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EMPRESAS TRANSNACIONAIS AULA 4 Prof.ª Ludmila Andrzejewski Culpi 2 CONVERSA INICIAL O modelo estratégico transnacional passa a ser adotado pelas empresas nos anos 1990, com o objetivo de expandir competitividade da multinacional, ao expandir o conhecimento das filiais desenvolvendo inovação nas subsidiárias. Para os gestores da empresa multinacional, a transnacionalidade é entendida como uma estratégia pela sua eficácia, porém implica custos elevados. Portanto, a estratégia transnacional é mais do que atingir uma etapa de corporação transnacional por inserir uma série de desafios. Nesta aula serão apresentadas as diferentes estratégias de atuação no mercado externo, bem como os efeitos econômicos, culturais e sociais dessas empresas nos países receptores. Ainda, serão estudadas as diversas formas de negociar com países diferentes, a partir do conhecimento sobre as especificidades de cada cultura. Finalmente serão identificados os Estados que são priorizados pelas firmas em sua internacionalização e os que são evitados. TEMA 1: ESTRATÉGIAS DE GESTÃO DAS EMPRESAS MULTINACIONAIS E AS FUNÇÕES DAS SUBSIDIÁRIAS As empresas transnacionais possuem diversas estratégias de gestão variadas, dependendo de vários aspectos. Em países com muitas barreiras ao comércio, a estratégia doméstica normalmente é a adotada, pois se foca no mercado nacional em vez de exportar. Já nos casos em que os Estados possuem um mercado mais aberto, opta-se pela estratégia de integração simples, na qual a cooperação entre a multinacional e suas subsidiárias pode garantir ganhos de eficiência e descentralizar operações centrais. Existe ainda a estratégia de integração complexa, utilizada em países com concorrência elevada. Nesses casos, a empresa entra no mercado principalmente por meio de aquisições ou fusões, com vistas a atingir uma posição mais competitiva no cenário internacional, bem como participar em redes de negócios regionais. Rezende (2006) afirma que a evolução da filial sofre impacto dos relacionamentos que envolvem os agentes internos e externos. Para Rezende (2006) o processo de internacionalização pode significar independência, que se refere à autonomia da subsidiária para executar suas operações que podem ir além do seu espaço inicial de atuação ou 3 interdependência, que se associa à condição da filial de possuir produtos e operações de outras filiais para aperfeiçoar suas atividades. Sobre a função das subsidiárias, muitas empresas não definem estratégias claras para suas filiais, por acreditarem que isso representa custos elevados. Khanna e Palepu (2006) apontam que existem diferentes tipos de consumidores: 1. global, que deseja bens de outros países; 2. o global, que deseja os bens produzidos nos países mais ricos, porém pagaria menos por eles; 3. o local, que demanda bens com qualidade, porém com preços menores; 4. o base-inferior, que busca o menor preço disponível. O que se conclui é que as estratégias adotadas nas filiais variam de acordo com o perfil dos consumidores do mercado das filiais. TEMA 2: IMPACTOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS DAS ESTRATÉGIAS DAS EMPRESAS As empresas multinacionais possuem competências restritas às funções econômicas que desempenham, porém são sujeitos de direito internacional público, isto é, possuem direitos e obrigações sociais e ambientais, relacionadas aos efeitos de suas atividades sobre o bem-estar dos indivíduos. As firmas transnacionais afetam a qualidade de vida das regiões em que ingressam, tendo impactos positivos e negativos nos Estados receptores. Essas empresas atuam em cadeias produtivas, empregando uma quantidade elevada de mão de obra e recursos ambientais. Na busca por vantagens competitivas associadas com estratégias de larga escala, muitas empresas violam os padrões trabalhistas, ambientais e de direitos humanos mínimos. Esse aspecto fica mais evidente em países que possuem instituições frágeis e sem monitoramento dos impactos das atividades dessas empresas. Segundo Durning "a elevação dos níveis de consumo compromete a preservação ambiental, à medida que a produção dos bens de consumo está prejudicando a qualidade do meio-ambiente" (Durning, 1992, s/p). Poucas são as iniciativas concretas baseadas na cooperação entre os Estados referentes 4 ao controle das atividades das empresas multinacionais e seus impactos sobre o meio-ambiente. De acordo com Pavan (2013), a Responsabilidade Socioambiental (RSA) faz parte do planejamento estratégico de muitas firmas, que tentam compatibilizar lucratividade com práticas que reduzam os impactos