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ANALISE OBRA - GU3018067

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EMPREENDEDORISMO - 3 º SEMESTRE 
AMANDA APARECIDA LOPES DE SOUZA - GU3018067 
ANÁLISE DE OBRA AUDIOVISUAL: 
“Estou Me Guardando Para Quando o Carnaval Chegar” 
Guarulhos 
2022 
Este documentário de Toritama, dirigido pelo Marcelo Gomes, segue o dia-a-dia dos 
habitantes trabalhadores desta cidade, famoso “Polo Industrial do Jeans”, mostrando relatos 
dos indivíduos perante o trabalho autônomo, sem nenhum encarregado e sem carteira 
assinada. Você é o dono do seu próprio negócio. Mas para eles qual é o sinônimo do 
sucesso? É trabalhar para si mesmo! Sim, ser dono do seu próprio empreendimento, 
seguindo a lógica de: “quanto mais produzir, mais você ganhará dinheiro”, colocando ao topo 
o trabalho direto de longas e longas horas de jornadas, alguns começando às 07h da manhã
e apenas parando às 22h ou 23h da noite. Mas é daí que vem a contradição! Todos os 
trabalhadores dissertam adorar e glorificar o seu próprio trabalho e independência, mas não 
percebem que não há lógica na forma de pensar deles. Se eles realmente fossem livres da 
forma em que se descrevem, por que eles trabalham longas jornadas de trabalho ao invés de 
escolher jornadas mais curtas ou menos dias de trabalho, ao invés de trabalhar sem folga? 
Mas eles não têm escolhas. 
Outra contradição a se pensar: se realmente gostam tanto do que trabalham, daquilo que 
realmente coloca alimento em suas mesas, por que o desespero para sair da cidade nas 
épocas de festas? (Natal, ano novo, carnaval...). O próprio título do documentário deixa uma 
incógnita a se pensar e interpretar por si só: “Estou Me Guardando Para Quando o Carnaval 
Chegar”. Guardar o que exatamente? Bom, a população desta cidade responde e mostra 
na longa-metragem. Mostra-se os mesmos fazendo leilão, vendendo objetos pessoais de 
uso do dia-a-dia, como por exemplo: geladeira, fogão, televisão, máquina de costura (na qual 
é o seu próprio ganha pão) para ter o dinheiro suficiente para viajar para o litoral e passar o 
carnaval fora de Toritama. Relatam eles que a cidade vira um deserto nesta data, é 
praticamente uma tradição todos viajarem. Mas... por que pensar no amanhã se eu posso 
viver no presente? Exato. A população de Toritama não se importa chegar após o carnaval 
e perceber que não tem onde refrigerar seu próprio alimento, não tem onde cozinhar 
decentemente e não ter sua própria máquina de trabalho, o que importa é passar a semana 
na praia, sem se importar com dívidas, o que importa é se divertir, dar risada, beber, 
entretanto, viajar é para esquecer os 
problemas, não é mesmo?. Está aí, outra contradição feita por eles: se a forma de trabalho 
deles realmente traz comodidade, não deveriam se desfazer de seus objetos de uso do dia-a-
dia para realizar uma viagem, que para nós, é algo de acesso mais fácil que podemos fazer 
sem precisar vender algo. 
No documentário, um dos entrevistados alega que o trabalho deles é sem seguro, sem 
recolhimento da previdência social, sem nenhuma garantia de estabilidade, se preocupando 
com o que pode acontecer quando ele não tiver mais a possibilidade de trabalhar 
corretamente ou preciso diminuir seu compasso por conta da forma arriscada da condição do 
que exerce todos os dias diante aos barulhos repetitivos das máquinas de costura. E 
infelizmente a juventude não se importa com esses detalhes, para eles, somente trabalhar da 
sua maneira, produzir muito e ganhar dinheiro é o que interessa no momento, “Deus é o 
dinheiro”, afirmam. 
Aos domingos não há folga! É dia de feira, o dia mais esperado para se ganhar dinheiro. Após 
os guardas “queimarem a largada”, uma multidão de trabalhadores costureiros correm 
para suas bancas, para venderem o seu “peixe”. Vestindo seus manequins, divulgando sua 
marca, sua costura, seus acessórios, sua própria moda para conquistarem clientes, 
empolgados para venderem tudo o que produziram durante a semana, calças, shorts, 
macacões, bermudas, representando o que se dá o nome e fama à cidade, o próprio “Jeans”. 
A maioria dos vendedores estimulam um horário para si, mesmo no final da tarde sem 
nenhuma movimentação, continuam no ambiente tentando vender sua marca, às vezes 
cochilando escondido ou dormindo, maioria das vezes demonstrando cansaço às câmeras. 
Como diria a entrevistada, “estão ali só por estar mesmo”. 
A forma que foi filmada esta obra, traz lembranças de outras obras do cinema, como “Fome 
de Poder” de John Lee Hancock e “Tempos Modernos” de Charlie Chaplin, trabalhadores com 
movimentos repetitivos, executando suas funções, lembrando uma possível engrenagem na 
indústria capitalista (Teoria da Administração Científica Ford e Taylor é uma representação 
para essa situação), atuando como uma peça mecanizada no processo, com princípios de 
oferta sob demanda “Just in Time”, qualificação na mão de obra, gestão e qualidade e 
analisar demanda do mercado. Numa visão temporal, o desenvolvimento da administração 
tenta se aproximar cada vez mais da qualidade do esforço humano, não apenas como 
instrumento, mas como parte essencial para o processo. 
Poucos percebem, mas há uma farsa no “liberalismo” deles, na qual é sequestrado seus 
sonhos, saúde, tempo, horas de sono e direitos de um trabalhador. Como é algo libertador 
trabalhar mais de 12 horas seguidas, almoçando em poucos minutos para aproveitarem cada 
minuto produzindo roupas e acessórios? “Dai graças à cidade”. É justo produzir 1.000 peças 
em um dia e ganhar apenas R$0,10 centavos? Assim relata uma trabalhadora, citando 
exemplos da sua própria forma contábil de render e ganhar dinheiro. Eles são os próprios 
lobos de si, já dizia Thomas Hobbes, “O homem é lobo do homem”. Trabalhar para si 
mesmo de forma exagerada, sem folgas, por mais de 12 horas diariamente, ganhando 
centavos por cada produção não é ser trabalhador independente bem sucedido. É o mesmo 
que trabalhar para um patrão, a diferença é que outra pessoa estará te explorando, mas, 
com direitos trabalhistas, é um capitalismo disfarçado de liberdade. 
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