linguagem dos ideólogos
de gênero uma pessoa tem autonomia total para abjurar a sua
biologia, o seu sexo constituído geneticamente já que os
cromossomos XY e XX, os órgãos sexuais, isto é, biológicos, não
devem determinar o gênero em uma determinada pessoa. Assim,
uma pessoa que nasceu com órgão genital/biológico feminino, mas
que psicologicamente se vê menino, homem, e consequentemente
deseja ser homem, pode fazer o que a sua vontade quer, deseja,
pois a vontade, isto é, a psique é que determina o gênero e não a
condição biológica.
Contudo, a Palavra de Deus não ensina assim, pois Gênesis
1.27 diz que Deus criou macho e fêmea, homem e mulher,
masculino e feminino. Macho e fêmea são gêneros, e esses gêneros
são definidos por Deus a partir da realidade biológica, pois Adão foi
chamado de homem e Eva de mulher (Gn 3.16-20) já que a
constituição anatômica de ambos correspondia ao sexo biológico. O
genótipo definiu o fenótipo, por isso homem nasce com pênis e
mulher com vagina. Pênis e vagina são órgãos reprodutores, por
esse motivo Deus disse a Adão e Eva, ao macho e a fêmea:
“crescei e multiplicai” (Gn 1.28; 4.1). Homem e mulher na união
sexual podem reproduzir, mas homem com homem e mulher com
mulher não, pois a condição natural ou biológica do gênero
masculino e feminino impossibilita o masculino com o masculino
reproduzir tanto quanto o feminino com o feminino. Portanto, a Bíblia
só nos apresenta dois gêneros: o masculino e o feminino; gêneros
determinados a partir do sexo biológico. Assim, o sexo determina o
gênero em uma pessoa e não o seu aspecto psicológico.
Introdução: A Criação da Família
Nos últimos séculos a discussão em torno dos sexos foi
ganhando um espaço enorme na agenda das Universidades, [1]
pois inúmeros conceitos foram surgindo em torno da questão da
pessoa do homem e da mulher. Destarte, a família conjugal,
formada a partir da união matrimonial heterossexual, passou a
ser atacada, já que, na perspectiva de muitos segmentos
filosóficos e políticos desses últimos séculos, sua origem não se
deu por meio da união de um macho e uma fêmea no
casamento, uma vez que macho e fêmea se relacionavam
sexualmente sem compromisso nas civilizações antigas:
sustentam os segmentos filosóficos associados ao marxismo.
Logo, homem e mulher, de acordo com tais filosofias, não
necessitavam passar pelo casamento para manter relação
sexual um com o outro; o sexo era livre. Deste modo, o conceito
de família nas civilizações antigas estava para além da união
por meio do casamento do homem e da mulher. O marxismo
encabeçou uma filosofia contra a instituição da família. Karl
Marx [2] desconsiderava a família conjugal, formada por pai,
mãe e filhos, como uma família original. [3]
Na perspectiva de Marx, a família nas civilizações primitivas
tinha outro formato. [4] Segundo ele, a família que conhecemos
foi inventada em um momento da história pelo capitalismo. [5]
Na verdade, Marx, com a intenção de banir o sistema
capitalista, criou algumas teses, a saber: defendeu que o
problema da desigualdade social que, por conseguinte,
resultava na luta de classes, estava na má distribuição da
propriedade privada; [6] contudo, não se deu por satisfeito em
entender que só estava na má distribuição da propriedade
privada, passando subsecutivamente também a atacar a família
tradicional, pois passou a sustentar que a estirpe do que
chamava de desigualdade social era mantida por meio da
família tradicional, visto que ela [a família tradicional ou nuclear]havia sido criada pelo capitalismo.
Em Marx portanto é o capitalismo que gera a distribuição
desigualitária de recursos no seio da sociedade: “muitos com
pouco e poucos com muito” [7]; a concentração do poder
econômico nas mãos de alguns leva o que o marxismo
classificou de luta de classes.
A definição de classe social, tal como vemos atualmente, é segundo a ótica
de Marx. Ele separava as classes pelo seguinte aspecto: a relação dos donos
do capital e os vendedores de força de trabalho, que é o patrão e o
proletariado. Em nossa sociedade, as demais classes, independente da
situação econômica, partilham de um mesmo objetivo corriqueiro: lucrar. De
acordo com a história e os preceitos de Karl Marx e Friedrich Engels, a origem
da humanidade está fundamentada tão somente na luta de classes. Tal luta se
deu no decorrer dessa linha do tempo, em que os burgueses oprimiam os
proletariados. Quando surgiu a ideia de propriedade privada e dos meios de
produção, a sociedade começou a ser desmembrada em classes, que foram
as duas já mencionadas anteriormente. Dessa forma, o capitalismo está
ligado diretamente com as classes sociais. A divisão de classes sociais na
sociedade, segundo Marx, só acabará quando o capitalismo for extinto do
sistema político-econômico da organização social. Antigamente, nas
sociedades mais primitivas, não havia a hierarquização da sociedade. [8]
O macho burguês teria introduzido um conceito novo de
família que [tornou-se convencional] com intuito de aprisionar a
humanidade no sistema econômico capitalista, responsável, no
dizer de Marx, pela desigualdade socioeconômica.
Em suma, na cabeça de Marx, o macho burguês
proprietário dos meios de produção (terra, matérias-primas,
máquinas e instrumentos de trabalho) teria percebido que uma
espécie de família deveria ser criada para que o sistema
econômico capitalista fosse levado adiante. Assim, criou a
família convencional, a que conhecemos hoje.
Se alguém perguntasse a Karl Marx “que instituição
mantém o capitalismo vivo?” ele responderia, com certeza, a
família convencional. [9] A família tem um artífice, o macho
burguês, detentor do capital; e, por isso, a desigualdade
perdurava, já que o capitalismo teria criado a família
convencional, nuclear ou conjugal.
Deste modo, a família conjugal, segundo a ótica marxista,
foi instituída com o propósito de levar o espólio capitalista. Nas
entrelinhas, Marx ensinava que a família convencional foi
pensada e criada com um único propósito — aprisionar a
humanidade no sistema econômico capitalista. O blog
Marxismo Cultural declara em um dos seus artigos que a família
conjugal na visão marxista ajuda a manter o modo de produção
capitalista, já que ela [família conjugal] faz parte da
superestrutura ideológica cuja base econômica que a determina
é o modo de produção capitalista, eis a declaração:
Segundo os termos Marxistas, o modo de produção Capitalista é a base
econômica subjacente da sociedade e a família faz parte da superestrutura
ideológica. A base econômica determina a superestrutura ideológica. Para um
Marxista, não se pode destruir a família sem destruir o capitalismo; se o
capitalismo cria a família, então mal o capitalismo desapareça, a família
desaparecerá. [10]
Assim o marxismo fechou a questão, responsabilizando a
família, e, por conseguinte, passou a atacar a família
abruptamente com “venenos” ideológicos como: o sexo na
sociedade primitiva era livre; as mulheres se engravidavam sem
ter a necessidade da participação masculina na criação e
educação dos seus filhos. Por não existir família, o homem
[macho burguês] teve, segundo Marx, a necessidade de se
impor, criando a família.
Tais argumentos serviriam, para aos poucos, ir minando o
conceito da família conjugal nas gerações vindouras.
O projeto do Manifesto comunista, [11] escrito por Marx e Engels, em
1848, era acabar com o capitalismo, e tudo que estivesse associado
a ele, posto que sustentavam que a família conjugal fazia parte da
estrutura ideológica do capitalismo e, por conseguinte, levava o
capitalismo adiante, ela deveria ser destruída.
Marx foi um ateu [12] declarado. Nutria um sentimento perverso
contra o cristianismo. Foi um ferrenho inimigo dos cristãos.
Eguinaldo Hélio de Souza, acerca da hostilidade de Marx ao
cristianismo, escreveu:
Marx não era apenas um ateu. Era inimigo do cristianismo. Ele não deixou a
religião de lado, colocou-se contra ela. Uma coisa é não acreditar que Deus
exista. Outra coisa é lutar por tirar do coração das pessoas a confiança nesse
Deus. Ele adquiriu todo seu arsenal anti Deus com o falso teólogo Bruno
Bauer e o filósofo Feuerbach. Deles se escreveu em seus tempos de
estudante. O ateísmo de Marx certamente era de uma espécie extremamente
militante. Ruge escreveu a um amigo: “Bruno Bauer, Karl Marx, Christiansen e
Feuerbach estão formando uma nova “Montagne” (grupo mais radical da
Revolução Francesa) e fazendo do ateísmo o seu lema. Deus, religião,
imortalidade são derrubados de seu trono e o homem proclamado Deus. E
George Jung, um jovem próspero advogado de Colônia e partidário do
movimento radical, escreveu a Ruge: “Se Marx, Bruno Bauer e Feuerbach
juntos fundarem uma revista teológico-filosófica, Deus faria bem em cercar-se
de todos os seus anjos e se entregar à autopiedade, pois estes certamente o
tirarão de seu céu”. [13]
Tamanha era a hostilização de Marx para com Deus. O
cristianismo foi alvo dos ataques marxistas. Marx não hesitava
em desconsiderar as ideias fundamentais do cristianismo. A
família instituída por Deus foi veemente atacada. Os discípulos
dele levaram seu legado adiante. O veneno ideológico do
marxismo, contra a família conjugal, ganhou corpo e força nos
escritos de Friedrich Engels. [14]
Friedrich Engels, autor da obra A Origem da Família, da
Propriedade Privada e do Estado, [15] por exemplo, foi um
marxista que reproduziu o que Marx ensinou acerca da família,
pois a apresentação que é feita nessa obra, no que diz respeito
à família, estabelece uma desconstrução do que conhecemos
como família tradicional ou conjugal. Engels ensina, na obra em
questão, que a família atual conhecida como tradicional foi
inventada visando interesses capitalistas.
