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TRANSPORTES E SEGUROS INTERNACIONAIS AULA 6 Prof.ª Rafaela Aparecida de Almeida 2 CONVERSA INICIAL Olá, caro(a) aluno(a)! Bem-vindo(a) a esta aula. Ao longo dos conteúdos anteriores, pudemos conhecer melhor cada um dos cinco modais de transporte e as particularidades que os envolvem. Também nos atualizamos sobre a versão dos Incoterms® 2020 e analisamos os diferentes tipos de transporte que envolvem operações de carga internacional. Nesta aula, abordaremos temáticas que envolvem todos os modais de transporte, tratando-se de atividades, operações e funcionalidades que fazem parte ou servem de apoio ao comércio internacional. Nossa primeira abordagem trata do outsourcing, ou seja, a delegação de serviços a terceiros na logística internacional, nos permitindo identificar e compreender as diferenças entre um operador logístico, um integrador logístico e uma plataforma logística. O segundo tema nos permitirá conhecer e diferenciar a unimodalidade da intermodalidade e da multimodalidade, trazendo as particularidades de cada uma e nos fazendo compreender suas principais vantagens. Na sequência, estudaremos o regime de trânsito aduaneiro com foco na necessidade de que algumas cargas advindas do exterior precisam ser removidas para zonas secundárias para seu efetivo desembaraço aduaneiro. Nosso foco será entender esse regime especial como a última parte de uma importação ou o início de uma operação de exportação. Por fim, trataremos das embalagens e unitização de cargas, aqui sem foco em um modal específico, mas sim nos trazendo uma visão mais abrangente das diferentes possibilidades disponíveis, nos permitindo analisar e sermos capazes de avaliar a melhor escolha para cada processo ou tipo de mercadoria. Sendo assim, os temas que serão estudados nesta aula são: 1. Outsourcing internacional; 2. Multimodalidade nos transportes internacionais; 3. Regime de trânsito aduaneiro; 4. Embalagem e acondicionamento; 5. Consolidação e unitização de cargas. 3 CONTEXTUALIZANDO Vivemos em um mundo intercontinental e globalizado, onde nações e empresas trocam mercadorias o tempo todo. Com isso, o desafio logístico é fazer chegar no tempo certo, na quantidade certa, sem avarias e no preço que o consumidor está disposto a pagar. O nosso desafio como estudantes e gestores do comércio exterior é conhecer os diferentes modais e ser capaz de analisar e propor as melhores alternativas em cada operação realizada. No entanto, sabemos que o universo que envolve esta área é imenso e não temos a obrigação de conhecer “tudo sobre tudo”. Porém, precisamos ter conhecimento para entender que uma mesma operação poderá envolver mais um modal; que uma mesma mercadoria transportada em modais diferentes pode requerer embalagens diferentes; e que muitas empresas têm tomado a decisão de focar em seu core business e têm terceirizado operações logísticas. Dessa forma, o desafio desta aula é trazer para você caro uma visão mais abrangente e holística a respeito dos temas propostos, de forma a prepará-lo para atuar no comércio exterior neste mundo intercontinental e globalizado. Desejamos a vocês bons estudos e uma ótima aplicação do conhecimento adquirido ao longo desta disciplina. TEMA 1 – OUTSOURCING INTERNACIONAL Você provavelmente já ouviu falar em outsourcing, certo? O termo vem do inglês e significa, em português literal, fora (out) da fonte (sourcing). Neste caso, representa a delegação de serviços a terceiros. Diferente da simples terceirização, que envolve a gestão de áreas de pouco valor agregado, o outsourcing representa a delegação de funções essenciais para profissionais altamente qualificados que realizarão serviços mais complexos e sofisticados. Empresas que atuam no comércio exterior adotam a outsourcing internacional utilizando parceiros para a realização da gestão de áreas estratégias de seus negócios. Ao contratar uma empresa terceira, esta será responsável por toda a logística de determinada mercadoria até que ela chegue 4 ao seu destino, passando por processos de armazenagem, transporte nacional e internacional e desembaraço aduaneiro. 