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1 DIMENSIONAMENTO DO SISTEMA DE FREIO PARA UM VEÍCULO DO TIPO BAJA SAE1 Gabriela Alves Barbosa – gabrielaalves003@gmail.com Mariana Lemos de Abreu – mary_de_abreu@hotmail.com Edvaldo Angelo (Orientador) – eangelo@mackenzie.com.br RESUMO O freio é um componente fundamental para a segurança de qualquer veículo, faz-se necessário então um estudo do tema, visto que não são comerciais sistemas de freios projetados para aplicações como o veículo Baja SAE. Esse trabalho teve como objetivo estudar dois dos principais componentes do sistema de freios para um veículo fora de estrada do tipo Baja SAE, levando em consideração a dinâmica veicular longitudinal e análises térmica do disco e estrutural do pedal de acionamento. Foram descritos os tipos de freios e as características de cada tipo de componente, em seguida foram selecionados os componentes mais adequados para a aplicação, podendo assim levantar a curva de frenagem do protótipo. O disco de freio e o pedal de acionamento foram submetidos a simulações numérico-computacionais. O pedal foi simulado estruturalmente visando uma redução de massa do mesmo. Foram feitas simulações térmicas do disco de freio, considerando cenários de paradas de emergência, para analisar a temperatura máxima atingida. Para validação dos resultados encontrados numericamente, foram realizados testes em campo reproduzindo os mesmos cenários para confrontar os resultados numéricos com experimentais. Os resultados de comparação entre os resultados numéricos e experimentais foram coerentes e as simulações computacionais para o modelo térmico não revelaram diferenças significativas entre as geometrias propostas. Palavras-chave: Sistema de freios. Baja SAE. Curva de frenagem. Simulações numérico- computacionais. Testes em campo. DESIGN OF A BAJA SAE BRAKING SYSTEM ABSTRACT The brake is a fundamental component for the safety of any vehicle, so a subject study is required as there are no commercial brake systems designed for applications such as the Baja SAE vehicle. This scientific article aimed to study two of the main components of the braking system for a Baja SAE road vehicle, taking into account longitudinal vehicle dynamics and thermal analysis of the disc and structural analysis of the drive pedal. Types of brake and characteristics of each component were selected, then the components most used for the application were selected, thus 1 Artigo do Trabalho de Conclusão de Curso, Graduação em Engenharia Mecânica, EE, UPM, São Paulo, 2019. 2 raising the braking curve of the prototype. The brake disc and the pedal were submitted to numerical and computational simulations. The pedal was structurally simulated in order to reduce mass. Thermal simulations of the brake disc were performed, considering emergency braking situations, to analyze the maximum temperature reached. For the validation of computational simulation results, field tests were performed reproducing the same situations to compare the numerical results with experimental ones. Comparison results between numerical and experimental results were consistent and computational simulations for the thermal model revealed no significant differences between the displayed geometries. Keywords: Braking system. Baja SAE. Braking curve. Numerical and computational simulations. Field experiment. 1 INTRODUÇÃO A Sociedade de Engenheiros da Mobilidade (SAE) tem como um de seus programas estudantis o Baja SAE, que surgiu em 1976 na Universidade da Carolina do Sul e é um desafio lançado aos estudantes universitários no qual é proposto o desenvolvimento de um veículo a fim de integrar os conhecimentos de engenharia adquiridos pelos estudantes. A equipe é desafiada a projetar, construir e testar um veículo fora de estrada que seja capaz de superar obstáculos e seja vendável. Torna-se necessária a integração de conhecimentos obtidos durante o curso para a criação de um sistema que funcione adequadamente, além de respeitar o Regulamento Administrativo e Técnico Baja SAE Brasil (RATBSB). Uma das provas das competições oficiais de Baja SAE é o teste de frenagem. Nesta prova, como descrito no RATBSB, segundo SAE (2018, p. 105), O veículo, pilotado por um membro da equipe, deve demonstrar a capacidade de travar todas as rodas, simultaneamente, e frear até o repouso em uma linha aproximadamente reta após aceleração por uma distância definida pelos Juízes Credenciados de Segurança, de aproximadamente 30 m. Com base no RATBSB, segundo SAE (2018), que impõe que o sistema de freio seja hidráulico, atuado por um único pé e tenha ao menos dois circuitos independentes, e em algumas propostas de projeto definidas pela equipe para o sistema, o mesmo é dimensionado. Devido ao veículo em questão ser específico para esse tipo de competição e não ser do conhecimento das autoras a existência de sistemas comerciais de freios projetados para essa aplicação, torna-se necessária e útil uma análise da literatura técnica para sistemas semelhantes no intuito de adaptação, visando ao desenvolvimento de um sistema específico para esse emprego. Além disso, o regulamento prevê uma validade de dois anos para a estrutura do protótipo, o que justifica a necessidade do constante desenvolvimento do projeto. No desenvolvimento foi utilizado o protótipo antigo, chamado Brutus, para alguns testes e validações. 