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Hipertireoidismo Hipertireoidismo: é um termo mais restrito, que corresponde aos casos de tireotoxicose em que o problema todo advém de uma hiperatividade da glândula tireoide. Epidemiologia: acomete cerca de 1,2% da população (em 0,5% de forma clínica e em 0,7% de forma subclínica), sendo mais prevalente entre o sexo feminino (5:1). Tireotoxicose: se refere à síndrome decorrente da exposição dos tecidos a uma grande quantidade de hormônios tireoidianos, mas independente de qual seja a origem do problema. Ou seja, pode ser por algum acometimento na tireoide, no eixo hipotalâmico-hipofisário, ou até por estar realizando o uso do hormônio exógeno. Se tem elevação de hormônio tireoidiano, o paciente tem tireotoxicose. Quadro clínico Os hormônios T3 e o T4 atuam estabelecendo o metabolismo do corpo, então quando os seus níveis ficam muito elevados, o metabolismo vai ser acelerado (hiperatividade do metaboslimo). Sintomas gerais e neurológicos são os mais frequentes, então é bem comum o paciente com HiperT referir perda ponderal não intencional e intolerância ao calor, além de nervosismo, labilidade emocional, irritabilidade, agitação, etc. Além disso, outras manifestações com as quais deve-se ter bastante atenção são as cardíacas, uma vez que o paciente com HiperT tende a fazer taquicardia, palpitação e arritmias, o que pode causar complicações severas por ameaçarem a vida do paciente. Etiologias Tireotoxicose com hipertireoidismo • Doença de Graves • Bócio multinodular tóxico • Adenoma tóxico • Uso excessivo de iodo Tireotoxicose sem hipertireoidismo • Tireoidites • Hormônio exógeno (Tireotoxicose factícia) • Tireoide ectópica • Metástases Doença de Graves Graves é uma doença autoimune da tireoide que acomete cerca de 1% da população, sendo mais comum em mulheres (9:1) entre 20-50 anos de idade. Dessa forma, ela acaba sendo também a principal etiologia de HiperT, correspondendo a, mais ou menos, 60-80% dos casos dessa síndrome. Fisiopatologia Grande parte é explicada pela produção de 3 autoanticorpos: • Anticorpo antitireoperoxidase (Anti-TPO); • Anticorpo antitireoglobulina (Anti-TG); • Anticorpo para o receptor do TSH (TRAb). Anti-TPO e Anti-TG Esses dois anticorpos são úteis na prática clínica pois eles identificam se o paciente tem uma doença tireoidiana de caráter autoimune. Eles apenas marcam o processo autoimune, não confirma o diagnóstico de Doença de Graves. Se atendermos um paciente com suspeita de Graves e que tem Anti-TPO positivo e isso fortalece a nossa hipótese de ser uma condição autoimune. Porém, um Anti-TPO negativo não tem força diagnóstica para afastar por completa essa suspeita. TRAb O TRAb, por sua vez, é o principal anticorpo relacionado à Doença de Graves. É um exame que nos dá muita segurança tanto para afastar quanto para confirmar o diagnóstico da doença. sso acontece porque o TRAb desempenha um papel central na fisiopatologia da Doença de Graves. De forma prática, o seu principal subtipo é conhecido como “Imunoglobulina Estimuladora da Tireoide (TSI)” e ele atua mimetizando o TSH, ou seja, o TRAb se interpõe ao mecanismo de retroalimentação entre a tireoide e o eixo hipotalâmico-hipofisário e começa a estimular a produção de hormônios tireoidianos de forma exagerada e descontrolada - sendo que é justamente essa hiperatividade que acaba levando à formação do bócio difuso, que é bem típico de Graves. No entanto, existem outras regiões do corpo que possuem receptores bem parecidos com os receptores de TSH, de modo que o TRAb também consegue agir nessas áreas levando ao surgimento de outros sinais, como acontece com os olhos, as pernas e aos dedos, principalmente. São