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CURSO ON-LINE – DIREITO CIVIL – TEORIA E EXERCÍCIOS C U R S O O N - L I N E – D I R E IT O C I V I L – T E O R I A E E XE R C Í C I O S P/ RECEITA FEDERAL P / R E C E I T A F E D E R A L PROFESSOR: LAURO ESCOBAR P R O F E S S O R : L A U R O E S C O B A R www.pontodosconcursos.com.br w w w . po nto dos c on c ur s o s . c o m . b r 1 1 AULA 05 ATO ILÍCITO RESPONSABILIDADE CIVIL (arts. 186/188, 927/943 e 944/954, CC) Meus Amigos e Alunos. Esta foi a nossa última aula, completando o Edital referente ao AFRF/2009. Minha experiência como professor sempre foi em uma sala de aula... vendo meus alunos... percebendo suas reações quando explico a matéria ou contando algum caso interessante, transmitindo novos conhecimentos ou simplesmente avivando os que, por algum motivo, estavam adormecidos. Ultimamente, nestes cursos por internet, é diferente... nem vocês me viram, nem eu pude ter a satisfação de vê-los ao dar as aulas. Somente pude senti-los quando dos e-mails que recebi, muitos com palavras amáveis que sempre agradeci, de coração. Outros expondo suas dúvidas que sempre tentei sanar e explicar de uma maneira simples e objetiva. Espero ter correspondido a expectativa de vocês, que mesmo não me conhecendo pessoalmente confiaram em meu trabalho e nas aulas que seriam ministradas. Com certeza isso se deve à idoneidade do PONTO DOS CONCURSOS. Espero que estas aulas lhes tenham sido úteis e tenham trazido a carga de informações que vocês necessitam para que possam alcançar aquilo que almejam: o sucesso nos concursos. Lembrem-se que estou “torcendo” por vocês. Cada vez que recebo a notícia de que um aluno obteve sucesso, fico feliz, como se eu mesmo tivesse passado em um novo concurso. Algum dia é possível que nós nos conheçamos pessoalmente... “bater um papo” descontraído, tomar um cafezinho e, acima de tudo, vê-los vencedores e ter a alegria e ter contribuído, por menor que seja minha participação, para esta vitória. Recebam todos um grande abraço, como se eu estivesse aí com vocês, e um grande beijo no coração. Mais uma vez desejo tudo de bom para vocês. Muitas ALEGRIAS e SUCESSO nesta empreitada que vocês se propuseram. Antes de começar a aula propriamente dita, preciso dar um aviso importante. Como vocês notaram no título da aula, hoje falaremos sobre o Ato Ilícito e a Responsabilidade Civil. Às vezes, analisando um edital, percebemos que ele se refere apenas ao Ato Ilícito. Outras vezes verificamos que ele CURSO ON-LINE – DIREITO CIVIL – TEORIA E EXERCÍCIOS C U R S O O N - L I N E – D I R E IT O C I V I L – T E O R I A E E XE R C Í C I O S P/ RECEITA FEDERAL P / R E C E I T A F E D E R A L PROFESSOR: LAURO ESCOBAR P R O F E S S O R : L A U R O E S C O B A R www.pontodosconcursos.com.br w w w . po nto dos c on c ur s o s . c o m . b r 2 2 menciona apenas a Responsabilidade Civil. Mas é claro que, tanto em um caso, como em outro, está implícito que cairão na prova os dois temas, pois os mesmos são conexos entre si. Além disso, nosso edital é específico em relação à responsabilidade e ainda pede a repercussão da responsabilidade civil no direito do trabalho. Aliás, cá entre nós e que ninguém nos ouça, exigir isso no edital para o AFRF é bobagem... Isso, para mim, pela experiência que tenho em concursos, foi uma “bobeada” do examinador. Ele simplesmente copiou o mesmo edital para o Fiscal do Trabalho. E com isso vieram temas que não se justificam no AFRF. No Fiscal do Trabalho até se admite. Mas no AFRF... No entanto, como o edital pede, deixemos de lado as lamentações. Comecemos. O Ato Ilícito está previsto nos artigos que vão do 186 até o 188 CC (eles são poucos, mas importantíssimos). Ocorre que não haveria lógica alguma estudar apenas esses poucos artigos. Por isso devemos relacioná-los com o tema sobre a Responsabilidade Civil, que está prevista nos artigos que vão do art. 927 ao 943, CC (e, se incluirmos ainda o tema “indenização” – que também será visto hoje – a previsão se estende até o art. 954, CC). Ou seja, para que nosso estudo seja completo devemos identificar o conceito e a importância do Ato Ilícito (que ainda pertence à Parte Geral do Código Civil) e, de imediato, a sua relação com a Responsabilidade Civil (que integra a Parte Especial – aliás único ponto da Parte Especial exigida no edital). Além disso, a Constituição Federal, em seu art. 5 , incisos V e X prevê o direito à indenização por dano o moral, material e à imagem. Assim, durante a aula, responderemos a seguinte questão: praticado um ato ilícito (civil ou penal), quais as repercussões na esfera da responsabilidade civil? Aconselho que todos tenham em mãos os artigos referentes ao tema que iremos estudar para um melhor acompanhamento desta aula, pois hoje nós vamos estudar os dois temas em conjunto, embora dispostos em lugares diferentes no Código. No entanto, sempre que necessário, irei transcrever os artigos de maior relevância. CONCEITO DE ATO ILÍCITO O Ato Ilícito está previsto no art. 186, CC. Podemos conceituá-lo como sendo o ato praticado em desacordo com a ordem jurídica, violando, consequentemente, direito subjetivo individual. No dizer de Francisco Amaral: “A ilicitude significa contrariedade a um dever jurídico, consistindo na ofensa a direito subjetivo ou na infração de preceito legal, que protege interesses alheios, ou ainda no abuso de direito”. Resumindo: praticar um ato ilícito é incidir na infração ao dever de não lesar outrem (em latim dizemos neminen laedere – a ninguém se deve lesar). E se este ato ilícito causar danos a outrem (patrimoniais ou morais), cria-se o dever de reparar os prejuízos decorrentes. Por isso o Ato Ilícito é considerado também como uma “Fonte de Obrigação” (art. 927, CC), pois praticado um Ato CURSO ON-LINE – DIREITO CIVIL – TEORIA E EXERCÍCIOS C U R S O O N - L I N E – D I R E IT O C I V I L – T E O R I A E E XE R C Í C I O S P/ RECEITA FEDERAL P / R E C E I T A F E D E R A L PROFESSOR: LAURO ESCOBAR P R O F E S S O R : L A U R O E S C O B A R www.pontodosconcursos.com.br w w w . po nto dos c on c ur s o s . c o m . b r 3 3 Ilícito a lei obriga a reparação dos danos. Como veremos mais adiante o prejuízo causado (o dano) pode ser patrimonial ou moral. Vejam que logo no início desta aula já estamos relacionando dois artigos dispostos em lugares bem diferentes do Código Civil: quem pratica um Ato Ilícito (art. 186, CC) tem a obrigação de reparar o dano (art. 927, CC). O Ato Ilícito é considerado como um Fato Jurídico (em sentido amplo). Lembrem-se do gráfico que forneci na aula sobre os Fatos Jurídicos (se alguém ficou com alguma dúvida retorne a ela). Ele produz efeitos jurídicos. Esses efeitos geralmente não são desejados pelo agente (ninguém gosta de indenizar outrem), mas impostos pela lei (por isso eles também são chamados de atos involuntários, pois os efeitos são involuntários, ou seja, não desejados pelo agente). Há infração de um dever e, consequentemente, a imputação de um resultado. Podemos classificar o Ato Ilícito em: Civil, Penal ou Administrativo. Lógico que nesta aula o que nos interessa é o Ato Ilícito Civil, porém sempre que falamos sobre este tema, acabamos por “invadir” um pouco a área das demais matérias, pois elas estão interrelacionadas; são conexas em relação a este tema. Vejamos. a) Penal – violação de um dever tipificado como crime, pressupondo um prejuízo causado à sociedade; desrespeitado, compromete-se a ordem social (norma de ordem pública); a sanção é pessoal, ou seja é a pessoa do infrator imputável que irá responder pela conduta (não se transmite a responsabilidade penal a terceiros). b) Administrativo – violação de um dever que se tem para com a Administração; a sanção também é pessoal. c) Civil – violação de um dever obrigação contratual ou legal, pressupondo um dano a terceiro; a sanção é patrimonial, ou seja, atinge o patrimônio do lesante (como regra). Há casos em que o sujeito pratica uma conduta e estaofende apenas à sociedade como um todo: trata-se de um ilícito penal. Em outros casos a conduta ofende apenas ao particular: trata-se do ilícito civil. Mas em alguns casos uma só conduta pode ofender à sociedade e ao particular ao mesmo tempo. Pergunto: Se um sujeito com apenas uma conduta causar danos à sociedade (ilícito criminal) e ao particular (ilícito civil), pode responder a dois processos? O sujeito pode ser duplamente responsabilizado? Existe um brocardo jurídico que diz: ne bis in idem (ou seja, ninguém pode ser responsabilizado duas vezes pelo mesmo fato). Será que isto se aplica aqui também? Resposta: o princípio do ne bis in idem existe, mas somente é aplicado na mesma esfera. Ou seja, um sujeito foi processado e absolvido no Direito Penal. Não se pode instaurar um novo processo penal para apurar o mesmo fato. Mas isto não impede de se instaurar um processo civil visando a reparação do dano. Muito embora o fato seja o mesmo, as esferas de competência são diferentes, visando CURSO ON-LINE – DIREITO CIVIL – TEORIA E EXERCÍCIOS C U R S O O N - L I N E – D I R E IT O C I V I L – T E O R I A E E XE R C Í C I O S P/ RECEITA FEDERAL P / R E C E I T A F E D E R A L PROFESSOR: LAURO ESCOBAR P R O F E S S O R : L A U R O E S C O B A R www.pontodosconcursos.com.br w w w . po nto dos c on c ur s o s . c o m . b r 4 4 objetivos diferentes. Portanto uma mesma conduta pode acarretar uma dupla responsabilidade e, portanto, dois processos diferentes. Exemplo: por uma questão de somenos importância “A” agride “B”, nele produzindo lesões corporais. O fato é típico, está descrito no Código Penal (art. 129), logo é um ilícito penal; é um crime. Por outro lado, causando danos (patrimoniais ou morais) à vítima o agente também é obrigado a reparar esses danos na ordem civil. Trata-se, portanto, de um ilícito civil também. Uma mesma