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Recife, 2010 Estudos Fonéticos e Fonológicos da Língua Portuguesa UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO (UFRPE) COORDENAÇÃO GERAL DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA (EAD/UFRPE) Moisés João de Araújo Neto Volume 2 Universidade Federal Rural de Pernambuco Reitor: Prof. Valmar Corrêa de Andrade Vice-Reitor: Prof. Reginaldo Barros Pró-Reitor de Administração: Prof. Francisco Fernando Ramos Carvalho Pró-Reitor de Extensão: Prof. Paulo Donizeti Siepierski Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Prof. Fernando José Freire Pró-Reitor de Planejamento: Prof. Rinaldo Luiz Caraciolo Ferreira Pró-Reitora de Ensino de Graduação: Profª. Maria José de Sena Coordenação Geral de Ensino a Distância: Profª Marizete Silva Santos Produção Gráfica e Editorial Capa e Editoração: Rafael Lira, Italo Amorim, Gláucia Fagundes e Everton Felix Revisão Ortográfica: Elias Vieira Ilustrações: Hayhallyson Santos e Noé Aprígio Coordenação de Produção: Marizete Silva Santos Sumário Apresentação ................................................................................................................. 4 Conhecendo o Volume 2 ................................................................................................ 5 Capítulo 1 – A Fonética e o Segmento Consonantal ........................................................ 7 Objeto de Análise da Fonética .........................................................................................7 A Nossa Opção Fonética ............................................................................................8 O Aparelho Fonador Humano ........................................................................................10 Os Sistemas e as Suas Funções na Fonação ...................................................................11 Sistema Respiratório ................................................................................................12 Sistema Fonatório ....................................................................................................12 Sistema Articulatório ...............................................................................................14 Os Segmentos Consonantais do Português Brasileiro ...................................................14 A Primeira Cisão .......................................................................................................14 A Descrição das Consoantes ....................................................................................15 Capítulo 2 – O Segmento Vocálico ................................................................................ 25 As Vogais ........................................................................................................................25 É Hora de Teorizar ....................................................................................................27 Altura da Língua .......................................................................................................28 Anterioridade da Língua...........................................................................................28 Arredondamento dos Lábios ....................................................................................29 As Vogais e a sua Silabicidade Inerente ....................................................................29 Considerações Finais .................................................................................................... 34 Conheça o Autor .......................................................................................................... 37 4 Apresentação Olá, cursista! Seja bem-vindo(a) ao segundo módulo da disciplina Estudos Fonéticos e Fonológicos da Língua Portuguesa. Estamos de volta e conto, novamente, com seu entusiasmo e cooperação. Dessa vez, daremos um passo mais direto na direção dos sons da língua portuguesa. Você conhece o aparelho fonador humano? Sabe identificar o modo como produzimos a voz? Quero convidá-lo a se apropriar dessas informações. Nesse módulo, você irá conhecer os mecanismos de produção dos sons elementares da voz, que serão vistos como entidades isoladas, e aprender os seus dispositivos de registro, análise e classificação. A opção por considerar o segmento como unidade discreta foi amplamente discutida no módulo anterior. Partiremos, desta forma, da divisão mínima em sons vocálicos e consonantais e estudaremos em detalhes a articulação de cada segmento. Além disso, descrever