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Dedicatória Para minha esposa, Sara. Para minha sogra, Gildete. Para minha filha, Alice, que enche a minha vida de alegria. Para minha mãe, Ilza, cujo amor e graça sou diariamente inspirado. Para meu pai, Lupério, e irmãos, Miguel e Nilson. Alan Ruas. Soli Deo Gloria Sumário Prefácio Agradecimentos Ideologia de Gênero: Definição Introdução: A Criação da Família Capítulo 1: O Plano de Antônio Gramsci A Escola de Frankfurt A Estratégia Gramsciana no Brasil A Política LGBT no Brasil Destruição ou Adulteração da Bíblia Capítulo 2: Deus e o Gênero Macho e Fêmea O Casamento na Perspectiva da Ideologia de Gênero Capítulo 3: O Casamento na Perspectiva de Deus O Casamento Bíblico O Casamento Bíblico É Monogâmico O Casamento Bíblico É Heterossexual O Casamento Bíblico É de Jugo Igual No Casamento Bíblico, Homem e Mulher São Iguais Desiguais No Casamento Bíblico, os Papeis dos Cônjuges São bem Definidos O “para quê” da Criação da Mulher O “para quê” da Criação do Homem Os Benefícios do Casamento de Acordo com a Bíblia Os Filhos no Lar Cristão Capítulo 4: Moral e Imoral: Quem os Qualifica é o Amor? Capítulo 5: Esperança para os Homossexuais Conclusão: O Propósito da Família Deus Está no Controle da História, portanto, Descanse Nele! Prefácio Tenho a subida honra e grande alegria de apresentar aos leitores o livro A família na perspectiva de Deus: Uma resposta à ideologia de gênero. Faço-o com retumbante entusiasmo e isso por algumas razões que passo a elencar: Primeiro, porque conheço o autor da obra. Alan Ruas é ministro do evangelho, homem de vida irrepreensível, de conduta ilibada, que escreve não como um teórico, mas como um servo do Altíssimo, como um intérprete fiel das Escrituras. Segundo, porque sua obra é apologética sem deixar de ser pastoral. Alan é um erudito. Sua mente peregrina garimpou obras importantes antes de escrever seu texto. O conteúdo que o leitor tem em mãos é fruto de um laborioso trabalho. O esforço laboral do autor aparece em cada página desta consistente obra. Terceiro, porque o autor traz à baila um assunto polêmico e atual, que ocupa a mídia e as discussões nos centros acadêmicos, nos parlamentos e nas cortes. Faz isso com perícia invulgar. Busca fontes primárias. Expõe as entranhas desse grande conflito que marca a sociedade hodierna. Mostra como essa tentativa insana de desconstruir a família esteve na pauta de grandes pensadores do passado e como essa tentativa ainda insiste em atacar os alicerces da família. Quarto, porque o autor deixa claro que a família foi instituída por Deus. O próprio Deus estabeleceu princípios permanentes que devem regular a família. O casamento é heterossexual, monogâmico, monossomático e indissolúvel. O casamento foi instituído por Deus para cumprir o mandato cultural, social, moral e espiritual. Os papéis no casamento precisam ser entendidos para que não haja competitividade entre marido e mulher, mas complementaridade. Quinto, porque o autor não apenas conhece com profundidade o assunto em tela, mas o expõe com clareza diáfana, com eloquência notória e com fidelidade inegociável às Escrituras. Minha palavra final é de congratulações a Alan Ruas pela primorosa obra e de recomendação efusiva aos leitores. Estou certo de que sua vida será impactada com a leitura deste precioso livro. Boa leitura! Hernandes Dias Lopes Agradecimentos A Deus, razão da minha existência, bem maior. Deus, creio, tem sido o meu maior incentivador, pois Ele — no dizer do apóstolo Paulo — “é quem efetua em [nós] o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade” (Fl 2.13). Deste modo, a minha crença é de que Deus nos impulsiona a produzir obras que glorifiquem o seu santo nome (Tg 1.17). Portanto, a Ele toda honra e glória. Ao Rev. Hernandes Dias Lopes pelo carinho e atenção direcionados a minha pessoa. Ao Rev. Itamar Bezerra pelas orientações enquanto conversávamos acerca desse material. Ideologia de Gênero: Definição A ideologia de gênero é uma espécie de dicotomismo da pessoa humana, pois separa o corpo do seu aspecto psicológico, com intuito de separar o sexo biológico do gênero. Os ideólogos de gênero, portanto, com isso, ensinam que o gênero não deve ser definido a partir do sexo biológico, mas da psicologia de cada indivíduo. Destarte, a ideologia de gênero sustenta a “tese” de que cabe ao indivíduo definir o seu gênero independente da sua realidade biológica e, por conseguinte, fazer com que a sua sexualidade atenda as indicações subentendidas do aspecto psicológico do seu corpo. Deste modo, na linguagem dos ideólogos de gênero uma pessoa tem autonomia total para abjurar a sua biologia, o seu sexo constituído geneticamente já que os cromossomos XY e XX, os órgãos sexuais, isto é, biológicos, não devem determinar o gênero em uma determinada pessoa. Assim, uma pessoa que nasceu com órgão genital/biológico feminino, mas que psicologicamente se vê menino, homem, e consequentemente deseja ser homem, pode fazer o que a sua vontade quer, deseja, pois a vontade, isto é, a psique é que determina o gênero e não a condição biológica. Contudo, a Palavra de Deus não ensina assim, pois Gênesis 1.27 diz que Deus criou macho e fêmea, homem e mulher, masculino e feminino. Macho e fêmea são gêneros, e esses gêneros são definidos por Deus a partir da realidade biológica, pois Adão foi chamado de homem e Eva de mulher (Gn 3.16-20) já que a constituição anatômica de ambos correspondia ao sexo biológico. O genótipo definiu o fenótipo, por isso homem nasce com pênis e mulher com vagina. Pênis e vagina são órgãos reprodutores, por esse motivo Deus disse a Adão e Eva, ao macho e a fêmea: “crescei e multiplicai” (Gn 1.28; 4.1). Homem e mulher na união sexual podem reproduzir, mas homem com homem e mulher com mulher não, pois a condição natural ou biológica do gênero masculino e feminino impossibilita o masculino com o masculino reproduzir tanto quanto o feminino com o feminino. Portanto, a Bíblia só nos apresenta dois gêneros: o masculino e o feminino; gêneros determinados a partir do sexo biológico. Assim, o sexo determina o gênero em uma pessoa e não o seu aspecto psicológico. Introdução: A Criação da Família Nos últimos séculos a discussão em torno dos sexos foi ganhando um espaço enorme na agenda das Universidades, [1] pois inúmeros conceitos foram surgindo em torno da questão da pessoa do homem e da mulher. Destarte, a família conjugal, formada a partir da união matrimonial heterossexual, passou a ser atacada, já que, na perspectiva de muitos segmentos filosóficos e políticos desses últimos séculos, sua origem não se deu por meio da união de um macho e uma fêmea no casamento, uma vez que macho e fêmea se relacionavam sexualmente sem compromisso nas civilizações antigas: sustentam os segmentos filosóficos associados ao marxismo. Logo, homem e mulher, de acordo com tais filosofias, não necessitavam passar pelo casamento para manter relação sexual um com o outro; o sexo era livre. Deste modo, o conceito de família nas civilizações antigas estava para além da união por meio do casamento do homem e da mulher. O marxismo encabeçou uma filosofia contra a instituição da família. Karl Marx [2] desconsiderava a família conjugal, formada por pai, mãe e filhos, como uma família original. [3] Na perspectiva de Marx, a família nas civilizações primitivas tinha outro formato. [4] Segundo ele, a família que conhecemos foi inventada em um momento da história pelo capitalismo. [5] Na verdade, Marx, com a intenção de banir o sistema capitalista, criou algumas teses, a saber: defendeu que o problema da desigualdade social que, por conseguinte, resultava na luta de classes, estava na má distribuição da propriedade privada; [6] contudo, não se deu por satisfeito em entender que só estava na má distribuição da propriedade privada, passando subsecutivamente também a atacar a família tradicional, pois passou a sustentar que a estirpe do que chamava de desigualdade social era mantida por meio da família tradicional, visto que ela [a família tradicional ou nuclear]havia sido criada pelo capitalismo. Em Marx portanto é o capitalismo que gera a distribuição desigualitária de recursos no seio da sociedade: “muitos com pouco e poucos com muito” [7]; a concentração do poder econômico nas mãos de alguns leva o que o marxismo classificou de luta de classes. A definição de classe social, tal como vemos atualmente, é segundo a ótica de Marx. Ele separava as classes pelo seguinte aspecto: a relação dos donos do capital e os vendedores de força de trabalho, que é o patrão e o proletariado. Em nossa sociedade, as demais classes, independente da situação econômica, partilham de um mesmo objetivo corriqueiro: lucrar. De acordo com a história e os preceitos de Karl Marx e Friedrich Engels, a origem da humanidade está fundamentada tão somente na luta de classes. Tal luta se deu no decorrer dessa linha do tempo, em que os burgueses oprimiam os proletariados. Quando surgiu a ideia de propriedade privada e dos meios de produção, a sociedade começou a ser desmembrada em classes, que foram as duas já mencionadas anteriormente. Dessa forma, o capitalismo está ligado diretamente com as classes sociais. A divisão de classes sociais na sociedade, segundo Marx, só acabará quando o capitalismo for extinto do sistema político-econômico da organização social. Antigamente, nas sociedades mais primitivas, não havia a hierarquização da sociedade. [8] O macho burguês teria introduzido um conceito novo de família que [tornou-se convencional] com intuito de aprisionar a humanidade no sistema econômico capitalista, responsável, no dizer de Marx, pela desigualdade socioeconômica. Em suma, na cabeça de Marx, o macho burguês proprietário dos meios de produção (terra, matérias-primas, máquinas e instrumentos de trabalho) teria percebido que uma espécie de família deveria ser criada para que o sistema econômico capitalista fosse levado adiante. Assim, criou a família convencional, a que