conduta teve como consequência dois efeitos: um na ordem penal e outro na esfera civil. E para apurar estas responsabilidades são instaurados dois processos, com objetivos diferenciados. Às vezes a conduta pode atingir também o Direito Administrativo, havendo uma tripla responsabilidade. Exemplo: Vamos tomar como exemplo o peculato. O que é o peculato? Trata-se de um crime, pois está tipificado no Código Penal (art. 312, CP). O que ele diz? O Código Penal o descreve como sendo um crime próprio do Funcionário Público. Uma de suas hipóteses é o caso de um funcionário que tendo a posse de um bem público, dele se apropria (esta é uma das diversas figuras previstas). O funcionário público se apropria de um “lap top” pertencente à Administração, mas que estava sob a guarda deste funcionário. O funcionário que comete a conduta de se apropriar indevidamente de um bem público, ofende, simultaneamente, a três bens jurídicos: Atinge o Direito Penal, pois a conduta se configura em um crime (é típica; está prevista no Código Penal). Além disso, o agente “quebrou a confiança” nele depositada por parte da Administração Pública. Por tal motivo este funcionário irá responder a um processo administrativo, podendo até mesmo perder o cargo (ser demitido). Por último, apropriando-se de um bem público, causou um dano à Administração, portanto cometeu, também um ilícito civil, e, sendo assim, o agente pode ser responsabilizado pelo Estado e compelido a ressarcir o dano que causou. Deste modo, o autor da conduta, com apenas uma ação, ofendeu a três institutos (Penal, Administrativo e Civil), podendo (ao menos em tese) responder a três processos distintos, cada um com objetivos diferenciados. Importante – A responsabilidade penal é pessoal e intransferível. Ou seja, somente a pessoa que pratica o crime, desde que seja imputável (penalmente responsável), é que irá responder por ele. Já a responsabilidade civil é patrimonial, ou seja, o que será atingido é o patrimônio do lesante. Mas em diversas circunstâncias esta responsabilidade pode ser transferida aos sucessores e também aos responsáveis legais do agente. Veremos isso com maior profundidade mais adiante, ainda hoje. Vamos agora fazer um importante “resuminho” do que já vimos até agora: � Ato ilícito é a conduta humana que fere direitos subjetivos privados; está em desacordo com a ordem jurídica, violando um direito subjetivo individual (art. 186, CC). � A consequência do ato ilícito civil é a obrigação de reparar o dano (patrimonial ou moral), de indenizar (art. 927, CC). CURSO ON-LINE – DIREITO CIVIL – TEORIA E EXERCÍCIOS C U R S O O N - L I N E – D I R E IT O C I V I L – T E O R I A E E XE R C Í C I O S P/ RECEITA FEDERAL P / R E C E I T A F E D E R A L PROFESSOR: LAURO ESCOBAR P R O F E S S O R : L A U R O E S C O B A R www.pontodosconcursos.com.br w w w . po nto dos c on c ur s o s . c o m . b r 5 5 � Ato ilícito é um fato jurídico, mas não é um ato jurídico, pois para que seja jurídico é necessário que seja lícito. � Uma mesma conduta ilícita pode causar repercussão no Direito Civil, Penal e Administrativo, podendo haver uma tripla responsabilidade. HISTÓRIA Durante os cursos que ministro, visando concursos públicos, evito falar sobre a história de cada instituto. Isso é muito interessante para “cultura geral”, é uma boa introdução para uma tese de mestrado, mas geralmente não cai nos concursos. Neste curso temos que ser objetivos. Mas... neste caso em particular, é interessante falar um pouco sobre a história do ato ilícito e a reparação do dano, pois com isso sentimos a evolução do Direito. Não só do Direito Civil, mas de todos os ramos do Direito. Primitivamente vigorava a pena de talião (“olho por olho, dente por dente” ou também “quem com ferro fere, com ferro será ferido”), segundo a qual os danos a terceiros eram retribuídos na mesma qualidade e quantidade pela própria pessoa ofendida. Era a tese do “mal pelo mal”. É claro que, em vez de se compensar um dano, causava-se outro, tornando dupla a lesão. O direito evoluiu. Mas até a edição a famosa lei romana conhecida como Poetelia Papiria (326 a.C.) o devedor respondia por suas dívidas com seu próprio corpo (podia ser escravizado) e até mesmo com sua vida (era executado). Com o advento da lei o devedor passou a ser responsabilizado por suas obrigações exclusivamente com seu patrimônio. A execução deixou de ser pessoal para ser patrimonial. Posteriormente, como uma evolução, a Lex Aquilia de Danno consagrou, de forma mais elaborada, o conceito de responsabilidade civil, punindo pecuniariamente o agente por danos injustamente provocados. “Lei Aquilia” – por isso, conforme veremos mais adiante, atualmente falamos em responsabilidade aquiliana. Trata-se de uma expressão muito comum em concursos públicos. Mas, apesar de toda a evolução do direito, ainda permanece viva a idéia de culpa nos atos ilícitos, de modo que como regra, haverá indenização se houver “culpa” do agente. Veremos melhor esta expressão e a sua abrangência mais adiante. RESPONSABILIDADE CIVIL A responsabilidade civil surge em face do descumprimento obrigacional, pela desobediência de uma regra estabelecida em um contrato, ou por deixar, determinada pessoa, de observar um preceito normativo que regula a vida. Nota-se então as duas espécies de responsabilidade civil: contratual e extracontratual. 1) A responsabilidade civil contratual está situada no âmbito da inexecução obrigacional. Como se sabe, as cláusulas contratuais devem ser respeitadas, sob pena de responsabilidade daquele que as descumprir. O CURSO ON-LINE – DIREITO CIVIL – TEORIA E EXERCÍCIOS C U R S O O N L I N E D I R E IT O C I V I L – T E O R I A E E XE R C Í C I O S P/ RECEITA FEDERAL P / R E C E I T A F E D E R A L PROFESSOR: LAURO ESCOBAR P R O F E S S O R : L A U R O E S C O B A R www.pontodosconcursos.com.br w w w . po nto dos c on c ur s o s . c o m . b r 6 6 contrato traz em seu conteúdo uma obrigação assumida, podendo o seu descumprimento gerar perdas e danos. Os principais fundamentos jurídicosdessa modalidade de responsabilidade civil estão dispostos no art. 389, CC, quando a obrigação assumida for positiva. E no art. 390, CC, quando se tem uma obrigação negativa. Obrigação Positiva é a de dar alguma coisa (ex: pagar o aluguel; entregar um quadro que foi comprado, etc.) ou a de fazer algo (pintar um muro ou um quadro; dar uma palestra; realizar uma cirurgia, etc.). Já a Obrigação Negativa é a de não fazer algo, como por exemplo, de não construir um muro divisório acima de três metros). Exemplo de responsabilidade contratual: celebro um contrato de locação. Uma das cláusulas pactuadas determina que o pagamento do aluguel deve ser feito todo dia 15 de cada mês. Estamos no dia 20 e o aluguel não foi pago. Houve, portanto, uma inexecução contratual ocorrendo, como consequência, um ato ilícito civil decorrente do contrato. Surgem então as chamadas obrigações contratuais. São os efeitos do inadimplemento (não cumprimento) do contrato, como por exemplo, a multa pelo atraso no pagamento. Geralmente essa multa é pactuada no próprio contrato de locação. Se o inquilino continuar não pagando o aluguel, poderá ser despejado por falta de pagamento, etc. A culpa contratual não precisa ser provada, bastando que o devedor esteja em mora e que este não decorra de nenhuma das causas excludentes de responsabilidade. 2) Já a responsabilidade civil extracontratual (ou aquiliana) relaciona-se ao desrespeito ao direito alheio e às normas que regram a conduta, representando qualquer inobservância de um preceito legal. Enquanto na responsabilidade contratual, os critérios para a composição do prejuízo, como regra, já estão estabelecidos no contrato, na responsabilidade extracontratual a composição é feita por arbitramento, cabendo ao Juiz esta tarefa. Ela também conhecida por responsabilidade aquiliana, tendo em vista que a Lex Aquilia cuidou de estabelecer, no Direito Romano, as bases jurídicas dessa espécie de responsabilidade civil. Seu fundamento jurídico encontra-se hoje nos arts. 186, 187 e 927, do Código Civil. Nesta hipótese não é necessário constituir o devedor em mora Resumindo: a) Responsabilidade Contratual � surge pelo descumprimento de uma cláusula do contrato (inadimplemento contratual). b) Responsabilidade Extracontratual ou Aquiliana � deriva de inobservância de qualquer outro preceito legal; de normas gerais de conduta (e não de um contrato entre as partes). Consequências A consequência da infração ao dever contratual e/ou ao dever legal (extracontratual) é a mesma � obrigação de ressarcir o prejuízo causado. A diferença está no ônus da prova. CURSO ON-LINE – DIREITO CIVIL – TEORIA E EXERCÍCIOS C U R S O O N - L I N E – D I R E IT O C I V I L – T E O R I A E E XE R C Í C I O S P/ RECEITA FEDERAL P / R E C E I T A F E D E R A L PROFESSOR: LAURO ESCOBAR P R O F E S S O R : L A U R O E S C O B A R www.pontodosconcursos.com.br w w w . po nto dos c on c ur s o s . c o m . b r 7 7 Quando não se cumpre uma cláusula do contrato há uma presunção (relativa) de que a culpa é de quem não cumpriu com o contrato. Em tese o lesado só precisa provar que o contrato não foi cumprido. É a outra parte quem deve provar sua inocência (caso fortuito, força maior). Se não houver esta prova, ele terá que indenizar. No entanto se a responsabilidade é extracontratual, como regra, não existe esta presunção de culpa. A vítima deve provar que a culpa foi do transgressor. Vejamos as teorias sobre o tema. TEORIAS Existem duas teorias sobre responsabilidade civil, que veremos com detalhes. Primeiro falaremos sobre os aspectos gerais de cada uma delas. Depois vamos nos ater à teoria que foi adotada pelo nosso Código: � Teoria da Responsabilidade Subjetiva � Teoria da Responsabilidade Objetiva A) TEORIA DA RESPONSABILIDADE SUBJETIVA