Buscar

APOSTILA-SOCIOLOGIA-URBANA

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 75 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 75 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 75 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

SOCIOLOGIA URBANA 
 
2 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3 
1 ABORDAGENS TEÓRICAS NA SOCIOLOGIA URBANA .................................... 4 
1.1 A sociologia urbana da escola de Chicago ....................................................... 6 
1.2 Modernidade e a formação dos centros urbanos ............................................ 10 
2 A SOCIOLOGIA URBANA PELO OLHAR DE ALGUNS AUTORES CRÍTICOS 11 
3 A CIDADE E O CAPITALISMO: OS PROCESSOS DE INDUSTRIALIZAÇÃO E 
URBANIZAÇÃO ........................................................................................................ 20 
3.1 Territorialização e segregação nas grandes metrópoles ................................ 25 
4 AS CIDADES NO BRASIL E NA AMÉRICA LATINA .......................................... 28 
5 SOCIOLOGIA URBANA EM RELAÇÃO AO MEIO AMBIENTE .......................... 37 
6 MUDANÇA SOCIAL E ORGANIZAÇÃO .............................................................. 47 
7 CULTURA e SOCIEDADE.................................................................................... 57 
7.1 CULTURA BRASILEIRA ................................................................................. 60 
8 FUTURO DAS CIDADES...................................................................................... 65 
8.1 Uma cidade harmônica ................................................................................... 71 
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 75 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Prezado aluno! 
 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um 
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é 
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da 
nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à 
execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da 
semana e a hora que lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 
1 ABORDAGENS TEÓRICAS NA SOCIOLOGIA URBANA 
 
A Sociologia é uma disciplina acadêmica que se dedica ao estudo das 
relações sociais, das instituições sociais e da sociedade em geral. É uma ciência 
social que reúne um acervo de conhecimentos acumulados ao longo do tempo e busca 
oferecer explicações sobre o comportamento humano. Em contraste com a Psicologia, 
outra ciência das ciências sociais, a Sociologia não se concentra na análise do 
comportamento individual de forma isolada. Em vez disso, ela examina atitudes e 
comportamentos humanos como fenômenos coletivos, buscando compreendê-los por 
meio das interações sociais e das relações estabelecidas entre as pessoas (GIL, 
2019). 
Frequentemente, muitas pessoas tendem a procurar explicações de natureza 
psicológica ao tentar entender o comportamento humano. Elas buscam entender até 
que ponto as características individuais de uma pessoa podem influenciar seu 
comportamento. Por exemplo, podem indagar se a intenção de votar em um candidato 
específico é moldada pelo interesse pessoal do eleitor ou pela afinidade que ele sente 
pelo candidato. Ou podem questionar se o suicídio está relacionado a distúrbios 
mentais que podem levar alguém a tomar a decisão de encerrar a própria vida. 
Também é comum investigar se a adesão de um trabalhador a um movimento grevista 
está associada ao grau de insatisfação dele com a empresa. 
A violência é uma realidade presente no cotidiano da população brasileira, 
sendo amplamente documentada em noticiários e programas de televisão. Ela se 
tornou lamentavelmente comum, com números alarmantes e relatos de tragédias 
frequentemente divulgados. Os estudos sobre esse tema envolvem diversas áreas do 
conhecimento, como a Sociologia Urbana, o Direito, a Psicologia e as Políticas 
Públicas, entre outras. A análise da violência requer uma abordagem multifacetada, 
explorando uma ampla gama de fatores e nuances, desde os relacionados às 
características individuais dos envolvidos até aqueles de natureza estrutural que a 
condicionam ou influenciam de maneira significativa. 
A cidade, com sua forma, processos e estrutura interna, mantém uma relação 
dialética intrínseca com a sociedade que a abriga. Cada sociedade molda e organiza 
suas áreas urbanas de acordo com suas necessidades e valores, enquanto 
 
5 
 
simultaneamente é influenciada por essas configurações urbanas. O ato de construir 
uma casa, por exemplo, não se limita apenas à edificação física, mas também está 
ligado à construção da identidade e da cultura do indivíduo. Cidades que promovem 
a convivência, respeitam a diversidade, criam espaços propícios para a interação 
social, garantem direitos e fornecem serviços essenciais desempenham um papel 
fundamental na promoção de uma sociedade mais pacífica e harmoniosa. 
Compreende-se que a sociologia é a ciência dedicada à investigação do 
comportamento humano dentro da sociedade e suas consequências. Dentro desse 
contexto, a sociologia urbana é uma subárea que se concentra na análise das relações 
sociais entre indivíduos, grupos e instituições dentro do ambiente urbano. 
Similarmente à antropologia urbana, a sociologia urbana serve como um pilar 
fundamental nos estudos relacionados às cidades e às questões decorrentes das 
interações humanas nesses ambientes urbanos (PESCAROLO, 2017). 
A sociologia urbana concentra-se em abordar temas específicos que incluem 
os processos de industrialização e como eles transformam os espaços sociais, bem 
como as questões de desigualdade social e pobreza. Ela também explora conceitos 
como comunidade, territorialização e a crescente precarização do trabalho, das 
relações sociais e da qualidade de vida das pessoas. 
Nas últimas décadas, essa subárea da sociologia tem demonstrado um 
interesse crescente pelos fenômenos de urbanização e gentrificação, refletindo uma 
preocupação mais ampla com o planejamento urbano e os desafios relacionados à 
violência em centros urbanos densamente povoados. A sociologia urbana reconhece 
que muitas vezes essas questões estão interligadas, contribuindo para um 
entendimento mais abrangente da dinâmica urbana contemporânea. 
A gentrificação é um termo derivado do inglês "gentrification," introduzido pela 
socióloga britânica Ruth Glass em 1963. Glass utilizou a palavra "gentry," que se 
refere às classes sociais mais abastadas, para descrever o fenômeno de 
transformação do centro de Londres, no qual bairros operários passaram a ser 
ocupados pela classe média e alta da cidade (PESCAROLO, 2017). 
Em essência, a gentrificação envolve uma mudança na dinâmica de uma 
região ou bairro, frequentemente manifestada por meio da construção de novos 
edifícios e estabelecimentos comerciais, o que resulta na valorização econômica da 
área. Isso, por sua vez, leva ao aumento dos preços dos imóveis e serviços, tornando 
 
6 
 
a permanência de residentes de baixa renda insustentável devido aos novos padrões 
de custos na região. A gentrificação tem sido objeto de críticas devido à sua natureza 
excludente, tendência à privatização e ênfase excessiva na higienização social. 
Além da sociologia urbana, diversas outras disciplinas buscam incorporar as 
discussõesdesse campo de estudo para enriquecer a compreensão de seus próprios 
objetos de pesquisa, tais como arquitetura e urbanismo, engenharia civil, geografia, 
economia e administração. Para elucidar como certos temas se tornaram centrais na 
sociologia urbana, é importante traçar uma breve explicação sobre a formação do 
campo sociológico e como determinados assuntos passaram a ser foco de interesse 
das ciências sociais. 
No século XVIII e XIX, uma série de eventos históricos impactantes, como o 
advento da modernidade, o crescimento acelerado das cidades, a Revolução 
Francesa e a Revolução Industrial, desempenhou um papel crucial no surgimento da 
sociologia. O cenário europeu, marcado por essas duas grandes revoluções e pelo 
rápido e desordenado desenvolvimento urbano, deu origem a inúmeros conflitos e 
desafios sociais. Consequentemente, a sociedade passou a ser encarada como uma 
questão complexa a ser minuciosamente investigada e solucionada. Nesse momento 
de profundas transformações, os pensadores da época sentiram-se convocados a 
fornecer respostas e a advogar por reformas sociais, tudo isso em meio à sensação 
de uma possível crise iminente (PESCAROLO, 2017). 
Foi assim que a Europa se estabeleceu como o epicentro de onde emanaram 
as principais teorias sociais, uma hegemonia que perdura até hoje, embora tenha sido 
impactada pelas influentes teorias pós-coloniais. Essas teorias permitiram que regiões 
como a África e a América Latina emergissem como produtoras de conhecimento 
relevantes nesse campo, desafiando a primazia europeia nas teorias sociais e 
enriquecendo o panorama acadêmico global (PESCAROLO, 2017). 
1.1 A sociologia urbana da escola de Chicago 
Por que a Universidade de Chicago, nos anos 1920, se tornou um epicentro 
tão prolífico para o desenvolvimento da Escola de Chicago de Sociologia? Como e 
por que, entre 1915 e 1935, a sociologia floresceu de maneira tão notável na Avenida 
Midway, em uma instituição que, desde sua fundação em 1892, exerceu uma 
influência desproporcional no cenário das ciências sociais nos Estados Unidos? Não 
 
