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ANDRIELLY PEREIRA ANÁLISE DO PERFIL EPIDEMIOLÓGICO E DA DISTRIBUÇÃO ESPACIAL DE TUBERCULOSE NO ESTADO DE SANTA CATARINA, BRASIL, NO PERÍODO ENTRE 2010 E 2019 Trabalho apresentado à Universidade Federal de Santa Catarina, como requisito para a conclusão do Curso de Graduação em Medicina. Florianópolis Universidade Federal de Santa Catarina 2020 ii 13 ANDRIELLY PEREIRA ANÁLISE DO PERFIL EPIDEMIOLÓGICO E DA DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DE TUBERCULOSE NO ESTADO DE SANTA CATARINA, BRASIL, NO PERÍODO ENTRE 2010 E 2019 Trabalho apresentado à Universidade Federal de Santa Catarina, como requisito para a conclusão do Curso de Graduação em Medicina. Presidente do Colegiado: Prof. Dr. Aroldo P. de Carvalho Professora Orientadora: Profª. Drª. Ana Luiza Curi Hallal Florianópolis Universidade Federal de Santa Catarina 2020 c Pereira, Andrielly Análise do perfil epidemiológico e da distribuição espacial de tuberculose no Estado de Santa Catarina, Brasil, no período entre 2010 e 2019. Orientadora: Ana Luiza Curi Hallal. Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) – Universidade Federal de Santa Catarina – Curso de Graduação em Medicina. 1. Tuberculose 2. Epidemiologia 3. Análise Espacial 4. Brasil AGRADECIMENTOS Agradeço, primeiramente, a Deus por me ajudar a ultrapassar todos os obstáculos e alcançar meus objetivos. À minha família, pelo apoio e por tornarem possível a minha trajetória dentro do curso. Aos meus amigos e ao meu namorado pelo suporte emocional e por toda ajuda proporcionada. Ademais, agradeço a Universidade Federal de Santa Catarina por toda estrutura e ao HU, aos professores, aos servidores e aos pacientes por todos os ensinamentos proporcionados ao longo dos anos. Um agradecimento especial à minha professora e orientadora Ana Luiza Curi pela disponibilidade, paciência e apoio ao longo da elaboração do meu trabalho final. Por fim, agradeço a todos aqueles que contribuíram, direta ou indiretamente, para a realização desse trabalho, o qual representa uma etapa importante do meu desenvolvimento e do processo de formação acadêmica. RESUMO Objetivos: Analisar o perfil epidemiológico e a distribuição espacial de Tuberculose em Santa Catarina no período de 2010 a 2019. Métodos: Estudo ecológico com dados coletados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação do Ministério da Saúde (SINAN). As variáveis do estudo foram ano, sexo, macrorregiões de residência, zona de residência, faixa etária, escolaridade e coinfecção com HIV. A análise das tendências temporais e espaciais foi feita por meio do Microsoft Excel 2013. Resultados: No período estudado, ocorreram 24.371 novos casos de Tuberculose em Santa Catarina, com tendência crescente e predomínio de adultos na faixa etária de 20-49 anos, sexo masculino, raça branca, macrorregião Grande Florianópolis, zona urbana, baixa escolaridade e sem coinfecção com HIV. Os casos foram majoritariamente novos (77,68%) de forma exclusivamente pulmonar (79,02%). Conclusões: Os dados apresentados neste estudo indicam o predomínio da forma pulmonar da tuberculose, em pessoas do sexo masculino, raça branca, faixa etária entre 20-49 anos, residentes em zona urbana, com baixa escolaridade e não coinfectados com HIV. Palavras-chave: 1. Tuberculose; 2. Epidemiologia; 3. Análise espacial; 4. Brasil. ABSTRACT Objectives: Analyze the epidemiological profile and the spatial distribution of Tuberculosis in Santa Catarina in the period from 2010 to 2019. Methods: Ecological study with data collected from the Ministry of Health's Notifiable Diseases Information System (SINAN). The study variables were year, sex, macro-regions of residence, area of residence, age group, education and HIV co-infection. The analysis of temporal and spatial trends was performed using Microsoft Excel 2013. Results: During the study period, there were 24,371 new cases of