1.1 Operador logístico De acordo com Dias (2012, p. 319), o operador logístico, também conhecido como Third-party Logistics (3PL), caracteriza-se como “a empresa prestadora de serviços especializa em coordenar, gerenciar e operar todas ou alguma parte das atividades logísticas”, agregando valor aos produtos de seus clientes. Para que uma empresa possa ser classificada como operador logístico, ela deverá prestar no mínimo três serviços básicos como: controle de estoque, armazenagem e gestão de transportes. No caso de um operador logístico internacional, a gama de serviços prestados é mais abrangente, incluindo transporte, armazenagem, sistemas de informação, gestão e transporte multimodal e desembaraço aduaneiro. No caso da contratação de um operador logístico para operações multimodais, este será o elo responsável pela execução de todas as atividades de transporte, independentemente dos modais utilizados. Vale ressaltar que, neste caso, não há necessidade de que o prestador de serviços possua equipamentos dos modais envolvidos no serviço de transporte. Dentre as vantagens obtidas pela contratação de um operador logístico, podemos destacar a redução e controle de custos, uma vez que o prestador de serviços é responsável por diferentes elos durante o processo; aproveitamento de escala e know-how do operador, aumentando assim a qualidade dos serviços prestados e entregues aos clientes; aumento do nível e controle de informações. Dias (2012, p. 325) destaca como principais vantagens da contratação de um operador logístico: • contratos de compra e venda mais adequados; • melhor utilização da capacidade disponível da matriz de transporte; • utilização e combinação de modais mais eficientes; • melhor utilização das tecnologias de informação; • ganhos de escala e negociações de transporte; 5 • melhor utilização da infraestrutura para as atividades de apoio, tais como armazenagem e manuseio. • redução dos custos indiretos. 1.2 Integradores logísticos Os integradores logísticos, também conhecidos pelo termo Fourth-party Logistics (4PL), são uma evolução dos prestadores de serviços logísticos, que até então eram mais focados no armazenamento e transporte. Esse modelo é ainda recente e, na maioria das vezes, representado por operadores logísticos que foram adicionando capacidades aos serviços que ofereciam. Representam um nível mais alto de gerenciamento da cadeia de suprimentos para o cliente, coordenando recursos técnicos, humanos, tecnologias e conhecimento, oferecendo soluções integradas para os seus clientes. Uma de suas principais características é não possuir ativos ou equipamentos operacionais, mas serem detentores de grande tecnologia de informação e ferramentas de planejamento e alta gestão (Dias, 2012). O comércio exterior é uma das áreas que vêm utilizando 4PLs em suas operações, representados pelos agentes internacionais de carga, forwarder e até mesmo operadores de transporte multimodal (OTM). A contratação de um 4PL pode representar maior velocidade operacional e informacional, bem como uma melhor gestão e redução de custos para o transporte de carga internacionais. Entre os serviços prestados por um integrador logístico, Dias (2012) destaca: • desembaraço aduaneiro; • importação temporária ou admissão temporária; • licença de importação (LI); • remoção (DTA); • perdimento ou abandono (DMCA); • carta de correção (CCA); • Delivery Fee; • Remessas descaracterizadas. 6 1.3 Plataformas logísticas Uma terceira forma de outsourcing no comércio exterior são as chamadas plataformas logísticas, que representam espaços ocupados por diferentesoperadores logísticos, que exercem todas as atividades relacionadas à logística e à distribuição nacional ou internacional dos bens. Razzolini Filho (2012) descreve a plataforma logística como uma infraestrutura logística multimodal, que conta com a possibilidade da prática da intermodalidade de transportes, oferecendo suporte de recursos de telecomunicações, de tecnologia de informação e de apoio comercial. Tais estruturas possibilitam aproveitar a localização estratégica de determinadas regiões próximas a grandes centros consumidores. Duarte e Kliemann Neto (2008) reforçam que uma plataforma logística é o local da máxima eficiência logística e da perfeita otimização dos serviços de transporte, armazenagem, distribuição e atividades correlatas, além da desburocratização e agilização das operações aduaneiras, considerando aqui os mercados globais. Duarte e Kliemann Neto (2008) destacam que a plataforma logística é composta de três subzonas com funções especiais: • Subzona de serviços gerais: destinada ao uso comum, com áreas de recepção, informação, acomodação e alimentação, bancos, agência de viagens e também áreas de serviços de alfândega, administração e comunicação. • Subzona de transportes: agrupa infraestruturas de grandes eixos de transportes. Considerando a internacionalização de processos, é importante que a plataforma seja multimodal e possua terminais