7 
 
apenas Chicago se destacou como o epicentro global da sociologia nesse período, 
mas também pela abordagem colaborativa e intelectualmente expansiva de seu 
departamento (EUFRÁSIO, 2020). 
A sociologia não estava sozinha nesse aspecto; a Escola de Chicago de 
Filosofia, liderada por John Dewey, estava no auge de sua influência. A Escola de 
Chicago de Ciência Política ganhava força e reputação, enquanto a Escola de Chicago 
de Economia começava a se destacar no horizonte. 
Existem várias características típicas que podem ser observadas ao distinguir 
uma escola de ciência social. Geralmente, essa escola é liderada por um fundador 
carismático e seguida por um grupo de adeptos que varia em número, geralmente 
compreendendo de uma a três dúzias de membros. O líder desse grupo exibe uma 
personalidade dominante e influente. Os membros da escola compartilham um 
conjunto de ideias, crenças e princípios normativos, muitas vezes diferindo das 
correntes predominantes na disciplina naquela época (EUFRÁSIO, 2020). 
Uma característica essencial de uma escola é a sua busca por modernizar ou 
renovar a disciplina à qual pertence. Ela é composta por uma comunidade científica 
coesa, centrada em torno de uma figura central, o líder intelectual carismático, e em 
torno de um paradigma que orienta a investigação da realidade empírica. 
Nos primeiros anos do século XX, os Estados Unidos desempenharam um 
papel de destaque no campo da sociologia. A Escola de Chicago, em particular, ficou 
fortemente associada à sociologia urbana. Embora o sociólogo alemão Walter 
Benjamin (1892-1940) tenha sido um dos precursores dos estudos sobre processos 
urbanos, foi a Escola de Chicago que se destacou nas áreas de antropologia e 
sociologia urbana. Além disso, esse período testemunhou uma grande migração de 
cientistas sociais europeus para os Estados Unidos devido à guerra, com muitos deles 
provenientes da Escola de Frankfurt. Isso colocou a América no centro das discussões 
sociológicas do século passado (PESCAROLO, 2017). 
A percepção de que os indivíduos estavam se aproximando cada vez mais 
espacialmente, devido ao crescimento demográfico das grandes cidades, estimulou o 
desenvolvimento de estudos relacionados ao surgimento de favelas, à proliferação do 
crime e da violência, bem como ao aumento da população, fenômenos marcantes no 
início do século XX. Esse contexto impulsionou o interesse da sociologia urbana nas 
dinâmicas sociais e nos desafios enfrentados nas cidades em rápido crescimento. 
 
8 
 
A Sociologia foi introduzida nos Estados Unidos durante a virada do século 
XX e rapidamente adquiriu características distintamente americanas, estabelecendo-
se como uma disciplina acadêmica de grande importância. Vários fatores 
desempenharam um papel fundamental na valorização da Sociologia no país. Entre 
esses fatores, destacam-se as rápidas transformações sociais ocorridas, a ética 
protestante que promovia a racionalização do conhecimento e das práticas, a 
orientação pragmática em busca da eficiência, o sistema capitalista voltado para o 
progresso científico e social, bem como a receptividade das universidades americanas 
(GIL, 2019). 
Essa combinação de fatores contribuiu para o florescimento da Sociologia nos 
Estados Unidos, permitindo que se tornasse uma disciplina academicamente 
respeitada e influente, capaz de abordar e analisar as complexas questões sociais 
que surgiam em meio às rápidas mudanças sociais e econômicas do país na época. 
Na década de 1920, a Universidade de Chicago desempenhou um papel 
crucial na formação da primeira "escola" sociológica americana, liderada por 
renomados sociólogos como Robert Park, Everett Burgess, Roderick McKenzie e 
outros. Ao considerarem a cidade de Chicago como um autêntico laboratório de 
pesquisa social, esses acadêmicos desenvolveram estudos pioneiros sobre tópicos 
como marginalidade, segregação étnica, criminalidade e delinquência juvenil. 
Utilizando métodos como estudos de comunidade, histórias de vida e observação 
participante, esses pesquisadores conferiram à Sociologia norte-americana uma 
abordagem nitidamente empírica (GIL, 2019). 
Foi na Universidade de Chicago que as bases do Interacionismo Simbólico 
foram solidificadas, tornando-se uma das perspectivas sociológicas mais influentes. 
Isso se deveu, em grande parte, aos trabalhos de figuras notáveis como George 
Herbert Mead (1863-1931) e Herbert Blumer (1900-1987). O Interacionismo Simbólico 
trouxe uma nova compreensão das interações sociais e da maneira como os 
indivíduos atribuem significado aos símbolos e às interações em suas vidas 
cotidianas, contribuindo significativamente para a sociologia e influenciando 
profundamente o campo das ciências sociais nos Estados Unidos e além (GIL, 2019). 
Após o término da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos entraram em 
um período de notável prosperidade econômica e assumiram o papel de principal 
potência mundial. Isso levou a sociedade americana a recuperar a confiança em seus 
 
9 
 
valores, que haviam sido abalados no início dos anos 1930. Nesse contexto, a 
Sociologia passou a ser vista não apenas como uma disciplina capaz de analisar os 
problemas sociais, mas também de explorar as possibilidades de mudança social em 
um ambiente de estabilidade. Como resultado, a Sociologia nos Estados Unidos 
entrou em uma fase de "idade de ouro" que se estendeu até o final dos anos 1960 
(GIL, 2019). 
Durante esse período, duas principais tendências se destacaram na 
Sociologia americana. Por um lado, houve o desenvolvimento do empirismo 
quantitativo, caracterizado pela utilização de métodos estatísticos rigorosos e análises 
quantitativas. Um dos principais representantes dessa abordagem foi Paul Lazarsfeld 
(1901-1976). Por outro lado, o funcionalismo também desempenhou umpapel 
significativo, buscando compreender como a sociedade funciona, como a ordem é 
estabelecida e como as instituições sociais interagem entre si. Entre os principais 
expoentes do funcionalismo estavam Talcott Parsons (1902-1979) e Robert K. Merton 
(1910-2003). 
Esse período de prosperidade e desenvolvimento intelectual permitiu à 
Sociologia nos Estados Unidos florescer e contribuir de forma substancial para a 
compreensão das dinâmicas sociais e institucionais da sociedade. 
A partir da década de 1960, ocorreu uma transformação significativa no 
cenário sociológico nos Estados Unidos, com uma crescente crítica aos modelos 
anteriores. A sociedade passou por eventos marcantes, como agitações raciais, 
revoluções urbanas, a revolução cubana e, sobretudo, a Guerra do Vietnã, que 
deixaram a sociedade mais crítica em relação às instituições e ao Estado. 
Paralelamente, no ambiente acadêmico, surgiu uma nova tendência conhecida como 
Sociologia Crítica (GIL, 2019). 
Wright Mills foi um dos pioneiros desse movimento, que se caracterizou por 
sua preocupação menos com a ciência pura e mais com questões sociais, 
especialmente relacionadas à desigualdade, como classes sociais, pobreza, 
discriminação social, racismo, poder corporativo, crimes de colarinho branco e 
conflitos sociais. Nesse contexto, Karl Marx, que havia sido em grande parte ignorado 
pelos sociólogos americanos, emergiu como uma das principais influências na 
Sociologia Crítica, graças, principalmente, às suas teorias sobre a natureza dos 
conflitos sociais e suas análises sobre a estrutura de classe na sociedade. 
 
10 
 
 Esse movimento marcou uma mudança significativa na abordagem 
sociológica nos Estados Unidos, enfatizando uma perspectiva mais engajada e crítica 
em relação às questões sociais e políticas. 
1.2 Modernidade e a formação dos centros urbanos 
A modernidade e seus desafios foram o principal objeto de estudo da 
sociologia, especialmente porque a disciplina se consolidou no Grupo de professores 
e pesquisadores da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, durante a década 
de 1920. Esse grupo, que ficou conhecido como Escola de Chicago, produziu 
contribuições significativas para a sociologia, psicologia social e ciências da 
comunicação. Eles deram origem a uma abordagem chamada de behaviorismo social 
ou interacionismo simbólico, que se concentra na análise das relações entre 
indivíduos e comunidades. Essa abordagem enfatiza a interpretação e explicação 
como métodos-chave e investiga a linguagem como um fator crucial na comunicação 
(PESCAROLO, 2017). 
A modernidade pode ser entendida como um período histórico em que a 
sociedade rompeu com a tradição medieval e adotou uma nova visão de mundo. 
Durante a Idade Média, predominava o pensamento escolástico, enquanto a 
modernidade se caracterizou pelo surgimento de uma razão mais autônoma e pelo 
desenvolvimento do capitalismo em todo o Ocidente. Nesse contexto, surgiram as 
ideias de indivíduo e sujeito. Pode parecer estranho, mas antes da modernidade, não 
existia uma concepção que reconhecesse cada pessoa como única, dotada de 
subjetividade. 
 A subjetividade se refere ao mundo interno dos indivíduos, suas visões 
pessoais, pensamentos e sentimentos, que só passaram a ser valorizados no século 
XVII. Antes disso, as pessoas eram percebidas de maneira mais coletiva, sempre 
ligadas ao seu grupo social, sem serem consideradas seres únicos e singulares. A 
modernidade se fundamentou em alguns aspectos-chave, incluindo o individualismo, 
a secularização das instituições e a distinção entre o público e o privado 
(PESCAROLO, 2017). 
A modernidade trouxe consigo uma série de mudanças significativas que 
impactaram não apenas a sociedade, mas também a forma como o conhecimento era 
concebido. Essas transformações incluíram uma crítica epistemológica aos 
 