tuberculosis in Santa Catarina, with an increasing trend and a predominance of adults aged 20-49 years, male, white, Greater Florianópolis macro-region, urban area, low education level and without HIV co-infection. The cases were mostly new (77.68%) in an exclusively pulmonary form (79.02%). Conclusions: The data presented in this study indicate the predominance of the pulmonary form of tuberculosis, in males, Caucasian, aged between 20-49 years old, living in urban areas, with low education and not co-infected with HIV. Keywords: 1. Tuberculosis; 2. Epidemiology; 3. Spatial Analysis; 4. Brazil. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS CID-10 Classificação Internacional de Doenças - 10ª revisão DATASUS Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde HIV Vírus da Imunodeficiência Humana IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística OMS Organização Mundial de Saúde SINAN Sistema de Informação de Agravos de Notificação do Ministério da Saúde SUMÁRIO RESUMO v ABSTRACT vi 1 INTRODUÇÃO 1 2 OBJETIVO 3 3 MÉTODOS 4 4 RESULTADOS 5 5 DISCUSSÃO 9 6 CONCLUSÃO 12 REFERÊNCIAS 13 NORMAS ADOTADAS 16 1 INTRODUÇÃO A tuberculose é uma doença infectocontagiosa, causada pelo Mycobacterium tuberculosis também conhecido como Bacilo de Koch e transmitida através de gotículas de aerossóis de pessoa a pessoa.(1) É marcada historicamente por desigualdades sociais e designada como um grave problema de saúde pública e importante causa de morbimortalidade. Apesar de ser uma doença antiga e suscetível ao tratamento medicamentoso, a tuberculose mantém-se como uma das principais questões de saúde a ser enfrentada em âmbito global.(2) Atinge principalmente indivíduos do sexo masculino, adultos jovens e países de baixa renda, indicando uma ligação entre a ocorrência da doença e fatores socioeconômicos.(2,3) As condições precárias de vida geralmente são associadas a aglomerados populacionais, pobreza, moradias insalubres e estado de saúde vulnerável. Essa associação contribui para a instalação e desenvolvimento da Tuberculose e aumenta os riscos de abandono do tratamento. Além disso, apesar de existirem várias medidas para prevenção e controle da doença, observa-se que as mesmas não alcançam toda a população de maneira igualitária, principalmente por uma questão de financiamento e envolvimento político insuficientes.(4) A Organização Mundial de Saúde a classifica como doença infecciosa de agente único com maior mortalidade no mundo, superando o vírus da imunodeficiência humana (HIV). Em 2018, ocorreram no mundo 10 milhões de casos novos de tuberculose e 1,5 milhões de mortes pela doença.(5) Atualmente, o Brasil figura entre os 22 países priorizados pela OMS por serem responsáveis por 80% da carga mundial de tuberculose. Em 2018, foram diagnosticados 72.788 casos novos da doença com um coeficiente de incidência de 34,8 casos/100 mil habitantes e um coeficiente de mortalidade de 2,2/100 mil habitantes. Embora nos últimos 10 anos a taxa de incidência tenha diminuído, em 2017 e 2018 ela apresentou um aumento em comparação ao período de 2014 a 2016. Já a taxa de mortalidade, apesar de também ter sofrido um declínio nos últimos 10 anos, em 2018 teve aumento em comparação com 2017.(6) Diferentemente, Santa Catarina está entre os oito estados do país com menor coeficiente de incidência (23,7/100 mil habitantes) e entre os três com menor coeficiente de mortalidade (0,9/100 mil habitantes) em 2018.(6) Porém, é importante fazer uma análise detalhada da variação e do padrão dos dados nos últimos anos para melhor compreensão dos motivos que culminam na persistência da doença. 2 OBJETIVO O presente estudo tem como objetivo analisar o perfil epidemiológico e a distribuição espacial de Tuberculose em Santa Catarina no período de 2010 a 2019. 