multimodais. • Subzona destinada aos operadores logísticos: permite a prestação de serviços de fretamento, corretagem, assessoria comercial e aduaneira, aluguel de equipamentos, armazenagem, transporte e distribuição. Razzolini Filho (2012) apresenta três tipos de localizações logísticas: • Sítio Logístico: corresponde a espaços bem delimitados, sobre os quais opera um único operador; 7 • Zona Logística: corresponde a um espaço bem delimitado, com diversos operadores e com facilidades de ramificações multimodais, agrupando vários sítios logísticos; • Polo Logístico: amplos espaços levemente delimitados, nos quais existe uma alta concentração de atividades logísticas, agrupando vários sítios e zonas logísticas. Duarte (2004) ressalta que este modelo pode agrupar centros de distribuição, armazéns, estações aduaneiras, terminais retroportuários, portos, ferrovias, terminais rodoviários, os quais são conectados por fortes sistemas de informações, tendo como objetivo principal fazer com que produtos e serviços circulem rapidamente além das fronteiras, sejam nacionais ou internacionais. TEMA 2 – MULTIMODALIDADE NOS TRANSPORTES INTERNACIONAIS Considerando as longas distâncias intercontinentais que uma carga pode percorrer e o fato de que encontramos três operações distintas no transporte internacional (pré-transporte, transporte principal e pós-transporte), observamos que usualmente essas operações farão uso de pelo menos dois modais. Razzolini Filho (2012b) ressalta que apenas operações continentais conseguem ser realizadas fazendo uso de um único modal. Nesse caso, no transporte rodoviário porta a porta para os demais casos será necessária a combinação de modais, o que implica na prática da multimodalidade ou intermodalidade. Você deve estar se perguntando qual a diferença entre multimodalidade ou intermodalidade. Vamos entender a diferença entre elas a partir de agora. 2.1 Unimodalidade Trata-se de unimodalidade de transporte, quando apenas um único modal é utilizado, usualmente o transporte rodoviário, que é o único capaz de realizar operações porta a porta. No Brasil, esta modalidade é utilizada para transporte de cargas para países fronteiriços e que fazem parte do Mercosul, como é o caso do Paraguai, Uruguai, Argentina, Bolívia e até mesmo Chile. 8 2.2 Intermodalidade A intermodalidade representa o uso de dois ou mais modais de transporte com o objetivo de aproveitar melhor as características de cada modal, propiciando redução de custos. Neste modelo cada transportador, cada modal emite o seu conhecimento de transporte corresponde ao trecho realizado. Vamos imaginar uma carga que sai da cidade de Curitiba (PR) no Brasil e tem como destino a cidade de Austin, nos Estados Unidos. Nesse caso, teremos um transporte rodoviário de Curitiba até o Porto de Paranaguá; um segundo transporte marítimo do Porto de Paranaguá até o Porto de Houston; e um terceiro, rodoviário, do Porto de Houston até a cidade de Austin, no Texas. Esta importação teria a emissão de um conhecimento de embarque para cada trecho realizado. Vale ressaltar que durante esse processo podemos ter ainda a interface de terminais de cargas, aduanas e armazéns como pontos de apoio. 2.3 Multimodalidade O transporte multimodal se caracteriza pela combinação de dois ou mais modais de transporte para conduzir uma mercadoria de sua origem até seu destino final, regido por um único contrato sob a responsabilidade única de um Operador de Transporte Multimodal (OTM), que podem realizar além do transporte serviços, tais como coleta na origem, unitização, desunitização, movimentações, armazenagem, entrega no destino e desconsolidação documental de cargas (Dias, 2012). No Brasil, a Lei n. 9.611/1998 preconiza que o transporte multimodal é aquele que é regido por um único contrato, utilizando duas ou mais modalidades de transporte, desde a origem até o destino, e é executado sob a responsabilidade única de um OTM. O OTM é a pessoa jurídica contratada como principal para a realização do Transporte Multimodal de Cargas da origem até o destino, por meios próprios ou por intermédio de terceiros, podendo ser transportador ou não transportador, no entanto cabendo a ele a emissão do Conhecimento de Transporte Multimodal de Carga (Brasil, 1998). 