3 Considerando a competição específica da categoria, é obrigatória a presença do sistema de freio hidráulico, a documentação em forma de relatório e a apresentação do desenvolvimento do mesmo, como pode ser verificado no RATBSB, por SAE (2018). O estudo é justificado pela necessidade de análise técnica do sistema de frenagem, por questões regulamentares e também para garantir a segurança do piloto, dos outros competidores e dos observadores. Segundo Limpert (1999), sistemas de frenagem automotivos se baseiam em: fonte de energia, sistema de aplicação, sistema de transmissão de energia, rodas e freio propriamente dito. Os protótipos do tipo Baja seguem o RATBSB, por SAE (2018), que limita o freio a um sistema hidráulico, podendo ser a disco ou a tambor. Nos freios a disco, a força aplicada no pedal é transferida para a pinça através de uma linha de fluido e então ocorrerá a compressão do disco pelas pastilhas presentes na pinça. Nos freios a tambor, a força é transferida pela linha de fluido da mesma forma, porém o material de atrito é uma lona que é expandida radialmente contra um tambor. Como pode ser visto em Limpert (1999, p. 66-67), nos freios a disco, a dilatação devido ao calor não causa aumento no curso necessário do pedal para frenagem, uma vez que a espessura do disco aumenta, necessitando de um menor curso do pistão da pinça de freio para ocorrer o contato entre a pastilha e o disco. Já nos freios a tambor, com a dilatação devido ao calor, há aumento do curso necessário do pedal para frenagem, pois o diâmetro do tambor aumenta, podendo em situações limites não garantir a segurança do condutor do veículo e das pessoas ao redor. Além disso, o freio a tambor tem tamanho e peso consideravelmente maiores que o freio a disco. Devido a todos esses fatores, foi considerado para esse projeto o freio a disco. Esse sistema tem basicamente os seguintes componentes: disco, pinça, linha de fluido, cilindro mestre e pedal. Seu funcionamento é baseado na condição de o sistema gerar um torque resistivo através do atrito entre a pastilha da pinça e o disco de freio que seja superior ao torque fornecido pelo conjunto motriz (powertain segundo designado na língua inglesa) para movimentar as rodas. Assim, o sistema transforma a energia cinética do carro em calor, resultando na redução da velocidade do veículo, podendo chegar ao repouso. Os componentes do sistema de frenagem podem ser de diferentes tipos, cada qual com suas vantagens e desvantagens, partindo de certas premissas que atendama cada situação específica. A seguir, são apresentadas brevemente as características dos diferentes tipos de disco de freio, pinça, linha de fluido e cilindro mestre. O disco de freio pode ser fabricado com inúmeros materiais, entre eles diversos aços, ferro fundido e materiais cerâmicos. Além disso, pode ser fixo ou flutuante. O disco de freio fixo é formado inteiramente por um único material, portanto não possui a capacidade de compensar eventuais movimentos causados por choques mecânicos ou térmicos. Porém, esse tipo de disco possui um custo menor em relação ao flutuante, uma vez que é constituído por uma única peça e não requer a 4 montagem adicional de um conjunto. O disco de freio flutuante é formado por duas partes conectadas permitindo o movimento axial. Isso faz com que o alinhamento do disco com a pinça seja garantido na maioria das situações. Porém, esse tipo de disco possui um maior custo em relação ao fixo devido à maior complexidade da fabricação. A pinça de freio é um sistema hidráulico que recebe a pressão da linha de fluido e a transfere para a pastilha. Esse sistema pode ser fixo ou flutuante. Segundo Limpert (1999, p. 43-44), a pinça fixa possui pistões em ambos os lados que entram em contato com o disco, o que aumenta sua eficiência. Ela oferece um desgaste mais uniforme das pastilhas e com menos conicidade, se comparada à pinça flutuante. Além disso, ela possui menos componentes, ausência de molas e manutenção de suas peças com menor custo. A pinça flutuante possui pistões apenas