3 MÉTODOS Trata-se de um estudo descritivo que visa a análise de indicadores epidemiológicos da Tuberculoseem residentes do estado de Santa Catarina, no período de 2010 a 2019 com base em dados secundários do Sistema de Informação de Agravos de Notificação do Ministério da Saúde (SINAN). O Estado de Santa Catarina possui 295 municípios distribuídos em 16 Regiões de Saúde que são agrupadas em 7 Macrorregiões: Planalto Norte e Nordeste, Grande Oeste, Meio Oeste e Serra Catarinense, Foz do Rio Itajaí, Vale do Itajaí, Grande Florianópolis, Sul.(7) Os dados foram obtidos no sítio eletrônico do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). Foram considerados os casos de tuberculose, notificados após confirmação diagnóstica, catalogados como A15 a A19 segundo a Classificação Internacional de Doenças, 10ª revisão (CID-10).(8) Os indicadores epidemiológicos de incidência foram avaliados por meio do número e percentual de doença. Foram analisadas as variáveis ano, sexo, faixa etária (com idade igual ou superior a 20 anos), macrorregião de residência, zona de residência, raça, escolaridade e coinfecção com HIV. Foram incluídos no estudo casos novos de Tuberculose pulmonar. Os dados obtidos do DATASUS foram explorados e analisados de forma descritiva no programa Microsoft Excel 2013 através do cálculo dos indicadores descrito em razões e proporções. As tabelas presentes foram arquitetadas utilizando-se o mesmo software. Todos os dados empregados foram obtidos em sistemas oficiais de informação de saúde, de livre acesso, sem identificação individual, por esse motivo, justifica-se a ausência de avaliação ética. 4 RESULTADOS No período de 2010 a 2019 ocorreram 24.371 casos de Tuberculose no estado de Santa Catarina. Com relação ao número de casos segundo o ano de notificação, observa-se que a maioria foi notificada no ano de 2018 (11,25%) e 2019 (10, 93%), em contrapartida, a minoria ocorreu em 2010 (8,29%) e 2011 (9,23%). Além disso, houve um predomínio dos casos em indivíduos do sexo masculino (68,31%). (Tabela 1) Tabela 1: Distribuição do número e percentual de casos de tuberculose segundo ano de notificação e sexo no estado de Santa Catarina, Brasil, 2010 a 2019. Ano da Notificação Ignorado % Masculino % Feminino % Total % 2010 0 0,00% 1352 66,93% 668 33,07% 2020 8,29% 2011 0 0,00% 1555 69,17% 693 30,83% 2248 9,23% 2012 2 0,09% 1574 67,61% 752 32,30% 2328 9,56% 2013 0 0,00% 1636 68,00% 770 32,00% 2406 9,88% 2014 0 0,00% 1731 70,05% 740 29,95% 2471 10,14% 2015 0 0,00% 1645 69,35% 727 30,65% 2372 9,74% 2016 0 0,00% 1714 67,93% 809 32,07% 2523 10,36% 2017 0 0,00% 1737 67,04% 854 32,96% 2591 10,64% 2018 0 0,00% 1878 68,54% 862 31,46% 2740 11,25% 2019 0 0,00% 1818 68,29% 844 31,71% 2662 10,93% Total 2 0,01% 16640 68,31% 7719 31,69% 24361 100,00% Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). Em referência aos tipos de entrada, a maioria ficou concentrada em casos novos com 18.932 casos (77,68%), em contrapartida, verificou-se que somente 21 casos (0,09%) foram pós óbito. Com relação a forma, o predomínio é de quadros com acometimento somente pulmonar com 19.258 casos (79,02%), enquanto apenas 1.205 casos (4,94%) foram pulmonares associados aos extrapulmonares. (Tabela 2) Tabela 2: Distribuição do número e percentual de casos de tuberculose segundo tipo de entrada e forma no estado de Santa Catarina, Brasil, 2010 a 2019. Tipo de entrada Ign/ Branco % PULMONAR % EXTRA PULMONAR % PULMONAR + EXTRA % Total % Ign/Branco 5 100,00% 0 0,00% 0 0,00% 0 0,00% 5 0,02% CASO NOVO 0 0,00% 14939 78,91% 3206 16,93% 787 4,16% 18932 77,68% RECIDIVA 0 0,00% 1523 85,08% 203 11,34% 64 3,58% 1790 7,34% REINGRESSO PÓS ABANDONO 0 0,00% 1143 87,52% 85 6,51% 78 5,97% 1306 5,36% NÃO SABE 0 0,00% 70 39,11% 8 4,47% 101 56,42% 179 0,73% TRANSFERÊNCIA 0 0,00% 1564 73,15% 400 18,71% 174 8,14% 2138 8,77% PÓS OBITO 0 0,00% 19 90,48% 1 4,76% 1 4,76% 21 0,09% Total 5 0,02% 19258 79,02% 3903 16,01% 1205 4,94% 24371 100,00% Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). A distribuição dos casos novos de Tuberculose pulmonar no estado de