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Autoras Cristiane de Freitas Cunha Grillo Carmen Maria Raymundo Luiza Buzgaib Martins Organizadoras Rita Maria Lino Tarcia Sílvia Helena Mendonça de Moraes Débora Dupas Gonçalves do Nascimento ADOLESCÊNCIAS E JUVENTUDES NA CONTEMPORANEIDADE: DIFERENTES PERSPECTIVAS, DIVERSIDADES, ASPECTOS ÉTNICOS E CULTURAIS CURSO DE APERFEIÇOAMENTO EM SAÚDE MENTAL E ATENÇÃO PSICOSSOCIAL DE ADOLESCENTES E JOVENS Autoras Cristiane de Freitas Cunha Grillo Carmen Maria Raymundo Luiza Buzgaib Martins Organizadoras Rita Maria Lino Tarcia Sílvia Helena Mendonça de Moraes Débora Dupas Gonçalves do Nascimento ADOLESCÊNCIAS E JUVENTUDES NA CONTEMPORANEIDADE: DIFERENTES PERSPECTIVAS, DIVERSIDADES, ASPECTOS ÉTNICOS E CULTURAIS 23-144533 CDD-362.21 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Grillo, Cristiane de Freitas Cunha Adolescências e juventudes na contemporaneidade [livro eletrônico] : diferentes perspectivas, diversidades, aspectos étnicos e culturais / Cristiane de Freitas Cunha Grillo, Carmen Maria Raymundo, Luiza Buzgaib Martins ; organização Rita Maria Lino Tarcia, Sílvia Helena Mendonça de Moraes, Débora Dupas Gonçalves do Nascimento. -- Campo Grande, MS : Fiocruz Pantanal, 2023. PDF Bibliografia. ISBN 978-85-66909-40-1 1. Comunidade e etnia 2. Cultura - Aspectos sociais 3. Diversidade 4. Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) 5. Jovens - Aspectos sociais 6. Jovens - Direitos I. Raymundo, Carmen Maria. II. Martins, Luiza Buzgaib. III. Tarcia, Rita Maria Lino. IV. Moraes, Sílvia Helena Mendonça de. V. Nascimento, Débora Dupas Gonçalves do. VI. Título. Índices para catálogo sistemático: 1. Adolescentes : Política de saúde mental : Bem-estar social 362.21 Eliane de Freitas Leite - Bibliotecária - CRB 8/8415 © 2022. Fundo das Nações Unidas para a Infância – UNICEF. Fundação Oswaldo Cruz Mato Grosso do Sul. Alguns direitos reservados. É permitida a reprodução, disseminação e utilização dessa obra, em parte ou em sua totalidade, nos Termos de uso do ARES. Deve ser ci- tada a fonte e é vedada sua utilização comercial. UNICEF Representante Interina Paola Babos Coordenação do Programa de Desenvolvimento e Participação de Adolescentes Mário Volpi Coordenador Programa de Desenvolvimento e Participação de Adolescentes Gabriela Mora Joana Fontoura Luiza Leitão Rayanne França Oficiais do Programa Daniela Costa Higor Cunha Marina Oliveira Thaís Santos Consultores do Programa Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz Mario Santos Moreira Presidente em exercício Fundação Oswaldo Cruz Mato Grosso do Sul – Fiocruz MS Jislaine de Fátima Guilhermino Coordenadora Coordenação de Educação da Fiocruz MS Débora Dupas Gonçalves do Nascimento Vice- coordenadora de Educação Secretaria-Executiva da Universidade Aberta do SUS – UNA-SUS Maria Fabiana Damásio Passos Secretária-executiva Fundação Oswaldo Cruz Mato Grosso do Sul (Fiocruz MS) Rua Gabriel Abrão, 92 – Jardim das Nações, Campo Grande/MS CEP 79081-746 Telefone: (67) 3346-7220 E-mail: educacao.ms@fiocruz.br Site: www.matogrossodosul.fiocruz.br CRÉDITOS Coordenação Geral Débora Dupas Gonçalves do Nascimento Sílvia Helena Mendonça de Moraes Coordenadora Acadêmica Geral Léia Conche da Cunha Coordenadora Pedagógica Geral Rita Maria Lino Tarcia Coordenadora Acadêmica do Módulo Eloisa Grossman Coordenadora Pedagógica do Módulo Ewângela Aparecida Pereira Autoras Carmen Maria Raymundo Cristiane de Freitas Cunha Grillo Luiza Buzgaib Martins (co-autora) Revisora Técnico-científica Alessandra Silva Xavier Apoio técnico-administrativo Antonio Luiz Dal Bello Gasparoto Adriana Carvalho dos Santos Coordenador de Produção Marcos Paulo dos Santos de Souza Designer Instrucional Felipe Vieira Pacheco Webdesigner Stephanie Oliveira Moraes Silva Designers Gráficos Hélder Rafael Regina Nunes Dias Renato Silva Garcia Desenvolvedor David Carlos Pereira da Cunha Desenvolvedores AVA MOODLE Luiz Gustavo de Costa Vinicius Vicente Soares Editor de Audiovisual Adilson Santério da Silva lustrador Kelvin Rodrigues de Oliveira Revisor Davi Bagnatori Tavares Apresentação do módulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . CONCEITUANDO ADOLESCÊNCIAS E JUVENTUDES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . TRABALHO E JUVENTUDES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . E QUANDO A VIOLÊNCIA VEM DE ONDE ESPERAMOS PROTEÇÃO? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . JUVENTUDES E TERRITÓRIOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . SEXUALIDADES, GÊNEROS E AFETOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . JOVENS COM DEFICIÊNCIA, DIREITOS E EQUIDADE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA: DISCUTINDO MATERNIDADES E PATERNIDADES JUVENIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . CONVERSANDO SOBRE FAMÍLIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ADOLESCÊNCIAS E JUVENTUDES: SINGULARIDADES E DIVERSIDADES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Encerramento do módulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Minicurrículo das autoras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Material de apoio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 9 11 13 16 17 24 26 30 33 34 35 38 41 SUMÁRIO Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens Módulo: Adolescências e juventudes na contemporaneidade: diferentes perspectivas, diversidades, aspectos étnicos e culturais 6 apresentação do módulo Você considera possível pensar em um único jeito de ser adolescente? Fonte: Freepik As adolescências e as juventudes brasileiras vêm con- quistando um novo olhar nas últimas décadas. A Constituição de 1988, o Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990), o Estatuto da Juventude (BRASIL, 2013) e a definição dos instrumentos legais de proteção a essa população repre- sentam grandes avanços para o reconhecimento e a garantia dos direitos juvenis. Indicam a necessidade de compreensão das diversidades desses grupos populacionais e a criação de condições necessárias para a plena realização de suas poten- cialidades. Neste módulo, abordaremos alguns dos principais te- mas que envolvem as juventudes contemporâneas e que de- verão ser considerados pelas equipes multidisciplinares nas intervenções realizadas em muitos contextospor diferencia- dos setores. Convidamos você a conhecer as histórias de três jo- vens moradores de um mesmo território e protagonistas de di- ferentes trajetórias. Por meio dessas narrativas, reafirmamos o entendimento das adolescências e das juventudes como pro- cessos complexos, plurais e heterogêneos de emancipação. A pluralidade do conceito de adolescência abrange as pecu- liaridades existentes nas várias regiões do país, nos territórios rurais e urbanos, assim como nos diferentes gêneros, raças, etnias e classes sociais. De acordo com Novaes (2007), os modos de vida pro- porcionados à juventude em nossa sociedade criam o pano de fundo que influencia a adoção de suas práticas cotidianas. Se pensarmos nos jovens do século XXI, podemos constatar que eles vivem em um mundo globalizado, mas com profun- das desigualdades sociais. Conforme vimos no caso comple- xo, a condição juvenil pode ser vivida de forma desigual e di- versa, ainda que em um mesmo território, devido a diferenças de raça, etnia, gênero, orientação sexual, inserção no mercado de trabalho, configurações familiares etc. Nesse contexto, existem situações diferenciadas de vulnerabilidade juvenil. Não podemos, portanto, homogenei- zar a categoria juventude. Em cada tempo e lugar, fatores his- tóricos, estruturais e conjunturais determinam as vulnerabilida- des e as potencialidades das juventudes. Assim, é fundamental refletir sobre questões ligadas às novas configurações familiares, às identidades de gênero e orientações sexuais, às violências, à desigualdade de direitos e oportunidades, à gravidez na adolescência, ao trabalho, en- tre tantos outros aspectos. https://www.gov.br/mdh/pt-br/navegue-por-temas/crianca-e-adolescente/publicacoes/o-estatuto-da-crianca-e-do-adolescente https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/509232/001032616.pdf Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens Módulo: Adolescências e juventudes na contemporaneidade: diferentes perspectivas, diversidades, aspectos étnicos e culturais 7 Falamos em adolescências e juventudes no plural por considerarmos a diversidade dessas experiências no Brasil. Se a puberdade é um fenômeno biológico e universal, as adoles- cências e juventudes são experiências sócio e culturalmente construídas. O que você pensa sobre