eles: - Exoftalmia (ação nos olhos); - Mixedema Pré-tibial (ação nas pernas); - Acropaquia (ação nos dedos) Dessa forma, a apresentação mais típica da Doença de Graves é a presença da síndrome da tireotoxicose associada ao bócio difuso ou a alguma dessas 3 alterações decorrente do TRAb. Quadro clínico TIREOTOXICOSE e: Oftalmopatia infiltrativa, Dermopatia infiltrativa, bócio difuso, acropatia (rara) Oftalmopatia infiltrativa Algumas células musculares lisas do tecido retroocular (especialmente os fibroblastos) possuem receptores muito parecidos com os receptores de TSH da tireoide. Por conta disso, acaba acontecendo uma reação cruzada, na qual o TRAb também age sobre esse tecido promovendo a liberação de citocinas pró-inflamatórias e fibrosantes. A partir daí, os linfócitos TCD4+ chegam ao local e induzem a formação de edema e também o acúmulo de tecido adiposo na região. É justamente o aumento do conteúdo retro-ocular que acaba levando a uma protrusão do globo ocular, originando o que chamamos de “exoftalmia”, que está presente em cerca de 40% dos pacientes com Graves. Dermopatia infiltrativa É uma reação cruzada do TRAb com receptores semelhantes ao do TSH. A diferença é que nesse caso a liberação das citocinas pró-inflamatórias costuma ser na região anterior da perna e no dorso do pé, que é justamente onde se forma um grande edema. Assim, esse sinal também costuma ser chamado de “mixedema pré-tibial” e ele aparece em cerca de 5% dos pacientes com Graves - normalmente associado com a oftalmopatia. Acropaquia Por fim, de forma mais rara temos que o paciente com Graves pode vir a apresentar baqueteamento nos dedos dos pés e das mãos, além de alterações ósseas nas extremidades. A esse fenômeno nós damos o nome de “acropaquia”, entretanto, vale frisar que ele costuma acompanhar a dermopatia, mas só está presente em menos de 1% dos casos. Apesar desses sinais serem achados clássicos da Doença de Graves, a prevalência deles é baixa. Então, não dá para se basear na ausência deles para afastar a suspeita de Graves, uma vez que a maioria pode não os ter. Como é uma doença com epidemiologia importante, sempre é uma suspeita plausível diante de um quadro de tireotoxicose. Diagnóstico 1º: Confirmar o estado de tireotoxicose através da dosagem de TSH e T4 livre. Situação 1 – TSH reduzido/T4 livre aumentado Etiologias principais: Doença de Graves; BMT e Adenoma tóxico. Situação 2 – TSH reduzido e T4 livre normal Se o T3 estiver elevado, aí vamos pensar que a tireotoxicose está sendo provocada por ele - o que pode ser o início de um quadro de hipertireoidismo. Porém, se ele também estiver normal, aí pode se tratar de um HiperT subclínico. Situação 3 – TSH elevado/normal e T4 livre elevado Quando a gente se depara com um exame mostrando T4L elevado, mas TSH elevado ou normal, aí vamos começar a pensar em algum problema central, afinal de contas, o eixo hipotalâmico-hipofisário está produzindo e secretando seus hormônios independentemente dos níveis de T3 e T4. Outros exames Na suspeita de Graves, por exemplo, a gente consegue fechar o diagnóstico através da avaliação dos níveis séricos de TRAb e também aqueles anticorpos marcadores de processo autoimune (Anti-TPO e Anti-TG). Tratamento O tratamento do hipertireoidismo deve ser realizado em 2 frentes diferentes: 1. o controle da sintomatologia; e 2. a resolução da produção exacerbada de hormônios. Controle sintomático Na tireotoxicose vai haver um estímulo à expressão de receptores beta-adrenérgicos e é justamente isso que provoca a crise adrenérgica e os sintomas de hiperatividade. Então, para melhorar os sintomas, a primeira opção de tratamento é fazer o bloqueio desses receptores através