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Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação Marcos R. C. Ketelhut Virgínia Marcondes AULA 5 Cidadania e movimentos sociais De acordo com o dicionário Houaiss, a palavra “cidadania” significa “qualidade de cidadão e também condição de pessoa que, como membro de um Estado, se acha no gozo de direitos que lhe permitem participar da vida política”. Partiremos da Revolução Francesa (1789) para indicar que os direitos baseados nos princípios do seu lema de igualdade e liberdade foram declarados universais. Hoje podemos falar em direitos de todos – das mulheres, dos negros, das crianças, dos consumidores etc. Partindo da teoria do sociólogo inglês Thomas Humphrey Marshal (1893-1981), que é referência quando se discute o conceito de cidadania, faremos uma pequena retrospectiva. Para ele, a questão da cidadania só aparece nos séculos XVII e XVIII, e de forma ainda muito sutil. Entretanto, a palavra “cidadania” se desdobra na noção de direitos civis, políticos e sociais. Tomando a Inglaterra como parâmetro, ele estabeleceu que a construção da cidadania passou por estágios. O primeiro estágio dele ocorreu com a conquista dos direitos civis, referentes à garantia das liberdades individuais, como, por exemplo, a garantia de ir e vir e de ter acesso à propriedade privada, dentre outros. Para Marshall, a conquista dos direitos civis na Inglaterra, durante o século XVIII, foi o primeiro passo para a conquista dos demais direitos. O segundo estágio se refere aos direitos políticos, que se desdobram na possibilidade de participação da sociedade nas esferas de poder presentes em uma sociedade, como, por exemplo, podendo escolher os seus representantes ou se candidatar a qualquer cargo, assim como se manifestar, dentre outros. O segundo estágio somente pôde ocorrer no século seguinte, pois já havia sido conquistada a liberdade, como reflexo dos direitos civis. Após a conquista dos direitos civis (liberdade) e políticos (participação nas esferas de poder), o terceiro estágio corresponde aos direitos sociais, vistos como essenciais para a construção de uma vida digna, tendo por base padrões estabelecidos, como saúde, educação, moradia, lazer, entre outros. Resumindo, de acordo com Marshal, cidadão é aquele que exerce seus direitos civis, políticos e sociais. Ou ainda, é ter a garantia de todos os direitos civis, políticos e sociais que asseguram a possibilidade de uma vida plena. Ainda assim, a cidadania não é dada, mas construída em um processo de organização, participação e intervenção dos indivíduos ou de grupos sociais. Por isso, podemos afirmar que o conceito de cidadania está em constante construção, uma vez que novos direitos e uma maior liberdade, assim como garantias individuais e coletivas, são reivindicados pelos indivíduos ou grupos dentro das sociedades. Entretanto, só na constante vigilância dos atos cotidianos o cidadão pode se apropriar desses direitos, fazendo-os valer de fato. 1. Cidadania no Brasil A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 é chamada de Constituição Cidadã, pois tornou possível, pela primeira vez na história do Brasil, a vigência de uma legislação que garante a plenitude dos direitos civis, políticos e sociais. Um aspecto relevante diz respeito ao fato de que os direitos e garantias aparecem antes das disposições sobre o funcionamento dos poderes do Estado. Isso significa que o Estado está a serviço dos cidadãos, e esses direitos não podem ser abolidos. Em outras palavras, os direitos civis, políticos e sociais estão acima do Estado e legalmente definidos. Só recentemente podemos dizer que a maioria dos direitos clássicos foi estabelecida nas leis do país. Entretanto, há muito por fazer para que os indivíduos possam, de fato, viver dignamente, com educação de boa qualidade, sistema de saúde eficiente, habitação digna etc. De acordo com o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, “somos todos interdependentes neste nosso mundo que rapidamente se globaliza, e, devido a essa interdependência, nenhum de nós pode ser senhor de seu destino por si mesmo. Há tarefas que cada indivíduo enfrenta, mas com as quais não se pode lidar individualmente. O que quer que nos separe e nos leve a manter distância dos outros (…). Todos precisamos ganhar controle sobre as condições sob as quais enfrentamos os desafios da vida – mas, para a maioria de nós, esse controle só pode ser obtido coletivamente”. E ainda de acordo com o autor, “aqui, na realização de tarefas, é que a comunidade mais faz falta, mas também aqui reside a chance de que a comunidade venha a se realizar. Se vier a existir uma comunidade no mundo dos indivíduos, só poder ser (e precisa sê-lo) uma comunidade tecida em conjunto a partir do compartilhamento e do cuidado mútuo; uma comunidade de interesse e responsabilidade em relação aos direitos iguais de sermos humanos e igual capacidade de agirmos em defesa desses direitos”. 