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UNIDADE 1 - Aspectos Introdutórios aos Direitos Humanos e Cidadania (AULA)

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Terminologia 
 
A expressão “direitos humanos” chegou no século XXI com grande força e vitalidade, sendo largamente 
utilizada em manifestações da sociedade civil, em questões políticas e para reivindicar novos direitos. Pelo 
uso excessivo e, por vezes, indiscriminado da expressão, ela acaba por incorrer em certa vagueza e 
imprecisão; diante disso, Rey Pérez afirma que a 
“expressão Direitos humanos é problemática por dois motivos: porque apresenta diversos significados e 
porque existem diversas palavras que querem expressar seu conceito” (PÉREZ, 2011, p. 19, tradução 
nossa). 
Algumas expressões, geralmente, são empregadas para se fazer menção a tais direitos: direitos 
fundamentais, direitos naturais, direitos do homem, direitos individuais, direitos humanos fundamentais, 
liberdades públicas etc. No campo doutrinário, são observadas advertências para a ausência de consenso 
quanto à terminologia mais adequada para se referir aos direitos humanos e aos direitos fundamentais que 
revelam pontos de vista favoráveis e contrários ao emprego desses ou daqueles termos. Normalmente, a 
expressão “direitos humanos” é empregada para denominar os direitos previstos nas declarações e 
convenções internacionais, ao passo que “direitos fundamentais” são aqueles que passaram a ganhar relevo 
nas cartas constitucionais dos Estados nacionais. 
Pode-se afirmar que os direitos humanos formam um conjunto de faculdades e instituições que, em cada 
momento histórico, concretizam as exigências da dignidade, da liberdade e da igualdade, as quais devem ser 
reconhecidas pelos ordenamentos jurídicos em níveis nacional e internacional; portanto, possuem, ao mesmo 
tempo, caráter descritivo (direitos e liberdades reconhecidos nas declarações e convenções internacionais) e 
prescritivo (alcançam as exigências mais vinculadas ao sistema de necessidades humanas e que, devendo ser 
objeto de positivação, ainda assim, não foram consubstanciados). 
Para se chegar nesse nível de compreensão, o processo evolutivo dos direitos humanos passou por diversos 
momentos, podendo ser assinalados marcos históricos relevantes na Antiguidade, especialmente na Grécia e 
Roma; na Idade Média, com a Magna Carta de 1215; na Idade Moderna, especialmente com as Declarações 
de Direitos cujo destaque é a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, que denota grande 
relevância por representar “o atestado de óbito do Ancien Régime”, constituído pela monarquia absoluta e 
pelos privilégios feudais, traduzindo-se como primeiro elemento constitucional do novo regime político; e 
na Era Contemporânea, especialmente com as mudanças produzidas no sistema internacional após a 
Segunda Guerra Mundial e a consequente criação da Organização das Nações Unidas, em 1945, em que a 
valorização dos direitos humanos passou a ter uma dimensão universal, com desdobramentos e repercussões 
para os Estados nacionais. 
Atualmente, é possível afirmar que nenhum indivíduo se sobrepõe aos demais, no entanto, para chegarmos a 
esse estágio, foram criadas, paulatinamente, as instituições jurídicas de defesa da dignidade humana contra a 
violência, o aviltamento, a exploração e a miséria. A dignidade humana apresenta-se como valor básico que 
fundamenta os direitos humanos e tende a explicitar e satisfazer as necessidades da pessoa humana na esfera 
moral. 
Aspectos históricos 
 
Segundo Norberto Bobbio ([s.d.]), todas as declarações recentes de direitos humanos compreendem, além 
dos direitos individuais tradicionais, que consistem em liberdades, também os chamados direitos sociais, que 
se constituem de poderes. Os primeiros exigem da parte dos outros (incluídos, aqui, os órgãos públicos) 
obrigações puramente negativas, que implicam a abstenção de determinados comportamentos; os seguintes 
só podem ser realizados se for imposto a outros (incluídos aqui os órgãos públicos) um certo número de 
obrigações positivas. Eles são antinômicos no sentido de que o desenvolvimento deles não pode proceder 
paralelamente: a realização integral de uns impede a realização integral de outros. 
Pode-se afirmar que a compreensão dos direitos humanos guarda relação com os documentos produzidos no 
sistema internacional, como Declarações (Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948) e outros 
tratados internacionais (Pactos de Direitos Civis e Políticos, de 1966 etc.), por se referirem àquelas posições 
jurídicas que reconhecem o ser humano como tal, independentemente de sua vinculação com determinada 
ordem constitucional, ao passo que a terminologia que se aplica no plano doméstico dos Estados nacionais 
relaciona-se aos direitos fundamentais na medida em que são reconhecidos na esfera do direito 
constitucional positivo de determinado Estado. 
Os direitos fundamentais constituem a principal garantia aos cidadãos de um Estado de Direito de que os 
sistemas jurídico e político em seu conjunto serão orientados pelo respeito e pela promoção da dignidade da 
pessoa humana. Aliás, a valorização da dignidade da pessoa humana ganhou importância tanto no âmbito do 
direito interno dos Estados (com a previsão legislativa consagrada nas constituições substanciais e/ou 
formais na categoria de direito fundamental e, por vezes, na categoria de estrutura organizacional dos 
próprios Estados) como no plano internacional (em especial, com a celebração de vários tratados 
internacionais). Esse princípio, o da dignidade da pessoa humana, adquiriu contornos universalistas desde 
que a Declaração Universal de Direitos do Homem o concebeu em seu preâmbulo: 
Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus 
direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo. [...] Considerando 
que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta, sua fé nos direitos fundamentais do homem, na 
dignidade e no valor da pessoa humana e na igualdade de direitos do homem e da mulher, e que decidiram 
promover o progresso social e melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla. (UNICEF, [s.d.]) 
Na sequência, em seu artigo 1º, proclamou que todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade 
e direitos; dotados de razão e consciência, devem agir uns para com os outros em espírito e fraternidade. 
Jorge Miranda (2000) sistematizou características da dignidade da pessoa humana: a) reporta-se a todas e a 
cada uma das pessoas, é individual e concreta; b) cada pessoa vive em relação comunitária, mas a dignidade 
que possui é dela mesma e não da situação em si; c) o primado da pessoa é o do ser e não o do ter e a 
liberdade prevalece sobre a propriedade; d) a proteção da dignidade das pessoas está além da cidadania 
portuguesa e postula uma visão universalista da atribuição de direitos; e) a dignidade da pessoa pressupõe a 
autonomia vital da pessoa, a sua autodeterminação relativamente ao Estado, às demais entidades públicas e 
às outras pessoas. 
 
