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APRESENTAÇÃO Professora Esp. Lucimari de Campos Monteiro ● Especialista em EAD e Novas Tecnologias Educacionais (UniFatecie – PR) ● Pós-graduada em Docência do Ensino Superior (Faveni – ES) ● Especialista em Marketing, Novas Mídias e Redes Sociais (UNIARA - SP) ● Licenciada em Letras Português-Inglês (FIRA – SP) ● Professora Formadora – UniFatecie ● http://lattes.cnpq.br/3060516310351242 Possui experiência como docente no Ensino Fundamental II e Médio nas disciplinas de Gramática, Literatura e Redação. No ensino superior atuou como docente nos cursos de Letras, Agronomia, Engenharia Civil, Jornalismo, Publicidade e Administração, nas disciplinas de Comunicação Empresarial, Linguística, Mídia, Análise e Produção de texto, e outras da área da comunicação e educação, no interior de São Paulo. Atuou, ainda, em Agências de Publicidade no Paraná como redatora de peças publicitárias. Possui experiência com correção das Redações do ENEM, revisão de textos acadêmicos em geral e Trabalhos de Conclusão de Curso. APRESENTAÇÃO DA APOSTILA Seja muito bem-vindo(a)! Prezado(a) aluno(a), este material é recheado de informações e conceitos acerca dos estudos da Linguística, e se você é um apaixonado pelo estudo da Língua precisa conhecê-la em seus mais variados aspectos. Proponho, junto a você, construir nosso conhecimento sobre a Linguística e suas atuais pesquisas, visto que se trata de uma ciência teoricamente nova, em comparação com o que já conhecemos hoje. Na unidade I vamos conhecer as Noções de Gramática, morfologia e Sintaxe. Além disso, abordaremos os Estudos Pré-Gerativistas da Sintaxe até chegar ao Surgimento da Linguística Gerativa, quem foi seu grande percussor e quais os legados que existem para o estudo do gerativismo. Na unidade II vamos tecer considerações sobre a gramática gerativa e suas características. O que nos leva aos estudos atuais sobre linguística e também um caminho que se abriu para o estudo da Sociolinguística que será abordado ao final da unidade IV no “material complementar”. Na unidade III conheceremos as características da semântica, bem como os conceitos de formal e informal e observamos quais são as propriedades da morfologia e sintaxe. Veremos ainda as questões de estilística e variações linguísticas, a definição de cada uma delas e como elas ocorrem de fato. Para encerrar, na unidade IV, vamos estudar os conceitos de Fonologia e Fonética, além das características veremos quais são os elementos que são estudados por elas. Os processos fonológicos também serão abordados nessa unidade, bem como o alfabeto internacional de transcrições fonética e fonológicas explicando suas classificações e um exemplo da transcrição. Finalizaremos nossa unidade com o Sistema ortográfico vigente e como tudo ocorreu até que chegássemos nos dias atuais. Aproveito para reforçar o convite a você, para junto conosco percorrer esta jornada de conhecimento e multiplicar os conhecimentos sobre tantos assuntos abordados em nosso material. Esperamos contribuir para seu crescimento pessoal e profissional. Muito obrigada e bom estudo! UNIDADE – I NOÇÕES DE GRAMÁTICA, MORFOLOGIA E SINTAXE Plano de Estudo: ● Noções de Gramática, morfologia e Sintaxe ● Estudos Pré-Gerativistas da Sintaxe ● Surgimento da Linguística Gerativa ● Reflexões sobre o conceito de Gramática e suas divisões de estudo Objetivos de Aprendizagem: ● Conhecer os conceitos e características de gramática ● Compreender a morfologia e a sintaxe ● Entender como se dá o processo de estudo da linguagem sob os conceitos gerativistas INTRODUÇÃO Prezado(a) aluno (a), nesta unidade vamos conhecer as Noções de Gramática, morfologia e Sintaxe e como ela funciona na prática. Além disso, veremos também os Estudos Pré-Gerativistas da Sintaxe até chegar ao Surgimento da Linguística Gerativa, quem foi seu grande percussor e quais os legados que existem para o estudo do gerativismo. Veremos ainda as Reflexões sobre o conceito de Gramática e suas divisões de estudo. Esperamos que esta unidade seja imensamente proveitosa e venha a contribuir ainda mais para os estudos da língua. Bons estudos! 1 NOÇÕES DE GRAMÁTICA, MORFOLOGIA E SINTAXE ID da foto stock livre de direitos: 1008475954 A linguística é uma ciência viva que estuda a língua em suas mais variadas vertentes, e como ciência relativamente nova, ela nos traz a cada ano novas descobertas. Por isso, é sempre importante conhecermos os percussores da linguística e como se dá atualmente a sua divisão de estudo. Vamos começar então conceituando alguns termos para depois chegarmos à gramática gerativista e como ela se estabeleceu. O termo “gramática” sempre nos remete ao estudo de língua, especificamente a nossa língua nativa, e quando o assunto é abordado nos vem à mente a gramática normativa, que é aquela aprendida no período escolar com normas, regras e modos que se deve escrever segundo a língua padrão. É importante também ter a consciência de que “saber gramática” não implica necessariamente em “falar bem” ou “escrever corretamente”. Isso é só mais um dos muitos mitos que compõem o preconceito linguístico tão vigoroso em nossa sociedade. Se o conhecimento da gramática normativa garantisse o “escrever bem”, todos os professores de língua seriam excelentes escritores, prosadores criativos... Isso não acontece, não é? Os gramáticos, então seriam os maiores artistas da língua! Ora, sabemos que não é bem assim. Aliás, muito pelo contrário: a maioria dos gramáticos escrevem num estilo rebuscado, empolado, pouco ágil, usando recursos retóricos antiquados, justamente porque se apegam demais à tradição (BAGNO, 1999, p. 160). Mas, o conceito de gramática vai além, no quadro abaixo podemos ver que há vários outros tipos, vejamos: Quadro 1: Tipos de Gramáticas Gramática Normativa: Utilizada em sala de aula, ela busca a padronização da língua, indicando através de suas regras como devemos falar e escrever corretamente. Sua abordagem privilegia a prescrição de regras que devem ser seguidas, desconsiderando os fatores sociais, culturais e históricos aos quais estão sujeitos os falantes da língua. Gramática Descritiva: Analisa um conjunto de regras que são seguidas, considerando as variações linguísticas da língua ao investigar seus fatos, extrapolando os conceitos que definem o que é certo e errado em nosso sistema linguístico. Gramática Histórica: Investiga a origem e a evolução de uma língua, representando os estudos diacrônicos. Gramática Comparativa: Estabelece comparação da língua com outras línguas de uma mesma família. No caso de nossa língua portuguesa, as análises comparativas são feitas com as línguas românicas. Gramática internalizada: Conjunto de regras que o falante domina e utiliza na comunicação, de maneira que as frases e sequências das palavras são compreensíveis e reconhecidas como pertencendo a uma língua e não é ensinada de forma convencional. Para se provar a existência da gramática internalizada, há dois fatores linguísticos: a aprendizagem por repetição, ouve- se a fala de outrem e se reproduz o que ouviu, aplicando as “regras”, que são observadas por comparações; outro fator é a hipercorreção gramatical. Fonte: https://www.portugues.com.br/gramatica Morfologia A morfologia está presente nas gramáticas normativas e nos remete à criação do termo morfologia é atribuída ao escritor e cientista alemão Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) Portanto, podemos definir morfologia como o estudo da forma das palavras, é a parte da gramática que estuda isoladamente cada uma delas segundo os morfemas (menores unidades de significação que formam as palavras e são classificadosem desinência, raiz, radical, afixo, tema e vogal temática). Para relembrar o que as unidades morfológicas ou elementos mórficos compreendem, a respeito da divisão de uma palavra, listamos a seguir os itens estudados pela morfologia. ● Raiz ● Radical ● Vogal temática ● Tema ● Afixos: prefixos e sufixos ● Desinências Dentre os itens que compõe a gramática estudada em sala de aula está ainda a Sintaxe, que veremos a seguir. Sintaxe Podemos definir sintaxe como a parte da gramática que estuda as palavras enquanto elementos de uma frase, as suas relações de concordância, de subordinação e de ordem. Mas, é fato que falar em “análise sintática” muitas vezes gera temor entre os educandos, pois o modo como esses elementos são passados geram grande apreensividade. O desinteresse pelo estudo de sintaxe da língua portuguesa tem aumentado ao longo do tempo, porque a gramatica tradicional, ao invés de explicar como ocorre a construção frasal, dita normas para o uso da língua. A gramatica gerativa, por outro lado, preocupa-se com a questão estrutural, mostrando todas as transformações ocorridas na frase e por que são utilizadas tais estruturas a partir de um nível maior de abstração, a estrutura profunda. (COSTA; BARIN, 2003, p. 2). É possível, portanto, entender que o estudo de línguas em sala de aula está cada vez mais se apropriando de novas metodologias e usos de textos para contextualizar a gramática. Vale lembrar que ainda há um longo caminho a ser percorrido, mas não é este o foco do nosso estudo aqui. Portanto, conheceremos a partir de agora como se deu o gerativismo e as características da gramática gerativa. 2 ESTUDOS PRÉ-GERATIVISTAS DA SINTAXE ID da foto stock livre de direitos: 125767211 Noam Chomsky nasceu nos Estados Unidos em 1928, além de linguista é filósofo e ativista político. Nos mais de 60 anos de sua vida acadêmica publicou dezenas de livros e centenas de artigos científicos, ele é considerado um dos pensadores mais importantes da História Moderna, suas ideias revolucionaram o estudo da linguagem e inseriram a linguística no contexto da revolução cognitiva dos anos 60 do século XX Chomsky é um severo crítico da Psicologia behaviorista dominante na primeira metade do século passado, para os behavioristas mais radicais todos os tipos de comportamento humano ou animal são gerados externamente por meio de cadeias associativas entre dados, estímulos e certas respostas. Para estes estudiosos a associação entre estímulo e resposta é criado pela repetição por meio de “recompensas ou reforços” advindos do ambiente, logo podemos dizer que o aprendizado pela pura repetição aconteceria mesmo no que diz respeito a linguagem humana por ele denominada comportamento linguístico. Em 1959 Chomsky publicou sua clássica resenha sobre o livro “Comportamento verbal” do famoso behaivorista Skinner, na resenha ele demonstrou o caráter criativo da linguagem humana, sua natureza mental e abstrata por oposição ao modelo da linguagem como comportamento relacionado condicionado pelo ambiente defendido pelos behavioristas. Chomsky defende a hipótese de que todas as línguas naturais são um conjunto de princípios universais e inatos e de parâmetros também na atos que são formatados durante o período de aquisição da linguagem. A abordagem de Chomsky foi revolucionária para a época, pois até metade do século passado a linguística ocupava-se quase exclusivamente da dimensão social e histórica da linguagem humana, tal como acontecia no estruturalismo linguístico. A partir das ideias de Chomsky os linguistas passaram a não apenas descrever a estrutura das línguas, mas também a procurar explicações para como a mente humana era capaz de adquirir e processar essas estruturas. Com Chomsky a morada da linguagem das linguagens naturais passou a ser a mente dos indivíduos. O gerativismo vem formulando teorias que procuram responder à seguinte pergunta “O que é conhecimento linguístico?”. 3 SURGIMENTO DA LINGUÍSTICA GERATIVA ID da foto stock livre de direitos: 1691404792 O gerativismo é conhecido também como a gramática gerativa transformacional de Noam Chomsky que surgiu no final da década de 1950 e vem até hoje havendo reformulações, ela veio como oposição ao behaviorismo na psicologia e o estruturalismo americano na linguística em que a criança era vista como uma "tabula rasa", que aprenderia a língua através da imitação dos sons e de padrões que seriam acompanhados de reforços positivos e negativos. A primeira notícia no Brasil sobre gramática gerativa veio de dois artigos publicados na revista Tempo Brasileiro, em 1967, um de Lemle e outro de Mattoso Câmara, no qual esse último afirmava ser o gerativismo uma variedade do estruturalismo. O primeiro curso de gerativa no Brasil foi ministrado por Sara Gudschinky, em 1994, na UnB. Mais tarde, a teoria é apresentada por Míriam Lemle, no Museu Nacional; por Heles Contreras no I Instituto de Linguística em 1968; por John Martin, em vários Institutos Brasileiros de Linguística e depois na PUC-SP. As primeiras teses seguindo esta teoria foram as de Eunice Pontes (1969/ 1973) sobre verbos auxiliares no português; de Leila Barbara (1971/1975) sobre asseveração e não- asseveração; e de Mary Kato (1972/1974) sobre a semântica do artigo definido. A partir de então, a sintaxe na linha gerativa passa a ser ministrada também por professores que obtiveram sua formação parcialmente no Brasil e parcialmente no exterior, através de Institutos e estágios. (KATO e RAMOS, 1999, p.1) Para Chomsky é como se a criança nascesse com um dispositivo inato na cabeça e será desenvolvido a partir do momento que ela é exposta ao modelo linguístico do seu lugar de nascimento. Outro fator importante e que pode ser ressaltado é que a criança nasce com conhecimentos linguísticos, diferentemente do que era pregado com o behaviorismo comparando a criança com uma tábula rasa, além disso ele nos fala ainda sobre a criatividade que seria a capacidade do humano de fazer infinitas frases dentro do seu sistema linguístico e das normas da sua língua, portanto, tal criatividade não se encaixa na teoria do behaviorismo, não há espaço para esse evento no estímulo- resposta, já que tudo é “certinho” e não englobaria os imprevistos que o falante faz da língua. A aprendizagem na visão gerativista é o conjunto de frases que a criança recebe desde os primeiros dias de vida e é chamado de input, é o que vai entrando na cabeça dela e o que ela vai ouvindo dentro da sua comunidade linguística e a partir daí aquele dispositivo que ela tem na mente será capaz de analisar e começar a perceber como é a gramática da sua língua nativa. A partir desse input da gramática que já foi se instalando na cabeça da criança ela é capaz de produzir, manifestar e falar de acordo com que ela foi ouvindo, nesse caso a fala/produção é vista como input, ela vai ouvindo desde criança e esse dispositivo reconhece essa gramática internalizada e a partir daí ela faz o output, que é a manifestação linguística que ela começa a falar. Na visão gerativista temos a teoria dos princípios e parâmetros. Os princípios seriam universais linguísticos, ou seja, uma gramática universal, é como se dissermos que “todas as línguas têm sujeito”, já os parâmetros são conjuntos de normas e características que fazem as diferenças, são específicas de cada língua. Na língua portuguesa eu posso falar “está chovendo” e aqui há a omissão do sujeito, já se eu for falar em inglês serei obrigada a falar “it is raining”. It é o sujeito usado para coisas e obrigado na língua inglesa a usar, não tem como omitir o sujeito igual na língua portuguesa. Essa diferença de omissão do sujeito ou não é chamado de parâmetro que é o que faz a diferençade uma língua para outra, e os princípios é aquilo que universal em todas as línguas, por exemplo, todas as línguas têm sujeito. É importante ainda ressaltar a diferença entre a aquisição de linguagem e aprendizagem de linguagem. A aquisição é a língua nativa em que a criança nasce e vai recebendo todo input e vai internalizando tudo que ouve e consegue começar a falar, já aprendizagem de linguagem é o aprendizado de uma nova língua em ambientes que não são naturais, como a escola, por exemplo, em que ela aprender a uma nova língua e todas gramática normativa. 