Segundo esta teoria, haverá responsabilidade por indenização somente se houver “culpa” do agente. Como veremos, foi a regra acolhida pelo Direito Civil brasileiro, que adotou a Teoria da Culpa. Cuidado!!! Sempre que eu falo em “culpa”, as pessoas lembram de imediato de uma imprudência ou de uma negligência do agente. Mas não é bem assim. Na verdade, culpa não é só isso; é mais do que isso. É um conceito bem mais amplo. Explico. A Teoria da Culpa está se referindo a culpa em sentido amplo, que abrange o dolo e a culpa em sentido estrito. Assim culpa (em sentido amplo) é o gênero. E as espécies são dolo e culpa (em sentido estrito). Assim, quando alguém fala em culpa em sentido amplo, está se referindo ao elemento subjetivo; ao dolo e à culpa propriamente dita. Já vi em provas a expressão “elemento anímico” (vem de animus – intenção, que por sua vez de deriva de alma, de sopro de vida). Assim, o elemento subjetivo ou anímico tem como espécies: φ Dolo – pleno conhecimento do mal; o agente pratica uma conduta, tem consciência dos efeitos desta conduta e, mesmo assim, deseja as consequências maléficas (dolo direto) ou assume o risco de produzi-las (dolo eventual). Trata-se da ação ou omissão intencional ou voluntária. φ Culpa (em sentido estrito) – violação de um dever que o agente poderia conhecer e acatar; o agente pratica uma conduta e não quer o resultado, mas este acaba ocorrendo por alguma circunstância. CURSO ON LINEC U R S O O N L I N E DIREITO CIVIL – TEORIA E EXERCÍCIOS D I R E IT O C I V I L – T E O R I A E E XE R C Í C I O S P/ RECEITA FEDERAL P / R E C E I T A F E D E R A L PROFESSOR: LAURO ESCOBAR P R O F E S S O R : L A U R O E S C O B A R www.pontodosconcursos.com.br w w w . po nto dos c on c ur s o s . c o m . b r 8 8 Portanto, pela Teoria da Responsabilidade Subjetiva, haverá indenização toda vez que o agente tenha praticado o ato danoso porque o conhecia e o quis (dolo direto) ou assumiu o risco do resultado (dolo eventual). Mas também quando o agente, embora não o conhecesse e não o quisesse, tenha agido por negligência ou imprudência ou violado norma que podia ou devia conhecer e acatar (culpa em sentido estrito). Prevalece a teoria da previsibilidade. Se o ato era previsível (para a pessoa diligente, prudente e conhecedora da norma), então haverá culpa para o agente. Exemplo: se eu bato na traseira do carro de uma outra pessoa, presume-se a minha culpa, porque há uma regra geral pela qual se deve guardar distância do veículo da frente e dirigir com atenção. Lógico que se trata de uma presunção relativa ou juris tantum, ou seja, que admite prova em contrário (diz a jurisprudência: “A presunção de culpa do condutor que abalroa o outro na traseira é relativa, podendo ser elidida se nos autos houver prova robusta em contrário – o veículo da frente é que estava trafegando em marcha- ré”). Outros exemplos: um dentista trata mal um dente, causando a perda do mesmo por falta de conhecimento técnico que deveria ter, age com culpa; o mesmo se diga de um advogado que perde uma causa por total falta de conhecimento, preparo profissional e cuidado ou um médico que realiza uma operação sem necessidade e sem ter o domínio da técnica cirúrgica. Classificação da Culpabilidade (em sentido amplo – ou lato sensu) A principal classificação acerca da culpabilidade é (reforçando o que já foi dito): � Culpa Contratual ↓ resulta da violação de um dever inerente a um contrato. Exemplos: o inquilino que não paga o aluguel, o empregado que contratado para isso, deixa de cuidar dos animais, o depositário que não conserva o bem, professor que não vem dar aula, etc. Este descumprimento contratual gera responsabilidade de indenizar as perdas e danos (art. 389, CC). � Culpa Extracontratual ou Aquiliana ↓ resulta da violação de um dever fundado em princípios gerais do direito, como o respeito às pessoas e aos bens alheios; deriva de infração ao dever de conduta imposto pela lei (dever legal). Não há necessidade de se constituir o devedor em mora. Exemplo: motorista, trafegado com excesso de velocidade em local incompatível, provoca um atropelamento. Praticadoum ilícito civil derivado de um contrato (culpa contratual) ou de um dever legal (culpa aquiliana), surge a obrigação de indenizar. Porém, no primeiro caso a responsabilidade é determinada como consequência da inexecução de um contrato, sendo que o lesado só necessita demonstrar o descumprimento do contrato (nesse caso a culpa é presumida). Já na segunda CURSO ON-LINE – DIREITO CIVIL – TEORIA E EXERCÍCIOS C U R S O O N - L I N E – D I R E IT O C I V I L – T E O R I A E E XE R C Í C I O S P/ RECEITA FEDERAL P / R E C E I T A F E D E R A L PROFESSOR: LAURO ESCOBAR P R O F E S S O R : L A U R O E S C O B A R www.pontodosconcursos.com.br w w w . po nto dos c on c ur s o s . c o m . b r 9 9 hipótese a responsabilidade se funda na inobservância de um dever genérico (art. 186, CC) e o lesado deve comprovar o elemento subjetivo. Desta forma a diferença primordial entre ambas as responsabilidades reside no ônus da prova. Na responsabilidade contratual não se exige qualquer prova da culpa da inexecução do contrato; basta provar que o contrato não foi cumprido. Já na responsabilidade extracontratual é necessário que se prove a culpa (em sentido amplo) do réu. Outras Classificações da Culpabilidade. Doutrinariamente a culpa possui diversas espécies, que geralmente são expressões latinas. Não é raro o examinador usar algumas destas expressões. Portanto, vamos a elas: � culpa in eligendo ↓ é a resultante de má escolha de um representante ou do preposto. � culpa in vigilando ↓ é a que resulta da ausência de fiscalização (ex: dono de veículo que não o conserva, dono de hotel que não vigia suas dependências, etc.). � culpa in committendo ↓ é a que resulta da prática de um ato positivo pelo agente; trata-se de uma ação (ex: dirigir em excesso de velocidade, causando um atropelamento, passar em um sinal vermelho, etc.). � culpa in omittendo ↓ decorre da abstenção de um ato pelo agente; trata-se de uma omissão (ex: empregado que não tranca a porta do estabelecimento ao final do expediente; médico que não faz a operação completa, etc.). � culpa in custodiendo ↓ decorre da falta de cuidado em se guardar, custodiar algo (ex: dono de animais que estragaram a plantação do vizinho, pois ele deixou a porteira aberta). A culpa ainda pode ser classificada em grave (quando resulta de dolo ou negligência crassa), leve (quando a conduta se desenvolve sem a atenção normalmente devida; a lesão seria evitável com atenção ordinária) e levíssima (quando o fato só teria sido evitado mediante cautelas extraordinárias ou especial habilidade). No Direito Civil, como regra, responde-se por qualquer espécie de culpa, inclusive a culpa levíssima, porque se tem em vista a extensão do dano (art. 944, CC) e não o grau da culpa. Todo prejuízo que a vítima conseguir provar deve ser indenizado. No entanto, apesar disso, nosso Código estabeleceu que se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o Juiz reduzir, equitativamente, a indenização (art. 944, parágrafo único, CC). Nos danos morais o grau da culpa também pode influir no quantum indenizatório arbitrado (ou seja, no valor da indenização), por não se tratar propriamente de um ressarcimento, mas de uma compensação satisfativa. Consequências CURSO ON-LINE – DIREITO CIVIL – TEORIA E EXERCÍCIOS C U R S O O N - L I N E – D I R E IT O C I V I L – T E O R I A E E XE R C Í C I O S P/ RECEITA FEDERAL P / R E C E I T A F E D E R A L PROFESSOR: LAURO ESCOBAR P R O F E S S O R : L A U R O E S C O B A R www.pontodosconcursos.com.br w w w . po nto dos c on c ur s o s . c o m . b r 1 1 0 0 Como vimos, havendo dano decorrente do ato ocorrido com culpa (em sentido amplo) do agente, haverá obrigação de indenizar a pessoa que foi lesada. No entanto, em algumas hipóteses esta teoria passou a ser considera injusta para a vítima, pois nem sempre é fácil provar a culpa do causador do dano. Por isso, em algumas situações adotou-se a “presunção de culpa” em determinadas situações. Surge então a teoria da responsabilidade objetiva. B) TEORIA DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA Por esta teoria não é necessário verificar a existência de culpa do agente. Fundada na Teoria do Risco, a responsabilidade objetiva independe da culpa; esta não é discutida. Verifica-se somente a existência de uma conduta, do dano e a relação de causalidade entre eles, decorrendo daí a obrigação de indenizar. Exemplo: a responsabilidade do hoteleiro pelo furto de valores praticados por empregados do hotel contra os hóspedes � digamos que já esteja provada a conduta do funcionário, o dano suportado pelo hóspede e o nexo causal entre a conduta do funcionário e o dano � logo, o dono do hotel responde por este dano suportado pelo hóspede, independentemente de eventual culpa sua no evento. Outra hipótese: pelo simples fato de um empregado se ferir no serviço há a responsabilidade e, via de consequência, uma indenização a ser paga pelo seguro, que não examina se houve culpa ou não do dono do serviço. Passou-se a considerar que aquele que obtém vantagens no exercício de uma atividade deve também responder pelos eventuais prejuízos desta atividade. Trata-se da aplicação do brocardo jurídico: “quem aufere cômodos, arca também com os incômodos”. As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos (concessionárias e permissionárias) também têm responsabilidade civil, ou seja, respondem pelos danos causados pela atividade administrativa, independentemente de culpa de seus funcionários, inclusive no que se refere à culpa anônima ou do serviço (isto está previsto no art. 37, § 6 , CF/88). Trata-se de responsabilidade de ressarcimento de danos, o do tipo objetiva, isto é, não é necessário provar se houve