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EMPRESAS TRANSNACIONAIS 
AULA 5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof.ª Ludmila Andrzejewski Culpi 
 
 
 
 
 
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CONVERSA INICIAL 
A ordem internacional que surgiu no período da Guerra Fria trouxe 
novos atores na agenda mundial, como as empresas que passaram a 
desempenhar um papel central nas relações internacionais. A expansão das 
multinacionais forneceu a esses atores mais poder para manipular a ação dos 
Estados a seu favor. A teoria da interdependência complexa das Relações 
Internacionais, que aparece com Keohane e Nye (1997), é central para a 
compreensão das empresas transnacionais, pois essa teoria estabelece um 
modelo não mais fundamentado no Estado como único ator, mas calcado nas 
relações transnacionais. Os governos nacionais passam a ser vistos como 
jogadores na arena política, porém não exclusivos, pois seu poder é limitado 
por outros atores, como as empresas multinacionais. De acordo com Keohane 
e Nye (1977), "a interdependência é uma situação caracterizada por efeitos 
recíprocos entre os países ou entre os atores ou um estado de dependência 
mútua" (Keohane e Nye, 1977, s/p). 
 
TEMA 1: AS MULTINACIONAIS NO SÉCULO GLOBAL 
As empresas transnacionais impactam sobremaneira as relações de 
poder entre os Estados. Um dos elementos fundamentais da teoria da 
interdependência é o reconhecimento das relações transnacionais. As 
organizações transnacionais privadas são as empresas, que possuem mais 
recursos e influência que as públicas. A corporação transnacional (CTN) trata 
uma série de mercados domésticos como se fossem apenas um, na extensão 
que os governos permitem. A condição política fundamental para o surgimento 
do transnacionalismo foi o poder dos Estados Unidos e sua busca por 
estabelecer coalizões com outros Estados na luta contra o comunismo. Os 
governos desses países forneceram acesso às empresas norte-americanas em 
troca de assegurar a independência desses governos. As CTNs a princípio não 
têm objetivos políticos, apenas econômicos. Contudo, como um grupo 
dominante fornecesse acesso a esse mercado, as suas atividades tendem a 
favorecer esse grupo. 
Em busca de múltiplos canais de relação, as empresas transnacionais 
(ETNs) e os governos passam a se relacionar, o que pode significar mais ou 
 
 
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menos poder para os Estados. Assim, se o governo atrai capital produtivo para 
seu país estará ganhando poder. 
Por outro lado, o governo pode ter que se sujeitar aos ditames de uma 
grande empresa ou de seu país de origem para atrair esse investimento ao seu 
país. Deste modo, as ETNs passam a ser como atores independentes, todavia 
também podem ser vistas como instrumentos de manipulação dos governos à 
medida em que os Estados se utilizam delas para atingir os seus interesses 
nacionais. 
 
TEMA 2: RELAÇÃO ENTRE O PAÍS QUE RECEBE E O PAÍS DE ORIGEM DAS 
MULTINACIONAIS 
As visões teóricas sobre empresas transnacionais debatem a relação 
entre empresas e os países menos desenvolvidos. Os defensores das grandes 
corporações sustentam que a eficiência e o know how das empresas 
multinacionais permitem que as filiais estrangeiras desempenhem um papel 
central em expandir o crescimento econômico dos países, elevando os salários 
e os padrões de vida. Os críticos argumentam que os esforços das empresas 
para expandir seus lucros são prejudiciais para as economias e para a 
sociedade dos países menos desenvolvidos. Uma terceira visão aponta que, 
em alguns casos, as condições políticas e econômicas são a variável 
independente da determinação dos efeitos do investimento externo direto 
(IED), isto é, que as questões econômicas não têm relação com os resultados 
do IED. Portanto, a inexistência de uma resposta clara deixa os tomadores de 
decisões governamentais hesitantes em como formular suas políticas em 
relação às empresas. 
Muitos governos adotam políticas de mercado amigáveis para tirar 
proveito da economia globalizada e atrair multinacionais. Dent determina que a 
relação de interdependência entre firmas e governos depende da habilidade do 
Estado em conduzir uma diplomacia efetiva com as empresas. Embora sejam 
parceiros, os objetivos das empresas e dos Estados que recebem não são 
idênticos; o que é bom para a firma multinacional norte-americana não é 
sempre bom para o interesse nacional de um país que a recebe. Assim, 
observa-se um conflito potencial entre a empresa e o Estado nação (Cohen, 
2007). 
 