4 REFLEXÕES SOBRE O CONCEITO DE GRAMÁTICA E SUAS DIVISÕES DE ESTUDO ID da foto stock livre de direitos: 159503864 A teoria do gerativismo foi apresentada em 1960 no livro “Estruturas sintáticas” e desde então várias reformulações aconteceram – e acontecem - até agora. Para Chomsky a linguagem é um conjunto de sentenças formados por elementos linguísticos e nessa visão a linguagem tem o número infinito de sentenças que podem ser formadas, porém há regras para sua constituição. A extensão é limitada e isso é decorrente da limitação da memória, ou seja, nosso conhecimento é infinito, porém a limitação da memória nos impede de realizar produções extensas, frases grandes. Quando estamos escrevendo é possível realizá-la, pois voltamos no que foi escrito, avaliamos, corrigimos, mas quando estamos falando há uma limitação, por isso, muitas vezes nos perdemos naquilo que estamos dizendo e ficamos sem entender qual foi o início da ideia ou qual foi a ideia Inicial, essa limitação da memória é que afeta o uso do conhecimento. O conceito importante é a questão da competência e desempenho, a competência é todo conhecimento que o falante tem determinado sistema linguístico e esse conhecimento é o responsável pela produção infinitamente grande de sentenças dentro daquela língua, já o desempenho é o modo como o falante usa essa competência, esse conhecimento para produzir as sentenças. Há uma frase bem conhecida de Chomsky que é “o desempenho pressupõe a competência, mas a competência não pressupõe o desempenho”, ou seja, eu preciso da competência para ter o desempenho, eu preciso do conhecimento para usar a fala, mas não preciso do desempenho para ter conhecimento na minha mente. Os fatores não-linguísticos que são as emoções, sentimentos, motivações e interesse para produzir tal fala ou sentença são pertinentes ao desempenho, que aqui é deixado de lado, pois não são importantes para a teoria linguística, para a formulação de declarações gerais sobre a linguagem. Podemos até fazer um comparativo da estrutura de Saussure em que ele deixa de lado a fala e parte do pressuposto que a fala tem motivação, fatores internos do falante e que vai influenciar no modo de dizer, aqui o desempenho é um modo de dizer do falante é também deixado de lado. Outro ponto do gerativismo é a gramaticalidade e a aceitabilidade. A gramaticalidade tem a ver com sentido de construir sentenças de acordo com a gramática internacionalizada que temos, ou seja, é ter a noção de falar o que é aceitável ou não dentro daquilo que você está acostumada a dizer, e isso tem a ver com o conhecimento inconsciente, implícito, é aquele que você naturalmente sabe como é como são construídas as frases da sua língua nativa, diferente da gramática normativa que é aquela aprendida na escola com todas as concordâncias, regências, classes gramaticais. Ou seja a gramaticalidade tem a ver com conhecimento implícito, você fala naturalmente as frases porque você já tem uma gramática interna que é responsável por dar as ferramentas para construção dos diálogos, das falas e das frases; já aceitabilidade é você aceitar ou não algumas características da sua língua, por exemplo, na língua portuguesa, temos a ordem natural: sujeito verbo e complemento. Por exemplo, na frase “Eu tenho um carro vermelho” é aceitável eu falar isso na língua portuguesa, dentro de uma ordem, tenho sujeito verbo complemento. Se eu disser “eu carro tenho vermelho” seria inaceitável naturalmente pela nossa gramática internalizada, pois sabemos que não é o uso comum, não é a construção da frase correta, ela está errada e dentro dessa aceitabilidade o próprio falante tem uma intuição linguística, pois ele consegue julgar se é aceitável ou não aquela construção de acordo com a sua a gramática internalizada da sua língua nativa. Para Chomsky a estrutura das línguas é uniforme e variante dado pelos princípios, e por parâmetros que são os conceitos e as características que tornam as línguas particulares, o gerativismo tem um modelo explicativo, ou seja, tudo que acontece naquela língua é explicado por meio das leis gerais. A limitação do gerativismo é parecida com o estruturalismo Saussure em partes, no gerativismo há um conceito de falante ideal numa comunidade de língua homogênea deixando de lado a situação do falante o contexto assim como lá no estruturalismo também. LEITURA COMPLEMENTAR PRESSUPOSTOS TEÓRICOS O ensino da língua portuguesa, baseado na gramática tradicional, tem apresentado uma série de dificuldades frente aos problemas causados pela “inconsistência teórica e falta de coerência interna; seu caráter e predominantemente normativo e o enfoque e centrado em uma variedade da língua, o dialeto padrão (escrito), com exclusão de todas as variantes”, conforme Perini (2002, p. 06). As críticas em relação à norma têm sido constantes entre professores e linguistas, pois, segundo Kreutz (1995), “um problema crucial e o da falta de critérios sintáticos para a determinação das funções dos termos da oração e das orações do período” (p. 07), sendo adotados critérios semântico-pragmáticos, lógico- semânticos, ou semântico-sintáticos para a análise gramatical, dependendo da situação. Acrescenta, ainda, que “o resultado do uso dessa mescla de parâmetros são classificações idênticas para termos/orações que têm funções sintáticas distintas; e classificações distintas para termos/orações que têm funções sintáticas idênticas” (p. 08). Estudos linguísticos recentes apontam vários métodos de análise sintática o que, às vezes, não é bem aceito pelos gramáticos. Bechara (2000) defende que a gramática descritiva e científica e deve registrar e descrever o sistema linguístico, mas é a gramática normativa que deve modelar o uso da língua entre os falantes, seja em termos pedagógicos ou no cotidiano. Mas, segundo Chomsky (1965), “a gramática de uma língua particular deve ser completada por uma gramática universal que dê conta do aspecto criativo do uso da linguagem e que formule as regularidades profundas que, por serem universais, são omitidas da gramática propriamente dita” (p. 86). A sintaxe gerativa, com base em uma visão matemática, procura descrever e explicar toda estrutura sintática ligada ao ato comunicativo, satisfazendo essa adequação explicativa universalista. Chomsky (1965) acrescenta: “uma gramática gerativa (grifo nosso) deve consistir num sistema de regras que, dum modo interativo. Vantagens da gramática gerativa A descrição estrutural das orações utilizada pela gramática gerativa difere, em geral, das normas estabelecidas pela gramática tradicional. Essa visão da estrutura fornece meios mais adequados para a análise gramatical, principalmente nos seguintes aspectos: a) verbos considerados intransitivos pela norma podem, em alguns casos, receber um complemento (SN e/ou SPc), com a finalidade de explicitar ou qualificar o processo verbal. Os exemplos (20) e (21) mostram essa variação no emprego de um mesmo verbo; b) a distinção entre verbos pronominais essenciais e acidentais torna-se visível. A partícula se, no primeiro caso, faz parte do verbo; no segundo caso, forma um sintagma dentro do SV.Fonte: COSTA; BARIN, online, 2003 SAIBA MAIS Dentre as classes de palavras, o verbo é a mais rica em flexões. Com efeito, o verbo reveste diferentes formas para indicar a pessoa do discurso, o número, o tempo, o modo e a voz. Ao conjunto ordenado das flexões ou formas de um verbo dá-se o nome de conjugação. O verbo é a palavra indispensável na organização do período. Fonte: Domingos Paschoal Cegalla - Novíssima Gramática da Língua Portuguesa - São Paulo. Companhia Editora Nacional, 2020. p.182. #SAIBA MAIS# REFLITA “A leitura traz ao homem plenitude, o discurso segurança e a escrita precisão.” Francis Bacon. #REFLITA# CONSIDERAÇÕES FINAIS Prezado aluno, nesta unidade pudemos conhecer as Noções de Gramática, morfologia e Sintaxe e como ela funciona na prática. Vimos também os Estudos Pré-Gerativistas da Sintaxe até chegar ao Surgimento da Linguística Gerativa, quem foi seu grande percussor e quais os legados que existem para o estudo do gerativismo. Veremos ainda as Reflexões sobre o conceito de Gramática e suas divisões de estudo para que o estudo da língua seja, de fato, proveitosa. Esperamos que você tenha aproveitado ao máximo esse momento de estudo e reflexão sobre os estudos da linguagem. Até a próxima! LIVRO • Título: Gramática da Língua Portuguesa • Autor: Pasquale Cipro Neto, Ulisses Infante • Editora: Scipione Didáticos • Sinopse: Obra consagrada como excelente material de referência. A teoria gramatical combinada à análise de textos do cotidiano. O seu grande diferencial está na articulação entre a apresentação dos tópicos gramaticais e a análise de textos dos mais diferentes tipos, o que propicia a reflexão e a imediata identificação de usos daquilo que está sendo estudado. Os mais diversos gêneros (publicitários, jornalísticos, letras de canções, poemas, etc.) são objeto de atividades de análise e discussão. FILME/VÍDEO • Título: O grande desafio • Ano: 2007 • Sinopse: Melvin Thompson (Denzel Washington) é um brilhante professor e amante das palavras. Embora tenha convicções políticas que possam atrapalhar sua carreira, ele decide apostar nos seus alunos para formar um grupo de debatedores e colocar a pequena Wiley College, do Texas, no circuito dos campeonatos entre as universidades. Mas o seu maior objetivo é enfrentar a tradição de Harvard diante de uma enorme plateia. Inspirado em fatos reais. • Link: https://www.youtube.com/watch?v=Km8d7NNtElg WEB •Manual de Linguística: subsídios para a formação de professores indígenas na área de linguagem – Série Vias dos Saberes: Vias dos Saberes é uma série de livros destinada a fornecer subsídios à formação dos estudantes indígenas em cursos de nível superior. Os textos visam agregar à experiência de cada um dos pontos de partida para a composição dos instrumentos necessários para aguçar a percepção quanto aos amplos desafios à sua frente, diante de metas que têm sido formuladas pelos seus povos, suas organizações e comunidades • Link do site: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=64 6-vol15vias04web-pdf&Itemid=30192 REFERÊNCIAS BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico – o que é, como se faz. 15 ed. Loyola: São Paulo, 1999. BARROS, Diana Luz Pessoa de. Teoria semiótica do texto. 4 ed. São Paulo: Ática, 2008. Disponível em https://plataforma.bvirtual.com.br Bibliografia Complementar BRAIT, Beth. Bakhtin conceitos: chaves. Contexto, 2013. Disponível em https://plataforma.bvirtual.com.br BATISTA, Ronaldo O. Em busca de uma história a ser contada: a recepção brasileira à gramática gerativa. Disponível em: https://core.ac.uk/download/pdf/192788006.pdf. Acesso em 25 Ago 2020. COSTA, Matheus Mario da; BARIN, Nilsa Teresinha Reichert. Sintaxe gerativa: reflexões para a prática pedagógica da língua portuguesa, 2003. Disponível em <https://periodicos.ufn.edu.br/index.php/disciplinarumALC/article/viewFile/663/615 > Acesso em 10 Jul 2020. D.E.L.T.A., Vol. 15, N.º ESPECIAL, 1999 (105-146) Mary A. KATO e Jânia RAMOS TRINTA ANOS DE SINTAXE GERATIVA NO BRASIL DIAS, Luzia Schalkoski e GODOY, Elena. Psicolinguística em foco: linguagem: aquisição e aprendizagem. Curitiba: InterSaberes, 2014 Disponível em https://plataforma.bvirtual.com.br Disciplinarum Scientia. Serie: Artes, Letras e Comunicação, Santa Maria, v. 4, n. 1, p. 125-153, 2003. FERRARI, Lilian. Introdução à linguística cognitiva. São Paulo: Contexto 2011. Disponível em https://plataforma.bvirtual.com.br FIORIN, J. L. (Org.). Introdução à linguística II: princípios de análise. 5 ed. Contexto, 2010. Disponível em https://plataforma.bvirtual.com.br Matheus Mario da Costa e Nilsa Teresinha Reichert Barin MOLLICA, Maria Cecilia; BRAGA, Maria Luiza (Orgs.). Introdução à Sociolinguística: o tratamento da variação. 4 ed. São Paulo: Contexto 2010. Disponível em https://plataforma.bvirtual.com.br RESENDE, Viviane de Melo; Ramalho, Viviane. Análise de discurso crítica. Contexto, 2006. Disponível em https://plataforma.bvirtual.com.br SILVEIRA, Jane Rita Caetano da; FELTES, Heloísa Pedroso de Moraes. Pragmática cognitiva: a teoria da relevância. Porto Alegre. Edipucrs, 2015. Disponível em https://plataforma.bvirtual.com.br UNIDADE II GRAMÁTICA GERATIVA Plano de Estudo: ● Gramática Gerativa: fundamentos da Linguística Gerativa ● Noções de Competência e Desempenho, Língua-I e Língua-E ● O Problema Lógico da Aquisição da Linguagem e o Argumento da Pobreza de Estímulo ● Traços do Léxico: Categorias Lexicais e Funcionais ● Papéis Temáticos e Grade argumental: argumentos e adjuntos Objetivos de Aprendizagem: ● Conhecer os conceitos e características do gerativismo ● Compreender a gramática gerativa ● Entender como se dá o processo de estudo da linguagem sob os conceitos gerativistas INTRODUÇÃO Prezado(a) aluno (a), nesta unidade vamos conhecer a gramática gerativa e suas características. Veremos a linguística enquanto ciência cognitiva, seus principais representantes e como se pautaram os estudos baseados nos conceitos e concepções gerativistas. Além disso, veremos também os traços lexicais, grade argumental e questões que envolvem a aquisição da linguagem. Esperamos que esta unidade seja imensamente proveitosa e venha a contribuir ainda mais para os estudos da língua. Bons estudos! 1 GRAMÁTICA GERATIVA: FUNDAMENTOS DA LINGUÍSTICA GERATIVA ID da foto stock livre de direitos: 1144565474 Na unidade anterior deste material vimos que o gerativismo teve início no final da década de 1950 e início dos anos de 1960, portanto, é uma parte da linguística relativamente nova e que ano após ano ganha novos olhares entre os amantes da linguagem. É inegável que Chomsky é o percussor do gerativismo e suas teorias tenham fundamentos que vieram para mostrar como se dá o processo de aquisição da linguagem e tudo que está a sua volta, por isso, nesta unidade veremos características específicas sobre a gramática gerativa e seus conceitos. 