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PC 01 Civil Sucessões

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Discente: Luiz Roberto Venditti Goulart De Sousa RA:004202005756 
Docente: Alessandra Gomes Varisco Direito Civil: Sucessões 
 
PRÁTICA DE COMPETÊNCIA 01 
 
1. Sergio, nascido em 02/02/1960, é filho de Oswaldo, nascido em 17/07/1940. Este era 
viúvo e faleceu em 14/07/2016. Deixou duas casas e um veículo. Não deixou testamento. 
Sergio abriu o inventário dos bens de seu pai e foi nomeado inventariante. Um mês após 
a abertura ingressa nos autos Milena, nascida em 18/05/2005, requerendo habilitação 
como herdeira, por ser filha de Oswaldo, reconhecida voluntariamente por ele. Sergio 
estava na posse dos bens e administrando-os, porém, com desídia, visto que o imóvel se 
encontra alugado, sem o correspondente pagamento, e Sergio nada faz para receber tais 
frutos. Diante disso, Milena requer a remoção do inventariante. Como advogado de Sergio, 
há algo que possa ser alegado? Discorra sobre. 
 
Primordialmente, pertinente destacar que o direito das sucessões está disposto no 
Livro V, do Código Civil de 2002 (arts. 1.784 a 2.027), dividindo-se em quatro títulos distintos: I – 
Da sucessão em geral1, II – Da sucessão legítima; III – Da sucessão testamentária e IV – Do 
inventário e da partilha. 
Em complemento, perfaz-se como a vertente do direito civil que regulará a transmissão 
(causa mortis) dos bens, valores, direitos e dívidas deixados pelo Sr. Oswaldo aos seus 
sucessores, Sérgio e Milena, sob a óbice do princípio da saisine2, uma vez que, cingindo a 
constatação do fato jurídico stricto sensu da morte3, transmitem-se automaticamente os bens 
para seus sucessores. 
Assim, ao examinar o caso fático supramencionado, alguns pontos merecem específica 
cautela de posicionamento e reflexão, principalmente pela correta aplicação das regras e 
princípios incidentes ao direito sucessório e a constitucionalização4 do direito civil, na 
consideração da herança como direito fundamental, garantido no art. 5º, inciso XXX, da 
Constituição da República de 19885. 
Neste sentido, destaca-se que somente os herdeiros com legitimidade são qualificados 
a suceder, sendo que o Código Civil reconhece dois tipos de sucessão, quais sejam; a sucessão 
legítima e a sucessão testamentária. 
Inobstante, in casu, o Sr. Owaldo faleceu sem testamento, dispondo sobre a herança 
 