socioambientais. A percepção de que se pode obter vantagens pelas práticas de RSA é central para incentivar as empresas a terem práticas mais responsáveis. Isso contribui para criar certos valores universais comuns de proteção ambiental, buscando uma convergência de interesses entre as empresas multinacionais e a sociedade. TEMA 3: COMO NEGOCIAR COM DIFERENTES CULTURAS: ORIENTE MÉDIO, AMÉRICA LATINA E BRASIL As diferenças culturais podem impactar nas negociações entre empresas de diferentes países. Portanto, além das questões relacionadas à etiqueta e costumes locais, deve-se conhecer as distintas maneiras que indivíduos de diferentes nacionalidades negociam (Sebenius, 2002). Conforme Acuff (2004), no Oriente Médio a concepção de tempo não é estrita, assim, os empresários dessa região costumam se atrasar para reuniões, assim como os latino-americanos, porque para eles não há sentido na urgência. Os árabes são orientados à coletividade e ao trabalho em equipe, sendo as suas negociações mais lentas. Para os cidadãos de origem árabe o êxito da negociação ocorre mais quando há integração do que com a realização individual. Os latino-americanos valorizam a posição de cada pessoa, utilizando muito a linguagem corporal (Costa, 2006). De modo específico, para os brasileiros os contatos prévios, a relação amistosa e a afinidade com as partes são ferramentas de negociação. TEMA 4: COMO NEGOCIAR COM DIFERENTES CULTURAS: EUROPA OCIDENTAL, EUROPA ORIENTAL E OS NORTE-AMERICANOS Na América do Norte os negócios ocorrem em ritmo acelerado, pois se coloca ênfase sobre os lucros a curto prazo, sendo bastante individualistas. Os negócios são levados a sério, mas relações de negócios em geral são 5 informais. No que tange à comunicação, tem-se uma negociação aberta e clara. Porém, entre os norte-americanos, observa-se uma distância física nas negociações, com pouco ou sem contato físico (Acuff, 2004). Os investidores estrangeiros em geral não enfrentam muitos obstáculos nos Estados Unidos. O individualismo é valorizado nesse país. Assim, as negociações em grandes equipes são mais raras. A criação da União Europeia garantiu a livre circulação de trabalhadores, o que demonstra uma tendência a se homogeneizarem as negociações na região. Os cidadãos da Europa Ocidental e Oriental compartilham da visão dos norte-americanos em relação ao uso do tempo, sendo a vida de negócios agitada e as reuniões pontuais. Com relação à forma de trabalho, os europeus da parte ocidental em geral são individualistas, obstaculizando o desenvolvimento de relações de amizade. A ênfase recai sobre a iniciativa individual e não sobre o trabalho em equipe. Os nacionais da Europa Oriental possuem uma consciência de grupo, com as negociações focadas em decisões em equipe. Têm uma linguagem corporal mais expressiva do que os europeus ocidentais. No que tange à comunicação, os europeus orientais são diretos. Os estilos de comunicação podem parecer mais agressivos, mesmo sendo simpáticos (Acuff, 2004). TEMA 5: ONDE AS EMPRESAS MULTINACIONAIS INVESTEM E ONDE NÃO INVESTEM A respeito das decisões de investir, as empresas multinacionaisinvestem em países nos quais os seus cálculos apontam uma probabilidade elevada de conseguirem mais lucros. Contudo, os julgamentos de valor e controvérsias aparecem após a entrada no mercado externo (Cohen, 2007). O primeiro aspecto considerado na decisão de onde investir é a projeção de custos de produção e dos preços cobrados pelos produtos para poder analisar o lucro esperado. Um segundo aspecto está associado ao ambiente de negócios do país receptor, se é um ambiente amigável para os negócios. Esses elementos definem como um país parece atrativo ou não para investidores estrangeiros. Outro aspecto se relaciona às políticas governamentais para o investimento externo direto que o país candidato adota. 6 Assim, se o governo tem uma predisposição a facilitar as negociações, esse país se torna mais atrativo que outros (Cohen, 2007). A União Europeia, os Estados Unidos e o Japão foram os principais fornecedores e receptores de IED (investimento estrangeiro direto) por mais de metade de um século. Entre 1998 e 2000 representavam 75% do IED global. Contudo, esses países têm os melhores salários e o trabalhador representa um custo de produção elevado. Outros dois importantes receptores de IED são Irlanda e Espanha, que têm uma mão de obra um pouco mais barata, mas ainda assim com custo elevado (Cohen, 2007). NA PRÁTICA Porque os investidores ainda preferem a China a Índia? Baseado em Cohen (2007): A China tem um regime político ditatorial e oficialmente se mantém comunista. Por