ser adolescente e jovem em uma cidade grande, em um município pequeno, na zona rural, nas comunidades indígenas, quilombolas etc.? Você co- nhece adolescentes e jovens que vivem essas experiências diversas? Neste módulo, falaremos também da puberdade, que invade o corpo da criança, provocando às vezes um sentimen- to de estranheza. O conceito de puberdade está ligado às mo- dificações hormonais que podem começar a partir dos oito anos nas meninas e nove anos nos meninos e provocam au- mento das mamas, dos pelos, dos testículos e do pênis. Nes- sa fase, o crescimento acelera – é o que chamamos estirão da puberdade. Nesse momento, ocorre, também, um intenso proces- so de maturação cerebral. Até o século passado, acreditava-se que o cérebro finalizasse seu processo de desenvolvimento aos 10 anos de idade. Hoje, sabemos que isso acontece além do período definido como adolescência, especialmente a possibilidade de controlar os impulsos e de planejar decisões. Iremos abordar também as adolescências e juventu- des, sempre no plural, porque são muitas experiências e muito diversas. Raça, etnia, gênero, orientação sexual, território etc. marcam profundamente cada adolescência e juventude. Para falar de adolescentes e jovens, é fundamental fa- lar das famílias e dos territórios. Vamos indicar algumas leitu- ras, filmes, músicas, entre outros materiais, ok? Veja na lista de referências o que você vai ler, ver ou ouvir! Vamos pensar em quantas famílias diferentes umas das outras você conhece? E em quantos lugares e modos de viver existem? Agora que você já conhece os rumos da nossa prosa, fica uma dica: cada adolescente ou jovem é único! As receitas prontas não dão conta da singularidade das pessoas. Por esse motivo, nossa proposta é de conversarmos e trocarmos ideias, não fornecer um guia de como você deverá atuar. Saiba mais Despertou seu interesse em conhecer mais sobre a puberdade? Siga explorando o tema Saúde do adolescente, clicando no ícone ao lado. Esse e-book trata da saúde de adolescentes e aprofunda as questões sobre puberdade e adolescência. clique e acesse https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/registro/referencia/0000002738 Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens Módulo: Adolescências e juventudes na contemporaneidade: diferentes perspectivas, diversidades, aspectos étnicos e culturais 8 Estamos juntos aprendendo a melhor forma de nos aproximarmos dos adolescentes e jovens. Você concorda que, na hora de “se abrir”, é necessário escolher bem com quem falar? Sabemos da importância de uma escuta atenta, inte- ressada e desprovida de preconceitos. A lealdade e a possibi- lidade de compartilhar segredos e dúvidas são fundamentais. Nas sociedades contemporâneas, as pessoas experimentam novas formas de relacionamento por meio das redes sociais e de outras tecnologias de comunicação, tanto no mundo real como no virtual. Estar junto dos adolescentes e dos jovens é reconhecer o potencial criativo e a pujança de vida e, acima de tudo, não menosprezar as questões que os preocupam e que lhes trazem sofrimento. Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens Módulo: Adolescências e juventudes na contemporaneidade: diferentes perspectivas, diversidades, aspectos étnicos e culturais 9 CONCEITUANDO ADOLESCÊNCIAS E JUVENTUDES Por falar em adolescentes e jovens, que tal conceituar- mos ADOLESCÊNCIA e JUVENTUDE? Na atualidade, o Estatuto da Juventude (BRASIL, 2013) oficializou a juventude como categoria que congrega pessoas com idades entre 15 e 29 anos. A Política Nacional de Juventude (BRASIL, 2006) considera adolescentes-jovens pessoas entre 15 e 17 anos, jovens-jovens as pessoas que estão entre 18 e 24 anos e jovens-adultos as que estão entre 25 e 29 anos. Existem diferentes definições de adolescência e juventu- de, mas é importante ressaltar que o entendimento da adoles- cência enquanto um período particular da vida, situado entre a infância e a vida adulta, é recente na história da humanidade. O conceito de adolescência é cultural, pois a forma como cada so- ciedade interage com os jovens é particular e está inserida em contextos socioculturais e históricos. Nesse sentido, é importan- te lembrar que a categoria adolescência emerge no século XIX, quando há uma importante mudança na sociedade: a passagem de uma experiência coletiva para o fortalecimento do espaço privado e da família. Esse movimento inspirou a necessidade de proteger as crianças e os jovens e deu destaque aos colégios como instituições essenciais da sociedade. Crianças e adoles- centes passaram a frequentar as escolas, destinadas a indivíduos de 10 a 25 anos, sob a influência de especialistas adultos e práti- cas pedagógicas que enfatizavam a formação moral, religiosa e intelectual. Esse grupo populacional apresenta um padrão de mor- bimortalidade – isto é, de adoecimento e morte – com caracte- rísticas específicas. Apesar das diferenças observáveis entre os diversos países, entre as Regiões do Brasil, estados, municípios e suas culturas locais, podemos dizer que, em linhas gerais, os jovens adoecem e morrem por causas externas e evitáveis. Será que nossos serviços têm atentado para essa particularidade? Se sim, como alcançar a juventude com vistas à prevenção desses agravos e promoção de suas condições de vida? Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2007), a adolescência vai dos 10 aos 20 anos incompletos. Já no Estatuto da Criança e do Adolescente(ECA), Lei n. 8069, de 1990, ela inicia aos 12 e termina aos 18 anos. Pelo Código Civil Brasileiro, atinge-se a maioridade aos 18 anos, entretanto é permitido votar a partir dos 16 anos. Fonte: Freepik Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens Módulo: Adolescências e juventudes na contemporaneidade: diferentes perspectivas, diversidades, aspectos étnicos e culturais 10 Você já havia pensado sobre isso? Em seu cotidiano, você conhece jovens que adoeceram ou morreram devido a causas externas1 (acidente, homicídio, suicídio, enchente, afogamento, envenenamento etc.)? Você já participou de algum movimento organizado para a promoção da saúde e prevenção de agravos? Ainda sobre as causas externas de mortalidade entre os jovens, os acidentes de trânsito relacionados com o trabalho têm, atualmente, uma taxa alta de ocorrência. Você já pensou na relação entre trabalho e acidentes de trânsito? É sobre o que va- mos conversar a seguir. 1 Sobre a morte juvenil por causas externas, o Atlas da Violência tem sido um referencial importante. Na seção sobre violências e juventudes, apresentaremos os dados mais recentes. Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens Módulo: Adolescências e juventudes na contemporaneidade: diferentes perspectivas, diversidades, aspectos étnicos e culturais 11 TRABALHO E JUVENTUDES Já reparou como na paisagem contemporânea tem sido muito comum nos depararmos com adolescentes e jovens em motocicletas, bicicletas e até mesmo a pé carregando mochilas de entrega? Na verdade, ainda conhecemos pouco seus cotidia- nos de trabalho, possíveis situações de risco à saúde e, em es- pecial, de que forma interpretam o trabalho e a si mesmos como trabalhadores. Proposição Feedback positivo: Feedback orientador: Você avalia que o trabalho possa ter implicações na saúde juvenil? Você já pensou que existe uma possível relação en- tre a experiência de trabalho na adolescência e na juventude e o aproveitamento escolar, a necessidade de tempo livre e a convivência familiar e comunitária? A realidade do trabalho juvenil ilustra que, apesar dos direitos assegurados pelo arcabouço jurídico-legal, ainda são pou- cos ou inexatos os dados conhecidos acerca da ocorrência de doenças e acidentes de trabalho neste grupo populacio- nal, assim como das situações de risco à saúde às quais as pessoas desse grupo estão expostas durante as experiên- cias de trabalho de que participam. Uma maior aproximação com a diversidade dos universos ju- venis no Brasil tem no tema trabalho uma mediação da maior importância, pelos possíveis impactos originados por esta experiência, na qualidade de vida deste grupo populacional. É fundamental aferir se os jovens com os quais trabalhamos estão inseridos em atividades de trabalho. ? Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens Módulo: Adolescências e juventudes na contemporaneidade: diferentes perspectivas, diversidades, aspectos étnicos e culturais 12 De acordo com Novaes (2007), ser jovem é viver uma con- traditória convivência entre as normas e valores familiares e sociais e, ao mesmo tempo, grandes expectativas de emancipação. Os jovens do século XXI vivem uma experiência geracional em co- mum e historicamente inédita: a aceleração da globalização e o agravamento das desigualdades. Assim, as características do tem- po contemporâneo compreendem: as mudanças tecnológicas do mundo do trabalho (mutante e restrito), maior violência simbólica e física, além da evidência dos riscos ecológicos. Esses marcadores relacionam-se com a vivência contemporânea juvenil, caracteriza- da por múltiplas entradas e saídas do mundo do trabalho e da es- cola. Temos uma juventude com escolaridade cada vez maior em relação às gerações anteriores, mas, por outro lado, o mundo do trabalho não tem correspondido a esse novo patamar de escolari- dade. Isso tem gerado entre os jovens o medo “de sobrar”. Conforme vimos nas histórias de José Ribamar e de seus amigos, apesar de a Lei no 12.009 (BRASIL, 2009) regulamentar serviços como mototaxista e motoboy, sabemos, pelo Ministério da Saúde (GIANNINI, 2018), que os motoboys são os que mais sofrem acidentes. Porém, esses acidentes, que por vezes trazem consequências sérias, não são considerados acidentes de tra- balho, e sim acidentes de trânsito. Esse fato mascara quanto as formas de trabalho contemporâneas podem representar riscos à saúde juvenil, assim como a ausência de direitos trabalhistas e previdenciários (RAYMUNDO; VEIGA, 2013). Orientações impor- tantes sobre essa temática podem ser encontradas no Módulo de autoaprendizagem sobre Saúde e Segurança no trabalho In- fantil e Juvenil, organizado pela Organização Internacional do Trabalho (2007). Esse contexto tem significado, sobretudo, para jovens das camadas populares, jovens negros, jovens LGBTQIA+ e mulheres, que habitualmente se inserem precocemente no mundo do trabalho informal e sem garantia de direitos. Saiba mais Vamos ver um curta que aborda o cotidiano, as dificuldades, os medos e os sonhos de mo- toboys que circulam na cidade de São Pau- lo? Clique no ícone, faça seu cadastro e assis- ta ao vídeo. Nele é possível identificar alguns problemas apresentados em nosso caso de estudo: os acidentes, a ausência de direitos, a violência a que estão submetidos e o preconceito. Os acidentes de trabalho não são as únicas causas externas de morbimor- talidade entre os jovens. Há também uma preocupação muito elevada com a violência, assunto que merece nossa atenção e que iremos agora saber um pouco mais! Fonte: WikiMedia clique e acesse https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/modulos_autoaprendizagem_trabalho_infantil_juvenil.pdf https://portacurtas.org.br/filme/default.aspx?name=cachorro_louco Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens Módulo: Adolescências e juventudes na contemporaneidade: diferentes perspectivas, diversidades, aspectos étnicos e culturais 13 E QUANDO A VIOLÊNCIA VEM DE ONDE ESPERAMOS PROTEÇÃO? Nos relatos dos jovens, também chamaram a atenção al- guns episódios de violência perpetrados por agentes públicos. Você sabia que existe um conceito para nomear essas situações? Estamos falando da violência institucional, que pode ser observada nas práticas discriminatórias em razão de diferen- ças de território, gênero, raça, etnia, orientação sexual e religião, que são terreno fértil para a ocorrência desse tipo de violência. Zizek, um intelectual da Eslovênia, em seu livro Violência (2014), propõe uma distinção entre agressão e violência. Habi- tuamo-nos a pensar que só há violência quando há agressivida- de, entretanto esse autor discute que há dois tipos de violência: subjetiva e objetiva. A subjetiva é visível e a objetiva, invisível. Para ele, a violência subjetiva é aquela exercida pelos agentes sociais, pelos indivíduos maléficos, pelos aparelhos re- pressivos do Estado e pelas multidões fanáticas. A violência sub- jetiva, por ser mais facilmente identificada, pode desviar a aten- ção das outras formas de violência que estariam acontecendo. A violência objetiva se divide em duas modalidades: vio- lência sistêmica e violência simbólica. A violência sistêmica, apoia- da pelas relações sociais, políticas e econômicas, sustenta laços de dominação e exploração. Essa forma de violência é invisível e pode utilizar o poder político, econômico ou midiático para se consolidar. Já a violência simbólica está encarnada na linguagem e em suas formas, impondo um certo universo de sentido. As vio- lências sistêmica e simbólica constituem um ciclo no qual uma sustenta a outra em um decurso imperceptível e dissimulado. No caso complexo, identificamos uma violência subjetiva, explícita, no relato de Renata, quefoi expulsa de casa, de alguma forma da escola e trabalhava na exploração sexual comercial. A violência institucional é aquela praticada pela ação e/ ou pela omissão das instituições prestadoras de servi- ços públicos, como hospitais, postos de saúde, escolas, delegacias, Judiciário, entre outras, no exercício de suas funções. É perpetrada por agentes que deveriam garantir atenção humanizada, preventiva e reparadora de danos. Violência Subjetiva - Violência Objetiva - A violência sistêmica pode ser vista no trabalho preca- rizado de José e na falta de acesso aos banheiros na escola de Lucca. A violência simbólica surge na fala da Renata quando ela conta que seu nome so- cial não foi respeitado no centro de saúde. Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens Módulo: Adolescências e juventudes na contemporaneidade: diferentes perspectivas, diversidades, aspectos étnicos e culturais 14 As violências incidem sobre as vidas dos jovens sob a for- ma de genocídio, de extermínio violento, mas também de segre- gação, evasão escolar, sofrimento psíquico etc. RACISMO Com relação especificamente às práticas discriminatórias que têm como base o racismo, a médica Jurema Werneck, ativis- ta do movimento de mulheres negras e doutora em Comunica- ção e Cultura, alerta-nos que, no nosso país, elas se manifestam de forma institucional, seja na forma de exclusão, prioridades ou metas de realização das diversas instituições sociais, nas áreas da educação, do mercado de trabalho, da política, da segurança pública, da esfera privada e, também, da saúde. Vamos discutir mais sobre o racismo! Você conhece os dados sobre violência contra jovens negros no Brasil? Veja o que os autores do Atlas escreveram na página 27: Vidas ceifadas, sonhos não sonhados, amores e dores não vividos. A banalização dessas mortes violentas, também um sinto- ma do racismo, esvazia até o luto. É mais um... Como se esse um não contasse e não tivesse um nome, uma história, uma família, um lugar onde morava, um amigo e um possível futuro, que foi destruído. Um jovem bacana como o nosso José Ribamar, um so- nhador, um líder, é também um suspeito, um alvo dessa violência que marca nosso país. O problema é enorme, não é mesmo? Porém, não pode- mos deixar de destacar que os jovens vêm elaborando formas de resistência, ainda que elas nem sempre sejam percebidas e valo- Saiba mais Vamos ver os dados do Atlas da Violência de 2021? É só clicar no ícone ao lado. Esse documento, entre outros dados, traz infor- mações sobre a violência contra as pessoas negras. Com efeito, no Brasil a violência é a principal causa de morte dos jovens. Em 2019, de cada 100 jovens entre 15 e 19 anos que morreram no país por qualquer causa, 39 foram vítimas da violência letal. Entre aqueles que possuíam de 20 a 24, foram 38 vítimas de homicídios a cada 100 óbi- tos e, entre aqueles de 25 a 29 anos, foram 31. Dos 45.503 homicídios ocorridos no Brasil em 2019, 51,3% vitimaram jovens entre 15 e 29 anos. São 23.327 jovens que tiveram suas vidas ceifadas prematuramente, em uma média de 64 jovens assassinados por dia no país. clique e acesse https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/arquivos/artigos/5141-atlasdaviolencia2021completo.pdf Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens Módulo: Adolescências e juventudes na contemporaneidade: diferentes perspectivas, diversidades, aspectos étnicos e culturais 15 rizadas em sua potencialidade. Lembra-se de como foi bacana o encontro entre José, Lucca e Renata? Ali existe potência! Como bem interpretam Coimbra e Nascimento, os jovens periféricos: teimam em continuar existindo, apesar de tudo; suas resistências se fazem cotidiana- mente, muitas vezes, percebidas como frag- mentadas, fora dos padrões reconhecidos como organizados e até mesmo como con- dutas antissociais, delituosas e, por isso, ‘pe- rigosas’ (COIMBRA; NASCIMENTO, 2005, p. 13). Os jovens negros são alvos do extermínio violento, do estigma, do lugar da suspeição. É importante verificarmos como as nomeações estigmatizantes afetam cada jovem e como eles criam e disseminam estratégias de sobrevivência. O racismo, conhecido por pessoas negras desde a mais tenra idade, pode gerar impactos de grande gravidade. Um estudo de Harvard (IDOETA, 2020) aponta quatro efeitos do racismo no cérebro e no corpo de crianças negras: um corpo em constante estado de alerta; maior chance de adquirir doenças crônicas ao longo da vida; assimetria no acesso à saúde e à educação; relações fami- liares atravessadas pelo racismo. A violenta experiência do ra- cismo afeta a socialização de adolescentes negros de múltiplas formas: no âmbito de sua saúde mental, expressa em altos índi- ces de depressão e suicídio; no direito à vida, tendo em vista os alarmantes números de jovens negros mortos por homicídio e de jovens mães negras e seus filhos vítimas de violência obstétrica; na construção de suas subjetividades e identidades diante de si- tuações de discriminação. Esses jovens exercem “resistência” em um território defi- nido, em um espaço em que os acontecimentos e fatos ocorrem, em que a existência se manifesta e a vida flui. Por isso, é muito importante conversarmos sobre território. Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens Módulo: Adolescências e juventudes na contemporaneidade: diferentes perspectivas, diversidades, aspectos étnicos e culturais 16 JUVENTUDES E TERRITÓRIOS Conforme vimos no caso, é relevante observar a impor- tância do território para a socialização dos jovens. A quadrilha, por exemplo, constitui um patrimônio cultural que confere iden- tidade àqueles jovens. Dessa forma, o conceito de território tem um significado bem mais amplo do que uma mera delimitação espacial. O geógrafo Milton Santos nos ensina que o território é um organismo vivo, dinâmico: Devemos entender o território como o lugar onde se realizam todas as ações, paixões, poderes, forças e fraquezas; sendo ele o lu- gar onde a história do homem se realiza a partir da manifestação de sua existência [...]. O território é o fundamento do trabalho; do lugar da residência; das trocas materiais e espirituais e do exercício da vida (SANTOS, 2007, p. 14). Partindo desse entendimento sobre território, é importan- te saber: • Quem são os jovens atendidos em seu serviço? • Em que territórios e contextos sociais estão inseridos? • Quais são os lugares, serviços e/ou instituições no terri- tório nos quais os jovens podem procurar ajuda? • Você avalia que existem espaços para as demandas tra- zidas pelos jovens? No trabalho realizado com jovens, a pesquisadora Ga- briela Calazans (2006) afirmou que as ações bem-sucedidas são “as que têm conseguido alargar a compreensão dos contextos de vida juvenil, sem se limitar à prevenção de comportamentos de risco” (CALAZANS, 2006, p. 37). E mais: os serviços precisam reconhecer os jovens como sujeitos autônomos, com os quais se pode e se deve dialogar. Conforme vimos no caso que inaugura este módulo, con- vidar os jovens para compor reuniões intersetoriais e escutar suas histórias é uma estratégia bastante interessante! Saber quem são, onde se reúnem nos territórios e quais são suas necessidades é um excelente ponto de partida para uma aproximação com os jovens. Chamá-los para a construção de ações, valorizar suas ex- periências pessoais e propor a participação criativa e o fortaleci- mento da autonomia dos jovens pode render ótimos frutos aos trabalhos desenvolvidos com esse grupo. Para o fortalecimento do protagonismo e autonomia dos jovens, sobretudo os adolescentes, conhecer mais sobre eles é fundamental, assim como estabelecer um diálogo afetivo e aco- lhedor. Vamos então saber um pouco mais sobre essa fase tão importante da vida? Cursode Aperfeiçoamento em Saúde Mental e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens Módulo: Adolescências e juventudes na contemporaneidade: diferentes perspectivas, diversidades, aspectos étnicos e culturais 17 SEXUALIDADES, GÊNEROS E AFETOS Na adolescência, o corpo passa por diversas transforma- ções. Alguns adolescentes ficam em guerra permanente com a sua imagem. Passam horas na frente do espelho para identificar e pensar em formas de modificar o que os desagrada. Em algu- mas situações, fazem isso por não se identificarem com o gênero que sua imagem mostra; em outras, pressionados pelos padrões estéticos hegemônicos, acreditam que um caminho rápido para ser aceito e admirado pelo grupo seja ficar parecido com alguma figura pública de destaque: artista, atleta, blogueira etc. O mercado e a sociedade habitualmente fomentam pa- drões hegemônicos voltados para o consumo. Não é sem dificul- dade que cada adolescente e cada jovem constroem seu corpo e sua identidade fora desses padrões. Podemos avaliar, ainda, que a tentativa de criar padrões hegemônicos de gênero, de orientações sexuais, de identidades de gênero, estéticos, entre outros constitui estratégia de poder em uma sociedade fundada em desiguais relações sociais. Apesar de já percebermos algu- mas pequenas mudanças na sociedade, em geral, na TV e nas redes sociais, as mulheres são magras e têm cabelos lisos e os homens são altos e atléticos. A popularização das cirurgias plásticas e a procura desenfreada pelo corpo perfeito têm exposto vários ado- lescentes a riscos desnecessários e a uma série de frustrações, porque os re- sultados dessa busca nem sempre for- talecem a autoestima nem melhoram a aceitação social. Reflita sobre o sofrimento que surge quando acontecem as mudanças da puberdade, quando há discrepância entre o sexo biológico e a identidade de gênero com a qual a pessoa se identifica. Fonte: Freepik Fonte: Pixabay Fonte: Pixabay Fonte: Pixabay Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens Módulo: Adolescências e juventudes na contemporaneidade: diferentes perspectivas, diversidades, aspectos étnicos e culturais 18 Conversando sobre sexualidade A sexualidade faz parte de um conjunto de temas que, quando discutidos, contribuem para o conhecimento de si e do outro. Viver a sexualidade de maneira responsável, com menos riscos e com respeito, é uma questão fundamental dos direitos humanos. Conversar sobre sexualidade possibilita o esclarecimento de dúvidas, perceber que a própria sexualidade não é esquisita e até mesmo alertar para a necessidade de procurar um profissional de saúde. É importante dizer que tudo que vivemos e sentimos acontece no nosso corpo. Assim, não é possível separar a sexualidade do corpo ou pensar o corpo sem considerar a sexualidade. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a se- xualidade não é sinônimo de relação sexual. A sexualidade refe- re-se a tudo aquilo que somos capazes de sentir e de expressar: A sexualidade faz parte da personalidade de cada um, é uma necessidade básica e um aspecto do ser humano que não pode ser separado de outros aspectos da vida. Sexua- lidade não é sinônimo de coito (relação se- xual) e não se limita à ocorrência ou não de orgasmo. Sexualidade é muito mais que isso, é a energia que motiva a encontrar o amor, contato e intimidade e se expressa na forma de sentir, nos movimentos das pessoas, e como estas tocam e são tocadas. A sexuali- dade influencia pensamentos, sentimentos, ações e interações e, portanto, a saúde física e mental. Se saúde é um direito humano fun- damental, a saúde sexual também deveria ser considerada um direito humano básico (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 1975, apud VIVENDO A ADOLESCÊNCIA, 2022). O que você entende por sexualidade? E gênero? O que é identidade de gênero? E papel e expressão de gênero? E orien- tação sexual? Para começarmos, é fundamental esclarecer que sexo e gênero são palavras que traduzem conceitos diferentes! De acordo com Matos (2015), sexo refere-se às caracte- rísticas físicas humanas relacionadas à materialidade do corpo, como órgãos sexuais, genoma, formato do corpo etc. Já o conceito de gênero passou a ser utilizado pelas ciên- cias sociais para o estudo de aspectos sociais nas identidades do que é ser masculino ou feminino, considerando-se o entendi- mento de que não existem determinações naturais para compor- tamentos propriamente masculinos ou femininos. Sexo Gênero - - Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens Módulo: Adolescências e juventudes na contemporaneidade: diferentes perspectivas, diversidades, aspectos étnicos e culturais 19 Assim, entende-se que a forma como homens e mulheres devem se comportar vem sendo construída por meio de um in- tenso e complexo processo de aprendizagem sociocultural que define o que é prescrito para cada sexo, assim como para a homo e a heterossexualidade – frequentemente de forma assimétrica