1.1 Sintaxe A sintaxe gerativa é um dos métodos gramaticais mais influentes no que diz respeito ao estudo da linguagem humana. Proposta por Noam Chomsky, ao longo dos anos a maneira gerativa de observar, descrever e explicar fenômenos sintáticos foi transformada em uma teoria da linguagem complexa e diversificada. Para Chomsky, o caráter gerativo da linguagem caracteriza-se pelo fato de que, em todas as línguas humanas, é possível criar um número infinitode expressões linguísticas utilizando-se, para tanto, uma quantidade finita de elementos constitutivos. Dizendo de outra forma, Chomsky notou que não existem limites para o número de frases que um falante de uma língua particular, seja ela qual for, pode produzir e compreender. (KENEDY, 2015, p. 3). Em termos gerais podemos dizer que para o gerativismo, diferentemente do estruturalismo de Saussure que era até então dominante, há uma infinidade de possibilidades de frases que um falante pode criar, mesmo sabendo que o léxico é finito, ou seja, há um conjunto limitado de morfemas, fonemas e palavras (em grande quantidade, mas limitado), mas as possibilidades de combinações para a produção frasal se dão de maneira ilimitada. No empreendimento proposto pela linguística gerativa, a sintaxe sempre ocupou um lugar central. Isso acontece porque o caráter gerativo das línguas revela-se exatamente no componente sintático da gramática. Entenderemos isso se considerarmos que, para o gerativismo, a linguagem humana possui dois componentes fundamentais: o léxico e as regras computacionais. É no léxico que são depositadas as unidades mínimas da língua (fonemas, morfemas, palavras, idiomatismos, expressões fixas), que, por se tratar de itens finitos, devem ser memorizados pelos falantes de uma língua específica. Já as regras computacionais são também finitas, mas, quando aplicadas sobre os itens presentes no léxico, criam unidades infinitas como sintagmas e frases. Essas unidades são geradas composicionalmente, isto é, vêm à luz no momento em que são engendradas pela sintaxe, e assim não podem ser memorizadas pelos falantes. De acordo com os sintaticistas de orientação gerativista, as regras computacionais da linguagem pertencem ao domínio da sintaxe e cabe à Sintaxe Gerativa descrevê- las e explicá-las. (KENEDY, 2015, p. 3) Na tabela abaixo é possível identificar com maior exatidão as quantidades aproximadas de fonemas, morfemas e palavras existentes e a possibilidade de construção e produção frasal. Tabela 1: Em número aproximados, unidades linguísticas e o caráter gerativo da linguagem Fonte: Kenedy, 2015 1.2 Modularismo e Inatismo Para entender melhor as propostas de Chomsky e seus seguidores, vamos observar como os gerativistas veem o cérebro humano. Segundo Martins (2006), no gerativismo há uma perspectiva modular para entender a mente humana, é como um sistema complexo, com estruturas altamente diferenciadas e “habilidades” (ou faculdades) independentes, como habilidades e conceitos de linguagem, chamada também de faculdade da linguagem e faculdade dos conceitos. Inatismo: proposta por Noam Chomsky, o inatismo argumenta que os seres humanos possuem uma gramática inata, ou seja, você nasce com ela e é modelada de acordo com seu desenvolvimento. As crianças usam a fala de adultos como base para seu desenvolvimento, que é a estrutura para o aumento de suas próprias regras. A partir do momento em que a criança incorporou certas estruturas da língua materna ela é capaz de desenvolver um novo modelo de regras para a linguagem, porém isso ocorre naturalmente e não foi porque ele imitou alguém. Para entender o modularismo é preciso lembrar de Jean Piaget (1979) que entende que “a aquisição da linguagem depende do desenvolvimento da inteligência na criança e se dá na superação do estágio sensório-moto”, por isso, vamos observar a seguinte fala Em oposição ao modelo inatista, a aquisição é vista como resultado da interação entre o ambiente e o organismo, através de assimilações e acomodações, responsáveis pelo desenvolvimento da inteligência em geral, e não como resultado do desencadear de módulo - ou um órgão - específico para a linguagem. Daí se diz que a visão de Piaget sobre a linguagem é não-modularista. Assim também, a visão behaviorista é rechaçada, com a crença de que as crianças não esperam passivamente que o conhecimento de qualquer espécie seja transmitido, mas constroem seu próprio conhecimento. (SCARPA, p. 24, 2001) Em termos gerais podemos dizer que o modularismo tem como crença a aquisição da linguagem por meio da imitação, enquanto o inatismo proposto por Chomsky, traz a ideia de que já nascemos com uma gramática internalizada. Mais adiante vamos nos aprofundar nessas questões. 1.3 Faculdade da Linguagem em sentido amplo e restrito Os conceitos de Faculdades de linguagem se diferem entre amplo e restrito, ambos estão diretamente ligados à maneira como os seres se comunicam. O FLA (faculdade de linguagem em sentido amplo) e FLR (faculdade de linguagem em sentido restrito) se diferem quando a FLA traz os traços existentes em comum na linguagem animal e na linguagem humanas que servem para comunicação fazendo uso fisiológico para transmitir informação, já a FLR é o que seria exclusivo para a espécie humana, ou seja, o uso da língua de forma criativa, utilizando a propriedade da recursividade linguística Segundo Chomsky, há sistemas complexos no corpo humano, como, por exemplo, o córtex visual e o sistema circulatório, portanto, possuem características exclusivas e são estudadas separadamente. Assim como esses sistemas complexos, os sistemas cognitivos ou ‘faculdades’ da mente, como a faculdade da visão e a faculdade da linguagem, estas também devem ser estudadas separadamente. No gerativismo a mente humana é estudada por meio dos sistemas cognitivos e divididos em módulos. Deste modo, a faculdade da linguagem se encaixaria exatamente em um desses módulos. 1.4 Gramática universal Diante das características que vimos até aqui sobre a estrutura mental inata, temos ainda na teoria gerativista o que chamamos de Gramática Universal (GU). A GU é o estado inicial da faculdade da linguagem, ou seja, é a gramática internalizada do ser humano, é aquela que estabelece também os princípios e parâmetros (veremos mais adiante os detalhes). A gramática universal pode ser facilmente entendida como aquela que já nasce conosco, é tudo o que temos de capacidade de entendimento. 1.5 Princípios e Parâmetros Outro ponto forte da teoria gerativa é o de princípios e parâmetros. Basicamente, podemos entender os princípios como tudo aquilo que é comum em todas as línguas, e mostram características universais, além disso são responsáveis por explicar a organização das línguas maternas. Já os parâmetros são as características particulares de uma língua, ou seja, é tudo aquilo que pode ser reconhecido a partir dos dados linguísticos do ambiente do indivíduo em fase de aquisição de linguagem. Para que haja melhor entendimento veremos abaixo um exemplo de um princípio e de um parâmetro: ● Princípio: “Todas as sentenças, independentemente da língua, têm a função sintática sujeito” ● Parâmetro: “Uma língua admite ou não sujeito nulo nas sentenças” Vejamos agora duas línguas, o português e o inglês, e vamos aplixar a teoria de princípios e parâmetros. Em inglês o sujeito precisa ser apontado na frase, ou seja, é obrigatoriedade aparecer, já na língua portuguesa isso não acontece. Veja: Observe os exemplos: 1) Português: Ø Chove 2) Inglês: It rains 3) Português: Vi a sua mãe ontem. 4) Inglês: I saw the your mother yesterday. Enquanto nativos falantes da língua portuguesa sabemos que as possibilidades 1 e 3 são totalmente possíveis, ou seja, as duas maneiras estão corretas já que o sujeito pode ou não aparecer na oração (no caso do exemplo 3). Já em língua inglesa isso não acontece, uma vez que o sujeito precisa aparecer, por isso, usa-se “it” para ocasiões como no exemplo 2. 1.6 Estrutura de Constituintes As sentenças das línguas são formadas por itens lexicais, ou seja, elas se organizam por meio de uma sequência linear, mas esta não é aleatória. Podemos dizer que a relação que há entre os itens lexicais é de ordem hierárquica. A organização,que parte de itens lexicais e inclui esses em grupos maiores e hierarquicamente superiores, é chamada de estrutura de constituintes. Vejamos um exemplo na prática: 1) O menino comprou uma bicicleta nova com a mesada 2) A comprou uma menino nova o com bicicleta mesada. No exemplo 1 temos uma sequência lógica e possível dentro da língua portuguesa, já o exemplo 2 temos uma formação em ordem “invertida” e, portanto, não há sentido para a língua portuguesa. Em termos gerais, podemos dizer que a estrutura de constituintes é a responsável por analisar os itens de uma construção apontando ainda as possibilidades de inversão (de ordem) sem que haja perda de significação. 2 NOÇÕES DE COMPETÊNCIA E DESEMPENHO: LÍNGUA-I E LÍNGUA-E ID da foto stock livre de direitos: 1419108692 Para a Linguística gerativa temos as noções de Competência e Desempenho baseados na Língua-I e Língua-E. Ambos se estabelecem no sentido de tentar explicar ou definir como acontece alguns processos da linguagem. Vejamos: Língua-I é uma instanciação do órgão da linguagem, parte de nosso dote genético. Ela é individual, interna e intensional. É individual porque “the properties of the system can be specified completely independently of the environment that the agent is embedded in” (Ludlow, 2003: 143). É interna, porque está na mente-cérebro e é intensional pois é uma função que converte palavras em descrições estruturais, por exemplo, uma função que pega as palavras Pedro e morre e converte em Pedro morre. Esse termo intensional também é entendido, em uma visão usual, como uma característica da Língua-I em isolamento, portanto, forçando uma dispensabilidade do ambiente, isto é, a Língua-I não é guiada por princípios extra- mentais, apesar de Chomsky reconhecer que eles a influenciam. (CRUZ, p. 21, 2005). Podemos, portanto, dizer que a Língua-I significa o conhecimento sobre a nossa língua e isto é algo interno, é a competência linguística de cada indivíduo. Já a Língua-E é tudo que aprendemos no desempenho linguístico, ou seja, é gerada pelo conhecimento pelas ideias que criamos. A Língua-E, pelo contrário, é externa à mente-cérebro e não- individual. A Língua-E é uma linguagem pública, é um objeto social estabelecido por convenção e dependente do ambiente ou da comunidade. Chomsky questiona a própria existência da Língua-E, principalmente, como uma entidade teórico-científica, crítica percebível quando Ludlow (2003: 143) afirma que “I gather that on Chomsky’s views such objects (Língua-E) would be of little scientific interest if they did exist, but that in any case such objects don’t exist... I-languages are the only serious candidates for the objects of linguistic inquiry”. (CRUZ, p. 21, 2005). Como um exemplo prático, vejamos a seguir a seguinte frase: Manuel é português O termo “português” identifica a pessoa de nacionalidade portuguesa, esse é o predicado de Manuel que o identifica como tal, mas essa característica não é única, existem muitas pessoas que possuem nacionalidade portuguesa. A reunião dessas pessoas com as mesmas características chamamos de “conjunto”, os termos gerais não se referem a indivíduos em particular, mas sim a conjuntos. O conjunto de coisas designadas por um predicado (ex: ser português) chama-se extensão (Língua-E). A característica expressa por um predicado chama-se intensão (Língua-I). Assim, predicados com a mesma extensão (ex: pessoas de nacionalidade portuguesa) são diferentes se tiverem diferentes intensões. A distinção entre a extensão e a intensão dos termos gerais (predicados) permite-nos compreender melhor o que são conceitos. A palavra “Deus”, por exemplo, significa diferentes coisas para diferentes religiões; há, portanto, diferentes conceitos de Deus. Podemos, portanto, nos referir as mesmas coisas através de diferentes conceitos, diante das diferentes maneiras que elas têm de significado para nós (Língua-I individual). ⮚ Extensão = conjunto de coisas ou indivíduos com as mesmas características, portanto, é coletivo. ⮚ Intensão = é o conceito que temos sobre determinado item/indivíduo/situação, portanto, é individual. 2 O PROBLEMA LÓGICO DA AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM E O ARGUMENTO DA POBREZA DE ESTÍMULO ID da foto stock livre de direitos: 1675256440 Quando paramos para pensar sobre o processo de aquisição da linguagem é comum nos remetermos à fase da criança em processo de alfabetização. Fato é que, quando vamos aprender um novo idioma, sempre nos debruçamos nas gramáticas, mas também praticamos diálogos e conversação para apropriação da língua. Outro fator importante a ser observado é que a criança possui facilidade em aprender uma nova língua, seja por morar em um país diferente ao do seu nascimento ou mesmo por estar cursando algum idioma específico. Essa é uma das grandes situações que os linguistas vêm trabalhando há anos para saber se, de fato, surge o que chamamos de argumento da pobreza de estímulo, “se a fala da criança fosse fruto da audição e da repetição, um experiência em geral fragmentária, ela não seria capaz de produzir frases que ela nunca ouviu, como de fato acontece” (GALVES, 2011). Tal teoria afirma que os dados disponíveis à criança na língua que a rodeia não são suficientes o bastante para definir uma gramática. Por muitos anos, Noam Chomsky, linguista americano nascido em 7 de dezembro de 1928, na Filadélfia, tentou responder a uma pergunta, conhecida como Problema lógico da aquisição da linguagem (também chamado de problema de Platão). Este problema é baseado no diálogo Ménon, de Platão, na qual o personagem Sócrates demonstra para Ménon que, se desafiado de maneira correta, mesmo um escravo sem instrução possui noções inatas de matemática. Esses conhecimentos permitiriam que o escravo fizesse, de maneira intuitiva, alguns cálculos geométricos. Essa pergunta continua sendo o elemento norteador das investigações científicas assumidas por Chomsky desde a sua graduação na Universidade de Pennsylvania. (ARAÚJO; CORÔA, online, 2020). O gerativismo de Chomsky é uma das teorias mais importantes da linguística do século XX que traz o conceito de que há um componente mental inato em todos os seres humanos (chamado de Faculdade da Linguagem). Este traz regras gerais que nos instruem sobre como funciona a comunicação humana, que é a Gramática Universal (GU). A essa GU atribui-se a possibilidade infinita de combinações diferentes que podemos fazer, em termos gerais, podemos dizer que há um conjunto ilimitado de palavras, regras e estruturas que estão ao nosso dispor no momento da construção frasal, é, portanto, uma infinitude discreta é uma das propriedades essenciais da linguagem humana. 