Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Roteiro: Espaço cênico: Atores/atrizes: JULIANA RAFAELA KAUÃ ______ Estatísticas: DENNIS VICTÓRIA JÚLIA ______ Casos/Figurantes: JOYCE MICHELE ANNA KETLYN RAPHAELA ULISSES ______ DIREÇÃO: Dennis Felipe; Rafaela Zanirato; Juliana Mendonça; Anna Luiza. CENA 1: Meu espetáculo. 2 a 3 minutos. (Com o ambiente completamente escuro, duas lanternas iluminam uma cadeira no fundo do auditório, no palco luz amarela; JULIANA entra no palco de trás do fundo falso, e então começa seu monólogo, ela caminha do palco até a cadeira do fundo falando com o público, ambiente melancólico...) BEATRIZ/JULIANA:“Vida é o desejo de continuar vivendo e viva é aquela coisa que vai morrer. A vida serve para se morrer dela.” Essa citação é de clarice lispector, e se trata de vida, e a vida está acontecendo agora em todos nesta sala, menos na minha, vocês devem estar se perguntando por que começaria meu espetáculo deste jeito, ou simplesmente se perguntam quem eu sou… (JULIANA se aproxima e senta na cadeira, apaga-se a luz amarela, ambiente escuro, começa a sonoplastia com um som melancólico, continuação de sua fala...) BEATRIZ/JULIANA: Então, olá , meu nome é Beatriz, eu tenho, ou tinha 17 anos… e irei contar minha história de um ponto bem específico… de como eu morri… E … Irei compartilhar com vocês minhas últimas memórias… (RAFAELA aparece no palco iluminada por duas lanternas, sem expressões ou gestos, continuação da fala de juliana... ) BEATRIZ/JULIANA:Em toda minha vida os livros sempre foram minha paixão, minha inspiração, minha razão. Queria ser escritora, assim como a Clarice, fazer da minha vida uma grande história! [pausa cenográfica. Beatriz vai perdendo o brilho em seus olhos e retorna para sua melancolia.] Mas... Minha vida se tornou um poema inacabado. Eu era como vocês! MULHER! VIVA! Sentada no vasto mundo esperando apenas um espetáculo como vocês nesta sala [Aponta para garotas aleatórias na plateia, em seu rosto, é possível notar uma certa raiva, tristeza] Mas isso foi tirado de mim… e hoje apenas posso contar esta história a vocês, é o que me resta, é o meu último alerta... (Após JULIANA terminar sua fala, seguirá em direção de sua memória (seu corpo vivo) RAFAELA fará o mesmo, assim as duas vão seguindo pelo corredor, no centro, elas se encontram, JULIANA acaricia o rosto de RAFAELA e elas trocam de lugar não de papel, juntas, dizem a mesma frase...) BEATRIZ/JULIANA E RAFAELA: Essa é minha história! (As personagens seguem o caminho do corredor, RAFAELA desaparece da cortina falsa JULIANA permanece no palco. Fim da cena 1). CENA 2: Arrumando o caminhar. 2 a 3 minutos. (JULIANA, se posiciona no palco, e da continuação, luz amarela ligada e lanternas desligadas, sonoplastia desenvolve um som calmante...) BEATRIZ/JULIANA: Era um dia comum, mas o sol raiava como nunca antes. Eu gostava de me arrumar, gostava de me sentir bonita. (As duas se encontram no corredor enquanto Juliana recita seu texto. Rafa sairá da cortina falsa, a mesma brinca com o vestido com um sorriso no rosto. As duas se olham e Rafa para de brincar com o vestido, deixa seu rosto sério novamente. Juliana se aproxima de Rafa em passos lentos). BEATRIZ/JULIANA: Eu… Eu amava esse vestido, era o meu favorito! Meu vestido florido! O único entre vários... O problema é que com os anos, ele se tornou um pouco curto de se usar. Contudo, aquele belo dia merecia um vestido tão belo. (Juliana toca no vestido com melancolia, enquanto o arruma no corpo de Rafa. Enquanto recita sua fala, Juliana toca no cabelo de Rafa, o arruma para atrás da orelha, brinca com o rosto e com o vestido. Representação de como se ela estivesse se auto-arrumando.) BEATRIZ/JULIANA: Eu estava tão linda… Tão