9 No Brasil, existem aproximadamente 500 empresas habilitadas para operar como OTM. O exercício da atividade do OTM depende de prévia habilitação e registro na Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), sendo essas empresas beneficiadas pelo regime especial de trânsito aduaneiro para desembaraço da carga (que veremos no Tema 3). Para isso, a organização deverá se licenciar junto à Receita Federal do Brasil (ANTT, 2016). O Conhecimento de Transporte Multimodal de Cargas (CTMC) é o documento que evidencia o contrato de transporte multimodal e rege toda a operação de transporte, desde o recebimento da carga até a sua entrega no destino, o qual, de acordo com a legislação pertinente, deve conter: • descrição dos serviços prestados no Brasil e no exterior; • a indicação “negociável” ou “não-negociável” na via original; • o nome, a razão ou denominação social e o endereço do emitente, do expedidor, bem como do destinatário da carga ou daquele que deva ser notificado, quando não nominal; • a data e o local da emissão; • os locais de origem e destino; • a descrição da natureza da carga, seu acondicionamento, marcas particulares e números de identificação da embalagem ou da própria carga, quando não embalada; • a quantidade de volumes ou de peças e o seu peso bruto; • o valor do frete, com a indicação “pago na origem” ou “a pagar no destino”; • outras cláusulas, acordadas entre as partes. Dentre as vantagens da contratação de um OTM, Razzolini Filho (2012b) e Dias (2012) destacam: • redução de custos indiretos; • melhor utilização da capacidade disponível na matriz de transporte e de combinações de modais mais eficientes; • melhor elaboração dos contratos; • aproveitamento da experiência do OTM em termos de procedimentos operacionais e burocráticos; • utilização mais racional dos modais que oferecem maior eficiência no consumo energético; 10 • melhor utilização das tecnologias de informação e de comunicação; • ganhos de escala nas negociações de fretes; • melhor utilização da infraestrutura para as atividades de apoio, tais como armazenagem e manuseio. TEMA3 – REGIME DE TRÂNSITO ADUANEIRO O regime aduaneiro especial de Trânsito Aduaneiro permite o transporte de mercadoria, de um ponto a outro do território aduaneiro, com suspensão do pagamento de tributos. É aplicado, por exemplo, para mercadorias que desembarcam em portos ou aeroportos e são transportadas para portos secos no interior do país, ou para mercadorias estrangeiras que estão apenas de passagem pelo território nacional. É o caso do Paraguai, que não possui Porto e tem suas cargas recebidas via portos brasileiros e seguem em Trânsito Aduaneiro para desembaraço em seu destino final (Siscomex, 2020). Trata-se, portanto, de um benefício concedido a importadores e exportadores, que permite que mercadorias sejam removidas para outro recinto alfandegado mais vantajoso que aquele das zonas primárias. Outro exemplo são importadores que optam por desembaraçar sua mercadoria num recinto alfandegado mais próximo de sua planta, ou de um exportador que queira realizar tais operações perto dos pontos de saída do país. Para entendermos melhor esse regime, Razzolini Filho (2012b) diferencia zonas primárias de secundárias. A zona primária é a área compreendida entre as faixas internas de portos e aeroportos (recintos alfandegados) e outros locais devidamente habilitados nas áreas de fronteira terrestre, entre outras áreas sob controle aduaneiro, em que se efetuam operações de movimentação, carga e descarga de mercadorias provenientes de importações ou destinadas à exportação. Já a zona secundária, por sua vez, compreende todo o restante do território aduaneiro (o restante do país). Neste caso, seus recintos alfandegados são representados por depósitos, entrepostos, terminais ou outras unidades utilizadas para armazenagem de cargas importadas ou destinadas à exportação, que permanecem sob controle aduaneiro até que seu desembaraço aduaneiro seja realizado. O mais conhecido deles é o porto seco. Nas zonas secundárias, incluem-se os regimes aduaneiros especiais, como é o caso do Entreposto Aduaneiro de Importação, que permite o 11 armazenamento sob controle aduaneiro de mercadorias importadas, em caráter definitivo ou temporário, sem o imediato recolhimento de eventuais tributos incidentes sobre o comércio exterior, os quais permanecem com a exigibilidade suspensa na vigência do regime (Receita Federal, 2019). Portanto, no regime de trânsito aduaneiro, os impostos e taxas são suspensos enquanto a carga está sendo transportada para o destino onde será realizado o desembaraço. Nesse regime, destacamos dois atores importantes: o próprio beneficiário, porque orienta/solicita o processo de Trânsito à Receita Federal; e o transportador, por ser responsável pela remoção da mercadoria e apresentação de garantia à Alfândega, relativa aos tributos suspensos, podendo responder pela carga em caso de sinistro. 