Engels cita [supostas pesquisas] feitas pelo advogado
americano Lewis Henry Morgan [16] com intuito de desconstruir
a ideia da família conjugal, restritiva. Segundo ele, Morgan fez
uma pesquisa experimental com civilizações antigas e chegou à
conclusão de que existem conexões de sistemas de parentesco
em escala global. Assim Engels cita Morgan:
Morgan, que passou a maior parte de sua vida entre os iroqueses, ainda hoje
estabelecidos no Estado de Nova York, e foi adotado por uma de suas tribos
(a dos senekas), encontrou um sistema de consanguinidade vigente entre
eles, que entrava em contradição com seus reais vínculos de família. Reinava
ali aquela espécie de matrimônio facilmente dissolúvel por ambas as partes,
que Morgan chamava “família sindiásmica”. A descendência de semelhante
casal era patente e reconhecida por todos; nenhuma dúvida podia surgir
quanto às pessoas a quem se aplicavam os nomes de pai, mãe, filho, filha,
irmão ou irmã. Mas o uso atual desses nomes constituía uma contradição. O
iroquês não somente chama filhos e filhas aos seus próprios, mas, ainda, aos
de seus irmãos, os quais, por sua vez, o chamam pai. Os filhos de suas irmãs,
pelo contrário, ele os trata como sobrinhos e sobrinhas, e é chamado de tio
por eles. Inversamente, a iroquesa chama filhos e filhas os de suas irmãs, da
mesma forma que os próprios, e aqueles, como estes, chamam-na mãe. Mas
chama sobrinhos e sobrinhas os filhos de seus irmãos, os quais a chamam de
tia. Do mesmo modo, os filhos de irmãos tratam-se, entre si, de irmãos e
irmãs, e o mesmo fazem os filhos de irmãs. Os filhos de uma mulher e os de
seu irmão chamam-se reciprocamente primos e primas. E não são simples
nomes, mas a expressão das ideias que se tem do próximo e do distante, do
igual ou do desigual no parentesco consanguíneo; ideias que servem de base
a umsistema de parentesco inteiramente elaborado e capaz de expressar
muitas centenas de diferentes relações de parentesco de um único indivíduo.
Mais ainda: esse sistema se acha em vigor não apenas entre todos os índios
da América (até agora não foram encontradas exceções), como também
existe, quase sem nenhuma modificação, entre os aborígines da Índia, as
tribos dravidianas do Dekan e as tribos gauras do Indostão. As expressões de
parentesco dos tamilas do sul da Índia e dos senekas-iroqueses do Estado de
Nova York ainda hoje coincidem em mais de duzentas relações de parentesco
diferentes. E, nessas tribos da Índia, como entre os índios da América, as
relações de parentesco resultantes da vigente forma de família estão em
contradição com o sistema de parentesco. [17]
Notem que Engels tenta estabelecer com base em uma
suposta pesquisa uma espécie de família totalmente oposta à
do Éden e, por conseguinte, de toda a Bíblia. A chamada
“família sindiásmica” seria, na pesquisa de Morgan, segundo
Engels, a família original. No começo, quer insinuar ele, não
existia esta estrutura familiar que conhecemos — pai, mãe e
filhos. A família restritiva não existia entre os povos antigos,
pois filhos no contexto familiar antigo tinham vários pais e
mães, assim Engels afirma: “Os sistemas de parentesco e
formas de família a que nos referimos diferem dos de hoje no
seguinte: cada filho tinha vários pais e mães”. [18]
Nitidamente, a sugestão de que a ideia de um pai e uma
mãe da família restritiva não existia nos povos antigos. Ele vai
mais longe quando declara:
No sistema americano de parentesco, ao qual corresponde a família
havaiana, um irmão e uma irmã não podem ser pai e mãe de um mesmo filho;
o sistema de parentesco havaiano, pelo contrário, pressupõe uma família em
que essa é a regra. Encontramo-nos frente a uma série de formas de família
que estão em contradição direta com as até agora admitidas como únicas
válidas. [19]
Nessa declaração ele sugere que irmãos podem ser pais
de um mesmo filho. Mais adiante ele escreve: “Não só na época
primitiva irmão e irmã eram marido e mulher, como também,
ainda hoje, em muitos povos é lícito o comércio sexual entre
pais e filhos”. [20] A relação incestuosa é condenada pela Bíblia
(Gn 19.30-38). Incesto é pecado. Filhos, de acordo com a
Bíblia, só podem ser gerados por um homem e uma mulher não
consanguíneos. Levítico 18.9 declara: “A nudez de tua irmã,
filha de teu pai ou filha de tua mãe, nascida em casa ou fora da
casa, a sua nudez não descobrirás”. Significa que irmãos
biológicos tendo sido criados juntos ou não, não podem copular
um com o outro.
Existem casos de irmãos que casaram sem saber que
eram irmãos. E só depois de anos de relacionamento conjugal
descobrem que são irmãos. O que deve ser feito nesses casos?
Eu entendo que a partir do momento que ambos se certificam
que são irmãos devem romper com o que Deus condena; pois,
é condenável pela Escritura Sagrada, é pecado. Pecado
confessa e deixa (Pv 28.13; 1Jo 1.5-10).
O caso dos Irmãos Patrick Stuebing e Susan Karolewski
que tiveram quatro filhos juntos chamou a atenção do mundo. O
caso ocorreu na Alemanha — que vê o incesto como crime.
Patrick foi condenado por crime de incesto e cumpriu três anos
de sentença na Alemanha. O casal de irmãos teve quatro filhos
juntos, dois dos quais descritos como portadores de deficiência
física. [21]
Patrick e Susan moveram um processo junto a Corte
Europeia de Direitos Humanos, alegando que tinham o direito
de viver uma vida em família, porém perderam e assim a
Alemanha estava autorizada a banir o incesto.
A surpresa foi que Patrick confessou ter se envolvido com
Susan depois de saber que ela era sua irmã biológica. O que
noticiava, na época, era que eles haviam se envolvido sem
terem ciência que eram irmãos.
Em entrevista à BBC em 2007, Patrick contou ter reencontrado a irmã Susan
somente aos 23 anos, quando viajou até Leipzig em 2000 para conhecer a
sua família biológica. Depois da morte da mãe, os dois afirmaram ter se
apaixonado.
“Eu não sabia que tinha um irmão quando era mais nova. Conheci Patrick e
fiquei surpresa”, admitiu na época Susan Karolewski, em entrevista à BBC.
Ela disse não sentir culpa pelo relacionamento incestuoso, e que esperava
conseguir mudar a legislação alemã. “Só quero viver com a minha família e
ser deixada em paz pelas autoridades e pela Justiça”. [22]
A Bíblia em Levítico 18.12 declara: “A nudez da irmã de teu
pai não descobrirás; ela é parenta de teu pai”. Levítico 20.17
declara: “E, quando um homem tomar a sua irmã, filha de seu
pai ou filha de sua mãe, e ele vir a nudez dela, e ela vir a sua,
torpeza é; portanto, serão extirpados aos olhos dos filhos do
seu povo; descobriu a nudez de sua irmã; levarão sobre si a
sua iniquidade”. Levítico 20.19 declara: “Também a nudez da
irmã de tua mãe ou da irmã de teu pai não descobrirás;
porquanto descobriu a sua parenta, sobre si levarão a sua
iniquidade”. Deuteronômio 27.22 declara: “Maldito aquele que
se deitar com sua irmã, filha de seu pai ou filha de sua mãe! E
todo o povo dirá: Amém!”. A Bíblia é taxativa — sexo entre
irmãos biológicos é pecado.
Engels sustenta ainda a ideia que homens tinham várias
mulheres e mulheres tinham vários homens.
A concepção tradicional conhece apenas a monogamia, ao lado da poligamia
de um homem e talvez da poliandria de uma mulher, silenciando como
convém ao filisteu moralizante sobre o fato de que na prática aquelas
barreiras impostas pela sociedade oficial são tácita e inescrupulosamente
transgredidas. O estudo da história primitiva revela-nos, ao invés disso, um
estado de coisas em que os homens praticam a poligamia e suas mulheres a
poliandria, e em que, por consequência, os filhos de uns e outros tinham que
ser considerados comuns. É esse estado de coisas, por seu lado, que,
passando por uma série de transformações, resulta na monogamia. Essas
modificações são de tal ordem que o círculo compreendido na união conjugal
comum, e que era muito amplo em sua origem, se estreita pouco a pouco até
que, por fim, abrange exclusivamente o casal isolado, que predomina hoje.
[23]
Sabemos que o intuito é deduzir que no começo da
civilização era assim, mas temos ciência que não era assim,
pois Deus criou um homem e uma mulher, isto é, Adão e Eva. O
casamento na perspectiva de Deus é monogâmico. O homem
por causa do pecado perverteu o que o Senhor Deus instituiu.
Deus criou o homem para ter uma única mulher e vice-versa
(Gn 4.1; Dt 17.17; 1Co 7.2; 1Tm 3.2,12).
Jesus Cristo citou Gênesis 2.24 como uma prova clara de que a poligamia (ter
mais de uma esposa) e o divórcio (exceto em caso de adultério) são
condenados por Deus (Mt 19.5). O apóstolo Paulo, escrevendo sob inspiração
do Espírito Santo, disse que há somente uma saída moral e legítima para o
caminho deixado por Deus para o sexo — o casamento (1Co 7.2). [24]
Apesar disso, os marxistas entendem que a poligamia, o
divórcio, entre outras coisas, eram naturais em civilizações
antigas. O propósito por detrás é atingir a família conjugal, pois
sugerem que [ela] foi criada e imposta por uma ação
discricionária do macho burguês. O homem [macho] teria criado
a família com intuito de subjugar a mulher e manter os
interesses do capital. A filósofa Marilena Chauí, articulista
política, tem defendido esse ponto de vista marxista. Segundo
Chauí, os pais são déspotas e quem defende a família é uma
besta. [25]
O excomunista Júlio Severo no blog Diário de um
exComunista, acerca da intenção do marxismo em relação à
família, elucida:
Marx, no Manifesto Comunista, compreende interações sociais como um
computador leria um código binário: algo puramente racional, objetificado.