3 TRAÇOS DO LÉXICO: CATEGORIAS LEXICAIS E FUNCIONAIS ID da foto stock livre de direitos: 668631760 O termo traço na caracterização do léxico nos traz informações conceituais e linguísticas armazenadas no léxico de uma língua e encontram-se organizadas na mente de maneira sistemática e coerente. Cada item do léxico é, na verdade, um conjunto de traços, um conjunto de informações relativas a esse item. Os traços lexicais podem ser de três tipos: traços semânticos, traços fonológicos e traços formais ou sintáticos. [...] concebe-se a língua como um componente interno da mente/cérebro (Língua–I) formado pela FLN e um léxico. Este léxico é composto por elementos pertencentes a categorias lexicais e funcionais. Ao contrário do caráter inato do sistema computacional, o léxico é adquirido a partir da experiência, sendo, pois, responsável pelas especificidades de cada língua. O léxico é caracterizado, portanto, como um componente da Língua-I, formado por traços. É nesse componente que são instanciadas as variações (parâmetros) entre as línguas, já que as particularidades de cada sistema linguísticoresidem nos traços formais que são ou não tomados como relevantes naquela língua. (UCHÔA, online, 2018) Não temos, portanto, o léxico na língua-I (aquela interna, que nascemos com ela), o que temos de fato é a capacidade de armazenar o léxico, que vem da língua- E (externa e que adquirimos com o tempo). É o repertório de morfemas, palavras e frases que vão ficando armazenados no nosso Léxico mental (aqui a palavra “Léxico” é usada com letra maiúscula por se tratar de um lugar da mente em que armazenamos as experiência que vamos adquirindo na língua-E). Portanto, vale ressaltar o conceito de Inatismo (Língua-I) proposta por Noam Chomsky: os seres humanos possuem uma gramática inata, ou seja, você nasce com ela e é modelada de acordo com seu desenvolvimento. As crianças usam a fala de adultos como base para seu desenvolvimento, que é a estrutura para o aumento de suas próprias regras. E o da Língua-E é tudo que aprendemos no desempenho linguístico, ou seja, é gerada pelo conhecimento pelas ideias que criamos. Diante desses conceitos abordados, é possível dizer que as Categorias Lexicais e Funcionais são aquelas que adquirimos na Língua-E conforme vivenciamos situações e estamos expostos a variedades de situações comunicacionais. 4 PAPÉIS TEMÁTICOS E GRADE ARGUMENTAL: ARGUMENTOS E ADJUNTOS ID da foto stock livre de direitos: 289831070 Na linguística temos o objetivo de analisar componentes da linguagem sem deixar a função sintática e semântica de lado, afinal não há como fazer uma análise superficial dos elementos das orações. Geralmente, a análise do componente racional está relacionada às funções sintáticas que todos podem executar. Vale lembrar que a forma de ensinar gramática na escola até então era dividida em “termos acessórios e termos essenciais da oração”, o que, de certa forma, limitava – e muito - o entendimento de algumas funções. “Essa dicotomia provém de noções bastante intuitivas que dividem os termos entre aqueles que são considerados indispensáveis para compor a cena verbal e aqueles que apenas a modificam” (MOURA; MILIORINI, online, 2018). Logo, foi possível perceber que essa divisão em apenas dois termos não era suficiente para a classificação de algumas orações, surgindo, então, novos conceitos, como os de “Papel temático”, que pode ser definido como àquele que se refere à função semântica dos sintagmas na sentença. De acordo com a teoria linguística, a gramática gerativa de uma língua é vista como modelo formal da competência linguística do falante/ouvinte da língua. Como a competência linguística é o conhecimento de uma língua particular pelo falante/ouvinte, a gramática gerativa pode ser vista como um conhecimento inconsciente, que não é aprendido nas escolas. Segundo a gramática tradicional, gramática é um conjunto de prescrições e regras que determinam o uso considerado correto da língua escrita e falada, sendo, portanto, um conhecimento aprendido. De acordo com a gramática tradicional, os termos da oração classificam-se em: essenciais (sujeito e predicado), integrantes: complemento nominal e complemento verbal (objeto direto e objeto indireto) e agente da passiva; e acessórios (adjunto adnominal, adjunto adverbial e aposto), e vocativo. Segundo a gramática gerativa os termos da oração têm suas funções definidas a partir das posições estruturais que ocupam na frase. Isto é, as categorias gramaticais NP, VP, PP, entre outras, têm suas funções gramaticais definidas em termos da categoria que as domina (MIOTO, p. 23, 1999). Em termos gerais, podemos dizer que qualquer elemento sujeito a determinadas condições terá um relacionamento específico com o restante da frase. Vejamos o exemplo: (1) João deu o bolo para Maria. (2) João cozinhou o bolo para Maria. O mesmo sintagma, para Maria, funciona como argumento em (1) e como modificador, ou adjunto, em (2). Sabemos disso porque o verbo dar é triargumental, enquanto cozinhar seleciona dois argumentos. Ambos os sintagmas recebem papel temático de benefactivo – embora sejam subcategorizados por núcleos distintos1 ; entretanto, estão em diferentes relações sintáticas com o verbo. (MOURA; MILIORINI, online, 2018). Temos, portanto, alguns tipos de papéis temáticos: ● Agente: é o que faz/executa uma ação voluntariamente, equivale ao Sujeito; ● Fonte: é próximo do Agente, mas não detém o controle da situação, normalmente traz seres inanimados; ● Experienciador: é aquele que sente algo, de modo físico ou psicológico; ● Locativo: é o lugar no espaço em que se encontra algo ou alguém; ● Alvo: pessoa ou lugar a que algo se destina; Há ainda outras possibilidades de papéis temáticos, como: Paciente; Instrumento; Meta; Objetivo; Alvo; Possuidor; Recipiente; Causador; Afetado. Moura; Miliorini, (2018) abordam essa temática mostrando que “A distinção entre argumentos e adjuntos verbais é fundamental para alicerçar diferentes teorias linguísticas” mas, ressaltam que “ainda que nossa intuição seja segura para analisar os casos mais prototípicos, ela falha no julgamento de algumas relações verbais”, o que pode gerar certa confusão entre a grade argumental e o adjuntos verbais. De acordo com a teoria da estrutura argumental, os argumentos podem assumir vários papéis semânticos (temáticos). Esses papéis semânticos demonstram o envolvimento do participante no evento descrito pelo verbo; assim, um argumento pode funcionar nessa descrição como Agente, Beneficiário, Tema, Alvo, Paciente, Experienciador, entre outros papeis. No entanto, tais funções semânticas podem ocorrer em diferentes posições sintáticas. Por exemplo, o verbo avisar em português admite duas estruturas oracionais: João avisou o horário da prova para o Pedro, e o João avisou o Pedro sobre o horário da prova. Observamos que o argumento interpretado como alvo pode ser realizado na posição de objeto indireto e na posição de objeto direto. Da mesma forma, o argumento interpretado como tema pode ser realizado na posição de objeto direto e na posição de objeto indireto. (FERREIRA, p. 31, 2016). Vamos agora ver um exemplo de exercício resolvido com a grade argumental e os papéis temáticos das orações: Imagem 1: exemplo de exercício explicitando grade argumental Fonte: Souza, 2016. Com a análise desse exercício fica evidente como podemos identificar a grade argumental e os papéis temáticos dentro das orações, bem como a função sintática expressa nelas. SAIBA MAIS A Linguística como Ciência Cognitiva A Linguística Cognitiva é uma abordagem da linguagem perspectivada como meio de conhecimento e em conexão com a experiência humana do mundo. As unidades e as estruturas da linguagem são estudadas, não como se fossem entidades autônomas, mas como manifestações de capacidades cognitivas gerais, da organização conceptual, de princípios de categorização, de mecanismos de processamento e da experiência cultural, social e individual. São temas de especial interesse da Linguística Cognitiva os seguintes: as características estruturais da categorização linguística (tais como prototipicidade, polissemia, modelos cognitivos, metáfora e imagens mentais), os princípios funcionais da organização linguística (iconicidade e naturalidade), a interface conceptual entre sintaxe e semântica, a base pragmática e ligada à experiência da linguagem-no-uso e a relação entre linguagem e pensamento (incluindo questões sobre o relativismo e sobre os universais conceptuais). Linguística Cognitiva e outras teorias linguísticas Pela negação da tese da autonomia da linguagem (a linguagem como "sistema autónomo" ou como "faculdade autónoma"), a linguística cognitiva opõe- se aos dois paradigmas linguísticos anteriores (o estruturalismo e o gerativismo). O estruturalismo linguístico, nas suasdiferentes formas, entende e estuda a linguagem como um sistema que se basta a si mesmo (com a sua própria estrutura, os seus próprios princípios constitutivos, a sua própria dinâmica) e, por conseguinte, o mundo que ela representa e o modo como através dela o percebemos e conceptualizamos considera-os como aspectos "extra-linguísticos". Por seu lado, a gramática gerativa (de Chomsky e seus discípulos) defende que a faculdade da linguagem é uma componente autónoma da mente, específica e, em princípio, independente de outras faculdades mentais; por conseguinte, o conhecimento da linguagem é independente de outros tipos de conhecimento. Fonte: SILVA, online. #SAIBA MAIS# REFLITA “A imprensa pode causar mais danos que a bomba atômica. E deixar cicatrizes no cérebro.” Noam Chomsky. #REFLITA# CONSIDERAÇÕES FINAIS Prezado aluno, nesta unidade pudemos conhecer as características das Noções de Competência e Desempenho, Língua-I e Língua-E pautadas na teoria gerativa de Chomsky. Conhecemos também um pouco sobre O Problema Lógico da Aquisição da Linguagem e o Argumento da Pobreza de Estímulo que nos traz as características do processo de aquisição da linguagem na infância e como o meio pode – ou não – afetar esse processo tão importante para o ser humano. Entendemos também a importância dos Papéis Temáticos e Grade argumental: argumentos e adjuntos observando seu conceito teórico e uma aplicação prática em um exercício resolvido. Esperamos que você tenha aproveitado ao máximo esse momento de estudo e reflexão sobre os estudos da linguagem. Até a próxima! LIVRO Título: Curso básico de linguística gerativa Autor: Eduardo Kenedy Editora: Vozes Ano: 2013 Sinopse: Eduardo Kenedy, professor e pesquisador da área, oferece aos universitários brasileiros o primeiro material didático escrito em língua portuguesa para um curso introdutório completo sobre linguística gerativa – a ciência da linguagem dedicada à dimensão cognitiva das línguas humanas. Numa estrutura dialógica, com ilustrações e exercícios com respostas, este livro preenche, assim, uma lacuna na literatura linguística no Brasil, apresentando à comunidade acadêmica os principais conteúdos do empreendimento gerativista e tratando de temas complexos com profundidade, mas utilizando-se de linguagem simples e objetiva. Esta obra destina-se especialmente aos estudantes de graduação e pós- graduação dos cursos de Linguística, Letras, Fonoaudiologia, Psicologia, Comunicação e demais áreas interessadas em linguagem e ciências cognitivas. FILME/VÍDEO Título: Escritores da Liberdade Ano: 2007 Sinopse: Uma jovem e idealista professora chega a uma escola de um bairro pobre, que está corrompida pela agressividade e violência. Os alunos se mostram rebeldes e sem vontade de aprender, e há entre eles uma constante tensão racial. Assim, para fazer com que os alunos aprendam e também falem mais de suas complicadas vidas, a professora Gruwell (Hilary Swank) lança mão de métodos diferentes de ensino. Aos poucos, os alunos vão retomando a confiança em si mesmos, aceitando mais o conhecimento, e reconhecendo valores como a tolerância e o respeito ao próximo. WEB • Olimpíada Brasileira de Linguística: desde 2011, instigando seus participantes a ampliar suas habilidades lógico-analíticas e sua visão sobre os povos do mundo a partir de uma abordagem interdisciplinar. A olimpíada firmou-se como um fascinante instrumento de imersão multicultural, trazendo à luz diversos temas do mundo das línguas, da linguagem, dos códigos e da cognição humana. • Link: http://www.obling.org/#home REFERÊNCIAS ARAÚJO, Paulo Ângelo; CORÔA, Williane. Noam Chomsky e o funcionamento da linguagem: menos é mais! Disponível em: https://www.blogs.unicamp.br/linguistica/2020/01/10/noam-chomsky-e-o- funcionamento-da-linguagem-menos-e-mais/. Acesso em: 10 Jul 2020. BARROS, Diana Luz Pessoa de. Teoria semiótica do texto. 4 ed. São Paulo: Ática, 2008. Disponível em https://plataforma.bvirtual.com.br Bibliografia Complementar BRAIT, Beth. Bakhtin conceitos: chaves. Contexto, 2013. Disponível em https://plataforma.bvirtual.com.br CRUZ, Ronald Taveira da. Referência-I para Língua-I: o projeto naturalista na linguística. P. 21, 2005. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/102800/228558.pdf?sequen ce=1&isAllowed=y DIAS, Luzia Schalkoski e GODOY, Elena. 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UNIDADE III SEMÂNTICA Plano de Estudo: ● Semântica ● Linguística e Polissemia no texto ● Estilística ● Formal e informal ● Variações linguísticas ● Psicolinguística Objetivos de Aprendizagem: ● Conhecer os conceitos e características de semântica ● Compreender a gramática gerativa ● Entender como se dá o processo de polissemia no texto, estilística e variações linguísticas INTRODUÇÃO Prezado(a) aluno (a), nesta unidade vamos conhecer as características da semântica, bem como os conceitos de formal e informal e observar quais são as propriedades da morfologia e sintaxe para sabermos como o estudo da língua se dá. Além disso, veremos questões de estilística e variações linguísticas, a definição de cada uma delas e como elas ocorrem de fato. Abordaremos ainda a psicolinguística e polissemia no texto,completando nossa unidade de conhecimento. Esperamos que esta unidade seja imensamente proveitosa e venha a contribuir ainda mais para os estudos da língua. Bons estudos! 1 SEMÂNTICA ID da ilustração stock livre de direitos: 1487430524 O estudo da língua portuguesa pode ser dividido em algumas partes, a saber: morfologia, sintaxe e semântica. Na unidade I deste material vimos a definição de morfologia e sintaxe: ● Morfologia: o estudo da forma das palavras, é a parte da gramática que estuda isoladamente cada uma delas segundo os morfemas (menores unidades de significação que formam as palavras e são classificados em desinência, raiz, radical, afixo, tema e vogal temática). ● Sintaxe: a parte da gramática que estuda as palavras enquanto elementos de uma frase, as suas relações de concordância, de subordinação e de ordem. Nesta unidade veremos o que é a semântica. Primeiramente, vamos analisar a seguinte fala de Ilari: Para explicar as palavras, podemos colocá-las em séries, do tipo gato-felino-mamífero, canela-perna-corpo, chato- desagradável-mofino, grande-volumoso-enorme- gigantesco, encher-esvaziar e muitas outras. Essas séries, às quais chegamos de maneira intuitiva, baseiam-se sempre em alguma relação (por exemplo, a classe dos gatos se inclui na dos felinos, e esta na dos mamíferos; a canela é parte da perna, que é parte do corpo, etc.); essas relações são semânticas, e têm muito a nos ensinar sobre o significado das palavras. (ILARI, online, 2018) A semântica está ligada ao sentido, quando falamos em semântica logo nos remetemos a mudança de sentido, à relação de sentido que há entre as palavras. 