3.1 Despacho para trânsito aduaneiro A decisão de trânsito deve ser tomada antes da chegada da carga na zona de desembaraço, para que haja tempo hábil para a operacionalização do fluxo, bem como custos mínimos para isso. Ao optar pela realização do trânsito aduaneiro, o importador/exportador deverá autorizar os prestadores de serviço logístico a executar as operações de transporte. Após a chegada da mercadoria em território nacional, o beneficiário/transportador deve solicitar a concessão da autorização do trânsito à Receita Federal por meio de registro e emissão de documentação específica, sendo a mais comum a Declaração de Trânsito Aduaneiro (DTA), que ampara os trânsitos aduaneiros: de entrada ou de passagem; comum, cujas cargas sujeitam-se à emissão de fatura comercial ou de entrada ou de passagem; especial, cujas cargas não se sujeitam a emissão de fatura comercial. Vale ressaltar que a utilização de DTA somente é permitida para carga amparada por conhecimento de transporte internacional. Outros modelos de concessão de trânsito aduaneiro são: • Manifesto Internacional de Carga – Declaração de Trânsito Aduaneiro (MIC-DTA); • Conhecimento-Carta de Porte Internacional – Declaração de Trânsito Aduaneiro (TIF-DTA); • Declaração de Trânsito de Transferência (DTT); 12 • Declaração de Trânsito de Contêiner (DTC); • Declaração de Transbordo ou Baldeação Internacional (DTI). 3.2 Porto seco Usualmente, as mercadorias provenientes de trânsito aduaneiro são encaminhadas para um porto seco, ou seja, um recinto alfandegado de uso público, onde são executadas operações de movimentação, armazenagem e despacho aduaneiro de mercadorias e de bens de viajantes, sob controle aduaneiro. Você deve estar se perguntando quais as vantagens de se utilizar um porto seco e de que forma esse tema se conecta com nossa aula. O porto seco possibilita a integração mais eficiente com outros meios de transporte, tornando mais fácil o acesso a grandes portos marítimos e fluviais ou atendendo a aeroportos por meio da malha rodoviária, o que permite desafogar portos e aeroportos (zonas primárias). Além disso, oferecem para importadores e exportadores benefícios como: • maior agilidade nos processos de desembaraço aduaneiro; • redução de custos com armazenagem e transporte; • despacho aduaneiro com custos mais baixos; • prestação de serviços como recebimento de mercadoria, montagem, etiquetagem, separação, picking, movimentação armazenagem e distribuição. Saiba mais Em de janeiro de 2020, foi eliminada a necessidade de apresentação de papéis para análise, pela Receita Federal, da documentação para o regime aduaneiro especial de Trânsito Aduaneiro, o que permite maior automação ao trâmite de mercadorias no comércio exterior, reduzindo assim custos e o tempo do processo de importação. Mais informações, no link. Disponível em: <http://www.siscomex.gov.br/receita-moderniza-regras-para-o-transporte-de- mercadorias/>. Acesso em: 15 jul. 2020. 13 TEMA 4 – EMBALAGEM E ACONDICIONAMENTO A embalagem é um ponto fundamental no transporte de cargas internacionais, embora muitas vezes esquecido por importadores e exportadores. É ela que irá proteger a carga contra danos provocados por movimentação inadequada ou intempéries; proteger contra roubos nos pontos de partida, durante o transporte e no local de entrega; e possibilitar que se otimize o tempo nas operações (Razzolini Filho, 2012b). Vamos imaginar uma situação hipotética: um exportador utiliza somente o transporte marítimo, em que sua carga viaja devidamente acondicionada dentro de um contêiner. Pela primeira vez, ele irá realizar uma exportação aérea. Será que esse exportador deverá preocupar-se com o uso de novas embalagens por conta da troca de modal? Agora, imagine que se trata de uma carga, com caixas de papelão unitizadas em um palete e envolta por filme stretch. Essa carga irá inicialmente para um terminal de cargas no aeroporto de embarque e, na maioria dos casos, será encaminhada para a pista para ser embarcada na aeronave. No dia do embarque, cai uma chuva torrencial e o palete é desprotegido da intempérie. O que irá acontecer? Provavelmente, teremos uma avaria nessa carga, pois a embalagem não estava adequada para um manuseio em condições adversas. Caso o exportador não tenha expertise em atividades internacionais, recomenda-se a contratação de empresas especializadas para o desenvolvimento de embalagens de acordo com cada modal e as especificidades da carga, garantindo melhores condições para o transporte e movimentação, e assegurando a entrega do produto em condições de uso. De acordo com Razzolini Filho (2012b), os principais tipos de embalagens utilizadas no transporte internacional de cargas são: • Paletes: são utilizados para realizar a unitização das cargas, formando um conjunto composto pela carga mais o estrado (palete). Deverá ser adaptado de um modal para o outro, no caso do modal aéreo recomenda- se o uso de plásticoimpermeável, cantoneiras, cintas de palete ou cito gancho a fim de proporcionar maior segurança contra avarias, faltas e intempéries. 