Para este a família é uma instituição que deve ser abolida, pois é baseada
somente no capital, no ganho individual.
Assim, homens explorariam mulheres, pais explorariam crianças, e todos
viveriam em clima de guerra. Tais ideias foram endossadas por Gramsci, que
não pestanejou em acrescentar mais bobagem ao caldo, igualmente propondo
a destruição da “famíliaburguesa”. Para estes esquerdistas não existe amor.
Será que nasceram de uma máquina chocadeira? [26]
É certo afirmar, portanto, que na perspectiva marxista a
família foi institucionalizada pelo homem [macho] com intuito de
dominar. Assim, a família como conhecemos surgiu em um
momento em que o ser humano [do sexo masculino] percebeu
a necessidade de ser o mandatário nas relações que já existiam
na sociedade.
A mulher não estabelecia compromisso com o homem por
meio do casamento e tampouco tinha a necessidade de manter-
se em um relacionamento com ele; vivia livre e relacionava-se
com vários homens, justamente por ser a sociedade anterior a
instituição da família tradicional. Segundo o marxismo, tal
modelo de sociedade desnuda a ideia de que para um homem
e uma mulher se relacionarem sexualmente tinham que passar
pelo casamento. Nas palavras de Engels:
Reconstituindo retrospectivamente a história da família, Morgan chega, de
acordo com a maioria de seus colegas, à conclusão de que existiu uma época
primitiva em que imperava, no seio da tribo, o comércio sexual promíscuo, de
modo que cada mulher pertencia igualmente a todos os homens e cada
homem a todas as mulheres. E, com efeito, que encontramos como forma
mais antiga e primitiva da família, cuja existência indubitável nos demonstra a
História, e que ainda hoje podemos estudar em certos lugares?
O matrimônio por grupos, a forma de casamento em que grupos inteiros de
homens e grupos inteiros de mulheres pertencem-se mutuamente, deixando
bem pouca margem para os ciúmes. Além disso, numa fase posterior de
desenvolvimento, vamos nos deparar com a poliandria, forma excepcional que
exclui, em medida ainda maior, os ciúmes, e que, por isso, é desconhecida
entre os animais. Todavia, como as formas de matrimônio por grupos que
conhecemos são acompanhadas de condições tão peculiarmente
complicadas que nos indicam, necessariamente, a existência de formas
anteriores mais simples de relações sexuais e assim, em última análise, um
período de promiscuidade correspondente a passagem da animalidade à
humanidade. As referências aos matrimônios animais conduzem-nos, de
novo, ao mesmo ponto de onde devíamos ter partido de uma vez para
sempre. Que significam relações sexuais sem entraves? Significa que não
existiam os limites proibitivos vigentes hoje ou numa época anterior para
essas relações. [27]
De maneira artificiosa ele sugere que as “formas de
matrimônio por grupos que conhecemos são acompanhadas de
condições tão peculiarmente complicadas que nos indicam,
necessariamente, a existência de formas anteriores mais
simples de relações sexuais”. A forma simples, menos
complicada é a forma excepcional que ele chama de
“poliandria”, “casamento” de mulher com vários homens, pois,
assim escreveu: “Existiu uma época primitiva em que imperava,
no seio da tribo, o comércio sexual promíscuo, de modo que
cada mulher pertencia igualmente a todos os homens e cada
homem a todas as mulheres”. [28]
O casamento entre o sexo masculino e feminino não era o
ponto determinante para sustentação e multiplicação da espécie
humana, ensinavam os marxistas de plantão. Contudo, quando um
homem e uma mulher se uniam e procriavam, formando uma
família, as crianças dessa relação deveriam ser educadas pelo
estado. Deste modo, a família serviria apenas para a procriação.
O comunista George Orwell, em seu livro 1984, ensinou
que “o indivíduo é criado pelo estado. A família serve apenas
para procriação”. [29] A intenção do marxismo é implantar um
sistema que seja capaz de desconstruir a família original.
Cristãos não seguem as orientações dos homens depravados.
O que o homem depravado definiu. O que o homem pecador
perverteu.
A família foi criada por Deus com um pai, uma mãe, isto é,
um homem e uma mulher (Gn 2.24) e daí vieram os filhos (Gn
4.1-2). Portanto, a ideia exposta por Engels fundada em
pesquisas voltadas aos comportamentos dos homens
pecadores não serve de base para estruturar um argumento em
torno da origem da família.
É certo dizer que tanto Engels quanto Marx ensinavam
que a religião cega as pessoas, noutras palavras, em se
tratando da família, que a família apresentada na Bíblia foi
criada, inventada, para que as suas ideias [marxistas satânicas]
fossem aceitas.
Mas, devemos crer na Bíblia ou no marxismo? Claro que
na Bíblia. A Bíblia é a Palavra de Deus; assim, a Bíblia ensina
que a humanidade começou a partir do casamento de Adão e
Eva. Começou com o casamento monogâmico. Não começou
com a poliandria, nem com a poligamia.
Infelizmente no Brasil existem muitos segmentos políticos
filosóficos que seguem o idealismo marxista [30] e, por isso,
temos visto tantos ataques à família nestes últimos anos.
O que a maioria das pessoas teima em observar é que quanto mais
desestabilizada estiver uma sociedade, maiores as chances de uma revolução
triunfar. E quanto menos união familiar houver, maiores as chances do papai-
estado assumir a educação dos cidadãos, como no livro 1984, de George
Orwell. Você trocaria sua mãe por um partido político? Na prática é isso que
os comunistas querem. E estão conseguindo. [31]
O socialismo [marxista [32]] no Brasil tem representado
muito bem o seu pai Karl Marx, pois a família tem sido atacada
ferozmente. No Brasil e no mundo os ideais marxistas têm
causado estragos terríveis; no dizer de Eguinaldo Hélio de
Souza: “A violência gratuita, o imenso rio de sangue, a
perseguição religiosa, principalmente contra o cristianismo, o
ataque à família tradicional são apenas alguns dos frutos
podres do marxismo”. [33]
Devemos ficar atentos a ideologias políticas que fazem de
tudo para que a família seja destroçada. Vivemos um momento
difícil em nosso país. Hoje se fala muito em ideologia de
gênero. Muitos partidos políticos de linha ideológica marxista
estão levantando a bandeira da desconstrução sutil da família;
ardilosamente estão fazendo uso do poder político para invadir
escolas primárias com intuito de imprimir ideologias que têm
como meta desconstruir a família tradicional. Como citado, a
filósofa Marilena Chauí, articulista política de um partido de
esquerda, marxista, em uma escola declarou que quem
defende a família é um besta. Ela ainda declarou que pais
[homens] são déspotas.
Na verdade, a intenção por detrás dessa frase é incentivar
a homossexualidade, pois no dizer do movimento lésbico,
associado ao feminismo, que tem suas raízes no marxismo:
“Não se pode ser heterossexual e ser-se ao mesmo tempo um
bom socialista ou uma boa feminista”. [34] Destarte, muitos
jovens espalhados pelo mundo, adeptos de tais segmentos
ideológicos, foram abraçando a homossexualidade.
Os jovens foram instados a envolverem-se em relacionamentos
homossexuais de modo a que pudessem demonstrar as suas credências
esquerdistas. Hanif Kureishi, na sua novela “The Buddha of Suburbia”, toca
neste assunto numa cena onde um jovem ator indiano bissexual pede ao seu
amigo socialista que o beije para demonstrar o seu compromisso com a causa
socialista. Esta forma de pensar eventualmente desenvolveu-se até ao ponto
de se tentar demonizar por completo a heterossexualidade. [35]
Demonizar a heterossexualidade, nas entrelinhas, é
destruir a união estabelecida por Deus na criação entre um
homem e uma mulher (Gn 2.18-25). Vejam que o foco está na
destruição da família tradicional. A ideia do sexo livre, do sexo
entre pessoas do mesmo sexo, tem sido também uma maneira
de desestabilizar a família tradicional, formada por um pai
[macho] e por uma mãe [fêmea] como aponta o texto de
Gênesis 2.18-25.
A família conjugal é o princípio da criação de Deus. É o que
é natural — a heterossexualidade é natural —, união entre sexo
oposto, isto é, um homem e uma mulher. A homossexualidade é
portanto inatural, assim declarou Paulo acerca da
homossexualidade em Romanos 1.26 e 27, a saber:
26 [...] as mulheres mudaram o modo natural de suas relações íntimas por
outro, contrário à natureza;
27 semelhantemente, os homens também, deixando o contato natural da
mulher, se inflamaram mutuamenteem sua sensualidade, cometendo torpeza,
homens com homens, e recebendo, em si mesmos, a merecida punição do
seu erro.
Portanto, de acordo com a Palavra de Deus, é um
comportamento inatural, não natural.
Muitos segmentos ideológicos associados ao marxismo
estão ganhando corpo na sociedade nos últimos anos e,
infelizmente, pessoas das mais variadas faixas etárias estão
sendo arrebatadas por tais ideologias.
A ideologia de gênero, seguindo a mesma intenção de
desconstruir a família tradicional [formada a partir do
casamento] por um homem e uma mulher, tem sido nesses
últimos anos o estopim dos embates em torno das questões
que envolvem as funções de homem e de mulher na sociedade.