a articulação dos segmentos significa dizer que faremos, também, referências a aspectos e conteúdos da fisiologia humana que assumem funções adicionais na produção da voz; entraremos em um universo da classificação do fone a partir da identificação dos articuladores físico-biológicos naturais. No primeiro módulo, iniciamos a discussão do universo da fala; neste segundo volume, continuaremos levantando questões relevantes sobre oralidade. Lembre-se de associar as informações, de tentar construir seu conhecimento sobre o tema. E, claro, sempre que precisar faça o caminho de volta e revise. Bons estudos! Moisés João de Araújo Neto Professor Autor 5 Estudos Fonéticos e Fonológicos da Língua Portuguesa Conhecendo o Volume 2 Neste volume, você irá encontrar o Módulo 2 da disciplina Estudos Fonéticos e Fonológicos da Língua Portuguesa. Para facilitar seus estudos, veja a organização deste módulo: Módulo 2 – Introdução à Fonética Carga Horária do Módulo: 15 h/aula Objetivo do Módulo: Introduzir os conceitos e os mecanismos de produção dos sons elementares da voz e aprender os seus dispositivos de registro, análise e classificação. Conteúdo Programático do Módulo: » O aparelho fonador; » A descrição dos segmentos consonantais e vocálicos; » O sistema consonantal e vocálico do português brasileiro; » Ditongo, sílaba e tonicidade; » Tabela fonética; » Transcrição fonética. 6 Estudos Fonéticos e Fonológicos da Língua Portuguesa Capítulo 1 Neste capítulo, vamos estudar os seguintes temas: » O objeto de análise da Fonética; » O aparelho fonador humano; » A descrição dos segmentos consonantais do português brasileiro; » Os mecanismos de articulação; » Tabela fonética consonantal. Metas » Conhecer objeto e ferramentas de análise da fonética articulatória; » Identificar o aparelho fonador humano e os mecanismos de articulação das consoantes do português brasileiro; » Dominar a tabela fonética consonantal. 7 Estudos Fonéticos e Fonológicos da Língua Portuguesa Capítulo 1 – A Fonética e o Segmento Consonantal Vamos conversar sobre o assunto? Superamos com êxito a fase das considerações iniciais e chegamos à seara da fonética. Começaremos, enfim, a sistematizar a organização, combinação e distribuição dos sons específicos da língua portuguesa falada no Brasil. Vamos conversar sobre o assunto? Objeto de Análise da Fonética A palavra fonética – assim como Fonologia, tema que abordaremos mais adiante – tem em sua composição vocabular a raiz grega phon que significa som, voz. O que isso quer dizer? Por enquanto, duas coisas: I) Que nosso objeto de estudo estará reduzido àquela manifestação sonora com realização final na boca e percebida como fala pelo indivíduo, excluindo-se arroto, assovio, muxoxo1; II) E que isso, que percebemos e chamamos de voz ou fala, possui um mecanismo identificável, o objeto da Fonética. O fato é que mergulhamos de vez no universo do som. A partir de análises fonéticas, poderemos entender um pouco mais sobre esse mistério que é a comunicação oral humana: como produzimos sequências sonoras tão harmoniosas? Temos algum órgão específico para isso? Ao terminarmos este módulo, estaremos prontos para responder estas e outras questões mais pontuais. Afinal, temos um compromisso de entendimento e elucidação da oralidade do português firmado, lá atrás, no início de nosso curso, lembra? Mas... O que nos dizem os especialistas? Sobre a fonética e as suas divisões: Fique atento 1 Para quem não lembra, Muxoxo é aqueleestalo com a língua e os lábios como forma de expressar desdém ou desprezo. 8 Estudos Fonéticos e Fonológicos da Língua Portuguesa “A fonética é a ciência que apresenta os métodos para a descrição, classificação e transcrição dos sons da fala, principalmente aqueles sons utilizados na linguagem humana. As principais áreas de interesse da fonética são: fonética articulatória (compreende o estudo da produção da fala do ponto de vista fisiológico e articulatório), fonética auditiva (compreende o estudo da percepção da fala), fonética acústica (compreende o estudo das propriedades físicas dos sons da fala a partir de sua transmissão do falante ao ouvinte), fonética instrumental (compreende o estudo das propriedades físicas da fala, levando em consideração o apoio de instrumentos laboratoriais).” Fonte: SILVA, Thaís Cristófaro. Fonética e fonologia do português: roteiro de estudos e guia de exercício. São Paulo: contexto, 1999. Quantas áreas de atuação, hein? Estamos diante de um vasto conjunto de dados. Não estudaremos todas; mas essa opção ficará clara ao longo de nossa