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DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA (AULA COMPLETA)

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Terminologia 
 
A expressão “direitos humanos” chegou no século XXI com grande força e vitalidade, sendo largamente 
utilizada em manifestações da sociedade civil, em questões políticas e para reivindicar novos direitos. Pelo 
uso excessivo e, por vezes, indiscriminado da expressão, ela acaba por incorrer em certa vagueza e 
imprecisão; diante disso, Rey Pérez afirma que a 
“expressão Direitos humanos é problemática por dois motivos: porque apresenta diversos significados e 
porque existem diversas palavras que querem expressar seu conceito” (PÉREZ, 2011, p. 19, tradução 
nossa). 
Algumas expressões, geralmente, são empregadas para se fazer menção a tais direitos: direitos 
fundamentais, direitos naturais, direitos do homem, direitos individuais, direitos humanos fundamentais, 
liberdades públicas etc. No campo doutrinário, são observadas advertências para a ausência de consenso 
quanto à terminologia mais adequada para se referir aos direitos humanos e aos direitos fundamentais que 
revelam pontos de vista favoráveis e contrários ao emprego desses ou daqueles termos. Normalmente, a 
expressão “direitos humanos” é empregada para denominar os direitos previstos nas declarações e 
convenções internacionais, ao passo que “direitos fundamentais” são aqueles que passaram a ganhar relevo 
nas cartas constitucionais dos Estados nacionais. 
Pode-se afirmar que os direitos humanos formam um conjunto de faculdades e instituições que, em cada 
momento histórico, concretizam as exigências da dignidade, da liberdade e da igualdade, as quais devem ser 
reconhecidas pelos ordenamentos jurídicos em níveis nacional e internacional; portanto, possuem, ao mesmo 
tempo, caráter descritivo (direitos e liberdades reconhecidos nas declarações e convenções internacionais) e 
prescritivo (alcançam as exigências mais vinculadas ao sistema de necessidades humanas e que, devendo ser 
objeto de positivação, ainda assim, não foram consubstanciados). 
Para se chegar nesse nível de compreensão, o processo evolutivo dos direitos humanos passou por diversos 
momentos, podendo ser assinalados marcos históricos relevantes na Antiguidade, especialmente na Grécia e 
Roma; na Idade Média, com a Magna Carta de 1215; na Idade Moderna, especialmente com as Declarações 
de Direitos cujo destaque é a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, que denota grande 
relevância por representar “o atestado de óbito do Ancien Régime”, constituído pela monarquia absoluta e 
pelos privilégios feudais, traduzindo-se como primeiro elemento constitucional do novo regime político; e 
na Era Contemporânea, especialmente com as mudanças produzidas no sistema internacional após a 
Segunda Guerra Mundial e a consequente criação da Organização das Nações Unidas, em 1945, em que a 
valorização dos direitos humanos passou a ter uma dimensão universal, com desdobramentos e repercussões 
para os Estados nacionais. 
Atualmente, é possível afirmar que nenhum indivíduo se sobrepõe aos demais, no entanto, para chegarmos a 
esse estágio, foram criadas, paulatinamente, as instituições jurídicas de defesa da dignidade humana contra a 
violência, o aviltamento, a exploração e a miséria. A dignidade humana apresenta-se como valor básico que 
fundamenta os direitos humanos e tende a explicitar e satisfazer as necessidades da pessoa humana na esfera 
moral. 
Aspectos históricos 
 
Segundo Norberto Bobbio ([s.d.]), todas as declarações recentes de direitos humanos compreendem, além 
dos direitos individuais tradicionais, que consistem em liberdades, também os chamados direitos sociais, que 
se constituem de poderes. Os primeiros exigem da parte dos outros (incluídos, aqui, os órgãos públicos) 
obrigações puramente negativas, que implicam a abstenção de determinados comportamentos; os seguintes 
só podem ser realizados se for imposto a outros (incluídos aqui os órgãos públicos) um certo número de 
obrigações positivas. Eles são antinômicos no sentido de que o desenvolvimento deles não pode proceder 
paralelamente: a realização integral de uns impede a realização integral de outros. 
Pode-se afirmar que a compreensão dos direitos humanos guarda relação com os documentos produzidos no 
sistema internacional, como Declarações (Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948) e outros 
tratados internacionais (Pactos de Direitos Civis e Políticos, de 1966 etc.), por se referirem àquelas posições 
jurídicas que reconhecem o ser humano como tal, independentemente de sua vinculação com determinada 
ordem constitucional, ao passo que a terminologia que se aplica no plano doméstico dos Estados nacionais 
relaciona-se aos direitos fundamentais na medida em que são reconhecidos na esfera do direito 
constitucional positivo de determinado Estado. 
Os direitos fundamentais constituem a principal garantia aos cidadãos de um Estado de Direito de que os 
sistemas jurídico e político em seu conjunto serão orientados pelo respeito e pela promoção da dignidade da 
pessoa humana. Aliás, a valorização da dignidade da pessoa humana ganhou importância tanto no âmbito do 
direito interno dos Estados (com a previsão legislativa consagrada nas constituições substanciais e/ou 
formais na categoria de direito fundamental e, por vezes, na categoria de estrutura organizacional dos 
próprios Estados) como no plano internacional (em especial, com a celebração de vários tratados 
internacionais). Esse princípio, o da dignidade da pessoa humana, adquiriu contornos universalistas desde 
que a Declaração Universal de Direitos do Homem o concebeu em seu preâmbulo: 
Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus 
direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo. [...] Considerando 
que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta, sua fé nos direitos fundamentais do homem, na 
dignidade e no valor da pessoa humana e na igualdade de direitos do homem e da mulher, e que decidiram 
promover o progresso social e melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla. (UNICEF, [s.d.]) 
Na sequência, em seu artigo 1º, proclamou que todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade 
e direitos; dotados de razão e consciência, devem agir uns para com os outros em espírito e fraternidade. 
Jorge Miranda (2000) sistematizou características da dignidade da pessoa humana: a) reporta-se a todas e a 
cada uma das pessoas, é individual e concreta; b) cada pessoa vive em relação comunitária, mas a dignidade 
que possui é dela mesma e não da situação em si; c) o primado da pessoa é o do ser e não o do ter e a 
liberdade prevalece sobre a propriedade; d) a proteção da dignidade das pessoas está além da cidadania 
portuguesa e postula uma visão universalista da atribuição de direitos; e) a dignidade da pessoa pressupõe a 
autonomia vital da pessoa, a sua autodeterminação relativamente ao Estado, às demais entidades públicas e 
às outras pessoas. 
 
 
 
 
 
 
 
Fundamentos 
 
O tema relativo aos direitos humanos, notadamente os que estão relacionados a violações sistemáticas de 
direitos, surge com frequência entre as preocupações dos estudos voltados às ciências jurídicas e sociais e 
suscitam debates calorosos. Ao longo dos anos, variaram as correntes, os enfoques e os instrumentos de 
análise empregados desde a tradição clássica até os estudos contemporâneos, por isso a importância de se 
conhecer os antecedentes históricos sobre os direitos humanos, que, aliás, não se apresentam como 
“produtos acabados”, ao contrário, demandam evolução contínua e alargada na medida em que há novas 
demandas e espaços que se apresentam em sociedade. 
Não restam dúvidas de que o assunto é vasto, múltiplo e complexo, e delimitá-lo torna-se tarefa necessária 
na atual conjuntura social, permeada pela regulação jurídica e pela presença de operadores jurídicos cada 
vez mais requisitados para atuar diante do descumprimentodo Estado de suas obrigações de efetivar os 
direitos econômicos, sociais e culturais, bem como promover as condições básicas de dignidade para a 
pessoa humana como uma indispensável medida de promoção da inclusão econômica e social. 
Conforme acentuado, o marco que se tornou a grande alavanca no processo de internacionalização dos 
direitos humanos foi a Carta das Nações Unidas, de 1945, que, em seu art.1º, deixa claro o objetivo de se 
buscar uma cooperação internacional para a solução de problemas de caráter econômico, social, cultural ou 
humanitário, promover e estimular o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais para todos, 
sem distinção de raça, sexo, língua ou religião. 
Observamos que há, nos dias atuais, grande preocupação na tutela dos direitos humanos (seja no plano 
doméstico, seja no plano internacional), porém, por outro lado, são evidentes as lesões de diversas matizes 
que aviltam a dignidade humana. Não se pode olvidar que muitas lesões que são produzidas em relação aos 
direitos humanos decorrem do momento que vive a humanidade e, em larga medida, impulsionadas pela 
globalização; por essa razão, o conhecimento da matéria se torna imprescindível para a utilização de 
instrumentos e mecanismos que estão à disposição das pessoas físicas para fazer frente aos abusos, 
atrocidades e barbáries, seja utilizando o arcabouço jurídico normativo que se apresenta no plano doméstico, 
seja pelos que estão disponíveis no sistema internacional. 
Os direitos humanos, que pertenciam ao domínio constitucional, estão em migração contínua e progressiva 
para uma direção internacional que os elege e acomoda suas tensões em padrões primários supranacionais. 
Nota-se que, na busca incessante do reconhecimento, desenvolvimento e realização dos maiores objetivos 
por parte da pessoa humana e contra as violações perpetradas pelos Estados e pelos particulares, o direito 
tem se mostrado um instrumento vital para a uniformização, fortalecimento e implementação da dignidade 
da pessoa humana, que constitui um verdadeiro valor que deve, impreterivelmente, servir de orientação a 
qualquer interpretação do direito que a regulamenta. 
 