conhecemos hoje. Se alguém perguntasse a Karl Marx “que instituição mantém o capitalismo vivo?” ele responderia, com certeza, a família convencional. [9] A família tem um artífice, o macho burguês, detentor do capital; e, por isso, a desigualdade perdurava, já que o capitalismo teria criado a família convencional, nuclear ou conjugal. Deste modo, a família conjugal, segundo a ótica marxista, foi instituída com o propósito de levar o espólio capitalista. Nas entrelinhas, Marx ensinava que a família convencional foi pensada e criada com um único propósito — aprisionar a humanidade no sistema econômico capitalista. O blog Marxismo Cultural declara em um dos seus artigos que a família conjugal na visão marxista ajuda a manter o modo de produção capitalista, já que ela [família conjugal] faz parte da superestrutura ideológica cuja base econômica que a determina é o modo de produção capitalista, eis a declaração: Segundo os termos Marxistas, o modo de produção Capitalista é a base econômica subjacente da sociedade e a família faz parte da superestrutura ideológica. A base econômica determina a superestrutura ideológica. Para um Marxista, não se pode destruir a família sem destruir o capitalismo; se o capitalismo cria a família, então mal o capitalismo desapareça, a família desaparecerá. [10] Assim o marxismo fechou a questão, responsabilizando a família, e, por conseguinte, passou a atacar a família abruptamente com “venenos” ideológicos como: o sexo na sociedade primitiva era livre; as mulheres se engravidavam sem ter a necessidade da participação masculina na criação e educação dos seus filhos. Por não existir família, o homem [macho burguês] teve, segundo Marx, a necessidade de se impor, criando a família. Tais argumentos serviriam, para aos poucos, ir minando o conceito da família conjugal nas gerações vindouras. O projeto do Manifesto comunista, [11] escrito por Marx e Engels, em 1848, era acabar com o capitalismo, e tudo que estivesse associado a ele, posto que sustentavam que a família conjugal fazia parte da estrutura ideológica do capitalismo e, por conseguinte, levava o capitalismo adiante, ela deveria ser destruída. Marx foi um ateu [12] declarado. Nutria um sentimento perverso contra o cristianismo. Foi um ferrenho inimigo dos cristãos. Eguinaldo Hélio de Souza, acerca da hostilidade de Marx ao cristianismo, escreveu: Marx não era apenas um ateu. Era inimigo do cristianismo. Ele não deixou a religião de lado, colocou-se contra ela. Uma coisa é não acreditar que Deus exista. Outra coisa é lutar por tirar do coração das pessoas a confiança nesse Deus. Ele adquiriu todo seu arsenal anti Deus com o falso teólogo Bruno Bauer e o filósofo Feuerbach. Deles se escreveu em seus tempos de estudante. O ateísmo de Marx certamente era de uma espécie extremamente militante. Ruge escreveu a um amigo: “Bruno Bauer, Karl Marx, Christiansen e Feuerbach estão formando uma nova “Montagne” (grupo mais radical da Revolução Francesa) e fazendo do ateísmo o seu lema. Deus, religião, imortalidade são derrubados de seu trono e o homem proclamado Deus. E George Jung, um jovem próspero advogado de Colônia e partidário do movimento radical, escreveu a Ruge: “Se Marx, Bruno Bauer e Feuerbach juntos fundarem uma revista teológico-filosófica, Deus faria bem em cercar-se de todos os seus anjos e se entregar à autopiedade, pois estes certamente o tirarão de seu céu”. [13] Tamanha era a hostilização de Marx para com Deus. O cristianismo foi alvo dos ataques marxistas. Marx não hesitava em desconsiderar as ideias fundamentais do cristianismo. A família instituída por Deus foi veemente atacada. Os discípulos dele levaram seu legado adiante. O veneno ideológico do marxismo, contra a família conjugal, ganhou corpo e força nos escritos de Friedrich Engels. [14] Friedrich Engels, autor da obra A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado, [15] por exemplo, foi um marxista que reproduziu o que Marx ensinou acerca da família, pois a apresentação que é feita nessa obra, no que diz respeito à família, estabelece uma desconstrução do que conhecemos como família tradicional ou conjugal. Engels ensina, na obra em questão, que a família atual conhecida como tradicional foi inventada visando interesses capitalistas. Engels cita [supostas pesquisas] feitas pelo advogado americano Lewis Henry Morgan [16] com intuito de desconstruir a ideia da família conjugal, restritiva. Segundo ele, Morgan fez uma pesquisa experimental com civilizações antigas e chegou à conclusão de que existem conexões de sistemas de parentesco em escala global. Assim Engels cita Morgan: Morgan, que passou a maior parte de sua vida entre os iroqueses, ainda hoje estabelecidos no Estado de Nova York, e foi adotado por uma de suas tribos (a dos senekas), encontrou um sistema de consanguinidade vigente entre eles, que entrava em contradição com seus reais vínculos de família. Reinava ali aquela espécie de matrimônio facilmente dissolúvel por ambas as partes, que Morgan chamava “família sindiásmica”. A descendência de semelhante casal era patente e reconhecida por todos; nenhuma dúvida podia surgir quanto às pessoas a quem se aplicavam os nomes de pai, mãe, filho, filha, irmão ou irmã. Mas o uso atual desses nomes constituía uma contradição. O iroquês não somente chama filhos e filhas aos seus próprios, mas, ainda, aos de seus irmãos, os quais, por sua vez, o chamam pai. Os filhos de suas irmãs, pelo contrário, ele os trata como sobrinhos e sobrinhas, e é chamado de tio por eles. Inversamente, a iroquesa chama filhos e filhas os de suas irmãs, da mesma forma que os próprios, e aqueles, como estes, chamam-na mãe. Mas chama sobrinhos e sobrinhas os filhos de seus irmãos, os quais a chamam de tia. Do mesmo modo, os filhos de irmãos tratam-se, entre si, de irmãos e irmãs, e o mesmo fazem os filhos de irmãs. Os filhos de uma mulher e os de seu irmão chamam-se reciprocamente primos e primas. E não são simples nomes, mas a expressão das ideias que se tem do próximo e do distante, do igual ou do desigual no parentesco consanguíneo; ideias que servem de base a umsistema de parentesco inteiramente elaborado e capaz de expressar muitas centenas de diferentes relações de parentesco de um único indivíduo. Mais ainda: esse sistema se acha em vigor não apenas entre todos os índios da América (até agora não foram encontradas exceções), como também existe, quase sem nenhuma modificação, entre os aborígines da Índia, as tribos dravidianas do Dekan e as tribos gauras do Indostão. As expressões de parentesco dos tamilas do sul da Índia e dos senekas-iroqueses do Estado de Nova York ainda hoje coincidem em mais de duzentas relações de parentesco diferentes. E, nessas tribos da Índia, como entre os índios da América, as relações de parentesco resultantes da vigente forma de família estão em contradição com o sistema de parentesco. [17] Notem que Engels tenta estabelecer com base em uma suposta pesquisa uma espécie de família totalmente oposta à do Éden e, por conseguinte, de toda a Bíblia. A chamada “família sindiásmica” seria, na pesquisa de Morgan, segundo Engels, a família original. No começo, quer insinuar ele, não existia esta estrutura familiar que conhecemos — pai, mãe e filhos. A família restritiva não existia entre os povos antigos, pois filhos no contexto familiar antigo tinham vários pais e mães, assim Engels afirma: “Os sistemas de parentesco e formas de família a que nos referimos diferem dos de hoje no seguinte: cada filho tinha vários pais e mães”. [18] Nitidamente, a sugestão de que a ideia de um pai e uma mãe da família restritiva não existia nos povos antigos. Ele vai mais longe quando declara: No sistema americano de parentesco, ao qual corresponde a família havaiana, um irmão e uma irmã não podem ser pai e mãe de um mesmo filho; o sistema de parentesco havaiano, pelo contrário, pressupõe uma família em que essa é a regra. Encontramo-nos frente a uma série de formas de família que estão em contradição direta com as até agora admitidas como únicas válidas. [19] Nessa declaração ele sugere que irmãos podem ser pais de um mesmo filho. Mais adiante ele escreve: “Não só na época primitiva irmão e irmã eram marido e mulher, como também, ainda hoje, em muitos povos é lícito o comércio sexual entre pais e filhos”. [20] A relação incestuosa é condenada pela Bíblia (Gn 19.30-38). Incesto é pecado. Filhos, de acordo com a Bíblia, só podem ser gerados por um homem e uma mulher não consanguíneos. Levítico 18.9 declara: “A nudez de tua irmã, filha de teu pai ou filha de tua mãe, nascida em casa ou fora da casa, a sua nudez não descobrirás”. Significa que irmãos biológicos tendo sido criados juntos ou não, não podem copular um com o outro. Existem casos de irmãos que casaram sem saber que eram irmãos. E só depois de anos de relacionamento conjugal descobrem que são irmãos. O que deve ser feito nesses casos? Eu entendo que a partir do momento que ambos se certificam que são irmãos devem romper com o que Deus condena; pois, é condenável pela Escritura Sagrada, é pecado. Pecado confessa e deixa (Pv 28.13; 1Jo 1.5-10). O caso dos Irmãos Patrick Stuebing e Susan Karolewski que tiveram quatro filhos juntos chamou a atenção do mundo. O caso ocorreu na Alemanha — que vê o incesto como crime. Patrick foi condenado por crime de incesto e cumpriu três anos de sentença na Alemanha. O casal de irmãos teve quatro filhos juntos, dois dos quais descritos como portadores de deficiência física. [21] Patrick e Susan moveram um processo junto a Corte Europeia de Direitos Humanos, alegando que tinham o direito de viver uma vida em família, porém perderam e assim a Alemanha estava autorizada a banir o incesto. A surpresa foi que Patrick confessou ter se envolvido com Susan depois de saber que ela era sua irmã biológica. O que noticiava, na época, era que eles haviam se envolvido sem terem ciência que eram irmãos. Em entrevista à BBC em 2007, Patrick contou ter reencontrado a irmã Susan somente aos 23 anos, quando viajou até Leipzig em 2000 para conhecer a sua família biológica. Depois da morte da mãe, os dois afirmaram ter se apaixonado. “Eu não sabia que tinha um irmão quando era mais nova. Conheci Patrick e fiquei surpresa”, admitiu na época Susan Karolewski, em entrevista à BBC. Ela disse não sentir culpa pelo relacionamento incestuoso, e que esperava conseguir mudar a legislação alemã. “Só quero viver com a minha família e ser deixada em paz pelas autoridades e pela Justiça”. [22] A Bíblia em Levítico 18.12 declara: “A nudez da irmã de teu pai não descobrirás; ela é parenta de teu pai”. Levítico 20.17 declara: “E, quando um homem tomar a sua irmã, filha de seu pai ou filha de sua mãe, e ele vir a nudez dela, e ela vir a sua, torpeza é; portanto, serão extirpados aos olhos dos filhos do seu povo; descobriu a nudez de sua irmã; levarão sobre si a sua iniquidade”. Levítico 20.19 declara: “Também a nudez da irmã de tua mãe ou da irmã de teu pai não descobrirás; porquanto descobriu a sua parenta, sobre si levarão a sua iniquidade”. Deuteronômio 27.22 declara: “Maldito aquele que se deitar com sua irmã, filha de seu pai ou filha de sua mãe! E todo o povo dirá: Amém!”