1Compreende as regras de transmissão, a aceitação, a renúncia e excluídos da herança, a herança jacente e a petição 
de herança. 
2Para Maria Helena Diniz (2022, p.35) tem-se a adoção do droit de saisine no direito brasileiro conforme inserido nos 
termos do art. 1784 do CCB, por não se poder dar ao acervo deixado pelo morto a natureza de res derelicta ou de res 
nullius, podendo vir a ser ocupada pelo primeiro interessado. 
3In casu, o falecimento datado em 14.07.2016. 
4Segundo Carlos Roberto Gonçalves (2020, p.45) a expressão direito civil-constitucional apenas realça a necessária 
releitura do Código Civil e das leis especiais à luz da Constituição, redefinindo as categorias jurídicas civilistas a partir 
dos fundamentos principiológicos constitucionais, na nova tábua axiológica fundada na dignidade da pessoa humana 
(art. 1º, III) na solidariedade social (art. 3º, III) e na igualdade substancial (arts. 3º e 5º). 
5Art. 5º, XXX, CF/1988: “é garantido o direito de herança”. 
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os ditames da sucessão legitima, que por imposição de lei, estabelecida no art. 18296 do Código 
Civil estabelece a ordem de vocação hereditária a ser seguida: descendentes, ascendentes, 
cônjuges/companheiros e colaterais até o 4º grau, sendo que, deste grupo, os descendentes, 
ascendentes e cônjuges, são herdeiros necessários (art. 1.8457, CC). 
Logo, tanta Sérgio como Milena são herdeiros necessários (e por óbvio legítimos8), 
mesmo que Milena tenha sido reconhecida voluntariamente pelo Sr. Oswaldo, amiúde, destaca-
se alhures, um dos pontos a ilustrar ao Sr. Sérgio. 
Destarte, os efeitos jurídicos do reconhecimento voluntário de paternidade cingem na 
modificação dos direitos de sucessão, haja vista, que o fenômeno da constitucionalização do 
direito civil, abarcou na relação socioafetiva do ato voluntário de reconhecimento de filiação um 
laço familiar equiparado ou superior ao consanguíneo. 
Nesta monta, o fundamento jurídico disposto no art. 227, § 6º9, da Lex Fundamentalis 
de 1988, e no art. 1.59310 do Código Civil denega a discriminação dos filhos advindos ou não 
advindos da relação matrimonial, bem como, reconhece a igualdade de tratamento para estes 
filhos (frutos da socioafetividade ou da consanguinidade). 
Desta forma, uma hipótese para a tese de defesa da remoção da inventariança do Sr. 
Sérgio em alegar-se a preliminar ao mérito da ilegitimidade da parte, utilizando-se do disposto 
no art. 337, XI, do Código de Processo Civil11, pelo motivo do reconhecimento socioafetivo ser 
ilegítimo para a qualificação de Milena como herdeira necessária por descendência resta 
impossível. 
Todavia, observado a legitimidade de Milena em requerer a habilitação como herdeira, 
desenvolvem-se noções acerca do processo do inventário e da possibilidade do incidente de 
remoção de inventariança. 
Enfaticamente, o processo de inventário objetiva a salvaguarda da ordem político-
econômica da sociedade, individualizando o domínio financeiro da parte da herança ao 
respectivo herdeiro e permitindo que a partilha seja alinhada as normas vigentes ao condomínio 
(quando conjunto de herdeiros, como no caso supracitado, os herdeiros Sérgio e Milena serão 
condôminos). 
Cita-se os ensinamentos de Orlando Gomes: 
 
“A palavra inventário emprega-se em dois sentidos, a) como modo de 
liquidação do acervo hereditário, o qual exige forma judicial, exceto se 
todos os herdeiros forem capazes e concordes; b) como procedimento 
 
6Art. 1.829, CC: “A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge 
sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de 
bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens 
particulares; II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge; III - ao cônjuge sobrevivente; IV - aos colaterais”. 
7Art. 1.845, CC: “São herdeiros necessários os descendentes, os ascendentes e o cônjuge”. 
8Contudo, nem todos os herdeiros legítimos são necessários. 
9Art. 227, § 6º, CF/1988: “É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, 
com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à 
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de 
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 
65, de 2010): § 6º Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e 
qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação”. 
10Art. 1.593, CC: “O parentesco é natural ou civil, conforme resulte de consanguinidade ou outra origem”. 
11Art. 337, XI, CPC: “Incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, alegar: XI - ausência de legitimidade ou de interesse 
processual”. 
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especial de jurisdição contenciosa, em que não se limita a descrever e dividir 
os bens entre os herdeiros, mas, apurar se há sucessores, realizar a avaliação 
dos bens e, em caso de regime de comunhão universal, realizar a divisão da 
parte que cabe ao cônjuge sobrevivente” (GOMES, 2019, p.142, grifo nosso). 
 
Imperioso destacar, que o cargo ocupado (inventariante) pelo Sérgio tem característica 
de múnus público, uma vez que, perfazendo-sede serviço público auxiliar, submete-se ao juízo, 
em relação de confiança, na função de; listar e descrever os bens do espólio, declarar os nomes 
de todos os herdeiros e legatários (se cabível), usar dos meios judiciais para proteger os bens 
do espólio, em caso de turbação ou esbulho, trazer ao acervo hereditário os frutos percebidos 
desde a abertura da sucessão, dentre outras obrigações. 
Contiguamente a nomeação do inventariante segue a ordem estabelecida conforme o 
art. 61712 do Código de Processo Civil, e as funções do cargo (de inventariante) estão 
mencionadas no art. 61813 do mesmo codex processual. 
Outrossim, é cediço que a Sérgio se incumbe o dever de prestar contas decorrentes da 
administração do espólio, sendo manifestado por instrumento apenso ao inventário, em ação de 
prestação de contas, segundo o art. 55314, do Código de Processo Civil. 
Neste ínterim, o instituto da remoção do inventariante ocorre, quando o encarregado 
da função não as desempenha com a devida diligencia, dignidade e presteza, sendo suas 
hipóteses discriminada no art. 622 do Código de Processo Civil15, em um rol não taxativo. 
Por óbvio, a remoção é sancionatória, e impõe-se ao inventariante como punição pela 
desídia cometida em suas funções compreendidas ao seu múnus público, cabendo ao julgador, 
a análise do fato concreto e sua subsunção a norma prevista em lei. 
Posto isto, passa-se a analisar o contexto da possibilidade de desídia dos bens 
deixados pelo Sr. Oswaldo em contraponto aos pressupostos legais acima citados, para o 
incidente de remoção do inventariante – Sérgio. 
Fundamentalmente, no enunciado do caso, considera-se o espólio formado por 02 
casas e 01 veículo, sem menção a outros direitos ou obrigações, e, deste conjunto patrimonial, 
01 casa encontra-se alugada, entretanto, sem recebimento dos respectivos frutos civis. 
 