Introdução 
 
Caro estudante, atualmente, existe um rol significativo de direitos humanos reconhecidos no plano 
internacional e interno dos Estados que envolvem os direitos civis, políticos, sociais, econômicos, culturais, 
de meio ambiente, da paz etc. A abordagem histórica para a compreensão do estudo dos direitos humanos é 
relevante e tem-se discutido a forma e o momento em que os mesmos foram concebidos. 
A presente aula se propõe a apresentar a classificação dos direitos humanos a partir dos estudos formulados 
por Karel Vasak e que correspondem aos denominados direitos de primeira dimensão ou geração, direitos de 
segunda dimensão ou geração e direitos de terceira dimensão ou geração. A classificação apresentada pelo 
referido autor passou a ser utilizada pela doutrina, pela jurisprudência e, também, pelas práticas nacional e 
internacional. 
Os direitos humanos não se desenvolveram no mesmo período. Ao contrário, os direitos inerentes à pessoa 
humana foram sendo modificados e alargados com o passar dos anos, a partir de contextos históricos 
distintos. 
 
 
Terminologia 
 
Karel Vasak (1979), ao realizar uma palestra no Instituto Internacional de Direitos Humanos cuja sede se 
encontra em Estrasburgo, no ano de 1979, apresentou uma classificação sobre os direitos humanos que levou 
em consideração antecedentes históricos importantes e, de forma didática, identificou as fases evolutivas dos 
direitos humanos a partir do que ficou conhecido como dimensões ou gerações de direitos humanos. Nesse 
sentido, o autor, ao levar em conta a história e as aspirações axiológicas que culminaram numa identidade 
própria, classificou os direitos em primeira, segunda e terceira geração. 
Os direitos de primeira geração surgiram com as revoluções burguesas dos séculos XVII e XVIII e 
valorizavam a liberdade; os direitos de segunda geração decorreram dos movimentos sociais democratas que 
se desenvolveram, especialmente, no início do século XX, como a Revolução Russa cuja ênfase precípua 
estava ancorada na igualdade; e os direitos de terceira geração estão intimamente ligados às experiências 
sofridas pela humanidade por ocasião da Segunda Guerra Mundial e da onda de descolonização que a 
seguiu, refletindo os valores da fraternidade. 
Com base nos estudos de Vasak, criou-se o entendimento sobre a classificação dos direitos humanos a partir 
das três dimensões acima consagradas, sendo, portanto, admitida pela doutrina e pela jurisprudência, no 
plano interno e no sistema internacional; ademais, os estudos acabaram ganhando novos contornos com a 
formulação de novas classificações, como os direitos de quarta e de quinta dimensão. Com efeito, apesar da 
aceitação pela jurisprudência e pela doutrina, por ser uma compreensão bastante didática, há de se apresentar 
uma ressalva: está se consubstancia em aportes doutrinários fortes, como nos estudos formulados por 
Antônio Augusto Cançado Trindade (1997), que registrou, com propriedade, que, ao se classificar os direitos 
humanos a partir de gerações, é possível levar a um mal-entendido de que os direitos inerentes à pessoa 
humana se fragmentam. 
Por óbvio que os direitos humanos não se ‘sucedem’ ou acabam por substituir uns aos outros; ao contrário, 
eles se expandem e se fortalecem. Os direitos humanos consagrados revelam a natureza complementar de 
todos os direitos voltados à proteção dos indivíduos, porém, conforme anteriormente assinalado, a 
classificação por ondas geracionais ou dimensionais que foram formuladas por Vasak (1979) demonstra, de 
maneira clara, como os direitos humanos foram conquistados ao longo do tempo, em particular, com marcos 
teóricos dos séculos XVIII, XIX e XX, ao se identificar os direitos civis e políticos, os direitos econômicos, 
sociais e culturais e os direitos da autodeterminação dos povos, do meio ambiente equilibrado etc., 
respectivamente. Os direitos anteriormente identificados podem, também, ser compreendidos, para melhor 
compreensão e caracterização, a partir da tríade: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. 
Assim, pode-se afirmar que os denominados direitos de primeira geração ou dimensão estão voltados aos 
direitos individuais; já os direitos de segunda dimensão relacionam-se aos direitos coletivos; por fim, os de 
terceira dimensão têm pertinência com os direitos de natureza difusa. 
 
Dimensões 
 
Os direitos de primeira geração ou de base liberal se fundam numa separação entre Estado e sociedade que 
permeia o contratualismo dos séculos XVIII e XIX. O Estado desempenha papel de controle, prevenção e 
repressão de ameaça ou lesão de direito, porém, em relação aos chamados direitos de primeira geração, o 
papel do Estado, na defesa desses direitos, manifesta-se tanto em seu tradicional papel passivo (abstenção de 
violar os direitos humanos) como no que tange à atuação ativa, ao exigir ações estatais para garantia da 
segurança pública, administração da justiça etc., dividindo-se em direitos civis e direitos políticos. 
Os civis são aqueles que, mediante garantias mínimas de integridade física e moral, asseguram uma esfera 
de autonomia individual de modo a possibilitar o desenvolvimento da personalidade de cada um. Trata-se de 
direitos titulados pelos indivíduos e exercidos, em sua grande maioria, individualmente, embora alguns 
somente possibilitem o exercício coletivo (liberdade de associação). O Estado tem o dever de abstenção ou 
de não impedimento e de prestação, devendo criar instrumentos de tutela, como a polícia, o judiciário e a 
organização do processo; no que tange aos direitos políticos, que encontram seu núcleo no direito de votar e 
ser votado, a seu lado se reúnem outras prerrogativas decorrentes daquele status, como o direito de postular 
umemprego público, de ser jurado ou testemunha, de prestar o serviço militar e, até, de ser contribuinte. 
Os direitos de segunda geração correspondem aos direitos sociais, econômicos e culturais que resultam da 
superação do individualismo possessivo decorrente das transformações econômicas e sociais ocorridas no 
final do século XIX e início do século XX, especialmente pela crise das relações sociais decorrentes dos 
modos liberais de produção, acelerada pelas novas formas trazidas pela Revolução Industrial. 
Os direitos sociais são aqueles necessários à participação plena na vida da sociedade, incluindo o direito à 
educação, a instituir e manter a família, à proteção à maternidade e à infância, ao lazer, à saúde etc. Os 
direitos econômicos destinam-se a garantir um padrão mínimo de vida e segurança material, de modo que 
cada pessoa desenvolva suas potencialidades, e os direitos culturais dizem respeito ao resgate, estímulo e 
preservação das formas de reprodução cultural das comunidades, bem como à participação de todos nas 
riquezas espirituais comunitárias. 
Quanto aos direitos de terceira geração, estes surgiram como resposta à dominação cultural e como reação 
ao alarmante grau de exploração não mais da classe trabalhadora dos países industrializados, mas das nações 
em desenvolvimento e por aquelas já desenvolvidas, bem como pelos quadros de injustiça e opressão no 
próprio ambiente interno dessas e de outras nações revelados mais agudamente pelas revoluções de 
descolonização ocorridas após a Segunda Guerra Mundial; aliás, atuam, ainda, como afirmação 
contemporânea de interesses que desconhecem limitações de fronteiras, classe ou posição social e se 
definem como direitos globais ou de toda a humanidade (direito à paz, à autodeterminação dos povos e ao 
meio ambiente equilibrado). 
Hodiernamente, há autores que defendem a existência dos direitos de quarta e quinta dimensão; os de quarta 
são voltados ao direito à democracia, à informação e ao pluralismo; já os direitos de quinta geração são 
aqueles que levam em consideração o cuidado, a compaixão e amor por todas as formas de vida, 
reconhecendo que a segurança humana não pode ser plenamente realizada se não identificar o indivíduo 
como parte do todo. Ambos estão voltados, especialmente, para a identidade individual, patrimônio genético 
e à proteção contra o abuso das técnicas de clonagem. 
 
Fundamentos das ondas dimensionais dos direitos 
humanos 
 
O órgão do Estado, ao realizar vistoria em uma determinada propriedade rural, constatou que a mesma não 
cumpria sua função social (artigo 5º, XXIII, da CF/88), classificando o imóvel como improdutivo. Com base 
nessa declaração, o chefe do Poder Executivo emitiu um decreto declarando o imóvel de interesse social 
para fins de reforma agrária e iniciou um processo administrativo de desapropriação por interesse social nos 
termos do artigo 184 da Constituição da República. Inconformado com a decisão administrativa, o 
proprietário do imóvel impetrou Mandado de Segurança em face do chefe do Poder Executivo, alegando, 
entre outros fundamentos, a inexpropriabilidade do seu imóvel rural para efeito de reforma agrária, pelo fato 
de ele se situar em área de relevante interesse ambiental, definida pela Constituição da República como 
patrimônio nacional (BRASIL, 1988). 
O caso foi, afinal, apreciado pelo Poder Judiciário, que, em decisão proferida sobre a matéria, entendeu que 
o direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, típico direito de terceira geração, de caráter 
difuso, e o consequente dever do Poder Público de proteção ao patrimônio ambiental não impediriam, a 
priori, a intervenção estatal na propriedade privada em razão de relevante interesse social, uma vez que o art. 
225 da CF/88 não proíbe a utilização das áreas constitucionalmente declaradas como patrimônio nacional 
para fins de reforma agrária, desde que respeitadas as condições necessárias à preservação ambiental, na 
forma da lei. 
A partir do caso acima apresentado, é possível identificar o conflito que envolve direitos de diferentes 
dimensões, sendo certo, nesse particular, a colisão de direitos de primeira, de segunda e de terceira geração, 
isso porque estão presentes o direito individual à propriedade privada, previsto no artigo 5º, inciso XXII; o 
direito coletivo à reforma agrária, previsto no artigo 5º, inciso XXIV cominado com o artigo 184 e o artigo 
6º; e, por fim, o direito de todos ao meio ambiente equilibrado, previsto no artigo 225, todos da Constituição 
da República Federativa do Brasil de 1988. 
A verdade é que, embora estejam devidamente tutelados na Carta Magna e consagrados em tratados 
internacionais de direitos humanos, o embate de direitos se apresenta como uma realidade na sociedade 
hodierna, pois envolve interesses que se apresentam, por vezes, em campos antagônicos, como no caso 
acima indicado. 
A partir desses aspectos suscitados, surgiu a necessidade de compatibilização dos interesses evidenciados. 
Sem embargo, a partir de fatos e casos concretos, tornou-se possível indicar quais direitos devem ceder em 
favor de outros, independentemente das gerações envolvidas, ou seja, não há hierarquia ou aspectos 
preponderantes que, a priori, possam indicar a validade de um direito de primeira, de segunda ou de terceira 
geração, mas, sim, a partir da ponderação de valores que ensejam a interpretação dos casos apresentados. 
 