11 
 
paradigmas que antes dominavam a compreensão do mundo, o surgimento da ciência 
moderna, avanços tecnológicos substanciais, um aumento na importância do fator 
econômico na estruturação social, o desenvolvimento de filosofias nacionais e o 
surgimento das ciências sociais como campo de estudo e investigação. Esses 
elementos juntos moldaram a paisagem intelectual da modernidade e influenciaram 
profundamente a forma como a sociedade percebe a si mesma e o mundo ao seu 
redor. 
Na modernidade, especialmente nas grandes cidades, o conceito de tempo 
tornou-se mais fluido e dinâmico, refletindo uma sensação de constante movimento e 
agitação. 
Outro aspecto significativo associado à modernidade está relacionado à 
maneira como o tempo é percebido. A experiência temporal moderna tem seu foco no 
presente, contrastando com o passado, que é considerado como algo antigo. O tempo 
na modernidade é também caracterizado por sua fugacidade e rapidez, tornando-se 
difícil de ser apreendido. Muitas pessoas atualmente sentem que os dias passam 
velozmente e que o tempo disponível é insuficiente para todas as tarefas e obrigações. 
Embora o tempo cronológico continue inalterado, a modernidade influenciou 
profundamente a percepção e a gestão do tempo subjetivo. Viver nas grandes cidades 
introduz uma sensação de aceleração e constante movimento na subjetividade das 
pessoas (PESCAROLO, 2017). 
2 A SOCIOLOGIA URBANA PELO OLHAR DE ALGUNS AUTORES CRÍTICOS 
A problemática urbana tem sido alvo de análise por numerosos autores que 
são amplamente reconhecidos como clássicos no âmbito das ciências sociais, 
especialmente nos contextos do pensamento social europeu e norte-americano. 
A necessidade de encontrar soluções para as crises e turbulências que 
surgiram nos séculos XVIII e XIX, devido às grandes revoluções e ao crescimento 
desordenado da população urbana, aliada ao surgimento das ideias iluministas, deu 
origem ao positivismo, que foi a primeira grande corrente de pensamento social. Essa 
escola é mais notavelmente associada a Auguste Comte (1798-1857), 
frequentemente considerado o pioneiro da sociologia moderna (PESCAROLO, 2017). 
Os positivistas acreditavam na possibilidade de explicar os problemas sociais 
da mesma forma que se lida com os problemas nas ciências exatas, ou seja, por meio 
 
12 
 
de leis rigorosas. Para esse grupo de pensadores, a sociedade podia ser 
compreendida como um organismo composto por partes integradas que funcionavam 
harmoniosamente, seguindo um modelo de organização física ou mecânica. Portanto, 
o positivismo também era conhecido como organicismo ou darwinismo social, 
representando a crença, por vezes vista como científica, de que as sociedades 
mudavam ou evoluíam de acordo com padrões históricos permanentes. 
Posteriormente, surgiram outros modelos de análise social que desafiaram o 
positivismo. Embora o positivismo nas ciências sociais não tenha sido completamente 
substituído, ele foi questionado por pensadores que levaram em consideração 
aspectos culturais, históricos e subjetivos. 
Embora possamos afirmar que Auguste Comte foi o pioneiro da sociologia, é 
inegável que Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber são os pensadores que 
forneceram as ferramentas mais relevantes para a compreensão dos fenômenos 
sociais, incluindo os fenômenos urbanos. Além desses, outro importante estudioso da 
vida em sociedade foi Georg Simmel (1858-1918), que desempenhou um papel 
significativo na escola sociológica alemã (PESCAROLO, 2017). 
É impossível abordar a sociologia urbana sem mencionar a contribuição de 
Simmel. Um de seus ensaios mais renomados é "A Metrópole e a Vida Mental" (1902), 
no qual ele analisa os impactos das grandes cidades na psicologia humana e nas 
relações sociais. Em sua obra "As Grandes Cidades e a Vida do Espírito" (1903), 
Simmel também oferece reflexões importantes sobre a vida em ambientes 
metropolitanos. Por meio desses textos e outras obras, Georg Simmel exerceu uma 
influência significativa nos estudos relacionados ao fenômeno urbano. 
GeorgeSimmel 
Georg Simmel exerceu uma influência significativa sobre diversos autores, 
especialmente aqueles de origem alemã. Entre os intelectuais que foram influenciados 
por Simmel estão nomes como Max Weber, Walter Benjamin, Theodor Adorno, Max 
Horkheimer, Karl Mannheim e também precursores da Escola de Chicago, incluindo 
Robert Park e Louis Wirth. A obra de Simmel foi um importante catalisador para o 
desenvolvimento de ideias e abordagens inovadoras nas ciências sociais, deixando 
uma marca duradoura no pensamento sociológico e cultural (PESCAROLO, 2017). 
Georg Simmel, nascido em Berlim, enfrentou desafios para se consolidar na 
academia, em parte devido à sua abordagem pouco convencional. Sua obra tinha um 
 
13 
 
caráter fragmentário e não se encaixava facilmente em um único estilo ou em teorias 
sociais que seguiam grandes sistemas de pensamento, como o marxismo, que estava 
em voga na época. Isso o tornou uma figura singular na sociologia, afastando-se das 
abordagens mais tradicionais e rígidas (PESCAROLO, 2017). 
Simmel desempenhou um papel crucial na sociologia urbana ao abordar a 
vida na cidade em diversos ensaios, sendo "A metrópole e a vida mental" um dos mais 
notáveis. Publicado pela primeira vez como uma conferência em 1902, este trabalho, 
embora mais conhecido na sociologia do que na psicologia, chamou a atenção para 
os aspectos psicológicos da vida em uma grande metrópole. Simmel discutiu as 
características únicas e os desafios associados à vida em uma cidade de grande 
porte. 
Assim como Walter Benjamin, Simmel vivenciou as transformações rápidas 
que ocorriam na cidade em seu cotidiano, percebendo como essas mudanças 
afetavam o comportamento e os sentimentos dos indivíduos. Ele destacou como a 
abundância de estímulos nervosos nas cidades desencadeava alterações 
significativas nos mecanismos psicológicos das pessoas, levando a modificações em 
seus comportamentos e formas de sentir. Isso contribuiu para a compreensão das 
complexas interações entre os indivíduos e o ambiente urbano, tornando sua obra 
valiosa para a sociologia urbana (PESCAROLO, 2017). 
Simmel destacou a liberdade como uma característica fundamental da vida na 
era moderna. Ele argumentou que os indivíduos modernos buscavam preservar a 
"autonomia e individualidade de sua existência" diante das forças sociais 
avassaladoras, influências históricas, cultura externa e pressões da vida técnica. A 
partir do século XVIII, as pessoas começaram a se esforçar para se libertar das 
restrições morais e religiosas, influenciadas em parte pelas ideias iluministas, que 
enfatizavam a importância da individualidade e da diferenciação. As cidades 
desempenharam um papel significativo nesse contexto, oferecendo um ambiente 
propício para que os indivíduos buscassem essa liberdade e singularidade. 
Além disso, Simmel argumentou que a grande quantidade de estímulos 
nervosos nas cidades provocava mudanças substanciais nos processos psicológicos 
das pessoas, resultando em modificações em seus comportamentos e maneiras de 
sentir. As grandes cidades eram caracterizadas por constantes mudanças e uma 
notável descontinuidade, proporcionando um terreno fértil para experiências de 
 
14 
 
impressões súbitas e transformadoras. Isso enfatiza a influência do ambiente urbano 
na psicologia dos indivíduos e destaca a complexidade das interações entre as 
pessoas e as cidades modernas (PESCAROLO, 2017). 
Nas pequenas cidades, os relacionamentos tendem a se aprofundar e 
enraizar, desenvolvendo-se gradualmente no ritmo constante da aquisição contínua 
de hábitos. Por outro lado, nas grandes cidades, as relações interpessoais são 
caracterizadas por uma forte preservação da individualidade, resultando em 
interações com um tom menos caloroso. O indivíduo que vive na metrópole muitas 
vezes se torna um anônimo, apenas mais um na multidão. Esse anonimato pode 
estimular comportamentos egoístas e até impiedosos, uma vez que as relações nesse 
contexto tendem a ser impessoais e imprevisíveis, tornando os indivíduos menos 
temerosos de decepcionar os outros. 
O cidadão que vive na metrópole frequentemente se sente desenraizado e 
distante. O excesso de estímulos proporcionado pela experiência nas grandes cidades 
leva a uma crescente consciência e intelectualidade voltada para a preservação da 
vida subjetiva, como uma forma de resistência ao poder avassalador das 
complexidades urbanas. No entanto, essa intensa intelectualidade pode desconectar 
o indivíduo metropolitano de uma conexão mais profunda com suas emoções. 
Consequentemente, esse tipo de indivíduo pode gradualmente adotar uma postura 
desinteressada em relação aos outros, frequentemente manifestando uma frieza 
desprovida de empatia, devido à distância que mantém de suas próprias emoções. 
Nesse contexto urbano, Georg Simmel descreve uma estrutura impessoal na 
cidade, mas ao mesmo tempo, promove uma subjetividade altamente pessoal, 
caracterizada por uma "atitude blasé". Essa atitude é resultado do excesso de 
estímulos e pressões aos quais os habitantes metropolitanos estão sujeitos, levando 
à incapacidade de diferenciar o significado e o valor das coisas. Para a pessoa blasé, 
tudo parece ter o mesmo tom, e nenhum objeto se destaca ou tem preferência sobre 
outro, refletindo uma adaptação à vida nas grandes cidades. 
Georg Simmel argumentou que os habitantes metropolitanos tendem a adotar 
uma postura reservada entre si, que pode ser percebida como frieza e indiferença por 
pessoas de pequenas cidades e áreas rurais. Essa reserva pode evoluir para 
antipatia, estranheza e repulsa em situações de proximidade extrema, até mesmo ódio 
 