1.1 Denotação e Conotação Se falamos de sentido precisamos logo identificar que a dois itens importantes a ser considerados na relação semântica O que é denotação e conotação: - Denotação: é o sentido literal da palavra, é o seu significado no mais puro sentido de ser, é aquilo que realmente está escrito e se quer falar naquele momento; - Conotação: em oposição a denotação, a conotação é a relação de sentido ilustrativa, é a aplicação da palavra no seu sentido figurado e não no seu sentido original, na conotação temos um sentido que é possível atribuir em um contexto específico. 1.2 Sinonímia e Antonímia Outra relação de sentido que é importante salientar é a sinonímia que está ligada ao sinônimo, mas é importante lembrar que a sinonímia não é exatamente a mesma coisa que sinônimo. Temos sinônimo quando identificamos duas palavras com o mesmo significado, já na sinonímia ocorre quando eu tenho dentro de um contexto uma relação de sinônimos, em termos gerais podemos dizer que mesmo que as palavras não sejam diretamente sinônimas elas têm uma relação de sinônimo naquele contexto específico. Exemplo: A paz e a tranquilidade reinavam naquela casa Nesse contexto temos a palavra paz e a palavra tranquilidade em uma relação de sinonímia elas não são sinônimas fora de contexto, mas aqui exercem o mesmo valor semântico, ou seja, o mesmo valor de sentido. Antonímia Sinonímia vem da relação de sinônimo antonímia vem da relação de antônimo. é também uma característica que devemos observar quando falamos em semântica. É a relação estabelecida entre duas ou mais palavras que apresentam significados diferentes, contrários, dentro de um contexto. Exemplo: João era bondoso, já Carlos era tinhoso. Nesse contexto a palavra bondoso e tinhoso estabelecem entre si uma relação de antonímia uma vez que aqui tem sentido oposto. 1.3 Homonímia e Paronímia Outro sentido semântico importante que devemos salientar é a homonímia que é a relação estabelecida entre duas ou mais palavras que, embora possuam significados diferentes, apresentam a mesma estrutura fonológica. Elas podem se dividir em: ⮚ Homógrafas: palavras iguais na escrita, mas diferentes na pronúncia: Exemplo: ● acerto (correção) e acerto (verbo acertar); ● acordo (combinação) e acordo (verbo acordar); ● apoio (suporte) e apoio (verbo apoiar); ● boto (golfinho) e boto (verbo botar); ● colher (talher) e colher (apanhar); ● começo (princípio) e começo (verbo começar); ● cor (coloração) e cor (memória); ▪ Homófonas: palavras iguais na pronúncia, mas diferentes na escrita: Exemplo: ▪ Acento e assento A palavra rubrica tem acento? (sinal gráfico) / Esse assento está vazio? (cadeira, lugar) ▪ Aço e asso Mandei pôr uma porta de aço no armazém. (liga de ferro) / Amanhã de manhã asso um bolo para o lanche. (verbo assar) ▪ Alto e auto Ele sempre foi muito alto. (comprido, elevado) /O artista fez o seu autorretrato. (de si próprio) ▪ Apressar e apreçar Vamos apressar o passo, por favor! (tornar mais rápido)/O gerente da loja vai apreçar a nova mercadoria. (definir o preço) Quadro 1: Palavras Homófonas e Homógrafas Fonte: Neves, 2015. Paronímia É a relação estabelecida entre duas ou mais palavras que possuem significados diferentes, porém são muito semelhantes na pronúncia e na escrita, mas não são exatamente iguais, são apenas semelhantes. Exemplo: ● Absolver (perdoar) e absorver (aspirar) ● Apóstrofe (figura de linguagem) e apóstrofo (sinal gráfico) ● Aprender (tomar conhecimento) e apreender (capturar) ● Cavaleiro (que cavalga) e cavalheiro (homem gentil) ● Comprimento (extensão) e cumprimento (saudação) ● Coro (música) e couro (pele animal) 2 LINGUÍSTICA E POLISSEMIA NO TEXTO ID da foto stock livre de direitos: 1723153486 Quantas vezes você já se deparou com uma palavra que tem muitos significados? Talvez, todos os dias usamos ou ouvimos de alguém frases que geram ambiguidade ou até mesmo uma situação engraçada. Polissemia é a multiplicidade de significados, em termos gerais, podemos dizer que são aquelas palavras que carregam em si cargas significativas plurais. Vejamos a palavra MANGA. Sem contexto algum ela pode nos remeter à fruta, mas em um contexto específico ela pode ser a manga da camisa. Isso acontece ainda com a palavra BANCO (de sentar, de dinheiro ou ato de pagar algo); PAPEL (de parede, sulfite, de seda); são várias palavras que podemos exemplificar e que usamos no dia a dia. Mas, há uma diferença entre os exemplos acima, por exemplo, as possibilidades de “PAPEL” são todos do mesmo conceito (algum tipo de papel), já as possibilidades de “BANCO” são completamente aleatórias, não possuem nenhuma relação de sentido. Portanto, temos aqui o que chamamos de homonímia. Para melhor entendimento: Logo, na construção textual é preciso ficar atento a escolha do vocabulário para que ela não traga dúvidas e gere ambiguidade. Se o seu texto for informativo, não poderá haver nenhum tipo de equívoco na interpretação. Mas, caso seu texto seja literário, e sua intenção seja exatamente essa de gerar múltiplos significados, aí sim não há nenhum problema no uso dessas palavras, tudo é uma questão do objetivo do seu texto, qual seu público, qual o tema e o assunto abordado nele. A língua portuguesa é extremamente rica em seu vocabulário, por isso, temos uma infinidade de opções e possibilidades para acrescentar nas nossas construções textuais. POLISSEMIA: palavras com multiplicidade de significados, mas com conceitos e relações aproximadas; HOMONÍMIA: palavras com multiplicidade de significados, mas com conceitos e relações diferentes. 3 ESTILÍSTICA ID da foto stock livre de direitos: 374588935 Quando nos referimos à língua precisamos saber que existe uma Tríplice Essencial (morfologia, sintaxe e fonética) que constitui: a forma, as frases e os sons das palavras. Cada um desses elementos da Tríplice vai focar uma dessas partes, no entanto, além da Tríplice essencial temos também algumas característicascomplementares, como a Estilística. Como próprio nome diz, a estilística vai falar sobre o estilo De escrita A Arte da palavra Cada pessoa tem um jeito uma maneira de escrever e por mais que todos nós sigamos as mesmas regras gramaticais, cada um tem uma escolha uma maneira de estruturar o seu texto e a sua fala, Afinal a língua é um organismo vivo e está em constante mudança e Ela nos permite essa variação e multiplicidade de escolha. A estilística é a parte da linguística que estuda o estilo da linguagem, ou seja, a capacidade expressiva da língua em uso, tanto oral quanto escrito. Através de recursos sintáticos, fonológicos e semânticos, os chamados recursos estilísticos, é possível ir além do significado literal das palavras, aumentando a emotividade da mensagem e sugestionando o interlocutor. (NORMA CULTA, online, 2018). Portanto, falarem estilística é falar sobre as palavras E da maneira como eu posso utilizá-las dentro de um contexto. Comece a observar a maneira como você escreve e perceberá que existe um estilo algumas coisas se repetem e são características apenas suas, outra pessoa terá características diferentes, por isso, Podemos dizer que a estilística é o estilo de escrever a forma como as pessoas utilizam as palavras a escolha do vocabulário e a maneira de estruturar o texto, é a individualidade. 4 FORMAL E INFORMAL ID do vetor stock livre de direitos: 1568895406 Antes de entendermos o conceito de Formal e Informal é importante observar o que o termo Norma é nos estudos da linguagem verbal. Para Faraco e Zilles (2017) é possível classificar norma em termo geral e específico: ▪ Geral: equivale a toda e qualquer variedade linguística; ▪ Específico: equivale a um conjunto de preceitos que definem o chamado “bom uso”, o uso socialmente prestigiado. Logo, podemos dizer que norma é o “como se diz” numa determinada comunidade de fala, em determinados contextos. Temos, portanto, a dialetologia, que diz respeito aos falares regionais, circula nos espaços regionais e suas características dos diferentes níveis Diante disso, é relevante salientar que a “norma culta” se difere da “norma padrão”, vejamos: ▪ Norma culta: a norma culta é aquela chamada também de “Norma normal”, ela permeia os falantes cultos no meio urbano, altamente escolarizadas, com acesso aos bens culturais e que têm domínio da cultura escrita. A norma culta pode variar e é um uso de um determinado grupo de falantes, ela de fato acontece, é real. Na sociedade brasileira esse grupo é tipicamente urbano e comum, além de ser uma norma presente na dinâmica corrente, é viva no funcionamento social da língua; ▪ Norma padrão: já a norma padrão, chamada também de “norma normativa” é a tentativa de homogeneizar a língua, é repleta de idealizações, já que ela não acontece de fato, portanto, podemos dizer que a gramática normativa é uma tentativa de unificar a língua, mas é utópica. Nesse sentido, a norma padrão é um modelo idealizado construído para fins específicos não é, portanto, uma das normas presentes no fluxo espontâneo do funcionamento social da língua, mas um construto que busca controlá-lo. Sobre os registros da linguagem, podemos dividi-lo em Formal e Informal, ambos acontecem em contextos situacionais distintos e estão presentes em nosso dia a dia. Além dos registros, temos também a língua em sua modalidade e a variedade. Veja: ⮚ Modalidade: oral e escrita ⮚ Registro: formal e informal ⮚ Variedade: padrão e não-padrão Através das modalidades podemos identificar a linguagem expressa da seguinte maneira: ● Oral: linguagem falada (espontânea) ● Escrita: linguagem que se utiliza de signos (planejada) Já quando falamos sobre registros estamos nos referindo ao: ● Formal: normalmente utilizado na escrita, mas há casos em que se utiliza a formalidade, como um discurso presidencial, por exemplo; ● Informal: a conversa do dia a dia, a troca de informações com pessoas que você convive e que não há exigência de formalidade. Já sobre a variedade, temos: ● Padrão: que é aquele estabelecido pela gramática e chamado também de norma culta e possui maior prestígio social; ● Não padrão: que é a linguagem do dia a dia e que não se remete à gramática normativa para as construções. 5 VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS ID da foto stock livre de direitos: 1065342608 Falar em variação linguística é falar também num processo identitário, afinal, as pessoas não falam do mesmo modo e até uma mesma pessoa não fala sempre da mesma maneira, e a pergunta que rodeia o campo da variação linguística é “Por que as pessoas mudam sua forma de falar nas diversas situações?” É importante lembrar que a variação linguística já foi vista como uma ruptura da unidade do sistema, ou seja, era algo pejorativo e até mesmo estigmatizado negativamente. O comportamento linguístico está permanentemente submetido ou relacionado aos diferentes aspectos da identidade social, como, por exemplo, sexo, idade, antecedente regional e também o pertencimento a grupos específicos, como religiosos, da vizinhança, sociais, e etc. Portanto, existe uma influência do contexto situacional da produção da fala, não apenas como um condicionador da produção desta, mas como um produto específico e conjunto da ação dos participantes daquele diálogo e do próprio processo comunicativo, pois falante e ouvinte influenciam-se mutuamente e vão construindo esse contexto comunicacional. Labov (2008) é um dos principais nomes da sociolinguística, ramo da linguística geral que tem como objetivo estudar a variação linguística como algo pedagógico. Podemos até mesmo dizer que a sociolinguística é o estudo da variação de forma inovadora sobre a teoria da linguagem, diferentemente do estruturalismo de Saussure, que não considerava questões sociais e acreditava na estrutura da língua como algo homogêneo, a sociolinguística de Labov propõem uma diversidade às formas que passaram a ter natureza variável, contínua e quantitativa, portanto uma variedade linguística só acontece quando algo é recorrente. A partir de Labov os estudos das variantes passaram a ter ênfase em questões sociais, se é um fenômeno recorrente de uma comunidade de fala passa a ter, então, uma variante, pois as análises de formas linguísticas da sociolinguística são manifestadas em seus contextos sociais, não há como pensar em línguas, sem pensar em sociedade e, não há também limites nítidos entre o sistema linguístico e o seu uso. Pode-se considerar que o processo de variação linguística se desenrola em três etapas. Na origem, a mudança se reduz a uma variação, entre milhares de outras, no discurso de algumas pessoas. Depois ela se propaga e passa a ser adotada por tantos falantes que doravante se opõe [sic] frontalmente à antiga forma. Por fim, ela se realiza e alcança a regularidade por eliminação das formas rivais. (CALVET, p. 77, 2002). A sociolinguística, portanto, analisa a realização da língua, mas é válido lembrar que a variação linguística não é um caos como muitos pensam, não é uma mera construção sem contexto, até mesmo porque uma variedade para ser reconhecida é preciso que seja recorrente e aconteça regularmente, "não se pode entender o desenvolvimento de uma mudança linguística sem levar em conta a vida social da comunidade em que ela ocorre" (LABOV, 2008, p. 21). A língua é um fenômeno variável e seus estudos devem ser pautados em fatores sociais, não há como fazer a separação destes, mas é válido lembrar que algumas variedades são estigmatizadas e outras não, pura e simplesmente por questões sociais. A forma linguística prestigiada permeia os indivíduos de alto prestígio social, enquanto a forma não prestigiada encontra-se recorrente em indivíduos com baixo prestígio social, por isso, o uso da língua revela a identidade do falante não somenteindividual, mas também do grupo. A explicação da mudança linguística parece envolver três problemas distintos: a origem das variações linguísticas; a difusão e propagação das mudanças linguísticas; e a regularidade da mudança linguística. [...] Essas variações podem ser induzidas pelos processos de assimilação ou dissimilação, por analogia, empréstimo, fusão, contaminação, variação aleatória ou quaisquer outros processos em que o sistema linguístico interaja com as características físicas ou psicológicas do indivíduo. (LABOV, 2008, p. 19-20). Fica evidente, portanto, que a variação linguística está ligada a identidade social do emissor ou falante, identidade social do receptor ou ouvinte, o contexto social e também ao "julgamento social distinto que os falantes fazem do próprio comportamento linguístico e sobre os outros, isto é, as atitudes linguísticas" O termo “variante” é utilizado para identificar uma forma que é usada ao lado de outra língua sem que se verifique mudança no seu significado básico. Os estudos da variação determinam três tipos de agentes externos que causam variação linguística: o geográfico, associado à distância espacial entre diferentes grupos; o social, associado a diferenças entre grupos socioeconômicos e o do registro que leva em conta o grau de formalidade do contexto e o meio usado para concretizar a comunicação. Embora esses agentes possam ser apresentados isoladamente, em um contexto real eles estão estreitamente unidos. Os três agentes geram variáveis no nível lexical, no gramatical, no fonético. (COSTA, online, 2018). Podemos classificar a variação linguística em três partes: 1- Variação regional: esse tipo de variação pode também ser chamada de dialetos, pois são as variações ocorridas de acordo com a cultura de uma determinada região. 