em um dos lados que entram em contato com o disco e, a pressão hidráulica que empurra o pistão e a pastilha contra o disco, também empurra a pastilha externa contra o disco. Ela possui vantagens em relação à fixa pois é mais fácil de ser encaixada no disco dentro da roda, uma vez que possui pistão em um único lado; tem menor temperatura de operação do fluido de freio e, consequentemente, menor capacidade de vaporizar o mesmo na linha; tem menos pontos de vazamento e oferece maior facilidade de sangria em operação. A linha que conecta o cilindro mestre às pinças pode ser rígida ou flexível. A linha rígida é um tubo de metal que transfere a pressão do cilindro mestre para a pinça. Segundo Santos (2014, p. 53-54), esse tipo de linha possui menor perda de carga (definida em Çengel e Cimbala (2007, p. 285)) que a linha flexível, porém não pode ser acoplada às pinças que são fixas ao cubo da roda, devido ao movimento relativo entre ela e o carro, uma vez que deve ser fixa às partes imóveis do veículo. A linha flexível é uma mangueira de borracha ou teflon que pode ser revestida por uma malha metálica para limitar sua expansão quando o fluido transferir a carga de pressão. É utilizada para conectar as pinças que possuem movimento relativo ao carro, pois são maleáveis. Esse tipo de linha possui maior perda de carga que a rígida, por isso é aconselhável utilizá-la somente quando não se pode utilizar a outra opção. O cilindro mestre é o componente responsável por converter a força aplicada no pedal em pressão na linha de fluido. O pedal é conectado à haste desse componente, o qual pode ser simples ou duplo. O cilindro mestre simples possui apenas um êmbolo, transferindo a força do pedal para apenas uma saída de linha de fluido. O cilindro mestre duplo possui dois êmbolos, transferindo a força do pedal para duas saídas de linha de fluido. Para se ter linhas de fluido dianteira e traseira independentes, deve-se utilizar um cilindro mestre duplo, o qual distribuirá a pressão igualmente para as duas linhas, ou dois cilindros mestre simples. Nessa segunda opção, tem-se a possibilidade de utilizar um componente chamado balance bar, que permite uma distribuição desigual da força aplicada no pedal entre as linhas de fluido traseira e dianteira. 5 O fluido de trabalho utilizado na linha de freio é o que de fato transmite a pressão gerada ao se empurrar o êmbolo do cilindro mestre para a pinça, empurrando seu êmbolo e pressionando a pastilha contra o disco. Segundo Bosch (1995, p. 37), esse fluido deve ter um ponto de ebulição adequado, pois o aquecimento pode gerar bolhas de vapor, o que resulta na falha do freio; deve ter a viscosidade e a compressibilidade adequadas na temperatura de trabalho do sistema e deve proteger o material da linha contra corrosão, no caso da linha rígida, ou ser adequado ao material da linha flexível. Esses requisitos seguem padrões, que podem ser SAE J 1703, Federal Motor Vehicle Safety Standard (FMVSS) 116 ou Organização Internacional para Padronização (ISO) 4925. As pastilhas de freio, segundo Eriksson e Jacobson (2000), geralmente são constituídas por duas categorias de material de fricção, orgânico ou semi-metálico. Segundo Engberg (1995), as pastilhas semi-metálicas possuem boa dissipação do calor, portanto são utilizadas em veículos esportivos ou de grande porte, situações nas quais a solicitação do sistema é mais rigorosa. Segundo Birch (1999), as pastilhas orgânicas possuem um coeficiente de atrito menor que as semi-metálicas, mas proporcionam uma vida útil maior aos discos de freio, portanto são utilizadas em veículos leves. O custo das pastilhas semi-metálicas é maior em relação a orgânica. Parâmetro importante na análise e projeto do sistema de frenagem, o coeficiente de atrito é um valor adimensional caraterístico de um par de materiais, dependente de inúmeras variáveis principalmente do acabamento das superfícies. Ele depende também da temperatura e da velocidade relativa entre tais superfícies, como pode ser observado em Santos (2014, p. 27-28). No sistema de freio a disco são considerados dois coeficientes de atrito: pneu/solo e disco/pastilha. Portanto, ao definir o coeficiente para o par pneu/solo, é necessário estabelecer qual terreno será considerado. E para o coeficiente para o par disco/pastilha, estabelecer qual a faixa de temperatura de trabalho. Devido a esse fato, os fabricantes de pastilhas fornecem um gráfico do coeficiente de atrito em função da temperatura, utilizando um disco padrão, para que se possa estimar um valor adequado para o dimensionamento. O dimensionamento do freio de um veículo baseia-se principalmente em um gráfico que contém duas curvas: pressão ideal e pressão real do