culpa do funcionário. Basta provar que houve a conduta da administração e a lesão ao direito de um particular (sem que tenha havido culpa exclusiva deste particular). Há que se provar a conduta positiva (ação) ou negativa (omissão), a lesão e o nexo causal. Só!! Provadas estas situações, deve-se indenizar. Atualmente, no Direito Administrativo, vigora sobre o assunto a teoria do risco administrativo, que equivale a uma responsabilidade objetiva mitigada (ou seja, diminuída em seus efeitos, abrandada), uma vez que pode ser afastada (pela culpa exclusiva da vítima) ou diminuída (se houver culpa concorrente da vítima). Isto não ocorre na responsabilidade objetiva plena ou CURSO ON-LINE – DIREITO CIVIL – TEORIA E EXERCÍCIOS C U R S O O N - L I N E – D I R E IT O C I V I L – T E O R I A E E XE R C Í C I O S P/ RECEITA FEDERAL P / R E C E I T A F E D E R A L PROFESSOR: LAURO ESCOBAR P R O F E S S O R : L A U R O E S C O B A R www.pontodosconcursos.com.br w w w . po nto dos c on c ur s o s . c o m . b r 1 1 1 1 integral (chamada também de risco integral), em que o Estado responderia em qualquer hipótese, não se admitindo qualquer forma de defesa, nem mesmo caso fortuito ou força maior. Elementos da Teoria Objetiva � existência de uma conduta positiva (ação) ou negativa (omissão). � dano patrimonial ou moral (extrapatrimonial). � nexo causal (relação de causalidade) entre a conduta e o dano. Observação. Vimos acima que a responsabilidade do Estado é objetiva. Porém, segundo a doutrina e a jurisprudência, em algumas hipóteses, especialmente quando houver omissão do Estado, a sua responsabilidade será na modalidade subjetiva. Vejam como foi interessante e completa a seguinte decisão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul: “Omissão negligente do Poder Público. Obrigação de conservação de ruas, calçadas e logradouros públicos em condições de segurança e incolumidade às pessoas. Responsabilidade Subjetiva do Estado caracterizada. Conduta, Dano e Nexo de causalidade demonstrados. Dever de indenizar também pelos danos morais. Culpa concorrente. 1) O sistema jurídico brasileiro adota a responsabilidade patrimonial objetiva do Estado,sob a forma ‘risco administrativo’. Tal assertiva encontra respaldo legal no art. 37, §6 o da Constituição Federal de 1.988. Todavia, quando o dano acontece em decorrência de uma omissão do Estado, é de se aplicar a teoria da responsabilidade subjetiva. 2) Compete ao Município manter e fiscalizar a execução de obra, a fim de manter a incolumidade dos munícipes. Neste passo, a omissão do Poder público em conservar o acesso à residência da autora restou caracterizada, assim como os danos advindos da queda da requerente em valo. 3) Neste caso houve culpa concorrente da autora, porquanto a requerente poderia ter atravessado o valo através da utilização da ponte existente em frente à residência de vizinho, de forma a transpor o obstáculo. 4) A indenização por dano moral deve representar para a vítima uma satisfação capaz de amenizar de alguma forma o sofrimento impingido. A eficácia da contrapartida pecuniária está na aptidão para proporcionar tal satisfação em justa medida, de modo que não signifique um enriquecimento sem causa para a vítima e produza impacto bastante no causador do mal a fim de dissuadi-lo de novo atentado” (9 Câmara a Cível – TJRS – Viamão - Rel. Des. Odone Sanguiné). TEORIA ADOTADA PELO CÓDIGO CIVIL Nosso Código Civil adotou, como regra, a Teoria da Responsabilidade Subjetiva, prevendo em seu art. 186, CC: CURSO ON-LINE – DIREITO CIVIL – TEORIA E EXERCÍCIOS C U R S O O N - L I N E – D I R E IT O C I V I L – T E O R I A E E XE R C Í C I O S P/ RECEITA FEDERAL P / R E C E I T A F E D E R A L PROFESSOR: LAURO ESCOBAR P R O F E S S O R : L A U R O E S C O B A R www.pontodosconcursos.com.br w w w . po nto dos c on c ur s o s . c o m . b r 1 1 2 2 “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”. E arremata no art. 927, caput, CC: “Aquele que, por ato ilícito (art. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”. No entanto, apesar desta regra, devemos tomar muito cuidado porque há diversas exceções, conforme veremos logo adiante. Isto é, há casos em que o próprio Código Civil (que adotou a teoria da responsabilidade subjetiva) admite a aplicação da responsabilidade objetiva. E há algumas leis especiais que também reconhecem outras hipóteses de Responsabilidade Objetiva no Direito Civil. E os examinadores “adoram” estas exceções. O próprio Código Civil prevê, no parágrafo único do art. 927, CC, a obrigatoriedade de reparação de dano independentemente de culpa (ou seja, Responsabilidade Objetiva) nas hipóteses: a) quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. Substitui-se, assim, a culpa pela idéia do risco. b) demais casos especificados em lei (ex: art. 933, CC, Lei de Acidentes do Trabalho, do Meio Ambiente, etc.). ELEMENTOS INDISPENSÁVEIS Já vimos atrás os elementos caracterizadores da responsabilidade em geral (objetiva e subjetiva). Vamos agora aprofundar o tema, com base nos elementos específicos de nossa legislação. Assim, são elementos indispensáveis para que haja responsabilidade e indenização pela prática de um ato ilícito: 1) CONDUTA (é o fato lesivo) ↓ a conduta pode ser causada por uma ação (conduta positiva) ou por uma omissão (conduta negativa). Além disso, pode ser voluntária (dolo) ou causada por uma negligência ou imprudência (que são modalidades da culpa). A regra, o mais comum, é a prática da conduta pela ação. Já para a configuração da omissão é necessário que exista o dever jurídico de praticar determinado fato (a pessoa não podia se omitir), a prova de que a conduta não foi praticada (omissão) e a demonstração de que, caso a conduta fosse praticada, o dano poderia ter sido evitado. Portanto, para configurar a omissão, na prática, é um pouco mais difícil. Na responsabilidade subjetiva, a conduta compreende: CURSO ON-LINE – DIREITO CIVIL – TEORIA E EXERCÍCIOS C U R S O O N - L I N E – D I R E IT O C I V I L – T E O R I A E E XE R C Í C I O S P/ RECEITA FEDERAL P / R E C E I T A F E D E R A L PROFESSOR: LAURO ESCOBAR P R O F E S S O R : L A U R O E S C O B A R www.pontodosconcursos.com.br w w w . po nto dos c on c ur s o s . c o m . b r 1 1 3 3 a) Dolo ↓ violação intencional (ação ou omissão), voluntária (observem que o Código Civil utiliza essa última palavra), do dever jurídico; o agente quer o resultado (dolo direto) ou assume o risco de produzi-lo (dolo eventual). b) Culpa ↓ não há deliberação, intenção de violar o dever jurídico, mas este acaba sendo violado por ter ocorrido uma: � Imprudência ↓ é a prática de um fato considerado perigoso (ex: dirigir veículo em rua movimentada em excesso de velocidade, passar em um sinal vermelho, etc.). � Negligência ↓ é a transgressão ao preceito que exige atenção; é a ausência de precaução ou indiferença em relação ao ato realizado; é a falta de uma cautela ordinária que se exige em face de uma situação (ex: deixar arma de fogo ao fácil alcance de uma criança). � Imperícia ↓ é a ignorância, falta de experiência ou inabilidade com relação às regras para a prática de determinado ato; é a falta de aptidão para o exercício de arte ou profissão. Embora a expressão “imperícia” não esteja prevista expressamente no art. 186, CC, ela também é uma modalidade da culpa. O exemplo clássico é o do médico, do dentista, do engenheiro, etc. que, em face de um desconhecimento ou falta de prática, no desempenho de suas funções, venha a causar dano a interesses jurídicos de terceiros. Na verdade o Código Civil não prevê expressamente a imperícia. Se formos observar bem o art. 186, CC, vamos concluir que ele somente fala em negligência e imprudência. Mas a doutrina costuma ser mais abrangente e minuciosa e falar também sobre a imperícia. Reparem no art. 18, do Código Penal: “Diz-se do crime: I – doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo; II – culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia”. Já para o Código Civil a imperícia seria uma espécie de negligência. Ou seja, o conceito de imperícia estaria embutido no conceito de negligência. Para o Direito Civil não importa se o autor agiu com dolo ou culpa. Tanto faz. Qualquer de suas modalidades as consequências serão as mesmas, ou seja: a reparação do dano, indenização dos prejuízos. 2) DANO (eventus damni) ↓ para que haja pagamento de uma indenização, além da prova de culpa ou dolo na conduta (seja ela positiva ou negativa), é necessário comprovar também a ocorrência de um dano patrimonial ou extrapatrimonial (que é o dano moral). Se não houve dano não haverá responsabilidade. São espécies de dano: A) DANO PATRIMONIAL (material) ↓ é o que atinge os bens da pessoa. Compreende (art. 402, CC): CURSO ON-LINE – DIREITO CIVIL – TEORIA E EXERCÍCIOS C U R S O O N - L I N E – D I R E IT O C I V I L – T E O R I A E E XE R C Í C I O S P/ RECEITA FEDERAL P / R E C E I T A F E D E R A L PROFESSOR: LAURO ESCOBAR P R O F E S S O R : L A U R O E S C O B A R www.pontodosconcursos.com.br w w w . po nto dos c on c ur s o s . c o m . b r 1 1 4 4 a) Danos Emergentes (também chamados de danos positivos) – é a efetiva diminuição do patrimônio da vítima; são os prejuízos efetivamente suportados, o que a vítima realmente perdeu com a conduta do agente. b) Lucros Cessante (também chamados de lucros frustrados ou danos negativos) – é aquilo que a vítima razoavelmente deixou de ganhar em razão da conduta do agente (ausência de acréscimo patrimonial). Trata-se de uma prova mais difícil na prática, pois é baseado no pretérito, ou seja, no quanto vinha rendendo em determinado período. O dispositivo deve ser entendido com parcimônia, pois o dano deve ser atual e concreto. Ou seja, não se pode indenizar um dano futuro e hipotético (que poderia ou não ocorrer). Exemplo: digamos que umapessoa bata o carro (culposamente) em um motorista de praça (táxi). O veículo do taxista ficou muito avariado e ficou na oficina durante dez dias para reparos. O causador do dano deve indenizar os prejuízos que efetivamente ocorreram no automóvel do motorista de praça (que são os danos emergentes) e também deve indenizar os dias em que o motorista ficou parado por causa do acidente (são os lucros cessantes; o que ele deixou de ganhar estando parado). B) DANO MORAL (ou extrapatrimonial) ↓ é o que ofende, não o patrimônio da pessoa, mas sim os direitos da personalidade. Não implica em alteração de patrimônio, resumindo-se em uma perturbação injustamente feita as condições de ânimo do lesado. Em sentido próprio refere-se ao abalo dos sentimentos de uma pessoa, provocando-lhe dor, aborrecimento, tristeza, desgosto, depressão, humilhação, etc., que foge à normalidade, interferindo no comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe desequilíbrio em seu bem-estar físico. Em sentido impróprio ou amplo, abrange a lesão de todos e quaisquer bens ou interesses pessoais (exceto econômicos), como a liberdade, o nome, a família, a honra, a integridade física, etc. Na reparação do dano moral não se pede um preço para a sua dor (o dinheiro não age como um fator de equivalência), mas um meio para atenuar, ao menos em parte, as consequências do dano emocional causados a uma pessoa e de infligir ao causador uma sanção e alerta para que não volte a repetir o ato. Tem, portanto, finalidade punitiva (compensatória) e preventiva para caso de não se reincidir. O Juiz considera o poder econômico das partes e o caráter educativo da sanção. João Oreste Dalazen (Aspecto do dano moral trabalhista) sintetiza as seguintes regras para dimensionar o dano pessoal: � compreender que o dano moral em si é incomensurável; � considerar a gravidade objetiva do dano; � levar em conta a intensidade do sofrimento da vítima; � considerara a personalidade (antecedente, grau de culpa, índole, etc.) e o maior ou menor poder econômico do ofensor; � não desprezar a conjuntura econômica do País; � pautar-se pela razoabilidade e equitatividade na estipulação (evitando-se de um lado um valor exagerado a ponto de levar a um enriquecimento CURSO ON-LINE – DIREITO CIVIL – TEORIA E EXERCÍCIOS C U R S O O N - L I N E – D I R E IT O C I V I L – T E O R I A E E XE R C Í C I O S P/ RECEITA FEDERAL P / R E C E I T A F E D E R A L PROFESSOR: LAURO ESCOBAR P R O F E S S O R : L A U R O E S C O B A R www.pontodosconcursos.com.br w w w . po nto dos c on c ur s o s . c o m . b r 1 1 5 5 sem causa e de outro lado evitando-se um valor tão baixo que seja irrisório e desprezível a ponto de não cumprir a função inibitória). Costumamos nos indignar quando ouvimos nos noticiários caso de homicídios, roubos e estupros. Mas não é de nosso costume nos sensibilizar com os crimes contra a honra das pessoas, que afetam sua moral. Mas isso enquanto o fato não foi conosco, pois somente uma pessoa ofendida em sua honra sabe o quanto a dor moral é profunda. E nada cura a dor moral... uma condenação do ofensor apenas serve como satisfação aos outros, ao meio social em que se vive... mas não cura. Fica sempre uma “cicatriz invisível”. Vejam o que diz o art. 5 o, X da Constituição Federal de 1988: “São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente da sua violação” (vide também o inciso V). Segundo a doutrina e a jurisprudência, as Pessoas Jurídicas possuem honra objetiva (aquilo que as outras pessoas pensam sobre ela: bom nome, tradição, solidez, conceito na sociedade, etc.), por isso também podem pleitear ressarcimento pelo dano moral. Percebam que o Código Civil não traz critérios para a quantificação da indenização por dano moral. No Brasil não há uma “tabela” para apuração decorrente do dano moral. Utiliza-se um “sistema aberto”. Deve o Magistrado fixá-la analisando a extensão do dano, as condições dos envolvidos e o grau de culpa do agente em cada caso. Isso não se avalia mediante simples cálculo, mas visando compensar a sensação de dor da vítima. Portando, isto varia de caso para caso. A compensação em dinheiro deve representar uma satisfação capaz de anestesiar o sofrimento impingido e produzir um impacto no causador do mal a fim de dissuadi-lo de novo atentado. A jurisprudência entende que se deve levar em conta a situação financeira do ofensor e do ofendido. Mas isso pode acarretar distorções (“a dor do pobre vale menos que a dor do rico”). Observação – Se houver dano patrimonial e moral decorrentes do mesmo fato, há a possibilidade de cumulação das duas modalidades de dano, pleiteando-se indenizações em uma mesma ação. Súmula 37 do Superior Tribunal de Justiça: “São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato”. A doutrina ainda cita o chamado dano indireto (ou dano em ricochete). Trata-se do dano que atinge uma pessoa, mas indiretamente atinge um terceiro. Exemplo: A mata B. No entanto B, separado judicialmente, pagava uma pensão a seus filhos menores C e D. Estes, evidentemente, vão sofrer com a morte de A. 3) NEXO DE CAUSALIDADE ↓ Trata-se da relação ou vinculação de causa-efeito entre a conduta (ação ou omissão) e os danos. Não há responsabilidade civil sem a relação de causalidade entre o dano e a conduta CURSO ON-LINE – DIREITO CIVIL – TEORIA E EXERCÍCIOS C U R S O O N - L I N E – D I R E IT O C I V I L – T E O R I A E E XE R C Í C I O S P/ RECEITA FEDERAL P / R E C E I T A F E D E R A L PROFESSOR: LAURO ESCOBAR P R O F E S S O R : L A U R O E S C O B A R www.pontodosconcursos.com.br w w w . po nto dos c on c ur s o s . c o m . b r 1 1 6 6 ilícita do agente. Observem o verbo “causar” empregado no art. 186, CC. Se houve dano, mas sua causa não está relacionada com o comportamento do agente, inexiste a relação de causalidade, não havendo a obrigação de indenizar. E também não haverá esse nexo se o evento se deu por culpa exclusiva da vítima. Exemplo: um passageiro de um ônibus força a porta e desce do veículo que ainda estava em movimento; com isso acaba caindo e se machucando; não pode pleitear indenização, pois o próprio passageiro agiu com culpa; e a culpa foi exclusivamente sua. Se a culpa for concorrente a indenização será reduzida proporcionalmente. O Superior Tribunal de Justiça recentemente julgou um caso em que um pedestre de forma imprudente atravessou uma linha férrea e foi atropelado por um trem. A empresa foi considerada negligente pela má conservação do muro que cerca a linha, possibilitando o acesso ao pedestre. Foi condenada, porém de forma parcial. Também é motivo para exclusão do nexo causal se o fato ocorreu por caso fortuito ou força maior (art. 393, CC). RESPONSABILIDADE OBJETIVA NO CÓDIGO CIVIL Conforme dissemos acima, embora o Código Civil tenha adotado, como regra, a teoria subjetiva para a responsabilização, possui diversos dispositivos em que a responsabilidade é do tipo objetiva. Assim, haverá obrigação de reparar o dano (independentemente de culpa) nos casos especificados em lei ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. Exemplo: os empresários individuais e as empresas respondem independentemente de culpa pelos danos causados pelos produtos postos em circulação (art. 931, CC). Do mesmo modo, há responsabilidade do dono de animais (art. 936, CC), do dono de prédios em ruína (art. 937, CC), do habitante da casa da qual caírem coisas (art. 938, CC), dos acidentes do trabalho, etc. Analisaremos todos esses itens logo mais adiante. BANCO – A jurisprudência é pacífica no sentido de que a responsabilidade pelo pagamento dos danos morais e patrimoniais causados a cliente de um banco por assalto que se desenrolou no interior do próprio banco é da instituição financeira, ainda quefora do expediente e independentemente de existir empresa contratada para fazer a segurança do local. Em caso de assalto a banco, não pode ser alegado motivo de força maior, pois o roubo é fato previsível na atividade bancária. Além do mais a Lei n° 7.102/83 criou para as instituições financeiras um dever de segurança em relação ao público em geral. Neste caso a responsabilidade do banco em relação a eventuais ferimentos de clientes no assalto funda-se na teoria objetiva do risco integral. O STJ apreciou um caso muito interessante a respeito: Um carro-forte foi atacado por atiradores com armas especiais, que estavam em um viaduto. O motorista do carro foi ferido, “perdeu a direção” e atingiu um pedestre que CURSO ON-LINE – DIREITO CIVIL – TEORIA E EXERCÍCIOS C U R S O O N - L I N E – D I R E IT O C I V I L – T E O R I A E E XE R C Í C I O S P/ RECEITA FEDERAL P / R E C E I T A F E D E R A L PROFESSOR: LAURO ESCOBAR P R O F E S S O R : L A U R O E S C O B A R www.pontodosconcursos.com.br w w w . po nto dos c on c ur s o s . c o m . b r 1 1 7 7 estava na calçada, matando-o. Familiares do pedestre ingressaram com ação contra a empresa de segurança. Foi indenizada ou não? A decisão foi por maioria de votos. Parte dos julgadores entendeu que o roubo é hipótese de força maior, que não obriga indenização. A outra parte (vencedora) entendeu que o transporte de valores é atividade sabidamente perigosa, feita com intuito de lucro e não parecia razoável mandar a família do pedestre morto reclamar indenização dos autores do crime de roubo (que não foram identificados). � Questão Polêmica � Ponto delicado é o referente à responsabilidade em caso de assaltos em terminais ou caixas eletrônicos situados fora da agência (autoatendimento 24 horas). Parte da doutrina entende que como a instituição financeira se beneficia com a instalação dos caixas eletrônicos, (facilitando seus negócios, angariando clientes, diminuindo seus gastos e inclusive cobrando por este serviço), deve responder pelo risco que decorre da instalação desses postos, alvo constante