14 Figura 1 – Paletes Créditos: Siwakorn1933/Shutterstock. • Big bag: grandes sacolas ou contentores flexíveis, normalmente feitos de polipropileno trançado, com fundo quadrado ou retangular com capacidades que podem variar entre 500, 1000, 1250 e 1500 kg, podendo em alguns casos chegar até 3000 kg. Usualmente utilizados para transporte de produtos sólidos, como café, açúcar, milho, amendoim, minérios e petroquímicos, entre outros. Figura 2 – Big bag Créditos: Mr. Amarin Jitnathum/Shutterstock. 15 • Pré-lingagem ou Marino Slings: cintas ou redes feitas de material sintético, de nylon ou corda, formando uma rede de dimensões padronizadas, de forma a proporcionar fácil manuseio por guindastes, permitindo o aumento da velocidade de carregamento e descarregamento, principalmente de sacarias. Figura 3 – Pré-lingagem ou Marino Slings Créditos: Mr. Amarin Jitnathum/Shutterstock. • Contêiner: utilizado tanto para acondicionar a carga quanto como unidade ou equipamento de transporte, podendo variar seu formato de acordo com o modal a ser utilizado. A resistência é uma das principais características. Figura 4 – Contêiner Créditos: igorwall/Shutterstock. 16 No caso do contêiner utilizado no transporte marítimo, tem como vantagem o uso em operações de transporte internacional com a possibilidade de uso em diferentes modais, sem a necessidade de recarregamentos intermediários. No modal aéreo, os contêineres são construídos com material leve e desenhados para máxima utilização do corte transversal do compartimento de carga do avião, por isso possuem características diferentes das citadas para os contêineres destinados às demais modalidades de transporte. Figura 5 – Contêiner Créditos: mipan/Shutterstock. TEMA 5 – CONSOLIDAÇÃO E UNITIZAÇÃO DE CARGAS Antes de iniciarmos este tema, precisamos esclarecer a diferença entre consolidação e unitização. A unitização de cargas representa a junção de várias unidades, pequenas ou grandes, em uma unidade maior, que pode ser um palete ou até mesmo um contêiner, e pode ser utilizada em qualquer modal. Já a consolidação, por sua vez, é exclusiva do modal aéreo, em que a tabela de frete é dividida em um escalonamento de faixas. Por consequência, quanto maior o peso da carga, menor o valor de frete pago por quilo. Essa prática é comum entre agentes de cargas, que reúnem mercadorias de diferentes embarcadores e as consolidam a fim de baratear o custo do frete para todos por meio de rateio. 17 No transporte marítimo não existe consolidação, o que acontece é que volumes soltos ou unitizados, de diferentes embarcadores podem ser embarcadas no mesmo contêiner, fazendo o rateio das despesas de acordo com o espaço ocupado nesta unidade de carga e com a emissão de um HBL para cada embarcador. A esta operação é dado o nome de LCL (Less than Container Load, ou carga menor do que o contêiner). Em uma remessa LCL, são reunidas várias remessas em um contêiner compartilhado entre empresas que desejam importar ou exportar quantidades menores de estoque. Esse modelo tem como principal vantagem o custo do transporte mais barato, pois o valor do frete é rateado entre os embarcadores, que vão ter sua carga dividida. Sendo assim, nenhum deles paga por um espaço que não vai usar, e quando a carga for descarregada do contêiner, cada importador deve se responsabilizar pela sua mercadoria. Agora que você já sabe a diferença entre consolidação e unitização, vamos focar nos tipos de unitização. 5.1 Unitização de cargas A principal finalidade da unitização é facilitar o manuseio e movimentação de cargas, ou seja, unitizar significa agrupar ou acondicionar diversas unidades em um único volume, a chamada unidade de movimentação (Unimov). Razzolini Filho (2012b) ressalta os principais objetivos da unitização: • redução dos custos de manuseio; • aumento da velocidade de movimentação de materiais; • facilidade na movimentação dos materiais; • maior proteção dos volumes; • racionalização da ocupação dos espaços nas unidades de transporte. 