 
 
 
 
Introdução 
 
Caro estudante, Herkenhoff conceitua cidadania como a qualidade ou o status de cidadão e ressalta que o 
conteúdo de cidadania se ampliou historicamente, ultrapassando os conteúdos civil e político de sua 
formulação original. Em sua opinião, além da dimensão civil e política, a cidadania possui outras quatro 
dimensões: social, econômica, educacional e existencial. 
A cidadania se apresenta como status e, ao mesmo tempo, como objeto de direito fundamental das pessoas; 
isso porque, num mundo em que Estados ocupam um lugar central, manter vínculos e participar de um de 
um deles é estar inserido na vida jurídica e política que ele propicia, bem como se beneficiar da defesa e da 
promoção dos direitos que ele abarca na sua estruturação, tanto internamente como nas relações com outros 
Estados. 
A cidadania como um status do sujeito, enquanto um direito a ter direitos, é indispensável para a 
concretização da democracia; ela é um corolário do princípio democrático, pois reforça a dimensão do poder 
emanado pelo povo e nele fundamentado, como fonte de sua legitimação. As estruturas política e social 
erguem-se por meio da cidadania e dela não podem prescindir se, de fato, pretendem manter-se fiel ao 
modelo de Estado Democrático de Direito. 
 
 
 
 
 
 
Cidadania 
 
A análise do modelo inglês de construção da cidadania foi objeto de estudo de Thomas Humphrey Marshall; 
aliás, sua classificação se tornou parâmetro comum nas abordagens sobre cidadania, especialmente nas 
ciências sociais. Segundo seu entendimento, as liberdades se firmaram a partir de três momentos distintos, 
no decorrer de três séculos: a) os direitos civis, no século XVIII, que podem ser expressos pela igualdade 
perante a lei e pelos direitos do homem; b) os direitos políticos, que ganham amplitude no século XIX, em 
decorrência da ampliação do direito de voto, no sentido do sufrágio universal; c) os direitos sociais, no 
século XX, pela criação do Estado de Bem-Estar (Welfare State). 
A cidadania moderna, que se desenvolveu na sociedade liberal, surgiu da unificação do Estado e da 
separação funcional deste; aliás, os elementos que compõem os direitos de cidadania não surgiram em uma 
mesma época, ao contrário, tiveram sua evolução e apogeu em contextos históricos distintos. Os períodos de 
destaque de cada direito da cidadania ficam nítidos nessa busca de caminhos distintos e autônomos desses 
elementos. Com efeito, embora a origem e o crescimentoda cidadania tenham ocorrido em meio ao 
desenvolvimento capitalista, caracterizado por desigualdades, fundamenta-se em uma ideia de igualdade 
básica, já que constitui um status concedido àqueles que são membros integrais de uma comunidade. Logo, 
a cidadania é compatível com a desigualdade de classes, porque, não obstante a sociedade ser estratificada 
em classes e surgirem desigualdades entre elas, pelos direitos mínimos garantidos, cria-se mecanismos de 
igualdade social. 
No Brasil, pode-se afirmar que a cidadania passa por uma crise peculiar, em razão do desenvolvimento 
histórico que fugiu à trajetória desenhada por Marshall em relação ao modelo da Inglaterra, posto que, nesse 
país, o processo levou à consolidação dos direitos civis, políticos e sociais à medida que o exercício de um 
conduzia a conquista do outro, operando uma lenta edificação movida pelo próprio povo, sedimentando-se 
como um sólido valor coletivo. 
Os direitos políticos precederam os direitos civis; a cidadania foi arquitetada de cima para baixo, com o 
Estado paternalista aquinhoando direitos políticos às pessoas sem que houvesse uma real reivindicação e 
conquista desses mesmos direitos, o que prejudicou a consolidação da consciência cidadã no Brasil, em 
função da falta de sentimento constitucional. A herança colonial deixou marcas no campo dos direitos civis, 
pois a escravidão, os latifúndios e o Estado patrimonialista comprometido com interesses privados foram 
transpostos para o novo país e perduraram por um longo período, o que dificultou a solidificação dos direitos 
civis; aliás, a trajetória sucintamente descrita revela que o modelo tradicionalmente propalado de cidadania 
definido por Marshall não foi seguido no Brasil, onde os direitos políticos foram “outorgados” por uma elite 
dominante. Todo o quadro gerou um déficit ou uma “deformação” no rumo da cidadania, principalmente em 
relação à eficácia dos direitos fundamentais no Brasil, vistos como uma “generosidade” das elites e uma 
possibilidade remota de compromisso por parte do Estado brasileiro, que perpetua e legitima a concentração 
de renda e a desigualdade social. 
 
Cidadania - aspectos históricos 
 
 
 
A cidadania ocupa papel central na construção do Estado Democrático de Direito, tendo em vista que este 
não pode prescindir da participação popular como fonte legitimadora, bem como se apresenta como fator 
indispensável para a promoção da inclusão social e o combate à desigualdade. 
O cidadão se apresenta como agente reivindicante que autoriza o desabrochar de direitos novos, por isso, a 
nova ideia de cidadania requer a expansão dos processos de realização democrática, inclusive a adoção de 
técnicas inovadoras de participação direta como instrumentos novos de acesso do povo à condução do poder 
público, sem prejuízo dos recursos democráticos tradicionais, além de toda uma construção social que retrate 
efetivamente os intentos dos cidadãos expressos na ordem constitucional e que seja capaz de refletir o tipo 
de sociedade almejado pela soberania popular. 
No Brasil, há vários problemas, inclusive de natureza histórica, voltados à organização da participação 
popular e ao consequente exercício da cidadania, especialmente por meio dos movimentos sociais, levando-
se em consideração o relevante papel que desempenham na consolidação do Estado Democrático de 
Direito. 
A herança colonial deixou marcas no campo dos direitos civis, pois a escravidão, os latifúndios e o Estado 
patrimonialista comprometido com interesses privados foram transpostos para o novo país e perduraram por 
um longo período, dificultando a solidificação dos direitos civis. Na ideia de república, encontra-se 
embutida não a noção de “quem manda”, mas “para quê”; o poder está a serviço do bem comum, da coisa 
coletiva ou pública como um bem superior ao particular; condena-se a tendência de quem está no poder a se 
apropria do bem público como se fosse sua propriedade privada, conquanto seja menos exigente em relação 
aos cidadãos, posto que aceita que estes sejam movidos, sobretudo, por seus interesses particulares. Bem 
mais do que um regime específico, a república consiste num modo de exercer o poder voltado à coisa 
pública e cujo poder é atribuído pelo povo em eleições periódicas. O maior antagonista da república nos dias 
de hoje não é tanto a monarquia, mas a usurpação da coisa pública por interesses particulares, ou seja, o 
patrimonialismo que, infelizmente, é um traço característico da história “republicana” brasileira. 
O patrimonialismo significa que o Estado é visto como um bem pessoal, patrimônio que designa a 
propriedade transmitida por herança de pai para filho; o Estado é dirigido pelo governante como uma 
empresa pessoal, no quadro do capitalismo mercantil, e, como consequência, gera corrupção ao seu redor e 
neutraliza a iniciativa dos produtores. A corrupção se torna um dado intrínseco ao sistema como resultado de 
uma exacerbação do Estado e não uma mera prática pessoal. Enfim, a marca do patrimonialismo permeia a 
organização do espaço público brasileiro e dá um contorno ao Estado pouco movido pela busca dos 
interesses da coletividade, assim, os grupos menos favorecidos da sociedade sucumbem devido à falta de 
políticas públicas realmente voltadas para a realização de planos de melhoria da condição de vida de 
segmentos expressivos de cidadãos, que, geralmente, são lembrados como cidadãos apenas nos períodos 
eleitorais. Tudo isso revela um modelo de sociedade no qual a república foi proclamada, porém muito pouco 
vivenciada e cujo espírito público pouco influi sobre a construção coletiva e estatal, caracterizando uma 
cidadania de baixa densidade. 
 