sistema. A curva ideal descreve a pressão, a cada desaceleração, do eixo dianteiro pelo eixo traseiro considerando a transferência de massa durante a frenagem, situação em que o veículo atingirá a desaceleração máxima permitida pelo solo. A curva real é uma reta que descreve a pressão, a cada desaceleração, entregue pelo sistema. O cruzamento das curvas é o ponto em que o sistema entrega exatamente o valor da desaceleração máxima em ambos os eixos, causando então o travamento simultâneo das quatro rodas do veículo, esse ponto é denominado Zcrítico. O objetivo deste trabalho foi dimensionar dois dos principais componentes do sistema de freio para um veículo do tipo Baja SAE, o pedal e o disco. Para atingir tal objetivo foi necessário realizar 6 os cálculos básicos para definir a curva de frenagem característica do veículo e determinar o Zcrítico; identificar os principais componentes do sistema de frenagem; estudar o pedal e disco de freio, realizando uma análise estrutural do pedal e térmica do disco através de simulação numérico- computacional, além de um estudo experimental de validação do modelo numérico térmico utilizado no disco de freio. 2 METODOLOGIA O dimensionamento de um sistema de freio se inicia com a definição das curvas de frenagem. A desaceleração máxima de frenagem de um veículo é o produto entre o coeficiente de atrito pneu/solo e a aceleração da gravidade, como descrito na equação 1. Para simplificação, a desaceleração é usada em função de g, deixando assim, a desaceleração máxima numericamente igual ao coeficiente de atrito pneu/solo e, consequentemente, ao Zcrítico. Oprojeto então é feito visando um melhor Zcrítico, que é o mais próximo do coeficiente de atrito pneu/solo. Para o levantamento da curva de pressão ideal do protótipo foi utilizada a equação 2, que foi definida a partir do diagrama de forças apresentado na figura 1 e da segunda Lei de Newton. Figura 1- Diagrama de forças do veículo em desaceleração. Fonte: Autoras (2019). D Á = μ / . g (1) PI = ( P. Lt + m . a . h L ) μ / . RR n°f . n°e . A . μ / . RE (2) Sendo: a = módulo da aceleração do veículo; Ap = área do êmbolo do freio a disco; DMÁX = desaceleração máxima; g = módulo da aceleração da gravidade; 7 h = altura do centro de gravidade (CG); L = distância entre os eixos do veículo; Lt = distância da projeção do CG até o eixo; m = massa do protótipo; nºe = número de êmbolos; nºf = número de freios (pinças); P = peso do protótipo; PI = pressão ideal; RE = raio efetivo do disco; RR = raio de rolamento do pneu; µp/d = coeficiente de atrito entre a pastilha e o disco de freio; µp/s = coeficiente de atrito entre o pneu e o solo. Para o levantamento da curva de pressão real do protótipo foi utilizada a equação 3, que também foi definida a partir do diagrama de forças apresentado na figura 1. PR = m . a + AF. PPO + AR . PPOR AF + AR (3) Sendo: AF = fator de torque dianteiro; AR = fator de torque traseiro; PPO = pressão de perda pré operativa ideal; PPOR = pressão de perda pré operativa real; PR = pressão real. Juntamente com o desenvolvimento dos outros parâmetros do veículo, como powertrain, suspensão e direção, é possivel estimar as dimensões a partir de premissas de projeto e da utilização de softwares de desenho 3D, além da massa e a posição do centro de gravidade do protótipo em questão. Para obter os valores de área do êmbolo e a quantidade de pistões, foi necessário primeiramente definir os principais componentes do sistema de freio. Foi feita uma matriz de decisão, analisando as vantagens e desvantagens de cada opção para a aplicação específica. Nessa matriz de decisão foram definidos: a pinça fixa, devido à quantidade de pistões e desempenho da mesma; o disco fixo, por conta da facilidade de manutenção e menor custo em relação ao flutuante; o cilindro mestre simples, devido a necessidade de utilização do sistema de balance bar. Assim, definido o tipo 8 de componente, foram encontrados os dados técnicos disponíveis no mercado para utilização nos cálculos. O coeficiente de atrito entre o pneu e o solo foi aquisitado em um teste em campo. Com o auxílio de uma célula de carga presa a um cabo de aço, o protótipo da equipe Mack Gear Baja SAE denominado Brutus foi puxado com os freios acionados e consequentemente as rodas travadas. Obtido o valor da força necessária para iniciar o movimento do veículo e com o peso do mesmo, foi possível estimar o coeficiente de atrito estático em diferentes tipos de solos. A equação 4 apresenta a relação matemática utilizada (que pode ser obtida em livros clássicos de Física). Como mensionado anteriormente, o coeficiente de atrito pneu/solo tem o mesmo valor que o Zcrítico. Encontrado o valor do coeficiente, foi