. A Bíblia é taxativa — sexo entre irmãos biológicos é pecado. Engels sustenta ainda a ideia que homens tinham várias mulheres e mulheres tinham vários homens. A concepção tradicional conhece apenas a monogamia, ao lado da poligamia de um homem e talvez da poliandria de uma mulher, silenciando como convém ao filisteu moralizante sobre o fato de que na prática aquelas barreiras impostas pela sociedade oficial são tácita e inescrupulosamente transgredidas. O estudo da história primitiva revela-nos, ao invés disso, um estado de coisas em que os homens praticam a poligamia e suas mulheres a poliandria, e em que, por consequência, os filhos de uns e outros tinham que ser considerados comuns. É esse estado de coisas, por seu lado, que, passando por uma série de transformações, resulta na monogamia. Essas modificações são de tal ordem que o círculo compreendido na união conjugal comum, e que era muito amplo em sua origem, se estreita pouco a pouco até que, por fim, abrange exclusivamente o casal isolado, que predomina hoje. [23] Sabemos que o intuito é deduzir que no começo da civilização era assim, mas temos ciência que não era assim, pois Deus criou um homem e uma mulher, isto é, Adão e Eva. O casamento na perspectiva de Deus é monogâmico. O homem por causa do pecado perverteu o que o Senhor Deus instituiu. Deus criou o homem para ter uma única mulher e vice-versa (Gn 4.1; Dt 17.17; 1Co 7.2; 1Tm 3.2,12). Jesus Cristo citou Gênesis 2.24 como uma prova clara de que a poligamia (ter mais de uma esposa) e o divórcio (exceto em caso de adultério) são condenados por Deus (Mt 19.5). O apóstolo Paulo, escrevendo sob inspiração do Espírito Santo, disse que há somente uma saída moral e legítima para o caminho deixado por Deus para o sexo — o casamento (1Co 7.2). [24] Apesar disso, os marxistas entendem que a poligamia, o divórcio, entre outras coisas, eram naturais em civilizações antigas. O propósito por detrás é atingir a família conjugal, pois sugerem que [ela] foi criada e imposta por uma ação discricionária do macho burguês. O homem [macho] teria criado a família com intuito de subjugar a mulher e manter os interesses do capital. A filósofa Marilena Chauí, articulista política, tem defendido esse ponto de vista marxista. Segundo Chauí, os pais são déspotas e quem defende a família é uma besta. [25] O excomunista Júlio Severo no blog Diário de um exComunista, acerca da intenção do marxismo em relação à família, elucida: Marx, no Manifesto Comunista, compreende interações sociais como um computador leria um código binário: algo puramente racional, objetificado. Para este a família é uma instituição que deve ser abolida, pois é baseada somente no capital, no ganho individual. Assim, homens explorariam mulheres, pais explorariam crianças, e todos viveriam em clima de guerra. Tais ideias foram endossadas por Gramsci, que não pestanejou em acrescentar mais bobagem ao caldo, igualmente propondo a destruição da “famíliaburguesa”. Para estes esquerdistas não existe amor. Será que nasceram de uma máquina chocadeira? [26] É certo afirmar, portanto, que na perspectiva marxista a família foi institucionalizada pelo homem [macho] com intuito de dominar. Assim, a família como conhecemos surgiu em um momento em que o ser humano [do sexo masculino] percebeu a necessidade de ser o mandatário nas relações que já existiam na sociedade. A mulher não estabelecia compromisso com o homem por meio do casamento e tampouco tinha a necessidade de manter- se em um relacionamento com ele; vivia livre e relacionava-se com vários homens, justamente por ser a sociedade anterior a instituição da família tradicional. Segundo o marxismo, tal modelo de sociedade desnuda a ideia de que para um homem e uma mulher se relacionarem sexualmente tinham que passar pelo casamento. Nas palavras de Engels: Reconstituindo retrospectivamente a história da família, Morgan chega, de acordo com a maioria de seus colegas, à conclusão de que existiu uma época primitiva em que imperava, no seio da tribo, o comércio sexual promíscuo, de modo que cada mulher pertencia igualmente a todos os homens e cada homem a todas as mulheres. E, com efeito, que encontramos como forma mais antiga e primitiva da família, cuja existência indubitável nos demonstra a História, e que ainda hoje podemos estudar em certos lugares? O matrimônio por grupos, a forma de casamento em que grupos inteiros de homens e grupos inteiros de mulheres pertencem-se mutuamente, deixando bem pouca margem para os ciúmes. Além disso, numa fase posterior de desenvolvimento, vamos nos deparar com a poliandria, forma excepcional que exclui, em medida ainda maior, os ciúmes, e que, por isso, é desconhecida entre os animais. Todavia, como as formas de matrimônio por grupos que conhecemos são acompanhadas de condições tão peculiarmente complicadas que nos indicam, necessariamente, a existência de formas anteriores mais simples de relações sexuais e assim, em última análise, um período de promiscuidade correspondente a passagem da animalidade à humanidade. As referências aos matrimônios animais conduzem-nos, de novo, ao mesmo ponto de onde devíamos ter partido de uma vez para sempre. Que significam relações sexuais sem entraves? Significa que não existiam os limites proibitivos vigentes hoje ou numa época anterior para essas relações. [27] De maneira artificiosa ele sugere que as “formas de matrimônio por grupos que conhecemos são acompanhadas de condições tão peculiarmente complicadas que nos indicam, necessariamente, a existência de formas anteriores mais simples de relações sexuais”. A forma simples, menos complicada é a forma excepcional que ele chama de “poliandria”, “casamento” de mulher com vários homens, pois, assim escreveu: “Existiu uma época primitiva em que imperava, no seio da tribo, o comércio sexual promíscuo, de modo que cada mulher pertencia igualmente a todos os homens e cada homem a todas as mulheres”. [28] O casamento entre o sexo masculino e feminino não era o ponto determinante para sustentação e multiplicação da espécie humana, ensinavam os marxistas de plantão. Contudo, quando um homem e uma mulher se uniam e procriavam, formando uma família, as crianças dessa relação deveriam ser educadas pelo estado. Deste modo, a família serviria apenas para a procriação. O comunista George Orwell, em seu livro 1984, ensinou que “o indivíduo é criado pelo estado. A família serve apenas para procriação”. [29] A intenção do marxismo é implantar um sistema que seja capaz de desconstruir a família original. Cristãos não seguem as orientações dos homens depravados. O que o homem depravado definiu. O que o homem pecador perverteu. A família foi criada por Deus com um pai, uma mãe, isto é, um homem e uma mulher (Gn 2.24) e daí vieram os filhos (Gn 4.1-2). Portanto, a ideia exposta por Engels fundada em pesquisas voltadas aos comportamentos dos homens pecadores não serve de base para estruturar um argumento em torno da origem da família. É certo dizer que tanto Engels quanto Marx ensinavam que a religião cega as pessoas, noutras palavras, em se tratando da família, que a família apresentada na Bíblia foi criada, inventada, para que as suas ideias [marxistas satânicas] fossem aceitas. Mas, devemos crer na Bíblia ou no marxismo? Claro que na Bíblia. A Bíblia é a Palavra de Deus; assim, a Bíblia ensina que a humanidade começou a partir do casamento de Adão e Eva. Começou com o casamento monogâmico. Não começou com a poliandria, nem com a poligamia. Infelizmente no Brasil existem muitos segmentos políticos filosóficos que seguem o idealismo marxista [30] e, por isso, temos visto tantos ataques à família nestes últimos anos. O que a maioria das pessoas teima em observar é que quanto mais desestabilizada estiver uma sociedade, maiores as chances de uma revolução triunfar. E quanto menos união familiar houver, maiores as chances do papai- estado assumir a educação dos cidadãos, como no livro 1984, de George Orwell. Você trocaria sua mãe por um partido político? Na prática é isso que os comunistas querem. E estão conseguindo. [31] O socialismo [marxista [32]] no Brasil tem representado muito bem o seu pai Karl Marx, pois a família tem sido atacada ferozmente. No Brasil e no mundo os ideais marxistas têm causado estragos terríveis; no dizer de Eguinaldo Hélio de Souza: “A violência gratuita, o imenso rio de sangue, a perseguição religiosa, principalmente contra o cristianismo, o ataque à família tradicional são apenas alguns dos frutos podres do marxismo”. [33] Devemos ficar atentos a ideologias políticas que fazem de tudo para que a família seja destroçada. Vivemos um momento difícil em nosso país. Hoje se fala muito em ideologia de gênero. Muitos partidos políticos de linha ideológica marxista estão levantando a bandeira da desconstrução sutil da