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O dever de proteção estatal do direito do consumidor

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O dever de proteção estatal do direito do consumidor
Publicação: 13/05/2021 às 12h25min
Opinião 63
Que a defesa dos direitos dos consumidores é tema candente da sociedade brasileira na atualidade ninguém tem dúvidas. A necessidade de se ter um ordenamento jurídico íntegro para o efetivo exercício destas prerrogativas dos contratos de consumo apenas tende a aumentar durante períodos em que a normalidade social está abalada pelos inúmeros problemas decorrentes da pandemia da COVID-19 – como as vidas ceifadas pelo vírus, a crise econômica, as perdas de empregos (e etc.). É neste sentido que as forças políticas brasileiras têm se movido – desde a Constituição Federal de 1988, vide seu Art. 5º, XXXII, o Código de Defesa do Consumidor de 1990 até a discussão no presente momento do superendividamento -, bem como as formatações jurisprudenciais decorrentes.
Nada obstante, ainda carece o Brasil de adequada conformação jurídica quanto a arena de proteção estatal ao direito do consumidor, bem como quanto a eficácia horizontal dos direitos fundamentais dos consumidores – que academicamente renomados doutrinadores brasileiros têm debatido. 
BREVE ANÁLISE ACERCA DA PROTEÇÃO ESTATAL AO DIREITO DO CONSUMIDOR
Cumpre inicialmente salientar que a discussão aqui proposta não visa esgotar o assunto, que é amplo, complexo e com pontos de vista plurais perante a academia. Diante disso, a temática da proteção estatal e da eficácia horizontal dos direitos fundamentais nas relações privadas têm longa trajetória no direito brasileiro, tendo-se registro de análises doutrinárias datadas ainda nas proximidades da promulgação da própria Constituição Federal de 1988 – de fora à parte que a origem deste debate esteja galgada no direito alemão (drittwirkung) e já atinja grande parcela dos países democráticos mundo afora. 
Sabe-se que os direitos fundamentais previstos no texto constitucional assumem a roupagem jurídica de direitos públicos subjetivos, em que a pessoa (física ou jurídica) atua na condição de titularidade enquanto o Estado assume a condição de destinatário do dever de efetivá-los e protegê-los. Sendo assim, a priori, em termos de relações jurídicas sinalagmáticas, ambos os particulares, tanto consumidor quanto fornecedor, não estariam obrigados a atuar na garantia do direito fundamental de outrem – de modo que o Poder Público desenvolveria este papel, visto que, evidentemente e por decorrência lógica, ninguém tem a prerrogativa de atentar contra os direitos alheios. 
Verbaliza o Art. 5º, XXXII, da Constituição Federal de 1988, que é dever do Estado a defesa do consumidor. Pode-se apontar como causa de formulação deste mandamento constitucional, grosso modo, a tomada de nota pelo constituinte de um dado lógico da realidade social: o consumidor figura nos contratos privados como parte mais frágil da relação jurídica; no mesmo interim, este indicou um caminho para perscrutação de seu fito, qual seja, a legislação infraconstitucional – ganhando aqui o Código de Defesa do Consumidor de 1990 alta relevância, bem como traçou a possibilidade de judicialização das questões pertinentes. 
CONCLUSÃO
Em apertada síntese, interpretando-se sistemicamente as normas legais, pois, parece-nos oportuna a determinação de que há no ordenamento jurídico brasileiro a preferência pela afirmação do dever de proteção estatal aos consumidores mediada pelo Poder Público em geral, isto é, pelo legislador infraconstitucional, pelo administração pública direta e indireta – também na figura absolutamente relevante do PROCON – e pela atividade judicante, de modo que irradia do texto constitucional significado axiológico às normas de direito privado, traduzindo-se na eficácia indireta dos direitos fundamentais.
REFERÊNCIAS PARA PESQUISA E APROFUNDAMENTO DA MATÉRIA
DIMOULIS, Dimitri; MARTINS, Leonardo. Teoria geral dos direitos fundamentais. 7.ed. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2020. p.125-147.
DUQUE, Marcelo Schenk. Direito Privado e constituição: drittwirkung dos direitos fundamentais, construção de um modelo de convergência à luz dos contratos de consumo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. p.448.
MENDES, Gilmar Ferreira. Direitos fundamentais e controle de constitucionalidade: estudos de direito constitucional. 4.ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p.116-138.
Texto: Pedro Henrique Pasquali, graduando em Direito do sétimo semestre pela Universidade de Passo Fundo (UPF).

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