2 - Variação social: é aquela pertencente a um grupo específico de pessoas. Neste caso, podemos destacar as gírias, as quais pertencem a grupos de surfistas, tatuadores, músicos, entre outras possibilidades; 3 - Variação Histórica: chamamos de variação histórica aquela que sofre transformações ao longo do tempo. Como por exemplo, a palavra “você”, que antes era vosmecê e que agora, diante da linguagem reduzida no meio eletrônico, é apenas VC. O mesmo acontece com as palavras escritas com PH, como era o caso de pharmácia, agora, farmácia. Fonte: (COSTA, online, 2018) adaptada pela autora 6 PSICOLINGUÍSTICA ID da foto stock livre de direitos: 613998125 A psicolinguística é uma ciência relativamente nova produz suas abordagens na análise de fatores psicológicos e neurológicos que afetam a linguagem, ela é responsável por estudar como adquirimos, entendemos, produzimos e elaboramos uma linguagem. Jacob Robert Kantor foi um psicólogo americano pioneiro em um sistema naturalista no campo da psicologia, chamado psicologia Inter comportamental, Kantor foi o primeiro a usar o termo "psicolinguística" em seu livro “Uma psicologia objetiva da gramática” em 1936. É importante ressaltar que a psicolinguística nasceu de dois campos: psicologia e linguística. O primeiro dedicado ao estudo do pensamento, emoção e comportamento humano. A segunda estuda as manifestações da linguagem. A psicolinguística e a linguística se diferem da seguinte maneira: ⮚ Compreensão: para a linguística a unidade mínima acústica é o fonema. Para psicolinguística, é a sílaba. ⮚ Produção: o objeto de estudo na linguística é o falante nativo ideal. Por outro lado, para a psicolinguística, é o falante real. ⮚ Objeto de estudo: em relação ao uso da linguagem, a linguística procura as formas mais elegantes, formais e abstratas da linguagem. A psicolinguística busca os princípios da operacionalidade. Já no que diz respeito aos estudos na área da psicolinguística, o mesmo autor supracitado traz a divisão da seguinte maneira: ⮚ Observacional: baseado no exame do comportamento linguístico. Além disso, é feito através da coleta de dados naturais em situações cotidianas contextualizadas. ⮚ Experimental: através do método científico, com experimentos em laboratório. A psicolinguística, portanto, busca estudar e identificar as habilidades que utilizamos para nos comunicar ⮚ Linguagem ⮚ Pensamento ⮚ Escrita ⮚ Compreensão auditiva ⮚ Compreensão, Integração e Associação visual ⮚ Expressão verbal e motora É importante observarmos que a psicolinguística é uma grande aliada da própria linguística, ambas estão focadas nos estudos da linguagem e juntas podem ser grandes ferramentas para desvendar a complexidade da linguagem humana. SAIBA MAIS William Labov (2007) foi certa vez questionado: Qual é o objeto de estudo da Sociolinguística? Labov: É a língua, o instrumento que as pessoas usam para se comunicar com os outros na vida cotidiana. Esse é o objeto que é o alvo do trabalho em Variação Linguística. Existem outros ramos da Sociolinguística que estão preocupados primordialmente com questões sociais: o planejamento linguístico, a escolha pela ortografia oficial e outros que se preocupam com as consequências das ações de fala. Todas essas são importantes áreas de estudo, mas eu sempre tentei abordar as grandes questões da Linguística, como determinar a estrutura da linguagem – suas formas e organização subjacentes – e conhecer o mecanismo e as causas da mudança linguística. Os estudos da linguagem usada no dia-a-dia provaram ser bastante úteis para alcançar esses objetivos. #SAIBA MAIS# REFLITA “A Linguística não é uma ciência previsível, e eu prefiro deixar o futuro acontecer em seu devido tempo”. William Labov. #REFLITA# CONSIDERAÇÕES FINAIS Prezado aluno, nesta unidade pudemos conhecer as características da semântica, bem como os conceitos morfologia e sintaxe para sabermos como o estudo da língua se dá. Conhecemos também a diferença de norma culta e norma padrão e como elas acontecem na prática social, no nosso dia a dia. Além disso, o conceito de variação linguística ficou evidente sob a perspectiva dos conceitos labovianos da sociolinguística. Entendemos também a importância da estilística e do que é formal e informal, além da polissemia no texto escrito. Para finalizar a unidade, conhecemos um pouco da psicolinguística e como ela se apropria da observação e do experimento para identificar as habilidades que os seres humanos usam no processo de comunicação. Esperamos que você tenha aproveitado ao máximo esse momento de estudo e reflexão sobre os estudos da linguagem. Até a próxima! LEITURA COMPLEMENTAR AS PRINCIPAIS CORRENTES TEÓRICAS DA LINGUÍSTICA E OS ESTUDOS GRAMATICAIS Amanda Maria de Oliveira A compreensão acerca das distintas concepções de língua e seus respectivos modelos teóricos fornece subsídios para o desenvolvimento de trabalhos e pesquisas situados em diversos contextos. Seja no âmbito da pesquisa acadêmica, seja na prática de ensino, esse conhecimento se faz necessário na medida em que fornece o alicerce para o desenvolvimento da análise linguística a diferentes níveis e frente a objetivos distintos, como também deve oferecer subsídios para a prática de ensino e aprendizagem de línguas. No segundo caso, a postura adotada no processo de ensino é subsidiada pela concepção de língua e pelos respectivos modelos teóricos. Nesse sentido, os estudos linguísticos dão subsídio às diversas práticas que envolvem a análise e o estudo da língua. No entanto, existem diversas propostas teóricas, situadas no âmbito da linguística, que adotam concepções de língua distintas, posto que buscam compreendê-la segundo variados percursos. Além disso, os modelos teóricos, denominados gramáticas, surgem com base nesses estudos, apresentam variados pontos de vista acerca do funcionamento ou da realidade da línguae possuem objetivos distintos Princípios básicos do estruturalismo e a gramática tradicional Frente às diferentes concepções de língua, são propostos diferentes modelos teóricos que apresentam objetivos distintos, uma vez que buscam descrever o sistema linguístico, ou, em outros casos, sistematizá-lo. Uma dessas gramáticas é denominada atualmente normativa ou tradicional, que é empregada nas escolas e nas aulas de línguas como meio de prescrever regras, segundo as construções consideradas corretas e aceitas pela norma culta. Sendo assim, o objetivo da gramática tradicional, diferentemente de outros modelos teóricos, não é a sistematização da língua, mas a prescrição de regras. Na constituição da referida gramática, são identificadas aproximações em relação à concepção estruturalista, posto que compreende a língua como um sistema homogêneo, assim como possui, também, considerações de base filosófica. Em relação à proposta da gramática tradicional, vale salientar que não é considerada científica, uma vez que almeja prescrever regras e não é objeto de estudo científico. Além disso, o linguista não exclui variantes consideradas desvios da norma-padrão, pois leva em conta as variações que ocorrem na língua, diferentemente do que se faz presente na gramática em questão. No que se refere à base filosófica da gramática tradicional, de acordo com Martelotta (2009), a preocupação inicial reside na compreensão da relação entre linguagem, pensamento e realidade. Busca-se, dessa maneira, explicar algumas questões como, por exemplo, a relação entre as palavras e o mundo, ou seja, se elas refletem a realidade a seu redor, ou são arbitrárias, convencionais. Em adição, outra característica da gramática tradicional que tem origem nesse mesmo período é o seu caráter normativo. Martelotta (2009, p.46) explica que, “ao lado dessa preocupação de caráter filosófico, a gramática grega apresentava uma preocupação normativa, ou seja, assumia a incumbência de ditar padrões que refletissem o uso ideal da língua grega.” Nesse sentido, o caráter normativo da gramática tradicional tem origem nas reflexões filosóficas desenvolvidas já na Antiguidade Clássica e dos interesses relacionados à manutenção da língua considerada pura. A gramática normativa apresenta, além da base filosófica já discutida, aproximações no que se refere à compreensão da língua enquanto estrutura. Esses traços do estruturalismo podem ser identificados na medida em que buscam explicar as unidades que compõem o sistema e de que maneira se combinam, levando-se em conta a norma-culta. Quanto ao estruturalismo, esta corrente tem como marco inicial a publicação do Curso de Linguística Geral (1916), que dá início ao desenvolvimento dos estudos de cunho estruturalista. Essa obra traz as discussões de Ferdinand de Saussure, precursor do estruturalismo, por meio de anotações de seus alunos. Pioneiro na vertente estruturalista, Saussure (2006[1916]) propõe que a língua constitui um sistema regido por regras internas que obedecem à determinada orientação de funcionamento, ao mesmo tempo em que exclui as influências externas, uma vez que a língua deve ser estudada, segundo a referida concepção, enquanto sistema autônomo. Dentro do sistema, o valor de dado elemento é atribuído na oposição que ele mantém em relação às outras unidades, ou seja, com o sistema como um todo. Os estudos gramaticais à luz da teoria gerativa Além do estruturalismo, outra abordagem que representa um marco nos estudos linguísticos é denominada gerativismo. Essa teoria tem como precursor o linguista norte-americano Noam Chomsky, que firma o início dos estudos gerativistas com a publicação do livro Estruturas Sintáticas (1957). O autor traz, com a referida abordagem, uma compreensão de língua distinta da proposta no estruturalismo – embora receba influências dessa corrente –, dado que a preocupação não é mais a descrição do sistema em si, mas o aspecto cognitivo, pois consiste em um estudo de base mentalista. O modelo teórico elaborado pelo gerativismo, que busca explicar o funcionamento da linguagem, é denominado gramática gerativa, com base formalista e de caráter científico. A questão central da abordagem gerativista gira em torno da faculdade da linguagem, e é também esse aspecto que a diferencia da proposta estruturalista, uma vez que a última leva em conta o estudo sincrônico do sistema de regras, e não a capacidade da linguagem, ou seja, o aspecto cognitivo. Diferentemente do que Saussure (2006[1916]) propõe, o gerativismo considera que a linguagem é inata ao ser humano, e não um sistema adquirido socialmente, em função do contato com a comunidade linguística. Assim, o gerativismo preocupa-se em entender e explicar o funcionamento desse aspecto biológico, que é a competência linguística. Dessa maneira, conforme pontua Kenedy (2009, p.129), “[...] as línguas deixam de ser interpretadas como um comportamento socialmente condicionado e passam a ser analisadas como uma faculdade mental inata. A morada da linguagem passa a ser a mente humana.”. Nesse sentido, o objeto de estudo deixa de ser o sistema e os elementos que o compõem, para buscar a compreensão racional do aspecto cognitivo, ligado à faculdade da linguagem. Fonte: Revista de Divulgação Científica em Língua Portuguesa, Linguística e Literatura Ano 09 - n.17 – 2º Semestre de 2013 - ISSN 1807-5193 LIVRO • Título: Semântica • Autor: Celso Ferrarezi Jr. • Editora: Parábola Editorial • Sinopse: A despeito de sua importância pilar, a semântica é uma ilustre desconhecida na educação básica brasileira. Por isso, grande parte dos alunos que adentram os cursos de letras ou linguística no Brasil desconhece quase totalmente a área. Alguns se lembram de ter ouvido falar sobre sinônimos e antônimos, mas pouco além disso. Os mais agraciados pela escola também ouviram falar de metáfora e metonímia, mas ainda acham isso coisa lá da literatura. Enfim, há um grande caminho a percorrer se quisermos dar aos conhecimentos semânticos o lugar onde realmente devem estar: no cerne dos estudos linguísticos em todos os níveis. Felizmente, a semântica vem ganhando importância no campo da pesquisa e do ensino superior brasileiros. Novas vertentes começam a sustentar grupos de pesquisa e projetos relevantes, inclusive, de descrição de línguas naturais. Este livro é um subsídio nessa direção. Ao apresentar um panorama amplo e acessível aos graduandos em letras ou linguística (ou, simplesmente, aos interessados nos estudos linguísticos), ele ajudará o leitor iniciante em semântica a enxergar a importância dessa área de estudos quando o assunto é compreender o que são e como funcionam as línguas humanas. FILME/VÍDEO • Título: Sociedade dos poetas mortos • Ano: 1989 • Sinopse: Em 1959 na Welton Academy, uma tradicional escola preparatória, um ex-aluno (Robin Williams) se torna o novo professor de literatura, mas logo seus métodos de incentivar os alunos a pensarem por si mesmos cria um choque com a ortodoxa direção do colégio, principalmente quando ele fala aos seus alunos sobre a "Sociedade dos Poetas Mortos". Link: https://www.youtube.com/watch?v=EXw77BkVqyA WEB • Sistema VOLP: O sistema de busca do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, quinta edição, 2009, contém 381.000 verbetes, as respectivas classificações gramaticais e outras informações conforme descrito no Acordo Ortográfico. • Link do site: http://www.academia.org.br/nossa-lingua/busca-no-vocabulario REFERÊNCIAS BARROS, Diana Luz Pessoa de. Teoria semiótica do texto. 4 ed. São Paulo: Ática, 2008. Disponível em https://plataforma.bvirtual.com.br BORTONI-RICARDO, S. M. A variação linguística como processo identitário. 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Disponível em https://plataforma.bvirtual.com.br UNIDADE IV FONOLOGIA E FONÉTICA Plano de Estudo: ● Fonologia e Fonética ● Processos fonológicos ● Transcrições fonéticas e fonológicas. ● Sistema ortográfico vigente Objetivos de Aprendizagem: ● Conhecer os conceitos e características da fonética e fonologia ● Compreender os processos fonológicos ● Entender como se dá o processo de estudo da transcrição fonética e o atual sistema ortográfico INTRODUÇÃO Prezado(a) aluno(a), nesta unidade vamos conhecer os conceitos de Fonologia e Fonética, além das características veremos quais são os elementos que são estudados por elas. Os próximos tópicos abordarão os conceitos de Processos fonológicos, que são aqueles ensinados desde os primeiros anos de vida da criança e ao longo da vida adulta vai se aperfeiçoando, no entanto, é válido lembrar que os processos podem sofrer alterações de acordo com o contexto comunicativo dos grupos e comunidades em que o falante está inserido. Veremos ainda o alfabeto internacional de transcrições fonética e fonológicas explicando suas classificações e um exemplo da transcrição. Finalizaremos nossa unidade com o Sistema ortográfico vigente e como tudo ocorreu até que chegássemos nos dias atuais. Para isso, buscamos informações na Academia Brasileira de Letras e em demais trabalhos acadêmicos e fontes importantes que possam ofertar as melhores informações sobre a temática aqui abordada. Bons estudos! 