família; ardilosamente estão fazendo uso do poder político para invadir escolas primárias com intuito de imprimir ideologias que têm como meta desconstruir a família tradicional. Como citado, a filósofa Marilena Chauí, articulista política de um partido de esquerda, marxista, em uma escola declarou que quem defende a família é um besta. Ela ainda declarou que pais [homens] são déspotas. Na verdade, a intenção por detrás dessa frase é incentivar a homossexualidade, pois no dizer do movimento lésbico, associado ao feminismo, que tem suas raízes no marxismo: “Não se pode ser heterossexual e ser-se ao mesmo tempo um bom socialista ou uma boa feminista”. [34] Destarte, muitos jovens espalhados pelo mundo, adeptos de tais segmentos ideológicos, foram abraçando a homossexualidade. Os jovens foram instados a envolverem-se em relacionamentos homossexuais de modo a que pudessem demonstrar as suas credências esquerdistas. Hanif Kureishi, na sua novela “The Buddha of Suburbia”, toca neste assunto numa cena onde um jovem ator indiano bissexual pede ao seu amigo socialista que o beije para demonstrar o seu compromisso com a causa socialista. Esta forma de pensar eventualmente desenvolveu-se até ao ponto de se tentar demonizar por completo a heterossexualidade. [35] Demonizar a heterossexualidade, nas entrelinhas, é destruir a união estabelecida por Deus na criação entre um homem e uma mulher (Gn 2.18-25). Vejam que o foco está na destruição da família tradicional. A ideia do sexo livre, do sexo entre pessoas do mesmo sexo, tem sido também uma maneira de desestabilizar a família tradicional, formada por um pai [macho] e por uma mãe [fêmea] como aponta o texto de Gênesis 2.18-25. A família conjugal é o princípio da criação de Deus. É o que é natural — a heterossexualidade é natural —, união entre sexo oposto, isto é, um homem e uma mulher. A homossexualidade é portanto inatural, assim declarou Paulo acerca da homossexualidade em Romanos 1.26 e 27, a saber: 26 [...] as mulheres mudaram o modo natural de suas relações íntimas por outro, contrário à natureza; 27 semelhantemente, os homens também, deixando o contato natural da mulher, se inflamaram mutuamenteem sua sensualidade, cometendo torpeza, homens com homens, e recebendo, em si mesmos, a merecida punição do seu erro. Portanto, de acordo com a Palavra de Deus, é um comportamento inatural, não natural. Muitos segmentos ideológicos associados ao marxismo estão ganhando corpo na sociedade nos últimos anos e, infelizmente, pessoas das mais variadas faixas etárias estão sendo arrebatadas por tais ideologias. A ideologia de gênero, seguindo a mesma intenção de desconstruir a família tradicional [formada a partir do casamento] por um homem e uma mulher, tem sido nesses últimos anos o estopim dos embates em torno das questões que envolvem as funções de homem e de mulher na sociedade. O movimento feminista, [36] influenciado pelo marxismo, encabeçou a ideologia de gênero, passando a defender que as funções específicas para o homem e para a mulher na sociedade estão baseadas em conceitos machistas, em que o homem mostra o seu desejo, como sempre mostrou, de sobrepujar a mulher e, por isso, tais especificações devem ser revistas e reformuladas. O feminismo é um inimigo cruel da família tradicional; ensina, como ensinava Karl Marx, que não se pode destruir o capitalismo sem destruir a família, por isso, os constantes ataques à família nos últimos anos. O projeto feminista gira em torno da desconstrução da família. Em resposta à pergunta: Por que é que as feministas atacam à família? O blog Marxismo Cultural responde: “As marxistas-feministas começaram a acreditar que, tal como a família era um aspecto do capitalismo, o capitalismo não poderia ser destruído sem a destruição da família”. [37] O idealismo do movimento feminista ganhou projeção no mundo por meio dos escritos da francesa Simone de Beauvoir, ativista política feminista. Em seu livro O segundo sexo [38] Simone ensina que “nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam o feminino”. [39] Deste modo, no dizer de Simone, a figura atual da mulher foi construída pela civilização. Conquanto, segundo a Bíblia a família foi criada por Deus (Gn 1.27-28) a partir da criação do homem e da mulher no Éden. A descrição da criação do homem e da mulher, isto é, Adão e Eva no Gênesis, estabelece o momento em que Deus criou a família, pois a família surge a partir da união dos primeiros seres humanos criados (Gn 2.18-24). Vejam que o verso 24 estabelece a união do homem e da mulher, formando uma só carne. Deste modo, podemos concluir que a família originalmente começou com a união do primeiro homem [Adão] com a primeira mulher [Eva], pois Deus criou o homem e a mulher e os uniu por meio do casamento (Gn 2.21-24). A origem da família, portanto, é antiga. A data em que ela foi criada é a mesma da criação da mulher. A família começa então com a criação da mulher. Deus cria a mulher para o homem com esse objetivo. Os anos que a mulher tem de criada, a família tem de instituída. Deus deu aos regentes do jardim do Éden [Adão e Eva] o mandato social, pois disse a ambos: “Crescei e multiplicai” (Gn 1.28); eles atenderam a ordem de Deus, pois, em Gênesis 4.1 diz que Adão coabitou com sua mulher (esposa) e teve filhos, isto é, Caim e Abel. A família começa, portanto, no Éden com Adão e Eva, nossos primeiros pais. Deus, quando cria Adão e Eva, dá a eles três mandatos, a saber: um mandato Cultural; um mandato Social e um mandato Espiritual. O mandato Cultural implicava e implica [40] em cuidar da Terra e dominá-la. Temos em Gênesis 1.28 o domínio e sujeição e em Gênesis 2.17 a guarda e o cultivo. Eles deveriam guardar, dominar e cultivar a Terra. Todas as formas de vida na terra foram, de forma específica, colocadas sob a supervisão dos vice-gerentes humanos. Com esta responsabilidade, veio o privilégio de usar as plantas, seus frutos e sua semente para manter a vida e a energia para realizar as tarefas reais. A humanidade poderia responder obedientemente ao mandato cultural para a glória de Deus por causa da sua criação à imagem e semelhança de Deus. Deus, através da exposição deste mandato, colocou a humanidade em um relacionamento singular com o cosmos. Na realidade, foi um relacionamento de governador sobre o domínio cósmico. Mas este governo envolvia trabalho. O trabalho é, consequentemente, tanto um privilégio real como também uma responsabilidade. [41] Já o mandato Social implicava e implica [42] na união do macho e da fêmea por meio do casamento. Em Gênesis1.28 temos a ordem crescei e multiplicai. Adão e Eva, homem e mulher, deveriam unir-se por meio do casamento e gerar filhos e filhas. O relacionamento tinha que ser visto como um de igualdade diante de Deus. Mas, para cumprir o mandato, a fêmea tinha que cumprir seus papéis decretados como ajudadora apropriada, parturiente e mãe cuidadora. O macho tinha que cumprir seus papéis reconhecendo a fêmea como carne de sua carne e osso de seus ossos. Ele tinha que trabalhar com ela como agente real mas também tinha que servir como cabeça, deixando seus pais, tomando a mulher e se unindo a ela; e assim eles poderiam ser frutíferos como parceiros casados equivalentes. Este mandato provê a base divinamente ordenada para o casamento, para a família restrita e a família extensiva — os clãs, as nações e a comunidade da humanidade de todo o mundo. O mandato social é a base para o mandato cultural. Da família se desenvolve a sociedade e a cultura. [43] E, por fim, o mandato Espiritual, que implicava e implica [44] na obediência à Palavra de Deus. Adão e Eva foram chamados a cuidar e governar sobre a Terra, mandato Cultural; foram chamados a crescer e multiplicar sobre a Terra, mandato Social; mas, também foram chamados a viver em obediência a Santa Palavra de Deus (Gn 2.17), mandato Espiritual. Deus ordenou que eles não comessem do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal e, devendo obedecer à Palavra de Deus — ao mandato Espiritual. A família, portanto, nasce no Éden. A humanidade cresce e se multiplica quando Deus, por meio do casamento, une Adão e Eva, fazendo-os uma só carne e, a partir daí, nasce a família. Crescei e multiplicai, disse Deus (Gn 2.28). Assim, O tão conhecido princípio da sociologia, a — família e a célula mater da sociedade é, na verdade, uma percepção bíblica! Por isso mesmo a família tem o seu caráter — sagrado, por ter sido criada por Deus com dois propósitos: para a sua glória e a felicidade humana. Pense nas consequências do princípio do mandato social nas relações marido/esposa, família/igreja e família/sociedade. São quase inumeráveis. Assim, casamento não é invenção humana, é mandato de Deus que deve ser obedecido e cumprido. Nos três primeiros capítulos de Gênesis vemos diversas referências às este mandato: 1. Deus abençoou e ordenou ao homem a fecundidade, multiplicação e o enchimento da terra. Este último seria parte da estratégia para o exercício do mandato cultural, do domínio e sujeição (Gn 1.28). Observe que a fecundidade é uma das bênçãos do pacto da criação. É por isso que a esterilidade é um tema frequente nas Escrituras, Deus demonstrando que é o Senhor da vida e é Ele quem traz essa bênção. 2. Deus ordenou a união de homem e mulher como uma só carne (esse é o comentário do autor do texto de Gênesis em 2.24). O homem deixa pai e mãe para formar uma união nova entre dois indivíduos que tem a tarefa de fazer o outro pleno no Senhor, assim como a herança que recebem dele (os filhos são herança de Deus — Salmo 127). [45] Gerard Van Groningen em A família da Aliança, acerca da origem da família, pondera: A família não aconteceu simplesmente, nem se desenvolveu com o tempo dentro de um contexto social. A família foi planejada. Deus a planejou; Deus a fez existir a partir de sua palavra. Ele fez isso de forma germinal. Ele deu ordens específicas e concisas que alguém poderia considerar realmente pesadas, mas elas foram claras. O que ele decidiu fazer, ele trouxe à existência. Como ela deveria serformada e qual era o seu propósito foi claramente estabelecido. “Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra. Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os crio” (Gn 1.26,27). Por favor, tome nota: o verso 26 nos diz que Deus falou no plural: “Façamos”. Deus não estava falando com anjos, eles não são cocriadores, eles são seres criados. O Deus trino estava falando dentro do infinito de si mesmo. [...] Deus criou homem e mulher, ambos têm a sua imagem, ambos representam e espelham Deus. A mulher faz isso tanto quanto o homem e juntos, o homem e a mulher, receberam a ordem para serem frutíferos. Eles deveriam aumentar seu número, deveriam encher a terra e conquistar isso juntos. [46] Contudo, notem o que Simone de Beauvoir afirma em seu livro O segundo sexo: [...] pensa-se ainda em certas sociedades primitivas de filiação uterina, que o pai não participa de modo algum na concepção do filho: as larvas ancestrais infiltrar-se-iam sob a forma de germes no ventre materno. Com o advento do patriarcado, o macho reivindica acremente sua posteridade; ainda se é forçado a concordar em atribuir um papel à mulher na procriação, mas admite- se que ela não faz senão carregar e alimentar a semente viva: o pai é o único criador. [47] O intento de desconstruir a ideia da família conjugal é perceptível. Infelizmente, de maneira sagaz, Simone tenta desconsiderar que a raça humana cresceu e multiplicou por meio da família conjugal, isto é, da união entre o homem e a mulher por meio do casamento. Deus criou o homem e a mulher e celebrou o casamento entre ambos. O homem sem a mulher não poderia constituir uma descendência. A mulher sem o homem também não poderia constituir uma descendência; por isso, Deus criou o homem e a mulher e só depois disse “crescei e multiplicai” simplesmente por ser, a partir da criação de ambos, possível à espécie humana crescer e multiplicar. Entender que o pai não participava de modo algum da concepção do filho é um absurdo e é claro que Simone não sustentava tal mito, mas o que ela tenta fazer é desconsiderar a importância do homem na vida da mulher, romper os laços. Homem e mulher se completam. A família começa a partir da união dos dois por meio do casamento. Mas, infelizmente, Simone sugere que o casamento foi inventado pelo homem para aprisionar a mulher, assim ela pondera evocando o código romano: É impressionante, por exemplo, que o código romano, a fim de restringir os direitos das mulheres, invoque “a imbecilidade, a fragilidade do sexo” no momento em que, pelo enfraquecimento da família, ela se torna um perigo para os herdeiros masculinos. É impressionante que no século XVI, a fim de manter a mulher casada sob tutela, apele-se para a autoridade de Santo Agostinho, declarando que “a mulher é um animal que não é nem firme nem estável”, enquanto à celibatária se reconhece o direito de gerir seus bens. [48] Quando a Bíblia fala que o homem é o cabeça da mulher no casamento (Ef 5.23) a Bíblia não está sugerindo aprisionamento da mulher por parte do homem, mas simplesmente um papel no lar. Deus definiu desde o princípio esses papéis. Cabeça indica representação. Adão representava a mulher no Éden e todos os seus descendentes que haveriam de vir (Rm 5.12). Deste modo, a Queda (Gn 3) só acontece quando Adão come do fruto, pois ele era o representante federal da humanidade. A humanidade não estava em Eva no Éden, mas em Adão, assim escreveu Paulo aos Romanos: Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram. Porque até ao regime da lei havia pecado no mundo, mas o pecado não é levado em conta quando não há lei. Entretanto, reinou a morte desde Adão até Moisés, mesmo sobre aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de Adão, o qual prefigurava aquele que havia de vir (Rm 5.12- 14). Adão era o cabeça no casamento com Eva. O homem foi criado primeiro e foi chamado primeiro à responsabilidade depois do pecado (Gn 3.9-9). O restante das Escrituras coloca o macho como sendo cabeça sobre o lar. Infelizmente estes são princípios da aliança que temos negligenciado constantemente, não compreendendo bem o que é o casamento, quais os papéis e funções no mesmo e, por consequência, enfrentando inúmeros problemas dentro de nossas comunidades. O princípio bíblico do marido como cabeça tem sido minado dia a dia por novas teorias sociais e psicológicas. Elas não só atingem a família, marido, esposa e filhos, mas também atingem a igreja e a sociedade como um todo. A mulher não mais ocupa o papel de ajudadora, mas tem que sair em busca de sua realização pessoal, carreira, independência e autonomia. Quando tomados de forma distorcida esses elementos se tornam destruidores da família. [49] O sinal do pacto na Antiga Aliança era a circuncisão, é o que está descrito em Gênesis 17.1-14 e portanto só faria parte do povo do pacto quem fosse circuncidado. Conquanto, as mulheres não podiam ser circuncidadas, pois a circuncisão é a retirada do prepúcio do órgão sexual masculino. Neste caso, como ficavam as mulheres na Antiga Aliança? Fora do pacto? Claro que não! Pois, elas eram representadas quando casadas pelo esposo, quando solteiras, pelo pai. Foi Deus quem instituiu o casamento. Marcos10.6-9 elucida: 6 porém, desde o princípio da criação, Deus os fez homem e mulher. 7 Por isso, deixará o homem a seu pai e mãe [e unir-se-á a sua mulher], 8 e, com sua mulher, serão os dois uma só carne. De modo que já não são dois, mas uma só carne. 9 Portanto, o que Deus ajuntou não separe o homem. Deus criou a mulher para unir-se [50] com o homem só por meio do casamento (Gn 2.24; Ef 5.31). Casamento é benção. O primeiro milagre de Jesus foi em uma festa de casamento (Jo 2.1-11). Casamento não deve ser encarado como prisão, como cárcere privado imposto sobre a mulher com o intuito de tolher sua liberdade. A relação marital deve ser prazerosa, pois o casamento segundo o Senhor-Deus é explicitude de cumplicidade e é a partir do casamento, na perspectiva de Deus, que nasce a família. A família foi criada por Deus. Deus criou o homem e a mulher (Gn 1.27) e formou a partir dos dois a família (Gn 2.24). Portanto, a origem da família formada por pai, mãe e filhos teve origem no “princípio” e não no fim do século 18 e começo do 19, como afirma Marilena Chauí. A família na história começou no Éden, deste modo, ela é muito antiga. CAPÍTULO 1: O PLANO DE ANTÔNIO GRAMSCI [51] O plano de implantar o socialismo científico [52] no mundo não morreu com Marx e Engels, pois Antônio Gramsci, marxista apaixonado pelos ideais explicitados por Marx e Engels, emergiu no mundo acadêmico com uma teoria estratégica para que a ditadura do proletariado fosse implantada no ocidente. O Padre James Thornton assim descreveu Antônio Gramsci: Nascido na obscuridade na ilha de Sardenha em 1891, Gramsci não era um candidato primário a ser alguém que causaria um impacto significativo no século 20. Gramsci estudou Filosofia e História na Universidade de Turim, e rapidamente se tornou num marxista aplicado, alistando-se no Partido Socialista Italiano. Imediatamente após a Primeira Grande Guerra, ele estabeleceu o seu próprio jornal radical, A Nova Ordem, e pouco depois ajudou a fundar o Partido Comunista Italiano. [53] Como já exposto até aqui, o marxismo foi e continua sendo um ferrenho inimigo da família conjugal: a família do Éden. Deste modo, assim como Marx e Engels, Gramsci vai atacar a família nuclear, propondo uma desconstrução do que a fundamenta, isto é, o cristianismo, num sentido estrito, Deus. Deus é o fundamento da família, pois foi Ele que a instituiu. James Joll reproduz o pensamento de Gramsci contra a religião na seguinte declaração: Nós somos parte do movimento da reformamoral e intelectual… cuja primeira premissa foi a de que o homem moderno pode e deve viver sem o apoio da religião… sem a religião revelada, a religião positivista a religião mitológica ou qualquer outro de seus ramos que se queira nomear. “Na consciência dos homens, o Príncipe [o Partido] assume o lugar da divindade ou o imperativo categórico e torna-se a base de um moderno laicismo e uma completa laicização de todos os aspectos da vida e todo relacionamento habitual. [54] Na perspectiva marxista de Gramsci uma nova ordem deveria ser implantada na sociedade. Que ordem? O socialismo marxista. Uma vez que para Marx “a religião é o ópio do povo” e “a autoconsciência do homem é a mais alta divindade que existe”, [55] ela, a religião, deve ser desconstruída. Os valores religiosos devem ser revogados por uma nova era — a construção de uma nova hegemonia. Não abruptamente, mas paulatinamente. Hegemonia [56] em Gramsci de acordo com Ricardo Costa é: […] a capacidade de um grupo social unificar em torno de seu projeto político um bloco mais amplo não homogêneo, marcado por contradições de classe. […] Logo, a hegemonia é algo que se conquista por meio da direção política e do consenso e não mediante a coerção. Pressupõe, além da ação política, a constituição de uma determinada moral, de uma concepção de mundo, numa ação que envolve questões de ordem cultural, na intenção de que seja instaurado um “acordo coletivo” através da introjeção da mensagem simbólica, produzindo consciências falantes, sujeitos que sentem a vivência ideológica como sua verdade. [57] Segundo Gramsci, “toda relação de hegemonia é necessariamente uma relação pedagógica”. [58] Em suma: É uma relação social ativa de modificação do ambiente cultural existente. Na luta hegemônica, a difusão da nova concepção de mundo, a criação do novo terreno ideológico exige uma ampla reforma intelectual e moral. É preciso que a ideia penetre no povo, torne-se costume, persuasão e fé coletiva. A nova concepção de mundo, para que se transforme em realidade prática, terá que ser vivida pelas massas com a intensidade das crenças populares, como uma fé. [59] A mudança virá com a implantação de uma nova maneira de enxergar o mundo e seus valores. Assim, de