apresentação e discussão sobre o tema. Sobre a fonética e o seu ponto de partida: “Dentro da Microlinguística, poderíamos incluir os estudos que se preocupam com a “língua em si”: fonética e fonologia, sintaxe, morfologia, semântica, lexicologia. É comum a referência a essas áreas de estudo como o “núcleo duro” da linguística (em referência ao termo inglês hard-core). Representam também boa parte do conjunto mais antigo e tradicional de estudos da linguagem.” Fonte: WEEDWOOD, Barbara. História concisa da Linguística. [trad. Marcos Bagno]. São Paulo: Parábola, 2002. Os estudos sobre os sons, historicamente, sempre fizeram parte do núcleo de atuação das análises linguísticas, convencionalmente conhecido como Microlinguística que resume áreas de estudos tradicionais e, por isso, robustas do ponto de vista técnico. Em fonética o ponto de partida sempre define com clareza o objetivo a atingir. Sobre a melhor maneira de estudar a produção dos sons: “A técnica mais difundida é a do exame da produção do som pelo aparelho fonador e registro de ouvido. Tal disciplina é denominada fonética articulatória ou fonética fisiológica. Embora os dados proporcionados pela análise acústica sejam mais objetivos, a maior utilização da fonética articulatória se deve à relativa simplicidade com que pode ser aplicada, em contraposição à fonética acústica a qual exige (...) um conhecimento de física, fato pouco comum aos estudiosos da área de letras e linguísticas. Ademais, mesmo nos estudos em que se focalizam as propriedades físicas da onda sonora, quer na sua produção, quer na sua percepção, os princípios de segmentação e as unidades depreendidas pela fonética articulatória estão presentes, tornando-se indispensáveis, portanto, o seu conhecimento. Fonte: CALLOU, Diná & LEITE, Yonne. Iniciação à Fonética e à Fonologia. Rio de Janeiro: Zahar, 1999. A Nossa Opção Fonética Estamos defendendo ao longo de nossa apresentação uma visão comunicativa de uso da língua. Entre outras coisas, esse posicionamento permite analisar a realização dos sons dentro de um esquema de comunicação simples imaginando uma fonte produtora de som (um falante), um mecanismo realizador e transmissor do som (um aparelho fonador) e um dispositivo de identificação e recepção desse som (um ouvinte e seu aparelho auditivo). 9 Estudos Fonéticos e Fonológicos da Língua Portuguesa Nosso foco de análise é a produção; queremos conhecer como os falantes utilizam os mecanismos de realização e transmissão dos segmentos; ficaremos com a fonética articulatória. Precisamos nos apropriar, então, do aparelho fonador humano. Atividades e Orientações de Estudos Depois dessas primeiras palavras, o que você pode dizer sobre a Fonética? Que tal um desafio? Que fonética dominar? Introdução Bem, antes de começarmos a discutir sobre o aparelho fonador, vamos fazer uma pequena checagem? Não aquela checagem de conteúdo simplesmente, mas de posicionamento. Tome com base os seguintes pontos: (I) as definições das áreas de atuação da fonética, seu objeto de análise e a construção do processo de realização dos sons; (II) o efeito didático na análise da língua. Objetivo Você deverá identificar qual o posicionamento mais utilizado na análise de questões sobre a produção dos sons do português. Tarefa Para alcançar esse objetivo, você precisa selecionar quatro (ou cinco, dependendo do tamanho do grupo de estudo) diferentes gramáticas normativas de língua portuguesa e analisar o capítulo relativo à Fonética e à Fonologia. Processo Trabalhe em grupos de, no máximo, cinco amigos. O grupo deverá destacar quais conceitos são considerados para efeito de classificação dos segmentos: Acústico (baseado nas vibrações das ondas sonoras); auditivo (o critério é o efeito que o som emitido produz no ouvido humano); articulatório (definido pelo movimento dos órgãos fonadores2). Possivelmente, todos os critérios estarão presentes; a solução da questão posta virá com o destaque do critério preponderante. Conclusão Produza um pequeno texto destacando as observações do grupo e sinalizando, em forma de conclusão, se a fonética articulatória se constitui ou não o hard-core dos estudos fonéticos mais efetivos. Avaliação O grupo deverá compartilhar e defender suas conclusões em um fórum. Atentem para os argumentos de todos os grupos; assumam as posições mais tecnicamente construídas. Referências » BECHARA, E. Moderna gramática portuguesa. 