 
 
 
 
 
A cidadania na formação do estado democrático de 
direito 
 
A cidadania como um status do sujeito, como um direito a ter direitos, é indispensável para a concretização 
da democracia; ela é um corolário do princípio democrático, pois reforça a dimensão do poder emanado pelo 
povo e nele fundamentado, como fonte de sua legitimação. As estruturas política e social se erguem por 
meio da cidadania e dela não podem prescindir se, de fato, pretendem manter-se fiel ao modelo de Estado 
Democrático de Direito. A cidadania, definida pelos princípios da democracia e do pluralismo político, 
constitui-se da criação de espaços sociais de canalização de conflito e de luta (movimentos sociais) e da 
fixação de instituições permanentes para a expressão política (partidos, órgãos públicos), significando 
conquista e consolidação social e política. A cidadania passiva, outorgada pelo Estado, diferencia-se da 
cidadania ativa, na qual o cidadão, portador de direitos e deveres, é essencialmente gerador de direitos para 
abrir novos espaços de participação política. 
Não se pode olvidar de estabelecer uma inter-relação entre cidadania e direitos humanos em razão da 
identificação e pertinência dos conceitos, mas pelo fato de que a evolução de um acarreta a implementação 
do outro, portanto, é possível apresentar dimensões política, civil e social da cidadania. 
Ser cidadão implica a efetiva atribuição de direitos nas três esferas mencionadas, porque careceria de sentido 
participar do governo sem condições de fazer valer a própria autonomia, bem como sem dispor de 
instrumentos asseguradores das prestações devidas pelo Estado, em nome da igualdade de todos. A 
cidadania pressupõe participação efetiva na vida política e com preservação do poder de autodeterminação 
pessoal, seja em termos de impor abstenções ao Estado, seja em termos de lhe exigir prestações. 
Nos Estados contemporâneos, a técnica da representação popular é indispensável para a manifestação da 
vontade coletiva, contudo, a cidadania não se limita à manifestação periódica, por meio de eleições, para a 
composição dos cargos eletivos dos poderes executivo e legislativo; o seu conteúdo vem sendo revisto e tem 
sofrido reformulação. 
Numaconjuntura na qual se intensifica a circulação das pessoas e em que, apesar dos pesares, afirma-se a 
liberdade individual, a pertença a uma comunidade política, embora sendo permanente, já não tem de ser 
perpétua como no passado; de acordo com as projeções de Jorge Miranda, o direito à cidadania, 
futuramente, será acompanhado, dentro de determinados limites, de um direito de escolha da cidadania. Em 
suma, a cidadania não é um dado, mas um construído pelos próprios cidadãos nas suas dimensões civil, 
política, social, jurídica, econômica, cultural entre outras. Os cidadãos são os reivindicantes e portadores do 
poder estatal exercido pelos representantes por eles escolhidos, conforme os parâmetros instituídos em lei. 
 
Introdução 
 
Caro estudante, a participação popular se apresenta como necessidade fundamental e sua ausência cria e 
recria antagonismos espaciais, degenerando-se em violência tanto na esfera pública quanto na privada, pois 
são esferas absolutamente imbricadas e que se retroalimentam constantemente, mantendo um status quo 
aparentemente imutável. Trata-se de uma modalidade de política pública de longo prazo que tem a pretensão 
de atingir a raiz da problemática e não os sintomas ou consequências, bem como parte do princípio de que as 
pessoas precisam compreender o paradigma posto pela “Era dos Direitos Humanos” e sua mensagem 
normativa humanitária. 
O modo de vida humano está encravado numa cultura que gera o individualismo, o medo e o autoritarismo 
numa perene desconsideração da alteridade do outro como um igual; esse é o espectro que nos acompanha, 
evidenciando, portanto, que persiste um hiato entre os atos cotidianos públicos e privados atentatórios à 
alteridade e dignidade humanas, bem como a mensagem humanística contida nos documentos de direitos 
humanos universalmente reconhecidos. 
 
 
 
 
Princípios 
 
O princípio da cidadania figura como um corolário do princípio democrático. O poder emanado do povo se 
manifesta por meio do exercício da cidadania nas suas mais amplas possibilidades; em qualquer das 
modalidades democráticas (direta, indireta ou semidireta) a cidadania se encontra presente e é indispensável 
para a caracterização do regime. 
A ideia de cidadania aparece nos estudos de Celso Lafer (1999), principalmente na abordagem sobre a crise 
dos direitos humanos, que tem repercussão direta na condição de total dominação dos indivíduos almejada 
pelos Estados totalitários, pois, em tais estruturas, as pessoas, muitas vezes, são tratadas como supérfluas, 
sem lugar no mundo. Para Hannah Arendt (1989), os direitos humanos pressupõem a cidadania como um 
princípio, pois a privação da mesma repercute na condição humana, posto que o ser humano privado de 
proteção conferida por um estatuto político esvazia-se da sua substância de ser tratado pelos outros como 
semelhante, isto é, como igual. Disso, conclui-se que o primeiro direito humano é o direito a ter direitos, o 
que só é possível mediante o pertencimento, pelo vínculo da cidadania, de algum tipo de comunidade 
juridicamente organizada e ser tratado dentro dos parâmetros definidos pelo princípio da legalidade. 
Indubitavelmente, a cidadania ocupa um papel central na construção do Estado Democrático de Direito e a 
democracia não se resume apenas a um regime político com partidos e eleições livres; é, antes de tudo, uma 
forma de existência social. Uma sociedade democrática é aberta e permite, sempre, a criação de novos 
direitos; o que se nota, apesar das várias direções possíveis de estudo da cidadania, é que a participação e a 
atuação para se construir o próprio destino é inerente a sua ideia, o que muda, ao longo dos tempos, são os 
graus e as formas de participação e sua abrangência. 
A Constituição de 1988 consagra o aspecto político-jurídico da cidadania, instituindo-a como um princípio 
fundamental do Estado Democrático de Direito (art. 1º, II). Tal princípio se encontra concretizado, em 
grande medida, no Título II (Dos direitos e garantias fundamentais), Capítulo IV (Dos direitos políticos), em 
que estão incluídos os direitos e obrigações de caráter político dos cidadãos brasileiros (art. 14 a 16), porém 
não se pode olvidar que o sentido do princípio da cidadania é bem mais amplo do que a titularidade de 
direitos políticos, pois qualifica os participantes da vida do Estado, reconhecendo os indivíduos como 
pessoas integradas na sociedade estatal (art. 5º, LXXVII, da Constituição de 1988), sendo certo que o 
funcionamento do Estado estará submetido à vontade popular, o que tem conexão com a ideia de soberania 
popular (art. 1º, parágrafo único), com os direitos políticos (art. 14) e com o conceito de dignidade da pessoa 
humana (art. 1º, III), com os objetivos da educação (art. 205) como base e meta primordial do regime 
democrático. 
Muitas são as discussões em torno do pluralismo e variados os tipos de pluralismo existentes. Não bastasse 
esse nível de complexidade, o pluralismo recebe conotações que designam especificidades de acordo com o 
âmbito de seu estudo: "pluralismo político", "pluralismo social", "pluralismo jurídico" etc. Frente a essa 
amplitude de possibilidades, a atenção estará centrada em aspectos genéricos com a intenção de servir de 
suporte para pontuar o princípio do pluralismo político conforme configurado no ordenamento 
constitucional. 
 
Aspectos históricos 
 
Com base nas lições de Hannah Arendt (1989), é possível concluir que o processo de asserção dos direitos 
humanos, enquanto invenção para a convivência coletiva, requer um espaço público em que somente se tem 
acesso por intermédio da cidadania; por isso, para ela, o primeiro direito humano, do qual derivam todos os 
demais, é o direito a ter direitos e cuja experiência totalitária demonstrou que só podem ser exigidos por 
meio do acesso pleno à ordem jurídica oferecido pela cidadania, que tem relação direta com a participação 
no processo de tomada de decisões políticas. 
O caráter democrático dessa participação decorre, principalmente, da sua igualdade e liberdade, pois 
igualdade de participação significa que, nas decisões que cabem à cidadania, seus membros contam com 
igual poder de decisão, o que é expresso pela igualdade de votos (art. 14, caput, da Constituição de 1988) 
vinculada à escolha de governantes em eleições periódicas, livres e imparciais (art. 1º, parágrafo único, art. 
14, art. 60, § 4º, II) pelo igual direito de se concorrer a cargos eletivos (art. 14) e pela independência dos 
representantes eleitos pelos cidadãos (art. 1º, parágrafo único). 
A liberdade de participação significa que os cidadãos devem contar com oportunidades iguais para articular, 
esclarecer e expressar suas opiniões e interesses nos assuntos públicos, e isso se manifesta por meio da 
liberdade de expressão, que deve incluir a possibilidade de crítica do governo, do regime político, da ordem 
socioeconômica ou da ideologia prevalecente (art. 5º, IV); da liberdade de informação; do direito de buscar 
fontes alternativas de informação, que devem existir e ser protegidas por lei (art. 5º, XIV); e da liberdade de 
associação, que deve garantir, especialmente, sua independência em relação ao Estado (art. 5º, XVII) 
(BRASIL, 1988). 
A cidadania é a manifestação das prerrogativas políticas que um indivíduo tem dentro de um Estado 
Democrático, sendo certo que o exercício dessas prerrogativas é fundamental, visto que sem a participação 
política do indivíduo nos negócios do Estado e em questões de interesse público, não se pode falar em 
democracia que se encontra consubstanciada na ideia de que todo poder do Estado emana do povo (art. 1º, 
parágrafo único) (BRASIL, 1988). 
De fato, todo o poder estatal é poder de direito, sendo certo que o Estado não é o seu sujeito ou proprietário, 
mas o seu âmbito material de responsabilidade e atribuição; o Estado também não é a origem do poder e, 
sim, o povo, ou seja, o poder estatalnão está no povo, mas emana dele; aliás, esse poder é exercido por 
encargo do povo e em regime de responsabilização realizável perante ele. Esse emanar é normativo, por 
isso, deve desembocar em sanções concretas, tendo, na democracia, sua variante ativa. Segundo Friedrich 
Müller, só se pode falar com ênfase de povo ativo quando estão em vigor, praticando e respeitando os 
direitos fundamentais individuais e políticos. Portanto, a ideia de cidadania guarda proximidade e se inter-
relaciona com os conceitos de nacionalidade e de povo, embora não comporte igual significado. 
 