acordo com Gramsci, o marxismo não havia logrado êxito no ocidente pela razão de Marx ter adotado a “revolução armada” como estratagema de implantação. Karl Marx defendia a ideia de que a sociedade era injusta porque explorava o trabalhador. Era necessário que através de um método revolucionário (armado), a classe trabalhadora tomasse posse do governo, implantando uma ditadura do proletariado, controlando os meios de produção. E essa ditadura seria uma ponte para uma sociedade que, ao final, seria justa, sem classes, sem governo. Em suma, o ideal de Marx era a implantação de um paraíso terrestre, de uma sociedade justa, perfeita, através do poder criativo do mal. [...] Afirmar a força criativa do mal, do negativo, que da destruição faz surgir algo de bom é um princípio da filosofia hegeliana. “Dê asas à maldade e acontecerá algo de bom”. Foi o que Hegel propôs com a sua dialética. Marx levou tal conceito à prática. No caso de Marx e da revolução armada, a luta seria suprassumida, levada para cima. Matar, destruir, hostilizar a civilização, trazer abaixo a ordem foi o caminho adotado (ou proposto) por ele para a produção de uma ordem superior. [60] Marx imaginou, segundo Gramsci, que a ditadura do proletariado só podia ser implantada por meio da força — guerra.61 Na verdade, a guerra [violência] nunca foi e nunca será a solução para nada. O padre Paulo Ricardo em uma palestra sobre a origem do marxismo cultural, sobre essa visão de Marx afirmou: Marx previa que haveria um conflito pan-europeu; um conflito da Europa inteira; uma guerra da Europa inteira. E quando acontecesse esse conflito os trabalhadores, os proletários oprimidos ao invés de pegar nas armas para lutarem contra outros trabalhadores de outros países iriam se unir entre si contra os seus patrões, contra os seus opressores. Então, por exemplo, quando estourasse a guerra os trabalhadores da Alemanha iriam se unir com os trabalhadores da França contra os patrões; era isso que a doutrina clássica marxista previa: um conflito pan-europeu e nesse conflito pan-europeu a panela de pressão iria estourar e os trabalhadores iriam lutar pelos seus interesses de classe; não haveria trabalhador lutando contra trabalhador, mas iriam lutar contra os seus patrões. Marx morreu; e como Marx previa aconteceu realmente o conflito pan-europeu alguns anos depois — é o que nós conhecemos hoje como Primeira Guerra Mundial, que aconteceu de 1914 a 1918. Acontece, porém que o que Marx previu, que os trabalhadores iriam se unir, não aconteceu. O kaiser da Alemanha Wilhelm II disse: “não há mais partido, somos todos alemães e os alemães todos se uniram contra os outros países. O que aconteceu? Horror dos horrores para os marxistas: eles viram trabalhadores pegarem em armas e matar outros trabalhadores de outros países, ou seja, trabalhadores pegaram em armas para defender o interesse dos capitalistas, isto para os marxistas era pior do que o apocalipse. [61] Deste modo, logo após o término da guerra em 1918 marxistas em todo o mundo estavam desesperançosos quanto à implantação do comunismo no Ocidente. Contudo, havia restado uma “luz no fim do túnel”, pois em 1922 o marxismo ascende na Rússia com Lênin. Lênin, marxista, em 1917 liderou a chamada “Revolução Russa” com intuito de destituir a autocracia imperial e implantar o comunismo — ele logrou êxito, pois em 1922 os chamados bolcheviques [integrantes da facção do Partido Operário Social- Democrata Russo], que estavam sob sua liderança, com a ajuda do Exército Vermelho, destituíram o governo provisório, instalado logo depois da queda da autocracia imperial, por conseguinte, criaram a União Soviética sob o sistema político comunista. [62] Segue abaixo uma imagem que revela a Guerra Civil gerada pela revolução russa: [63] “Nesse contexto, a Revolução de Outubro tornou-se o modelo de todas as revoluções sociais, impondo-se em diversos países, independente da diversidade de condições culturais e históricas, como foi o caso na Alemanha.” [64] O próprio Lênin reproduziu isso, pois em um discurso declarou: “Mais uma vez torna-se evidente que o curso da revolução proletária é idêntico em toda parte. Primeiro os soviéticos se formam, depois espalham-se e se desenvolvem; depois disso aparece, na prática, a questão: sovietes, Assembleia Nacional ou Assembleia Constituinte. A maior estupefação invade os chefes, e finalmente a revolução proletária”. [65] Por essa razão, marxistas passam a “sonhar” com a probabilidade de implantação do comunismo no Ocidente. A disputa entre esquerda e direita passa a ser contundente. Adeptos do socialismo marxista passam a pensar em um meio de gerar uma revolução do proletariado no Ocidente, como a que houve na Rússia, para que o comunismo marxista fosse içado. Porém, logo depois da Primeira Guerra Mundial os movimentos de direita [na Alemanha] passam a concentrar força no Partido Nacional Socialista, que deu a vitória a Adolf Hitler em uma eleição direta. Com Hitler no poder [na Alemanha] começa uma ferrenha perseguição contra os defensores da revolução do proletariado. Deste modo, os partidos de esquerda, que representavam os trabalhadores, passam a ser perseguidos em toda a Europa. Um “balde de água fria” começa a ser derramado no plano de implantar o comunismo marxista por meio de uma revolução armada. Marxistas em toda a Europa começam a ser perseguidos e presos com a ascensão do nazismo encabeçado por Hitler. Logo depois, vem a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e, por conseguinte, o milagre econômico com o pós-guerra e a consolidação do stalinismo na Rússia Soviética. [66] A União Soviética esteve sob administração de Lênin de 1922 a 1924. O esforço de anos de revolução não durou muito, pois com a morte de Lenin em 1924 muitas coisas mudaram já que dentro do partidocomunista “uns acreditavam que a revolução tal como ocorrera na Rússia deveria ser expandida para outros países no mundo, enquanto uma ala acreditava que a revolução deveria ser restrita ao que viria a ser a União Soviética”. [67] O representante maior do primeiro argumento era Leon Trotsky, enquanto Stalin defendia que a revolução deveria ficar na Rússia. Após a morte de Lênin, as duas correntes de pensamento entraram em choque para definir quem seria o sucessor. Passado algum tempo de debate, o partido escolheu a corrente de Stalin, assumindo este a liderança da União Soviética. O governo de Stalin começou rigoroso, o líder do partido assumiu uma conduta de ditador e passou a caçar e matar todos que pudessem causar alguma ameaça ao sistema. Trotsky, derrotado, saiu insatisfeito e passou a ser um grande crítico do governo stalinista. Como punição, Stalin mandou matar a machadadas o opositor que estava exilado no México. [68] Mais uma vez o “sonho” de implantar o comunismo marxista fora da Rússia cai por terra. Stalin se uniu aos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial contra Hitler. Esquerda e direita juntos mais uma vez. O que havia acontecido na Primeira Guerra foi reproduzido na Segunda. Trabalhadores lutando ao lado de seus patrões contra o “insano” Hitler. Assim escreveu o mestre em história pela UFJF Antônio Gasparetto: Durante a Segunda Guerra Mundial, Stalin, juntamente com a União Soviética, esteve ao lado dos combatentes ao nazismo e foi decisivo na derrota sofrida pela Alemanha de Hitler. A União Soviética e os Estados Unidos se configuraram como os grandes vencedores da guerra, em 1945. A esperança de que o comunismo marxista haveria de ser implantado em solo ocidental, logo após a Primeira Guerra Mundial, em função do resultado satisfatório da Revolução Russa de 1917, havia mais uma vez morrido. Marxistas concluíram então que a visão de que por meio de uma revolta do proletariado nasceria uma guerra onde trabalhadores espalhados pelo mundo tomariam o poder, não vingaria. Pois, os resultados obtidos não foram os esperados, já que ao invés da implantação da ditadura do proletariado veio a consolidação do capitalismo — em boa parte do mundo. Portanto, em síntese, a estratégia marxista da “revolução armada” não poderia ser mais vista como uma boa estratégia para a implantação do comunismo. Uma nova teoria deveria ser construída; foi exatamente isso que Gramsci havia percebido. Uma vez que Gramsci percebeu que Marx estava equivocado quanto ao meio de implantar o socialismo, criou a chamada “revolução intelectual”. Basicamente, o que Gramsci propôs foi a renovação da metodologia comunista e a racionalização e actualização das estratégias antiquadas de Marx. É de ressalvar que a visão futura de Gramsci era inteiramente marxista e ele aceitava a validade da visão do mundo marxista. Onde ele se distinguia dos demais era no processo através do qual a tal visão do mundo obteria a vitória. Gramsci escreveu que: ... pode e deve existir uma "hegemonia política" mesmo antes de se assumir o poder governamental, e de modo a que se possa exercer a liderança política ou hegemonia, não se pode contar apenas com o poder ou com a força material que são dadas pelo governo. O que ele quis dizer é que é dever dos marxistas conquistar as mentes e os corações das pessoas, e não depositar as esperanças futuras só na força ou no poder. [69] O que seria essa “revolução intelectual”? Inverter os valores morais já instalados na sociedade. Na perspectiva de Gramsci, o comunismo [70] deveria atingir as pessoas de uma maneira que elas viessem a amá-lo. A guerra poderia impor o sistema comunista sobre as pessoas pela força, mas elas nunca iriam amá-lo, pois ninguém consegue amar um opressor. O mundo ocidental não foi atingido, segundo Gramsci, pelos ideais da “Revolução Russa” por ela ter sido uma “revolução armada”. A revolução de Lênin durou algum tempo, mas ficou localizada e automaticamente foi perdendo força; justamente por não ser a “revolução armada” o ideal para que o sistema político comunista seja implantado em uma esfera social maior, afirmava Gramsci. Em 1926, na Itália, Gramsci foi condenado