37ª Ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2001. » CEGALA, D.P. Novíssima gramática da l íngua portuguesa. São Paulo: Nacional, 1987. » CUNHA, C. & CINTRA, L. Nova gramática do português contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova fronteira, 1985. » MATTOSO CÂMARA JR, J. Estrutura. da língua portuguesa. RJ: Vozes, 1988; » PERINI, M. Para uma nova gramática do português. 8ª Ed. São Paulo: Ática, 1995. » SACCONI, L. Nossa gramática: teoria e prática. São Paulo: Atual, 1994. Saiba Mais 2 Como dica para distinção de critério de classificação, veja o que nos diz Mattoso Câmara (1988:36): “Como diferença entre classificação articulatória e auditiva temos para as consoantes a sinonímia constritiva e fricativa (...). A constrição é a aproximação muito grande entre dois órgãos fonadores como para /f/ e /v/ em que a arcada dentária superior e o lábio inferior quase se juntam. A fricção ou atrito é a impressão que essa constrição produz em nosso ouvido. Os nomes sibilantes e chiantes respectivamente para /s/ e /z/ e /s’/ (x em eixo) e /z’/ (j em jeito) são também uma classificação auditiva”. MATTOSO CÂMARA JR, Joaquim. Estrutura da língua portuguesa. RJ: Vozes, 1988. 10 Estudos Fonéticos e Fonológicos da Língua Portuguesa O Aparelho Fonador Humano Você se lembra dessa frase acima? Foi dessa maneira que um famoso homem- macaco começou a interagir com aquela que viria a ser sua companheira de aventuras na selva e protagonista de muita diversão no cinema. Mais do que um efeito, um recurso da ficção, essa caracterização primitiva – e controvertida!- do homem é emblemática e revela uma verdade fundamental sobre a comunicação oral das pessoas: a fala é uma explosão interativa humana motivada e posterior a muitas outras ações/funções primárias. A história de Tarzan nos revela algo sobre nosso aparelho fonador. Esse homem- macaco existia, na ficção, sobrevivendo como qualquer outro animal: respirando, se alimentando e interagindo em um mundo sem humanos, sem conversas. Estava vivo e não falava até ser tocado pela civilização; até conhecer Jane! Assim somos nós. Utilizamos partes de nossa fisiologia, que têm como ação original funções que garantem nossa existência animal – como mastigar, respirar - em diferentes funções secundárias na articulação de sons da língua. Isso nos leva à conclusão de que não há órgão do corpo humano que seja especifico e unicamente utilizado pela fala3. Observe o que nos confirmamos foneticistas, a seguir: “As unidades constitutivas do contínuo sonoro são produzidas por um mecanismo fisiológico específico a que se convencionou chamar aparelho fonador, e do qual fazem parte os pulmões, a laringe, a faringe, as cavidades oral (incluindo-se os dentes e a língua) e nasal. Observe-se que as partes constitutivas do aparelho fonador têm funcionamentos outros, distintos dos usados para a produção dos sons”. Fonte: CALLOU, Dinah & LEITE, Yonne. Iniciação à fonética e à fonologia. 4ª ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1995. Saiba Mais 3 A compreensão da língua como uma função secundária ou sobreposta baseia-se na teoria psicológica que considera a linguagem uma capacidade adquirida e não uma faculdade inata da espécie humana. Para maiores discussões sobre a questão, e obter uma visão do contraditório, retorne ao capítulo1 do primeiro volume. 11 Estudos Fonéticos e Fonológicos da Língua Portuguesa E continuam especificando as funções primárias e secundárias: “Assim os pulmões e a cavidade nasal têm um desempenho específico no processo de respiração, mas para a produção do som servem de câmara iniciadora da corrente de ar, e a cavidade nasal funciona como câmara de ressonância para a produção de sons nasais ou nasalizados. (...) Os dentes e a língua são órgãos cruciais para a trituração dos alimentos, mas na produção dos sons passam a articuladores que modificam a corrente de ar egressa dos pulmões.” Fonte: CALLOU, Dinah & LEITE, Yonne. Iniciação à fonética e à fonologia. 4ª ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1995 Não nos resta outra coisa, agora: precisamos conhecer como funciona nosso aparelho fonador nessas funções secundárias. Está na hora de estudarmos um pouco a fisiologia humana. Você conhece a figura a seguir? Figura 1 - O Aparelho Fonador e os seus Sistemas Nessa figura, poderemos observar a engenhosidade adaptativa humana. Na combinação de três conjuntos de engrenagens fisiológicas o ar expelido consegue adquirir a qualidade de som. Esses conjuntos funcionam como sistemas que atuam em funções primárias específicas, como já destacamos, mas estão interconectados e formam o aparelho fonador humano. Para efeito de análise, dividimos e classificamos os sistemas