 
 
 
 
 
 
Fundamentos 
 
O tema relativo aos direitos humanos, notadamente os que estão relacionados a violações sistemáticas de 
direitos, surge com frequência entre as preocupações dos estudos voltados às ciências jurídicas e sociais e 
suscitam debates calorosos. Ao longo dos anos, variaram as correntes, os enfoques e os instrumentos de 
análise empregados desde a tradição clássica até os estudos contemporâneos, por isso a importância de se 
conhecer os antecedentes históricos sobre os direitos humanos, que, aliás, não se apresentam como 
“produtos acabados”, ao contrário, demandam evolução contínua e alargada na medida em que há novas 
demandas e espaços que se apresentam em sociedade. 
Não restam dúvidas de que o assunto é vasto, múltiplo e complexo, e delimitá-lo torna-se tarefa necessária 
na atual conjuntura social, permeada pela regulação jurídica e pela presença de operadores jurídicos cada 
vez mais requisitados para atuar diante do descumprimentodo Estado de suas obrigações de efetivar os 
direitos econômicos, sociais e culturais, bem como promover as condições básicas de dignidade para a 
pessoa humana como uma indispensável medida de promoção da inclusão econômica e social. 
Conforme acentuado, o marco que se tornou a grande alavanca no processo de internacionalização dos 
direitos humanos foi a Carta das Nações Unidas, de 1945, que, em seu art.1º, deixa claro o objetivo de se 
buscar uma cooperação internacional para a solução de problemas de caráter econômico, social, cultural ou 
humanitário, promover e estimular o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais para todos, 
sem distinção de raça, sexo, língua ou religião. 
Observamos que há, nos dias atuais, grande preocupação na tutela dos direitos humanos (seja no plano 
doméstico, seja no plano internacional), porém, por outro lado, são evidentes as lesões de diversas matizes 
que aviltam a dignidade humana. Não se pode olvidar que muitas lesões que são produzidas em relação aos 
direitos humanos decorrem do momento que vive a humanidade e, em larga medida, impulsionadas pela 
globalização; por essa razão, o conhecimento da matéria se torna imprescindível para a utilização de 
instrumentos e mecanismos que estão à disposição das pessoas físicas para fazer frente aos abusos, 
atrocidades e barbáries, seja utilizando o arcabouço jurídico normativo que se apresenta no plano doméstico, 
seja pelos que estão disponíveis no sistema internacional. 
Os direitos humanos, que pertenciam ao domínio constitucional, estão em migração contínua e progressiva 
para uma direção internacional que os elege e acomoda suas tensões em padrões primários supranacionais. 
Nota-se que, na busca incessante do reconhecimento, desenvolvimento e realização dos maiores objetivos 
por parte da pessoa humana e contra as violações perpetradas pelos Estados e pelos particulares, o direito 
tem se mostrado um instrumento vital para a uniformização, fortalecimento e implementação da dignidade 
da pessoa humana, que constitui um verdadeiro valor que deve, impreterivelmente, servir de orientação a 
qualquer interpretação do direito que a regulamenta. 
 
Introdução 
 
Caro estudante, atualmente, existe um rol significativo de direitos humanos reconhecidos no plano 
internacional e interno dos Estados que envolvem os direitos civis, políticos, sociais, econômicos, culturais, 
de meio ambiente, da paz etc. A abordagem histórica para a compreensão do estudo dos direitos humanos é 
relevante e tem-se discutido a forma e o momento em que os mesmos foram concebidos. 
A presente aula se propõe a apresentar a classificação dos direitos humanos a partir dos estudos formulados 
por Karel Vasak e que correspondem aos denominados direitos de primeira dimensão ou geração, direitos de 
segunda dimensão ou geração e direitos de terceira dimensão ou geração. A classificação apresentada pelo 
referido autor passou a ser utilizada pela doutrina, pela jurisprudência e, também, pelas práticas nacional e 
internacional. 
Os direitos humanos não se desenvolveram no mesmo período. Ao contrário, os direitos inerentes à pessoa 
humana foram sendo modificados e alargados com o passar dos anos, a partir de contextos históricos 
distintos. 
 