a 20 anos de prisão por Benito Mussolini. Na prisão, ele teve a liberdade para pensar e escrever. Logo, foi nos anos em que esteve preso que escreveu 10 cadernos chamados “cadernos do cárcere” contendo todo o seu esquema estratégico de implantação do comunismo. Na verdade, ele, ao escrever, teve o intento de criar uma engenharia social que fosse capaz de destruir valores já encarnados por gerações anteriores na cultura ocidental, pois acreditava que existiam valores morais e políticos, já instalados na sociedade ocidental que, como travas, impediam o avanço do comunismo. Quais seriam essas travas? Na visão de Gramsci, na sociedade ocidental existiam três travas que impediam o avanço do comunismo, a saber: 1) a lógica grega, que tem por base a busca pela verdade e a necessidade de uma coerência; 2) o direito romano, que tem como premissa a propriedade privada que, por sua vez, implantou nas pessoas o conceito da obtenção de imóveis ou propriedades, com base na meritocracia; 3) a moral judaico-cristã, que tem como base os Dez Mandamentos. Em síntese, a proposta é estabelecer uma nova ordem de valores. Gramsci percebeu que o caminho para se estabelecer o comunismo de maneira preeminente seria desconstruindo valores morais já definidos. Os valores cristãos deveriam ser revogados, pois segundo ele a moral cristã estava poluída. James Joll, referindo-se às palavras de Gramsci acerca da moral cristã, escreveu: …em 1917, publicou uma tradução de If, de Kipling, como “um breviário para os anticlericais” (Breviario per Laici), exemplo de moral não poluída pelo cristianismo, que pode ser aceita por todos os homens. [71] O cristianismo possui uma moral poluída, afirmava Gramsci; deste modo, a moral cristã deveria ser destruída. Mas, como? Ele desenvolveu um processo com etapas. Etapas para o processo A primeira fase para se obter a "hegemonia cultural" duma nação é a debilitação dos elementos da cultura tradicional: As igrejas são, portanto, transformadas em clubes politicamente motivados, que colocam ênfase na "justiça social" e no igualitarismo, e onde as doutrinas milenares e os ensinamentos morais são "modernizados" ou reduzidos até ao ponto da irrelevância; 2. A educação genuína é substituída por currículos escolares "emburrecidos" e "politicamente corretos", e os padrões [acadêmicos] são reduzidos de um modo dramático; 3. Os órgãos de informação são moldados de modo a serem instrumentos de manipulação em massa, e instrumentos de assédio e descrédito das instituições tradicionais e dos seus porta-vozes; 4. A moralidade, a decência, e as virtudes do passado são ridicularizadas incessantemente; 5. Os membros tradicionais e conservadores do clero são caracterizados como falsos, e os homens e mulheres virtuosos são classificados de hipócritas, convencidos e ignorantes. [72] No esquema gramsciano, a implantação do comunismo marxista viria paulatinamente, comendo pelas beiradas; de maneira discreta, mas eficaz. A cultura vigente deveria ser debilitada para que costumes outrora não aceitos fossem aos poucos sendo aceitos e assim um novo modo de enxergar a vida e o mundo transpusesse novas gerações. O Padre James Thornton acerca disso escreveu: As tentativas de demolição de tal barreira revelaram-se improdutivas uma vez que só geraram forças contrarrevolucionárias poderosas, consolidando-as e tornando-as potencialmente mortíferas. Devido a isto, em vez dum ataque frontal, seria muito mais vantajoso e menos perigoso atacar a sociedade do inimigo subtilmente com o propósito de transformar a mente colectiva da sociedade gradualmente durante um período de algumas gerações da precedente visão de mundo cristã para uma mais de acordo com o marxismo. [73] Deste modo, na linguagem gramsciana a cultura não é mais um suporte de apoio à herança nacional, e um veículo para a transmissão dessa herança para as geraçõesfuturas, mas sim um meio de "destruir as ideias ... apresentando aos jovens não os exemplos heroicos, mas apresentando de modo deliberado e agressivo os degenerados”. [74] Desta forma, no plano estratégico de implantação do comunismo gramsciano, a cultura é o meio pelo qual se implanta valores avessos aos valores já encarnados no senso comum, valores morais e valores políticos. Assim, os valores cristãos seriam os mais atacados, pois eles estabelecem regras comportamentais que descartam qualquer ameaça ou enfrentamento em nome de uma filosofia de poder. Gramsci via a moral cristã como uma moral poluída, justamente por ser ela contra qualquer manifestação contrária a vontade de Deus. Gramsci deduziu que o mundo civilizado havia sido saturado com o cristianismo por 2000 anos e que o cristianismo era a filosofia dominante e o sistema moral na Europa e na América do Norte. De forma prática, a civilização e o cristianismo encontravam-se inextricavelmente ligados. O cristianismo tinha se tornado tão integrado na vida diária de quase todos, incluindo da vida dos não-cristãos que viviam em terras cristãs, e era tão universal que formava quase uma barreira impenetrável para a nova civilização revolucionária que os marxistas queriam criar. [75] Deus, no esquema gramsciano, deve ser marginalizado. Os valores morais definidos por Ele, para a vida em sociedade, devem ser enfraquecidos e consecutivamente destruídos. Deste modo, os valores familiares já encarnados na cultura ocidental, há anos, passaram a ser atacados. Foi assim que militantes gayzistas, feministas e abortistas ganharam espaço no espectro político. Se antes homossexuais eram assassinados por Stalin ou Hitler, hoje são sordidamente usados como manobra política. Se antes mulheres eram maltratadas pelos esquerdistas, hoje têm suas histerias políticas incentivadas pelos vermelhos. Vale tudo para chegar à revolução, não é mesmo? [...] a alarmante feminilização da família, através do crescimento do número de divórcios, do igualitarismo totalitário e da ridicularização do homem. Não por acaso, em todo o mundo observam-se inúmeras inversões de valores familiares tradicionais. Em meio à neurose feminista, a figura paterna é minimizada e mulheres tornam-se pedaços de carne na TV. No mais, incentivam-se o assassinato de bebês e o abandono de idosos. Perde-se o sentido do matrimônio. Perde-se o sentido da união. Qual é o próximo passo? Crianças criadas pelo estado, como queria o Sr. Marx? [76] A família sempre esteve na mira dos marxistas. Lutaram e lutarão contra ela. O projeto de Gramsci inclui aceitar tudo que estiver na contramão do usual, convencional, assim gramscistas estão prontos a aceitar qualquer ideologia que seja contra a família tradicional, daí a razão da ideologia de gênero ter sido tão aceita em nosso tempo. Na verdade, tudo que for útil para descontruir valores cristãos, na ótica gramscista marxista, deve ser abraçado. O projeto do mal desenvolvido por Gramsci foi levado adiante por intelectuais na Alemanha. Em julho de 1924, em Frankfurt, cidade alemã, um movimento liderado por filósofos, psicólogos e sociólogos marxistas trouxe para o “século XX as primeiras noções sobre Indústria Cultural e Cultura de Massa”. [77] A ESCOLA DE FRANKFURT A destruição dos valores cristãos da família também esteve presente na chamada Escola de Frankfurt. Escola formada por intelectuais marxistas. [78] Segundo Barbara Freitag, autora de A teoria crítica: ontem sempre: Escola de Frankfurt designa, então, a instituição dos trabalhos de um grupo marxista não ortodoxo que, em 1920, permanece à margem de um marxismo- leninismo clássico, seja na versão teórico-ideológica, seja na linha militante e partidária. [79] É válido considerar que “o nome escola é sinônimo de tendência, apenas. Bastante comum é o aluno perguntar o endereço da escola em Frankfurt ou mesmo indagar sobre a existência física dela. Mas, deve-se pensar escola como tendência, movimento”. [80] Tudo começou quando a partir do Instituto de Pesquisa Social da Universidade de Frankfurt marxistas criaram a chamada teoria crítica da sociedade. [81] Com o advento da Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918), o marxismo passou a viver uma crise teórica, pois como já ponderei, Marx previu uma guerra entre trabalhadores e patrões, em que trabalhadores se uniriam e pegariam em armas contra seus patrões. Estouraria, na perspectiva marxista, na Europa essa guerra; assim, como Marx havia previsto, de fato houve a guerra; a guerra veio, mas não aconteceu o que Marx havia previsto em relação aos trabalhadores e seus patrões, pois o inverso aconteceu. Trabalhadores se uniram com seus patrões para lutarem juntos em defesa dos interesses do mesmo país: alemães trabalhadores e patrões estavam do mesmo lado. Para os marxistas, esse fato foi o nunca imaginado. O marxismo estava, por essa razão, em crise. A teoria marxista [da revolução armada do proletariado contra seus patrões] havia sido na prática desconsiderada. [82] Por essa razão, marxistas passaram a buscar uma resposta para o que havia acontecido. Muitos chegaram à conclusão de que houve uma alienação [83] do proletariado, ou seja, os trabalhadores haviam alienado os seus direitos de classe quando lutaram junto com seus patrões. A indagação pós-guerra em torno dessa questão foi: Quem havia alienado o trabalhador? A resposta foi: “a civilização ocidental”. [84] Consequentemente, a Escola de Frankfurt surge com o propósito de desconstruir os valores encarnados na civilização ocidental, pois, assim como Gramsci, os filósofos marxistas de Frankfurt chegaram à conclusão de que de fato existia no Ocidente uma maneira de entender a vida que não permitia a implantação do marxismo e, por isso, passam a criticar a sociedade ocidental. Todos os valores vigentes passam a ser ridicularizados. A cultura ocidental, na linguagem dos intelectuais de Frankfurt, deveria ser dizimada. Censuras escritas das mais variadas foram feitas à sociedade ocidental. A Escola de Frankfurt passou a disseminar a chamada, como já expus, “Teoria Crítica”, uma espécie de “Revolução