da classe dos betabloqueadores (BB) – Propanolol; atenolol (pois não são seletivos, ou seja, eles são capazes de bloquear os receptores adrenérgicos em várias partes do corpo e assim é possível controlar os sintomas também em várias partes. Caso o paciente tenha contraindicação ao uso de betabloqueadores,a segunda opção é: bloqueador do canal de cálcio (BCC), que tem um efeito benéfico, mas não tão grande quanto o dos BBs. Controle da produção hormonal • Drogas Antitireoidianas (DATs); • Iodoterapia; • Cirurgia Drogas antitireoidianas (DATs): No Brasil, as tionamidas representam a principal classe de drogas utilizada no controle da produção hormonal no HiperT, uma vez que esses fármacos conseguem fazer com que cerca de 30-40% dos pacientes entrem em uma forma prolongada de remissão da doença. A função deles, em linhas gerais, é impedir a produção hormonal na tireoide e aí são 2 nossas principais opções aqui: • Metimazol (MMI): principal fármaco no tratamento. Sua ação consiste em impedir a produção hormonal, ainda na glândula tireoide, por meio da inibição do processo de organificação do iodo. O metimazol deve ser administrado em uma única dose diariamente e, junto a isso, seus efeitos adversos são dose- dependentes - ou seja, como nós prescrevemos doses baixas (geralmente, no máximo 60mg), os efeitos adversos acabam sendo raros. Além disso, ele é contraindicado para pacientes em 1º trimestre de gestação devido ao risco de má formação fetal. o Dose de ataque (4-8 semanas): 40mg/dia. Manutenção: 5-20mg/dia. • Propiltiouracil (PTU): apenas quando o paciente tem contraindicação para metimazol. É a droga de escolha quando se trata de gestantes ou mães que ainda estão amamentando. A grande vantagem desse fármaco é que ele atua em 2 pontos do metabolismo do T3 e do T4: a) impedindo sua produção por parte da glândula tireoide; e b) impossibilitando a biotransformação do T4 em T3, ao inibir as enzimas relacionadas com esse processo. No entanto, o seu grande defeito é que ele costuma causar efeitos adversos independentemente da dose. o Dose de ataque (4-8 semanas): 300-600 mg/dia. Manutenção: 100-400mg/dia. Eventos adversos dos dois medicamentos Leves: Rash cutâneo; prurido; urticária; artralgia. Graves: agranulocitose (+ comum); anemia aplástica; trombocitopenia; hepatite tóxica (PTU); hipoprotrombinemia (PTU); hipoglicemia (MMI). Em casos de efeitos leves -> tratar em associação com o medicamento para hipertireoidismo. Em caso de efeitos graves -> suspender o medicamento e não reintroduzir. Iodoterapia Consiste em administrar doses elevadas de iodo radioativo no paciente. Esse iodo, então, será absorvido pela tireoide e a sua radiação vai levar à lise do tecido e apoptose das células. Ou seja, com essa terapia, estará destruindo a tireoide do paciente. Por ser uma técnica que envolve radiação, ela acaba sendo contraindicada para: Neoplasias; Oftalmopatia grave ou em atividade; Crianças < 7 anos; Gestantes - Só é indicado engravidar 4 meses após o tratamento do HiperT com iodoterapia. Cirurgia Por último, uma outra opção de tratamento é a tireoidectomia, no entanto a gente reserva esse método para os casos em que as outras terapias não puderam ser feitas ou não surtiram o efeito desejado, ou mesmo para os casos em que o paciente tem um bócio grande e que já esteja causando sintomas compressivos - aí, realmente, a retirada da glândula é a terapia que vai conseguir resolver o quadro de forma rápida. Pode ser feita de forma parcial (em que é retirado apenas um lobo), total (quando a tireoide é removida por completo) ou subtotal (em que se preserva apenas a cápsula posterior da glândula).
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