 
Terminologia 
 
Karel Vasak (1979), ao realizar uma palestra no Instituto Internacional de Direitos Humanos cuja sede se 
encontra em Estrasburgo, no ano de 1979, apresentou uma classificação sobre os direitos humanos que levou 
em consideração antecedentes históricos importantes e, de forma didática, identificou as fases evolutivas dos 
direitos humanos a partir do que ficou conhecido como dimensões ou gerações de direitos humanos. Nesse 
sentido, o autor, ao levar em conta a história e as aspirações axiológicas que culminaram numa identidade 
própria, classificou os direitos em primeira, segunda e terceira geração. 
Os direitos de primeira geração surgiram com as revoluções burguesas dos séculos XVII e XVIII e 
valorizavam a liberdade; os direitos de segunda geração decorreram dos movimentos sociais democratas que 
se desenvolveram, especialmente, no início do século XX, como a Revolução Russa cuja ênfase precípua 
estava ancorada na igualdade; e os direitos de terceira geração estão intimamente ligados às experiências 
sofridas pela humanidade por ocasião da Segunda Guerra Mundial e da onda de descolonização que a 
seguiu, refletindo os valores da fraternidade. 
Com base nos estudos de Vasak, criou-se o entendimento sobre a classificação dos direitos humanos a partir 
das três dimensões acima consagradas, sendo, portanto, admitida pela doutrina e pela jurisprudência, no 
plano interno e no sistema internacional; ademais, os estudos acabaram ganhando novos contornos com a 
formulação de novas classificações, como os direitos de quarta e de quinta dimensão. Com efeito, apesar da 
aceitação pela jurisprudência e pela doutrina, por ser uma compreensão bastante didática, há de se apresentar 
uma ressalva: está se consubstancia em aportes doutrinários fortes, como nos estudos formulados por 
Antônio Augusto Cançado Trindade (1997), que registrou, com propriedade, que, ao se classificar os direitos 
humanos a partir de gerações, é possível levar a um mal-entendido de que os direitos inerentes à pessoa 
humana se fragmentam. 
Por óbvio que os direitos humanos não se ‘sucedem’ ou acabam por substituir uns aos outros; ao contrário, 
eles se expandem e se fortalecem. Os direitos humanos consagrados revelam a natureza complementar de 
todos os direitos voltados à proteção dos indivíduos, porém, conforme anteriormente assinalado, a 
classificação por ondas geracionais ou dimensionais que foram formuladas por Vasak (1979) demonstra, de 
maneira clara, como os direitos humanos foram conquistados ao longo do tempo, em particular, com marcos 
teóricos dos séculos XVIII, XIX e XX, ao se identificar os direitos civis e políticos, os direitos econômicos, 
sociais e culturais e os direitos da autodeterminação dos povos, do meio ambiente equilibrado etc., 
respectivamente. Os direitos anteriormente identificados podem, também, ser compreendidos, para melhor 
compreensão e caracterização, a partir da tríade: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. 
Assim, pode-se afirmar que os denominados direitos de primeira geração ou dimensão estão voltados aos 
direitos individuais; já os direitos de segunda dimensão relacionam-se aos direitos coletivos; por fim, os de 
terceira dimensão têm pertinência com os direitos de natureza difusa. 
 
Dimensões 
 
Os direitos de primeira geração ou de base liberal se fundam numa separação entre Estado e sociedade que 
permeia o contratualismo dos séculos XVIII e XIX. O Estado desempenha papel de controle, prevenção e 
repressão de ameaça ou lesão de direito, porém, em relação aos chamados direitos de primeira geração, o 
papel do Estado, na defesa desses direitos, manifesta-se tanto em seu tradicional papel passivo (abstenção de 
violar os direitos humanos) como no que tange à atuação ativa, ao exigir ações estatais para garantia da 
segurança pública, administração da justiça etc., dividindo-se em direitos civis e direitos políticos. 
Os civis são aqueles que, mediante garantias mínimas de integridade física e moral, asseguram uma esfera 
de autonomia individual de modo a possibilitar o desenvolvimento da personalidade de cada um. Trata-se de 
direitos titulados pelos indivíduos e exercidos, em sua grande maioria, individualmente, embora alguns 
somente possibilitem o exercício coletivo (liberdade de associação). O Estado tem o dever de abstenção ou 
de não impedimento e de prestação, devendo criar instrumentos de tutela, como a polícia, o judiciário e a 
organização do processo; no que tange aos direitos políticos, que encontram seu núcleo no direito de votar e 
ser votado, a seu lado se reúnem outras prerrogativas decorrentes daquele status, como o direito de postular 
umemprego público, de ser jurado ou testemunha, de prestar o serviço militar e, até, de ser contribuinte. 
Os direitos de segunda geração correspondem aos direitos sociais, econômicos e culturais que resultam da 
superação do individualismo possessivo decorrente das transformações econômicas e sociais ocorridas no 
final do século XIX e início do século XX, especialmente pela crise das relações sociais decorrentes dos 
modos liberais de produção, acelerada pelas novas formas trazidas pela Revolução Industrial. 
Os direitos sociais são aqueles necessários à participação plena na vida da sociedade, incluindo o direito à 
educação, a instituir e manter a família, à proteção à maternidade e à infância, ao lazer, à saúde etc. Os 
direitos econômicos destinam-se a garantir um padrão mínimo de vida e segurança material, de modo que 
cada pessoa desenvolva suas potencialidades, e os direitos culturais dizem respeito ao resgate, estímulo e 
preservação das formas de reprodução cultural das comunidades, bem como à participação de todos nas 
riquezas espirituais comunitárias. 
Quanto aos direitos de terceira geração, estes surgiram como resposta à dominação cultural e como reação 
ao alarmante grau de exploração não mais da classe trabalhadora dos países industrializados, mas das nações 
em desenvolvimento e por aquelas já desenvolvidas, bem como pelos quadros de injustiça e opressão no 
próprio ambiente interno dessas e de outras nações revelados mais agudamente pelas revoluções de 
descolonização ocorridas após a Segunda Guerra Mundial; aliás, atuam, ainda, como afirmação 
contemporânea de interesses que desconhecem limitações de fronteiras, classe ou posição social e se 
definem como direitos globais ou de toda a humanidade (direito à paz, à autodeterminação dos povos e ao 
meio ambiente equilibrado). 
Hodiernamente, há autores que defendem a existência dos direitos de quarta e quinta dimensão; os de quarta 
são voltados ao direito à democracia, à informação e ao pluralismo; já os direitos de quinta geração são 
aqueles que levam em consideração o cuidado, a compaixão e amor por todas as formas de vida, 
reconhecendo que a segurança humana não pode ser plenamente realizada se não identificar o indivíduo 
como parte do todo. Ambos estão voltados, especialmente, para a identidade individual, patrimônio genético 
e à proteção contra o abuso das técnicas de clonagem. 
 
