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Resenha-Sinais-Raizes-de-um-Paradigma-Indiciario

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Resumo 
GINZBURG, Carlo. Sinais, raízes de um paradigma indiciário. In: Mitos, 
emblemas e sinais. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. p. 143-179 
 
Afirma ter surgido, silenciosamente, no âmbito das ciências humanas, por volta 
do sec. XIX, um modelo de estudo científico (o que ele chama de paradigma = 
modelo, padrão) que ainda não foi corretamente estudado. Esse paradigma 
talvez possa ajudar a diminuir as lacunas entre o “racional” e o “irracional” 
 
I.1 Entre 1874 e 1876 Giovanni Morelli fez uma série de artigos sobre pinturas 
antigas, nos quais propunham um novo método de estudo, chamado de 
“método morelliano”. Ele pretendia através desse método diferenciar os 
quadros originais das cópias. Para isso era preciso analisar os pequenos 
detalhes das obras, os mais negligenciados pelos copiadores. Esse método 
dava muitos resultados, porém foi muito criticado e caiu em descrédito 
posteriormente. 
 
I.2 Wind escreve: “Os livros de Morelli (...) estão salpicados de ilustrações de 
dedos e orelhas (...) que traem a presença de um determinado artista, como 
um criminoso é traído pelas suas impressões digitais”. Relaciona-se o método 
indiciário de Morelli com Sherlock Holmes. 
 
I.3 Freud declarou em seu ensaio sobre o “Moises de Michelangelo” que sofreu 
influências do método de Morelli antes de estudar a psicanálise. 
 
I.5 “Vimos, portanto, delinear-se uma analogia entre os métodos de Morelli, 
Holmes e Freud”. “Pistas: mais precisamente, sintomas (no caso de Freud), 
indícios (no caso de Holmes), signos pictóricos (no caso de Morelli)”. Essas 
relações se explicam pelo fato de Freud, Morelli e Conan Doyle serem 
médicos, percebe-se nos três casos o modelo da semiótica médica. 
 
II.1 Relato de uma fábula oriental, na qual três irmão descrevem um camelo 
sem nunca o terem visto. Nesse conto os irmãos tem um saber próprio de 
caçadores, mesmo que não o sejam. Esse saber é exposto pela capacidade de 
remontar uma realidade, narrativa, através de fatos que são aparentemente 
pequenos e insignificantes. Feita uma comparação entre os paradigmas 
venatório (dos caçadores) e dos textos divinatórios mesopotâneos (adivinhos e 
videntes). “a atitude cognoscitiva era, nos dois casos, muito parecidas; as 
operações intelectuais envolvidas – análises, comparações, classificações -, 
formalmente idênticas.”. 
 
II.2 com o passar do tempo os estudos foram sendo realizados sem 
preconceitos, excluindo a intervenção divina. 
 
II.3 “E, como o do médico, o conhecimento histórico é indireto, indiciário, 
conjetural.” 
 
II.4 Narrativa que conta a trajetória do médico Mancini em sua busca de 
diferenciação de obras de pintura, tendo já um método indiciário de 
diferenciação de literatura. “Quanto mais os traços individuais eram 
considerados pertinentes, tanto mais se esvaía a possibilidade de um 
conhecimento científico rigoroso.” 
 
II.6 Tem-se então duas opções de métodos: “Sacrificar o conhecimento do 
elemento individual à generalização (...), ou procurar elaborar um paradigma 
diferente, fundado no conhecimento científico (...) do individual.” As ciências 
naturais, e bem depois as humanas também, seguiram excluindo o saber 
individual. “O conhecimento individualizante é sempre antropocêntrico, 
etnocêntrico e assim por diante especificando.” 
 
II.7 A indiferença qualitativa dos usuários da nova ciência (estatística) não 
desfez o vínculo com as disciplinas indiciárias, mas dava uma abordagem 
matemática rigorosa a assuntos já tratados por elas. “A impossibilidade da 
medicina alcançar o rigor próprio das ciências da natureza derivava da 
impossibilidade de quantificação, a não ser em funções puramente auxiliares; a 
impossibilidade da quantificação derivava da presença ineliminável do 
qualitativo, do individual. 
 
II.8 No texto de Cabanis percebe-se que a medicina, utilizando métodos 
indiciários, era reconhecida e tinha bastante prestígio, enquanto outros 
métodos indiciários, como o meteorológico, eram discriminados e não tinham 
reconhecimento da sociedade. “Ao longo do século XVIII, a situação muda. Há 
uma verdadeira ofensiva cultural da burguesia, que se apropria de grande parte 
do saber, indiciário e não indiciário”. A literatura deu a oportunidade do 
conhecimento de experiências à burguesia. 
 
II.9 Os romances policiais se utilizaram de conhecimentos indiciários que são 
antiguíssimos e ao mesmo tempo modernos. Disciplinas como a arqueologia, a 
geologia, a astronomia física e a paleontologia não podiam deixar de se voltar 
para o paradigma indiciário, ou divinatório (adivinhação voltada para o 
passado). “Quando as causas não são reproduzíveis, só resta inferi-las a partir 
dos efeitos.”. 
 
III.1 Faz-se uma comparação do texto, até aqui, com um tapete em que se olha 
de vários ângulos e tem a possibilidade de ver a lógica do discurso como nas 
relações entre escritores de literatura e de textos científicos (baseados no 
indiciário), a medicina com a identificação das escritas entre outros. “O tapete é 
o paradigma que chamamos a cada vez, conforme os contextos, de venatório, 
divinatório, indiciário ou semiótico.”. “entre os séculos XVIII e XIX, com o 
aparecimento das „ciências humanas‟, a constelação das disciplinas indiciárias 
modifica-se profundamente: (...) mas sobretudo afirma-se, pelo seu prestígio 
epistemológico e social, a medicina. A ela se referem, explícita ou 
implicitamente, todas as „ciências humanas‟.”. “As ciências humanas acabaram 
por assumir sempre mais (...) o paradigma indiciário da semiótica. E aqui 
reencontramos a tríade Morelli-Freud-Conan Doyle da qual partimos”.

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