5.2 Principais formas de unitização Quando falamos de unitização, provavelmente a primeira imagem que vem à sua cabeça é a de um palete com várias caixas em cima e envolto por filme stretch. Essa é, com certeza, uma das formas mais usuais de unitização. Mas vamos pensar na diversidade de materiais disponíveis no mercado, produtos a granel, bobinas de papel, chapas de aço, dentre muitas outras. Diante 18 dessa infinidade de possibilidades de materiais, vamos conhecer as principais formas de unitização além do palete. Razzolini Filho (2012b) propõe: • Pré-lingagem: utilizada para unificar materiais embalados em sacos, que são amarrados por cintas com alças ou olhais, possibilitando a formação de lings para içamento ou arriamento. • Blocagem: realizada pelo empilhado do próprio produto, com aberturas que possibilitem introduzir os garfos de empilhadeiras ou lingas para içamento. • Cintamento: trata-se de um sistema no qual diversas unidades de um produto são presas umas às outras, por meio de cintas, fitas ou arames, formando uma unidade de movimentação. Figura 6 – Cintamento Créditos: Siwakorn1933/Shutterstock. • Enfardamento: é um tipo de autounitização para materiais de grande volume que podem ser acondicionados sob a forma de fardos (compridos, prensados), como algodão, sucatas e polpa de celulose, que são contidos por cintas sintéticas ou de aço. 19 Figura 7 – Enfardamento Créditos: BAO-Images Bildagentur/Shutterstock. • Conteinerização: processo de acondicionar ou agrupar cargas em contêineres, que podem variar de tipos e tamanhos de acordo com a necessidade de cada carga transportada, conforme vimos no conteúdo sobre modal aquaviário. Neste tema, destacamos a diferença entre a consolidação e a unitização, destacando as diferentes formas de unitização, que vão além do uso de paletes e de containers. TROCANDO IDEIAS Nesta aula, vimos que o transporte multimodal é a operação em que a carga é transportada por mais de um modo de transporte, desde seu ponto de origem até a entrega no destino final, sendo realizado por um Operador de Transporte Multimodal (OTM). Nesse modelo, várias combinações podem ser formadas se considerada a aula e, principalmente, o produto a ser movimentado, por exemplo, rodoviário- hidroviário-ferroviário, hidroviário-ferroviário-rodoviário, rodoviário-ferroviário- hidroviário, entre outras. Com base nessas informações, discuta com seus colegas quais as vantagens do uso da multimodalidade e quais são as possíveis combinações de modais que podem ser aplicadas à realidade brasileira. 20 NA PRÁTICA Orientações para realizar a atividade: 1. Leia o texto a seguir e a atividade proposta. 2. Realize a tarefa solicitada. 3. Bons estudos e bom trabalho. As vitórias e os desafios das soluções multimodais no Brasil Não é novidade que burocracia, gargalos, falta de políticas públicas e conflitos de interesses entre operadoras e governos prejudicam a adoção de soluções multimodais no Brasil. Mas nem por isso as empresas desistem, fazendo o que podem com os recursos que possuem. Uma delas é a Monsanto, multinacional de agricultura e biotecnologia, especializada na produção de herbicidas e sementes, que há três anos, decidiu iniciar um processo de transformação logística, com foco no desenvolvimento de três pilares: processos, pessoas e sistemas. Com esta reformulação, a área de logística passou a participar do planejamento estratégico e das tomadas de decisões. Foi nesta época que a companhia revisitou suas operações, identificou gargalos, estabeleceu um plano de ação e promoveualterações nos processos logísticos, envolvendo a movimentação de sementes e produtos químicos. Antes do projeto, o foco da área de logística e transportes de cargas era a malha rodoviária. Para promover as mudanças com sucesso na operação dos insumos químicos entre as plantas de Camaçari, BA, e São José dos Campos, SP, a Monsanto encontrou na Aliança Navegação e Logística, líder em cabotagem no Brasil, um parceiro estratégico de negócios. Juntas, as empresas desenvolveram uma solução logística baseada na multimodalidade colaborativa. O projeto teve foco no desenvolvimento de um modelo logístico “porta a porta” para a gestão da movimentação dos cerca de 4.500 contêineres anuais. Neste projeto de parceria multimodal, a Salvador Logística ficou responsável pelo transporte rodoviário na origem – entre Camaçari e o Porto de Salvador – e no destino, que inclui o trecho de São José dos Campos à fábrica do cliente e também do porto de Santos à fábrica (transporte