Santa Catarina, se concentram principalmente nas macrorregiões Grande Florianópolis (23,57%), Nordeste e Planalto Norte (20,23%), Foz do Rio Itajaí (19,02%), Sul (14,78%) e Vale do Itajaí (11,75%). A minoria dos casos se encontra no Meio Oeste e Serra (6,41%) e Grande Oeste (4,25%). No que tange o número de casos segundo a faixa etária, a grande maioria se enquadra entre 20 a 34 anos (37,51%). (Tabela 3) Tabela 3: Distribuição do número e percentual de casos novos de tuberculose pulmonar segundo macrorregião de residência e faixa etária no estado de Santa Catarina, Brasil, 2010 a 2019. Macrorregião de Residência 20-34 % 35-49 % 50-64 % 65-79 % 80 e + % Total % Grande Oeste 170 29,36% 181 31,26% 153 26,42% 63 10,88% 12 2,07% 579 4,25% Meio Oeste e Serra 263 30,13% 281 32,19% 224 25,66% 88 10,08% 17 1,95% 873 6,41% Vale do Itajaí 647 40,41% 448 27,98% 347 21,67% 138 8,62% 21 1,31% 1601 11,75% Foz do Rio Itajaí 1031 39,78% 855 32,99% 536 20,68% 147 5,67% 23 0,89% 2592 19,02% Grande Florianópolis 1308 40,73% 1077 33,54% 594 18,50% 188 5,85% 44 1,37% 3211 23,57% Sul 701 34,81% 620 30,78% 520 25,82% 143 7,10% 30 1,49% 2014 14,78% Nordeste e Planalto Norte 991 35,96% 867 31,46% 669 24,27% 197 7,15% 32 1,16% 2756 20,23% Total 5111 37,51% 4329 31,77% 3043 22,33% 964 7,07% 179 1,31% 13626 100,00% Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). Ao analisar a distribuição segundo a raça, houve um predomínio dos casos na raça branca (79,54%), seguido da parda (9,59%) e preta (8,05%). No tocante a zona de residência, os casos se encontram, majoritariamente, na zona urbana (90,53%). (Tabela 4) Tabela 4: Distribuição do número e percentual de casos novos de tuberculose pulmonar segundo raça e zona de residência no estado de Santa Catarina, Brasil, 2010 a 2019. Raça Ign/ Branco % Urbana % Rural % Peri urbana % Total % Branca 360 3,03% 10808 90,96% 623 5,24% 91 0,77% 11882 79,54% Preta 46 3,82% 1108 92,10% 46 3,82% 3 0,25% 1203 8,05% Amarela 4 5,88% 60 88,24% 3 4,41% 1 1,47% 68 0,46% Parda 43 3,00% 1291 90,15% 75 5,24% 23 1,61% 1432 9,59% Indígena 2 3,92% 30 58,82% 19 37,25% 0 0,00% 51 0,34% Ignorado 32 10,56% 228 75,25% 43 14,19% 0 0,00% 303 2,03% Total 487 3,26% 13525 90,53% 809 5,42% 118 0,79% 14939 100,00% Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). Quanto a escolaridade, os que realizaram 5ª a 8ª série incompleta do ensino fundamental obtiveram o maior percentual com 21,63%. Uma parcela mínima dos casos se encontra nos extremos: analfabetos com 2,38%, educação superior incompleta com 2,32% e educação superior completa com 3,47%. (Tabela 5). Ademais, A variável de testagem do HIV identificou que 71,53% dos indivíduos obtiveram resultado negativo. (Tabela 5) Tabela 5: Distribuição do número e percentual de casos novos de tuberculose pulmonar segundo escolaridade e HIV no estado de Santa Catarina, Brasil, 2010 a 2019. Escolaridade Ign/ Branco % Positivo % Negativo % Não realizado % Total % Ign/Branco 508 20,73% 320 13,06% 1556 63,51% 66 2,69% 2450 16,40% Analfabeto 59 16,62% 47 13,24% 243 68,45% 6 1,69% 355 2,38% 1ª a 4ª série incompleta do EF 227 12,37% 237 12,92% 1328 72,37% 43 2,34% 1835 12,28% 4ª série completa do EF 121 9,83% 169 13,73% 918 74,57% 23 1,87% 1231 8,24% 5ª a 8ª série incompleta do EF 341 10,55% 534 16,53% 2293 70,97% 63 1,95% 3231 21,63% Ensino fundamental completo 173 10,87% 243 15,26% 1155 72,55% 21 1,32% 1592 10,66% Ensino médio incompleto127 11,05% 114 9,92% 887 77,20% 21 1,83% 1149 7,69% Ensino médio completo 206 10,14% 271 13,34% 1513 74,50% 41 2,02% 2031 13,60% Educação superior incompleta 26 7,49% 41 11,82% 277 79,83% 3 0,86% 347 2,32% Educação superior completa 49 9,44% 56 10,79% 406 78,23% 8 1,54% 519 3,47% Não se aplica 72 36,18% 13 6,53% 110 55,28% 4 2,01% 199 1,33% Total 1909 12,78% 2045 13,69% 10686 71,53% 299 2,00% 14939 100,00% Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). 