 
 
 
 
 
 
Fundamentos da cidadania: uma construção 
necessária no Brasil, a participação popular e as 
políticas públicas 
 
Preliminarmente, compete-nos assinalar que o pluralismo demanda uma situação na qual não haja um poder 
monolítico, mas, sim, vários centros de poder bem distribuídos territorialmente e funcionalmente; o 
indivíduo tem a otimização máxima do potencial da participação na formação das deliberações que lhe 
dizem respeito, o que é uma essência da democracia. Apesar de o pluralismo reconhecer a importância dos 
grupos, das sociedades parciais, não afasta a importância decisiva do grupo universal formado pelos 
cidadãos e diferenciado do aparelho do Estado. 
Atualmente, embora a ideia de pluralismo associa-se à democracia, como lembra Bobbio (1992), existem 
sociedades pluralistas não democráticas e democráticas não pluralistas, como a sociedade feudal era 
pluralista, mas não era democrática (era composta de um conjunto de várias oligarquias). 
Impõe-se à Constituição um rol de problemas postos pelo pluralismo político e os quais precisa enfrentar, 
tais como, a garantia da independência dos grupos em relação ao Estado; a relevância e as formas de sua 
participação no processo político; a institucionalização dos conflitos entre os diferentes grupos e entre esses 
e os cidadãos não associados. Oferecer soluções a esses problemas numa democracia é importante tanto pelo 
fato de que a presença desses grupos é positiva, posto que alavancam a participação dos cidadãos no espaço 
público, como por não excluir o receio de que a realização dos fins almejados pelos grupos seja possível às 
expensas do restante da sociedade. 
Por fim, devemos assinalar que, ao se enfatizar os desafios da construção de um modelo de pluralismo 
compatível com as demandas sociais contemporâneas, torna-se necessário sublinhar certos aspectos da 
correlação do pluralismo político-social com a democracia, tal como foi previsto no texto constitucional. 
Nessa esteira, colocamos como pontos de destaque da íntima conexão entre a democracia e o pluralismo: a) 
a contribuição para a correção da tendência de centralização e de fortalecimento do Estado junto à 
privatização do indivíduo; b) a permissão para o florescimento de sentimentos forjados para o bem coletivo, 
em oposição aos interesses privados consubstanciados em privilégios; c) a incorporação de grupos 
dominados que possuem um direito para somar esforços, visando à utilidade pública; d) a diversificação da 
representação que foi reduzida à abstração do cidadão e para limitar a soberania do Estado; e) a descrição e 
defesa de um sistema oposto à oligarquia ou a uma elite no poder; f) a constatação de que nenhum valor 
socialmente instituído é puro, absoluto e unívoco, face à diversidade de cosmovisões presentes no tecido 
social; g) a relação de cooperação social amistosa entre indivíduos desiguais nas suas oportunidades de vida, 
entretanto, iguais no fundamento que lhes dá permissão de exigir alguma coisa do seu governo, o que supõe 
o pluralismo, posto que não haveria laço durável entre indivíduos que não fossem livres para escolher e que 
se sentissem reprimidos na sua identidade e frustrados nos seus interesses; h) e a necessidade de o 
pluralismo não ficar reduzido apenas ao pluralismo de direito, mas caminhar em direção a um pluralismo de 
fato, a fim de que o consenso seja um dado fundamental da democracia. 
 
Aspectos históricos e conceituais 
 
Caros estudantes, a presente unidade de revisão se propõe a apresentar os aspectos introdutórios à disciplina, 
as abordagens históricas, conceitual, a classificação e a inter-relação entre os temas voltados aos direitos 
humanos e à cidadania. Para tanto, a compreensão de fundamentos alicerçados na doutrina, legislação e 
elementos afins tornou-se necessária para a melhor compreensão dos assuntos relativos à matéria. 
Lembre-se de que, por oportuno, na primeira aula da Unidade 1, você obteve noções introdutórias na 
perspectiva histórica em relação aos direitos humanos, bem como sobre a dignidade da pessoa humana, por 
meio da compreensão dos fundamentos e conceitos preliminares da matéria; ademais, pôde perceber que os 
direitos humanos dialogam nos sistemas interno e internacional, pois, ao serem contemplados no plano 
doméstico, dá-se uma contínua migração em direção ao sistema internacional. 
Em nossa segunda aula, foram contemplados os pontos relativos às ondas geracionais dos direitos humanos 
e, nesse particular, os direitos de primeira, segunda, terceira e até quarta e quinta dimensão. Ao partir dos 
estudos de Karel Vasak, tornou-se possível verificar que os direitos humanos não surgiram no mesmo tempo 
ou período, mas, sim, no curso da história, em particular nos séculos XVIII, XIX e XX. 
Já na terceira aula desta unidade, foram apresentadas ideias para melhor compreensão sobre cidadania e a 
sua indispensabilidade no regime de um Estado democrático. De um plano geral (estudos formulados por 
Marshall), tornou-se possível verificar aspectos da cidadania no Estado brasileiro; na quarta e última aula da 
Unidade 1, a participação popular ganhou relevo como elemento fundamental para o bom funcionamento da 
sociedade e do Estado de Direito, para tanto, a compreensão do princípio da cidadania como o papel central 
na construção do Estado Democrático de Direito tornou-se imprescindível para o fomento das políticas 
públicas. 
Nesse sentido, a partir da compreensão dos itens anteriormente indicados, você será capaz de se debruçar de 
maneira satisfatória sobre o estudo de caso, praticar os conhecimentos teóricos desenvolvidos e responder, 
de maneira fundamentada, às situações/problemas referentes ao tema da unidade I. 
 
Estudo de caso 
 
Caros estudantes, é chegado o momento de colocar em prática os conhecimentos auferidos por ocasião dos 
estudos colhidos na Unidade 1 do presente curso, assim, serão apresentados fatos e encaminhadas algumas 
questões sobre uma situação hipotética para que, ao final, você possa emitir sua opinião sobre o caso 
apresentado. 
Ao compor os quadros de um importante escritório de advocacia cuja atuação marcante está voltada à 
proteção dos direitos humanos (defesa de direitos individuais, coletivos e difusos), foi formulada uma 
consulta jurídica para ser emitido um parecer sobre o caso abaixo indicado: 
Trata-se, o presente, de uma consulta formulada pelo Sr. João Pedro, que solicita esclarecimentos referentes 
aos direitos fundamentais garantidos na Constituição Federal Brasileira no que tange à colisão do direito à 
moradia e ao direito ao meio ambiente equilibrado, com base no princípio da dignidade da pessoa humana; 
para tanto, alega que o órgão ambiental realizou vistoria em uma determinada propriedade rural e constatou 
que a mesma não cumpria sua função social (BRASIL, 1988), classificando o imóvel como improdutivo. 
Com base nessa declaração, o Presidente da República emitiu Decreto declarando o imóvel de interesse 
social para fins de reforma agrária e iniciou processo administrativo de desapropriação por interesse social 
nos termos do art. 184 da Constituição da República. Assim, questiona: 
 Como se relacionam o direito individual à propriedade privada (art. 5º, XXII), o direito coletivo à reforma 
agrária (art. 5º, XXIV c/c 184 e art. 6º) e o direito de todos aomeio ambiente equilibrado (art. 225). 
 Se há algum critério de hierarquia ou de preponderância entre eles. 
 Por fim, qual a forma mais adequada de resolução de possíveis conflitos entre esses direitos (BRASIL, 1988). 
Logo, requer a edição de parecer jurídico levando em consideração as normas vigentes, bem como o 
entendimento nos tribunais acerca da problemática. 
Reflita 
De acordo com o estudo de caso acima, você terá a oportunidade de emitir, como profissional especializado 
na matéria, seu entendimento (parecer) sobre a questão formulada. 
É possível identificar que direitos de primeira geração (direito de propriedade), de segunda geração (direito 
de moradia) e de terceira geração (meio ambiente ecologicamente equilibrado) estão em conflito. Ao 
evidenciar que não há hierarquia entre direitos humanos, posto que eles não se sucedem, mas se acumulam, 
a partir da evolução da própria sociedade, deve-se compatibilizar a situação acima apresentada pela 
ponderação de valores, por se tratarem de princípios que estão em colisão. 
A reflexão passa pela necessária harmonização da matéria ao constatar que, embora sejam dispostos em 
momentos distintos e por versarem sobre direitos individuais, coletivos e difusos, não há hierarquia quando 
estamos diante de colisão de direitos fundamentais. 
 