Intelectual” desenvolvida por Gramsci. Os valores cristãos estavam na mira dos letrados críticos da sociedade ocidental. Em Gramsci, vimos a primeira tentativa de resolver o problema da crise do marxismo no Ocidente. Destarte, a Escola de Frankfurt é a segunda tentativa, ambas possuem uma semelhança estratégica de implantação do marxismo no Ocidente, a destruição dos valores cristãos desenvolvidos no Ocidente. Assim como Nietzsche [85] havia apregoado a libertação do Ocidente dos valores cristãos, os intelectuais de Frankfurt estavam fazendo. Como bem ponderou o filósofo católico Padre Paulo Ricardo: Uma segunda reação à crise marxista foi a reação pessimista da Escola de Frankfurt, que via a civilização ocidental como algo extremamente negativo. A tentativa de desconstrução do mundo ocidental era a força de seu trabalho, através da proposição da Teoria Crítica como um caminho a ser adotado, numa atitude de constante crítica e destruição ante a civilização ocidental. Se ela cair, o mundo será melhor. A Escola de Frankfurt, porém, não tinha um projeto para o pós-destruição, pois também acreditava no poder criativo do mal, na certeza de que se houvesse destruição, a ordem, de alguma maneira desconhecida, iria surgir. [86] Em suma, a tese levantada pela Escola de Frankfurt foi de que para construir é preciso destruir. Na verdade, o intento era estudar a civilização ocidental com o propósito de destruí-la. [87] A influência teórica de Hegel, [88] de Nietzsche [89] e de Freud [90] esteve presente nos escritos oriundos da Escola de Frankfurt. Intelectuais como Max Horkheimer, [91] Herbert Marcuse [92] e Theodor W. Adorno, [93] expoentes dessa escola, passaram a propalar a visão marxista contra a cultura cristã. Brutalmente atacavam os valores cristãos; neles “a cultura tradicional cristã é qualificada de ‘repressiva’, ‘eurocêntrica’, ‘racista’ e, desde logo, indigna da nossa contínua devoção. Parao seu lugar, o primitivismo puro mascarado de ‘multiculturalismo’ é colocado como o novo modelo”. [94] Contudo, Horkheimer, Marcuse e Adorno, entre outros intelectuais da Escola de Frankfurt, não permaneceram muito tempo em Frankfurt, pois logo que o nazismo eclodiu com força na Alemanha, sob o comando de Adolf Hitler, eles tiveram que fugir para os Estados Unidos. Conquanto, apesar de terem saído da Europa por medo de uma represália nazista, não deixaram de disseminar o veneno da Escola de Frankfurt em solo americano. Nos Estados Unidos, eles se fixaram na Columbia University. [95] Assim, de Frankfurt, em função da ameaça nazista, no ano de 1934 o Instituto de Pesquisa Social foi transferido para New York. [96] A localidade do Instituto havia sido mudada, mas a intenção, não. Logo, a Escola de Frankfurt, por meio dos seus representantes, tentou minar a sociedade americana, atacando os valores já presentes nela, com intuito de fazer com que uma revolução acontecesse. Os Estados Unidos, de origem cristã protestante, foram formados a partir dos valores cristãos, que estavam muito bem definidos e enraizados em sua cultura; portanto, foi contra esses valores que os intelectuais de Frankfurt se insurgiram. Passaram a atacar a família tradicional americana. Max Horkheimer determinou que a aliança profunda dos americanos à família tradicional era um indício da nossa inclinação nacional para o mesmo sistema fascista de onde eles tinham fugido. Explicando a conexão entre o fascismo e a família americana, ele declarou: Quando a criança respeita na força do seu pai uma relação moral e aprende deste modo a amar o que a sua racionalidade reconhece como sendo um fato, ele experimenta o seu primeiro treino do relacionamento autoritário burguês. [97] Comentando de forma crítica a teoria de Horkheimer, Arthur Herman escreve no seu livro The Idea of Decline in Western History [A ideia do declínio na história ocidental]: [98] A família moderna típica envolve, portanto, "uma resolução sadomasoquista do complexo de Édipo", produzindo uma deficiência psicológica, a "personalidade autoritária". O ódio do indivíduo pelo pai é suspenso e permanece por resolver, tornando-se, no seu lugar, numa atração pela figura autoritária forte que ele obedece de modo inquestionável. [99] A família tradicional em Horkheimer é terreno fértil para que sistemas autocráticos, discricionários como o fascismo, venham nascer. Horkheimer fundamenta-se em seu próprio entendimento e não em fatos reais. Assim Rolf Wieggershaus escreveu sobre as afirmações de Horkheimer: O que Horkheimer tinha a dizer, dizia-o baseando-se em seu conhecimento dos escritores pessimistas da época burguesa, que ele tanto apreciava, e quase sem se referir a estudos científicos. Como seu artigo sobre generalidades em Studien über Autorität und Familie e seu estudo, também publicado em 1938, sobre a mudança da função da dúvida, Montaigne und Funktion der Skepsis (Montaigne e a função do ceticismo), esse exemplo mostrava, por sua vez, até que ponto ele confiava em seu olhar dialético além das coisas, sem se deter muito tempo em pesquisar os fatos. [100] A visão dele sobre a família tradicional é de que ela deve ser revogada. Veja que o princípio marxista de que a família tradicional é um mal à sociedade, na verdade ao socialismo, é mantido, pois no dizer de Marx, como já dito, é ela que mantém o capitalismo. Assim escreveu Marx acerca da família: Abolição da família! Até os mais radicais ficam indignados ante essa proposta infame dos comunistas. Quais são as bases da família atual, da família burguesa? O capital, o ganho individual. Em sua plenitude, a família só existe para a burguesia, mas encontra seu complemento na supressão forçada da família entre os proletários e na prostituição pública. A família burguesa desvanece-se totalmente com o desvanecer de seus complementos, e uma e outra com o desvanecer do capital. (....) As declamações burguesas sobre a família e educação, sobre os vínculos sublimes entre pais e filhos, tornam-se cada vez mais repugnantes pela ação da indústria moderna: os laços familiares dos proletários são destruídos e as crianças são transformadas em meros artigos de comércio e instrumentos de trabalho. [101] Portanto, por detrás de toda essa tentativa de associar a família a algo ruim, está a velha ideia marxista de que a família foi criada pelo macho burguês com intuito de expandir e sustentar o capitalismo na civilização ocidental e, por isso, ela deve ser destruída. Adorno reproduziu as ideias de Horkheimer sobre a família tradicional. Escreveu o livro A personalidade autoritária com intuito de disseminar as concepções que tinha acerca da família cristã. Chegou a dizer a exemplo de Horkheimer que a “América estava pronta para ser tomada pelos seus próprios fascistas domésticos”. [102] Horkheimer vê o sistema econômico predominante [o capitalista] como meio de dominação. Portanto, diz ele, que existe uma estrutura socioeconômica que submete pessoas de maneira direta e indireta ao seu domínio. Assim diz ele: O processo de produção influencia os homens não só da maneira direta e atual, tal como eles o experimentam em seu próprio trabalho, mas também da forma como ele se situa dentro das instituições relativamente fixas, ou seja, daquelas que só lentamente se transformam, como a família, a escola, a igreja, as instituições de artes e semelhantes. Para compreender o problema por que uma sociedade funciona de uma maneira determinada, por que ela é estável ou se desagrega, torna-se necessário, portanto, conhecer a respectiva constituição psíquica dos homens nos diversos grupos sociais [...] Conceber o processo econômico como fundamento determinante significa encarar todas as demais esferas da vida social em sua relação variável com ele e compreendê-lo, não na sua forma mecânica isolada, mas em conjunto com as aptidões e disposições específicas dos homens, desenvolvidas de certo por ele mesmo. [103] Deste modo, há uma relação em que indivíduos pressionam e são pressionados, o que ele chamou de relação sadomasoquista. [104] A família tradicional dentro desse sistema é levada a ter um progenitor que a representa; esse progenitor é o macho burguês, que impõe sobre sua prole uma condição de submissão. [105]Acerca disso escreve Horkheimer: (...); porém, a circunstância de que na família burguesa normal o homem possui dinheiro, este pode em forma substancial, e decide sobre seu uso, torna “seus” mulher, filhos e filhas, também nos tempos modernos, deixa a vida destes amplamente em suas mãos, força-os à sujeição à sua liderança e comando. Assim como, na economia dos últimos séculos, o poder direto cada vez menor obriga os homens a aceitar a relação de trabalho, assim também, dentro da família, a agitação racional, a obediência espontânea substituem a escravidão e a submissão. [106] O processo de produção no sistema econômico capitalista, portanto, contribui para que o autoritarismo patriarcal continue. [107] Em suma, Horkheimer ensina que o pai, no modelo de família burguês, por ser a instância econômica que sustenta a todos, passa a ter dos membros da família submissão ao seu poder. Por conseguinte, os filhos se projetam no pai, pois passam a enxergar vantagem e, por isso, se submetem. Assim pondera Horkheimer: Os caminhos que levam ao poder são traçados, no mundo burguês, não pela realização de juízos de valor morais, mas pela hábil adaptação às circunstâncias. Disto o filho fica sabendo muito convincentemente a partir das condições da sua família. Pense ele do seu pai o que quiser: se não quiser provocar pesadas recusas e conflitos, tem de subordinar-se e conquistar a sua satisfação. Para ele, enfim, o pai sempre tem razão; ele representa poder e sucesso, e a única possiblidade de o filho manter no seu íntimo a harmonia entre os ideais e a ação obediente, abalada às vezes até o término da puberdade, é atribuir ao pai, isto é, ao forte e rico, todas as qualidades julgadas positivas. Porque, então, o poder econômico e educativo
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