O movimento feminista, [36] influenciado pelo marxismo,
encabeçou a ideologia de gênero, passando a defender que as
funções específicas para o homem e para a mulher na
sociedade estão baseadas em conceitos machistas, em que o
homem mostra o seu desejo, como sempre mostrou, de
sobrepujar a mulher e, por isso, tais especificações devem ser
revistas e reformuladas.
O feminismo é um inimigo cruel da família tradicional;
ensina, como ensinava Karl Marx, que não se pode destruir o
capitalismo sem destruir a família, por isso, os constantes
ataques à família nos últimos anos. O projeto feminista gira em
torno da desconstrução da família. Em resposta à pergunta: Por
que é que as feministas atacam à família? O blog Marxismo
Cultural responde: “As marxistas-feministas começaram a
acreditar que, tal como a família era um aspecto do capitalismo,
o capitalismo não poderia ser destruído sem a destruição da
família”. [37]
O idealismo do movimento feminista ganhou projeção no
mundo por meio dos escritos da francesa Simone de Beauvoir,
ativista política feminista. Em seu livro O segundo sexo [38]
Simone ensina que “nenhum destino biológico, psíquico,
econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio
da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse
produto intermediário entre o macho e o castrado que
qualificam o feminino”. [39] Deste modo, no dizer de Simone, a
figura atual da mulher foi construída pela civilização.
Conquanto, segundo a Bíblia a família foi criada por Deus
(Gn 1.27-28) a partir da criação do homem e da mulher no
Éden. A descrição da criação do homem e da mulher, isto é,
Adão e Eva no Gênesis, estabelece o momento em que Deus
criou a família, pois a família surge a partir da união dos
primeiros seres humanos criados (Gn 2.18-24). Vejam que o
verso 24 estabelece a união do homem e da mulher, formando
uma só carne. Deste modo, podemos concluir que a família
originalmente começou com a união do primeiro homem [Adão]
com a primeira mulher [Eva], pois Deus criou o homem e a
mulher e os uniu por meio do casamento (Gn 2.21-24).
A origem da família, portanto, é antiga. A data em que ela
foi criada é a mesma da criação da mulher. A família começa
então com a criação da mulher. Deus cria a mulher para o
homem com esse objetivo. Os anos que a mulher tem de
criada, a família tem de instituída.
Deus deu aos regentes do jardim do Éden [Adão e Eva] o
mandato social, pois disse a ambos: “Crescei e multiplicai” (Gn
1.28); eles atenderam a ordem de Deus, pois, em Gênesis 4.1
diz que Adão coabitou com sua mulher (esposa) e teve filhos,
isto é, Caim e Abel. A família começa, portanto, no Éden com
Adão e Eva, nossos primeiros pais.
Deus, quando cria Adão e Eva, dá a eles três mandatos, a
saber: um mandato Cultural; um mandato Social e um mandato
Espiritual.
O mandato Cultural implicava e implica [40] em cuidar da
Terra e dominá-la. Temos em Gênesis 1.28 o domínio e
sujeição e em Gênesis 2.17 a guarda e o cultivo. Eles deveriam
guardar, dominar e cultivar a Terra.
Todas as formas de vida na terra foram, de forma específica, colocadas sob a
supervisão dos vice-gerentes humanos. Com esta responsabilidade, veio o
privilégio de usar as plantas, seus frutos e sua semente para manter a vida e
a energia para realizar as tarefas reais.
A humanidade poderia responder obedientemente ao mandato cultural para a
glória de Deus por causa da sua criação à imagem e semelhança de Deus.
Deus, através da exposição deste mandato, colocou a humanidade em um
relacionamento singular com o cosmos. Na realidade, foi um relacionamento
de governador sobre o domínio cósmico. Mas este governo envolvia trabalho.
O trabalho é, consequentemente, tanto um privilégio real como também uma
responsabilidade. [41]
Já o mandato Social implicava e implica [42] na união do
macho e da fêmea por meio do casamento. Em Gênesis1.28
temos a ordem crescei e multiplicai. Adão e Eva, homem e
mulher, deveriam unir-se por meio do casamento e gerar filhos
e filhas.
O relacionamento tinha que ser visto como um de igualdade diante de Deus.
Mas, para cumprir o mandato, a fêmea tinha que cumprir seus papéis
decretados como ajudadora apropriada, parturiente e mãe cuidadora. O
macho tinha que cumprir seus papéis reconhecendo a fêmea como carne de
sua carne e osso de seus ossos. Ele tinha que trabalhar com ela como agente
real mas também tinha que servir como cabeça, deixando seus pais, tomando
a mulher e se unindo a ela; e assim eles poderiam ser frutíferos como
parceiros casados equivalentes. Este mandato provê a base divinamente
ordenada para o casamento, para a família restrita e a família extensiva — os
clãs, as nações e a comunidade da humanidade de todo o mundo. O mandato
social é a base para o mandato cultural. Da família se desenvolve a sociedade
e a cultura. [43]
E, por fim, o mandato Espiritual, que implicava e implica
[44] na obediência à Palavra de Deus. Adão e Eva foram
chamados a cuidar e governar sobre a Terra, mandato Cultural;
foram chamados a crescer e multiplicar sobre a Terra, mandato
Social; mas, também foram chamados a viver em obediência a
Santa Palavra de Deus (Gn 2.17), mandato Espiritual.
Deus ordenou que eles não comessem do fruto da árvore
do conhecimento do bem e do mal e, devendo obedecer à
Palavra de Deus — ao mandato Espiritual.
A família, portanto, nasce no Éden. A humanidade cresce e
se multiplica quando Deus, por meio do casamento, une Adão e
Eva, fazendo-os uma só carne e, a partir daí, nasce a família.
Crescei e multiplicai, disse Deus (Gn 2.28). Assim,
O tão conhecido princípio da sociologia, a — família e a célula mater da
sociedade é, na verdade, uma percepção bíblica! Por isso mesmo a família
tem o seu caráter — sagrado, por ter sido criada por Deus com dois
propósitos: para a sua glória e a felicidade humana. Pense nas
consequências do princípio do mandato social nas relações marido/esposa,
família/igreja e família/sociedade. São quase inumeráveis. Assim, casamento
não é invenção humana, é mandato de Deus que deve ser obedecido e
cumprido. Nos três primeiros capítulos de Gênesis vemos diversas referências
às este mandato:
1. Deus abençoou e ordenou ao homem a fecundidade, multiplicação e o
enchimento da terra. Este último seria parte da estratégia para o exercício do
mandato cultural, do domínio e sujeição (Gn 1.28). Observe que a
fecundidade é uma das bênçãos do pacto da criação. É por isso que a
esterilidade é um tema frequente nas Escrituras, Deus demonstrando que é o
Senhor da vida e é Ele quem traz essa bênção.
2. Deus ordenou a união de homem e mulher como uma só carne (esse é o
comentário do autor do texto de Gênesis em 2.24). O homem deixa pai e mãe
para formar uma união nova entre dois indivíduos que tem a tarefa de fazer o
outro pleno no Senhor, assim como a herança que recebem dele (os filhos
são herança de Deus — Salmo 127). [45]
Gerard Van Groningen em A família da Aliança, acerca da
origem da família, pondera:
A família não aconteceu simplesmente, nem se desenvolveu com o tempo
dentro de um contexto social. A família foi planejada. Deus a planejou; Deus a
fez existir a partir de sua palavra. Ele fez isso de forma germinal. Ele deu
ordens específicas e concisas que alguém poderia considerar realmente
pesadas, mas elas foram claras. O que ele decidiu fazer, ele trouxe à
existência. Como ela deveria serformada e qual era o seu propósito foi
claramente estabelecido. “Também disse Deus: Façamos o homem à nossa
imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes
do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a
terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra. Criou Deus, pois, o
homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os crio”
(Gn 1.26,27).
Por favor, tome nota: o verso 26 nos diz que Deus falou no plural: “Façamos”.
Deus não estava falando com anjos, eles não são cocriadores, eles são seres
criados. O Deus trino estava falando dentro do infinito de si mesmo. [...] Deus
criou homem e mulher, ambos têm a sua imagem, ambos representam e
espelham Deus. A mulher faz isso tanto quanto o homem e juntos, o homem e
a mulher, receberam a ordem para serem frutíferos. Eles deveriam aumentar
seu número, deveriam encher a terra e conquistar isso juntos. [46]
Contudo, notem o que Simone de Beauvoir afirma em seu
livro O segundo sexo:
[...] pensa-se ainda em certas sociedades primitivas de filiação uterina, que o
pai não participa de modo algum na concepção do filho: as larvas ancestrais
infiltrar-se-iam sob a forma de germes no ventre materno. Com o advento do
patriarcado, o macho reivindica acremente sua posteridade; ainda se é
forçado a concordar em atribuir um papel à mulher na procriação, mas admite-
se que ela não faz senão carregar e alimentar a semente viva: o pai é o único
criador. [47]
O intento de desconstruir a ideia da família conjugal é
perceptível. Infelizmente, de maneira sagaz, Simone tenta
desconsiderar que a raça humana cresceu e multiplicou por
meio da família conjugal, isto é, da união entre o homem e a
mulher por meio do casamento. Deus criou o homem e a
mulher e celebrou o casamento entre ambos. O homem sem a
mulher não poderia constituir uma descendência. A mulher sem
o homem também não poderia constituir uma descendência;
por isso, Deus criou o homem e a mulher e só depois disse
“crescei e multiplicai” simplesmente por ser, a partir da criação
de ambos, possível à espécie humana crescer e multiplicar.