 
Direito internacional 
 
Ainda que o direito internacional tenha origens que remontem ao antigo direito das gentes, pode-se dizer que 
sua faceta moderna, que coloca o indivíduo no centro do seu espectro de proteção, nasce posteriormente a 
esse contexto. 
Se as primeiras raízes do novo direito internacional começam a nascer no fim do século XIX, com o 
surgimento do direito internacional humanitário, pode-se afirmar, de outro lado, que o segundo pós-guerra 
se constitui em um marco para novos paradigmas do direito internacional. Esse é o momento histórico em 
que se inaugura o sistema de proteção das Nações Unidas e toda uma construção normativa iniciada com a 
Declaração Universal dos Direitos Humanos. 
Para se compreender estes passos, ainda que de forma breve, é importante trazer alguns conceitos que 
possam identificar as três vertentes internacionais de proteção do indivíduo. 
O Direito Internacional Humanitário, também denominado Direito Internacional dos Conflitos Armados, é 
parte do Direito Internacional Público. Apresenta-se como um corpo de normas internacionais, de origem 
convencional ou consuetudinária, destinado especificamente a ser aplicado nos conflitos armados, 
internacionais ou não internacionais, que limita o direito das partes em conflito de escolher livremente os 
métodos e os meios utilizados na guerra, ou que protege as pessoas e os bens atingidos, ou que possam ser 
atingidos pelo conflito. Embora não tenha a pretensão de proibir a guerra, tampouco a ambição de definir 
sua legalidade ou legitimidade, evidencia-se que deve ser aplicado quando o recurso à força foi infelizmente 
imposto e o que resta é reduzir o sofrimento das pessoas que não participaram ou que deixaram de participar 
das hostilidades. 
O foco do Direito Internacional Humanitário relaciona-se à limitação dos meios e métodos utilizados 
durante o conflito, entendendo-se por meio o tipo de arma utilizada durante os atos de beligerância, 
enquanto o método significa a maneira de utilizar tal arma. Os beligerantes não têm o direito ilimitado e 
aleatório de utilizar, de forma arbitrária, cruel e desumana, armas e métodos que possam causar sofrimento 
desnecessário. 
Quanto ao instituto dos refugiados, abarca várias situações relacionadas a perseguições por motivos de raça, 
religião, nacionalidade, opiniões políticas que contrariem os interesses de grupos à frente de um Estado etc. 
As normas internacionais que se aplicam para os refugiados decorrem do contexto de grandes conflitos 
internacionais produzidos no curso do século XX e dos diversos problemas advindos deles, tendo sido 
nomeado, em 1921, como Alto Comissário para os Refugiados, o Sr. Fridtjof Nansen, ainda sob o 
funcionamento da Liga das Nações. Porém, a amplitude da matéria deu-se em decorrência dos 
acontecimentos produzidos durante a Segunda Guerra Mundial, na qual milhares de pessoas foram 
deslocadas de seus Estados de origem. Sob a batuta da Organização das Nações Unidas (ONU), criou-se o 
Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), com o propósito de encontrar 
soluções duradouras para a questão dos refugiados. 
No caso do Direito Internacional dos Direitos Humanos, evidencia-se que está relacionado ao pós Segunda 
Guerra Mundial, tendo seu desenvolvimento sido atribuído às monstruosas violações de direitos humanos da 
era Hitler e à crença de que parte dessas violações poderia ser prevenida se um efetivo sistema de proteção 
internacional em favor do indivíduo já existisse. A pessoa humana passou a ser foco da atenção 
internacional e a dignidade humana se estabeleceu, até certo ponto, como princípio universal e consolida a 
ideia de limitação da soberania nacional e reconhece que os indivíduos possuem direitos inerentes à sua 
existência, que devem ser protegidos. 
 
As três vertentes de tutela internacional 
 
As normas do Direito Humanitário, especialmente a Convenção de Genebra, de 1864, previram o 
regramento em situações de guerra, com o intuito de minimizar a dor e o sofrimento de soldados 
prisioneiros, doentes e feridos em situações de conflito armado. Porém, é a partir de 1945, com a 
proclamação da Carta da ONU, que o sistema internacional de proteção dos direitos humanos ganha força e 
destaque, ao “inaugurar” o Direito Internacional dos Direitos Humanos. 
Dentre vários artigos da Carta da ONU, o art. 55, alínea c, dispõe que as Nações Unidas favorecerão o 
respeito universal e efetivo aos direitos humanos e das liberdades fundamentais para todos, sem distinção de 
raça, sexo, língua ou religião. 
Além disso, o art. 56 estabelece que, para a realização dos propósitos enumerados no art. 55, todos os 
Membros da Organização se comprometem a agir em cooperação com esta, em conjunto ou separadamente. 
No entanto, foi em 1948 que a ONU descreveu o significado de direitos humanos na Declaração Universal 
de Direitos Humanos, adotada sem discordância, mas com abstenções por parte das nações do bloco 
soviético, África do Sul e Arábia Saudita. 
Nos anos seguintes, foram promovidos vários acordos internacionais, entre eles, a Convenção Europeia de 
Direitos Humanos (1950); o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (1966); a Convenção 
Interamericana de Direitos Humanos (1969); os Acordos de Helsinque (1975) e a Carta dos Povos Africanos 
de Direitos Humanos (1981). 
Hoje, não há povo que negue uma Carta de direitos e o respectivo mecanismo de efetivação, o que, todavia, 
ainda não significa uma garantia de justiça concreta, porquanto esses direitos podem variar ao sabor do 
pensamento político ou filosófico informador de determinado Estado. 
Indubitavelmente, o necessário desenvolvimento das instituições de proteção e promoção dos direitos 
humanos é importante para todas as pessoas, sejam elas pobres ou ricas, bem como para existir paz e 
segurança no mundo. 
Neste sentido, é possível inferir que, no sistema internacional, há três vertentes de proteção internacional do 
indivíduo: o Direito Internacional Humanitário, o Direito Internacional dos Refugiados e o Direito 
Internacional dos Direitos Humanos. Em que pese terem normas próprias, apresentam como objetivos 
comuns a salvaguarda dos indivíduos. 
Por essa razão que autores, como Cançado Trindade, procuram estabelecer aproximações e convergências 
entre os “direitos” indicados ao assinalarem matérias relativas à proibição da tortura e de tratamento ou 
punição cruel, desumana ou degradante, a detenção e a prisão arbitrárias, as garantias do devido processo 
legal, a proibição de discriminação de qualquer tipo etc. 
Ressalta-se que, embora existamtraços marcantes de aproximação dos “direitos” indicados, não se pode 
olvidar que o emprego das expressões, quando utilizadas como sinônimos, deve ser evitado, pois possuem 
origens históricas distintas e aplicações igualmente diferenciadas, o que, por vezes, acaba por trazer grandes 
dúvidas aos iniciantes do estudo. 
 
Direito Internacional dos Direitos Humanos 
 
O século XX foi marcado pelas trágicas consequências para a humanidade advindas da eclosão de grandes 
conflitos mundiais. Porém, é possível afirmar que a Segunda Guerra Mundial se apresenta como marco de 
afronta à dignidade da pessoa humana. 
No pós-guerra, os direitos da pessoa humana ganharam extrema relevância ao serem consagrados 
internacionalmente como resposta às atrocidades cometidas durante o período indicado. 
Os direitos humanos ganham força sob a égide da Organização das Nações Unidas, tendo sido produzidos 
vários documentos internacionais para a proteção dos referidos direitos (Declaração Universal de Direitos 
Humanos; Pacto de Direitos Civis e Políticos e Pacto de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais; 
Convenção sobre Discriminação Racial; Convenção sobre os Direitos da Mulher; Convenção sobre a 
Tortura; Convenção sobre os Direitos da Criança etc.). 
A fase legislativa dos direitos humanos corresponde à criação de quadro normativo extenso, que procura 
efetivamente vincular a Organização Internacional aos seus propósitos, bem como a certas disposições 
contidas em seu ato de criação. 
Assim, a proteção internacional dos direitos humanos defere um status e um standard diferenciados para o 
indivíduo, isto é, apresenta um sistema de proteção à pessoa humana, seja nacional ou estrangeiro, diplomata 
ou não, um núcleo de direitos insuscetíveis de serem derrogados em qualquer tempo, condição ou lugar. 
O vasto número de documentos internacionais que foram produzidos sob os auspícios da ONU em matéria 
de direitos humanos fez com que a dignidade da pessoa humana passasse a se inserir entre os principais 
interesses da sociedade internacional. 
Há uma visão de que a sociedade internacional forma um todo e os seus interesses predominam sobre os dos 
Estados individualmente. Outra consequência relevante da internacionalização desses direitos relaciona-se 
com a soberania dos Estados, cuja noção vai sendo alterada de forma sistemática, ou seja, os direitos 
humanos deixam de pertencer à jurisdição doméstica ou ao domínio reservado dos Estados. 
Dessa forma, os direitos humanos que pertenciam ao domínio constitucional estão em uma migração 
contínua e progressiva para uma diligência internacional. Na busca incessante do reconhecimento, do 
desenvolvimento e da realização dos maiores objetivos por parte da pessoa humana e contra as violações que 
são perpetradas pelos Estados e pelos particulares, o Direito Internacional dos Direitos Humanos tem-se 
mostrado um instrumento vital para a uniformização, o fortalecimento e a implementação da dignidade da 
pessoa humana, que se constitui como um verdadeiro valor na sociedade internacional e deve servir de 
orientação a qualquer interpretação do Direito Internacional Público. 
Ao se solidificar a ideia de que os direitos humanos permeiam todas as áreas da atividade humana e 
correspondem a um novo ethos de nossos tempos, a dignidade da pessoa humana passa a ser considerada 
como núcleo fundamentador dos ordenamentos jurídicos (nacional e internacional), entendendo-se como o 
conjunto de normas que estabelecem os direitos que os seres humanos possuem para o desempenho de sua 
personalidade e determinam mecanismos de proteção a tais direitos. 
No caso das normas de Direito Internacional dos Direitos Humanos, estas encontram-se intimamente 
relacionadas com o tema da subjetividade internacional do indivíduo, tendo se desenvolvido após a Segunda 
Guerra Mundial. São construídos os seus alicerces com base em princípios distintos dos que imperam no 
Direito Internacional Clássico, que desconhecia o indivíduo como sujeito de direito internacional, o que trará 
grandes repercussões em sua autonomia dogmática e na atuação prática. 
Foram criados diversos mecanismos de proteção na ordem jurídica internacional, por exemplo, no âmbito da 
Organização das Nações Unidas, o sistema de relatórios; de queixas; de reclamações interestatais; o 
Conselho (antiga Comissão) de Direitos Humanos etc. Também, nos sistemas regionais de proteção dos 
direitos humanos, a ser posteriormente demonstrado. 
 