em respiratório, fonatório e articulatório como sugere Cristófaro e Silva (1999). Os Sistemas e as Suas Funções na Fonação 12 Estudos Fonéticos e Fonológicos da Língua Portuguesa Sistema Respiratório Você já percebeu como é difícil falar depois de uma atividade física intensa ou mesmo quando você está muito nervoso? Bem, a primeira explicação para isso está na dificuldade de controlar o ar no processo de trocas de gases que executamos para estabilizar o corpo eliminando o cansaço ou nos acalmando. A função original entra em ação automaticamente. Respirar para viver! Acalmando-se a situação, digamos assim, esse sistema respiratório pode ser utilizado como uma usina de energia que movimenta os gases da respiração por determinados caminhos e com a velocidade necessária para produção da voz natural e até mesmo na voz cantada. Tal sistema respiratório está localizado na parte inferior a laringe (cf. figura 1) e é constituído pelo diafragma (músculo pulmonar), pulmões e traqueia. Para a produção da voz, o ar é expelido dos pulmões de maneira controlada com a ajuda do diafragma e dos músculos intercostais. O ar é desta forma expelido ao longo da produção dos sons, das palavras, das frases. Isso nos leva a compreender, por um lado, como qualquer comprometimento- patológico ou natural como nas situações descritas acima- nessa fase, compromete a origem e a capacidade de falar. E por outro lado, que a respiração abdominal4, aquela em que retemos mais ar e por mais tempo na parte inferior dos pulmões, é Ideal nos processos respiratórios. Com mais ar, pode-se articular mais e melhor as palavras. Sistema Fonatório Na discussão sobre o sistema respiratório, você pode perceber que, na fala, estamos sempre manipulando a corrente de ar que é expelida na respiração; isto é, quando devolvemos o ar ao meio ambiente fazemos isso de modo diferente se estamos falando. Aliás, é importante lembrar que não há língua conhecida cuja realização sonora se realize durante a fase inspiratória da respiração. Veja que esse fato favorece o controle sobre a corrente do ar, que pode ser expelida com velocidades diferentes, intensidades variadas. Como se tivéssemos uma flauta à espera de um musicista caprichoso! A corrente de ar iniciada lá nos pulmões e pode ser interrompida nesse processo de expulsão do ar. Começa, assim, a fase de manipulação desses ventos internos na constituição e caracterização da voz. Estamos já no sistema fonatório que é, essencialmente, composto pela laringe. Observe a ilustração, a seguir: Atenção 4 Chamamos de respiração abdominal aquela que fazemos pela movimentação de alargamento e esvaziamento do abdômen . Observe bebês dormindo e veja a respiração em curso demonstrada na subida e descida da barriguinha das crianças. 13 Estudos Fonéticos e Fonológicos da Língua Portuguesa Figura 2 A laringe funciona, primariamente, como uma válvula de obstrução de comida nas vias respiratórias. Veja, na figura 2, a proximidade dos mecanismos usados na respiração natural daqueles órgãos responsáveis pelo deslocamento de comida para os processos digestivos: traqueia e esôfago caminham paralelos e se encontram em um cruzamento fisiológico, logo depois da base da língua. Qualquer descuido pode levar comida ao sistema respiratório. Quando engasgamos é sinal de que erramos o caminho de alguma coisa (sólidos ou líquidos) e o corpo reagiu expelindo ar para impedir a entrada do corpo estranho nas vias respiratórias. Isso acontece muito nas situações em que estamos consumindo alguma coisa e resolvemos falar. Falar com a boca cheia não é só falta de educação, não, é arriscado, também! Para efeito de produção dos sons, a laringe tem uma função bastante interessante. Nela estão presentes músculos estriados, também conhecidos como cordas vocais ou pregas vocais, que têm como ação premente a obstrução e o controle da corrente de ar. Os nomes cordas vocais lhe dizem alguma coisa? Importa dizer, nesse momento, que esses músculos proporcionam a criação de uma câmara e a possibilidade de assimilação de características especiais pelo ar expelido. Através de movimentos de retesamento e frouxidão - que produz um espaço entre os músculos denominado glote - e esticadas em diferentes graus, as cordas vocais produzem vibrações alternadas que permitem a percepção dos sons pelos nossos ouvidos. Tais vibrações serão associadas a outras caracterizações em câmaras posteriores no processo de expulsão do ar ao longo da fala, de que resulta a constituição final dos segmentos. Entenderam? Se não, teremos a oportunidade de estudarmos essas ações, em mais detalhes, adiante. 