e, convém ressaltar, tendo como base a supremacia masculina e heterossexual (MATOS, 2015). Distinguindo esses conceitos, foi possível compreender que as definições do que é ser homem ou mulher são, na ver- dade, construções sociais e históricas, motivo pelo qual Scott (1998 apud MARTINS, 2021) afirma que gênero é uma categoria historicamente determinada para justamente tornar visível a dife- rença entre homens e mulheres. De acordo com Martins (2021, p. 16), “[...] é nesta esteira que são construídos e delimitados pa- péis sociais atribuídos ao masculino e ao feminino, sendo vistos com estranhamento e mesmo sendo oprimidos quaisquer com- portamentos que fujam à lógica socialmente padronizada”. Você conhece algum adolescente que se nomeia trans ou não binário? E adolescentes que se nomeiam homossexuais, bissexuais, assexuais? Nesse contexto, identidades trans podem abalar a estru- tura do senso comum e das racionalidades que associam sexo a gênero, confrontando esse entendimento! Para Martins (2021), a “transexualidade é uma experiência identitária, caracterizada pelo conflito com as normas de gênero” (BENTO, 2008, p. 18 apud MARTINS, 2021, p. 16). Já Almeida e Saiba mais Vamos assistir a um vídeo sobre sexualida- des na adolescência? Você reparou que o termo sexualidades está no plural? Vamos lá. É um vídeo bem curtinho, clique no íco- ne ao lado. Nesse vídeo podemos esclare- cer alguns pontos: Sexo biológico – masculino ou feminino (características ge- notípicas e fenotípicas) Papel sexual – determinada cultura considera como con- duta masculina ou feminina (é dinâmico – perspectiva de gênero) Orientação do desejo ou orientação sexual – homosse- xual, heterossexual ou bissexual (não depende de “esco- lhas conscientes”) Identidade sexual – quem acreditamos ser clique e acesse https://www.youtube.com/watch?v=8VW9DAz-fWU&list=PLl6cIaEsBeBSMw1wilmM40ACO1mhIARDv&index=2 Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens Módulo: Adolescências e juventudes na contemporaneidade: diferentes perspectivas, diversidades, aspectos étnicos e culturais 20 Murta (apud MARTINS, 2021) nos fazem pensar com a seguinte provocação: “para muitas/os o conflito existe, mas ele não é ne- cessariamente um conflito com as normas de gênero, mas sim com o gênero que foi imposto e com a impossibilidade de trânsi- to identitário” (ALMEIDA; MURTA, 2013, p. 386 apud MARTINS, 2021, p. 17). Você acha que a diversidade de gênero e de orientação sexual tem relação com a saúde e com a escola? Como vimos, o período da adolescência envolve comple- xas mudanças e elaborações sociais, comportamentais, físicas etc. Por isso, Não raro, neste período os/as jovens se en- tendem acerca de sua sexualidade e iden- tidade de gênero, identificando-se como heterossexuais, homossexuais, bissexuais,cisgêneros, não-binários, transexuais… Tal processo, senão devidamente acolhido e compreendido pelos serviços e profissionais pelos quais os/as adolescentes são assisti- dos, gera a agudização de angústias e refle- te na qualidade de vida e das necessidades de saúde destes jovens (GRANEIRO; MAR- TINS, 2019, p. 3). Proposição Você já pensou na importância do nome social? Vamos pen- sar no impacto para um adolescente de não ter o nome so- cial acolhido e respeitado na escola, no centro de saúde etc? Feedback positivo: Feedback orientador: Nome social é o modo como a pessoa se autoidentifica e é reconhecida, identificada, chamada e denominada na sua comunidade e no meio social, uma vez que o seu nome civil, isto é, seu nome de registro não reflete a sua identidade de gênero. Se considerarmos a grande evasão escolar por parte de tra- vestis e transexuais e portadores de outras identidades de gênero que estão em desacordo com seu registro, conce- der o nome social significa promover o acesso aos espaços educacionais (também de saúde e outros) a esses grupos histórica e sistematicamente marginalizados (https://www. ufsm.br/pro-reitorias/pre/observatorio-de-direitos-humanos/ nome-social/) Não acolher o nome equivale a não acolher a diferença, a diversidade. Estamos vendo aqui que cada adolescente é diferente do outro, cada um de nós tem a sua marca singular. Esse acolhimento pode definir o destino de um jovem, como vemos aqui com Lucca e Renata. ? https://www.ufsm.br/pro-reitorias/pre/observatorio-de-direitos-humanos/nome-social/ https://www.ufsm.br/pro-reitorias/pre/observatorio-de-direitos-humanos/nome-social/ https://www.ufsm.br/pro-reitorias/pre/observatorio-de-direitos-humanos/nome-social/ Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens Módulo: Adolescências e juventudes na contemporaneidade: diferentes perspectivas, diversidades, aspectos étnicos e culturais 21 No nosso caso complexo, você conheceu Lucca, jovem trans engajado que tem uma família que o apoia, que frequenta uma escola que tem ouvido algumas de suas demandas e que conversa com a rede de saúde. Conhecemos também Renata, adolescente trans que foi expulsa de casa, está fora da escola, vive em uma ocupação e trabalha na exploração sexual comercial. Infelizmente, histórias como a de Renata são comuns. Além da sexualidade, a violência relacionada às diversi- dades sexuais e de gênero também é outro assunto que precisa ser discutido. Afinal, vivemos em um país que lidera a estatística de mortes violentas contra pessoas trans e travestis. Vamos ler o que os autores escreveram na página 58 do Atlas: Saiba mais Esse assunto despertou seu interesse? Vamos ver o informe de 2022 da Associação Nacional de Travestis e Transexuais do Brasil (ANTRA) (BENE- VIDES, 2022)? É só clicar aqui. Esse informe traz informações sobre violências e assassinatos de travestis e transexuais brasileiras em 2021. Podemos ver também os dados da violência con- tra a população LGBTQIA+ no Atlas da Violência 2021. Esse estudo apresenta um diagnóstico da situação de distintas formas de violência na socie- dade brasileira. A violência contra pessoas LGBTQI+ no Brasil é um fenômeno histórico. Na dimensão simbólica, a violência opera ora pelo recurso ao holofote lançado sobre a ideia de um modelo único e compulsório de família nuclear, cis, hete- rossexual e biparental, que apaga as diversidades sexuais e de gênero (MELLO, 2006), ora pelo recurso aos estereótipos e estigmas que marcam LGBTQI+ como agentes desviantes, de contaminação e degeneração, recorrendo a discursos morais, sociais, biológicos, religiosos e médicos. Na dimen- são corporal, a violência se materializa na forma de abando- no, estupros “corretivos”, assassinatos e espancamentos. Ainda que diferentes, as violências corporais e simbólicas se sobrepõem, visando aniquilação, apagamento e silencia- mento de sexualidades e expressões de gênero dissidentes do modelo único cis hétero historicamente imposto no Bra- sil, que ganhou força recentemente com a ascensão de mo- vimentos moralistas anti-LGBTQI+ operados pela narrativa de suposta priorização da infância e da família (KALIL, 2020) (CERQUEIRA et al., 2021, p. 58).clique eacesse clique e acesse https://antrabrasil.files.wordpress.com/2022/01/dossieantra2022-web.pdf https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/arquivos/artigos/5141-atlasdaviolencia2021completo.pdf Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens Módulo: Adolescências e juventudes na contemporaneidade: diferentes perspectivas, diversidades, aspectos étnicos e culturais 22 Dois gráficos ajudam a observar a incidência da violência contra a população LGBTQIA+, de acordo com raça/cor, eviden- ciando diferentes fatores que atribuem maiores graus de vulne- rabilidade. FIGURA 1 – BRASIL: PERFIL DE PESSOAS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIAS, POR ORIENTAÇÃO SEXUAL, POR RAÇA/COR (2019) De acordo com os dados dispostos na Figura 1, pode-se observar que pessoas negras eram a maioria das vítimas. No que tange à diversidade de orientação sexual, considerando apenas a população negra, 55% das vítimas eram heterossexuais, 55% eram homossexuais e 54% eram bissexuais (CERQUEIRA et al., 2021). FIGURA 2 – BRASIL: PERFIL DE PESSOAS TRANS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIAS, POR RAÇA/COR (2019) De acordo com os dados dispostos na Figura 2, pode- -se observar que pessoas negras também são mais vulneráveis à violência relacionada à identidade de gênero: 58% das travestis, 58% das mulheres trans e 60% dos homens trans vítimas de vio- lência eram negros (CERQUEIRA et al., 2021) Nessa direção, as políticas públicas de focalização refina- da voltadas às intersecções entre gênero e raça são fundamen- tais para o enfrentamento das violências que atingem ambos os grupos. No entanto, pessoas trans negras têm necessidades que demandam ainda mais focalização. Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens Módulo: Adolescências e juventudes na contemporaneidade: diferentes perspectivas, diversidades, aspectos étnicos e culturais 23 Você está estudando as relações entre raça, gênero, fa- tores sociais, econômicos, entre outros. As vulnerabilidades vão se entrelaçando e devemos pensar nessas intersecções para podermos enfrentar essas violências. A constituição de redes de cuidado intersetoriais é um importante fator de proteção para a saúde mental dos jovens mais vulneráveis. A criação de espaços de convivência e de vínculos entre as famílias e entre jovens é fundamental. Apesar de todos os avanços na construção e implemen- tação de políticas públicas, reconhece-se que o racismo e a intolerância religiosa persistem na sociedade brasileira. Essas duas dimensões das relações raciais no Brasil são, sabe-se, his- tóricas e, como afirmam muitos militantes do movimento negro e pesquisadores, assumem, na atualidade, novas formas e reinven- tam-se. Quando traçamos o perfil dos jovens que são diretamen- te atingidos pela violência urbana, podemos afirmar que, em sua grande maioria, são homens negros (“pretos” e “pardos”, segun- do a classificação do IBGE) com baixa escolaridade e moradores de periferia. Porém, também constitui fator de grande vulnerabi- lidade o pertencimento à população LGBTQIA+. Uma forma de violência institucional é não considerar as diversidades juvenis, que abrangem o cotidiano, a socialização e as necessidades dos jovens portadores de deficiências. O que podemos falar sobre as pessoas com deficiência? Como os adolescentes e jovens vivem as diversas deficiências? Você já pensou sobre isso? Vamos conversar um pouco mais so- bre esse assunto... Proposição São muitas as violências e muito complexas, já que estão en- trelaçadas. A violência na fala, no discurso, às vezes é sutil e se encontra tão naturalizada que não a chamamosde violên- cia. Você pensa em algum exemplo? Feedback positivo: Feedback orientador: Muitas crianças negras sofrem o racismo, que é chamado de bullying muitas vezes, velando a violência racial. É importan- te nomear a violência como tal, para poder enfrentá-la. É importante uma atenção constante para detectarmos em nós e no nosso trabalho as evidências, às vezes discretas, mas não menos violentas, do racismo, do machismo, da transfobia, da intolerância religiosa etc. Devemos ver e expli- citar as violações, violências, vulnerabilidades, mas sempre com um olhar para o outro que realce sempre sua potência. ? Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens Módulo: Adolescências e juventudes na contemporaneidade: diferentes perspectivas, diversidades, aspectos étnicos e culturais 24 JOVENS COM DEFICIÊNCIA, DIREITOS E EQUIDADE Será que temos olhado para as pessoas com deficiên- cia e para as necessidades delas tentando enxergar além da deficiência? Para que efetivamente ocorra a inclusão dessas pessoas, é importante refletir sobre os conceitos de igualdade e equidade. Enquanto a igualdade pressupõe tratamento iguali- tário a todos, a equidade busca garantir que pessoas diferentes recebam tratamentos adequados às suas necessidades. Como exemplo, podemos refletir sobre as ações referentes à saúde se- xual e reprodutiva de pessoas com deficiência: em geral, famílias e profissionais estão despreparados para lidar com pessoas sob seus cuidados e orientá-las. Popularmente, considera-se que pessoas com deficiência tenham uma sexualidade incompleta, como reflexo de sua deficiência. Devemos sempre lembrar da potência, da dignidade e dos direitos de cada pessoa que vive uma deficiência, ressaltando a vida, a sexualidade e a liberdade. Os profissionais, suas estratégias e seus materiais educativos, em geral, não atendem a necessidade desse público nas questões de educação em saúde, em especial no caso de pessoas com deficiências sensoriais. É importante pensar nas diversas deficiências e no enfrentamento das violências e violações que as pessoas com deficiências sofrem. Vamos ver o que o Atlas da Violência 2021 tem a nos ensinar sobre isso: É muito importante um olhar atento e uma escuta qualificada para as pessoas que vivem com deficiências, mas também com potências e possibilidades! O conceito de pessoas com deficiência agrupa um conjunto de indivíduos com importantes diferenças, e aqui isso se traduz inicialmente em maiores taxas de notificações de violências contra pessoas com deficiência intelectual. As taxas de notificações são também superiores para as mu- lheres, independentemente do tipo de deficiência. O tipo de violência construído a partir da autoria presumida permi- te separar apenas os casos de violência interpessoal para a análise e, nestes casos, os dados indicam um maior registro de violência doméstica do que comunitária e institucional para qualquer tipo de deficiência. Os registros se concen- tram na faixa etária de 10 a 19 anos e em geral decaem gra- dativamente nas faixas seguintes. A violência mais frequente- mente registrada é a física, mas a violência sexual é frequente para mulheres. Por fim, compartilha-se aqui a compreensão de que a violência reforça a vulnerabilidade dessa popula- ção, pautada em processos de exclusão social, segregação, preconceito e estigmatização dos indivíduos que estão ca- racterizados por diferenças biológicas ou psicológicas, que são tomadas como desvios da normalidade e expressão de menor valia social. (Ministério da Saúde, 2020b, p. 3). Acres- cente-se que parte dessa violência, como as negligências, poderia ser prevenida com um aperfeiçoamento de políticas de cuidado (CERQUEIRA et al., 2021, p. 78-79). Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens Módulo: Adolescências e juventudes na contemporaneidade: diferentes perspectivas, diversidades, aspectos étnicos e culturais 25 Ainda conversando sobre sexualidade e saúde reprodu- tiva, um tema bastante importante é a gravidez na adolescência, em virtude da prevalência, dos preconceitos que envolvem esse acontecimento e da importância de cuidado adequado nessa situação. Vamos conhecer um pouco mais sobre esse assunto? Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens Módulo: Adolescências e juventudes na contemporaneidade: diferentes perspectivas, diversidades, aspectos étnicos e culturais 26 Gravidez na adolescência: discutindo maternidades e paternidades juvenis Lendo o caso complexo, você conheceu Lia, adolescente que morava na mesma ocupação de Renata e que estava grávida. Você conhece alguma adolescente que vivenciou uma gravidez? E/ou um adolescente que se tornou pai? A gravidez na adolescência é uma questão complexa, não é? É uma discussão que geralmente vem acompanhada por muita preocupação! Isso acontece, sobretudo, porque, em geral, a gravidez na adolescência é tratada como problema de saúde pública e social, além de ser vista, de forma generalizada, como algo ne- gativo. Também existe a ideia de que adolescentes sempre são incapazes de lidar com ela! Ora, se pararmos para pensar... olharmos para a história... a verdade é que, em outros momentos da história, as pessoas constituíam famílias muito mais jovens, e as meninas tornavam- -se mães ainda bem novas! Também é certo que uma gravidez indesejada pode acontecer em diferentes fases da vida e ser di- fícil de lidar. Essa lembrança pode nos ajudar a observar como con- cepções de infâncias, juventudes e fases da vida em geral adqui- rem diferentes contornos ao longo do tempo! Assim, do mesmo modo que diferentes contextos sociais acompanham diferentes vulnerabilidades e potencialidades, podem definir infinitas possibilidades e significantes para a gra- videz na adolescência e juventude! Esteves (2003) e Catharino (2002), por exemplo, mostram que essa gravidez, muitas vezes, além de ser desejada pelas jovens e pelos jovens, desempenha um papel importante na vida psíquica e social deles. Nesse sentido, é válido mencionar que o próprio Minis- tério da Saúde já compreendeu que, embora a gravidez de ado- lescentes e jovens possa ser interpretada majoritariamente como um ‘evento-problema’ ou ainda como indesejável em muitas aná- lises e políticas, avaliamos ser mais adequado entendê-la como Saiba mais Vamos assistir a um vídeo bem curtinho no qual uma ginecologista fala um pouco sobre esse assunto? Vamos lá. Esse vídeo discute contracepção e adolescência na gravidez. Quando é possível uma jovem engravidar? Que tal conversar com outras pessoas sobre as vivências das suas adolescências e juventudes? - - clique e acesse