15 
 
e conflito. No entanto, essa atitude, quando dirigida a outros, também é sentida 
voltando-se para o próprio indivíduo (PESCAROLO, 2017). 
Simmel acreditava que essa antipatia era uma forma de proteção contra os 
perigos da metrópole, como a indiferença e a influência indiscriminada. Portanto, os 
habitantes metropolitanos desenvolvem mecanismos para coexistir em espaços 
lotados, o que restringe sua liberdade física, mas amplia sua liberdade mental, já que 
o anonimato na multidão é uma experiência única na história, permitindo uma 
sensação de liberdade espiritualizada e refinada. 
Os impactos abrangentes que uma grande cidade exerce sobre um indivíduo 
são vastos. A funcionalidade de uma metrópole ultrapassa amplamente suas 
fronteiras físicas, tornando a liberdade um componente essencial dessa extensão. No 
entanto, essa liberdade é alcançada devido à limitação e à raridade dos contatos 
interpessoais. 
Max Weber 
Max Weber, influenciado por Georg Simmel e abrangendo várias áreas do 
conhecimento, como economia, direito e música, examinou a crescente racionalização 
na vida do homem moderno, especialmente na metrópole. Weber focou em entender 
as razões que levam as pessoas a agir de certas maneiras, classificando as ações em 
quatro tipos: ação racional visando um objetivo específico, ação racional orientada por 
valores, ação afetiva e ação tradicional (PESCAROLO, 2017). 
Weber estabeleceu dois domínios de ação: um mais racional e outro ligado a 
causas menos racionais, como o afeto e as crenças tradicionais, que podem 
influenciar as pessoas a seguir certos comportamentos sem questionar suas razões. 
Essas formas de ação são observadas na vida dos habitantes das grandes cidades. 
Weber escreveu dois textos relevantes para a compreensão da vida urbana: "Conceito 
e categorias da cidade" e "A cidade", ambos publicados postumamente em 1921. 
Segundo Weber, o termo "cidade" refere-se a um grande assentamento com 
construções compactas, em oposição a casas dispersas. Nas cidades, as casas são 
próximas umas das outras, promovendo a formação de comunidades vizinhas. Além 
disso, a maioria dos habitantes das cidades modernas depende economicamente da 
indústria ou do comércio, em contraste com a agricultura. A cidademoderna é 
caracterizada por sua diversidade de ocupações industriais (PESCAROLO, 2017). 
Para Weber, uma cidade moderna é estabelecida de duas maneiras: 
 
16 
 
➢ Pela presença de um território dominado, que serve como sede de um 
governante e atua como um centro onde existe uma indústria especializada que 
atende às necessidades econômicas e políticas, incluindo o comércio de 
mercadorias. 
➢ Devido a um intercâmbio regular e constante de mercadorias na localidade, que 
desempenha um papel essencial na atividade econômica e no fornecimento de 
bens para os habitantes, como um mercado diário em oposição a eventos 
ocasionais, como feiras. 
Weber utilizou esses critérios para definir as cidades modernas, que, em sua 
visão, diferem substancialmente das cidades antigas. 
Uma cidade, no sentido aqui abordado, é essencialmente um "local de 
mercado", onde existe um centro econômico com atividades de mercado local. Os 
habitantes urbanos dependem da produção especializada de bens industriais e 
mercadorias para atender às suas necessidades, enquanto também trocam produtos 
específicos de suas economias. As cidades podem ser caracterizadas como de 
produtores (cidades industriais) ou de consumidores, onde diversas ocupações, como 
profissionais liberais, podem coexistir (PESCAROLO, 2017). 
Além disso, uma cidade moderna é caracterizada pela interdependência com 
outras localidades para suprir as necessidades de bens não produzidos internamente. 
Isso leva à formação de relações entre a cidade e o campo, com ênfase na importância 
da cidade como um local de defesa e segurança para seus cidadãos. 
Resumidamente, uma cidade concentra grande população, regula atividades 
comerciais e econômicas, e resolve disputas por meio de autoridades políticas e 
judiciais. Os aspectos econômicos, políticos e militares estão interligados na 
existência da cidade. 
A perspectiva de Max Weber sobre a cidade engloba noções de cidadania, 
autonomia e a substituição da dominação tradicional pelos habitantes associados. Ele 
via a cidade como um local de significativa estratificação social e a considerava um 
elemento fundamental no processo de racionalização do Ocidente. Weber identificava 
duas formas de racionalização associadas ao surgimento das cidades: uma de 
natureza instrumental, ligada aos interesses econômicos, e outra relacionada à moral 
e às instituições legais. Esta última forma de racionalização contribuiu para o 
desenvolvimento do direito burguês à igualdade e para uma mentalidade universalista 
 
17 
 
em relação aos indivíduos, abrangendo a racionalização do direito, da moral e das 
relações sociais na cidade. 
Émile Durkheim 
David Émile Durkheim é considerado o fundador da sociologia como uma 
disciplina independente. Ele ocupou a primeira cátedra de sociologia criada na França, 
na Universidade de Bordeaux, em 1887, e depois lecionou sociologia e pedagogia na 
Universidade Paris-Sorbonne a partir de 1920 (PESCAROLO, 2017). 
Uma de suas contribuições significativas para a reflexão sobre a questão 
urbana é encontrada em sua obra "Da Divisão do Trabalho Social", publicada em 
1893. Nesta obra, Durkheim discute a categoria do trabalho social, que se refere a um 
tipo específico de relação social que surge da divisão do trabalho, especialmente 
proeminente nas grandes cidades. 
Durkheim argumenta que todo trabalho é social e enfatiza a importância de 
entender esse conceito como um elemento crucial na compreensão das relações 
sociais (PESCAROLO, 2017). 
Em suas análises, Durkheim destaca a importância da manutenção da coesão 
social nas sociedades urbanas e industrializadas. Ele argumenta que a forma como o 
trabalho está organizado nessas sociedades resulta em uma solidariedade orgânica, 
em contraste com a solidariedade mecânica característica das sociedades mais 
tradicionais. 
Nas sociedades tradicionais, a solidariedade mecânica prevalece devido à 
semelhança interna entre os membros do grupo. Eles compartilham crenças e 
sentimentos semelhantes, e suas formas de pensar, sentir e agir são altamente 
uniformes, resultando em uma consciência individual que se alinha estreitamente com 
a consciência coletiva. Isso significa que a coerção social é forte, e há pouco espaço 
para divergências ou mudanças na ordem social estabelecida (PESCAROLO, 2017). 
Em contraste, nas sociedades urbanas e industrializadas, a solidariedade 
orgânica surge devido à complexidade da divisão do trabalho. Aqui, a consciência 
individual e coletiva pode ser diferente, pois os indivíduos têm papéis e funções 
especializados. A coerção social é menos intensa, permitindo mais espaço para a 
diversidade de pensamentos e comportamentos. Isso leva à coexistência de 
diferentes formas de consciência, tanto individuais quanto coletivas, e à capacidade 
de questionar e mudar as normas sociais de maneira mais flexível. 
 
18 
 
Durkheim argumenta que as relações sociais são sustentadas por diferentes 
formas de solidariedade. Nas sociedades menores e mais simples, a solidariedade é 
mecânica, baseada na semelhança e na conformidade automática ao comportamento 
coletivo. À medida que as sociedades crescem e se tornam mais complexas, surge 
uma solidariedade orgânica, resultante da interdependência de várias ocupações e 
perspectivas de vida. Essa solidariedade é essencial para manter a coesão social 
(PESCAROLO, 2017). 
A estratificação social cria relações de interdependência entre os indivíduos, 
mantendo-os conectados. Nas sociedades capitalistas e urbanas, as formas de 
coesão social são diferentes das sociedades tradicionais devido à maior diversidade 
de ocupações. No entanto, Émile Durkheim ressalta que nem toda divisão do trabalho 
gera solidariedade; algumas situações podem levar à anomia e patologia social. 
Exemplos disso incluem falências industriais, conflitos entre trabalho e capital, 
trabalho não regulamentado que leva à exploração, e ocupações em que não há uma 
colaboração significativa entre os trabalhadores, resultando em tempo ocioso e 
individualismo. Isso enfraquece os laços sociais de interdependência, reduzindo a 
solidariedade. 
É importante observar que a anomia, que é a falta de compreensão e 
atribuição de sentido às normas sociais, tem efeitos prejudiciais na sociedade, 
incluindo o aumento da criminalidade e suicídio. Portanto, as sociedades urbanas e 
capitalistas enfrentam desafios decorrentes de seu crescimento e especialização, que 
podem ter consequências negativas para a coesão social (PESCAROLO, 2017). 
Karl Marx 
Karl Marx, um filósofo, sociólogo, jornalista e revolucionário socialista nascido 
em 1818 na Alemanha, ofereceu uma análise importante da sociedade urbana, 
capitalista e industrializada. Para Marx, o trabalho desempenhou um papel central em 
sua obra, sendo considerado a expressão da vida humana e uma atividade que 
transforma tanto o indivíduo quanto a relação do ser humano com a natureza. 
Por volta dos 26 anos, Marx abandonou sua posição liberal e burguesa para 
se unir à causa dos operários e ao movimento comunista, com profunda compaixão 
pela situação precária em que viviam, devido à exploração brutal a que eram 
submetidos. Assim como Durkheim, Marx acreditava que o trabalho deveria 
proporcionar dignidade, crescimento, sentido e significado social. No entanto, na 
 