Fundamentos das ondas dimensionais dos direitos 
humanos 
 
O órgão do Estado, ao realizar vistoria em uma determinada propriedade rural, constatou que a mesma não 
cumpria sua função social (artigo 5º, XXIII, da CF/88), classificando o imóvel como improdutivo. Com base 
nessa declaração, o chefe do Poder Executivo emitiu um decreto declarando o imóvel de interesse social 
para fins de reforma agrária e iniciou um processo administrativo de desapropriação por interesse social nos 
termos do artigo 184 da Constituição da República. Inconformado com a decisão administrativa, o 
proprietário do imóvel impetrou Mandado de Segurança em face do chefe do Poder Executivo, alegando, 
entre outros fundamentos, a inexpropriabilidade do seu imóvel rural para efeito de reforma agrária, pelo fato 
de ele se situar em área de relevante interesse ambiental, definida pela Constituição da República como 
patrimônio nacional (BRASIL, 1988). 
O caso foi, afinal, apreciado pelo Poder Judiciário, que, em decisão proferida sobre a matéria, entendeu que 
o direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, típico direito de terceira geração, de caráter 
difuso, e o consequente dever do Poder Público de proteção ao patrimônio ambiental não impediriam, a 
priori, a intervenção estatal na propriedade privada em razão de relevante interesse social, uma vez que o art. 
225 da CF/88 não proíbe a utilização das áreas constitucionalmente declaradas como patrimônio nacional 
para fins de reforma agrária, desde que respeitadas as condições necessárias à preservação ambiental, na 
forma da lei. 
A partir do caso acima apresentado, é possível identificar o conflito que envolve direitos de diferentes 
dimensões, sendo certo, nesse particular, a colisão de direitos de primeira, de segunda e de terceira geração, 
isso porque estão presentes o direito individual à propriedade privada, previsto no artigo 5º, inciso XXII; o 
direito coletivo à reforma agrária, previsto no artigo 5º, inciso XXIV cominado com o artigo 184 e o artigo 
6º; e, por fim, o direito de todos ao meio ambiente equilibrado, previsto no artigo 225, todos da Constituição 
da República Federativa do Brasil de 1988. 
A verdade é que, embora estejam devidamente tutelados na Carta Magna e consagrados em tratados 
internacionais de direitos humanos, o embate de direitos se apresenta como uma realidade na sociedade 
hodierna, pois envolve interesses que se apresentam, por vezes, em campos antagônicos, como no caso 
acima indicado. 
A partir desses aspectos suscitados, surgiu a necessidade de compatibilização dos interesses evidenciados. 
Sem embargo, a partir de fatos e casos concretos, tornou-se possível indicar quais direitos devem ceder em 
favor de outros, independentemente das gerações envolvidas, ou seja, não há hierarquia ou aspectos 
preponderantes que, a priori, possam indicar a validade de um direito de primeira, de segunda ou de terceira 
geração, mas, sim, a partir da ponderação de valores que ensejam a interpretação dos casos apresentados. 
 
 
 
 
 
Introdução 
 
Caro estudante, Herkenhoff conceitua cidadania como a qualidade ou o status de cidadão e ressalta que o 
conteúdo de cidadania se ampliou historicamente, ultrapassando os conteúdos civil e político de sua 
formulação original. Em sua opinião, além da dimensão civil e política, a cidadania possui outras quatro 
dimensões: social, econômica, educacional e existencial. 
A cidadania se apresenta como status e, ao mesmo tempo, como objeto de direito fundamental das pessoas; 
isso porque, num mundo em que Estados ocupam um lugar central, manter vínculos e participar de um de 
um deles é estar inserido na vida jurídica e política que ele propicia, bem como se beneficiar da defesa e da 
promoção dos direitos que ele abarca na sua estruturação, tanto internamente como nas relações com outros 
Estados. 
A cidadania como um status do sujeito, enquanto um direito a ter direitos, é indispensável para a 
concretização da democracia; ela é um corolário do princípio democrático, pois reforça a dimensão do poder 
emanado pelo povo e nele fundamentado, como fonte de sua legitimação. As estruturas política e social 
erguem-se por meio da cidadania e dela não podem prescindir se, de fato, pretendem manter-se fiel ao 
modelo de Estado Democrático de Direito. 
 
 
 
 
 
 
Cidadania 
 
A análise do modelo inglês de construção da cidadania foi objeto de estudo de Thomas Humphrey Marshall; 
aliás, sua classificação se tornou parâmetro comum nas abordagens sobre cidadania, especialmente nas 
ciências sociais. Segundo seu entendimento, as liberdades se firmaram a partir de três momentos distintos, 
no decorrer de três séculos: a) os direitos civis, no século XVIII, que podem ser expressos pela igualdade 
perante a lei e pelos direitos do homem; b) os direitos políticos, que ganham amplitude no século XIX, em 
decorrência da ampliação do direito de voto, no sentido do sufrágio universal; c) os direitos sociais, no 
século XX, pela criação do Estado de Bem-Estar (Welfare State). 
A cidadania moderna, que se desenvolveu na sociedade liberal, surgiu da unificação do Estado e da 
separação funcional deste; aliás, os elementos que compõem os direitos de cidadania não surgiram em uma 
mesma época, ao contrário, tiveram sua evolução e apogeu em contextos históricos distintos. Os períodos de 
destaque de cada direito da cidadania ficam nítidos nessa busca de caminhos distintos e autônomos desses 
elementos. Com efeito, embora a origem e o crescimentoda cidadania tenham ocorrido em meio ao 
desenvolvimento capitalista, caracterizado por desigualdades, fundamenta-se em uma ideia de igualdade 
básica, já que constitui um status concedido àqueles que são membros integrais de uma comunidade. Logo, 
a cidadania é compatível com a desigualdade de classes, porque, não obstante a sociedade ser estratificada 
em classes e surgirem desigualdades entre elas, pelos direitos mínimos garantidos, cria-se mecanismos de 
igualdade social. 
No Brasil, pode-se afirmar que a cidadania passa por uma crise peculiar, em razão do desenvolvimento 
histórico que fugiu à trajetória desenhada por Marshall em relação ao modelo da Inglaterra, posto que, nesse 
país, o processo levou à consolidação dos direitos civis, políticos e sociais à medida que o exercício de um 
conduzia a conquista do outro, operando uma lenta edificação movida pelo próprio povo, sedimentando-se 
como um sólido valor coletivo. 
Os direitos políticos precederam os direitos civis; a cidadania foi arquitetada de cima para baixo, com o 
Estado paternalista aquinhoando direitos políticos às pessoas sem que houvesse uma real reivindicação e 
conquista desses mesmos direitos, o que prejudicou a consolidação da consciência cidadã no Brasil, em 
função da falta de sentimento constitucional. A herança colonial deixou marcas no campo dos direitos civis, 
pois a escravidão, os latifúndios e o Estado patrimonialista comprometido com interesses privados foram 
transpostos para o novo país e perduraram por um longo período, o que dificultou a solidificação dos direitos 
civis; aliás, a trajetória sucintamente descrita revela que o modelo tradicionalmente propalado de cidadania 
definido por Marshall não foi seguido no Brasil, onde os direitos políticos foram “outorgados” por uma elite 
dominante. Todo o quadro gerou um déficit ou uma “deformação” no rumo da cidadania, principalmente em 
relação à eficácia dos direitos fundamentais no Brasil, vistos como uma “generosidade” das elites e uma 
possibilidade remota de compromisso por parte do Estado brasileiro, que perpetua e legitima a concentração 
de renda e a desigualdade social. 
 