12Art. 617, CPC: “O juiz nomeará inventariante na seguinte ordem: I - o cônjuge ou companheiro sobrevivente, desde que 
estivesse convivendo com o outro ao tempo da morte deste; II - o herdeiro que se achar na posse e na administração do 
espólio, se não houver cônjuge ou companheiro sobrevivente ou se estes não puderem ser nomeados; III - qualquer 
herdeiro, quando nenhum deles estiver na posse e na administração do espólio; IV - o herdeiro menor, por seu 
representante legal; V - o testamenteiro, se lhe tiver sido confiada a administração do espólio ou se toda a herança estiver 
distribuída em legados; VI - o cessionário do herdeiro ou do legatário; VII - o inventariante judicial, se houver; VIII - pessoa 
estranha idônea, quando não houver inventariante judicial. Parágrafo único. O inventariante, intimado da nomeação, 
prestará, dentro de 5 (cinco) dias, o compromisso de bem e fielmente desempenhar a função”. 
13Art. 618, CPC: “Incumbe ao inventariante: I - representar o espólio ativa e passivamente, em juízo ou fora dele, 
observando-se, quanto ao dativo, o disposto no art. 75, § 1º; II - administrar o espólio, velando-lhe os bens com a mesma 
diligência que teria se seus fossem; III - prestar as primeiras e as últimas declarações pessoalmente ou por procurador 
com poderes especiais; IV - exibir em cartório, a qualquer tempo, para exame das partes, os documentos relativos ao 
espólio; V - juntar aos autos certidão do testamento, se houver; VI - trazer à colação os bens recebidos pelo herdeiro 
ausente, renunciante ou excluído". 
14Art. 553, CPC: “As contas do inventariante, do tutor, do curador, do depositário e de qualquer outro administrador serão 
prestadas em apenso aos autos do processo em que tiver sido nomeado”. 
15Art. 622, CPC: “O inventariante será removido de ofício ou a requerimento: I - se não prestar, no prazo legal, as primeiras 
ou as últimas declarações; II - se não der ao inventário andamento regular, se suscitar dúvidas infundadas ou se praticar 
atos meramente protelatórios; III - se, por culpa sua, bens do espólio se deteriorarem, forem dilapidados ou sofrerem 
dano; IV - se não defender o espólio nas ações em que for citado, se deixar de cobrar dívidas ativas ou se não promover 
as medidas necessárias para evitar o perecimento de direitos; V - se não prestar contas ou se as que prestar não forem 
julgadas boas; VI - se sonegar, ocultar ou desviar bens do espólio”. 
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Não obstante, a desídia, é o elemento culposo que consiste em negligência, indolência, 
ociosidade, preguiça, incúria ou descuido na execução de um serviço, o que por sua definição 
tem gravame oneroso na esfera patrimonial privada. 
Logo, contemplar tal meio gravoso a falta de cobrança de aluguel equidista do Princípio 
da Razoabilidade16, uma vez que, a indolência do inventariante restaria comprovada caso 
atingisse a totalidade do espólio (02 imóveis e 01 automóvel), em meios que comprovassem sua 
inutilização, dilapidação, falta de conservação ou de manutenção ou queda abrupta na valoração 
mercantil, em concordância ao art. 622 do Código de Processo Civil. 
Para além disso, deve-se lembrar que o múnus público do inventariante Sérgio se 
baseia no interesse da coletividade, em que a ação individual atinge os interesses da ordem 
social17, promovendo nos campos da sociedade, a imposição judicante do bem-estar. Ou seja, 
como obrigação de múnus imposta por lei, o incidente de remoção de inventariança, dever-se-ia 
comprovado por fatos que ultrapassassem a simples cobrança de 01 mês de aluguel, assim 
como alegado pela autora. 
Outrossim, imperioso ressaltar, que o requerimento de habilitação da herdeira Milena 
(01 mês após a abertura do inventário), descaracterizou a qualidade fática de herdeiro único18 
em que Sérgio encontrava-se equivocadamente. Obviamente que, em condição (equivocada 
factualmente) de herdeiro único, mesmo no período ínfimo de 01 mês, caberia ao herdeiro Sergio 
a administração e exercício dos direitos de proprietário em função de sua liberalidade exclusiva 
(mesmo o de alugar imóvel sem receber proventos). 
Com presteza, por encontrar-se em erro de tipo, haja vista acreditar ser herdeiro único, 
sem necessidade de partilha de bens, sem tentativa de fraude ou ato ilícito, e, ainda, por ter 
realizado o procedimento correto de inventário, levantado os bens, direitos e obrigações do Sr. 
Oswaldo, o que identifica atenção a legalidade ato jurídico, resta-se desproporcional a sanção 
de remoção. 
Igualmente, não se tem dados convincentes que demonstrem a deterioração do 
restante do espólio, e, uma vez que, a responsabilidade do inventariante, estende-se a totalidade 
do patrimônio do de cujus, a falta concludente de desleixo com o restante patrimonial, reverte-se 
casuisticamente pelo cuidado diligente sobre os bens pelo inventariante Sérgio, ou seja, cabe a 
Milena o ônus de provar os fatos do descuido (art. 373, CPC19) sobre a totalidade do espólio, sob 
pena de improcedência do requerimento de incidente de remoção de inventariante. 
Cita-se entendimento jurisprudencial: 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL. INCIDENTE DE REMOÇÃO DE 
INVENTARIANTE. DESCUMPRIMENTO DOS DEVERES LEGAIS NÃO 
DEMONSTRADO. Trata-se de apelação cível interposta de sentença de 
improcedência em requerimento de remoção de inventariante. 1. Não 
demonstrado o descumprimento de nenhum dos deveres do art. 622 do CPC, 
não se defere a remoção de inventariante. 2. Existência de ação de prestação 
 