definido o Zcrítico desejado. Fat = µ / . P (4) Sendo: Fat = força de atrito. Para dimensionar o sistema de freio de acordo com o Zcrítico definido, altera-se a distribuição de força do balance bar entre as linhas de fluido traseira e dianteira para ajustar a curva de pressão real e alcançar o cruzamento com as curvas de pressão ideal e desaceleração desejado. Para realizar o dimensionamento do pedal de freio, foi considerado a premissa de diminuição de massa em relação ao protótipo anterior. Foi definido o material Aluminio 6061-T6 por apresentar baixa densidade em relação ao aço e ainda possuir uma resistência adequada para a aplicação. Definido o material, foram realizadas simulações computacionais levando em consideração os esforços realizados pelo piloto no pedal. Para definição desses esforços, foram realizados testes em campo com o protótipo antigo que consistiram na instalação de uma célula de carga no pedal medindo a força máxima que o piloto consegue aplicar em uma situação de emergência. Após, o projeto foi refinado com alívios de massa determinados através do resultado da simulação computacional. Para realizar a escolha do material do disco de freio foram selecionados alguns materiais através de comparações técnicas entre aços carbono SAE, aço inox e fibra de carbono. Foi definido para o projeto o aço SAE 1045 devido ao menor custo e facilidade de fabricação em relação aos outros. Após definido o material do disco, foi feito o ensaio Krauss na empresa LINK ENGINEERING, seguindo a norma NBR 6143, por ABNT (1995), que consiste basicamente em aquisição de coeficiente de atrito entre a pastilha e o disco através de um dinamômetro de inércia. O ensaio foi realizado para definir qual dos fornecedores de pastilha, também selecionados por comparações técnicas, oferce um produto com o melhor coeficiente de atrito para a aplicação. As simulações, de uma forma geral, devem ser feitas definindo-se primeiramente a geometria, depois as equações básicas e, por fim, as condições de contorno. 9 Para simular estrutural e termicamente o conjunto principal do sistema foram utilizados os softwares Ansys® Mechanical APDL e Ansys® Workbench. Para o pedal de freio foram realizadas sucessivas simulações no Ansys® Workbench para definir as regiões com menores tensões, nas quais foram feitos alívios de massa. Para essa simulação, foi considerado o módulo de elasticidade e o coeficiente de Poisson do material escolhido e o elemento de malha tetraédrica com formulação do elemento de primeiro grau. A geometria final foi submetida então a uma útima simulação de validação da estrutura. Para essa simulação, foi utilizado o software Ansys® Mechanical APDL com o elemento de malha Structural Solid Brick 8 node 185 (ANSYS, 2011), assim como o módulo de elasticidade e o coeficiente de Poisson do material escolhido. Em relação aos carregamentos, a região de fixação do pedal teve todos os seus graus de liberdade, a saber, três translações, travados e a força foi aplicada na área que recebe a ação do piloto (contato do pé com o pedal). Todas as simulações computacionais contaram com estudo de malha, através de refinamentos sucessivos até a obtenção de resultados invariáveis denotando solução do tipo malha independente. Para o disco de freio foram consideradas quatro diferentes geometrias de alívios na estrutura denominados grooves, nos discos dianteiros, ilustrados na figura 2 e nos discos traseiros, ilustrados na figura 3, para que pudesse ser analisada a sua influência na condução de calor no interior do componente. Para essa simulação foi utilizada a condutividade térmica, o calor específico e a densidade do material escolhido, assim como o elemento de malha Thermal Solid Tet 10 node 87 (ANSYS, 2011), pois permite a simulação da condução do calor em seu interior. As condições de contorno definidas foram a convecção nas bordas externas do disco, cujo coeficiente de transferência de calor por convecção médio foi calculado segundo a equação 5 (apresentada em Çengel (2009, p. 380)), e o fluxo de calor gerado pelo atrito das pastilhas nas superfícies do disco, que foi calculado segundo a equação 6 (apresentada em Çengel (2009, p. 10)). Foram definidos três diferentes cenários para realizar as simulações afim de deixá-las o mais próximo da realidade. No cenário 1, o disco foi submetido a uma frenagem de emergência, considerando a velocidade máxima do veículo até o repouso, seguida de um resfriamento de trinta segundos; no cenário 2, o disco foi submetido a duas frenagens de emergência consecutivas seguidas de um resfriamento de 30 segundos; no cenário 3, o disco foi submetido a três frenagens de emergência consecutivas seguidas deum resfriamento de 30 segundos. Nas condições de resfriamento, a superfície externa de todo o disco era submetida a convecção com o ambiente externo, não mais existindo potência térmica ocasionada pelo atrito. 