Cidadania - aspectos históricos 
 
 
 
A cidadania ocupa papel central na construção do Estado Democrático de Direito, tendo em vista que este 
não pode prescindir da participação popular como fonte legitimadora, bem como se apresenta como fator 
indispensável para a promoção da inclusão social e o combate à desigualdade. 
O cidadão se apresenta como agente reivindicante que autoriza o desabrochar de direitos novos, por isso, a 
nova ideia de cidadania requer a expansão dos processos de realização democrática, inclusive a adoção de 
técnicas inovadoras de participação direta como instrumentos novos de acesso do povo à condução do poder 
público, sem prejuízo dos recursos democráticos tradicionais, além de toda uma construção social que retrate 
efetivamente os intentos dos cidadãos expressos na ordem constitucional e que seja capaz de refletir o tipo 
de sociedade almejado pela soberania popular. 
No Brasil, há vários problemas, inclusive de natureza histórica, voltados à organização da participação 
popular e ao consequente exercício da cidadania, especialmente por meio dos movimentos sociais, levando-
se em consideração o relevante papel que desempenham na consolidação do Estado Democrático de 
Direito. 
A herança colonial deixou marcas no campo dos direitos civis, pois a escravidão, os latifúndios e o Estado 
patrimonialista comprometido com interesses privados foram transpostos para o novo país e perduraram por 
um longo período, dificultando a solidificação dos direitos civis. Na ideia de república, encontra-se 
embutida não a noção de “quem manda”, mas “para quê”; o poder está a serviço do bem comum, da coisa 
coletiva ou pública como um bem superior ao particular; condena-se a tendência de quem está no poder a se 
apropria do bem público como se fosse sua propriedade privada, conquanto seja menos exigente em relação 
aos cidadãos, posto que aceita que estes sejam movidos, sobretudo, por seus interesses particulares. Bem 
mais do que um regime específico, a república consiste num modo de exercer o poder voltado à coisa 
pública e cujo poder é atribuído pelo povo em eleições periódicas. O maior antagonista da república nos dias 
de hoje não é tanto a monarquia, mas a usurpação da coisa pública por interesses particulares, ou seja, o 
patrimonialismo que, infelizmente, é um traço característico da história “republicana” brasileira. 
O patrimonialismo significa que o Estado é visto como um bem pessoal, patrimônio que designa a 
propriedade transmitida por herança de pai para filho; o Estado é dirigido pelo governante como uma 
empresa pessoal, no quadro do capitalismo mercantil, e, como consequência, gera corrupção ao seu redor e 
neutraliza a iniciativa dos produtores. A corrupção se torna um dado intrínseco ao sistema como resultado de 
uma exacerbação do Estado e não uma mera prática pessoal. Enfim, a marca do patrimonialismo permeia a 
organização do espaço público brasileiro e dá um contorno ao Estado pouco movido pela busca dos 
interesses da coletividade, assim, os grupos menos favorecidos da sociedade sucumbem devido à falta de 
políticas públicas realmente voltadas para a realização de planos de melhoria da condição de vida de 
segmentos expressivos de cidadãos, que, geralmente, são lembrados como cidadãos apenas nos períodos 
eleitorais. Tudo isso revela um modelo de sociedade no qual a república foi proclamada, porém muito pouco 
vivenciada e cujo espírito público pouco influi sobre a construção coletiva e estatal, caracterizando uma 
cidadania de baixa densidade. 
 
 
 
 
 