da ação dos ladrões. Trata-se de uma estratégia comercial que cria um risco pela instalação do caixa e que por este risco a empresa deve responder. O fundamento seria o art. 927, parágrafo único, CC (responsabilidade objetiva). É a minha posição. Por outro lado, há quem sustente que os assaltos ocorridos em terminais localizados, não na própria agência, mas em via pública, resultariam na responsabilidade do Estado, e não do banco. Isto porque tais caixas estão situadas no interior de bens públicos de uso comum e, portanto, sua fiscalização ficaria a cargo dos agentes da segurança pública (cabe ao Estado e não ao particular a segurança destas áreas) Além disso, há também responsabilidade dos fabricantes, fornecedores de produtos e serviços nas relações de consumo (arts. 12 e 14 da Lei de Defesa do Consumidor - CDC). A legislação de Direito Ambiental (Lei n° 6.938/81, entre outras) também fornece exemplos de responsabilidade objetiva como um meio de se coibir danos ao meio ambiente. A Lei n° 9.605/98, baseada no art. 225, §3º, CF/88, prevê até mesmo situações em que a Pessoa Jurídica pode cometer crime ao meio ambiente e responder por esta conduta na esfera penal. OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR Já sabemos o que é um Ato Ilícito na esfera do Direito Civil. Vamos ver agora o que obriga uma pessoa a reparar os prejuízos que sua conduta causou. O autor de um ato ilícito terá a responsabilidade pelo prejuízo que causou, devendo indenizá-lo. Como já vimos, assim determina o art. 927, caput, CC: “Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”. A obrigação de indenizar decorre da inobservância do dever geral de não causar danos a outrem. CURSO ON-LINE – DIREITO CIVIL – TEORIA E EXERCÍCIOS C U R S O O N - L I N E – D I R E IT O C I V I L – T E O R I A E E XE R C Í C I O S P/ RECEITA FEDERAL P / R E C E I T A F E D E R A L PROFESSOR: LAURO ESCOBAR P R O F E S S O R : L A U R O E S C O B A R www.pontodosconcursos.com.br w w w . po nto dos c on c ur s o s . c o m . b r 1 1 8 8 Os bens dos responsáveis pela ofensa ou violação do direito de outrem, ficarão sujeitos à reparação do dano patrimonial ou moral causado. Trata-se de uma norma de ordem pública. Se a ofensa tiver mais de um autor todos responderão solidariamente pela reparação (art. 942, CC). Ou seja, o titular de uma ação pode propô-la contra um ou contra todos os responsáveis pelo ato ao mesmo tempo. Além disso, no caso de solidariedade, aquele que pagar a indenização terá direito de regresso contra os demais co-devedores, para reaver o que desembolsou. Acrescente-se que o dever de reparar o dano é transmissível aos herdeiros, conforme veremos. ABUSO DE DIREITO O Código Civil atual adotou, em seu art. 187, a Teoria do Abuso de Direito como Ato Ilícito. Trata-se do exercício irregular de um direito. O Abuso de Direito é uma grande inovação e uma boa “dica” para se pedir em um concurso, dada a sua novidade. Ampliou-se a noção de Ato Ilícito, para se considerar como objeto da responsabilidade civil também aquele ato praticado com abuso de direito, em que a pessoa, ao exercer um direito, excede determinadas limitações legais, lesando outrem. Por isso, traz como consequência, o dever de indenizar. Ou seja, o ato era originariamente lícito, mas foi exercido fora dos limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé objetiva ou pelos bons costumes. Alguns autores usam o termo “ato emulativo” para se referir ao Abuso de Direito (já vi este termo cair em alguns concursos com este sentido). No entanto tal expressão não é técnica e também não é muito usada no meio jurídico. Seria aquele ato que a pessoa pratica, não para a sua utilidade, mas para prejudicar um terceiro. Segundo a doutrina majoritária a responsabilidade decorrente do abuso de direito independe de culpa. Portanto tem natureza objetiva. A doutrina costuma usar a seguinte frase: “o abuso de direito é lícito pelo conteúdo, mas ilícito pelas suas consequências". O Código de Defesa ao Consumidor (Lei n° 8.078/90) proíbe toda publicidade enganosa ou abusiva. É enganosa quando induz a erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade e quantidade, origem, preço e quaisquer outros dados sobre o produto ou serviço, até mesmo a omissão sobre dados essenciais. Já a publicidade abusiva é a discriminatória, a que incita a violência, explora o medo e a superstição, desrespeita valores ambientais, etc. Um problema de ordem prática e que atinge tanto o Direito Civil como o Penal é: Se uma pessoa colocar uma cerca eletrificada e esta causa a morte de uma criança que brincava com uma bola, tal fato é considerado abuso de direito? Resposta: é permitido em nosso Direito criar obstáculos para evitar um assalto. Exemplo: cercas com “lanças” de metal; caco de vidro nos muros divisórios, etc. O Direito Penal aceita isso normalmente, chamando essa conduta de “legítima defesa antecipada” ou de “ofendículos”. O Direito Civil também permite isso e chama esta conduta de “exercício regular de um direito”. Mas e CURSO ON-LINE – DIREITO CIVIL – TEORIA E EXERCÍCIOS C U R S O O N - L I N E – D I R E IT O C I V I L – T E O R I A E E XE R C Í C I O S P/ RECEITA FEDERAL P / R E C E I T A F E D E R A L PROFESSOR: LAURO ESCOBAR P R O F E S S O R : L A U R O E S C O B A R www.pontodosconcursos.com.br w w w . po nto dos c on c ur s o s . c o m . b r 1 1 9 9 uma cerca eletrificada? Também é legítima defesa antecipada? Tem se entendido, inclusive para concursos que se a “voltagem” da cerca é pequena, o direito é legítimo; se há um aviso dizendo que a cerca é eletrificada, o direito também é legítimo. Mas se a cerca é disfarçada, sem avisos e com voltagem alta, capaz de matar alguém, a conduta é considerada como abuso de direito; é um exercício irregular do direito. Portanto é Ato Ilícitoe cabe indenização. Cuidado então com a redação da questão. Uma outra questão muito atual diz respeito ao SPAM. O que é um SPAM? Trata-se do envio de e-mails ou mensagens eletrônicas sem que haja solicitação para tanto. A doutrina vem se posicionando no sentido de que esta conduta se configura em Abuso de Direito. E isto por dois motivos: primeiro porque há uma quebra da boa-fé objetiva; segundo porque há um desvio de finalidade sócio- econômica da Internet. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA E SUBSIDIÁRIA Na responsabilidade solidária passiva temos um credor de um lado e por lado uma pluralidade de devedores. E o credor pode exigir a obrigação por inteiro de qualquer um dos coobrigados. É como se todos os devedores fossem apenas um. Segundo o Código Civil (art. 235) a solidariedade não se presume. Ela decorre da lei ou da vontade das partes (contrato). Assim pode o credor, a sua escolha, acionar todos ou apenas o devedor que possui melhores condições para honrar o compromisso. Já na responsabilidade subsidiária existe uma relação principal entre credor e devedor. Há uma preferência. O credor deve inicialmente acionar o devedor para o cumprimento da obrigação. Caso este assim não proceda, o credor acionará o terceiro, que é o responsável subsidiário, o mero garantidor a obrigação. A fiança é o exemplo clássico. RESPONSABILIDADE POR ATOS DE TERCEIROS Como regra, somos responsáveis somente pelas nossas atitudes; pelas nossas condutas. Todos os atos praticados consciente e livremente por uma pessoa capaz (ou seja, que tenha discernimento e autodeterminação) a ela são imputados. Trata-se da responsabilidade por ato próprio. Se o ato é praticado pela própria pessoa que irá indenizar, é chamada de responsabilidade direta. Mas há casos em que uma pessoa pode responder por danos provocados ou causados por outra pessoa. Nesta hipótese o ato é praticado por uma pessoa, mas será outra pessoa quem irá indenizar. A isso chamamos de responsabilidade indireta. Uma pessoa menor de 18 anos não é plenamente responsável; no campo do direito penal é considerada inimputável. Mas mesmo assim, se ela praticar um ato ilícito, haverá obrigação de indenização por seus pais (ou tutores). Lembrando que o menor entre 16 e 18 anos não pode invocar CURSO ON-LINE – DIREITO CIVIL – TEORIA E EXERCÍCIOS C U R S O O N - L I N E – D I R E IT O C I V I L – T E O R I A E E XE R C Í C I O S P/ RECEITA FEDERAL P / R E C E I T A F E D E R A L PROFESSOR: LAURO ESCOBAR P R O F E S S O R : L A U R O E S C O B A R www.pontodosconcursos.com.br w w w . po nto dos c on c ur s o s . c o m . b r 2 2 0 0 a sua idade para eximir-se de uma obrigação, se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior (art. 180, CC). O art. 932, CC arrola diversas hipóteses de responsabilidade civil por atos praticados por terceiros (responsabilidade indireta). Vejamos: � Os pais são responsáveis pelos atos praticados pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia. Exemplo: pai permite que filho dirija sem habilitação; havendo um acidente, o pai deve responder pela conduta do filho. Da mesma forma o pai responde pela conduta de um filho que cometeu delitos como a lesão corporal, o furto, etc. No entanto, pelo art. 928, CC o incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes. Exemplo da primeira situação: os pais são separados e o pai não é o que chama de “genitor-guardião”; ou seja, o filho está sob a custódia da mãe; nesta situação o filho pratica um ato ilícito; obviamente que quem irá responder por este fato é a mãe e não o pai, pois este não tinha a obrigação legal de fazê-lo. Exemplo da segunda situação: o filho menor recebeu uma grande herança de um tio muito rico, no entanto o pai não dispõe de posse alguma; o filho pratica um ato ilícito. Em tese o pai responderia. Mas como o mesmo não tem bens para tanto, a responsabilidade será do próprio menor. Notem que a redação do artigo “é meio inversa”. Na verdade o que o legislador quis dizer é que