5 DISCUSSÃO O presente estudo observou que dentre os casos notificados de Tuberculose no estado de Santa Catarina, os maiores números ocorreram nos anos de 2018 e 2019. Além disso, a maioria foram casos novos e de acometimento somente pulmonar. Em referência as macrorregiões, houve predomínio em Grande Florianópolis, Nordeste e Planalto Norte e Foz do Rio Itajaí, majoritariamente em zona urbana. Quanto ao público mais afetado, encontram-se os adultos jovens do sexo masculino de raça branca que não concluíram o ensino fundamental. Com relação ao vírus da imunodeficiência humana (HIV), a maioria dos casos não cursa com coinfecção. Quanto a incidência da doença, foi identificado um aumento do número de casos notificados de 2017 a 2019 no estado de Santa Catarina, acompanhando o crescimento do número de casos que ocorreu no Brasil no mesmo período.(2-3,6,9) Esse aumento pode ser reflexo de uma ampliação do acesso aos métodos de diagnóstico, mas também ao fato de o país estar enfrentando uma crise econômica nos últimos anos(6) e a tuberculose ser uma doença com forte associação às condições socioeconômicas de maneira individual e coletiva.(10) Com relação as características sociodemográficas, há um predomínio na população masculina, o que vai de encontro com a literatura.(11-14) Com relação ao tipo de entrada, a maioria eram casos novos, ou seja, pessoas que nunca fizeram uso de drogas antituberculosas ou o fizeram por um período inferior a 30 dias.(15) Esse dado tem fundamental importância, visto que existe uma correlação direta entre retratamentos e aumento de resistência a medicamentos.(16) Dentre as formas clínicas, houve um predomínio de tuberculose pulmonar, o que corrobora com a literatura.(12, 14, 16) Tal resultado já era esperado, devido ao fato de o pulmão possuir condições adequadas para o crescimento bacteriano e ser a porta de entrada do Mycobacterium tuberculosis, a partir daí pode ocorrer disseminação por contiguidade, por via linfática ou hematogênica, principalmente em indivíduos com situação de imunossupressão.(17) No que concerne a quantidade de casos novos por macrorregiões de saúde, a doença demonstrou um perfil heterogêneo. A distribuição se concentra majoritariamente em Nordeste e Planalto Norte, Grande Florianópolis, Foz do Rio Itajaí e Sul que são as macrorregiões com maior densidade demográfica do estado,(18) e também as que concentram municípios litorâneos ou próximos do litoral, o que vai de acordo com a literatura.(19) Além disso, a heterogeneidade da distribuição pode ser explicada sob diversas óticas, entre elas, a diferença da qualidade dos sistemas da atenção primária a saúde em cada macrorregião.(11) Em relação a faixa etária, a maioria dos casos foram encontrados na faixa etária de 20 a 49 anos, resultado também identificado na maioria dos estudos em pacientes com a doença.(3, 12, 14, 20) Essa situação gera complicações sociais significativas, já que dificulta a inserção e mantimento no mercado de trabalho de pessoas em idade economicamente ativa.(12,20) Segundo o Censo Demográfico de 2010, o estado de Santa Catarina possui 6.248.436 habitantes, sendo que destes, a maioria é de etnia branca (83,9%), o que explica os maiores percentuais de acometimento desse grupo étnico.(21) Esse dado se repete em outros estados da região sul, porém difere do Brasil como um todo, onde a maioria dos casos ocorre em pessoas não brancas. Provavelmente isso se deve ao fato de a região sul ter sofrido uma colonização europeia.(22-23) No que diz respeito a zona de residência, os casos se encontram majoritariamente na zona urbana, visto que, é onde se encontra o maior contingente populacional. De acordo com a literatura, os processos migratórios contribuíram para piores condições de vida nos grandes centros, já que nem sempre os locais contavam com estrutura adequada para suprir a demanda, o que gerava maior pobreza e consequentemente piores condições de saúde nas periferias. Nesse contexto, a tuberculose tornou-se um problema importante nos centros urbanos.