arrumada. Nunca pensei que me arrumaria para meu próprio fim… (Em suas últimas palavras, Rafaela pegará uma bolsa ali perto e vai caminhar para o fundo, abrindo um livro no caminho ou pegando o celular, Juliana irá para o palco desta vez. Após a demonstração visual da personagem,começa um jogo de figurantes em representação a rua[ 6 figurantes, todos com aspectos normais, expressões de vazio e atraso, três no palco, três no fundo, prosseguiram entre o corredor ] RAFAELA ficará distraída no celular, ao fundo, Prosseguimento de texto...) BEATRIZ/JULIANA: Eu estava distraída, imersa em meus pensamentos, antes avisei minha mãe que iria para a biblioteca, naquele mar de pessoas de mentes vazias, atrasadas para o trabalho e seus compromissos, não imaginava que naquele instante iria esbarrar em meu ceifador. (Após os figurantes passarem pelo corredor, RAFAELA irá caminhar pelo corredor até o palco, KAUÃ atrás das cortinas sairá e passará pelo corredor, KAUÃ E RAFAELA se esbarram quando próximos, uma breve interação entres eles acontece, RAFAELA continuará em direção ao palco enquanto KAUÃ irá caminhando para trás com olhares maliciosos...) BEATRIZ/JULIANA: mal reparei naquele homem, mas hoje sei, que naquela biblioteca seria o lugar mais seguro do mundo. … FIM DA CENA 2. CENA 3: As Páginas Do Meu Refúgio. 1 a 2 minutos (Logo após o fim da cena 3,RAFAELA entrará no palco, JULIANA está no centro e RAFAELA passará em sua frente e dará uma volta sobre JULIANA, neste caminho pegará um livro que estará na cena e se posicionará se sentando ao pé do palco ao lado de JULIANA, luzes desligadas apenas luz amarela no palco). BEATRIZ/JULIANA:“Sou uma mulher que sofre, como todas as pessoas do mundo, as mesmas dores e os mesmos anseios.” Foi uma das frases que li em um livro nesse dia. Eu no momento não compreendia, mas hoje ela se encaixa perfeitamente na minha história. (RAFAELA fica lendo e permanecerá, a personagem representará que passou algum tempo ali). BEATRIZ/JULIANA: Me sentia segura lendo aqueles livros, mergulhando em cada palavra, às horas haviam passado sem eu nem mesmo perceber. O sol antes, do meio dia já estava a entardecer… Infelizmente chegara na hora de voltar a deprimente realidade onde às pessoas são tão vagas quanto um manequim. ( RAFAELA se levanta, pega sua bolsa, pronta pra sair do palco e em direção ao corredor…) FIM DA CENA 3 CENA 4: PESADELO QUE DEIXA MARCAS de 3 a 4 minutos. (Voltam os figurantes e fazem a mesma proposta da cena 2, RAFAELA já no corredor, segue em frente, KAUÃ aparece no fundo auditorio em direção a RAFAELA, JULIANA ainda no palco prossegue o monólogo) BEATRIZ/JULIANA: Após sair daquela paz, segui de voltas para as ruas, desta vez de pessoas comuns e frias. Estava fixada no meu celular, digitava uma mensagem para minha mãe avisando que horas eu chegaria. (Sonoplastia desenvolve música tensa, RAFAELA e KAUÃ pausam no no meio do corredor, KAUÃ pega o celular de beatriz, neste momento começa uma interação dos envolvidos, JULIANA muda sua feição, algo mais desesperador e triste, prosseguimento de texto ) BEATRIZ/JULIANA: Foi algo inusitado, eu nem me lembrava daquele rosto na multidão, aquele estranho… Jamais imaginei que isso aconteceria. (Novais começa a assediá-la fisicamente e verbalmente) BEATRIZ/JULIANA: Era como se...Como se tudo fosse um pesadelo, algo tão inesperado que nem parecia ser real, era horrível, sentia repulsa. (RAFAELA pega o celular e corre para o fundo do auditório, KAUÃ a segue, os dois saem do corredor e somem atrás da cortina ) BEATRIZ/JULIANA: Na tentativa de escapar de suas asquerosas mãos peguei meu celular e fugi para o mais longe possível, ninguém se importava, eu era invisível naquele asfalto. Desesperada corri para um