o responsável pelo menor responde pelos atos (civis). Mas se os pais não dispuserem de meios suficientes (não têm dinheiro) aí quem irá responder é o próprio menor. Resumindo � os pais respondem; se eles não puderem ou não tiverem obrigação, o próprio menor responderá (portanto o incapaz possui uma responsabilidade subsidiária). Interessante acrescentar que a jurisprudência entende que o menor emancipado (art. 5 , parágrafo único, CC) torna-se civilmente o capaz, respondendo por seus atos; contudo, se a decisão de emancipação partiu dos pais, estes não se isentam da responsabilidade; eles continuam responsáveis pelo menor emancipado. No entanto a responsabilidade neste caso será solidária (ou seja, a vítima pode ingressar com a ação somente contra um, somente contra o outro, ou contra ambos, a sua escolha). Outra coisa. O parágrafo único do art. 928, CC determina que esta indenização deva ser equitativa e não será devida se privar do necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependam. Exemplo: o menor tem uma renda mensal de R$ 1.000,00 e foi condenado a pagar R$ 900,00 por mês. Neste caso o Juiz deve abrandar, equitativamente este valor (baixando, por exemplo, para R$ 300,00 ao mês), pois a condenação integral irá privar o incapaz dos meios necessários de sua subsistência. Portanto dizemos que a responsabilidade do menor é subsidiária e mitigada (abrandada, diminuída) equitativamente em relação às suas disponibilidades. Justifica-se isto baseado no Princípio Constitucional da proteção à dignidade da pessoa humana. CURSO ON-LINE – DIREITO CIVIL – TEORIA E EXERCÍCIOS C U R S O O N - L I N E – D I R E IT O C I V I L – T E O R I A E E XE R C Í C I O S P/ RECEITA FEDERAL P / R E C E I T A F E D E R A L PROFESSOR: LAURO ESCOBAR P R O F E S S O R : L A U R O E S C O B A R www.pontodosconcursos.com.br w w w . po nto dos c on c ur s o s . c o m . b r 2 2 1 1 � O tutor e o curador são responsáveis pelos tutelados e curatelados que estiverem nas condições anteriores. � O empregador ou comitente são responsáveis pelos atos de seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho ou em razão dele. Atenção quanto à expressão comitente. Os examinadores costumam gostar dela, pois não é usada em nosso dia-a-dia. Comitente é a denominação que se dá a uma pessoa que encarrega outra de praticar algum ato sob suas ordens e por sua conta (geralmente há uma remuneração para isso, que se chama de comissão). � Os donos de hotéis, hospedaria, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, são responsáveis pelos atos danosos praticados pelos seus hóspedes, moradores e educandos. A pessoa jurídica que exercer exploração industrial terá responsabilidade presumida pelos atos lesivos de seus empregados. Com isso terá de selecioná- los, instruí-los e vigiá-los, tendo a responsabilidade de reparar os eventuais prejuízos que causarem no exercício de suas funções (responsabilidade objetiva). � Atenção � : As pessoas acima apontadas (art. 932, CC), ainda que não haja culpa de sua parte (portanto, responsabilidade objetiva) responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos (art. 933, CC). E aquela pessoa que ressarciu o dano causado por outrem pode reaver o que pagou, por meio de uma ação regressiva contra quem realmente praticou o ilícito, salvo se o causador do dano for seu descendente, absolutamente ou relativamente incapaz (art. 934, CC). Exemplo: um hóspede alega (e prova) que foi furtado por um funcionário do hotel. O dono do hotel, embora não tenha praticado o ato (sua responsabilidade no caso é indireta), embora ele não tenha culpa no evento (sua responsabilidade no caso também é objetiva) irá responder pela conduta de seu funcionário, indenizando o hóspede. No entanto,identificando o funcionário que agiu de forma ilícita, pode o dono do hotel propor uma ação regressiva contra este funcionário (que foi o causador do dano), para se ressarcir do prejuízo sofrido. Outro exemplo: se uma empresa de transporte de pessoas deixa de levar o passageiro a seu destino são e salvo por causa de um acidente, quem responde é esta empresa. No entanto se ficar comprovado que o motorista da empresa é que foi o causador do acidente porque estava embriagado, a empresa continua responsável pela indenização ao passageiro (responsabilidade objetiva), mas poderá acionar o motorista, que foi o causador do dano (responsabilidade subjetiva), para reaver o que desembolsou, por meio da ação de regresso. É interessante completar o tema, deixando bem claro que o direito de regresso deixará de existir quando o causador do prejuízo for um descendente, absoluta ou relativamente incapaz, resguardando-se, assim, o princípio da solidariedade moral e econômica pertinente à família. Exemplo: pai paga CURSO ON-LINE – DIREITO CIVIL – TEORIA E EXERCÍCIOS C U R S O O N - L I N E – D I R E IT O C I V I L – T E O R I A E E XE R C Í C I O S P/ RECEITA FEDERAL P / R E C E I T A F E D E R A L PROFESSOR: LAURO ESCOBAR P R O F E S S O R : L A U R O E S C O B A R www.pontodosconcursos.com.br w w w . po nto dos c on c ur s o s . c o m . b r 2 2 2 2 uma indenização por dano causado pelo filho incapaz (art. 932, inciso I, CC) não pode mover ação regressiva contra esse filho (parte final do art. 934, CC). EXCLUSÃO DE ILICITUDE Podem ocorrer casos em que uma pessoa pratica uma conduta. Esta conduta causou uma lesão a terceiros. E mesmo assim ela não praticou ato ilícito (e, por conta disso, não será responsabilizado). Isto porque a própria norma jurídica, em casos especiais, retira a qualificação de ilícito. Ou seja: em determinadas situações uma pessoa pode praticar uma conduta, lesando terceiros, sem que tenha havido “ato ilícito”. O que ocorreu então neste caso? Pode ter ocorrido o que chamamos de “causas de exclusão da ilicitude”. São elas (art. 188, CC): 1) Legítima Defesa ↓ uso moderado de meios necessários para repelir injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu (legítima defesa própria) ou de outrem (legítima defesa de terceiros). Faltando apenas um destes elementos, deixa de existir a legítima defesa (ex: se o uso dos meios necessários não foi moderado, deixa de existir a legítima defesa, surgindo o dever de indenizar pelo excesso). Exemplo: Vamos supor que “A”, injustamente, passe a agredir “B”, visando sua morte, com uma barra de ferro. Digamos que “B” esteja armado e a sua única saída é efetuar disparos contra “A”. Ele atira por uma única vez e acaba ferindo gravemente ou matando “B”. Ora, ele agiu em legítima defesa. Ele tem o direito de se defender, utilizando, para tanto, moderadamente, os meios necessários que dispunha. Nesta hipótese, quem deu causa à reação (“A” ou seus familiares) não pode exigir indenização. Vejam que “B” atirou contra “A” (ação) e o atingiu (provocou o dano). Foi o disparo da arma de “B” que provocou a lesão de “A” (nexo de causalidade). Apesar de estarem presentes os três elementos da responsabilidade (conduta, dano e nexo), não haverá a indenização, pois ocorreu uma causa de exclusão da ilicitude. Vamos complicar um pouco mais... Vamos supor que “B”, quando se defendeu da injusta agressão de “A”, acabou atirando e atingiu uma terceira pessoa, “C”, que apenas estava passando pelo local. Neste caso “C” terá direito de solicitar indenização de quem o atingiu (no caso “B”, o autor do disparo). No entanto “B” terá o direito de regresso contra quem deu causa a todo evento (“A” ou seus familiares). A legítima defesa putativa (a pessoa pensa que está em legítima defesa, mas na realidade não está) também não exclui a obrigação de indenizar. Embora aqui não seja exatamente o momento para se falar do assunto, mas antecipando, podemos afirmar que o Código Civil também reconhece a chamada legítima defesa da posse (art. 1.210, §1 ). o CURSO ON-LINE – DIREITO CIVIL – TEORIA E EXERCÍCIOS C U R S O O N - L I N E – D I R E IT O C I V I L – T E O R I A E E XE R C Í C I O S P/ RECEITA FEDERAL P / R E C E I T A F E D E R A L PROFESSOR: LAURO ESCOBAR P R O F E S S O R : L A U R O E S C O B A R www.pontodosconcursos.com.br w w w . po nto dos c on c ur s o s . c o m . b r 2 2 3 3 2) Exercício Regular de um Direito Reconhecido ↓ se alguém no uso normal de um direito lesar outrem não terá qualquer responsabilidade por eventuais danos, pois se trata de um procedimento realizado em conformidade com o estabelecido no sistema jurídico. Exemplo: credor que protesta um título de crédito regular, vencido e não pago, prejudicando o crédito do devedor em outros negócios – o protesto é um direito do credor. Outros exemplos: concorrente que se estabelece na mesma rua; credor que penhora bens do devedor; etc. Só haverá ato ilícito se houver abuso de direito (ex: vizinho que produz em sua residência ruído que exceda à normalidade). 