19 
 
sociedade capitalista industrial, o trabalho frequentemente gerava dominação e 
alienação. Marx argumentava que um indivíduo que não encontrasse satisfação em 
seu trabalho ou precisasse suportar condições degradantes para sobreviver não 
poderia ser verdadeiramente feliz. Uma sociedade desigual e injusta produziria 
pessoas incapazes de refletir sobre sua própria existência (PESCAROLO, 2017). 
Marx concentrou seus estudos na sociedade capitalista industrial, com um 
enfoque especial nas cidades. Ele via as cidades como o palco principal onde o 
capitalismo se manifestava. Nas cidades industrializadas,Marx identificou a miséria e 
a degradação da classe operária, temas que foram destacados de forma contundente 
em obras como "A situação da classe trabalhadora na Inglaterra," de Friedrich Engels, 
e "O Capital," de Karl Marx. Ambas as obras, publicadas originalmente em 1845 e 
1867, respectivamente, evidenciaram as condições adversas enfrentadas pelos 
trabalhadores e a exploração que ocorria nas cidades. 
Marx e Engels argumentavam que a história da sociedade era a história da 
luta de classes, e as cidades industriais do século XIX desempenharam um papel 
histórico e estratégico como o local onde essa luta entre a classe trabalhadora e os 
capitalistas se desenrolava. As cidades eram vistas como o berço da burguesia e de 
sua ascensão revolucionária, mas também como o espaço onde a exploração dos 
trabalhadores se manifestava de forma mais evidente. Acreditavam que a cidade 
capitalista, nessa perspectiva, tinha uma importância histórica e concreta 
(PESCAROLO, 2017). 
É importante ressaltar que não estamos afirmando que a Revolução Industrial 
teve apenas impactos negativos. O que destacamos aqui é a relação entre essa 
revolução e a precarização do trabalho humano, um tema central nas análises 
marxistas. As dificuldades enfrentadas pela classe operária resultaram em uma série 
de movimentos políticos e lutas que desempenharam um papel crucial na criação e 
manutenção dos Estados de Bem-Estar Social na Europa ao longo de muitas 
décadas. Graças a essas lutas e à preocupação com as consequências da Segunda 
Guerra Mundial, muitos países europeus conseguiram estabelecer períodos de 
garantia de direitos, proteção social, previdência, educação de qualidade e assistência 
médica (PESCAROLO, 2017). 
 
 
 
20 
 
3 A CIDADE E O CAPITALISMO: OS PROCESSOS DE INDUSTRIALIZAÇÃO E 
URBANIZAÇÃO 
O surgimento das cidades representa um evento historicamente recente na 
trajetória da humanidade. Estudos apontam que aproximadamente 12.000 anos atrás, 
os primeiros assentamentos humanos começaram a surgir como uma consequência 
direta do desenvolvimento da agricultura. Antes desse marco, os seres humanos eram 
principalmente nômades, dependentes da caça e coleta de alimentos, deslocando-se 
em busca de recursos naturais para a sua subsistência (GIL, 2019). 
Os primeiros locais a atrair as populações para o estabelecimento permanente 
foram aqueles situados nas proximidades de rios com margens ricas em nutrientes. 
Esses locais propiciavam condições favoráveis para a prática da agricultura e a pesca. 
Como resultado, as primeiras cidades surgiram na região da Mesopotâmia, que 
significa "entre rios," nas proximidades dos rios Tigre e Eufrates, por volta de 3.500 
a.C. Inicialmente, essas cidades se desenvolveram como centros comerciais e 
militares e tinham uma população que contava com apenas algumas centenas de 
habitantes. 
Durante a Antiguidade, várias cidades pertencentes ao Império Romano 
chegaram a abrigar mais de 50.000 habitantes. No entanto, a partir do século V, com 
a invasão de tribos bárbaras, compostas principalmente por guerreiros e com pouco 
interesse no comércio, muitas dessas cidades enfrentaram um colapso significativo. 
Isso resultou na migração da maioria de sua população para áreas rurais. Somente 
após o século X é que essas cidades começaram a experimentar um lento processo 
de recuperação populacional (GIL, 2020). 
No século XVIII, a dinâmica das sociedades europeias sofreu uma 
transformação significativa com o início da Revolução Industrial. Nesse período, 
houve um rápido crescimento da população urbana, impulsionado pela migração em 
massa de agricultores do campo para as cidades. As cidades em processo de 
industrialização viram a criação de bairros industriais, onde os trabalhadores 
passaram a residir em proximidade às fábricas, facilitando o acesso ao local de 
trabalho. Além disso, tornou-se imperativo estabelecer sistemas de transporte público 
para atender às crescentes necessidades de deslocamento na paisagem urbana em 
transformação. 
 
21 
 
As condições de saneamento nas cidades industriais típicas do século XIX 
eram extremamente precárias, com a maioria delas carecendo de sistemas de 
abastecimento de água e saneamento básico. A introdução desses serviços nas 
cidades ocorreu de forma gradual, começando pelos bairros frequentados pela elite. 
Somente no início do século XX é que as áreas habitadas pela classe trabalhadora 
passaram a contar com esses serviços essenciais. 
Comparando as cidades industriais com as cidades pré-industriais, percebe-
se que as primeiras adotaram um sistema de classes mais permeável e promoveram 
maior mobilidade social. Embora as características tradicionais de atribuição de 
status, como gênero, raça e etnia, ainda mantivessem sua importância, as cidades 
industriais ofereceram mais oportunidades para que as pessoas progredissem com 
base em seus talentos e habilidades (GIL, 2020). 
 No final do século XX, surgiu um novo modelo de comunidade urbana: a 
cidade pós-industrial. Nessas cidades, a economia é dominada pelas finanças globais 
e pelo fluxo eletrônico de informações. A produção se torna descentralizada e 
frequentemente se desloca para áreas distantes dos centros urbanos, mas o controle 
permanece nas mãos de corporações multinacionais, cuja influência transcende as 
fronteiras municipais e, por vezes, até nacionais. 
Para entender o desenvolvimento complexo da cidade no contexto do 
capitalismo, é crucial analisar sua evolução histórica e como o sistema capitalista 
desempenhou um papel fundamental nesse processo. Para uma análise eficaz da 
organização do espaço urbano, é vital compreender as influências essenciais, que 
estão intrinsicamente ligadas às condições materiais da vida social, moldadas pelo 
capitalismo (LINS, 2020). 
Assim, é crucial encarar a cidade como um processo em constante evolução, 
em oposição a uma entidade estática e invariável. Ela espelha as dinâmicas 
intrínsecas à maneira como a riqueza é produzida na sociedade, perpetuamente se 
transformando ao longo do tempo. 
Essa realidade se torna evidente ao examinar o capitalismo em suas 
diferentes fases. Portanto, é pertinente refletir sobre a estrutura do sistema capitalista 
e as transformações que ele provoca no ambiente urbano ao longo desse processo. 
Isso começa com a análise das guildas de artesãos e, em seguida, avança para a 
manufatura como uma forma primordial de organização e produção impulsionada pelo 
 
22 
 
capital. Para uma distinção adequada entre essas duas atividades mencionadas, 
continuaremos com algumas considerações sobre as guildas e, em seguida, sobre a 
manufatura. 
O comércio e o avanço das cidades com a adoção da moeda ofereceram aos 
artesãos a chance de abandonar a agricultura e se dedicar inteiramente ao seu ofício. 
Não era mais indispensável dispor de um investimento significativo de capital para 
exercer seu trabalho na área urbana. Em suas próprias residências, em salas ou 
quartos, tanto artesãos quanto artesãs podiam produzir seus produtos (LINS, 2020). 
A motivação por trás da produção desses bens não era o lucro em um 
mercado global e altamente estruturado. Para o artesão, bastava ter alguns clientes 
que fizessem encomendas, e, desse modo, ele atendia principalmente às pessoas da 
sua própria cidade de residência. Poderia contar com um ou dois assistentes, mas 
sua produção se destinava apenas a um mercado limitado e local. 
Isso representava a pequena indústria medieval, onde o mestre artesão criava 
o produto do início ao fim e também cuidava da venda. As mercadorias eram 
produzidas por artesãos experientes que eram proprietários tanto da matéria-prima 
quanto das ferramentas necessárias para fabricar os produtos, e eles vendiam os 
produtos acabados. Nesse cenário, o mestre supervisionava todo o processo de 
produção dos bens e também se encarregava de comercializá-los nas ruas da cidade.Nessas oficinas, os artesãos começaram a estabelecer suas próprias 
corporações, agrupando-se em organizações dedicadas exclusivamente a um ofício 
específico, formando assim as corporações de artesãos. Nesse contexto, a relação 
entre o mestre artesão e seus assistentes ou aprendizes não era caracterizada por 
uma subordinação rígida, como na típica relação entre capital e trabalho, pois a 
distância social entre o patrão e o empregado não era significativa, e ambos poderiam 
ser membros da mesma corporação (LINS, 2020). 
Eles não se viam em posições opostas e não competiam por interesses 
conflitantes. Havia uma certa igualdade entre essas duas classes, embora fosse 
necessário um longo período de aprendizado prático para que um assistente se 
tornasse um artesão qualificado. A relação entre o mestre e o aprendiz assemelhava-
se à relação entre pai e filho, uma vez que a oficina era praticamente uma extensão 
do lar do artesão. Consequentemente, a produção artesanal na cidade era regulada 
pelas corporações de ofício, que funcionavam como uma espécie de associação de 
 
23 
 
mestres artesãos. Em troca de moradia e ensinamentos, o artesão colaborava com o 
mestre em sua oficina. 
Todas essas corporações eram governadas por seus estatutos, que 
inicialmente tinham o objetivo de fomentar um senso de fraternidade e não de 
competição entre os membros. No entanto, as corporações também trabalhavam para 
manter um controle exclusivo sobre cada tipo de artesanato, pois a visão 
predominante era preservar a alta qualidade do trabalho entre os associados. Os 
valores medievais de honra e ética influenciavam a maneira como esses mestres 
cuidavam de sua reputação perante os habitantes da cidade. 
Isso ia ao ponto de que as transações realizadas pelos artesãos eram 
estritamente justas, visando beneficiar ambas as partes envolvidas na troca. Tanto o 
vendedor quanto o comprador não buscavam obter vantagem nas transações 
comerciais, uma vez que os produtos fabricados eram vendidos a preços que refletiam 
apenas os custos, sem acréscimos ou descontos de valor (LINS, 2020). 
Nesse período, as cidades, ainda sob a administração feudal, não seguiam 
um padrão predefinido. Não havia divisões claras de terrenos ou um planejamento 
urbano bem organizado. Os bairros urbanos eram ocupados à medida que os 
moradores chegavam ao espaço urbano. Elementos naturais da paisagem, como 
montanhas, encostas e rios, exerciam uma forte influência no traçado das cidades. 
 As cidades eram caracterizadas por ruas sinuosas, traçado irregular e uma 
aparência geral de descontinuidade. Essa forma de organização urbana estava 
relacionada com o baixo nível de desenvolvimento das forças produtivas da época, 
que trabalhavam com recursos pouco transformados pela atividade humana. Até o 
advento das corporações de ofício, as cidades mantinham sua natureza comunal, 
adaptando-se organicamente às dinâmicas da vida social (LINS, 2020). 
Muitos outros aspectos sociais tiveram que evoluir para que essa revolução 
se concretizasse completamente. No domínio das ideias, houve uma mudança 
fundamental na cosmovisão, passando-se de uma perspectiva teocêntrica para uma 
visão que colocava a humanidade no centro, em vez do divino. Movimentos como o 
Iluminismo e reformas religiosas testemunham essa transformação. Essas novas 
ideias, combinadas com os novos métodos de geração de riqueza e a agitação nas 
cidades, deram à burguesia o poder necessário para conquistar a hegemonia. 
 