 
A cidadania na formação do estado democrático de 
direito 
 
A cidadania como um status do sujeito, como um direito a ter direitos, é indispensável para a concretização 
da democracia; ela é um corolário do princípio democrático, pois reforça a dimensão do poder emanado pelo 
povo e nele fundamentado, como fonte de sua legitimação. As estruturas política e social se erguem por 
meio da cidadania e dela não podem prescindir se, de fato, pretendem manter-se fiel ao modelo de Estado 
Democrático de Direito. A cidadania, definida pelos princípios da democracia e do pluralismo político, 
constitui-se da criação de espaços sociais de canalização de conflito e de luta (movimentos sociais) e da 
fixação de instituições permanentes para a expressão política (partidos, órgãos públicos), significando 
conquista e consolidação social e política. A cidadania passiva, outorgada pelo Estado, diferencia-se da 
cidadania ativa, na qual o cidadão, portador de direitos e deveres, é essencialmente gerador de direitos para 
abrir novos espaços de participação política. 
Não se pode olvidar de estabelecer uma inter-relação entre cidadania e direitos humanos em razão da 
identificação e pertinência dos conceitos, mas pelo fato de que a evolução de um acarreta a implementação 
do outro, portanto, é possível apresentar dimensões política, civil e social da cidadania. 
Ser cidadão implica a efetiva atribuição de direitos nas três esferas mencionadas, porque careceria de sentido 
participar do governo sem condições de fazer valer a própria autonomia, bem como sem dispor de 
instrumentos asseguradores das prestações devidas pelo Estado, em nome da igualdade de todos. A 
cidadania pressupõe participação efetiva na vida política e com preservação do poder de autodeterminação 
pessoal, seja em termos de impor abstenções ao Estado, seja em termos de lhe exigir prestações. 
Nos Estados contemporâneos, a técnica da representação popular é indispensável para a manifestação da 
vontade coletiva, contudo, a cidadania não se limita à manifestação periódica, por meio de eleições, para a 
composição dos cargos eletivos dos poderes executivo e legislativo; o seu conteúdo vem sendo revisto e tem 
sofrido reformulação. 
Numaconjuntura na qual se intensifica a circulação das pessoas e em que, apesar dos pesares, afirma-se a 
liberdade individual, a pertença a uma comunidade política, embora sendo permanente, já não tem de ser 
perpétua como no passado; de acordo com as projeções de Jorge Miranda, o direito à cidadania, 
futuramente, será acompanhado, dentro de determinados limites, de um direito de escolha da cidadania. Em 
suma, a cidadania não é um dado, mas um construído pelos próprios cidadãos nas suas dimensões civil, 
política, social, jurídica, econômica, cultural entre outras. Os cidadãos são os reivindicantes e portadores do 
poder estatal exercido pelos representantes por eles escolhidos, conforme os parâmetros instituídos em lei. 
 
Introdução 
 
Caro estudante, a participação popular se apresenta como necessidade fundamental e sua ausência cria e 
recria antagonismos espaciais, degenerando-se em violência tanto na esfera pública quanto na privada, pois 
são esferas absolutamente imbricadas e que se retroalimentam constantemente, mantendo um status quo 
aparentemente imutável. Trata-se de uma modalidade de política pública de longo prazo que tem a pretensão 
de atingir a raiz da problemática e não os sintomas ou consequências, bem como parte do princípio de que as 
pessoas precisam compreender o paradigma posto pela “Era dos Direitos Humanos” e sua mensagem 
normativa humanitária. 
O modo de vida humano está encravado numa cultura que gera o individualismo, o medo e o autoritarismo 
numa perene desconsideração da alteridade do outro como um igual; esse é o espectro que nos acompanha, 
evidenciando, portanto, que persiste um hiato entre os atos cotidianos públicos e privados atentatórios à 
alteridade e dignidade humanas, bem como a mensagem humanística contida nos documentos de direitos 
humanos universalmente reconhecidos. 
 
 
 
 
Princípios 
 
O princípio da cidadania figura como um corolário do princípio democrático. O poder emanado do povo se 
manifesta por meio do exercício da cidadania nas suas mais amplas possibilidades; em qualquer das 
modalidades democráticas (direta, indireta ou semidireta) a cidadania se encontra presente e é indispensável 
para a caracterização do regime. 
A ideia de cidadania aparece nos estudos de Celso Lafer (1999), principalmente na abordagem sobre a crise 
dos direitos humanos, que tem repercussão direta na condição de total dominação dos indivíduos almejada 
pelos Estados totalitários, pois, em tais estruturas, as pessoas, muitas vezes, são tratadas como supérfluas, 
sem lugar no mundo. Para Hannah Arendt (1989), os direitos humanos pressupõem a cidadania como um 
princípio, pois a privação da mesma repercute na condição humana, posto que o ser humano privado de 
proteção conferida por um estatuto político esvazia-se da sua substância de ser tratado pelos outros como 
semelhante, isto é, como igual. Disso, conclui-se que o primeiro direito humano é o direito a ter direitos, o 
que só é possível mediante o pertencimento, pelo vínculo da cidadania, de algum tipo de comunidade 
juridicamente organizada e ser tratado dentro dos parâmetros definidos pelo princípio da legalidade. 
Indubitavelmente, a cidadania ocupa um papel central na construção do Estado Democrático de Direito e a 
democracia não se resume apenas a um regime político com partidos e eleições livres; é, antes de tudo, uma 
forma de existência social. Uma sociedade democrática é aberta e permite, sempre, a criação de novos 
direitos; o que se nota, apesar das várias direções possíveis de estudo da cidadania, é que a participação e a 
atuação para se construir o próprio destino é inerente a sua ideia, o que muda, ao longo dos tempos, são os 
graus e as formas de participação e sua abrangência. 
A Constituição de 1988 consagra o aspecto político-jurídico da cidadania, instituindo-a como um princípio 
fundamental do Estado Democrático de Direito (art. 1º, II). Tal princípio se encontra concretizado, em 
grande medida, no Título II (Dos direitos e garantias fundamentais), Capítulo IV (Dos direitos políticos), em 
que estão incluídos os direitos e obrigações de caráter político dos cidadãos brasileiros (art. 14 a 16), porém 
não se pode olvidar que o sentido do princípio da cidadania é bem mais amplo do que a titularidade de 
direitos políticos, pois qualifica os participantes da vida do Estado, reconhecendo os indivíduos como 
pessoas integradas na sociedade estatal (art. 5º, LXXVII, da Constituição de 1988), sendo certo que o 
funcionamento do Estado estará submetido à vontade popular, o que tem conexão com a ideia de soberania 
popular (art. 1º, parágrafo único), com os direitos políticos (art. 14) e com o conceito de dignidade da pessoa 
humana (art. 1º, III), com os objetivos da educação (art. 205) como base e meta primordial do regime 
democrático. 
Muitas são as discussões em torno do pluralismo e variados os tipos de pluralismo existentes. Não bastasse 
esse nível de complexidade, o pluralismo recebe conotações que designam especificidades de acordo com o 
âmbito de seu estudo: "pluralismo político", "pluralismo social", "pluralismo jurídico" etc. Frente a essa 
amplitude de possibilidades, a atenção estará centrada em aspectos genéricos com a intenção de servir de 
suporte para pontuar o princípio do pluralismo político conforme configurado no ordenamento 
constitucional. 
 