outro lado, a Índia é uma democracia com um sistema econômico capitalista, com taxas de crescimento elevadas nos últimos anos. Na segunda metade da década de 1990, a aceitação da China de economia de mercado desbloqueou o seu enorme potencial. Os investidores consideram a China "mais orientada para negócios" do que a Índia. Assim, estes compartilham da opinião de que a China tem mais políticas favoráveis ao investimento externo direto (IED). Contudo, observaram-se nos últimos anos avanços significativos na Índia no setor de serviços, especialmente em tecnologia da Informação. Nesse caso, o governo interfere menos nos negócios, a infraestrutura de telecomunicações tem sido suficiente para a tarefa, o que contribuiu para a entrada de subsidiárias nesse setor no país. (Cohen, 2007, s/p) SÍNTESE Nesta aula foi possível conhecer as principais estratégias das empresas multinacionais e transnacionais. Foram investigados ainda os impactos que o Investimento externo direto possui nos países receptores, pois as firmas multinacionais impactam na qualidade de vida e no meio-ambiente. Ainda, foi analisado na aula o efeito que a cultura pode imprimir nas negociações empresariais, sendo necessário um domínio dos aspectos culturais do país de origem das empresas e dos empresários para aprimorar a negociação. Apresentamos as características fundamentais mencionadas por Acuff (2004) para poder negociar com países latino-americanos, do Leste Europeu, da Europa Ocidental, da Ásia, os países árabes e os norte-americanos. Por fim, 7 foram identificados os aspectos analisados pela empresa no momento da decisão a respeito de onde se deve investir e onde não investir. Os principais fatores considerados são os custos e as possibilidades de lucro. REFERÊNCIAS ACUFF, F. Como negociar qualquer coisa, com qualquer pessoa, em qualquer lugar dom mundo. São Paulo: Senac, 2004. COHEN, S. D. Multinational corporations and foreign direct investment: avoiding simplicity, embracing complexity. New York: Oxford University Press, 2007. DURNING, A. How much is enough? The consumer society and the future of the earth. Nova York: W. W. Norton & Company, 1992. KHANNA, T.; PALEPU, K. Emerging giants: building world-class companies in developing countries. Havard Business Review, p. 60-69, out. 2006. PAVAN, K. R. et al. A Responsabilidade Socioambiental das empresas estrangeiras no Brasil: uma Comparação com as empresas de capital nacional. Anais do IV Encontro de Estudos em Estratégia, Bento Gonçalves, 19 a 21 mai. 2013. REZENDE, S. F. L. Multinationals and interdependence in internationalization processes. Brazilian Administration Review, v. 3, n. 1, p. 1-16, 2006. SEBENIUS, J. K. The hidden challenge of cross-border negotiations. Harvard Business Review, Cambridge, v. 80, n. 3, p. 4-12, mar. 2002. CONTEÚDO COMPLEMENTAR TEMA 1 Leitura complementar: Para entender melhor o papel das filiais das empresas multinacionais, leia o texto O papel das multinacionais no desenvolvimento 8 tecnológico do Brasil: políticas industriais como indutoras de catch up tecnológico. Acesse em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102- 88392005000200004>. TEMA 2 Saiba mais: Para compreender o impacto ambiental, social e cultural das empresas transnacionais, assista ao documentário Food Inc. que retrata o controle da multinacional Monsanto sobre a indústria alimentícia global e os perigos desses alimentos para a saúde e para o meio ambiente. Acesse em: <https://www.youtube.com/watch?v=xK1jAP6c5nQ>. TEMA 3 Saiba mais: Para conhecer melhor a influência da cultura nas negociações internacionais, assista ao documentário que segue. Acesse em: <https://www.youtube.com/watch?v=xm2ubvvGeOs>. TEMA 4 Leitura complementar: Leia o texto A cultura nacional e as negociações comerciais internacionais: um comparativo entre negociadores brasileiros e italianos, de Floriani, para entender melhor os aspectos culturais importantes na negociação com brasileiros e italianos. Acesse em: <http://www.anpad.org.br/diversos/trabalhos/EnANPAD/enanpad_2003/GIN/20 03_GIN1942.pdf>. TEMA 5 Leitura complementar: Para entender melhor os aspectos considerados na decisão de qual país investir, leia o texto de Galina; Camillo e Consoni (2011) que explica porque as empresas multinacionais investem em P&D nos países em desenvolvimento. Acesse em: <http://www.anpad.org.br/admin/pdf/GCT2094.pdf>. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-88392005000200004 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-88392005000200004 https://www.youtube.com/watch?v=xm2ubvvGeOs
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