14 Estudos Fonéticos e Fonológicos da Língua Portuguesa Sistema Articulatório Fechando a engrenagem do aparelho fonador, duas novas câmaras de ressonância do ar se localizam acima da laringe. Conforme destacamos na seção anterior, a partir do sistema fonatório o ar expelido vai se caracterizando como som porque é submetido a interrupções de graus variados em câmaras especiais. Vale destacar que o que aqui chamamos de grau variado vai da obstrução total até a ausência definitiva de fechamento. E tudo isso acontece nesse sistema. Estarão nessa fase, portanto, os elementos mais relevantes e definitivos na caracterização dos fones que compõem o conjunto de sons de qualquer língua. Para compreender melhor o sistema articulatório, devemos retornar a figura 1. Conforme podemos observar, encontramos na parte superior, espaços de ressonância (cavidades faringal e nasal), áreas de travamento de ar (palato, alvéolos, dentes, lábios) e o órgão de maior mobilidade e utilização na produção dos sons que é a língua. Aqui, se realizam efetivamente os segmentos. Não é sem razão que estamos chamandoa Fonética por nós selecionada como Fonética Articulatória. Os Segmentos Consonantais do Português Brasileiro Quando estudamos os segmentos no capítulo 3 do volume 1, fizemos um inventário das possibilidades articulatórias do português partindo da ideia presumida que os sons se segmentam em vogais e consoantes. Discutimos amplamente o conceito sobre a segmentação da fala, mas não conversamos o suficiente sobre o que na verdade seriam esses segmentos vocálicos em contraponto com os segmentos consonantais. Vamos retomar esse ponto? A Primeira Cisão Costuma-se chamar essa divisão vogal-consoante como a primeira cisão. Os especialistas entendem tal dicotomia como a divisão intuitiva mais básica da classificação fonética (cf. Schane, 1975). E não é por acaso. A discussão prévia que fizemos sobre o aparelho fonador humano nos mostrou que 15 Estudos Fonéticos e Fonológicos da Língua Portuguesa os sons vão tomando corpo quando são submetidos a interrupções de graus variados em câmaras especiais. No processo de articulação, isso significa dizer que a voz se realiza em uma série de aberturas e fechamentos alternados, em variados pontos de nosso aparelho fonador. Considerando esse fato, podemos dizer que as vogais são os estágios de abertura onde o ar passa livremente e as consoantes, em níveis variados, as fases de interrupção ou fechamento da saída do ar. Bacana, não é? Basta abrir a boca e soprar que ouviremos vogais ou produzirmos travamentos que teremos consoantes? Não é bem assim! Há processos específicos na realização de cada segmento que compõem, digamos, o DNA das vogais e das consoantes em grupo ou como elementos individuais, inconfundíveis dentro de seu conjunto. Por que, por exemplo, nominalizamos os segmentos como vogais e consoantes? A análise da origem das palavras nos diria alguma coisa? Vamos entender melhor isso. A Descrição das Consoantes Respondendo as perguntas anteriores, podemos, sim, compreender algo a partir dos nomes dos segmentos. A palavra vogal tem como origem latina vocalis5 cujo radical dá origem no português, além de nosso fone em destaque, a palavras como vocal, vocativo, voz. Assim, chamamos de vogal aquele segmento que dá vida à voz, que conduz o som e, por isso, se caracteriza como o elemento soante. Os demais fones que acompanham a soante, que estão juntos com a soante (com+soante), claro, são as consoantes. Vamos, então, descrevê-las? Bem, sabemos agora que as consoantes são os segmentos coadjuvantes. Fazem sentido e são percebidas porque se realizam junto às vogais. Apesar disso, pensando nos mecanismos do aparelho fonador, se realizam em processos mais complexos, pois dependem de articuladores específicos e produzem características sonoras mais variadas. Vale lembrar as fases de interrupção a que são submetidas, como mencionamos, e a quantidade ampla de fones que constituem em relação às vogais. Há, ainda, quem considere boa parte das consoantes como meros ruídos. Precisamos, assim, estabelecer alguns parâmetros. Vamos imaginar nosso aparelho fonador e o funcionamento de todos os sistemas na execução das consoantes. Podemos pensar algumas questões: » Há ou não vibrações nas cordas vocais? » O som é nasal ou oral? » Quais os articuladores envolvidos na produção? » Qual a maneira utilizada na obstrução da corrente de ar? Veja que temos bastante coisa para conhecer sobre as consoantes. Parâmetros para a descrição das consoantes do português Qual o estado da glote? E no gogó! Você sabe o que é o pomo-de-adão6 ? Onde se localiza? Disso depende a atividade que eu gostaria de propor e que nos ajudará a entender o primeiro parâmetro. Saiba Mais 5 Voc: anteposto latino que dá origem a palavras como Vox, vocis (voz, sons), vocalis (dotado de voz, fala; vogal). Lembrete 6 Só lembrando: Pomo significa fruto, daí a palavra pomar; Adão, todos conhecemos. Assim, o pomo-de- adão é aquela saliência na parte anterior do pescoço dos homens, o gogó. Faz-se uma referência, e uma brincadeira, ao fruto proibido que teria, segundo a Bíblia, o primeiro-homem consumido. 