Entender que o pai não participava de modo algum da
concepção do filho é um absurdo e é claro que Simone não
sustentava tal mito, mas o que ela tenta fazer é desconsiderar a
importância do homem na vida da mulher, romper os laços.
Homem e mulher se completam. A família começa a partir da
união dos dois por meio do casamento.
Mas, infelizmente, Simone sugere que o casamento foi
inventado pelo homem para aprisionar a mulher, assim ela
pondera evocando o código romano:
É impressionante, por exemplo, que o código romano, a fim de restringir os
direitos das mulheres, invoque “a imbecilidade, a fragilidade do sexo” no
momento em que, pelo enfraquecimento da família, ela se torna um perigo
para os herdeiros masculinos. É impressionante que no século XVI, a fim de
manter a mulher casada sob tutela, apele-se para a autoridade de Santo
Agostinho, declarando que “a mulher é um animal que não é nem firme nem
estável”, enquanto à celibatária se reconhece o direito de gerir seus bens. [48]
Quando a Bíblia fala que o homem é o cabeça da mulher
no casamento (Ef 5.23) a Bíblia não está sugerindo
aprisionamento da mulher por parte do homem, mas
simplesmente um papel no lar. Deus definiu desde o princípio
esses papéis. Cabeça indica representação. Adão representava
a mulher no Éden e todos os seus descendentes que haveriam
de vir (Rm 5.12). Deste modo, a Queda (Gn 3) só acontece
quando Adão come do fruto, pois ele era o representante
federal da humanidade. A humanidade não estava em Eva no
Éden, mas em Adão, assim escreveu Paulo aos Romanos:
Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo
pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque
todos pecaram.
Porque até ao regime da lei havia pecado no mundo, mas o pecado não é
levado em conta quando não há lei. Entretanto, reinou a morte desde Adão
até Moisés, mesmo sobre aqueles que não pecaram à semelhança da
transgressão de Adão, o qual prefigurava aquele que havia de vir (Rm 5.12-
14).
Adão era o cabeça no casamento com Eva.
O homem foi criado primeiro e foi chamado primeiro à responsabilidade
depois do pecado (Gn 3.9-9). O restante das Escrituras coloca o macho como
sendo cabeça sobre o lar. Infelizmente estes são princípios da aliança que
temos negligenciado constantemente, não compreendendo bem o que é o
casamento, quais os papéis e funções no mesmo e, por consequência,
enfrentando inúmeros problemas dentro de nossas comunidades. O princípio
bíblico do marido como cabeça tem sido minado dia a dia por novas teorias
sociais e psicológicas. Elas não só atingem a família, marido, esposa e filhos,
mas também atingem a igreja e a sociedade como um todo. A mulher não
mais ocupa o papel de ajudadora, mas tem que sair em busca de sua
realização pessoal, carreira, independência e autonomia. Quando tomados de
forma distorcida esses elementos se tornam destruidores da família. [49]
O sinal do pacto na Antiga Aliança era a circuncisão, é o
que está descrito em Gênesis 17.1-14 e portanto só faria parte
do povo do pacto quem fosse circuncidado. Conquanto, as
mulheres não podiam ser circuncidadas, pois a circuncisão é a
retirada do prepúcio do órgão sexual masculino. Neste caso,
como ficavam as mulheres na Antiga Aliança? Fora do pacto?
Claro que não! Pois, elas eram representadas quando casadas
pelo esposo, quando solteiras, pelo pai.
Foi Deus quem instituiu o casamento. Marcos10.6-9
elucida:
6 porém, desde o princípio da criação, Deus os fez homem e mulher. 7 Por
isso, deixará o homem a seu pai e mãe [e unir-se-á a sua mulher], 8 e, com
sua mulher, serão os dois uma só carne. De modo que já não são dois, mas
uma só carne. 9 Portanto, o que Deus ajuntou não separe o homem.
Deus criou a mulher para unir-se [50] com o homem só por
meio do casamento (Gn 2.24; Ef 5.31). Casamento é benção. O
primeiro milagre de Jesus foi em uma festa de casamento (Jo
2.1-11). Casamento não deve ser encarado como prisão, como
cárcere privado imposto sobre a mulher com o intuito de tolher
sua liberdade. A relação marital deve ser prazerosa, pois o
casamento segundo o Senhor-Deus é explicitude de
cumplicidade e é a partir do casamento, na perspectiva de
Deus, que nasce a família.
A família foi criada por Deus. Deus criou o homem e a
mulher (Gn 1.27) e formou a partir dos dois a família (Gn 2.24).
Portanto, a origem da família formada por pai, mãe e filhos teve
origem no “princípio” e não no fim do século 18 e começo do
19, como afirma Marilena Chauí. A família na história começou
no Éden, deste modo, ela é muito antiga.
CAPÍTULO 1: O PLANO DE ANTÔNIO
GRAMSCI [51]
O plano de implantar o socialismo científico [52] no mundo
não morreu com Marx e Engels, pois Antônio Gramsci, marxista
apaixonado pelos ideais explicitados por Marx e Engels,
emergiu no mundo acadêmico com uma teoria estratégica para
que a ditadura do proletariado fosse implantada no ocidente.
O Padre James Thornton assim descreveu Antônio
Gramsci:
Nascido na obscuridade na ilha de Sardenha em 1891, Gramsci não era um
candidato primário a ser alguém que causaria um impacto significativo no
século 20.
Gramsci estudou Filosofia e História na Universidade de Turim, e rapidamente
se tornou num marxista aplicado, alistando-se no Partido Socialista Italiano.
Imediatamente após a Primeira Grande Guerra, ele estabeleceu o seu próprio
jornal radical, A Nova Ordem, e pouco depois ajudou a fundar o Partido
Comunista Italiano. [53]
Como já exposto até aqui, o marxismo foi e continua
sendo um ferrenho inimigo da família conjugal: a família do
Éden. Deste modo, assim como Marx e Engels, Gramsci vai
atacar a família nuclear, propondo uma desconstrução do que a
fundamenta, isto é, o cristianismo, num sentido estrito, Deus.
Deus é o fundamento da família, pois foi Ele que a instituiu.
James Joll reproduz o pensamento de Gramsci contra a
religião na seguinte declaração:
Nós somos parte do movimento da reformamoral e intelectual… cuja primeira
premissa foi a de que o homem moderno pode e deve viver sem o apoio da
religião… sem a religião revelada, a religião positivista a religião mitológica ou
qualquer outro de seus ramos que se queira nomear. “Na consciência dos
homens, o Príncipe [o Partido] assume o lugar da divindade ou o imperativo
categórico e torna-se a base de um moderno laicismo e uma completa
laicização de todos os aspectos da vida e todo relacionamento habitual. [54]
Na perspectiva marxista de Gramsci uma nova ordem
deveria ser implantada na sociedade. Que ordem? O socialismo
marxista. Uma vez que para Marx “a religião é o ópio do povo” e
“a autoconsciência do homem é a mais alta divindade que
existe”, [55] ela, a religião, deve ser desconstruída. Os valores
religiosos devem ser revogados por uma nova era — a
construção de uma nova hegemonia. Não abruptamente, mas
paulatinamente.
Hegemonia [56] em Gramsci de acordo com Ricardo Costa
é:
[…] a capacidade de um grupo social unificar em torno de seu projeto
político um bloco mais amplo não homogêneo, marcado por contradições
de classe. […] Logo, a hegemonia é algo que se conquista por meio da
direção política e do consenso e não mediante a coerção. Pressupõe,
além da ação política, a constituição de uma determinada moral, de uma
concepção de mundo, numa ação que envolve questões de ordem
cultural, na intenção de que seja instaurado um “acordo coletivo” através
da introjeção da mensagem simbólica, produzindo consciências falantes,
sujeitos que sentem a vivência ideológica como sua verdade. [57]
Segundo Gramsci, “toda relação de hegemonia é
necessariamente uma relação pedagógica”. [58] Em suma:
É uma relação social ativa de modificação do ambiente cultural
existente. Na luta hegemônica, a difusão da nova concepção de mundo,
a criação do novo terreno ideológico exige uma ampla reforma intelectual
e moral. É preciso que a ideia penetre no povo, torne-se costume,
persuasão e fé coletiva. A nova concepção de mundo, para que se
transforme em realidade prática, terá que ser vivida pelas massas com a
intensidade das crenças populares, como uma fé. [59]
A mudança virá com a implantação de uma nova maneira
de enxergar o mundo e seus valores. Assim, de acordo com
Gramsci, o marxismo não havia logrado êxito no ocidente pela
razão de Marx ter adotado a “revolução armada” como
estratagema de implantação.
Karl Marx defendia a ideia de que a sociedade era injusta porque explorava o
trabalhador. Era necessário que através de um método revolucionário
(armado), a classe trabalhadora tomasse posse do governo, implantando uma
ditadura do proletariado, controlando os meios de produção. E essa ditadura
seria uma ponte para uma sociedade que, ao final, seria justa, sem classes,
sem governo.
Em suma, o ideal de Marx era a implantação de um paraíso terrestre, de uma
sociedade justa, perfeita, através do poder criativo do mal. [...] Afirmar a força
criativa do mal, do negativo, que da destruição faz surgir algo de bom é um
princípio da filosofia hegeliana.