24 
 
Como resultado, os burgueses puderam liderar uma série de revoluções na 
Europa, como a Revolução Gloriosa de 1688-1689 na Inglaterra e a revolução 
burguesa mais emblemática em 1789 na França. Essas mudanças representaram 
uma verdadeira revolução social, que começou quando os comerciantes e 
negociantes assumiram papéis de destaque na economia da época e, assim, 
conseguiram unir forças para desafiar diretamente a ordem feudal, estabelecendo 
uma influência política e cultural predominante na sociedade (LINS, 2020). 
Com o declínio do Estado absolutista, emerge o Estado burguês, que, por sua 
vez, reestrutura seus elementos essenciais, como o exército, a polícia e a burocracia, 
para servir à nova forma de produção de riqueza. Dessa maneira, o capitalismo 
organiza toda a superestrutura para favorecer seu pleno desenvolvimento, com a 
generalização da produção de mercadorias como a atividade econômica central. 
Assim, o capitalismo se fortalece e se prepara para a etapa subsequente que marcará 
sua maturação: a Revolução Industrial. A partir desse período, o capitalismo se 
estabelece como o principal modo de produção de riqueza, passando por uma nova 
fase de expansão e, mais uma vez, provocando transformações significativas nas 
cidades. 
A relação entre a cidade e o capitalismo durante os processos de 
industrialização e urbanização desencadeou mudanças profundas na sociedade. 
Essa interação impulsionou o crescimento e a expansão das cidades, à medida que o 
capitalismo se tornou o modo predominante de produção de riqueza. A 
industrialização acelerou a urbanização, resultando em um aumento significativo na 
população urbana, à medida que as pessoas migravam do campo para as cidades em 
busca de oportunidades de emprego nas fábricas e indústrias emergentes. 
 Além disso, o capitalismo moldou a paisagem urbana, promovendo o 
desenvolvimento de infraestruturas, transporte público e a criação de bairros 
específicos para diferentes classes sociais. No entanto, esse processo também trouxe 
desafios, incluindo problemas de habitação, poluição e desigualdade social, que ainda 
são questões significativas em muitas cidades modernas. 
 
 
 
 
 
25 
 
3.1 Territorialização e segregação nas grandes metrópoles 
Território é comumente concebido, em várias análises e abordagens, como 
um espaço delimitado por fronteiras, nem sempre visíveis, que se estabelece por meio 
da expressão e imposição do poder. Explorar as questões relacionadas ao território 
significa explorar uma série de processos sociais que envolvem classe social, raça, 
aspectos étnico-culturais, faixas etárias e outras formas de estratificação social, que 
inevitavelmente resultam em segregação (PESCAROLO, 2017). 
O processo de territorialização e segregação nas grandes metrópoles é um 
fenômeno complexo que abrange diversas dinâmicas sociais, econômicas e culturais. 
A territorialização refere-se à ocupação e apropriação de espaços urbanos por 
diferentes grupos sociais. Em contrapartida, a segregação envolve a divisão desses 
grupos em áreas geográficas distintas, muitas vezes com base em critérios como 
classe social, raça, etnia ou nível de renda. 
Nas grandes metrópoles, esses processos são frequentemente evidentes, 
resultando na formação de bairros ou áreas urbanas específicas associadas a 
determinados estratos sociais. Isso pode levar à criação de zonas de exclusão, onde 
as oportunidades de acesso a serviços, educação, emprego e qualidade de vida são 
desiguais. A segregação também pode se manifestar na falta de investimentos em 
infraestrutura e serviços públicos em áreas marginalizadas, perpetuando assim as 
desigualdades socioeconômicas (PESCAROLO, 2017). 
As causas da territorialização e segregação nas grandes metrópoles são 
variadas e incluem fatores históricos, políticos e econômicos, bem como preconceitos 
e discriminação. Para abordar esse desafio, é fundamental implementar políticas 
públicas que promovam a inclusão social, reduzam as disparidades socioeconômicas 
e garantam o acesso equitativo a recursos e oportunidades em áreas urbanas. Além 
disso, o planejamento urbano e o desenvolvimento sustentável desempenham um 
papel crucial na mitigação da segregação e na promoção de cidades mais inclusivas 
e equitativas. 
A gentrificação oferece valiosas perspectivas para entender os mecanismos 
atuais de exclusão social. O estudo dos processos de gentrificação representaum 
ponto central de discussão na pesquisa sociológica, uma vez que é um fenômeno 
essencial na reconfiguração metropolitana contemporânea (PESCAROLO, 2017). 
 
26 
 
A subsequente expulsão da população local muitas vezes ocorre sem a 
devida consideração do Poder Público em relação ao destino dessas pessoas. Em 
algumas situações, o Estado cede às pressões do setor privado, priorizando 
intensamente o capital em detrimento dos indivíduos que, devido ao processo de 
revitalização local, são deslocados de suas moradias. Normalmente, as áreas 
anteriormente ocupadas por comunidades de menor poder aquisitivo experimentam 
uma desvalorização progressiva dos imóveis, sendo estigmatizadas como locais 
associados à pobreza, marginalização e prostituição. 
A atualidade desse fenômeno está intrinsecamente relacionada com o 
discurso contemporâneo de desenvolvimento amplamente promovido pelo Poder 
Público, muitas vezes focado em interesses financeiros predominantes. Outra 
justificativa para os notórios processos de revitalização de áreas previamente 
negligenciadas pelo governo está ligada aos elevados níveis de perigo associados a 
esses territórios. A suposição subjacente é que ao restaurar a antiga imagem 
glamorosa dessas regiões, automaticamente se removerá a "marginalidade" que 
historicamente as caracteriza. 
Com as transformações nos espaços urbanos decorrentes do avanço do 
capitalismo financeiro, observa-se uma realidade de precarização das cidades no que 
diz respeito às condições de saúde, saneamento básico e mobilidade urbana para as 
comunidades periféricas no Brasil. Uma clara disparidade se estabelece entre os 
bairros destinados à moradia da classe burguesa e as áreas onde as comunidades 
marginalizadas residem. Entre as diferentes classes sociais, surge um profundo 
abismo em termos das condições mínimas de infraestrutura urbana necessárias para 
uma vida digna (LINS, 2020). 
O ritmo frenético das metrópoles também está deixando uma marca nas 
condições de saúde mental dos trabalhadores. As cidades capitalistas 
contemporâneas funcionam ininterruptamente, com serviços de informação e 
conectividade estendendo o dia para as horas noturnas, prejudicando o descanso dos 
habitantes urbanos. 
A utilização de tecnologias digitais, como computadores, smartphones e 
tablets, afeta a química do corpo, visto que as luzes emitidas por esses dispositivos 
interferem no sono e na regulação de hormônios fundamentais para a saúde física e 
mental. Com o passar do tempo, a exposição constante às telas desses aparelhos 
 
27 
 
também prejudica a visão dos trabalhadores. Além disso, os turnos de trabalho 
noturnos e na madrugada contribuem para esse processo de deterioração da saúde. 
Além dos transtornos de depressão e ansiedade, o estresse tem vindo a ter 
um impacto significativo na vida dos residentes das cidades brasileiras. O estresse 
associado ao uso do transporte público urbano tem afetado consideravelmente a 
saúde dos trabalhadores (LINS, 2020). 
 As extensas esperas, a inadequação do sistema de transporte público para 
atender às necessidades da população, as longas distâncias percorridas entre as 
áreas de trabalho no centro e as residências nas periferias, bem como a ocorrência 
de violência em meios de transporte públicos e nas vias de trânsito, contribuem para 
níveis elevados de estresse nas camadas mais desfavorecidas da sociedade. 
Grande parte das pesquisas sobre transtornos mentais no ambiente urbano 
sugere que o risco de desenvolvimento dessas condições é mais elevado nas áreas 
mais economicamente desfavorecidas. 
A depressão ocupa a posição de segunda principal razão para o afastamento 
de trabalhadores de seus empregos, com a perspectiva de se tornar a principal causa 
na próxima década. Isso sinaliza claramente a existência de um fenômeno de 
adoecimento coletivo dos trabalhadores nas cidades capitalistas, uma vez que os 
transtornos mentais tendem a ser mais prevalentes em um ambiente urbano (LINS, 
2020). 
A reprodução e a preservação da vida em ambientes de extrema pobreza, 
como as favelas, também contribuem para o aumento da prevalência de transtornos 
de ansiedade e depressão ao longo da vida. A falta de segurança, a violência e a 
escassez de recursos são elementos que exercem influência sobre a ocorrência de 
problemas de saúde mental. Além disso, a exposição a ambientes de trabalho 
insalubres, baixos salários, crescente exploração da força de trabalho, ênfase em 
metas e comissões, empregos temporários e constante insegurança no emprego 
também representam fatores que podem desencadear distúrbios e angústias 
psicológicas. 
Para combater a territorialização e segregação nas grandes metrópoles, é 
crucial adotar uma abordagem abrangente. Primeiramente, políticas de planejamento 
urbano integrado devem ser priorizadas, visando à criação de bairros que misturem 
diferentes grupos sociais e econômicos, promovendo a diversidade e reduzindo a 
 