10 Figura 2 – Representação esquemática da vista frontal dos discos de freio dianteiros. Fonte: Autoras (2019). Figura 3 – Representação esquemática da vista frontal dos discos de freio traseiros. Fonte: Autoras (2019). Os cenários indicados foram escolhidos de acordo com idealizações das situações de utilização do veículo em competição. As geometrias indicadas na figura 2 são designadas: (a) Groove 1, (b) Groove 2, (c) Groove 3 e (d) Groove 4, este último do projeto Brutus atual. Os grooves são alívios necessários principalmente para limpar a pastilha de eventuais materiais que venham aderir a superfície e atrapalhar o contato com a pastilha, o que é muito relevante para a presente aplicação, uma vez que trata-se de um veículo off-road que é utilizado em terrenos com presença de lama e terra. Adicionalmente, eles também servem de alívio de massa para o disco. h = Nu . kf/L (5) Sendo: h = coeficiente médio de transferência de calor por convecção ; Nu = número de Nusselt; kf = condutividade térmica do fluido; L = comprimento característico. Φ = P . δ . γ 2 . Ad (6) 11 Sendo: 𝚽 = fluxo de calor; P = potência de frenagem; 𝛅 = fator de dissipação de calor no disco de freio; 𝛄 = fator de correção para massas de inércia; Ad = área da superfície do disco. Um dos discos considerados nas simulações foi o disco de freio do protótipo anterior, possibilitando então a realização de um estudo experimental com o intuito de comparação e validação dos valores numéricos. Em um teste de campo foram medidas as temperaturas do disco em situações compatíveis aos cenários considerados na simulação computacional. O equipamento utilizado para tal medição foi uma câmera térmica da marca Fluke® modelo TiS10 e os resultados obtidos foram confrontados com os valores obtidos nas simulações. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Com os dados gerados pela célula de carga no ensaio feito para aquisição do coeficiente de atrito entre o pneu e o solo, foi possível gerar o gráfico apresentado na figura 4, que mostra os coeficientes de atrito no asfalto e na terra em função do tempo. Como a aplicação do Baja é fora de estrada, o valor escolhido para se utilizar nos cálculos foi de 0,7, uma vez que este é, aproximadamente, o coeficiente de atrito para iniciar o movimento na terra, definindo assim o Zcrítico desejável. Figura 4 - Coeficiente de Atrito pneu/solo. Fonte: Autoras (2019). -0,2 -0,1 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 C oe fi ci en te d e A tr it o (μ ) Tempo [s] AsfaltoTerra 12 O resultado obtido a partir dos dados de entrada expostos na tabela 1 para a curva de frenagem característica do veículo e a determinação do Zcrítico está contido no gráfico da figura 5. Na figura 5 as linhas retas inclinadas são as acelerações como fração da aceleração da gravidade. Pode-se observar que foi definida a curva de pressão ideal do protótipo no eixo dianteiro e traseiro e a curva de pressão real na mesma condição, bem como as curvas de desaceleração indicadas como uma fração da aceleração da gravidade padrão de 9,81 m/s², designada por g. Observando o gráfico, conclui-se que o Zcrítico para o solo proposto de 0,7 foi atingido. A relação de distribuição do balance bar que possibilitou tal configuração foi a de 67% para a linha dianteira e 33% para a traseira. Figura 5 – Gráfico de Pressão ideal versus pressão real e desaceleração. Fonte: Autoras (2019). Tabela 1 – Dados de entrada para os cálculos. DADOS DE ENTRADA Distância entre eixos 1383 mm Distância do eixo traseiro ao CG 605 mm Massa do protótipo com piloto 247,8 kg Altura do CG 486 mm Coeficiente de atrito pneu/solo 0,7 Raio de rolamento do pneu 266,7 mm Raio efetivo do disco de freio dianteiro 68,3 mm Raio efetivo do disco de freio traseiro 68,3 mm Coeficiente de atrito pastilha/disco 0,30 Diâmetro do êmbolo da pinça 31,75 mm Número de êmbolos da pinça dianteira 2 Número de êmbolos da pinça traseira 4 Número de pinças do eixo dianteiro 2 Número de pinças do eixo traseiro 1 Relação do balance bar para a dianteira 0,67 Fonte: Autoras (2019). 