 
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TEMA 3: AS MULTINACIONAIS X O ESTADO-NAÇÃO: DIMINUIÇÃO DA 
SOBERANIA DO ESTADO? 
Vernon (1971) destaca em sua teoria que as vantagens de negociação 
estarão sempre ao lado da empresa. O Estado-nação tem pouco poder de 
barganha em comparação com as empresas, que possuem mais recursos. 
Alguns Estados abrem mão das economias de escala para se desvencilhar da 
dependência de empresas multinacionais de países desenvolvidos. De acordo 
com esse argumento, o quanto uma nação reafirma sua soberania depende do 
preço econômico que está disposto a pagar por assumir políticas nacionalistas. 
Para Sarfati (2008), a forma mais relevante de influência das empresas 
sobre os Estados é por meio de seu poder estrutural e de seu poder brando. O 
poder estrutural está relacionado à relevância da firma nas economias 
nacionais, enquanto o poder brando se refere à capacidade de alcançarem 
resultados melhores, cooptando indivíduos em vez de usar a força contra eles. 
Assim, as empresas limitam o poder dos Estados, mas estes não perdem sua 
soberania. Outro elemento relacionado ao poder brando da empresa é a ideia 
de responsabilidade social. As EMNs assumem o papel de fornecer ajuda 
internacional por meio de programas de filantropia. Outra forma de poder 
brando das firmas é o vínculo delas com as comunidades epistêmicas, que são 
um grupo de especialistas que influenciam a tomada de decisão dos Estados 
em temas centrais. A comunidade epistêmica pode influenciar o 
comportamento de um Estado quando ele recorrer ao conhecimento de seus 
técnicos. 
 
TEMA 4: ESTUDO DE CASO – PROTOCOLO DE CARTAGENA E AS 
EMPRESAS MULTINACIONAIS 
Para Sarfati (2008), a influência das EMNs sobre os Estados é limitada, 
e uma grande fonte dessa contraposição é a resistência de grupos políticos 
que se sentem prejudicados pela atuação dessas empresas. Esses grupos se 
organizam para estabelecer empecilhos à atuação das empresas, bloqueando 
a expansão desses atores. Um ator relevante nessa oposição são as ONGs 
(organizações não governamentais), que orientam seus recursos intelectuais, 
 
 
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pessoais e financeiros para o lobby dos grupos que perdem com as empresas 
multinacionais em fóruns internacionais. 
Uma ilustração do poder restrito das empresas multinacionais nas 
relações internacionais é o caso do Protocolo de Biossegurança de Cartagena 
– que acabou por não atender aos interesses das grandes empresas de 
biotecnologia, farmacêuticas e alimentos, por produzir mais obrigações para 
essas firmas do que vantagens. Desse modo, o resultado das negociações 
para a assinatura desse protocolo não atendeu aos interesses das 
corporações. Nesse caso, o protocolo incorporou demandas de organismos 
vinculados à melhoria da alimentação humana, o que implicou em redução do 
poder dessas empresas. 
 
TEMA 5: TEORIAS DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS E AS EMPRESAS 
MULTINACIONAIS 
As teorias clássicas das Relações Internacionais (RI), como o idealismo 
e o realismo, consideravam o Estado o único ator importante nas relações 
internacionais. Contudo, a partir da teoria da interdependência, as teorias 
contemporâneas passaram a visualizar a existência de outros atores com 
capacidade de condicionar o comportamento dos Estados, sendo eles as 
empresas transnacionais, os grupos paramilitares, as ONGs, a Igreja, dentre 
outros. As teorias de RI variam a respeito da interpretação do real impacto das 
empresas, contudo, para as teorias pós-positivistas (como a construtivista,a 
pós-moderna e a feminista), verificam a relação central entre os agentes (que 
podem ser os Estados e as empresas) e a estrutura (os documentos 
governamentais, os tratados, etc.), como a mais importante para explicar o 
cenário de construção mútua das identidades e interesses dos diferentes 
agentes (Nogueira; Messari, 2005). 
 