(24-25) Quanto a escolaridade, o grupo mais acometido foi o que fez ensino fundamental incompleto, corroborando a relação entre baixa escolaridade e tuberculose, o que vai de acordo com outros estudos.(22, 26) Em referência a coinfecção com HIV, embora a maioria dos indivíduos tenham tido resultado negativo, a questão é preocupante tendo em vista a imunossupressão causada pelo vírus que, além de contribuir com o aumento do número de casos de Tuberculose, ocasiona maior abandono do tratamento pelo paciente, gerando maior resistência aos medicamentos antimicobacterianos e, dessa forma, aumentando a letalidade da doença.(13,19) A principal limitação do presente estudo inclui o uso de dados secundários derivados do SINAN, visto que, podem ocorrer falhas nesses dados como subnotificações de Tuberculose e preenchimento incompleto da ficha de notificação/investigação, o que, entretanto, tem melhorado nos últimos anos. Desse modo, é substancial garantir a sensibilidade e fidedignidade dos dados do SINAN para que pesquisadores e profissionais de saúde consigam realizar sua utilização com segurança e de maneira igualitária em todo o território nacional.(13) Por outro lado, os recursos destas bases de informação permitiram a elaboração dos indicadores pertinentes para análise da distribuição de Tuberculose no estado de Santa Catarina. Os resultados apresentados contribuem para o aprofundamento do contexto epidemiológico da doença ao longo dos anos, podendo ser mais um instrumento tanto para gestores da vigilância epidemiológica quanto para profissionais da atenção básica no objetivo de promover sua prevenção e tratamento. 6 CONCLUSÃO Os dados apresentados neste estudo indicam o predomínio da forma pulmonar da tuberculose, em pessoas do sexo masculino, raça branca, faixa etária entre 20-49 anos, residentes em zona urbana, com baixa escolaridade e não coinfectados com HIV. REFERÊNCIAS 1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Coordenação-Geral de Desenvolvimento da Epidemiologia em Serviços. Guia de Vigilância em Saúde – 3ª. ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2019. [Acesso em: 19 jun. 2020]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_vigilancia_saude_3ed.pdf 2. Boletim Epidemiológico. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Implantação do Plano Nacional pelo Fim da Tuberculose como Problema de Saúde Pública no Brasil: primeiros passos rumo ao alcance das metas. V 49, n. 11, Mar. 2018. [Acesso em: 19 jun. 2020]. Disponível em: https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2018/marco/26/2018-009.pdf 3. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Boletim Epidemiológico - Tuberculose 2020. Brasília: Ministério da Saúde; 2020. [Acesso em: 19 jun. 2020]. Disponível em: https://www.saude.gov.br/images/pdf/2020/marco/24/Boletim-tuberculose-2020-marcas--1-.pdf 4. Guimarães Raphael Mendonça, Lobo Andréa de Paula, Siqueira Eduardo Aguiar, Borges Tuane Franco Farinazzo, Melo Suzane Cristina Costa. Tuberculose, HIV e pobreza: tendência temporal no Brasil, Américas e mundo. J. bras. pneumol. [Internet]. 2012 Aug [Acesso em: 19 jun. 2020] ; 38( 4 ): 511-517. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-37132012000400014&lng=en. http://dx.doi.org/10.1590/S1806-37132012000400014. 5. World Health Organization. Global Tuberculosis Report2019. Geneva: World Health Organization; 2019. [Acesso em: 21 jun. 2020]. Disponível em: https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/329368/9789241565714-eng.pdf?ua=1 6. Boletim Epidemiológico. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Brasil Livre da Tuberculose: evolução dos cenários epidemiológicos e operacionais da doença. V 50, n. 09, Mar. 2019. [Acesso em: 21 jun. 2020]. Disponível em: https://www.saude.gov.br/images/pdf/2019/marco/22/2019-009.pdf 7. 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