beco, quem sabe… eu … sei lá o despistasse. (JULIANA continua no palco, sua feição e expressão muda drasticamente) BEATRIZ/JULIANA: Naquele momento eu sabia que não poderia fazer mais nada, ele estava em minha frente, e eu num buraco sem saída, me afastando dele ainda com um pingo de esperança eu só tentei me distanciar. (RAFAELA e KAUÃ saem do fundo do auditório, RAFAELA tropeça pelo corredor até chegar no palco, KAUÃ se aproxima dela chega ao palco, JULIANA ainda no centro do palco se ajoelha e coloca as mãos sobre a cabeça tentando esquecer sua lembrançaconturbada…) BEATRIZ/JULIANA: Minhas esperanças eram nulas, e seriam despedaçadas… agora apenas consigo sentir tudo que minha alma reluta em esquecer… (KAUÃ pega RAFAELA pelo cabelo e a joga ao lado esquerdo do palco [a partir deste momento todos os gestos de dor encenados por RAFAELA serão espelhados para a JULIANA ] assim, após a agressão ser completa todas as lanternas começam a piscar em direção ao palco, assim a luz amarela se apaga e JULIANA fica em posição fetal, assim as luzes se estabilizam nela, logo depois JULIANA levanta sua cabeça e vai se arrastando para trás do palco e diz suas últimas palavras…) BEATRIZ/JULIANA: sem um porquê plausível, ele fez, da maneira mais desumana possível, o meu fim. (no fundo falso uma mão agarra e a puxa para trás da cortina). FIM DA CENA 4 ... Cena 5: Estatísticas Dennis: O feminicídio é o assassinato de uma mulher pela condição de ser mulher... Júlia: Suas principais motivações são muitas... Victória: Como o ódio, o desprezo, o sentimento de perda e de controle. Júlia: Existem vários tipos de feminicídio. Temos o feminicídio íntimo… Dennis: Onde esse crime é cometido pelo Marido, namorado, ou ex-parceiro. Mais de 35% de todos os assassinatos de mulheres são cometidos por parceiros íntimos. Vale ressaltar que vem aumentando com mulheres grávidas. Victória: Temos o assassinato em nome da honra… Júlia: Que são os assassinatos de mulheres ou meninas a mando da própria família, pela suspeita de transgressão sexual ou comportamental. A ONU estima que 5.000 mulheres são mortas por crime de honra no mundo. TUDO PARA NÃO MANCHAR A IMAGEM DA FAMÍLIA. Dennis: Também há o Feminicídio não-íntimo… Victória: Onde é cometido por alguém que não tem relacionamento íntimo com a mulher. Essa conturbação envolve crimes de estupros, assédios, e discriminação de gênero. Em 2008, mais de 700 mulheres foram assassinadas na Guatemala, precedidos por abuso brutal e tortura. Dennis: Apenas em 2015 um artigo específico para o Feminicídio entrou em decreto na Legislação brasileira... Júlia: Porém os dados são alarmantes. No Brasil há uma taxa de 4,8 assassinatos a cada 100 mil mulheres… Victória: Um estudo feito pelo Mapa da Violência revelou que entre 1980 e 2013, 106.093 brasileiras foram vítimas de assassinato. Somente em 2013, foram 4.762 assassinatos de mulheres no Brasil, ou seja… Dennis, Júlia e Victória: Foram 13 homicídios femininos diários. Dennis: Em apenas 1 década, cresceu mais de 21% o número de vítimas do sexo feminino… Júlia: O Brasil teve 4.254 homicídios dolosos de mulheres em 2018… Victória: Do total, 1.173 são feminicídios. Roraima é o estado que tem o maior índice de homicídios contra mulheres: são 10 a cada 100 mil habitantes… Dennis: Acre é o estado com maior taxa de feminicídios… Júlia: 3,2 a cada 100 mil. Também é a 3ª maior taxa de homicídios do País. Victória: Em Janeiro de 2019, 119 mulheres morreram e 60 sofreram tentativas de feminicídio no Brasil. Neste 1º trimestre, os casos de feminicídio aumentaram 76% no nosso País. Dennis: O feminicídio é um crime hediondo, e a pena prevista é reclusão de 12 a 30 anos. Júlia: E de acordo com pesquisas, a Lei Maria da Penha fez diminuir cerca