13 Para a simulação estrutural do pedal, foi utilizada uma força superior a encontrada pelo ensaio realizado com uma célula de carga no pedal e o resultado do ensaio é apresentado no gráfico da figura 6. Foi utilizado nas análises o valor de 800 N, considerando um cenário mais desfavorável do que o dos testes, ou seja, com um valor majorado ao valor real, favorecendo operação segura do componente. Figura 6 - Força no pedal. Fonte: Autoras (2019). O dimensionamento do pedal de freio partiu de um desenho sem alívios de massa, que foi simulado estruturalmente a fim de avaliar os pontos com menor tensão, para selecionar o lugar propício para realizar os alívios. E assim, sucessivamente, foram feitos novos alívios e novas simulações, demonstrados na figura 7. A malha utilizada para a simulação da versão final do pedal pode ser vista na figura 8. As tensões obtidas com essa simulação podem ser vistas na figura 9, que indica uma tensão máxima de 254 MPa. Considerando a tensão de escoamento do material determinado para o componente, alumínio 6061-T6, de 255 MPa, tem-se um coeficiente de segurança aproximadamente igual a um, o que é aceitável, uma vez que a força considerada para a simulação foi a do cenário mais desfavorável. A realização do estudo para inserir alívios possibilitou atingir uma redução de massa de 21% em relação a versão inicial sem alívios. 0 10 20 30 40 50 60 0 14 29 43 58 72 87 10 1 11 6 13 0 14 5 15 9 17 4 18 8 20 3 21 7 23 2 24 6 26 1 27 5 29 0 30 4 31 9 33 3 34 8 36 2 37 7 39 1 40 5 Fo rç a [k gf ] Tempo [s] 14 Figura 7 – Resultados das tensões de von-Mises no pedal de freio (simulação no Ansys® Workbench). Tensões em MPa. Fonte: Autoras (2019). Figura 8 – Malha utilizada na simulação no Ansys® Mechanical APDL da versão definitiva do pedal de freio. Fonte: Autoras (2019). 15 Figura 9 – Resultados das tensões de von-Mises no pedal do freio (simulação no Ansys® Mechanical APDL) de versão definitiva. Tensões em Pa. Fonte: Autoras (2019). Para os modelos de disco de freio selecionados foram realizadas simulações térmicas em três cenários diferentes para cada geometria de disco, tanto para os discos dianteiros quanto os traseiros. Nessas simulações foram considerados um coeficiente de transferência de calor por convecção médio calculado de 119,489 W/m²K, um fluxo de calor gerado pelo atrito das pastilhas nas superfícies do disco calculado de 116328,37 W/m² e uma temperatura do ar ao longe de 25ºC. Para essa modelagem, a radiação térmica foi desprezada. No que diz respeito às propriedades do material escolhido para os discos, aço SAE 1045, os valores utilizados foram: condutividade térmica 50,9 W/mK, calor específico de 486 J/kgK e densidade de 7870 kg/m³. Na figura 10 tem-se os resultados da simulação para o disco dianteiro no cenário 3, que considera 3 frenagens de 2 segundos consecutivas seguidas de um resfriamento de 30 segundos, para os três modelos de grooves. Os resultados obtidos para os outros cenários e para o disco traseiro foram similares ao apresentado. A comparação dos resultados entre as geometrias, do ponto de vista da evolução térmica foi muito próxima, o que permite concluir que a geometria dos grooves nos discos não altera significativamente a condução de calor em seu interior. 16 Figura 10 - Temperatura do disco dianteiro versus tempo. Fonte: Autoras (2019). A figura 11 indica a malha considerada nas simulações mencionadas anteriormente para astrês geometrias de groove considerando o cenário de três frenagens de emergência consecutivas no disco traseiro. A figura 12 indica os resultados obtidos para a distribuição da temperatura no disco de freio traseiro. Foram apresentados os discos traseiros para permitir posterior comparação com os valores experimentais. Figura 11 – Malha utilizada na simulação térmica do disco traseiro. Fonte: Autoras (2019). 25 35 45 55 65 75 85 95 0 2 4 6 36 Te m pe ra tu ra [° C] Tempo [s] Groove 1 Groove 2 Groove 3 3ª FRENAGEM RESFRIAMENTO 1ª FRENAGEM 2ª FRENAGEM 17 Figura 12 – Resultados da simulação térmica para a distribuição de temperatura no disco traseiro. Fonte: Autoras (2019). Para validação das análises numérico-computacionais foram realizados testes em campo com o protótipo de disco do Brutus já instalado no carro atual. Os testes utilizaram uma câmera térmica para medir a temperatura atingida pelo disco de freio traseiro, uma vez que a posição do disco dianteiro instalado no protótipo inviabilizou a captura de sua imagem pela câmera térmica. A primeira medição foi feita para saber a temperatura do disco após o veículo atingir a velocidade máxima e realizar uma frenagem de emergência. A imagem obtida na câmera térmica está apresentada na figura 13 e, como pode-se observar, a temperatura alcançada foi de 50,9ºC. A segunda medição foi feita após o veículo se mover por 30 segundos sem acionar o sistema de freio. A imagem obtida na câmera térmica está apresentada na figura 14 e, como pode-se observar, a temperatura foi de 46,9°C no ponto indicado. As medições foram realizadas da mesma maneira para duas e três frenagens de emergência consecutivas. Figura 13 – Temperatura do disco após uma frenagem de emergência. Fonte: Autoras (2019). 