1 FONOLOGIA E FONÉTICA ID da foto stock livre de direitos: 1328441456 A fonética e a fonologia investigam como os seres humanos produzem e ouvem os sons da fala, se observarmos a palavra FONOLOGIA veremos que fono = som e logia = estudo, logo, temos em fonologia o estudo dos sons. Outro conceito importante a ser observado na fonologia é a diferença entre letra e fonema: letra é o sinal gráfico da escrita, são as letras do alfabeto; o fonema é o som que essas letras podem reproduzir, portanto, a letra é o sinal gráfico da escrita e o fonema o som da fala e a menor unidade sonora produzida pelo ser humano na língua portuguesa. Vejamos um exemplo simples e prático: a palavra PATO tem quatro letras (P-A-T-O) e nós pronunciamos todas as letras, portanto, além de quatro letras temos também quatro fonemas. Outro exemplo: a palavra PASSO tem cinco letras (P-A-S-S-O) mas apenas quatro fonemas, afinal o “SS” juntos têm um único som, portanto cinco letras e quatro fonemas. Agora, a palavra TAXI, aqui temos um exemplo diferente, pois a palavra táxi tem quatro letras (T-A-X-I), mas cinco fonemas, pois o “X” tem som de “KS”, aqui é o contrário de “passo”. É consenso que a fala tem como principal objetivo o aporte de significado, mas, para isso, deve se constituir em uma atividade sistematicamente organizada. O estudo dessa organização, que é dependente de cada língua, é considerada Fonologia. Assim, a Fonologia pode ser vista como a organização da fala focalizando línguas específicas. (SEARA; NUNES; LAZZAROTTO-VOLCÃO, p. 12, 2011). Já a FONÉTICA se preocupa em analisar de forma detalhada dos sons produzidos por uma língua, e pode ser dividida em Fonética articulatória e Fonética Acústica. Podemos estudar a fala a partir da sua fisiologia, ou seja, a partir dos órgãos que a produzem, tais como a língua, responsável pela articulação da maior parte dos sons da fala; e a laringe, responsável principalmente pela produção de “voz” que leva à distinção entre sons vozeados (sonoros) e não- vozeados (surdos). Podemos também estudá-la a partir dos sons gerados por esses órgãos, ou seja, com base nas propriedades sonoras (acústicas) transmitidas por esses sons. Podemos ainda examinar a fala, sob a ótica do ouvinte, ou seja, da análise e processamento da onda sonora quando realiza a tarefa de percepção dos sons, dando sentido àquilo que foi ouvido. Todos esses aspectos podem ser considerados pela Fonética. (SEARA; NUNES; LAZZAROTTO-VOLCÃO, p. 12, 2011) Veremos agora o que cada uma das divisões da fonética observa e se atém no estudo da língua portuguesa. 1.1 Fonética Articulatória Essa parte da fonética estuda os sons da fala produzidos pelo aparelho fonador, a fonética articulatória se encarrega da observação, descrição, classificação e transcrição dos sons produzidos. Veja a figura abaixo: Figura 1: Aparelho fonador Fonte: Livro Digital Speech Processing, Synthesis, and Recognition p.9 Segundo CARVALHO; SANTOS (2018) o aparelho fonador se divide em: ● Lábios: Articulação de sons bilabiais e labiodentais ● Dentes: Escoamento do som ● Língua: Participa na produção dos sons ● Céu da boca: Projeção da voz ● Faringe: Amplia o som ● Cavidade Nasal: Vibração e amortização do som ● Laringe: Contém as cordas vocais ● Traqueia: Suporte para vibração das cordas vocais ● Pulmões: Reservatório de ar ● Musculatura respiratória: Produz pressão no ar De acordo com a fonética articulatória CRISTÓFARO-SILVA; YEHIA (2012) nos mostra que os sons produzidos na linguagem humana são chamados fones. Esses sons podem ser divididos basicamente em três grupos: consoantes, vogais e semivogais. Consoantes As consoantes, ou segmentos consonantais, são sons produzidos com algum tipo de obstrução no trato vocal, deforma que há impedimento total ou parcial da passagem de ar. Esses sons são classificados de acordo com os seguintes critérios: Modo de articulação, Lugar de articulação, Vozeamento, Nasalidade / Oralidade. Vogais As vogais, ou segmentos vocálicos, são sons produzidos sem obstrução no trato vocal, de forma que a passagem de ar não é interrompida. Esses sons são classificados de acordo com os seguintes critérios: Altura da língua, Anterioridade/Posterioridade da língua, Arredondamento dos lábios e Nasalidade / Oralidade. Ex: A, E e O. Semivogais As semivogais são os fonemas que se unem a uma vogal, formando com esta uma só sílaba. Exemplos: I e U: co[u]ro, ba[i]le. 1.2 Fonética Acústica Segundo RIGONATTO (2018) Esse ramo da fonética estuda a acústica dos sons da fala, ou seja, seus aspectos físicos como a amplitude, a duração, a frequência fundamental e o espectro da onda sonora. Para analisar esses sons é preciso fazer um espectrograma, que é um gráfico para analisar frequência e tempo. Portanto, a fonética acústica se preocupara com: a amplitude, comprimento de onda, período e frequência; velocidade do som; intensidade e amplitude; frequência e pitch (altura) e também o timbre. 1.3 Encontros vocálicos: ditongo, tritongo e hiato DITONGO: É o encontro de uma vogal e uma semivogal (V+SV) numa mesma sílaba. Pode ser: ● Crescente: quando a semivogal vem antes da vogal. Por exemplo: espécie (i = semivogal, e = vogal) ● Decrescente: quando a vogal vem antes da semivogal. Por exemplo:pai (a = vogal, i = semivogal) TRITONGO É o encontro de uma semivogal, uma vogal e uma semivogal (sv+v+sv), numa só sílaba. Exemplos: Paraguai HIATO É o encontro de duas vogais (V+V) numa mesma palavra em sílabas diferentes, uma vez que nunca há mais de uma vogal numa sílaba. Por exemplo: saúde (sa-ú-de) / coelho (co-e-lho) Lembre-se: Para que exista sílaba na língua portuguesa é preciso ter pelo menos uma vogal. 1.4 Encontros Consonantais Como o próprio nome sugere, o encontro consonantal é o encontro de consoantes na mesma sílaba. Eles podem ser perfeitos ou imperfeitos, vejamos: ⮚ Encontros consonantais perfeitos: são aqueles que ficam na mesma sílaba, sendo inseparáveis. Ex: blu-sa, li-vro, pra-to, etc. ⮚ Encontros consonantais imperfeitos: são aqueles que não ficam na mesma sílaba: ex: bar-co, dis-co, es-tan-te 1.5 Encontro consonantal x dígrafo Os dígrafos ocorrem quando duas letras representam graficamente o mesmo fonema. São diferentes dos encontros consonantais (EC) por causa do som: o dígrafo representa apenas um som, enquanto o EC pode apresentar som de duas ou mais consoantes juntas. Portanto, um dígrafo pode ser composto por duas consoantes ou por uma consoante e uma vogal. Os dígrafos são ch – lh – nh – sc – sç – xc – xs – rr – ss – qu – gu Agora que já conhecemos os conceitos de fonética e fonologia, bem como fonemas e letras, vamos entender na prática como acontece o estudo da língua portuguesa a partir desses elementos. Para chegarmos à transcrição fonética e fonológica, é preciso entender cada um deles e até mesmo relembrar algumas classificações que aprendemos na escola. Por isso, o próximo item dessa unidade será sobre os processos fonológicos. 2 PROCESSOS FONOLÓGICOS ID do vetor stock livre de direitos: 323150195 Segundo Martins (2011) um “Processo fonológico é a expressão de um fenômeno fonológico em forma de regra [...] que visa descrever uma regra relativa a um fenômeno sonoro que ocorre na língua”, portanto, é correto dizer que um processo fonológico é uma alteração que ocorre na fala realizando uma produção (gramaticalmente) inadequada dos fonemas. Portanto, é possível identificar que a criança vai realizando vários processos fonológicos ao longo da vida e quanto mais contato e estímulo tiver com a língua, mais bagagem ele terá para corrigir os desvios. Segundo Grunwell, 1990; Yavas, 1992; Wertzner, 1995 e 2004, os processos fonológicos se classificam em: ● Processos fonológicos de inserção: acréscimo de um fonema (som); ● Processos fonológicos de supressão: perda de um fonema (som); ● Processos fonológicos de alteração de segmentos: mudança de posição dos fonemas (sons) ou sua alteração. I) Processos fonológicos de inserção ● Prótese: inserção no início da palavra i » aí ● Epêntese: inserção no meio da palavra querês » quereis ● Paragoge: inserção no fim da palavra Jesu » Jesus II) Processos fonológicos de supressão ● Aférese: supressão no início da palavra avantagem » vantagem ● Sincope: supressão no meio da palavra vinrá » virá ● Apócope: supressão no fim da palavra mundanal » mundano III) Processos fonológicos de alteração de segmentos ● Estrutura silábica: alteram a estrutura silábica da palavra, seguindo a tendência natural de redução das palavras à estrutura consoante-vogal. Exemplo: /planta/ = [pãta] ● Substituição: ocorre a mudança de um som para outro, de outra classe, às vezes, atingindo toda uma classe de sons. Exemplo: /gata/ = [katu] /caka/ = [faka] ● Assimilação: ocorre a mudança dos sons, tornando-se similares àquele que vem antes ou depois dele. Exemplo: /makako/ = [kakaku] ● Metátese: reordenação ou a transposição de elementos consonantais dentro de uma estrutura silábica ou entre estruturas. Exemplo: /caderneta/ = [carderneta] É relevante ressaltar ainda que os processos fonológicos podem ocorrer na realização da fala de certos grupos de falantes e não apenas na criança durante a aquisição da linguagem materna. No português, um exemplo de regra fonológica é a que descreve um fenômeno que ocorre com o fonema /t/ em vários dialetos. Esse fonema, representado na mente, manifesta-se na fala, concretamente, pelos sons ou fones [t] e [tʃ]. Assim, uma palavra como tia é pronunciada com o fone [tʃ]: [tʃia] (“tchia”). Já palavras como tua, teto, telha, tora, toldo, tato, trava e atlas são pronunciadas como o fone [t] e não com o fone [tʃ]. A regra fonológica que descreve essa variação na pronúncia do fonema /t/ é a seguinte: o fonema /t/ torna-se [tʃ] diante do som vocálico [i], seja na sua forma oral (por exemplo, na palavra tiro [tʃiro]), seja na sua forma nasal (por exemplo, na palavra tinta [tʃĩta]. Por outro lado, o fonema /t/ se manifesta como o fone [t] nos demais ambientes, ou seja, diante das demais vogais e das consoantes “r” e “l” em encontro consonantal, o que ocorre nas citadas palavras: tua, teto, telha, tora, toldo, tato, trava e atlas. (MARTINS, online, 2011) Os processos fonológicos são construídos ao longo da vida da criança, os anos iniciais da vida escolar são fundamentais para que ela seja estimulada corretamente e por etapas apropriadas segundo sua idade, pois o “domínio do sistema fonológico da língua-alvo é atingido espontaneamente em uma sequência comum à maior parte das crianças” (GIACHINI et al., 2011). 3 TRANSCRIÇÕES FONÉTICAS E FONOLÓGICAS ID da ilustração stock livre de direitos: 377406505 A transcrição fonética é a representação dos sons da fala através de símbolos fonéticos, logo, são diferentes de acordo com cada região, estado e de pessoa para pessoa, uma vez que representa os diferentes sotaques. Os símbolos fonéticos estão definidos no Alfabeto Fonético Internacional (IPA - The International Phonetic Alphabet). O uso do til indica a nasalização da vogal e o uso do apóstrofo antes de uma sílaba indica a sua tonicidade. Para realizar uma transcrição fonética usamos: ● Barras / /: usa-se duas inclinadas e em seu interior coloca-se o sinal fonético. Exemplo: / z / simboliza o som de s de casa. ● Colchetes [ ]: colocamos a palavra entre dois deles para representar a sua pronúncia. Exemplo: [‘ka.za] representa a pronúncia correta da palavra casa.Logo abaixo veremos como MOURA (2018) traz o alfabeto fonético internacional dividido em: vogais (orais e nasais), semivogais e consoantes. Depois, o autor ainda nos mostra como essa divisão se dá quanto ao modo de articulação, ao ponto de articulação, além do papel das cordas vocais e o papel das cavidades bucal e nasal. Vogais: Tabela 1: Vogais Orais Tabela 2: Vogais Nasais Sobre a nasalidade das vogais isoladas, nota-se o seguinte: ● as vogais a e e tendem a se nasalizar quando antecedem os fonemas / m / – / n / – / ɲ /, como em cama: [‘cã.ma] ● com a vogal o, o fenômeno ocorre quando seguida da vogal e, como em põe. ● Já com o i e u, a percepção da nasalidade ocorre, mas é ínfima. Tabela 3: Semivogais Tabela 4: Consoantes Possuímos 21 letras consoantes que representam 17 fonemas. Observe o quadro e, abaixo, leia as observações. ● (1) c e ç inexistem no Alfabeto Internacional e, conforme assinalado no quadro, podem ter o som dos fonemas k e s. ● (2) j também é empregado para representar a semivogal i. ● (3) k também é empregado para representar o dígrafo qu. ● (4) q inexiste no Alfabeto Internacional e, conforme assinalado no quadro, tem o som do fonema k. ● (5) w também é empregado para representar a semivogal u. ● (6) y inexiste no Alfabeto Internacional. É empregado com o som da vogal i. Quanto ao Modo de Articulação ⮚ Oclusivas Quando a corrente expiratória encontra um obstáculo total que chamamos de oclusão, ela impede a saída do ar, fazendo-o explodir de modo abrupto. Podemos perceber isto nos fonemas: / p / – / t / – / k / – / b / – / d / – / g /. ⮚ Constritivas Com elas, ocorre um estreitamento do canal bucal. A corrente de ar sai apertada ou constrita, se impactam com um obstáculo parcial. As constritivas podem ser: ⮚ Fricativas A corrente expiratória passa por uma estreita fenda e produz um ruído similar ao de uma fricção. São exemplos: / f / – / s / – / x / – / n / – / z / – / J /. ⮚ Laterais Quando a ponta ou dorso da língua se apoia no palato, também conhecido como céu da boca. A corrente de ar sai pelas laterais da boca. Exemplos: / l / – / ʎ /. O som de / ʎ / é o d dígrafo lh, como em calha. ⮚ Vibrantes Elas ocorrem quando a ponta da língua mantém com os alvéolos um contato intermitente, o que acarreta um movimento vibratório com rapidez, abrindo e fechando a passagem com a corrente expiratória. / r / – / R /. Quanto ao Ponto de Articulação ⮚ Alveolares Quando ocorre o contato da ponta da língua com os alvéolos dos dentes superiores: s – c – ç – z – r – R – l – n ⮚ Bilabiais Quando temos o contato dos lábios inferior e superior: / p / – / b / – / m /. ⮚ Labiodentais Quando há o contato da ponta da língua com a arcada dentária superior: /f/ – /v/. ⮚ Palatais Quando ocorre o contato do dorso da língua com o palato duro, ou céu da boca: / x / – / ʃ / – / g / – / j /- / ʎ / – / ɲ /. ⮚ Velares Quando temos o contato da parte posterior da língua com o palato mole, ou véu palatino: / c / – / q / – / k / – / g /. Quanto ao Papel das Cordas Vocais ⮚ Surdas: elas são produzidas sem vibração as cordas vocais. / p / – / t / – / k / – / f / – / s / – / x /. ⮚ Sonoras: quando são produzidas por vibração das cordas vocais. / b / – / d / – / g / – / v / – / z / – / j / – / l /- / ʎ / – / r / – / R / – / m / – / n / – / ɲ /. Quanto ao Papel das Cavidades Bucal e Nasal ⮚ Nasais: quando a corrente expiratória se desenvolve pela boca e pelo nariz, em virtude do abaixamento do véu palatino. / m / – / n / – / ɲ / ⮚ Orais: quando a corrente expiratória sai exclusivamente pela boca. Todas as demais consoantes, excetuando as acima, são exemplos Quadro 1: fonemas consonantais da Língua Portuguesa Fonte: Steinberg, 2006, p. 17 Veja agora um trecho de uma transcrição feita no Blog Língua em Ação (BLA) com uma senhora que respondia perguntas sobre sua vida. BLA: Que dificuldades a senhora enfrentou antes de casar e sair da sua cidade? R: Eu tinha dificuldade que eu não estudei né, porque eu morava no interior, não estudei nada, não tinha onde estudar, não tinha escola onde eu morava, não estudei nadinha, estudei só com a minha mãe o que ela sabia, o pouquinho que ela soube ela me ensinou, foi. (LÍNGUA EM AÇÃO, online, 2013) Relembrando: ⮚ Barras / /: usa-se duas inclinadas e em seu interior coloca-se o sinal fonético. ⮚ Colchetes [ ]: colocamos a palavra entre dois deles para representar a sua pronúncia. É possível notar como o alfabeto fonético internacional foi utilizado para transcrever a resposta da senhora entrevistada. A transcrição é parte da Linguística e por meio dela podemos identificar como os falares se diferem de pessoa para pessoa e de região para região. 