“Dê asas à maldade e acontecerá algo de bom”. Foi o que Hegel
propôs com a sua dialética. Marx levou tal conceito à prática. No caso de
Marx e da revolução armada, a luta seria suprassumida, levada para
cima. Matar, destruir, hostilizar a civilização, trazer abaixo a ordem foi o
caminho adotado (ou proposto) por ele para a produção de uma ordem
superior. [60]
Marx imaginou, segundo Gramsci, que a ditadura do
proletariado só podia ser implantada por meio da força —
guerra.61 Na verdade, a guerra [violência] nunca foi e nunca
será a solução para nada. O padre Paulo Ricardo em uma
palestra sobre a origem do marxismo cultural, sobre essa visão
de Marx afirmou:
Marx previa que haveria um conflito pan-europeu; um conflito da Europa
inteira; uma guerra da Europa inteira. E quando acontecesse esse conflito os
trabalhadores, os proletários oprimidos ao invés de pegar nas armas para
lutarem contra outros trabalhadores de outros países iriam se unir entre si
contra os seus patrões, contra os seus opressores. Então, por exemplo,
quando estourasse a guerra os trabalhadores da Alemanha iriam se unir com
os trabalhadores da França contra os patrões; era isso que a doutrina clássica
marxista previa: um conflito pan-europeu e nesse conflito pan-europeu a
panela de pressão iria estourar e os trabalhadores iriam lutar pelos seus
interesses de classe; não haveria trabalhador lutando contra trabalhador, mas
iriam lutar contra os seus patrões.
Marx morreu; e como Marx previa aconteceu realmente o conflito pan-europeu
alguns anos depois — é o que nós conhecemos hoje como Primeira Guerra
Mundial, que aconteceu de 1914 a 1918. Acontece, porém que o que Marx
previu, que os trabalhadores iriam se unir, não aconteceu. O kaiser da
Alemanha Wilhelm II disse: “não há mais partido, somos todos alemães e os
alemães todos se uniram contra os outros países. O que aconteceu? Horror
dos horrores para os marxistas: eles viram trabalhadores pegarem em armas
e matar outros trabalhadores de outros países, ou seja, trabalhadores
pegaram em armas para defender o interesse dos capitalistas, isto para os
marxistas era pior do que o apocalipse. [61]
Deste modo, logo após o término da guerra em 1918
marxistas em todo o mundo estavam desesperançosos quanto
à implantação do comunismo no Ocidente. Contudo, havia
restado uma “luz no fim do túnel”, pois em 1922 o marxismo
ascende na Rússia com Lênin.
Lênin, marxista, em 1917 liderou a chamada “Revolução
Russa” com intuito de destituir a autocracia imperial e implantar
o comunismo — ele logrou êxito, pois em 1922 os chamados
bolcheviques [integrantes da facção do Partido Operário Social-
Democrata Russo], que estavam sob sua liderança, com a
ajuda do Exército Vermelho, destituíram o governo provisório,
instalado logo depois da queda da autocracia imperial, por
conseguinte, criaram a União Soviética sob o sistema político
comunista. [62] Segue abaixo uma imagem que revela a Guerra
Civil gerada pela revolução russa:
[63]
“Nesse contexto, a Revolução de Outubro tornou-se o
modelo de todas as revoluções sociais, impondo-se em
diversos países, independente da diversidade de condições
culturais e históricas, como foi o caso na Alemanha.” [64]
O próprio Lênin reproduziu isso, pois em um discurso
declarou: “Mais uma vez torna-se evidente que o curso da
revolução proletária é idêntico em toda parte. Primeiro os
soviéticos se formam, depois espalham-se e se desenvolvem;
depois disso aparece, na prática, a questão: sovietes,
Assembleia Nacional ou Assembleia Constituinte. A maior
estupefação invade os chefes, e finalmente a revolução
proletária”. [65] Por essa razão, marxistas passam a “sonhar”
com a probabilidade de implantação do comunismo no
Ocidente.
A disputa entre esquerda e direita passa a ser
contundente. Adeptos do socialismo marxista passam a pensar
em um meio de gerar uma revolução do proletariado no
Ocidente, como a que houve na Rússia, para que o comunismo
marxista fosse içado. Porém, logo depois da Primeira Guerra
Mundial os movimentos de direita [na Alemanha] passam a
concentrar força no Partido Nacional Socialista, que deu a
vitória a Adolf Hitler em uma eleição direta. Com Hitler no poder
[na Alemanha] começa uma ferrenha perseguição contra os
defensores da revolução do proletariado. Deste modo, os
partidos de esquerda, que representavam os trabalhadores,
passam a ser perseguidos em toda a Europa. Um “balde de
água fria” começa a ser derramado no plano de implantar o
comunismo marxista por meio de uma revolução armada.
Marxistas em toda a Europa começam a ser perseguidos e
presos com a ascensão do nazismo encabeçado por Hitler.
Logo depois, vem a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e,
por conseguinte, o milagre econômico com o pós-guerra e a
consolidação do stalinismo na Rússia Soviética. [66]
A União Soviética esteve sob administração de Lênin de
1922 a 1924. O esforço de anos de revolução não durou muito,
pois com a morte de Lenin em 1924 muitas coisas mudaram já
que dentro do partidocomunista “uns acreditavam que a
revolução tal como ocorrera na Rússia deveria ser expandida
para outros países no mundo, enquanto uma ala acreditava que
a revolução deveria ser restrita ao que viria a ser a União
Soviética”. [67]
O representante maior do primeiro argumento era Leon Trotsky, enquanto
Stalin defendia que a revolução deveria ficar na Rússia. Após a morte de
Lênin, as duas correntes de pensamento entraram em choque para definir
quem seria o sucessor. Passado algum tempo de debate, o partido escolheu a
corrente de Stalin, assumindo este a liderança da União Soviética.
O governo de Stalin começou rigoroso, o líder do partido assumiu uma
conduta de ditador e passou a caçar e matar todos que pudessem causar
alguma ameaça ao sistema. Trotsky, derrotado, saiu insatisfeito e passou a
ser um grande crítico do governo stalinista. Como punição, Stalin mandou
matar a machadadas o opositor que estava exilado no México. [68]
Mais uma vez o “sonho” de implantar o comunismo
marxista fora da Rússia cai por terra. Stalin se uniu aos Estados
Unidos na Segunda Guerra Mundial contra Hitler. Esquerda e
direita juntos mais uma vez. O que havia acontecido na
Primeira Guerra foi reproduzido na Segunda. Trabalhadores
lutando ao lado de seus patrões contra o “insano” Hitler. Assim
escreveu o mestre em história pela UFJF Antônio Gasparetto:
Durante a Segunda Guerra Mundial, Stalin, juntamente com a União
Soviética, esteve ao lado dos combatentes ao nazismo e foi decisivo na
derrota sofrida pela Alemanha de Hitler. A União Soviética e os Estados
Unidos se configuraram como os grandes vencedores da guerra, em 1945.
A esperança de que o comunismo marxista haveria de ser
implantado em solo ocidental, logo após a Primeira Guerra
Mundial, em função do resultado satisfatório da Revolução
Russa de 1917, havia mais uma vez morrido.
Marxistas concluíram então que a visão de que por meio
de uma revolta do proletariado nasceria uma guerra onde
trabalhadores espalhados pelo mundo tomariam o poder, não
vingaria. Pois, os resultados obtidos não foram os esperados, já
que ao invés da implantação da ditadura do proletariado veio a
consolidação do capitalismo — em boa parte do mundo.
Portanto, em síntese, a estratégia marxista da “revolução
armada” não poderia ser mais vista como uma boa estratégia
para a implantação do comunismo. Uma nova teoria deveria ser
construída; foi exatamente isso que Gramsci havia percebido.
Uma vez que Gramsci percebeu que Marx estava
equivocado quanto ao meio de implantar o socialismo, criou a
chamada “revolução intelectual”.
Basicamente, o que Gramsci propôs foi a renovação da metodologia
comunista e a racionalização e actualização das estratégias antiquadas de
Marx. É de ressalvar que a visão futura de Gramsci era inteiramente marxista
e ele aceitava a validade da visão do mundo marxista. Onde ele se distinguia
dos demais era no processo através do qual a tal visão do mundo obteria a
vitória. Gramsci escreveu que:
... pode e deve existir uma "hegemonia política" mesmo antes de se assumir o
poder governamental, e de modo a que se possa exercer a liderança política
ou hegemonia, não se pode contar apenas com o poder ou com a força
material que são dadas pelo governo. O que ele quis dizer é que é dever dos
marxistas conquistar as mentes e os corações das pessoas, e não depositar
as esperanças futuras só na força ou no poder. [69]
O que seria essa “revolução intelectual”? Inverter os
valores morais já instalados na sociedade. Na perspectiva de
Gramsci, o comunismo [70] deveria atingir as pessoas de uma
maneira que elas viessem a amá-lo. A guerra poderia impor o
sistema comunista sobre as pessoas pela força, mas elas
nunca iriam amá-lo, pois ninguém consegue amar um opressor.
O mundo ocidental não foi atingido, segundo Gramsci,
pelos ideais da “Revolução Russa” por ela ter sido uma
“revolução armada”. A revolução de Lênin durou algum tempo,
mas ficou localizada e automaticamente foi perdendo força;
justamente por não ser a “revolução armada” o ideal para que o
sistema político comunista seja implantado em uma esfera
social maior, afirmava Gramsci.
Em 1926, na Itália, Gramsci foi condenado a 20 anos de
prisão por Benito Mussolini. Na prisão, ele teve a liberdade para
pensar e escrever. Logo, foi nos anos em que esteve preso que
escreveu 10 cadernos chamados “cadernos do cárcere”
contendo todo o seu esquema estratégico de implantação do
comunismo. Na verdade, ele, ao escrever, teve o intento de
criar uma engenharia social que fosse capaz de destruir valores
já encarnados por gerações anteriores na cultura ocidental, pois
acreditava que existiam valores morais e políticos, já instalados
na sociedade ocidental que, como travas, impediam o avanço
do comunismo.
Quais seriam essas travas? Na visão de Gramsci, na
sociedade ocidental existiam três travas que impediam o
avanço do comunismo, a saber: 1) a lógica grega, que tem por
base a busca pela verdade e a necessidade de uma coerência;
2) o direito romano, que tem como premissa a propriedade
privada que, por sua vez, implantou nas pessoas o conceito da
obtenção de imóveis ou propriedades, com base na
meritocracia; 3) a moral judaico-cristã, que tem como base os
Dez Mandamentos.