16Tal Princípio atua como limitados à discricionariedade do magistrado, haja vista que, ao julgar deverá ater-se, diante 
de um caso concreto, aos conceitos da razoabilidade sob pena de tronar-se nula tal conduta. 
17Princípio da Supremacia do Interesse Público sobre o Privado. 
18Ao herdeiro único não se tem obrigação regimental da partilha de bens. 
19Art. 373, CPC: “O ônus da prova incumbe: I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito; II - ao réu, quanto à 
existência de fato impeditivo, modificativo ouextintivo do direito do autor”. 
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de contas que por si só não justifica a remoção da inventariante, com fulcro no 
inciso V do art. 622 do CPC. 3. Alegação de sonegação de bens do espólio 
que carece de ação própria. 4. Demora na conclusão do inventário que não 
pode ser atribuída à desídia da inventariante, considerando os eventos ligados 
à pandemia do Coranavírus, à dificuldade de localização de um dos herdeiros 
e à litigiosidade entre as partes. 5. Incidente que não se presta à defesa dos 
direitos do requerente com relação a frutos auferidos pela utilização de 
bens do espólio. 6. Recurso a que se nega provimento (TJ-RJ - 
APL:20198190028, Relator: Des (a). FERNANDO FOCH DE LEMOS 
ARIGONY DA SILVA, Data de Julgamento: 07/07/2021, TERCEIRA CÂMARA 
CÍVEL, Data de Publicação: 09/07/2021, grifo nosso). 
 
Finalmente, indica-se a Sérgio a cobrança do mês de aluguel, com a manifestação 
destes valores ao juízo, conforme art. 553 do Código de Processo Civil, e a indicação do estado 
de conservação e de manutenção dos demais bens (o outro imóvel e o automóvel) como prova 
de boa-fé objetiva material e processual. 
 