esporádico). A MRS 21 Logística realiza o transporte ferroviário entre o porto de Santos e o terminal ferroviário em São José dos Campos. Já o terminal Cragea representa o pulmão de contêineres na cidade do interior de São Paulo para atender os agendamentos de entregas na Monsanto. A armazenagem está dividida em dois locais: parte fica no Cragea (SJC) e parte na Salvador Logística (Guararema), como contingência em caso de não operacionalidade do primeiro terminal. Para Jaime Batista, gerente nacional de vendas da Aliança, o projeto “Multimodalidade colaborativa como solução logística” mostra a possibilidade de desenvolver uma logística porta a porta bem-sucedida com o uso da multimodalidade, para uma demanda bastante complexa e delicada. (Logweb, 2018) O case apresentado diz respeito a uma operação multimodal realizada em território nacional. No entanto, aprendemos nesta aula que a multimodalidade é indicada principalmente em operações internacionais. Após realizar a leitura do texto, responda as questões a seguir: a) Qual a diferença entre transporte multimodal e intermodal? b) Quais as vantagens que as empresas obtêm na contratação de OTMs? FINALIZANDO Chegamos ao final desta aula, na qual abordamos temáticas que permeiam todos os modais de transporte. Iniciamos tratando de um tema muito atual, que é o outsourcing no comércio exterior, expondo os diferentes tipos de serviços que podem ser contratados por empresas com operações internacionais. Na sequência, estudamos com maior profundidade a multimodalidade, caracterizada pela combinação de dois ou mais modais de transporte para conduzir uma mercadoria de sua origem até seu destino final, regido por um único contrato sob a responsabilidade única de um Operador de Transporte Multimodal – OTM. Seguimos tratando da questão de remoção de cargas, quando importadores ou exportadores desejam realizar o desembaraço aduaneiro em zonas secundárias, a fim de desfrutar dos benefícios por elas proporcionados. 22 As duas últimas temáticas nos levaram ao conhecimento de diferentes tipos de embalagem, o que nos remete à importância de se levar esse quesito em conta em operações realizadas em diferentes modais. Por fim, vimos que diferentes tipos de mercadorias podem ter várias formas de unitização, além das mais usuais, que são o palete e o contêiner. Pronto! Agora sua bagagem sobre transportes e seguros internacionais está completa. 23 REFERÊNCIAS ANTT – Agência Nacional de Transportes Terrestre. Multimodal. Disponível em: <http://portal.antt.gov.br/index.php/content/view/4963/Multimodal.html>. Acesso em: 16 jul. 2020. AS VITÓRIAS e os desafios das soluções multimodais no Brasil. Logweb, Jundiaí, 5 fev. 2018. Disponível em: <https://www.logweb.com.br/as-vitorias-e- os-desafios-das-solucoes-multimodais-no- brasil/#:~:text=Duas%20grandes%20empresas%20contam%20suas,custos%2 0em%20toda%20a%20cadeia>. Acesso em: 16 jul. 2020. BRASIL. Lei n. 9.611, de 19 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre o Transporte Multimodal de Cargas e dá outras providências. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 19 fev. 1998. DIAS, M. A. Logística, transporte e infraestrutura. São Paulo. Atlas, 2012. DUARTE, P. C. Desenvolvimento de um mapa estratégico para apoiar a implementação de uma plataforma logística. 2004. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2004. _____. KLIEMANN NETO, F. J. Plataforma logística: análise estratégica dos benefícios no setor conserveiro gaúcho. Produto & Produção, v. 9, n. 3, p. 27- 45, out. 2008 RAZZOLINI FILHO, E. Logística empresarial no Brasil: tópicos especiais. Curitiba: InterSaberes, 2012a. _____. Transporte e modais: com suporte de TI e SI. Curitiba: InterSaberes, 2012b. RECEITA FEDERAL. Ministério da Economia. 1.1 Conceito. Disponível em: <https://receita.economia.gov.br/orientacao/aduaneira/manuais/entreposto- aduaneiro/entreposto-aduaneiro-de-importacao/1-armazenagem/1-1-conceito>. Acesso em: 16 jul. 2020. CONVERSA INICIAL CONTEXTUALIZANDO TEMA 1 – OUTSOURCING INTERNACIONAL 1.1 Operador logístico 1.2 Integradores logísticos 1.3 Plataformas logísticas TEMA 2 – MULTIMODALIDADE NOS TRANSPORTES INTERNACIONAIS 2.1 Unimodalidade 2.2 Intermodalidade 2.3 Multimodalidade TEMA 3 – REGIME DE TRÂNSITO ADUANEIRO 3.1 Despacho para trânsito aduaneiro 3.2 Porto seco TEMA 4 – EMBALAGEM E ACONDICIONAMENTO TEMA 5 – CONSOLIDAÇÃO E UNITIZAÇÃO DE CARGAS 5.1 Unitização de cargas 5.2 Principais formas de unitização TROCANDO IDEIAS NA PRÁTICA FINALIZANDO REFERÊNCIAS
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