3) Estado de Necessidade ↓ deterioração ou destruição de coisa alheia, ou a lesão à pessoa, a fim de remover perigo iminente, quando as circunstâncias a tornarem absolutamente necessária e não se exceder os limites do indispensável para a remoção do perigo. Trata-se de uma situação em que a pessoa entende que uma coisa sua pode sofrer um dano; para removê-lo ou evitá-lo, sacrifica a coisa alheia. Exemplos: na iminência de ser colhido por um caminhão, ou de atropelar um pedestre, arremesso meu carro contra o portão de uma casa alheia destruindo-o; mato o cão do vizinho atacado por hidrofobia e que ameaça várias pessoas. Reforçando: a conduta será legal somente quando as circunstâncias a tornarem absolutamente necessária para a remoção do perigo. Observem que o art. 929, CC determina que se a pessoa lesada ou o dono da coisa não forem culpados do perigo, elas têm direito à indenização do prejuízo que sofreram em face de quem praticou o ato. Porém, completa o art. 930, CC, que a pessoa que ressarciu os danos tem direito à ação regressiva contra o autor do perigo, para reaver o que desembolsou. Portanto, aplica-se a mesma regra da legítima defesa: se o prejudicado é o ofensor nada lhe será devido. Mas quando o prejudicado não é o ofensor (mas uma terceira pessoa), pode esta pedir indenização ao autor do ato (ainda que o ato tenha sido lícito), sendo que este terá o direito de regresso contra o ofensor. Exemplificando: “A” está dirigindo normalmente, mas de repente surge “B”, atravessando a rua de forma displicente. Para não atropelar esta pessoa, “A” arremessa o carro contra o muro da casa de “C”. “C” (o que sofreu a lesão) deve acionar judicialmente “A” (o autor do dano), mesmo que ele não tenha agido de forma ilícita. E este, por sua vez, deve mover ação regressiva contra “B”, que foi o causador originário do dano. No entanto se o lesado foi o próprio autor do perigo (ex: pessoa era dona de um cachorro bravo, sendo que ela o deixava solto; certa ocasião o animal, prestes a atacar o filho de um vizinho, foi morto por este), nada lhe será devido. CURSO ON-LINE – DIREITO CIVIL – TEORIA E EXERCÍCIOS C U R S O O N - L I N E – D I R E IT O C I V I L – T E O R I A E E XE R C Í C I O S P/ RECEITA FEDERAL P / R E C E I T A F E D E R A L PROFESSOR: LAURO ESCOBAR P R O F E S S O R : L A U R O E S C O B A R www.pontodosconcursos.com.br w w w . po nto dos c on c ur s o s . c o m . b r 2 2 4 4 4) Ausência de Nexo de Causalidade ↓ não há responsabilidade se não houver uma relação de causa e efeito entre o dano e a conduta (ação ou omissão) do agente. 5) Culpa Exclusiva da Vítima ↓ também não haverá responsabilidade se o evento ocorreu por culpa exclusiva da vítima. Atenção!! Se a culpa da vítima foi concorrente (ou seja, tanto o agente como a vítima tiveram culpa) a indenização será cabível, mas ela será reduzida proporcionalmente. Portanto, havendoculpa concorrente, haverá responsabilidade e indenização, porém de uma forma reduzida. 6) Caso Fortuito ou Força Maior ↓ como vimos em aula anterior, no tema “Fato Natural Extraordinário” (em caso de dúvida retorne a este ponto), não há uma unanimidade dos autores para conceituar e diferenciar tais institutos. Mas é certo que ambos estão ligados a uma imprevisibilidade e inevitabilidade do evento, além da ausência de culpa pelo ocorrido. EFEITOS CIVIS DA DECISÃO PROFERIDA NO JUÍZO CRIMINAL Regra Geral Prevê nosso Código que a responsabilidade civil é independente da criminal (art. 935, CC). Como vimos uma pessoa que comete um ato ilícito pode sofrer dois processos (um civil para reparação do dano e outro penal, se a conduta for típica). Às vezes até três processos (acrescente-se o administrativo). E a regra é que as decisões tomadas em um processo não vinculam as dos outros. Porém, como veremos, esta não é uma regra absoluta. Como quase tudo no Direito, esta regra também possui exceções. Em regra, vigora em nosso direito o Princípio da Independência da Responsabilidade Civil em relação à Penal. Embora a regra seja a independência das esferas, não se pode mais questionar no juízo cível algumas questões, quando elas já se encontrarem decididas no juízo criminal (art. 63 do Código de Processo Penal). Basicamente são duas as hipóteses que, decididas no juízo criminal, não se discute mais no cível: � a existência do fato, isto é, a ocorrência do crime e suas consequências (engloba-se aqui eventual excludente de criminalidade, como veremos); � ou de quem seja o seu autor, ou seja, a autoria do delito. Situações e Consequências a) Sentença Criminal Condenatória. Para se condenar criminalmente uma pessoa é imprescindível que esteja cabalmente demonstradas a autoria e o fato delituoso. Provando-se isto no juízo criminal, tais elementos não poderão CURSO ON-LINE – DIREITO CIVIL – TEORIA E EXERCÍCIOS C U R S O O N - L I N E – D I R E IT O C I V I L – T E O R I A E E XE R C Í C I O S P/ RECEITA FEDERAL P / R E C E I T A F E D E R A L PROFESSOR: LAURO ESCOBAR P R O F E S S O R : L A U R O E S C O B A R www.pontodosconcursos.com.br w w w . po nto dos c on c ur s o s . c o m . b r 2 2 5 5 mais ser discutidos no juízo cível. Assim, uma decisão condenatória no juízo criminal torna certa a obrigação de indenizar o dano. Sendo a ação (cível) proposta, não se discutirá mais se o autor do dano deve ou não deve (o an debeatur – o que é devido). Somente se discutirá o valor da indenização (o quantum debeatur – o quanto é devido). b) Sentença Criminal Absolutória negatória do fato e/ou da autoria. Existem diversas hipóteses de absolvição criminal. Elas estão previstas no art. 386 do Código de Processo Penal. Se o Juiz absolver com fundamento em que está provada a inexistência do fato ou de que o réu categoricamente não foi o autor do delito, estas questões também não poderão mais ser discutidas no juízo cível. Se uma ação cível for proposta, fatalmente o Juiz a julgará improcedente. c) Sentença Criminal Absolutória, reconhecendo-se alguma excludente de ilicitude (legítima defesa, estado de necessidade, estrito cumprimento do dever legal ou exercício regular de um direito). A decisão criminal também vincula o juízo cível. A excludente em si não poderá mais ser discutida. Em algumas situações a ação poderá ser proposta contra quem praticou o ato, mesmo que acobertado por uma excludente. Mas este tem direito a ação regressiva contra o verdadeiro provocador da situação. d) Sentença Criminal Absolutória por falta de provas. Este talvez seja o item mais importante. Em algumas situações simplesmente não há provas para uma condenação criminal. Em outras palavras, o Juiz reconhece que até há algumas provas contra o réu. Mas elas não são suficientes para uma condenação criminal. Quando a sentença não concluiu categoricamente se o fato ocorreu ou não ou se o réu foi ou não o autor do ilícito, o Juiz o absolve por falta de provas. Neste caso dizemos que a sentença foi non liquet (ou seja, não- líquida, não-exata). Assim, a matéria eventualmente pode ser novamente discutida no juízo cível. Isso porque as provas que são frágeis para uma condenação criminal (e, por causa disso, o Juiz absolveu o réu por falta de provas) podem ser suficientes para uma condenação na esfera do direito civil. Dizemos que na esfera criminal o Juiz deseja saber o que realmente ocorreu. Ou seja, o fato investigado no processo deve corresponder ao que está fora dele, em toda a sua plenitude, sem quaisquer artifícios, sem presunções ou ficções. Trata-se da chamada Verdade Real (ou Material), onde predomina a indisponibilidade de interesses. E, na dúvida o Juiz absolve (in dubio pro reo). Já no processo civil, a verdade é extraída da análise das provas e manifestações trazidas aos autos pelas partes, sendo que o Juiz pouco ou nada interfere nesta produção. Vale somente o que está nos autos, pois os conflitos geralmente se referem a direitos disponíveis. Trata-se da chamada Verdade Formal (Consensual, Ficta ou Judicial). Exemplos. Uma pessoa cometeu um crime e será processada criminalmente. Ela foi citada e interrogada. Mas durante o trâmite do processo CURSO ON-LINE – DIREITO CIVIL – TEORIA E EXERCÍCIOS C U R S O O N - L I N E – D I R E IT O C I V I L – T E O R I A E E XE R C Í C I O S P/ RECEITA FEDERAL P / R E C E I T A F E D E R A L PROFESSOR: LAURO ESCOBAR P R O F E S S O R : L A U R O E S C O B A R www.pontodosconcursos.com.br w w w . po nto dos c on c ur s o s . c o m . b r 2 2 6 6 ela não comparece às audiências para a quais havia sido regularmente notificada. O Juiz então decreta a sua revelia. Mas não é por isso que ela será condenada automaticamente. O processo seguirá adiante, sendo que o réu continuará sendo defendido por profissional habilitado (seu próprio advogado ou um defensor dativo). E, no final do processo, o réu até pode ser absolvido. Vai depender do que foi apurado; do que realmente ocorreu (verdade real). No entanto se uma pessoa é citada para um processo civil ou trabalhista e não comparece à audiência designada, o Juiz decreta a sua revelia e haverá a presunção de que todos os fatos alegados pelo autor da ação são verdadeiros (o que não pode ocorrer em hipótese alguma no juízo criminal). Não importa se estes fatos são ou não verdadeiros. Vale o que está no processo (verdade formal). Portanto, como percebemos, somente neste item (absolvição por falta de provas no crime) a regra da independência das esferas é aplicada em sua integridade. e) Pessoa que foi reconhecida como penalmente inimputável (ex: durante o processo criminal foi considerado doente mental). Isto pode excluir a sua responsabilidade penal. Mas não exclui a responsabilidade para a reparação de danos na esfera civil. Cai na regra que vimos acima de que o responsável pelo inimputável, responde civilmente por seus atos. f) No caso de questões sobre o estado das pessoas (solteira, casada, viúva, etc.) e sobre a posse, propriedade, etc., prevalecem as decisões do juízo cível. Esta deve ser ‘transportada’ para o juízo criminal. Exemplo: Um sujeito está respondendo pelo crime de bigamia (casou-se duas vezes) na esfera penal (art. 235, CP). Esse sujeito alega que seu primeiro casamento era nulo. Ora, a nulidade de um casamento não pode ser declarada por um Juiz criminal. Portanto, instalado o incidente, o Juiz suspende o processo criminal e a questão (da anulação ou não do primeiro casamento) será discutida no juízo cível. Decidida a questão, o processo criminal volta a tramitar: se realmente o primeiro casamento era nulo não haverá o crime (art. 235, §2 , CP); mas se o o casamento era válido ele será condenado a uma pena que pode variar de 02 (dois) a 06 (seis) anos. Costumo fornecer o gráfico abaixo para fixar bem a possibilidade ou não de vinculação das esferas penal e civil. Lembrem-se de que o art. 935, CC inicia a sua redação
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