Aspectos históricos 
 
Com base nas lições de Hannah Arendt (1989), é possível concluir que o processo de asserção dos direitos 
humanos, enquanto invenção para a convivência coletiva, requer um espaço público em que somente se tem 
acesso por intermédio da cidadania; por isso, para ela, o primeiro direito humano, do qual derivam todos os 
demais, é o direito a ter direitos e cuja experiência totalitária demonstrou que só podem ser exigidos por 
meio do acesso pleno à ordem jurídica oferecido pela cidadania, que tem relação direta com a participação 
no processo de tomada de decisões políticas. 
O caráter democrático dessa participação decorre, principalmente, da sua igualdade e liberdade, pois 
igualdade de participação significa que, nas decisões que cabem à cidadania, seus membros contam com 
igual poder de decisão, o que é expresso pela igualdade de votos (art. 14, caput, da Constituição de 1988) 
vinculada à escolha de governantes em eleições periódicas, livres e imparciais (art. 1º, parágrafo único, art. 
14, art. 60, § 4º, II) pelo igual direito de se concorrer a cargos eletivos (art. 14) e pela independência dos 
representantes eleitos pelos cidadãos (art. 1º, parágrafo único). 
A liberdade de participação significa que os cidadãos devem contar com oportunidades iguais para articular, 
esclarecer e expressar suas opiniões e interesses nos assuntos públicos, e isso se manifesta por meio da 
liberdade de expressão, que deve incluir a possibilidade de crítica do governo, do regime político, da ordem 
socioeconômica ou da ideologia prevalecente (art. 5º, IV); da liberdade de informação; do direito de buscar 
fontes alternativas de informação, que devem existir e ser protegidas por lei (art. 5º, XIV); e da liberdade de 
associação, que deve garantir, especialmente, sua independência em relação ao Estado (art. 5º, XVII) 
(BRASIL, 1988). 
A cidadania é a manifestação das prerrogativas políticas que um indivíduo tem dentro de um Estado 
Democrático, sendo certo que o exercício dessas prerrogativas é fundamental, visto que sem a participação 
política do indivíduo nos negócios do Estado e em questões de interesse público, não se pode falar em 
democracia que se encontra consubstanciada na ideia de que todo poder do Estado emana do povo (art. 1º, 
parágrafo único) (BRASIL, 1988). 
De fato, todo o poder estatal é poder de direito, sendo certo que o Estado não é o seu sujeito ou proprietário, 
mas o seu âmbito material de responsabilidade e atribuição; o Estado também não é a origem do poder e, 
sim, o povo, ou seja, o poder estatalnão está no povo, mas emana dele; aliás, esse poder é exercido por 
encargo do povo e em regime de responsabilização realizável perante ele. Esse emanar é normativo, por 
isso, deve desembocar em sanções concretas, tendo, na democracia, sua variante ativa. Segundo Friedrich 
Müller, só se pode falar com ênfase de povo ativo quando estão em vigor, praticando e respeitando os 
direitos fundamentais individuais e políticos. Portanto, a ideia de cidadania guarda proximidade e se inter-
relaciona com os conceitos de nacionalidade e de povo, embora não comporte igual significado. 
 
 
 
 
 
 
 
Fundamentos da cidadania: uma construção 
necessária no Brasil, a participação popular e as 
políticas públicas 
 
Preliminarmente, compete-nos assinalar que o pluralismo demanda uma situação na qual não haja um poder 
monolítico, mas, sim, vários centros de poder bem distribuídos territorialmente e funcionalmente; o 
indivíduo tem a otimização máxima do potencial da participação na formação das deliberações que lhe 
dizem respeito, o que é uma essência da democracia. Apesar de o pluralismo reconhecer a importância dos 
grupos, das sociedades parciais, não afasta a importância decisiva do grupo universal formado pelos 
cidadãos e diferenciado do aparelho do Estado. 
Atualmente, embora a ideia de pluralismo associa-se à democracia, como lembra Bobbio (1992), existem 
sociedades pluralistas não democráticas e democráticas não pluralistas, como a sociedade feudal era 
pluralista, mas não era democrática (era composta de um conjunto de várias oligarquias). 
Impõe-se à Constituição um rol de problemas postos pelo pluralismo político e os quais precisa enfrentar, 
tais como, a garantia da independência dos grupos em relação ao Estado; a relevância e as formas de sua 
participação no processo político; a institucionalização dos conflitos entre os diferentes grupos e entre esses 
e os cidadãos não associados. Oferecer soluções a esses problemas numa democracia é importante tanto pelo 
fato de que a presença desses grupos é positiva, posto que alavancam a participação dos cidadãos no espaço 
público, como por não excluir o receio de que a realização dos fins almejados pelos grupos seja possível às 
expensas do restante da sociedade. 
Por fim, devemos assinalar que, ao se enfatizar os desafios da construção de um modelo de pluralismo 
compatível com as demandas sociais contemporâneas, torna-se necessário sublinhar certos aspectos da 
correlação do pluralismo político-social com a democracia, tal como foi previsto no texto constitucional. 
Nessa esteira, colocamos como pontos de destaque da íntima conexão entre a democracia e o pluralismo: a) 
a contribuição para a correção da tendência de centralização e de fortalecimento do Estado junto à 
privatização do indivíduo; b) a permissão para o florescimento de sentimentos forjados para o bem coletivo, 
em oposição aos interesses privados consubstanciados em privilégios; c) a incorporação de grupos 
dominados que possuem um direito para somar esforços, visando à utilidade pública; d) a diversificação da 
representação que foi reduzida à abstração do cidadão e para limitar a soberania do Estado; e) a descrição e 
defesa de um sistema oposto à oligarquia ou a uma elite no poder; f) a constatação de que nenhum valor 
socialmente instituído é puro, absoluto e unívoco, face à diversidade de cosmovisões presentes no tecido 
social; g) a relação de cooperação social amistosa entre indivíduos desiguais nas suas oportunidades de vida, 
entretanto, iguais no fundamento que lhes dá permissão de exigir alguma coisa do seu governo, o que supõe 
o pluralismo, posto que não haveria laço durável entre indivíduos que não fossem livres para escolher e que 
se sentissem reprimidos na sua identidade e frustrados nos seus interesses; h) e a necessidade de o 
pluralismo não ficar reduzido apenas ao pluralismo de direito, mas caminhar em direção a um pluralismo de 
fato, a fim de que o consenso seja um dado fundamental da democracia. 
 