 
 
 
Introdução da aula 
 
Caro aluno, a Organização das Nações Unidas, ao ser criada no ano de 1945, inaugura um novo momento no 
campo das relações internacionais ao integrar o indivíduo como sujeito de Direito Internacional. Os direitos 
da pessoa humana passam a ser universalizados, propiciando a criação de um verdadeiro “código 
internacional dos direitos humanos”. 
Os Estados instituíram, na Carta de São Francisco – a Carta da ONU –, a necessidade de preservar as futuras 
gerações do “flagelo da guerra” e, para tanto, atuar para a manutenção da paz e da segurança internacional, 
bem como para a valorização e a proteção da pessoa humana, de modo que os Estados devem promover e 
proteger os direitos humanos com ações que possam estar acompanhadas de atitudes que demonstrem a 
intenção em cooperar com os trabalhos desenvolvidos na esfera internacional. Nessa esteira, as etapas de 
produção normativa, de promoção e de proteção ganham relevo para a compreensão da matéria. 
 
Direito Internacional dos Direitos Humanos 
 
Após a hecatombe da Segunda Guerra Mundial, durante a qual o mundo teve a oportunidade de assistir a 
uma série de barbaridades envolvendo milhares de pessoas, sentiu-se a necessidade de criar mecanismos que 
pudessem garantir proteção aos seres humanos, florescendo o Direito Internacional dos Direitos Humanos. 
O moderno Direito Internacional dos Direitos Humanos é um fenômeno do pós-guerra e seu 
desenvolvimento pode ser atribuído às monstruosas violações de direitos humanos da era Hitler e à crença 
de que parte dessas violações poderia ser prevenida se um efetivo sistema de proteção internacional dos 
direitos humanos já existisse, o que motivou o surgimento da Organização das Nações Unidas, em 1945. 
O Direito Internacional dos Direitos Humanos afirma-se, em nossos dias, com inegável vigor, como ramo 
autônomo da ciência jurídica contemporânea, dotado de especificidade própria. Trata-se, essencialmente, de 
um direito de proteção, marcado por uma lógica própria, voltado à salvaguarda dos direitos dos seres 
humanos, e não dos Estados. 
Com efeito, os direitos inerentes à pessoa humana passaram a ocupar um lócus privilegiado ao serem 
consagrados no ordenamento jurídico internacional. Ao ser considerado objeto principal, pode-se afirmar 
que os indivíduos possuem direitos inerentes à sua existência, que devem ser protegidos. 
A Organização das Nações Unidas tem sua atuação voltada para a manutenção da paz e para a segurança 
internacional, bem como para a valorização e a proteção da pessoa humana, período em que houve 
vertiginoso crescimento de documentos internacionais voltados aos indivíduos. 
A importância e a envergadura das atividades desenvolvidas pelas Nações Unidas no sentido de promover e 
proteger os direitos humanos se expandem com o passar dos anos, atuando em várias frentes, por exemplo, 
na construção e difusão de uma consciência voltada à proteção dos direitos humanos; no processo 
legislativo; na vigilância; no fomento aos estudos; como instância de promoção e de proteção dos direitos 
humanos. 
Com as ações deflagradas pelas Nações Unidas, consolida-se o movimento de internacionalização dos 
direitos humanos, no qual as relações dos Estados com seus nacionais deixam de ter apenas o interesse 
doméstico e passam a ser de interesse internacional, e definitivamente o sistema internacional deixa de ser 
apenas um diálogo entre Estados, sendo a relação de um Estado comseus nacionais uma questão de 
interesse internacional. 
Por fim, pode-se afirmar que o sistema de proteção internacional dos direitos humanos no âmbito da 
Organização das Nações Unidas caracteriza-se como um sistema de cooperação intergovernamental, que 
tem por objetivo a proteção dos direitos inerentes à pessoa humana. Esse sistema é inaugurado no ano de 
1945, com a criação da referida organização internacional, em que fica evidente que o sistema acaba por 
convergir para a proteção dos direitos humanos, ao consagrar princípios fundamentais de seu texto 
normativo, bem como explicitar que a proteção dos direitos humanos é um meio importante para assegurar a 
paz. 
 
Declaração Universal dos Direitos Humanos 
 
 
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, consolida a ideia de uma ética universal e, ao 
combinar o valor da liberdade com o da igualdade, enumera os direitos civis e políticos (arts. 3º a 21), como 
também os direitos sociais, econômicos e culturais (arts. 22 a 28), isto é, os denominados direitos de 
primeira e segunda dimensão. Ademais, também proclama a indivisibilidade dos direitos humanos. É 
possível afirmar que as questões voltadas à indivisibilidade e à universalidade dos direitos humanos tornam-
se temas globais, e a dignidade da pessoa humana passou a refletir o fundamento de muitas Constituições a 
partir de então. 
Embora a universalidade dos direitos humanos tenha sido proclamada com a Declaração de 1948, a matéria 
ganhará amplitude de forma inequívoca a partir das duas Conferências Mundiais de Direitos Humanos: a de 
Teerã, de 1968, e a de Viena, de 1993. 
A Conferência Mundial de 1968 objetivou examinar os progressos alcançados nos vinte anos transcorridos 
desde a aprovação da Declaração Universal, em 1948, bem como instou os Estados a aderirem aos pactos e a 
outros instrumentos internacionais de direitos humanos. 
A Conferência de Viena, no ano de 1993, estabeleceu importantes pressupostos programáticos 
indispensáveis à universalização dos direitos humanos, tais como a interrelação entre desenvolvimento, 
direitos humanos e democracia; a legitimidade do monitoramento internacional de suas violações; o direito 
ao desenvolvimento e a interdependência dos direitos fundamentais. Confirmou-se também a ideia de que os 
direitos humanos extrapolam o domínio reservado dos Estados, invalidando o recurso abusivo ao conceito 
de soberania para encobrir violações, ou seja, os direitos humanos não são mais matérias exclusivas das 
jurisdições nacionais. 
Apesar da diversidade de interesses dos Estados, a constitucionalização das regras de conduta da sociedade, 
no que se refere à proteção dos direitos humanos, é cada vez mais premente. 
Além da fase que corresponde à produção normativa internacional sobre direitos humanos, não se pode 
olvidar das ações de promoção que, da mesma forma, torna-se imprescindível pela ação e realização de 
congressos, conferências, seminários, publicações e todas as demais ações que estejam voltadas à difusão da 
matéria, posto que, para se estabelecer a proteção de maneira efetiva, é necessário que sejam conhecidos os 
mecanismos e procedimentos que estão à disposição para tal. 
No sistema onusiano, ganha relevo o órgão dotado de competência para proteção dos direitos humanos, qual 
seja o Conselho de Direitos Humanos. Todavia, deve-se registrar que há outros órgãos, cuja competência 
originária não esteja voltada aos direitos humanos, mas que também atuam de maneira reflexa. A título 
ilustrativo, cita-se o art. 13 da Carta que atribui à Assembleia Geral a possibilidade de iniciar estudos e fazer 
recomendações, destinados a promover cooperação internacional no terreno político e incentivar o 
desenvolvimento progressivo do Direito Internacional e sua codificação; promover cooperação internacional 
nos terrenos econômico, social, cultural, educacional e sanitário e favorecer o pleno gozo dos direitos 
humanos e das liberdades fundamentais, por parte de todos os povos, sem distinção de raça, sexo, língua ou 
religião. 
Também, torna-se digno de registro o Alto Comissariado para os Direitos Humanos, cujas atribuições 
principais são: promover e proteger o gozo de todos os direitos civis, políticos, econômicos e culturais; 
desempenhar as tarefas designadas pelos órgãos competentes do sistema das Nações Unidas, formulando 
recomendações para promoção dos direitos humanos; proporcionar serviços de assessoramento e assistência 
técnica e financeira; coordenar programas de informação e educação em direitos humanos; aumentar a 
eficiência do mecanismo internacional de proteção dos direitos humanos. Ademais, deve-se enfatizar que 
existem os sistemas regionais de proteção, a exemplo do europeu, americano e africano, que serão 
analisados na sequência. 
 
 
 
 
 