18 Figura 14 – Temperatura do disco após o período de resfriamento estabelecido. Fonte: Autoras (2019). A figura 15 trata-se de um gráfico comparativo das temperaturas máximas encontradas numericamente e as experimentais no teste descrito. A reta indica a situação ideal, na qual a temperatura obtida experimentalmente coincide com os dados numéricos obtidos nas simulações. Os pontos dispersos são os valores reais obtidos, que demonstram as variações observadas entre os valores numéricos e experimentais para a temperatura do disco. Quanto mais os pontos se aproximam da reta ideal, menor é a diferença entre os resultados da simulação e dos testes. Vale ressaltar que o erro ocorreu apenas para um lado da reta ideal, o que é um bom indicativo da efetividade do ensaio, uma vez que algo desviou o valor de maneira constante em todas a medições. Eventuais dispersões do valor real em relação ao valor ideal podem ter ocorrido devido a condições do ensaio não contabilizadas ou controladas e, portanto, não consideradas na simulação computacional, como por exemplo a velocidade do ar atmosférico no momento de realização das medições. As diferenças também podem ser justificadas por imprecisões do instrumento de medição e limitações do operador no momento da coleta dos dados. 19 Figura 15 – Resultados numéricos versus coletas experimentais. Fonte: Autoras (2019). 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS O estudo proposto apresentou o dimensionamento de dois componentes do sistema de frenagem para um veículo do tipo Baja SAE, através de uma análise técnica envolvendo a abordagem analítica, numérica e experimental. Dois componentes do conjunto foram selecionados para o estudo, o pedal, para estudo estrutural visando redução de peso e o disco para analisar geometrias distintas de canais conhecidos como grooves. O modelo computacional estrutural do pedal de acionamento do freio conseguiu obter geometria mais leve pela adição de alívios na peça. O modelo computacional térmico do disco foi capaz de descartar diferenças significativas entre o desempenho térmico das geometrias estudadas. Adicionalmente, foi realizado um estudo experimental para servir de calibração para as simulações, uma vez que a situação do ensaio foi simulada e os valores foram confrontados. Esse confronto foi favorável, comprovando a coerência dos resultados para as geometrias testadas. REFERÊNCIAS ABNT. NBR 6143: Pastilha do freio a disco - Determinação do atrito e desgaste através da bancada de ensaio Krauss. Rio de Janeiro: ABNT, 1995. 7 p. ANSYS. Theory Guide. 14.0 Canonsburg: Ansys Inc, 2011. 368 p. Disponível em: <http://read.pudn.com/downloads500/ebook/2077964/cfx_pre.pdf>. Acesso em: 12 nov. 2019. BIRCH, T. W. Automotive Braking Systems. 3. ed. Editora Delmar, 1999. 436 p. BOSCH. Automotive Brake Systems. Warrendale: Sae International, 1995. 192 p. ÇENGEL, Yunus A.; CIMBALA, John M. Mecânica dos Fluidos: Fundamentos e Aplicações. São Paulo: McGraw-Hill, 2007. 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 D ad os e xp er im en ta is [° C] Dados numéricos [°C] Temperatura do disco Real Ideal 20 ÇENGEL, Yunus A. Transferência de Calor e Massa: Uma abordagem prática. 3. ed. São Paulo: Mcgraw-hill, 2009. 891 p. ENGBERG, C. C. The Regulation and Manufacture of Brake Pads: The Feasibility of Reformulation to Reduce the Copper Load to the San Francisco Bay. 27 p. Relatório técnico, Palo Alto Regional Water Quality Control Plant, Estados Unidos, 1995. ERIKSSON, M.; JACOBSON, S. Tribological Surfaces of Organic Brake Pads. Tribology International. Vol 33. 12. ed. 2000. p. 817-827. LIMPERT, Rudolf. Brake Design and Safety. 2. ed. Warrendale: Sae International, 1999. 525 p. SAE. RATBSB - Emenda 2: Regulamento Administrativo e Técnico Baja SAE BRASIL. São Paulo: Sae Brasil, 2018. 137 p. Disponível em: <http://portal.saebrasil.org.br/Portals/0/Users/223/39/28639/RATBSB_emenda_02.pdf>. Acesso em: 21 nov. 2018. SANTOS, Gustavo Carvalho Martins dos. Projeto e dimensionamento de um sistema de freios aplicado a um veículo Fórmula SAE. 2014. 150 f. TCC (Graduação) - Curso de Engenharia Mecânica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014. AGRADECIMENTOS À nossa família, pelo apoio, paciência e compreensão. Aos nossos colegas, pela companhia nesses meses de estudos, em especial à Giulia Caroline Zanon por todo o companheirismo e auxílio. Aos nossos colegas da Equipe Mack Gear, pelo companheirismo e auxílio, em especial ao Diego Gomes, por toda a paciência e conhecimento compartilhado. À empresa LINK ENGINEERING, pela parceria na realização de ensaios e compartilhamento de conhecimentos.
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