Aspectos históricos e conceituais 
 
Caros estudantes, a presente unidade de revisão se propõe a apresentar os aspectos introdutórios à disciplina, 
as abordagens históricas, conceitual, a classificação e a inter-relação entre os temas voltados aos direitos 
humanos e à cidadania. Para tanto, a compreensão de fundamentos alicerçados na doutrina, legislação e 
elementos afins tornou-se necessária para a melhor compreensão dos assuntos relativos à matéria. 
Lembre-se de que, por oportuno, na primeira aula da Unidade 1, você obteve noções introdutórias na 
perspectiva histórica em relação aos direitos humanos, bem como sobre a dignidade da pessoa humana, por 
meio da compreensão dos fundamentos e conceitos preliminares da matéria; ademais, pôde perceber que os 
direitos humanos dialogam nos sistemas interno e internacional, pois, ao serem contemplados no plano 
doméstico, dá-se uma contínua migração em direção ao sistema internacional. 
Em nossa segunda aula, foram contemplados os pontos relativos às ondas geracionais dos direitos humanos 
e, nesse particular, os direitos de primeira, segunda, terceira e até quarta e quinta dimensão. Ao partir dos 
estudos de Karel Vasak, tornou-se possível verificar que os direitos humanos não surgiram no mesmo tempo 
ou período, mas, sim, no curso da história, em particular nos séculos XVIII, XIX e XX. 
Já na terceira aula desta unidade, foram apresentadas ideias para melhor compreensão sobre cidadania e a 
sua indispensabilidade no regime de um Estado democrático. De um plano geral (estudos formulados por 
Marshall), tornou-se possível verificar aspectos da cidadania no Estado brasileiro; na quarta e última aula da 
Unidade 1, a participação popular ganhou relevo como elemento fundamental para o bom funcionamento da 
sociedade e do Estado de Direito, para tanto, a compreensão do princípio da cidadania como o papel central 
na construção do Estado Democrático de Direito tornou-se imprescindível para o fomento das políticas 
públicas. 
Nesse sentido, a partir da compreensão dos itens anteriormente indicados, você será capaz de se debruçar de 
maneira satisfatória sobre o estudo de caso, praticar os conhecimentos teóricos desenvolvidos e responder, 
de maneira fundamentada, às situações/problemas referentes ao tema da unidade I. 
 
Estudo de caso 
 
Caros estudantes, é chegado o momento de colocar em prática os conhecimentos auferidos por ocasião dos 
estudos colhidos na Unidade 1 do presente curso, assim, serão apresentados fatos e encaminhadas algumas 
questões sobre uma situação hipotética para que, ao final, você possa emitir sua opinião sobre o caso 
apresentado. 
Ao compor os quadros de um importante escritório de advocacia cuja atuação marcante está voltada à 
proteção dos direitos humanos (defesa de direitos individuais, coletivos e difusos), foi formulada uma 
consulta jurídica para ser emitido um parecer sobre o caso abaixo indicado: 
Trata-se, o presente, de uma consulta formulada pelo Sr. João Pedro, que solicita esclarecimentos referentes 
aos direitos fundamentais garantidos na Constituição Federal Brasileira no que tange à colisão do direito à 
moradia e ao direito ao meio ambiente equilibrado, com base no princípio da dignidade da pessoa humana; 
para tanto, alega que o órgão ambiental realizou vistoria em uma determinada propriedade rural e constatou 
que a mesma não cumpria sua função social (BRASIL, 1988), classificando o imóvel como improdutivo. 
Com base nessa declaração, o Presidente da República emitiu Decreto declarando o imóvel de interesse 
social para fins de reforma agrária e iniciou processo administrativo de desapropriação por interesse social 
nos termos do art. 184 da Constituição da República. Assim, questiona: 
 Como se relacionam o direito individual à propriedade privada (art. 5º, XXII), o direito coletivo à reforma 
agrária (art. 5º, XXIV c/c 184 e art. 6º) e o direito de todos aomeio ambiente equilibrado (art. 225). 
 Se há algum critério de hierarquia ou de preponderância entre eles. 
 Por fim, qual a forma mais adequada de resolução de possíveis conflitos entre esses direitos (BRASIL, 1988). 
Logo, requer a edição de parecer jurídico levando em consideração as normas vigentes, bem como o 
entendimento nos tribunais acerca da problemática. 
Reflita 
De acordo com o estudo de caso acima, você terá a oportunidade de emitir, como profissional especializado 
na matéria, seu entendimento (parecer) sobre a questão formulada. 
É possível identificar que direitos de primeira geração (direito de propriedade), de segunda geração (direito 
de moradia) e de terceira geração (meio ambiente ecologicamente equilibrado) estão em conflito. Ao 
evidenciar que não há hierarquia entre direitos humanos, posto que eles não se sucedem, mas se acumulam, 
a partir da evolução da própria sociedade, deve-se compatibilizar a situação acima apresentada pela 
ponderação de valores, por se tratarem de princípios que estão em colisão. 
A reflexão passa pela necessária harmonização da matéria ao constatar que, embora sejam dispostos em 
momentos distintos e por versarem sobre direitos individuais, coletivos e difusos, não há hierarquia quando 
estamos diante de colisão de direitos fundamentais.

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