https://www.youtube.com/watch?v=YEtDgQ21Hsc&list=PLl6cIaEsBeBSMw1wilmM40ACO1mhIARDv&index=5 Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens Módulo: Adolescências e juventudes na contemporaneidade: diferentes perspectivas, diversidades, aspectos étnicos e culturais 27 um ponto de inflexão que poderá resultar uma multiplicidade de experiências de vida - por isto pode assumir diferentes significa- dos, ser também tratada de diferentes formas e apresentar dife- rentes desfechos (BRASIL, 2006 apud BRASIL, 2010). Ampliando esse enfoque, a sexualidade e a reprodução são dimensões fundamentais da saúde humana e pressupostos para a qualidade de vida e bem-estar físico, psicológico e social e para a satisfação e prazer. Pessoas jovens devem ser reconhe- cidas como sujeitos de direitos sexuais e reprodutivos, que são afirmados como Direitos Humanos. A consciência desse direito implica reconhecer a individualidade e a autonomia dessas pes- soas, estimulando-as a assumir as responsabilidades relaciona- das à sua própria saúde. Assim, garantir os direitos reprodutivos a adolescentese jovens, de ambos os sexos, significa assegurar as condições de escolha para aqueles e aquelas que não querem engravidar, que querem planejar uma gravidez ou que já vivem uma gravidez. Os estudos demográficos, psicossociais e epidemiológi- cos são frequentemente restritos às mulheres, invisibilizando o parceiro masculino. Com frequência, as intervenções profissio- nais não têm levado em consideração o papel que os meninos e os homens podem desempenhar. Além disso, existe a tendên- cia de reduzir as temáticas saúde sexual e saúde reprodutiva à prevenção de gravidez na adolescência e ao uso de anticoncep- cionais, o que também dificulta alcançar as diferentes formas de exercício da sexualidade. Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens Módulo: Adolescências e juventudes na contemporaneidade: diferentes perspectivas, diversidades, aspectos étnicos e culturais 28 Vamos prestar mais atenção aos significados e possibili- dades dessa vivência para nossos jovens? Proposição Será que as gestações de adolescentes são sempre indese- jadas? Será que a gravidez é apenas fruto da irresponsabili- dade, da imaturidade e da impulsividade dos jovens? Feedback positivo: Feedback orientador: Temos como pressuposto que a gravidez na adolescência pode ser vivida de múltiplas formas. Os contextos sociais irão definir universos de possibilidades e de significações di- ferentes entre os jovens de distintas classes sociais. As esco- lhas podem ser influenciadas pela exclusão, desigualdade de classe, de gênero e de raça e pela falta de perspectivas. A maternidade, pode ainda, expressar reconhecimento social para muitas jovens. As políticas e programas de saúde voltados para os jovens devem considerar a sexualidade como parte do desenvolvi- mento humano e incluir os conceitos de amor, sentimentos, emoções, intimidade e desejo (OPAS, 2002, in MS 2006). A discussão sobre gravidez na adolescência precisa ser pensa- da de maneira ampliada. É importante criar espaços onde os jovens possam debater temáticas referentes à saúde sexual e saúde reprodutiva na escola, na saúde, no lazer, na cultura. É importante ainda que a atenção à saúde sexual e saúde re- produtiva de adolescentes inclua aqueles em cumprimento de medidas socioeducativas, em situação de rua, de abriga- mento, vivendo com HIV/AIDS. São necessárias ações para compartilhamento de informações e ações educativas em saúde sexual e saúde reprodutiva que abranjam as famílias e as comunidades locais. ? Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens Módulo: Adolescências e juventudes na contemporaneidade: diferentes perspectivas, diversidades, aspectos étnicos e culturais 29 O que podemos refletir sobre o cuidado em saúde, com um olhar e escuta atentos para a subjetividade e ques- tões sociais? No trabalho com adolescentes e jovens, não podemos perder de vista a importância do estabelecimento de vínculos! Por não se sentirem seguros e acolhidos, muitos acabam dei- xando de buscar um serviço e descuidam de sua própria saúde. Dessa forma, privacidade e sigilo constituem direitos de grande importância, porque determinados assuntos são de difícil abor- dagem, em especial aqueles que envolvem sexualidades e afe- tos. Portanto, é necessário muito cuidado para preservar o direito à privacidade juvenil e, ao mesmo tempo, também desenvolver um trabalho com as famílias. Por falar em família, é importante conhecermos um pou- co mais as suas configurações no cenário atual, tendo em vista o acolhimento e a construção de um trabalho que seja realmente efetivo. Proposição Você sabia que um adolescente pode ser atendido sem os responsáveis legais? O que você pensa sobre isso? Feedback positivo: Feedback orientador: Adolescentes têm direito de serem atendidos sem a presen- ça dos pais ou responsáveis. Esse direito refere-se à impor- tância da garantia de espaços seguros de acolhimento e si- gilo, considerando-os sujeitos de direitos. Isto não significa que o atendimento à família seja desnecessário ou menos im- portante, mas sim que a autonomia do adolescente deve ser respeitada e garantida. O ECA, em seu capítulo II, artigo 17, dispõe a respeito “do direito à liberdade, ao respeito e à dig- nidade” da criança e do adolescente e prescreve: “O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais”. Se você trabalha em um serviço que atende adolescentes, que tal experimentar acolher o adolescente sem a família mas ao mesmo tempo, promover um acolhimento da famí- lia? Uma outra pessoa poderia acolher a família ou você mes- mo, em outro momento. ? Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens Módulo: Adolescências e juventudes na contemporaneidade: diferentes perspectivas, diversidades, aspectos étnicos e culturais 30 Conversando sobre Famílias O que você acha de a gente conversar um pouco sobre famílias? De acordo com Sales (1997), na sociedade contemporâ- nea, coexistem diferentes arranjos familiares. De maneira geral, podemos observar as seguintes tendências: crescimento do nú- mero de divórcios; redução do número de filhos; aumento do nú- mero de famílias monoparentais chefiadas por mulheres; presen- ça de famílias monoparentais chefiadas por homens; aumento do número de adultos que vivem sozinhos; existência de casais que optam por não ter filhos; presença de famílias formadas por casais homoafetivos; ocorrência de famílias ampliadas formadas pelos membros iniciais, acrescidas de novos membros – os netos –, trazidos por filhas-mães adolescentes. Êh, vida, vida, que amor brincadeira, à vera Eles se amaram de qualquer maneira, à vera Qualquer maneira de amor vale a pena Qualquer maneira de amor vale amar Pena, que pena, que coisa bonita, diga Qual a palavra que nunca foi dita, diga Qualquer maneira de amor vale aquela Qualquer maneira de amor vale amar Qualquer maneira de amor vale a pena Qualquer maneira de amor valerá Eles partiram por outros assuntos, muitos Mas no meu canto estarão sempre juntos, muito Qualquer maneira que eu cante esse canto Qualquer maneira me vale cantar Eles se amam de qualquer maneira, à vera Eles se amam é pra vida inteira, à vera Qualquer maneira de amor vale o canto Qualquer maneira me vale cantar Qualquer maneira de amor vale aquela Qualquer maneira de amor valerá Pena, que pena, que coisa bonita, diga Qual a palavra que nunca foi dita, diga Qualquer maneira de amor vale o canto Qualquer maneira de amor vale me vale cantar Qualquer maneira de amor vale aquela Qualquer maneira de amor valerá Famílias também no plural? Sim, porque são muitas. Há um livro sobre direito de família (Dicionário de Direito de Família e Sucessões, do Rodrigo da Cunha Pereira, São Paulo: Saraiva, 2015) que tem 37 páginas dedicadas às definições de família! Você conhece a música Paula e Bebeto, de Caetano Veloso e Milton Nascimento? Vamos ouvir? clique e ouça https://youtu.be/q1-cZlqiE1Q Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens Módulo: Adolescências e juventudes na contemporaneidade: diferentes perspectivas, diversidades, aspectos étnicos e culturais 31 E, às vezes, não há amor, ou ele acabou, como já dizia a ciranda... É importante não ter um conceito rígido e único de família. Vários autores já se debruçaram sobre o conceito de fa- mília. Para Mioto (1997), família pode ser definida como um fato histórico, com grande ênfase cultural, cuja constituição não é a priori “lugar de felicidade”, mas “um núcleo de pessoas que con- vivem em determinado lugar, durante um tempo e que se acham unidas por laços,de consanguinidade ou não” (MIOTO, 