2. Movimentos sociais São ações coletivas com o objetivo de manter ou mudar uma situação. Podem ser locais, regionais, nacionais e internacionais. Além dos movimentos organizados, existem outros que são conjunturais. Duram alguns dias e depois desaparecem, para, depois, surgirem em outros momento. Os movimentos não são pré-determinados, dependem sempre das condições específicas em que se desenvolvem, ou seja, das forças sociais e políticas que os apoiam ou os confrontam, dos recursos existentes para manter a ação e dos instrumentos utilizados para obter repercussão. De todo modo, os movimentos sociais que se mantêm durante longo tempo tendem a criar uma estrutura de sustentação e uma organização burocrática, por mínima que seja, para continuar atuando. Ao se institucionalizarem, correm o perigo de perder o vigor, pois, para continuar sua ação, precisam obter recursos e assumir gastos com aluguel de uma sede, telefone, apoio e materiais. A preocupação que antes se concentrava em organizar as ações efetivas divide-se com a preocupação de manter uma estrutura fixa. Movimento negro O moderno movimento político dos negros no Brasil desenvolveu-se a partir dos anos 1930. Com a fundação da Frente Negra Brasileira (FNB), em 1931, o movimento se politizou. As bases de seu programa eram a defesa da integração do negro na sociedade nacional e de classes, e o combate à discriminação racial, à qual se atribuía a pobreza da população afrodescendente. Em 1944, Abdias do Nascimento (1914-2011) e outros militantes do movimento negro fundaram o Teatro Experimental do Negro (TEN). Ele tinha por objetivo desenvolver a consciência da negritude brasileira e, ao mesmo tempo, combater a discriminação racial. Propunha, ainda, o resgate da cultura negra e todos os seus valores, que haviam sido violentados, negados e desfigurados. O movimento procurava definir os negros não como uma minoria de origem estrangeira, mas como a maioria, como o povo brasileiro. Procuravam destacar as possibilidades de inserção e mobilidade social dos negros, pardos e mulatos, e a reconstrução da autoestima por meio do teatro e de ações como a promoção de concursos de beleza da mulher negra. O movimento negro voltaria a emergir nos últimos anos da década de 1970, com significativas mudanças. O Movimento Negro Unificado (MMU), fundado em 1978, passou a priorizar em sua luta a desmistificação do credo da democracia racial, negando o caráter cordial das relações raciais e afirmando que o racismo está entranhado na sociedade brasileira. Hoje, o movimento negro, com uma diversidade de organizações, defende o desenvolvimento de políticas de reconhecimento de diferenças raciais e culturais, de combate à discriminação, de afirmação dos direitos civis e de ações afirmativas ou compensatórias. Movimento feminista O movimento das mulheres no Brasil seguiu inicialmente os passosdo movimento feminista internacional. Em 1918, a bióloga brasileira Bertha Lutz (1894-1976) publicou uma carta denunciando o tratamento discriminatório dado às mulheres. Em 1919, criou a Liga pela Emancipação Feminina. Em 1921, fundou a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, que lutava pelo volto, pela escolha do domicílio e pelo trabalho de mulheres sem autorização do marido. Graças à luta, o Código Eleitoral de 1933 estendia o direito de voto às mulheres. Na Constituição de 1934 houve uma representante das mulheres, a primeira deputada do Brasil: Carlota Pereira de Queiróz (1892-1982). Como os demais movimentos sociais, o movimento das mulheres também foi alvo de repressão e sofreu um refluxo até a década de 1970, quando o movimento se ampliou e se diversificou, com a participação de partidos políticos, sindicatos e associações comunitárias. O reconhecimento das questões de gênero evidenciou-se na Constituição Federal de 1988, que incorporou propostas, apresentadas pelos movimentos feministas, relativas aos direitos individuais e sociais das mulheres, e no fomento a políticas públicas voltadas para o enfrentamento e a superação da discriminação e da opressão. O resultado mais visível foi a criação de conselhos dos direitos da mulher, das delegacias especializadas de atendimento às mulheres, de programas específicos de saúde integral, e de prevenção e atendimento às vítimas de violência sexual e doméstica. Nas décadas de 1990 e 2000, a atuação ampliou-se por meio de numerosas Organizações Não Governamentais (ONGs), com abrangência nacional e local, e diversos projetos, estratégias, temáticas e formas de mobilização, que incluem articulações de trabalhadoras rurais e urbanas, pesquisadoras, religiosas, negras, lésbicas, entre outras. Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação Número do slide 2 Cidadania e movimentos sociais Número do slide 4 Número do slide 5 Número do slide 6 Número do slide 7 Número do slide 8 Número do slide 9 Número do slide 10 Número do slide 11 1. Cidadania no Brasil Número do slide 13 Número do slide 14 Número do slide 15 Número do slide 16 Número do slide 17 Número do slide 18 2. Movimentos sociais Número do slide 20 Número do slide 21 Número do slide 22 Movimento negro Número do slide 24 Número do slide 25 Número do slide 26 Número do slide 27 Número do slide 28 Movimento feminista Número do slide 30 Número do slide 31 Número do slide 32 Número do slide 33 Número do slide 34
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