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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE BIOLOGIA DELIBERAÇÃO E SENTENÇA CONTRA A EMPRESA AMAGGI MARIA ANTÔNIA GABRIEL DE SOUZA SANTOS SALVADOR 2023.1 Um dos pontos mais polêmicos da história do Brasil é o modo como o país foi colonizado. Quando os europeus aqui chegaram, foram muito bem recebidos pelos indígenas, “os donos da terra". Entretanto, a partir desse momento, de "Senhores” do espaço brasileiro, essas pessoas passaram a ocupar o papel de "intrusos", a serem perseguidos e, na tentativa de escravização, os europeus tomaram posse da terra brasileira levando a esses povos originários a perderam todos os seus direitos. Essa questão abriu uma grande ferida de difícil cicatrização que aos poucos vem “se curando” por meio da demarcação das terras indígenas. Foi definida pela Constituição brasileira, espaços para a permanente habitação dos indígenas, sendo elas voltadas para atividades produtivas e também para a preservação de suas culturas e tradições, além disso, o espaço territorial deve garantir a sobrevivência, a exemplo da caça e do extrativismo, embora o espaço seja de pertencimento da União, todos os recursos que há nele estão voltados para o indígena e, somente com a autorização da FUNAI é possível que outros membros que não pertençam a esse grupo possam adentrá-lo. A questão é que, frequentemente, essa normatização não é respeitada. Recentemente, a empresa rondoniense Amaggi, através da Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, está sendo acusada de Sobreposição de áreas e desmatamento da Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau para a produção de soja; Contaminação do solo por uso de agrotóxicos, impactando a segurança alimentar dos indígenas aldeados; E a construção irregular de pequenas centrais hidrelétricas, impactando o curso do rio que passa na terra indígena. Ao se analisar cada uma das acusações, podemos observar a gravidade de cada uma delas. A sobreposição de áreas e o desmatamento de terras indígenas para a produção de soja têm sido preocupações crescentes no Brasil e em outras regiões com práticas agrícolas intensivas. A exploração de recursos naturais em terras indígenas sem o devido consentimento e a falta de proteção adequada do meio ambiente podem causar sérios impactos nas comunidades indígenas e no ecossistema local, bem como a questão da contaminação do solo devido ao uso de agrotóxicos, que pode ter efeitos negativos na saúde humana, na biodiversidade e na segurança alimentar das comunidades locais. A terceira acusação, a construção de pequenas centrais hidrelétricas em áreas sensíveis, como terras indígenas, também pode ter impactos significativos no meio ambiente e nas comunidades afetadas. Nesse sentido, a empresa Amaggi age em discordância não apenas ao Decreto nº 91.416, de 9 de Julho de 1985, que reconhece a ocupação tradicional de terras por povos indígenas em determinadas áreas de Rondônia, estabelecendo a demarcação e a proteção dessas terras como reservas indígenas. Observa-se também que contrapõe à Constituição Federal de 1988, que é um marco importante para os direitos dos povos indígenas no Brasil, incluindo a demarcação e proteção de suas terras. Ela reconhece e garante a existência desses povos, suas culturas e seus direitos sobre as terras que tradicionalmente ocupam. Com a demarcação dessas terras, os povos indígenas têm seus direitos territoriais garantidos, possibilitando a preservação de suas culturas, modos de vida e a proteção de seus recursos naturais. Essa medida é fundamental para a proteção da diversidade cultural e ambiental da região, bem como para o respeito aos direitos indígenas reconhecidos nacional e internacionalmente. Diante disso, o tribunal, após ouvir os promotores e advogados de defesa, assim como os membros que compôs o júri, deu, de forma ética e justa, o veredito de que a empresa Amaggi é culpada e deve ser condenada, afinal, desrespeitou um direito inalienável, ferindo a Constituição Federal.
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