1997 apud RAYMUNDO et al., 2014, p. 259). Para Carvalho (2000 apud RAYMUNDO et al., 2014), a família pode ser entendida como um canal de iniciação e aprendizado de afetos e do padrão de rela- ções sociais vigente em um determinado tempo histórico. Você se recorda da personagem Lia, do caso complexo deste módulo? Lia era uma adolescente grávida, vulnerável, que morava em uma ocupação e temia que seu filho fosse retirado dela. Você já ouviu a expressão Mães Órfãs? Temos usado essa expressão para definir situações nas quais os filhos são retirados compulsoriamente de suas mães para supostamente protegê-los, desconsiderando essa mulher/ mãe, a família extensa e o dever do Estado de proteger a famí- lia (SOUZA, 2018). Esse movimento social e jurídico tem um viés Saiba mais Convidamos você a ler um texto interessante sobre as famílias tentaculares, diferentes e di- vertidas, de Maria Rita Kehl, que é psicanalis- ta e autora desse trabalho. Trata-se de um ar- tigo que fala sobre a diversidade das famílias na atualidade e os estigmas que ainda pairam sobre as famílias que fogem a um pretenso modelo tradicional. “A família tentacular contemporânea, menos endogâmica e mais arejada que a família estável no padrão oitocentista, traz em seu desenho irregular as marcas de sonhos frustrados, projetos abandonados e retomados, esperanças de felicida- de das quais os filhos, se tiverem sorte, continuam a ser por- tadores. Pois cada filho de um casal separado é a memória viva do momento em que aquele amor fazia sentido, em que aquele par apostou, na falta de um padrão que correspon- da às novas composições familiares, na construção de um futuro o mais parecido possível com os ideais da família do passado. Ideal que não deixará de orientar, desde o lugar das fantasias inconscientes, os projetos de felicidade conju- gal das crianças e adolescentes de hoje. Ideal que, se não for superado, pode funcionar como impedimento à legitimação da experiência viva dessas famílias misturadas, engraçadas, esquisitas, improvisadas e mantidas com afeto, esperança e desilusão, na medida do possível” (KEHL, 2003). clique e acesse https://www.fronteiras.com/leia/exibir/maria-rita-kehl-em-defesa-da-familia-tentacular Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens Módulo: Adolescências e juventudes na contemporaneidade: diferentes perspectivas, diversidades, aspectos étnicos e culturais 32 segregativo e racista. Parte-se do entendimento de que jovens pobres e negras não têm condições de criar seus filhos. No en- tanto, políticas públicas adequadas ofereceriam as condições necessárias para a criação de seus filhos e continuidade de seus projetos. Assim, tendo em vista as novas configurações familiares na atualidade, fica para os atores que lidam com jovens o desafio de acompanhar esse processo de mudança e de construir práti- cas profissionais desprovidas de julgamentos morais e culpabili- zação. Diversas vulnerabilidades sociais podem afetar a capaci- dade protetiva das famílias. Assim, as políticas públicas, particu- larmente as de Assistência Social, possuem um papel fundamen- tal: os programas de redistribuição de renda possuem relação direta com a sobrevivência das famílias; e os serviços de convi- vência e fortalecimento de vínculos objetivam a construção ou a reconstrução de laços familiares e comunitários. Dessa forma, as referidas ações previstas na Política de Assistência Social devem contribuir com o fortalecimento da convivência e da autonomia das famílias, para que, por sua vez, elas possam promover a proteção e a emancipação dos adoles- centes e jovens. Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens Módulo: Adolescências e juventudes na contemporaneidade: diferentes perspectivas, diversidades, aspectos étnicos e culturais 33 Adolescências e juventudes: singularidades e diversidades Durante a nossa conversa, várias vezes voltamos a um mesmo ponto: não há um único jeito de ser adolescente ou jo- vem. Vimos que vários fatores contribuem para essa diversidade. Vamos concluir este texto chamando a atenção para as diferentes culturas. Afinal, o que é cultura em termos concei- tuais? Há muitas definições. Escolhemos uma delas: Cultura pode ser definida como um conjunto de elementos que mediam e qualificam qual- quer atividade física ou mental, que não seja determinada pela biologia, e que seja com- partilhada por diferentes membros de um grupo social. Trata-se de elementos sobre os quais os atores sociais constroem significa- dos para as ações e interações sociais con- cretas e temporais, assim como sustentam as formas sociais vigentes, as instituições e seus modelos operativos. A cultura inclui valores, símbolos, normas e práticas (LANG- DON; WIIK, 2010, p. 175). Você se lembra do estudante de medicina indígena que participou da conversa na ESF? Conversando um pouco mais com ele, contou-nos que no Brasil são faladas cerca de 200 línguas, sendo 180 delas in- dígenas. Em 2007, foi aprovada a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, depois de mais de 20 anos de negociações. Ressaltamos a importância de valorizar as culturas in- dígenas, de respeitar os povos originários, de preservar e am- pliar as trocas interculturais e de compreender o lugar social de onde cada adolescente fala e como o fortalecimento das matrizes culturais é ponto de fortalecimento da identidade e da saúde mental. Adotar práticas interculturais, antes de qualquer coisa, é estar aberto para olhar e ouvir. Só quando estamos abertos a olhar e a ouvir conseguimos adotar uma postura de abertura crí- tica de nós mesmos em favor do outro. Esse movimento propicia a compreensão profunda dos diferentes mundos, dos diversos campos de significados, das variadas formas de ser e estar no mundo e dos múltiplos saberes, histórica e culturalmente cons- tituídos. Fonte: WikiMedia Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens Módulo: Adolescências e juventudes na contemporaneidade: diferentes perspectivas, diversidades, aspectos étnicos e culturais 34 encerramento do módulo Com base neste caso complexo, é importante ressaltar que existem narrativas em disputa sobre a juventude. José pode ser visto de forma simplista como um jovem negro, periférico e entregador de delivery, sem que seja considerada a sua trajetória como uma jovem liderança, que respeita e mantém as tradições culturais de seu território. Da mesma forma, Lucca, embora atravessado pelo ra- cismo e pela transfobia, cotidianamente luta por mudanças que parecem pequenas, mas que podem fissurar a intolerância es- trutural. Nesse contexto, Renata, que ainda vive tantas violências e violações, resiste construindo seu corpo e seu nome e sonhan- do com uma vida possível. Acreditamos em um olhar sobre essas histórias que iden- tifique e valorize as potencialidades desses jovens. A elaboração de políticas públicas, via de regra, não inclui a participação ju- venil. Um entendimento amplo sobre essas trajetórias reforça a importância das políticas públicas e das instituições e de seus agentes olharem para os desafios sem deixar de valorizar as múl- tiplas vozes, identificando e visibilizando as potencialidades pre- sentes nesses espaços. No trabalho com adolescentes e jovens, acreditamos que seja muito importante um olhar e uma escuta para cada um, res- peitando sua singularidade e sua história, mas pensando que es- ses uns podem fazer coletivos, que têm força política para mudar o que precisa ser mudado, para que esses adolescentes e jovens possam viver, e viver com dignidade! Avaliamos que as ações que estimulem o potencial da ju- ventude devam ser territorializadas e intersetoriais. Por exemplo: • Ampliar redes intersetoriaisde compromisso com a ju- ventude; • Buscar espaços ampliados para conversar com os jo- vens sobre aspectos da vida; • Instalar equipamentos múltiplos, como centros de ju- ventude; • Fomentar a participação juvenil nas ações de planeja- mento e avaliação dos serviços; • Propor educação entre pares, como a de jovens promo- tores de saúde; • Potencializar o acolhimento de adolescentes e jovens nos diferentes serviços, reconhecê-los como sujeitos de direitos e valorizar a autonomia juvenil. Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens Módulo: Adolescências e juventudes na contemporaneidade: diferentes perspectivas, diversidades, aspectos étnicos e culturais 35 referências BENEVIDES, B. G. (Org.). Dossiê assassinatos e violências con- tra travestis e transexuais brasileiras em 2021. Brasília: Distrito Drag, ANTRA, 2022. BRASIL. Lei no 12.852, de 5 de agosto de 2013. 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