4 SISTEMA ORTOGRÁFICO VIGENTE ID do vetor stock livre de direitos: 1505743961 O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa vigente foi assinado em Lisboa em 16 de Dezembro de 1990 por alguns países de Língua Portuguesa, sendo eles: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné -Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe. [...] o documento preparado, em 1990, pela Academia das Ciências de Lisboa, Academia Brasileira de Letras e as demais delegações. O novo acordo de 1990 previa sua entrada em 1994, se todos os membros o assinassem, mas apenas Brasil, Portugal e Cabo verde ratificaram o documento e sua entrada em vigor ficou pendente. Desde 1990 foram assinados vários protocolos para modificação do texto e para todas as assinaturas dos países que falam o português. Mas foi em 2008, depois de 17 anos que foi estabelecida o decreto nº 6583/08, publicada em 29 de setembro de 2008, que promulgou o Acordo Ortográfico no Brasil. A mais Nova Reforma Ortográfica entrou em vigor em 1º de janeiro de 2009, pondo em prática as regras do decreto para todos os países falantes da Língua Portuguesa. (TEYSSIER, 2007, p.10) A Academia Brasileira de Letras disponibiliza em PDF o documento do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, por ser um documento de 31 páginas, optei por disponibilizá-lo na íntegra, em PDF, para vocês, alunos. Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 acesse: https://www.academia.org.br/sites/default/files/conteudo/o_acordo_ortogr_fico _da_lngua_portuguesa_anexoi_e_ii.pdf É importante lembrar que ao longo dos anos vários decretos foram estabelecidos até que se chegasse ao acordo final. Para conferir todas as mudanças estabelecidas no acordo de 1990 e as considerações que foram finalizadas em 2008 acesse os decretos abaixo: ● Decreto nº 6.583, de 29 de setembro de 2008 (clique para acessar) ● Decreto nº 6.584, de 29 de setembro de 2008 (clique para acessar) ● Decreto nº 6.585, de 29 de setembro de 2008 (clique para acessar) É importante lembrar da fala da Professora Dra. Enilde Faulstich, e doutora em Filologia e Língua Portuguesa, (2008) que “O Acordo é uma simplificação, aliviando as palavras de acentos e consoantes que não se leem. Não mexe com a língua falada, porque a ortografia é apenas um código, sobre o qual os governos podem legislar”. SAIBA MAIS Ortoepia e prosódia Já ouviu falar em Ortoepia e prosódia? Ambos estão relacionados à gramática normativa e são importantes para não cometermos equívocos, principalmente no momento da escrita ou da fala. Vejamos a diferença entre ambos: ● A ortoepia traz a correta pronúncia das palavras, aqui é importante evidenciar que estamos nos referindo à emissão de vogais, à articulação das consoantes e ao timbre. Exemplo: Bandeja (correto) Bandeija (incorreto) Mendigo (correto) Mendingo (incorreto) Beneficência (correto) Beneficiência (incorreto) ● A prosódia, portanto, traz a correta pronúncia das palavras mo que diz respeito à posição da sílaba tônica. Exemplo: Gratuito(correto) Gratuíto (incorreto) Rubrica (correto) Rúbrica (incorreto) Recorde (correto) Récorde (incorreto) Portanto, é correto dizer que a ortoepia e a prosódia tratam da pronúncia correta das palavras segundo a gramática normativa. Fonte: a autora. #SAIBA MAIS# REFLITA “A Linguística não é uma ciência previsível, e eu prefiro deixar o futuro acontecer em seu devido tempo”. Willian Labov. #REFLITA# CONSIDERAÇÕES FINAIS Prezado(a) aluno(a), nesta unidade vimos os conceitos de Fonologia e Fonética bem como os elementos que são estudados por elas. Vimos ainda sobre os Processos fonológicos, que são aqueles ensinados desde os primeiros anos de vida da criança e ao longo da vida adulta vai se aperfeiçoando, no entanto, é válido lembrar que os processos podem sofrer alterações de acordo com o contexto comunicativo dos grupos e comunidades em que o falante está inserido. No item 3 da nossa unidade conhecemos o alfabeto internacional de transcrições fonética e fonológicas explicando suas classificações e conhecemos um exemplo da transcrição da fala de uma senhora em uma entrevista. Finalizamos nossa unidade com o Sistema ortográfico vigente e como tudo ocorreu até que chegássemos nos dias atuais, lembrando do acordo de 1990 e depois as modificações que ocorreram por 17 anos até que em 2008 tivemos alguns decretos importantes sobre o atual acordo ortográfico dos países de língua portuguesa. Esperamos que essa apostila tenha trazido até você mais conhecimentos sobre a linguística e conceitos importantes para nós, estudantes eternos da língua portuguesa e da funcionalidade real da língua na sociedade. LEITURA COMPLEMENTAR Separei para esse espaço uma entrevista com William Labov, o precursor da Sociolinguística, feita pela Revista Virtual de Estudos da Linguagem – ReVEL, para conhecermos um pouco mais sobre esse ramo da linguística que estuda a relação entre a língua e a sociedade. ENTREVISTA COM WILLIAM LABOV ReVEL – O senhor teve uma enorme importância nos desenvolvimentos da Sociolinguística nos Estados Unidos. E pode ser considerado o fundador da Sociolinguística Variacionista. O senhor poderia nos contar um pouco sobre a sua história no campo da Sociolinguística? Labov – Quando eu comecei na Linguística, eu tinha em mente uma nmudança para um campo mais científico, baseado na maneira como as pessoas usavam a linguagem na vida cotidiana. Quando eu comecei a entrevistar pessoas e gravar suas falas, descobri que a fala cotidiana envolvia muita variação linguística, algo com que a teoria padrão não estava preparada para lidar. As ferramentas para estudar a variação e a mudança sincrônica surgiram dessa situação. Mais tarde, o estudo da variação linguística forneceu respostas claras para muitos dos problemas que não eram resolvidos por uma visão discreta da estrutura linguística. ReVEL – Qual é o objeto de estudo da Sociolinguística? Labov – É a língua, o instrumento que as pessoas usam para se comunicar com os outros na vida cotidiana. Esse é o objeto que é o alvo do trabalho em variação linguística. Existem outros ramos da Sociolinguística que estão preocupados primordialmente com questões sociais: o planejamento linguístico, a escolha da ortografia oficial e outros que se preocupam com as consequências das ações de fala. Todas essas são importantes áreas de estudo, mas eu sempre tentei abordar as grandes questões da Linguística, como determinar a estrutura da linguagem – suas formas e organização subjacentes – e conhecer o mecanismo e as causas da mudança linguística. Os estudos da linguagem usada no dia a dia provaram ser bastante úteis para alcançar esses objetivos. ReVEL – Em se tratando de variação fonológica, o senhor vê algum conflito ou complementaridade entre a Teoria da Variação e teorias de base gerativista, como, por exemplo, a Fonologia Lexical ou a Teoria da Otimidade (OT)? Labov – Recentemente frequentei um workshop sobre variação linguística ministrado por fonólogos que estão interessados exatamente nesta questão. O trabalho que comecei em 1967 sobre a análise das restrições internas no apagamento do –t,d em inglês ainda é um tópico central para os fonólogos que estão tentando incorporar a variação linguística a seus modelos formais. A Gramática Harmônica, a OT Estocástica, a Stratal OT são as opções que estão sendo consideradas. O criador da Fonologia Lexical, Paul Kiparsky, desenvolveu a Stratal OT como uma maneira de capturar os insights da Fonologia Lexical juntamente com a habilidade da Teoria da Otimidade em lidar com um ranqueamento variável de restrições. O tratamento de relações fundamentais descobertas no trabalho sociolinguístico é um problema central para esses desenvolvimentos formais. ReVEL – Qual é o futuro da Sociolinguística? Qual é o futuro da Sociolinguística Variacionista? Labov – A Linguística não é uma ciência previsível, e eu prefiro deixar o futuro acontecer em seu devido tempo. O que irá determinar o futuro serão os resultados dos estudos em variação linguística, se eles provarem ser uma rota positiva e cumulativa para responder nossas questões fundamentais sobre a natureza da linguagem e das pessoas que a utilizam. ReVEL – O senhor poderia sugerir algumas leituras essenciais na área da Sociolinguística? Labov – Entre os estudos mais antigos importantes, eu acredito que os trabalhos de Peter Trudgill em Norwich, Walt Wolfram em Detroit e meus próprios estudos em Nova Iorque (que acabaram de aparecer em uma segunda edição, bem como no livro Padrões sociolinguísticos) deveriam ser conhecidos. Alguns dos trabalhos mais importantes em variação linguística são feitos no Brasil, e as pesquisas de Anthony Naro, Marta Scherre, Sebastião Votre, Gregory Guy, Eugenia Duarte e Fernando Tarallo devem ser vistas. Muitos desses trabalhos têm relação com a pesquisa em variação em espanhol, nos estudos de Shana Poplack, Richard Cameron e Carmen Silva-Corvalán. Meu trabalho recente está reportado em dois volumes do Principles of Linguistic Change (1994, 2001). Por fim, qualquer um que deseja estar atualizado com pesquisas na área deve ler o periódico Language Variation and Change, onde são publicados os artigos mais importantes. Fonte: Originalmente publicado como LABOV, William. “Sociolinguística: uma entrevista com William Labov.. Revista Virtual de Estudos da Linguagem – ReVEL, vol. 5, n. 9, agosto de 2007. Tradução de Gabriel de Ávila Othero. ISSN 1678-8931 [www.revel.inf.br]. Agradecemos ao professor Gabriel Ávila Othero a licença para a reprodução da entrevista. LIVRO • Título: Fundamentos da Linguística Contemporânea • Autor: Edward Lopes • Editora: Cultrix • Sinopse: Nesta obra, Edward Lopes oferece um texto introdutório acerca da ciência do signo verbal. Dividido em seis partes, o livro começa com a definição do campo disciplinar e com o exame da contribuição capital de Ferdinand de Saussure, para em seguida, aprofundar-se no estudo da Fonética e da Fonologia, da Morfologia, das modalidades de Gramática e da Semântica. FILME/VÍDEO • Título: Central do Brasil • Ano: 1998 • Sinopse: Dora (Fernanda Montenegro) escreve cartas para analfabetos na Central do Brasil. Uma de suas clientes tenta reaproximar o filho Josué (Vinícius de Oliveira) do pai, mas morre ao sair da estação. Dora então ajuda a criança encontrar o pai desaparecido. WEB “A tendência do mundo é a composição entre o que é impresso e o que é digitalizado e disponibilizado através dos serviços da Internet. A popularização dos iPads, celulares, e de todos os novos veículos de comunicação é inevitável, e a Academia, com o aplicativo, poderá prestar serviço a um número cadavez maior de usuários, especialmente os estudantes”, afirma o Presidente da ABL, Acadêmico Geraldo Holanda Cavalcanti. A Academia Brasileira de Letras acaba de lançar, com acesso gratuito, o aplicativo do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), que contém a ortografia oficial do Português, para tablets e celulares. O usuário poderá fazer a consulta utilizando a internet apenas uma única vez, quando baixar o aplicativo ou quando for necessária a atualização da base de dados. Um dos recursos mais interessantes do aplicativo é o de autocompletar-se (o que facilita a digitação em telas pequenas). Outro é a regulagem do tamanho da fonte (para telas pequenas e pessoas com dificuldade na leitura). De acordo com os técnicos responsáveis pelo aplicativo, quando um consulente começar a digitar parte da palavra cuja grafia precisa consultar, uma listagem de possíveis resultados aparecerá na tela, e ele poderá encontrar a exibição do vocábulo antes mesmo de terminar a redação de tal termo. O aplicativo dispõe também de um ajuste que pode ampliar ou reduzir o tamanho da fonte, facilitando a leitura. • Link do site: O link http:/goo.gl/dRR7Kx (iOS) para download na App Store da Apple, ou no link http:/goo.gl/zU2nGU (Android), para download no Google Play. REFERÊNCIAS ANTUNES, Irandé. Aula de português: encontro & interação. São Paulo:Parábola Editorial, 2003; ARAÚJO, G. A. de (Org.). O acento em português – abordagens fonológicas. São Paulo: Parábola, 2007. BARROS, Diana Luz Pessoa de. Teoria semiótica do texto. 4 ed. São Paulo: Ática, 2008. Disponível em https://plataforma.bvirtual.com.br Bibliografia Complementar BRAIT, Beth. Bakhtin conceitos: chaves. Contexto, 2013. 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CONCLUSÃO GERAL Prezado(a) aluno(a), Neste material, busquei trazer para você as definições de Linguística baseada no Gerativismo de Noam Chomsky. Na unidade I vimos as Noções de Gramática, morfologia e Sintaxe e como ela funciona na prática. Além disso, vimos também os Estudos Pré-Gerativistas da Sintaxe até chegar ao Surgimento da Linguística Gerativa, quem foi seu grande percussor e quais os legados que existem para o estudo do gerativismo. Na unidade II foram tecidas também considerações sobre a gramática gerativa e suas características. Vimos a linguística enquanto ciência cognitiva, seus principais representantes e como se pautaram os estudos baseados nos conceitos e concepções gerativistas. Na unidade III conhecemos as características da semântica, bem como os conceitos de formal e informal e observamos quais são as propriedades da morfologia e sintaxe para sabermos como o estudo da língua se dá. Conhecemos também questões de estilística e variações linguísticas, a definição de cada uma delas e como elas ocorrem de fato. Para encerrar, na unidade IV, vimos os conceitos de Fonologia e Fonética, além das características vimos quais são os elementos que são estudados por elas. Os processos fonológicos também foram abordados nessa unidade, bem como o alfabeto internacional de transcrições fonética e fonológicas explicando suas classificações e um exemplo da transcrição. Finalizamos nossa unidade com o Sistema ortográfico vigente e como tudo ocorreu até que chegássemos nos dias atuais. A linguística é uma ciência viva que estuda a língua em suas mais variadas vertentes, e mesmo que haja descobertas recentes e maneiras distintas de aplicá-la, fica evidente que não há uma norma fechada e uma verdade absoluta quando se trata do estudo de algo que é social. A partir de agora acreditamos que você já está preparado para seguir em frente e aplicar a gramática de forma eficiente e real, que é o que podemos chamar de semantização da gramática na prática. Até uma próxima oportunidade. Muito obrigada!