Em síntese, a proposta é estabelecer uma nova ordem de
valores. Gramsci percebeu que o caminho para se estabelecer
o comunismo de maneira preeminente seria desconstruindo
valores morais já definidos. Os valores cristãos deveriam ser
revogados, pois segundo ele a moral cristã estava poluída.
James Joll, referindo-se às palavras de Gramsci acerca da
moral cristã, escreveu:
…em 1917, publicou uma tradução de If, de Kipling, como “um breviário para
os anticlericais” (Breviario per Laici), exemplo de moral não poluída pelo
cristianismo, que pode ser aceita por todos os homens. [71]
O cristianismo possui uma moral poluída, afirmava
Gramsci; deste modo, a moral cristã deveria ser destruída. Mas,
como? Ele desenvolveu um processo com etapas.
Etapas para o processo
A primeira fase para se obter a "hegemonia cultural" duma nação é a
debilitação dos elementos da cultura tradicional: As igrejas são, portanto,
transformadas em clubes politicamente motivados, que colocam ênfase na
"justiça social" e no igualitarismo, e onde as doutrinas milenares e os
ensinamentos morais são "modernizados" ou reduzidos até ao ponto da
irrelevância; 2. A educação genuína é substituída por currículos escolares
"emburrecidos" e "politicamente corretos", e os padrões [acadêmicos] são
reduzidos de um modo dramático;
3. Os órgãos de informação são moldados de modo a serem instrumentos de
manipulação em massa, e instrumentos de assédio e descrédito das
instituições tradicionais e dos seus porta-vozes;
4. A moralidade, a decência, e as virtudes do passado são ridicularizadas
incessantemente;
5. Os membros tradicionais e conservadores do clero são caracterizados
como falsos, e os homens e mulheres virtuosos são classificados de
hipócritas, convencidos e ignorantes. [72]
No esquema gramsciano, a implantação do comunismo
marxista viria paulatinamente, comendo pelas beiradas; de
maneira discreta, mas eficaz. A cultura vigente deveria ser
debilitada para que costumes outrora não aceitos fossem aos
poucos sendo aceitos e assim um novo modo de enxergar a
vida e o mundo transpusesse novas gerações.
O Padre James Thornton acerca disso escreveu:
As tentativas de demolição de tal barreira revelaram-se improdutivas uma vez
que só geraram forças contrarrevolucionárias poderosas, consolidando-as e
tornando-as potencialmente mortíferas. Devido a isto, em vez dum ataque
frontal, seria muito mais vantajoso e menos perigoso atacar a sociedade do
inimigo subtilmente com o propósito de transformar a mente colectiva da
sociedade gradualmente durante um período de algumas gerações da
precedente visão de mundo cristã para uma mais de acordo com o marxismo.
[73]
Deste modo, na linguagem gramsciana a cultura não é
mais um suporte de apoio à herança nacional, e um veículo
para a transmissão dessa herança para as geraçõesfuturas,
mas sim um meio de "destruir as ideias ... apresentando aos
jovens não os exemplos heroicos, mas apresentando de modo
deliberado e agressivo os degenerados”. [74]
Desta forma, no plano estratégico de implantação do
comunismo gramsciano, a cultura é o meio pelo qual se
implanta valores avessos aos valores já encarnados no senso
comum, valores morais e valores políticos. Assim, os valores
cristãos seriam os mais atacados, pois eles estabelecem regras
comportamentais que descartam qualquer ameaça ou
enfrentamento em nome de uma filosofia de poder. Gramsci via
a moral cristã como uma moral poluída, justamente por ser ela
contra qualquer manifestação contrária a vontade de Deus.
Gramsci deduziu que o mundo civilizado havia sido saturado com o
cristianismo por 2000 anos e que o cristianismo era a filosofia dominante e o
sistema moral na Europa e na América do Norte. De forma prática, a
civilização e o cristianismo encontravam-se inextricavelmente ligados. O
cristianismo tinha se tornado tão integrado na vida diária de quase todos,
incluindo da vida dos não-cristãos que viviam em terras cristãs, e era tão
universal que formava quase uma barreira impenetrável para a nova
civilização revolucionária que os marxistas queriam criar. [75]
Deus, no esquema gramsciano, deve ser marginalizado.
Os valores morais definidos por Ele, para a vida em sociedade,
devem ser enfraquecidos e consecutivamente destruídos. Deste
modo, os valores familiares já encarnados na cultura ocidental,
há anos, passaram a ser atacados.
Foi assim que militantes gayzistas, feministas e abortistas ganharam espaço
no espectro político. Se antes homossexuais eram assassinados por Stalin ou
Hitler, hoje são sordidamente usados como manobra política. Se antes
mulheres eram maltratadas pelos esquerdistas, hoje têm suas histerias
políticas incentivadas pelos vermelhos. Vale tudo para chegar à revolução,
não é mesmo?
[...] a alarmante feminilização da família, através do crescimento do número
de divórcios, do igualitarismo totalitário e da ridicularização do homem. Não
por acaso, em todo o mundo observam-se inúmeras inversões de valores
familiares tradicionais. Em meio à neurose feminista, a figura paterna é
minimizada e mulheres tornam-se pedaços de carne na TV. No mais,
incentivam-se o assassinato de bebês e o abandono de idosos. Perde-se o
sentido do matrimônio. Perde-se o sentido da união. Qual é o próximo passo?
Crianças criadas pelo estado, como queria o Sr. Marx? [76]
A família sempre esteve na mira dos marxistas. Lutaram e
lutarão contra ela. O projeto de Gramsci inclui aceitar tudo que
estiver na contramão do usual, convencional, assim
gramscistas estão prontos a aceitar qualquer ideologia que seja
contra a família tradicional, daí a razão da ideologia de gênero
ter sido tão aceita em nosso tempo. Na verdade, tudo que for
útil para descontruir valores cristãos, na ótica gramscista
marxista, deve ser abraçado.
O projeto do mal desenvolvido por Gramsci foi levado
adiante por intelectuais na Alemanha. Em julho de 1924, em
Frankfurt, cidade alemã, um movimento liderado por filósofos,
psicólogos e sociólogos marxistas trouxe para o “século XX as
primeiras noções sobre Indústria Cultural e Cultura de Massa”.
[77]
A ESCOLA DE FRANKFURT
A destruição dos valores cristãos da família também esteve
presente na chamada Escola de Frankfurt. Escola formada por
intelectuais marxistas. [78] Segundo Barbara Freitag, autora de
A teoria crítica: ontem sempre:
Escola de Frankfurt designa, então, a instituição dos trabalhos de um grupo
marxista não ortodoxo que, em 1920, permanece à margem de um marxismo-
leninismo clássico, seja na versão teórico-ideológica, seja na linha militante e
partidária. [79]
É válido considerar que “o nome escola é sinônimo de
tendência, apenas. Bastante comum é o aluno perguntar o
endereço da escola em Frankfurt ou mesmo indagar sobre a
existência física dela. Mas, deve-se pensar escola como
tendência, movimento”. [80]
Tudo começou quando a partir do Instituto de Pesquisa
Social da Universidade de Frankfurt marxistas criaram a
chamada teoria crítica da sociedade. [81]
Com o advento da Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918),
o marxismo passou a viver uma crise teórica, pois como já
ponderei, Marx previu uma guerra entre trabalhadores e
patrões, em que trabalhadores se uniriam e pegariam em armas
contra seus patrões. Estouraria, na perspectiva marxista, na
Europa essa guerra; assim, como Marx havia previsto, de fato
houve a guerra; a guerra veio, mas não aconteceu o que Marx
havia previsto em relação aos trabalhadores e seus patrões,
pois o inverso aconteceu. Trabalhadores se uniram com seus
patrões para lutarem juntos em defesa dos interesses do
mesmo país: alemães trabalhadores e patrões estavam do
mesmo lado. Para os marxistas, esse fato foi o nunca
imaginado. O marxismo estava, por essa razão, em crise. A
teoria marxista [da revolução armada do proletariado contra
seus patrões] havia sido na prática desconsiderada. [82]
Por essa razão, marxistas passaram a buscar uma
resposta para o que havia acontecido. Muitos chegaram à
conclusão de que houve uma alienação [83] do proletariado, ou
seja, os trabalhadores haviam alienado os seus direitos de
classe quando lutaram junto com seus patrões. A indagação
pós-guerra em torno dessa questão foi: Quem havia alienado o
trabalhador? A resposta foi: “a civilização ocidental”. [84]
Consequentemente, a Escola de Frankfurt surge com o
propósito de desconstruir os valores encarnados na civilização
ocidental, pois, assim como Gramsci, os filósofos marxistas de
Frankfurt chegaram à conclusão de que de fato existia no
Ocidente uma maneira de entender a vida que não permitia a
implantação do marxismo e, por isso, passam a criticar a
sociedade ocidental. Todos os valores vigentes passam a ser
ridicularizados. A cultura ocidental, na linguagem dos
intelectuais de Frankfurt, deveria ser dizimada. Censuras
escritas das mais variadas foram feitas à sociedade ocidental. A
Escola de Frankfurt passou a disseminar a chamada, como já
expus, “Teoria Crítica”, uma espécie de “Revolução Intelectual”
desenvolvida por Gramsci. Os valores cristãos estavam na mira
dos letrados críticos da sociedade ocidental.