28 
 
segregação geográfica. Além disso, é fundamental investir em infraestrutura básica, 
como transporte público eficiente e acessível, saneamento, saúde e educação, em 
áreas historicamente negligenciadas. Isso garante que todos os residentes tenham 
acesso a serviços essenciais, independentemente de sua localização. 
Em segundo lugar, políticas de habitação acessível desempenham um papel 
central. Programas que visam à construção de moradias de baixo custo em diversas 
partes da cidade podem ajudar a reduzir a segregação residencial, permitindo que 
pessoas de diferentes níveis de renda vivam em áreas variadas. Paralelamente, é 
fundamental combater a discriminação em todos os níveis, implementando leis e 
políticas que proíbam a discriminação em habitação, emprego e educação, bem como 
promovendo a conscientização sobre questões de preconceito e estereótipos (LINS, 
2020). 
Por fim, o envolvimento comunitário e a participação ativa dos residentes na 
tomada de decisões sobre o desenvolvimento urbano são essenciais. Ouvir as 
necessidades e aspirações das comunidades locais e incorporá-las no planejamento 
urbano ajuda a garantir que as soluções sejam adaptadas às realidades específicas 
de cada bairro. Isso pode ser alcançado por meio de conselhos de bairro, reuniões 
públicas e outras formas de engajamento cidadão, fortalecendo a voz das 
comunidades na construção de cidades mais inclusivas e equitativas. 
4 AS CIDADES NO BRASIL E NA AMÉRICA LATINA 
A crise capitalista, que teve início entre o final da década de 1960 e o início 
da década de 1970, desencadeou uma intensificação da ação do capital e do Estado 
contra a classe trabalhadora, bem como contra as estruturas que prevaleciam na era 
do fordismo. Esse período marcou uma fase na história do capitalismo em que se 
verificou uma acentuada destruição das forças produtivas, do meio ambiente e, de 
maneira ainda mais acentuada, da força de trabalho humana (SILVA, 2018). 
Foi durante a era de acumulação fordista que se difundiram os modelos de 
desenvolvimento inspirados no pensamento keynesiano em grande parte da América 
Latina entre as décadas de 1930 e 1970-1980, quando o Estado desempenhou um 
papel central no desenvolvimento econômico e na criação de sistemas de seguridade 
social. 
 
29 
 
A resposta do sistema capitalista a essa crise implica uma reconfiguração dos 
modelos de desenvolvimento e das relações de poder que os sustentam. Nesse 
contexto, os sistemas de proteção social em diferentes países passam por mudanças 
substanciais em termos de seus princípios orientadores, implementação e 
abrangência. Essas transformações estão intimamente ligadas às demandas de 
classe que são impostas ao Estado na atual fase de acumulação do capital, com a 
predominância do capital financeiro. A acumulação de riqueza e a legitimação dessas 
mudanças estão intrinsecamente ligadas à correlação de forças resultante da 
evolução da sociedade. 
Sob a supremaciada ideologia neoliberal, observa-se uma tendência 
significativa na reformulação das políticas de proteção social na região. Tais 
mudanças se orientam para uma perspectiva residual e liberal, tanto em nações que 
anteriormente haviam estabelecido sistemas centralizados com ambições de 
universalidade, como em países que possuíam sistemas de proteção social 
subdesenvolvidos ou inexistentes. 
 Elementos-chave dessas reformas e novos modelos, implementados desde 
os anos 1980 e, especialmente, a partir dos anos 1990, incluem a focalização das 
despesas, a descentralização e desconcentração da gestão e administração dos 
programas sociais, a ausência de uma abordagem setorial nas políticas sociais, a 
promoção de redes mínimas de assistência à pobreza como uma alternativa e a 
expansão da comercialização de certas funções sociais (SILVA, 2018). 
 Independentemente das nuances nas experiências nacionais, os sistemas de 
proteção social, que costumavam ser centralizados, segmentados, com aspirações de 
universalidade e gerenciados pelo Estado, moldados sob as formas de substituição 
de importações, estão sendo desestruturados e reformados por modelos de políticas 
sociais descentralizados, abrangentes, focados e com uma ampla participação da 
iniciativa privada. 
Esses modelos com inclinação liberal fundamentam-se na crença de que o 
mercado, impulsionado pelo crescimento econômico, desempenhará um papel 
essencial na integração social. Eles representam uma das respostas político-
econômicas aos desafios enfrentados pela classe trabalhadora, que sofreu múltiplos 
impactos decorrentes de processos de reestruturação produtiva, repressão política e 
crises econômicas no último quarto do século XX. 
 
30 
 
A observação desses processos mais amplos na evolução da sociedade e na 
lógica da acumulação nos permite compreender as características socioeconômicas 
atuais e o significado dos programas de transferência de renda que são analisados 
dentro desse contexto (SILVA, 2018). 
Entre o final da década de 1990 e o início dos anos 2000, uma combinação 
de crescentes movimentos sociais e os efeitos de uma nova fase recessiva e de crise 
econômica gerou um amplo questionamento do neoliberalismo na América Latina. 
Nesse cenário, políticas influenciadas pelo Consenso de Washington foram 
contestadas, resultando em uma agenda de intervenção que desafiou os pilares 
centrais do neoliberalismo e promoveu a adoção de novos princípios organizadores. 
Estes incluem uma ênfase na esfera pública, a redução do caráter mercantil de bens 
e serviços sociais e a busca por garantias universais baseadas em direitos 
historicamente conquistados, entre outros. 
Embora essas demandas não tenham levado a uma ruptura completa com o 
modelo de regulação econômica e social que predomina na fase atual do 
desenvolvimento capitalista, elas servem como um desafio à hegemonia neoliberal. 
No início do século XXI, essas reivindicações interpelam a supremacia do 
neoliberalismo, refletindo questionamentos à submissão generalizada ao final do 
século XX. A América Latina emerge como um terreno de resistência e busca por 
alternativas ao capitalismo neoliberal em escala global. 
A crise que se tornou uma característica distintiva da fase capitalista desde o 
último quartel do século XX evidencia claramente uma tendência crescente para a 
concentração da propriedade e da riqueza nas mãos de poucos, juntamente com o 
surgimento de grandes massas de população consideradas excedentes pelo sistema 
capitalista. Essa dinâmica aprofunda os processos de empobrecimento e 
proletarização de diversos segmentos sociais, resultando na violação sistemática das 
garantias sociais conquistadas (SILVA, 2018). 
Esses processos têm como consequência a descidadanização, manifestada 
notadamente na crise das instituições políticas existentes. Como apontado, essas 
tendências tornaram a questão das garantias materiais dos direitos sociais uma 
preocupação central nas últimas décadas, dando origem a uma série de 
reivindicações nessa área. 
 
31 
 
A primeira década do século XXI testemunhou esforços significativos para 
restabelecer a legitimidade da ordem burguesa, marcando o início de um novo ciclo 
de crescimento econômico na região. Esse período refletiu tanto aspectos comuns 
como a diversidade de experiências, influenciadas pelas peculiaridades históricas e 
pelas dinâmicas de poder que foram moldadas em cada nação. Tais experiências 
continuaram sob a influência de processos estruturais essenciais que persistiram 
desde a era do neoliberalismo e que permanecem na base da organização da 
sociedade. 
Ao analisar essas continuidades e mudanças, torna-se aparente os limites 
estruturais inerentes aos modelos propostos e o teto que eles representam para o 
progresso das conquistas populares, bem como as oportunidades que podem surgir. 
Em 2013, a taxa de pobreza na América Latina atingiu 28,1% da população, 
com 11,7% vivendo em situação de indigência ou pobreza extrema. Isso equivale a 
um total de 165 milhões de pessoas em situação de pobreza, dos quais 69 milhões 
estão em condições de extrema carência (dados da Comissão Econômica para a 
América Latina e o Caribe, 2013). Notavelmente, esses números revelam que a taxa 
de pobreza permaneceu praticamente inalterada em comparação com os níveis 
observados em 2012, que também foram de 28,1% (SILVA, 2018). 
 Da mesma forma, a pobreza extrema não apresentou mudanças 
estatisticamente significativas, registrando apenas um leve aumento de 0,4 pontos 
percentuais em relação a 2012, quando estava em 11,3% (dados da Comissão 
Econômica para a América Latina e o Caribe, 2012). 
Apesar das variações mínimas nas taxas, as novas estimativas apontam que 
a pobreza extrema atingiu valores semelhantes aos de 2011, representando um 
retrocesso em relação ao progresso alcançado na primeira década do século XXI. 
Essa tendência não é algo novo, uma vez que dados de edições anteriores do 
Panorama Social da CEPAL já apontavam para padrões semelhantes. De fato, as 
estimativas regionais indicam que a tendência de redução nas taxas de pobreza e 
pobreza extrema diminuiu, e até mesmo reverteu nos primeiros anos da segunda 
década do século XXI. Esse cenário, aliado ao crescimento populacional, resultou em 
um maior número de pessoas vivendo em situação de pobreza extrema em 2013 
(dados da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, 2014). 
 