Proteção dos direitos humanos 
 
Os direitos humanos, que pertenciam ao domínio constitucional, estão em migração contínua e progressiva 
internacionalização, sendo certo afirmar que, na busca incessante do reconhecimento, do desenvolvimento e 
da realização dos maiores objetivos por parte da pessoa humana e contra as violações perpetradas pelos 
Estados e pelos particulares, o Direito Internacional dos Direitos Humanos tem-se mostrado um instrumento 
vital para a uniformização, o fortalecimento e a implementação da dignidade da pessoa humana. 
A dignidade da pessoa humana passa a ser considerada como núcleo fundamentador do Direito Internacional 
dos Direitos Humanos (e do direito interno), entendido como o conjunto de normas que estabelecem os 
direitos que os seres humanos possuem para o desempenho de sua personalidade e determinam mecanismos 
de proteção a tais direitos. Neste sentido, é possível inferir que há vários mecanismos de proteção na ordem 
jurídica internacional para a proteção de direitos, cujo destaque é o Conselho de Direitos Humanos. 
O órgão foi criado em 15 de maio de 2006, ao substituir a antiga Comissão de Direitos Humanos, por força 
da Resolução nº 60/251, com a aprovação de 170 países, havendo quatro votos contra (Estados Unidos, 
Israel, Ilhas Marshall e Palau) e três abstenções (Venezuela, Irã e Belarus). 
O Conselho, por meio da Resolução nº 60/251, também chamou a si a responsabilidade de prosseguir com 
todos os mandatos, mecanismos, funções e responsabilidades da Comissão, visando manter um sistema de 
procedimentos especiais, de denúncia e de grupo de trabalhos. 
No tocante aos procedimentos de denúncia (complaint procedures), a Resolução nº 5/1 permite que 
indivíduos e organizações possam trazer reclamações sobre violações para a apreciação do Conselho. Cria, 
também, dois Grupos de Trabalho distintos: o primeiro é o Grupo de Trabalho em Comunicações (Work 
Group on Communications), responsável por examinar as denúncias com base nos critérios de 
admissibilidade previamente estabelecidos. Após análise, a denúncia será submetida ao Estado interessado, 
para que este possa se manifestar a respeito das alegações sobre violações de direitos humanos levadas ao 
seu conhecimento. O segundo é o Grupo de Trabalho em Situações (Work Group on Situations), o qual, com 
base nas informações e recomendações fornecidas pelo Grupo de Trabalho em Comunicações, elabora um 
relatório, que será submetido ao Conselho. Outra criação da Resolução nº 60/251 é o Comitê Consultivo 
(Advisory Committee), que substitui a antiga Subcomissão de Promoção e Proteção dos Direitos Humanos. 
Sua atribuição consiste em fornecer opiniões consultivas de experts ao Conselho, baseadas em estudo e 
pesquisa prévios. 
O Conselho de Direitos Humanos conta, ainda, com outros órgãos subsidiários, que foram estabelecidos pela 
antiga Comissão de Direitos Humanos, incluindo: o Mecanismo de Especialistas em Direitos Humanos dos 
Povos Indígenas; o Fórum sobre Questões Minoritárias; o Fórum Social; o Fórum sobre Empresas e Direitos 
Humanos. 
A agenda do Conselho de Direitos Humanos deve definiros itens a serem tratados pelo Conselho de Direitos 
Humanos em suas reuniões ordinárias, que são acomodadas no programa de trabalho anual e de cada sessão 
do Conselho. Essa agenda deve se basear nos princípios de universalidade, imparcialidade, objetividade, não 
seletividade, diálogo construtivo e cooperação, previsibilidade, flexibilidade e transparência, accountability, 
equilíbrio, caráter inclusivo, perspectiva de gênero, implementação e acompanhamento de decisões, e é 
composta por 10 itens: questões de organização e procedimentos; Relatório Anual do Alto Comissariado 
para os Direitos Humanos e do Secretário-Geral da ONU; promoção e proteção de todos os direitos 
humanos, civis, políticos, econômicos, sociais e culturais, incluindo o direito ao desenvolvimento; situações 
de direitos humanos que requerem a atenção do Conselho; órgãos e mecanismos de direitos humanos; 
Revisão Periódica Universal; situação dos direitos humanos na Palestina e outros territórios árabes 
ocupados; seguimento e implementação da Declaração e Programa de Ação de Viena; racismo, 
discriminação racial, xenofobia e outras formas de intolerância, seguimento e implementação da Declaração 
e Programa de Ação de Durban; assistência técnica e reforço da capacidade institucional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Introdução da aula 
 
Além do sistema global de proteção dos direitos humanos, registra-se, com elevada importância, os sistemas 
regionais de proteção internacional dos direitos humanos: o europeu, o interamericano, o africano, além do 
incipiente sistema árabe. É interessante notar que todas as Convenções preveem, de diferentes modos, a 
expressão dignidade da pessoa humana ou direitos inerentes à pessoa humana em seus preâmbulos, embora 
não possuam necessariamente perspectivas idênticas. 
Fato é que nenhum dos sistemas regionais é estanque ou completamente enclausurado em si mesmo. Pelo 
contrário, convenções de direitos humanos são instrumentos vivos, cujo diálogo recíproco entre os órgãos 
encarregados de dar efetividade à promoção e à proteção dos direitos humanos acaba por promover um 
constante aprendizado recíproco. Essa concepção, que conjuga a necessidade de sistemas de monitoramento 
e, ainda, uma visão dos direitos humanos como interdependentes, está diretamente relacionada às 
Conferências de Teerã e de Viena. Essa última enfatiza, em particular, as conexões entre direitos humanos, 
desenvolvimento e democracia. 
 
Terminologia 
 
A Convenção Europeia de Direitos Humanos (CEDH) de 1950, em seu preâmbulo, apresenta um primeiro 
“considerando” que se reporta à Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) de 1948. Em seguida, 
afirma que a CEDH se “destina a assegurar o reconhecimento e aplicação universais e efetivos dos direitos 
nela enunciados”. Reconhece como bases para a justiça e a paz no mundo, tanto “num regime político 
verdadeiramente democrático” quanto o “respeito dos direitos do humanos”. Conclui que os governos dos 
Estados europeus, com base nisso, tomaram essas primeiras providências para “assegurar uma garantia 
coletiva de certo número de direitos enunciados na Declaração Universal” (TRIBUNAL EUROPEU DOS 
DIREITOS DO HOMEM, 1950, p. 5). 
A Convenção Americana de Direitos Humanos de 1969 é posterior à Carta da OEA de 1948 e à Declaração 
Americana de Direitos e Deveres de 1948, que são documentos centrais na estruturação desse sistema 
regional de proteção dos direitos humanos. A Carta da OEA foi reformada pelos Protocolos de Buenos Aires 
(1967), Cartagena de Índias (1985), Washington (1992) e Managua (1993). Seu preâmbulo contempla a 
“missão história da América” em oferecer ao indivíduo uma “terra de liberdade, favorável ao 
desenvolvimento de sua personalidade e justas aspirações de conviver em paz” e propiciar mediante a sua 
“mútua compreensão e seu respeito à soberania de cada um”. Nessa linha, o preâmbulo entende que a 
“democracia representa condição indispensável para a estabilidade, paz e desenvolvimento da região” (OEA, 
1948, [s. p.]). Já em um contexto diverso da Guerra Fria, a Carta Democrática Interamericana de 2001 
reafirmou, por meio da Assembleia Geral, o compromisso da OEA com a democracia representativa. São 
basicamente essas as diretrizes para uma organização intergovernamental realizar uma sintonia fina entre 
respeito à soberania e à efetivação dos direitos humanos. 
O sistema africano foi concebido por meio de sua Carta, aprovada pela Conferência Ministerial da 
Organização da Unidade Africana (OUA), em Banjul, Gâmbia, em janeiro de 1981, e adotada pela XVIII 
Assembleia dos Chefes de Estado e Governo da Organização da Unidade Africana (OUA), em Nairóbi, 
Quênia, em 27 de julho de 1981. A perspectiva adotada foi mais coletivista, global, comunitária e focada nos 
direitos de 3ª geração/dimensão, quando comparada às Convenções Europeia e Americana. Fica evidente, a 
começar pela própria parte final do nome empregado para designar o documento “... e dos povos”. Essa 
perspectiva também fica evidente em três partes do preâmbulo. A primeira parte enfatiza a liberdade, a 
igualdade, a justiça e a dignidade como objetivos a serem realizados para atender às “aspirações dos povos 
africanos” e conclui, ainda no preâmbulo, com a importância de, nos termos do art. 2º da Carta, “eliminar 
sob todas as suas formas o colonialismo da África” por meio da cooperação e coordenação com os 
instrumentos da Carta da ONU e da DUDH. A segunda traça a diretriz para se adotar os direitos humanos 
em sua universalidade, o que significa, na Carta Africana, “dedicar particular atenção ao direito ao 
desenvolvimento”, já que os “direitos civis e políticos são indissociáveis dos direitos econômicos, sociais e 
culturais” (OUA, 1981, [s. p.]). A terceira merece ser enfatizada: 
 
Os povos continuam a lutar pela sua verdadeira independência e pela sua dignidade, e comprometendo-se a 
eliminar o colonialismo, neocolonialismo, apartheid, o sionismo, as bases militares estrangeiras de agressão 
e quaisquer formas de discriminação, nomeadamente as que se baseiam na raça, etnia, cor, sexo, língua, 
religião ou opinião política. (OUA, 1981, [s. p.]) 
Por fim, há de ressaltar que também existe o incipiente sistema árabe. 
 
Aspectos históricos 
 
A região do continente europeu, abrangida pelo Conselho da Europa, é a parte do mundo mais desenvolvida 
no que tange à proteção dos direitos humanos, nos termos da Convenção Europeia para a Proteção dos 
Direitos Humanos e das Liberdades Fundamentais. Essa necessidade de proteger os direitos humanos 
ocorreu, em grande medida, em razão das atrocidades que foram praticadas, especialmente, por ocasião da 
Segunda Guerra Mundial no velho continente. O sistema europeu possui dispositivos que são consagrados 
na Convenção Europeia para a Proteção dos Direitos Humanos e das Liberdades Fundamentais, bem como 
em instrumentos da União Europeia e na Carta de Direitos Fundamentais da União Europeia. 
No caso do sistema africano, este foi concebido pela sua Carta, aprovada pela Conferência Ministerial da 
Organização da Unidade Africana (OUA) em Banjul, Gâmbia, em janeiro de 1981, e adotada pela XVIII 
Assembleia dos Chefes de Estado e Governo da Organização da Unidade Africana (OUA) em Nairóbi, 
Quênia, em julho de 1981. Apresenta como objetivos fundamentais a defesa da soberania dos Estados, bem 
como da integridade territorial e independência de seus membros, o desenvolvimento e a integração 
socioeconômica do continente africano e o respeito aos direitos humanos. Além da Carta Africana sobre 
Direitos Humanos, o sistema africano de proteção aos direitos humanos apresenta outros documentos 
importantes e que versam sobre temas específicos, como a Convenção para Eliminação dos Mercenários e a 
Carta Africana sobre os Direitos e o Bem-estar da Criança. Destaca-se que o texto produzido na África 
distingue-se em seus traços gerais dos documentos produzidos na Europa

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