Em Gramsci, vimos a primeira tentativa de resolver o
problema da crise do marxismo no Ocidente. Destarte, a Escola
de Frankfurt é a segunda tentativa, ambas possuem uma
semelhança estratégica de implantação do marxismo no
Ocidente, a destruição dos valores cristãos desenvolvidos no
Ocidente. Assim como Nietzsche [85] havia apregoado a
libertação do Ocidente dos valores cristãos, os intelectuais de
Frankfurt estavam fazendo. Como bem ponderou o filósofo
católico Padre Paulo Ricardo:
Uma segunda reação à crise marxista foi a reação pessimista da Escola de
Frankfurt, que via a civilização ocidental como algo extremamente negativo. A
tentativa de desconstrução do mundo ocidental era a força de seu trabalho,
através da proposição da Teoria Crítica como um caminho a ser adotado,
numa atitude de constante crítica e destruição ante a civilização ocidental. Se
ela cair, o mundo será melhor. A Escola de Frankfurt, porém, não tinha um
projeto para o pós-destruição, pois também acreditava no poder criativo do
mal, na certeza de que se houvesse destruição, a ordem, de alguma maneira
desconhecida, iria surgir. [86]
Em suma, a tese levantada pela Escola de Frankfurt foi de
que para construir é preciso destruir. Na verdade, o intento era
estudar a civilização ocidental com o propósito de destruí-la. [87]
A influência teórica de Hegel, [88] de Nietzsche [89] e de Freud
[90] esteve presente nos escritos oriundos da Escola de
Frankfurt.
Intelectuais como Max Horkheimer, [91] Herbert Marcuse [92] e
Theodor W. Adorno, [93] expoentes dessa escola, passaram a
propalar a visão marxista contra a cultura cristã. Brutalmente
atacavam os valores cristãos; neles “a cultura tradicional cristã é
qualificada de ‘repressiva’, ‘eurocêntrica’, ‘racista’ e, desde logo,
indigna da nossa contínua devoção. Parao seu lugar, o primitivismo
puro mascarado de ‘multiculturalismo’ é colocado como o novo
modelo”. [94]
Contudo, Horkheimer, Marcuse e Adorno, entre outros
intelectuais da Escola de Frankfurt, não permaneceram muito
tempo em Frankfurt, pois logo que o nazismo eclodiu com força
na Alemanha, sob o comando de Adolf Hitler, eles tiveram que
fugir para os Estados Unidos. Conquanto, apesar de terem
saído da Europa por medo de uma represália nazista, não
deixaram de disseminar o veneno da Escola de Frankfurt em
solo americano. Nos Estados Unidos, eles se fixaram na
Columbia University. [95]
Assim, de Frankfurt, em função da ameaça nazista, no ano
de 1934 o Instituto de Pesquisa Social foi transferido para New
York. [96] A localidade do Instituto havia sido mudada, mas a
intenção, não. Logo, a Escola de Frankfurt, por meio dos seus
representantes, tentou minar a sociedade americana, atacando
os valores já presentes nela, com intuito de fazer com que uma
revolução acontecesse.
Os Estados Unidos, de origem cristã protestante, foram
formados a partir dos valores cristãos, que estavam muito bem
definidos e enraizados em sua cultura; portanto, foi contra
esses valores que os intelectuais de Frankfurt se insurgiram.
Passaram a atacar a família tradicional americana.
Max Horkheimer determinou que a aliança profunda dos americanos à família
tradicional era um indício da nossa inclinação nacional para o mesmo sistema
fascista de onde eles tinham fugido. Explicando a conexão entre o fascismo e
a família americana, ele declarou: Quando a criança respeita na força do seu
pai uma relação moral e aprende deste modo a amar o que a sua
racionalidade reconhece como sendo um fato, ele experimenta o seu primeiro
treino do relacionamento autoritário burguês. [97]
Comentando de forma crítica a teoria de Horkheimer,
Arthur Herman escreve no seu livro The Idea of Decline in
Western History [A ideia do declínio na história ocidental]: [98]
A família moderna típica envolve, portanto, "uma resolução sadomasoquista
do complexo de Édipo", produzindo uma deficiência psicológica, a
"personalidade autoritária". O ódio do indivíduo pelo pai é suspenso e
permanece por resolver, tornando-se, no seu lugar, numa atração pela figura
autoritária forte que ele obedece de modo inquestionável. [99]
A família tradicional em Horkheimer é terreno fértil para que
sistemas autocráticos, discricionários como o fascismo, venham
nascer. Horkheimer fundamenta-se em seu próprio
entendimento e não em fatos reais. Assim Rolf Wieggershaus
escreveu sobre as afirmações de Horkheimer:
O que Horkheimer tinha a dizer, dizia-o baseando-se em seu conhecimento
dos escritores pessimistas da época burguesa, que ele tanto apreciava, e
quase sem se referir a estudos científicos. Como seu artigo sobre
generalidades em Studien über Autorität und Familie e seu estudo, também
publicado em 1938, sobre a mudança da função da dúvida, Montaigne und
Funktion der Skepsis (Montaigne e a função do ceticismo), esse exemplo
mostrava, por sua vez, até que ponto ele confiava em seu olhar dialético além
das coisas, sem se deter muito tempo em pesquisar os fatos. [100]
A visão dele sobre a família tradicional é de que ela deve
ser revogada. Veja que o princípio marxista de que a família
tradicional é um mal à sociedade, na verdade ao socialismo, é
mantido, pois no dizer de Marx, como já dito, é ela que mantém
o capitalismo. Assim escreveu Marx acerca da família:
Abolição da família! Até os mais radicais ficam indignados ante essa proposta
infame dos comunistas. Quais são as bases da família atual, da família
burguesa? O capital, o ganho individual. Em sua plenitude, a família só existe
para a burguesia, mas encontra seu complemento na supressão forçada da
família entre os proletários e na prostituição pública. A família burguesa
desvanece-se totalmente com o desvanecer de seus complementos, e uma e
outra com o desvanecer do capital. (....) As declamações burguesas sobre a
família e educação, sobre os vínculos sublimes entre pais e filhos, tornam-se
cada vez mais repugnantes pela ação da indústria moderna: os laços
familiares dos proletários são destruídos e as crianças são transformadas em
meros artigos de comércio e instrumentos de trabalho. [101]
Portanto, por detrás de toda essa tentativa de associar a
família a algo ruim, está a velha ideia marxista de que a família
foi criada pelo macho burguês com intuito de expandir e
sustentar o capitalismo na civilização ocidental e, por isso, ela
deve ser destruída.
Adorno reproduziu as ideias de Horkheimer sobre a família
tradicional. Escreveu o livro A personalidade autoritária com
intuito de disseminar as concepções que tinha acerca da família
cristã. Chegou a dizer a exemplo de Horkheimer que a “América
estava pronta para ser tomada pelos seus próprios fascistas
domésticos”. [102]
Horkheimer vê o sistema econômico predominante [o
capitalista] como meio de dominação. Portanto, diz ele, que
existe uma estrutura socioeconômica que submete pessoas de
maneira direta e indireta ao seu domínio. Assim diz ele:
O processo de produção influencia os homens não só da maneira direta e
atual, tal como eles o experimentam em seu próprio trabalho, mas também da
forma como ele se situa dentro das instituições relativamente fixas, ou seja,
daquelas que só lentamente se transformam, como a família, a escola, a
igreja, as instituições de artes e semelhantes. Para compreender o problema
por que uma sociedade funciona de uma maneira determinada, por que ela é
estável ou se desagrega, torna-se necessário, portanto, conhecer a respectiva
constituição psíquica dos homens nos diversos grupos sociais [...]
Conceber o processo econômico como fundamento determinante significa
encarar todas as demais esferas da vida social em sua relação variável com
ele e compreendê-lo, não na sua forma mecânica isolada, mas em conjunto
com as aptidões e disposições específicas dos homens, desenvolvidas de
certo por ele mesmo. [103]
Deste modo, há uma relação em que indivíduos
pressionam e são pressionados, o que ele chamou de relação
sadomasoquista. [104] A família tradicional dentro desse sistema
é levada a ter um progenitor que a representa; esse progenitor
é o macho burguês, que impõe sobre sua prole uma condição
de submissão. [105]Acerca disso escreve Horkheimer:
(...); porém, a circunstância de que na família burguesa normal o homem
possui dinheiro, este pode em forma substancial, e decide sobre seu uso,
torna “seus” mulher, filhos e filhas, também nos tempos modernos, deixa a
vida destes amplamente em suas mãos, força-os à sujeição à sua liderança e
comando. Assim como, na economia dos últimos séculos, o poder direto cada
vez menor obriga os homens a aceitar a relação de trabalho, assim também,
dentro da família, a agitação racional, a obediência espontânea substituem a
escravidão e a submissão. [106]
O processo de produção no sistema econômico capitalista,
portanto, contribui para que o autoritarismo patriarcal continue.
[107] Em suma, Horkheimer ensina que o pai, no modelo de
família burguês, por ser a instância econômica que sustenta a
todos, passa a ter dos membros da família submissão ao seu
poder. Por conseguinte, os filhos se projetam no pai, pois
passam a enxergar vantagem e, por isso, se submetem. Assim
pondera Horkheimer:
Os caminhos que levam ao poder são traçados, no mundo burguês, não pela
realização de juízos de valor morais, mas pela hábil adaptação às
circunstâncias. Disto o filho fica sabendo muito convincentemente a partir das
condições da sua família. Pense ele do seu pai o que quiser: se não quiser
provocar pesadas recusas e conflitos, tem de subordinar-se e conquistar a
sua satisfação. Para ele, enfim, o pai sempre tem razão; ele representa poder
e sucesso, e a única possiblidade de o filho manter no seu íntimo a harmonia
entre os ideais e a ação obediente, abalada às vezes até o término da
puberdade, é atribuir ao pai, isto é, ao forte e rico, todas as qualidades
julgadas positivas. Porque, então, o poder econômico e educativo

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