de 10% a taxa de homicídios contra mulheres dentro de suas próprias casas. Victória, Dennis, Júlia: SEGUIREMOS EM MARCHA, ATÉ QUE TODAS SEJAMOS LIVRES. FIM DA CENA 5 Cena 6: Finalização RAPHAELA: 25 anos, ELIZA SAMÚDIO KETLYN: 15 anos, ELOÁ PIMENTEL ANNA:22 anos, DANIELLA PEREZ ULISSES: 25 anos, JESSYKA LAYNARA JOYCE: 40 anos, ROMILDA SOUZA MICHELE: 22 anos, KAREN YUNUEN RUIZ MEZA (Ambiente escuro, a luz que iluminava os palestrantes se apaga, deixando o ambiente escuro e somente a música ambiente. Entretanto, as lanternas, uma a uma vão ligando na direção do meio do palco. Do meio do palco sai JULIANA, de cabeça baixa e ereta. Ela ergue a cabeça e olha para o público.) BEATRIZ/JULIANA: Eu… Eu quero que se lembrem de mim. Que o final de minha história te sirvam de aviso. Não se esqueçam que: Meu nome é Beatriz e eu tinha 17 anos… E eu não fui a única…. (RAPHAELA se levanta na plateia e começa a narrar sua história, lanternas a iluminam) RAPHAELA: Meu nome é Eliza Samúdio, eu tinha 25 anos, mas a chama da minha vida se apagou. Fui esquartejada, jogada aos cães, meus ossos viraram concreto. Hoje ele continua seguindo os seus sonhos e sendo Jogador de Futebol, como se nada houvesse acontecido. Eu só queria que ele assumisse meu filho... (RAPHAELA se senta, em seguida sua luz apaga, ULISSES levanta e faz o mesmo, luzes o iluminam) ULISSES:Eu era Jessyka Laynara, eu tinha 25 anos quando aconteceu também. Eu o amei, mas quando tudo acabou, ele atirou em mim, uma pessoa que eu nem suspeitava, de forma tão cruel,pôs um fim à minha existência. (ULISSES se senta, luzes também apagam, KETLYN se levanta, luzes a iluminam) KETLYN: Eu havia terminado com ele, estávamos vivendo uma mentira, eu estava sofrendo ao seu lado, afinal ,eu tinha o direito de ser feliz. Mas ele ainda queria voltar, como eu disse NÃO, ele me manteve em cativeiro, em uma tentativa da polícia me salvar me balearam na cabeça e na virilha. Meu nome era Eloá Pimentel ,uma garota comum, eu tinha apenas 15 anos na época… (KETLYN se senta, luzes apagam, MICHELE se levanta e luzes a ilumina) MICHELE: Yo soy Karen Yunen, mexicana, deixei minha filha com meus pais, como siempre hacia, fui trabalhar, mas não voltei. Mi ex-marido, me estrangulou e me enterrou no quintal de sua casa. Dejé a mi hija sozinha, Diós, só queria vê-la de novo. (MICHELE se senta, luzes apagam, ANNA se levanta e luz acesa ilumina) ANNA: Eu...Eu tinha apenas 22 anos, meu nome é Daniella Pérez, era atriz, eu tive um caso com ele, mas fui enganada pelo meu ex que começou a espalhar rumores sobre minha pessoa… Ele já havia se casado, seguido com sua vida, fui tirar satisfações com ele...Eu só me lembro de 28 tesouradas perfurando o meu corpo. (ANNA se senta e luzes apagam, JOYCE levanta, luzes a ilumina) JOYCE: Meu nome era Romilda Souza, tinha 40 anos, eu defendia o Feminismo, meu marido, certo dia, ficou descontrolado… Ele atirou em mim, deixei meus filhos...Logo em seguida ele se matou e não pode pagar por eu crime, pelo que le fez aos nossos filhos, o que eu mais amava... (JOYCE se senta em seu lugar e a lanterna que a iluminava se apaga.) FIM DA CENA 6 ... CENA 7: ÚLTIMO POEMA (As lanternas apagadas se acendem de novo na direção de Juliana, a iluminando em seu último suspiro.) BEATRIZ/JULIANA: E com desprezo, recito enfim o meu último poema: A culpa é minha Corria desesperada Mas correr não era o bastante Por trás uma mão me agarrava O impacto no chão era alucinante Imaginei então, Um leve algodão a me esmurrar. Sua voz fantasiei doce como mel Recitando o hino que ELES argumentam: “-É TUDO CULPA SUA! DEPOIS NÃO VENHA ME ACUSAR!” (Luzes se apagam. Fim do espetáculo. todas as luzes do ambiente se acendem, aplausos e agradecimento.) F I M
Compartilhar