16 Estudos Fonéticos e Fonológicos da Língua Portuguesa Atividade I Segure seu pescoço com a mão aberta encobrindo a parte onde nos homens se localiza o pomo-de-adão. Articule de forma contínua o segmento [z], como a primeira letra da palavra zebra. Em seguida, articule também de forma contínua o fone [s], como a primeira letra da palavra sapo. Alterne, algumas vezes, as articulações dos segmentos. Em uma das articulações, você deverá sentir pela mão que na parte interior do pescoço ocorre uma sequência impressionante de vibrações. Percebeu? Em qual segmento esse fato acontece? Para entender o que acontece, vamos relembrar um pouco o que já conversamos sobre nosso aparelho fonador. Os músculos que compõem nosso sistema fonatório sofrem a ação da passagem de ar de forma diferente e isso produz a primeira característica distintiva entre os segmentos: quando tais músculos estiverem vibrando durante a produção de determinado som, classificamos esse segmento de sonoro ou vozeado. Na ausência de vibração, os segmentos são classificados como surdos ou desvozeados. As vibrações ocorrem em função da aproximação e retesamento dos músculos pelo que a abertura entre eles, a glote, fica quase fechada. Nos sons surdos, há um relaxamento dos músculos e a glote fica aberta, conforme podemos ver na figura 3. Essa abertura revela o grau de vozeamento. Figura 3 Bem, é importante lembrar que destacamos os extremos aqui, mas não estamos excluindo segmentos intermediários. Quando discutimos, no primeiro volume, a ideia de segmento já ponderamos sobre a natureza contínua da fala e os seus constituintes. Há sons percebidos com leves vibrações, sobretudo, porque parecem absorver características dos segmentos contíguos. Para efeito de uma classificação clara e objetiva, vamos ficar com a dicotomia e entender o grau de vozeamento como nosso primeiro parâmetro. 17 Estudos Fonéticos e Fonológicos da Língua Portuguesa Qual o articulador ativo? E o articulador passivo? Dessa questão do que é ativo ou passivo na articulação do segmento depende a compreensão dos dois últimos parâmetros. Para entendermos o funcionamento do processo de articulação, vamos ficar atentos a figura 4, a seguir. Figura 4 Nessa figura, recuperamos com clareza os elementos presentes, e sinalizados anteriormente, do nosso sistema articulatório. Já sabemos, também, que é neste sistema que ocorrem os travamentos finais que definem as consoantes. Os pontos marcados indicam o lugar em que os segmentos são realizados e, em um jogo de articuladores ativos e passivos, categorizam a descrição dos sons do português. Sabemos que apenas a língua, o lábio inferior e o palato mole podem se movimentar. De maneira prática, isso implica dizer que os demais pontos marcados sofrem o contato e definem o que classificamos como os pontos de articulação dos segmentos. Destaquem-se o lugar privilegiado da língua como articulador ativo mais efetivo e a função dupla do véu palatino o qual é ativo no processo de produção de sons nasais e passivo na articulação de segmentos velares. Vamos à descrição dos segmentos? Essa descrição compõe nosso segundo parâmetro. Na tabela a seguir, teremos a definição dos pontos de articulação, exemplos de ocorrência na forma ortográfica e registros dos sons já em notação fonética. Fique atento! 