2. Bruce faleceu e deixou os filhos Adrian e Steve. No inventário judicial de Bruce, Adrian, 
devedor contumaz, renunciou à herança, em 07/11/2019, conforme declaração nos autos. 
Considerando que o falecido não deixou testamento e nem dívidas a serem pagas, o valor 
líquido do monte a ser partilhado era de R$ 100.000,00 (cem mil reais). Nicko é primo de 
Adrian e também seu credor no valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais). No dia 09/11/2019, 
Nicko tomou conhecimento da manifestação de renúncia supracitada e, no dia 29/11/2019, 
procurou um advogado para tomar as medidas cabíveis. O que ele pode fazer em relação? 
 
Precipuamente, o caso supramencionado descreve os institutos da renúncia e 
aceitação da herança, dispostos nos artigos 1.804 ao 1.813 do Código Civil. 
Inobstante, a renúncia exprime-se em ato de repúdio ao direito de sucessão, como se 
o herdeiro nunca houvesse existido factualmente, e, sua forma expressa, dever-se-á manifestar 
através de instrumento público20 ou termo judicial21 (art. 1.806, CC22.) 
Entende Caio Mário da Silva Pereira: 
 
“Contrariamente à aceitação, que se admite expressa ou tácita ou explicita. E 
até formal, assumindo instrumento público ou termo nos autos. O escrito 
público e o termo nos autos ficam, assim, erigidos em requisito ad 
substantiam, e não apenas ad probationem do ato. O termo não se 
restringe aos autos do inventario, estendendo-se aos de qualquer ação em que 
se litigue sobre a herança; e a escritura pode lavrar-se por notário de qualquer 
localidade” (PEREIRA, 2021, p.65, grifo nosso). 
 
Em complemento, a partir de 07.11.2019, quando Adrian renunciou à herança, seu ato 
foi considerado irretratável e irrevogável (art. 1.812, CC23), e recaiu sobre a totalidade da parte 
correspondente de sua herança, haja vista, que ao herdeiro, não se oportuniza renunciar parcela 
da herança recebida (art. 1.808, CC24). 
 
20Escritura Pública de Renúncia de Herança lavrada em Cartório de Notas. 
21Assinado na secretaria do juízo pelo renunciante e pelo Juiz da ação de Inventário. 
22Art. 1.806, CC: “A renúncia da herança deve constar expressamente de instrumento público ou termo judicial”. 
23Art. 1.812, CC: “São irrevogáveis os atos de aceitação ou de renúncia da herança”. 
24Art. 1.808, CC: “Não se pode aceitar ou renunciar a herança em parte, sob condição ou a termo”. 
6 
 
 
Também, menciona-se que a espécie de renúncia realizado por Adrian foi a 
abdicativa25. 
Doutro modo, a aceitação ou adição de herança, é o ato contrário sensu a renúncia, no 
qual o herdeiro de fato externa sua vontade de receber a herança, tornando-se o herdeiro de 
direito. 
Para Washington de Barros Monteiro: 
 
“Com a morte do de cujus, o domínio e a posse da herança transmitem-se ipso 
jure ao herdeiro, independentemente de qualquer outro ato deste. A aceitação 
não passa, pois, de mera confirmação, por parte do herdeiro, da 
transferência que lhe havia sido feita. Não se imagine, porém, se trate de 
ato supérfluo ou desnecessário. Ninguém deve ser herdeiro contra a própria 
vontade, sabido que não mais vige a parêmia filius ergo heres. Requer-se, por 
isso, aceitação, por via da qual o herdeiro manifesta o propósito de adir a 
herança” (GONÇALVES, 2020, p.160, grifo nosso). 
 
Outrossim, igualmente a renúncia, não se pode aceitar a herança em parte, sendo 
necessária, aceitar-se em totalidade. 
Assim, entendidos a renúncia e aceitação, Nicko pode recorrer ao ato da aceitação 
indireta (art. 1.813, CC26), ou seja, para que os credores dos herdeiros não se encontrem 
prejudicados, estes podem aceitar a herança no lugar daquele que tem vocação hereditária. 
Neste sentido, o art. 1.813, do Código Civil foi a determinação do legislador 
infraconstitucional visando resguardar o direito dos credores, quando da renúncia do herdeiro, 
com a intenção de fraudar ou frustrar o adimplemento de dívidas. 
Por desiderato, Nicko poderá mediante autorização judicial aceitar a herança em nome 
de Adrian, sendo que, o pedido de habilitação e aceitação deverá ocorrer em 30 dias após o 
recebimento da renúncia conforme o § 1º do art. 1.813 do Código Civil27. 
In adstrito, perfaz suficiente que Nicko comprove por documento comprobatório sua 
condição de credor, para que, seu pedido de aceitação de herança em nome de herdeiro devedor 
proceda, contudo, observado o limite de seu crédito (art. 1.813, § 2º, CC28). 
Conclui-se a questão, com entendimento jurisprudencial sobre o assunto. 
 
AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROCEDIMENTO DE INVENTÁRIO. 
DECISÃO AGRAVADA QUE DEFERIU O PEDIDO FORMULADO PELA 
UNIÃO FEDERAL DE RESERVA DE BENS, ENTENDENDO QUE O 
PARCELAMENTO NÃO EXTINGUE O DÉBITO E NEM GARANTE O 
PAGAMENTO, E HOMOLOGOU A RENÚNCIA À HERANÇA PELO 
HERDEIRO DEVEDOR E A ACEITAÇÃO DA HERANÇA PELA CREDORA. 
INSURGÊNCIA DO HERDEIRO. RESERVA DE BENS EM FAVOR DA UNIÃO 
FEDERAL DE CRÉDITO COBRADO EM EXECUÇÃO FISCAL. NÃO HOUVE 
ALEGAÇÃO DE QUITAÇÃO DA DÍVIDA. INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 643 
DO CPC/2015. PARCELAMENTO DO DÉBITO QUE NÃO EXTINGUE A 
OBRIGAÇÃO. MANUTENÇÃO DA DECISÃO DE RESERVA DE BENS EM 
INVENTÁRIO. RENÚNCIA. ACEITAÇÃO DA RENÚNCIA PELA CREDORA 
QUE SE REVELA POSSÍVEL. RENÚNCIA DE DIREITOS HEREDITÁRIOS 
 
25Nesta modalidade de renúncia não existe incidência de obrigação tributária. 
26Art. 1.813, CC: “Quando o herdeiro prejudicar os seus credores, renunciando à herança, poderão eles, com autorização 
do juiz, aceitá-la em nome do renunciante”. 
27Art. 1.813, § 1º, CC: “A habilitação dos credores se fará no prazo de trinta dias seguintes ao conhecimento do fato”. 
28Art. 1.813, § 2º, CC: “Pagas as dívidas do renunciante, prevalece a renúncia quanto ao remanescente, que será 
devolvido aos demais herdeiros”. 
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QUE NÃO PODE PREJUDICAR CREDORES. PREVISÃO DO ARTIGO 1.813 
DO CC/2002. RECURSO PARCIALMENTE CONHECIDO E DESPROVIDO 
NA PARTE CONHECIDA. Nos termos do artigo 643 do Código de Processo 
Civil de 2015, o juiz mandará reservar, em poder do inventariante, bens 
suficientes para pagar o credor quando a dívida constar de documento que 
comprove suficientemente a obrigação e a impugnação não se fundar em 
quitação. O parcelamento que não extingue a obrigatoriedade da dívida. O 
Colendo Superior Tribunal de Justiça já se manifestou no sentido de manter 
garantia de dívida parcelada até o cumprimento integral do acordo. Havendo 
comprovação documental da existência da dívida, e inexistindo alegação de 
quitação dessa, a reserva de bens do espólio se revela medida de cautela e 
prudência, até o cumprimento integral do acordo de parcelamento. Não há 
como permitir o enriquecimento daquele que receberá gratuitamente os 
bens do quinhão hereditário, em detrimento do interesse da credora. 
Recurso de agravode instrumento parcialmente conhecido porque agrava de 
expedição de alvará, questão não enfrentada na decisão agravada, e 
desprovido na parte conhecida (TJPR - 11ª Cível - 0024766-08.2019.8.16.0000 
- Mamborê - Rel.: Desembargador Sigurd Roberto Bengtsson - J. 24.05.2020, 
grifo nosso). 
 
Referências bibliográficas 
 
DINIZ, M. H. Curso de Direito Civil Brasileiro: direito das sucessões. 36. ed. São 
Paulo: Saira, 2022. 
 
GOMES, O. Sucessões. 17. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019. 
 
GONÇALVES, C. R. Direito Civil Brasileiro. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. 
 
GONÇALVES, W. B. Curso de Direito Civil: Família e Sucessões. 47. ed. São Paulo: 
Saraiva, 2021. 
 
PEREIRA, S. C. M. Instituições de direito civil: direito das sucessões. 28. ed. Rio 
de Janeiro: Forense, 2022.

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