32 
 
Em comparação com os dados de 2002, um ano que marcou o valor mais alto 
dos últimos 15 anos, a redução acumulada da taxa de pobreza foi de quase 16 pontos 
percentuais. Dessa diminuição, 10,4 pontos percentuais foram alcançados até 2008, 
representando uma média anual de declínio de 1,7%. No período entre 2008 e 2013, 
o ritmo de redução foi mais moderado, com uma queda acumulada de 5,4 pontos 
percentuais, equivalente a uma média anual de 1,0%. A partir de 2011, observou-se 
uma estabilização da taxa de pobreza regional, que permaneceu em torno de 28% 
(SILVA, 2018). 
Quando se trata da população em situação de pobreza extrema, observou-se 
uma tendência semelhante. Houve uma redução de 6,4 pontos percentuais entre 2002 
e 2008, seguida por uma diminuição de 1,2 ponto percentual a partir de 2008 até 2013. 
De maneira comparável à taxa de pobreza, a parcela de pessoas vivendo em situação 
de pobreza extrema permaneceu na faixa de 11% a 12% durante o último período de 
três anos. 
O crescimento econômico sustentado nos primeiros anos da década de 2000 
não conseguiu desfazer os traços estruturais dominantes de concentração de renda e 
riqueza. Este crescimento manteve um padrão distributivo regressivo e a economia 
permaneceu fortemente influenciada por interesses estrangeiros. Neste contexto de 
mudanças estruturais e conflitos sociais, emergiram, se expandiram e se 
consolidaram os Programas de Transferência de Renda Condicionada (PTRC). 
Esses programassurgiram como estratégias políticas para lidar com a 
crescente falta de proteção inerente às mudanças no mercado de trabalho e nas redes 
históricas de seguridade social que haviam sido construídas com base no modelo de 
seguro contributivo. Além disso, eles refletem uma expansão da assistência não 
contributiva, entregando apoio de forma personalizada e estabelecendo níveis 
mínimos de subsistência para trabalhadores informais, precários, desempregados e 
pessoas em situação de pobreza (SILVA, 2018). 
Nas últimas três décadas do século XX, testemunhamos mudanças profundas 
na dinâmica do capitalismo, com repercussões significativas na natureza do trabalho. 
De maneira geral, a resposta à crise do capitalismo no início dos anos 1970 foi liderada 
pela hegemonia do capital financeiro, marcando uma fase de desintegração no 
sistema capitalista. 
 
33 
 
As transformações estruturais resultantes dessa nova etapa de 
financeirização abrangem uma ampla gama de dimensões nas relações sociais, 
afetando tanto as empresas industriais e de serviços quanto o trabalho nas instituições 
públicas estatais. Elas influenciam as novas formas de recrutamento e gestão de força 
de trabalho, o papel do Estado e a distribuição dos recursos públicos, bem como as 
dinâmicas de interação individual e coletiva. Além disso, essas mudanças têm impacto 
nas políticas sociais, na natureza, extensão e formato dos programas e serviços 
sociais públicos. 
Nessa nova fase do capitalismo tardio, observamos uma consolidação na 
substituição do trabalho humano pelo trabalho automatizado. A transformação mais 
significativa que afeta a classe trabalhadora é a expulsão de um grande contingente 
de trabalhadores de seus locais de trabalho tradicionais, resultando em um crescente 
excedente populacional além das necessidades médias de exploração do capital. Isso 
representa uma mudança estrutural que regressivamente redefine a situação sócio-
histórica, dando origem e consolidando novas formas de dominação e subordinação. 
Essas estão intrinsecamente ligadas ao aumento da flexibilização e da precarização 
do trabalho, que se tornam elementos predominantes nessa nova fase do capitalismo 
(SILVA, 2018). 
As estratégias adotadas pelas empresas para aprofundar a flexibilização das 
relações de trabalho e do mercado de trabalho consistem, principalmente, na 
implementação de formas "atípicas" de contratação de mão de obra, como o trabalho 
temporário, empregos de meio período e a subcontratação de trabalho em domicílio, 
entre outras práticas similares. Além da inerente precarização do trabalho assalariado, 
resultante do contexto institucional dos Estados keynesianos, tem havido um aumento 
significativo, nas últimas décadas, de uma grande parcela de trabalhadores que estão 
privados da capacidade de vender sua força de trabalho de acordo com as normas 
institucionais estabelecidas para o trabalho decente. 
Na Argentina, os dados mostram que a taxa de desemprego aberto foi de 
2,4% em 1990 e aumentou gradualmente, atingindo um pico de 17,9% em 2002, 
seguido por 19,7% em 2002-2003. A partir desse ponto, a taxa começou a declinar, 
chegando a 7,1% em 2013 e atingindo 7,3% em 2014. 
No Brasil, os números seguem um padrão muito semelhante. Em 1990, a taxa 
de desemprego aberto representou 4,3% da População Economicamente Ativa (PEA), 
 
34 
 
aumentando para 10,4% em 2002 e 11,1% em 2003. Posteriormente, houve uma 
queda, chegando a 7,1% em 2013 e subindo para 7,5% em 2014 (SILVA, 2018). 
No Uruguai, a trajetória é comparável, com uma taxa de desemprego inicial 
de 8,5% da PEA em 1990, que cresceu durante os anos 1990 até atingir 16,9% em 
2002. Em seguida, houve uma tendência de queda, chegando a 6,3% em 2011, antes 
de apresentar um leve aumento para 6,5% em 2013 e 6,8% em 2014. 
No Brasil, no início da década de 1990, ocorreu uma ruptura no modelo de 
industrialização por substituição de importações, desencadeada por um amplo 
processo de reestruturação produtiva. Isso se deu por meio das políticas econômicas 
neoliberais implementadas durante o governo de Collor (1990-1992). As empresas 
adotaram estratégias de redução de custos em resposta ao repentino aumento da 
competição internacional. Isso levou à necessidade de buscar novas formas de 
flexibilização nas regras de contratação de mão de obra, mesmo que a flexibilidade já 
fosse uma característica estrutural do mercado de trabalho brasileiro (SILVA, 2018). 
Essas tendências foram fortalecidas pelo governo de Fernando Henrique 
Cardoso (1995-2002), que implementou uma política econômica anti-inflacionária, 
representada pelo Plano Real. Essa política priorizou a especulação financeira em 
detrimento do investimento produtivo. Tudo isso ocorreu em um contexto de aumento 
do déficit público, reformas no aparato estatal, redução dos gastos governamentais, 
especialmente na área social, privatizações e a adoção de medidas que flexibilizaram 
a legislação trabalhista. Todas essas ações foram parte das estratégias 
governamentais para melhorar a competitividade e integrar a economia nacional na 
nova ordem globalizada do mundo. 
Ao longo da história, muitos intelectuais expressaram críticas em relação a 
produções que são rotuladas como "pensamento social". Estas críticas tendem a 
enfatizar a importância da explicação epistemológica positivista em disciplinas como 
sociologia, filosofia, política e antropologia, em contraste com o julgamento de que 
intelectuais que se envolveram em diversas questões sociais podem ser considerados 
de maneira limitada ou inferiores (PINTO, 2020). 
 
No entanto, essas críticas frequentemente subestimam o compromisso e a 
relevância das reflexões produzidas por intelectuais que exploraram uma variedade 
de problemas sociais. Isso inclui análises críticas dos processos imperialistas e 
 
35 
 
expansionistas dos países do Norte, questões de genocídio e etnocídio de povos 
indígenas, bem como investigações sobre política, literatura, conhecimento, educação 
e muitos outros aspectos relacionados aos contextos históricos da América Latina. 
Nessa perspectiva, desafiar a ordem dominante das categorias teóricas-
científicas ocidentais implica questionar suas premissas fundamentais. Isso também 
envolve repensar a produção intelectual na América Latina, afastando-se das 
simplificações inerentes a essas classificações, que geralmente servem apenas para 
disputas pelo domínio da narrativa sobre a realidade (PINTO, 2020). 
Aqueles que promoveram uma mudança na pesquisa dos problemas sociais, 
através da institucionalização das Ciências Sociais, consideraram politicamente 
apropriado questionar abordagens interpretativas e explicativas que resultaram na 
exclusão de certos intelectuais do campo das teorias sociais. 
A apreensão, reflexão e explicação das complexas questões enfrentadas 
pelos povos e nações da América Latina encontraram expressão por meio da 
literatura, que se estabeleceu como uma das formas mais proeminentes de 
pensamento crítico e autêntico na região. Através de obras literárias, graças à sua 
capacidade de abranger diversas temporalidades, idiomas e perspectivas regionais e 
globais, intelectuais e escritores latino-americanos puderam analisar questões sociais, 
denunciar as injustiças perpetradas por ditadores, tiranos e detentores do poder 
político e econômico, além de abordar as complexidades que envolvem os povos 
indígenas e afrodescendentes, bem como a influência de suas culturas em diversos 
aspectos da vida social. 
No contexto das políticas neoliberais, houve um aumento significativo da 
pressão para a implementação de programas sociais direcionados às populações em 
situação de pobreza extrema e vulnerabilidade. Essas políticas eram frequentemente 
justificadas com a alegação de que o déficit público era a principal causa da crise 
econômica. Em resposta a essa situação, surgiu a necessidade de buscar o equilíbrio 
fiscal

Continue navegando