NA PRÁTICA 
A parceria entre uma ONG e a TIM Nordeste – a responsabilidade social 
das empresas segundo Monte (2004): 
Em 2003, desenvolveu-se uma relação de parceria entre a Case de Passagem (ONG) e 
a TIM Nordeste (uma empresa multinacional), por meio de uma convergência de 
interesses. Nesse sentido, a Casa de Passagem procurava empresas para colaborar e a 
TIM buscava ONGs para apoiar financeiramente. Os esforços de aproximação se deram 
 
 
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calcados em relações pessoais entre funcionários das duas empresas. Porém, a 
concretização da parceria só se consolidou após um ano do contato inicial. A TIM 
investiu nessa ONG pois trabalha com mulheres, área que recebia pouco financiamento 
de outras empresas. (Monte, 2004, s/p) 
Desta forma, a TIM decidiu investir baseado em seu interesse de diferenciar-se no 
mercado e melhorar a sua imagem. A opção por essa ONG não foi aleatória, pois o 
intuito da empresa era transmitir uma imagem socialmente responsável para a 
sociedade. 
 
SÍNTESE 
Nesta aula foi possível um maior entendimento do papel exercido pelas 
empresas transnacionais nas relações internacionais. Concluiu-se que a 
expansão das multinacionais possibilitou a esses agentes deter mais poder 
para persuadir os Estados a realizarem políticas que as beneficiassem. Assim, 
verifica-se um contraste entre as empresas e o Estado-nação, sendo que em 
muitos casos os Estados têm seus poderes limitados pelas grandes 
corporações, que têm um grande impacto nas relações internacionais. O 
paradigma da diplomacia triangular foi abordado como uma referência para 
entender o relacionamento entre grandes empresas e governos. Nesse sentido, 
revelou-se imprescindível avaliar as relações entre os governos dos países 
anfitriões e as empresas transnacionais. Essas relações podem ser 
cooperativas ou conflitivas. 
 
 
REFERÊNCIAS 
KEOHANE, R. O.; NYE, J. S. Power and Interdependence. New York: 
Longman, 2001. 
MONTE, T. C. Parcerias ente ONGs e empresas: uma relação de 
poder? Um estudo de casos em Recife. Dissertação de Mestrado em 
Administração do Programa de Pós-Graduação em Administração da 
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife, 2004. 
NOGUEIRA, J. P.; MESSARI, N. Teoria das Relações Internacionais – 
correntes e debates. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. 
 
 
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SARFATI, G. Os limites do poder das empresas multinacionais: o caso 
do Protocolo de Cartagena. Ambiente & Sociedade, v. 11, n. 1, p. 117-130, 
2008. 
VERNON, R. Sovereignty at Bay: The Multinational Spread of US 
Enterprises. New York: Basic Books, 1971. 
 
CONTEÚDO COMPLEMENTAR 
TEMA 1 
Leitura complementar: Assista ao documentário A corporação para entender 
melhor o papel das grandes empresas no cenário internacional. Acesse em: 
<https://www.youtube.com/watch?v=Zx0f_8FKMrY>. 
 
TEMA 2 
Saiba mais: Para compreender a relação entre as empresas e os países 
emergentes leia o texto Empresas multinacionais de países emergentes: o 
crescimento das multilatinas. Acesse em: 
<http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0873-
74442010000100004>. 
 
TEMA 3 
Saiba mais: Para conhecer melhor a relação entre o Estado e as empresas 
multinacionais leia o texto O Estado e as empresas multinacionais. Acesse 
em: <http://www.rep.org.br/pdf/22-3.pdf>. 
TEMA 4 
Leitura complementar: Para entender melhor a relação entre as empresas 
transnacionais e o Estado nação leia o texto de Gilberto Sarfati Os limites do 
poder das empresas multinacionais: o caso do Protocolo de Cartagena. 
Acesse em: <http://www.scielo.br/pdf/asoc/v11n1/08.pdf>. 
 
TEMA 5 
Leitura complementar: Para compreender melhor a projeção externa das 
empresas leia o texto Empresas, estado e relações internacionais – uma 
 
 
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análise complexa. Acesse em: <http://www.eeh2010.anpuh-
rs.org.br/resources/anais/9/1277740148_ARQUIVO_ArtigoANPUHversao1sres
umo.pdf>.

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