18 Estudos Fonéticos e Fonológicos da Língua Portuguesa Lugar de Articulação Lugar de articulação Articulador ativo Articulador passivo Exemplo ortográfico Noção fonética Bilabial Lábio inferior Lábio superior Pato, bato. [p] [b] Labiodental Lábio inferior Dentes incisivos superiores Faca, vaca. [f] [v] Dental Ápice ou lâmina da língua Dentes incisivos superiores Tato, dado, sapo, zorro, nada, lata, cara [t] [d] [s] [z] [n] [l] Alveolar Ápice ou lâmina da língua Alvéolos Tato, dado, sapo, zorro, nada, lata, cara [t] [d][s] [z] [n] [l] Alveopalatal Parte anterior da língua Parte medial do palato duro Tia, dia (no RJ); chá, já [ʧ] [ʤ] [ʃ] [ʒ] Palatal Parte posterior da língua Parte final do palato duro Sonho, malha [ŋ] [ʎ] Velar Parte posterior da língua Velum (palato mole) Casa, gata; carta, gordo (no RJ) [k] [g] [x] [ɣ] Glotal Músculos da glote Músculos da glote Carta, gordo (no NE) [h] [ɦ] Atenção: Observe que em português não há diferenças fonéticas entre sons alveolares e dentais. Vamos para o terceiro parâmetro. Qual o grau e natureza da estritura? A palavra estritura merece uma explicação. Estritura é o termo técnico para a posição assumida pelo articulador ativo em relação ao articulador passivo, indicando como e em que grau a passagem da corrente de ar através do aparelho fonador (ou trato vocal) é limitada neste ponto (Abercrombie, 1967: 44, apud Cristófaro, 1999). Notem que esse estreitamento produz uma caracterização especial tanto de apresentação quanto de percepção dos fones, de que resulta o critério modo de articulação. Dito de outra forma, de maneira semelhante ao ponto de articulação, este critério depende do movimento e da relação entre os articuladores ativos e passivos. Entenderam? Modo de Articulação Para analisarmos a classificação dos segmentos pelo modo de articulação, devemos ter em mente, novamente, a figura 4. Além disso, é importante entender que essa categorização resulta, no geral, da impressão que a articulação desses fones proporciona a partir desse estreitamento. 19 Estudos Fonéticos e Fonológicos da Língua Portuguesa Oclusivas São as consoantes típicas. Só ocorrem depois de um travamento completo pelos articuladores da passagem do ar; por isso acontecem apoiadas em vogais: [p] [b] [t] [d] [k] [g]; respectivamente, como em pato, bato, tato, cato, gato. Fricativas Por uma aproximação dos articuladores, quando ocorrem dão a impressão de fricção ou chiado com a passagem do ar. Ocorre uma obstrução parcial: [f] [v] [s] [z] [ʃ] [ʒ] [x] [ɣ] [h] [ɦ]; respectivamente, como em faca, vaca, saca, zebra, chapéu, gente, rato (para os quatro últimos sons). Africadas São segmentos que começam como oclusivas e terminam como fricativas; semelhante ao som produzido em uma sequência “tx” ou “dj”. Um bom exemplo desses segmentos está na pronúncia de T e D no dialeto carioca: [ʧ] [ʤ]; “tia” e “dia”. Tepe Também conhecido como vibrante simples ou flap; exatamente, a impressão que se tem quando se realiza. O articulador ativo toca rapidamente no articulador passivo: [ɾ]; como em caro, prato. Retroflexa Conhecido como “erre caipira”. O palato duro é o articulador passivo e a ponta da língua é o articulador ativo. Ocorre dando a impressão de uma retroflexão (flexão para trás) da língua na parte interna da boca. Comum em dialetos de regiões do interior do Brasil, sobretudo, no sudeste e centro-oeste: [ɺ] ou [я]; como em carne de porco. Vibrante A ponta da língua (articulador ativo) toca várias vezes a parte de trás dos dentes superiores ou alvéolos (articulador passivo) causando vibração: [r]; rato, carro (RS). Nasais Iguais às oclusivas, mas com um abaixamento do véu palatino. Nesse movimento de abaixamento, o ar que vem dos pulmões ressoa ao mesmo tempo nas cavidades orais e nasais: [m] [n] [ŋ]; mata, nata, banho. Laterais Os articuladores se travam o ar na linha central da boca e no momento da articulação o ar é expelido pelos lados: [l] [ʎ]; lata, malha. Caminhamos para a discussão do último parâmetro. Antes disso, proponho novamente uma atividade de preparação prévia. Para essa atividade, é importante observar também a figura 5, a seguir: Figura 5 20 Estudos Fonéticos e Fonológicos da Língua Portuguesa Qual a posição do véu palatino? Espelho, espelho meu... Vamos a mais um parâmetro e, novamente, a uma atividade de observação. Desta vez, o que é necessário fazer é muito mais simples e requer apenas que você fique diante de um espelho. De preferência, sozinho! Atividade II Coloque-se diante de um espelho, abra a sua boca e ponha a língua para fora. Este movimento deve possibilitar que você identifique, lá ao fundo, uma gotinha de carne também conhecida como úvula (cf. figura 5). A úvula é a parte final e visível do palato mole ou véu palatino. Para perceber todo o véu, recolha a língua movimentando a ponta pela parte interna dos dentes superiores indo na direção dos alvéolos (cf. figura 4) e céu da boca. No céu da boca, você reconhecerá o momento em que o palato duro se transforma em véu palatino. Ainda com a boca aberta, alterne a pronúncia dos sons [a] como em lá e [ã] como em lã. Como fica o posicionamento da úvula? O reconhecimento da estrutura e da mobilidade do véu palatino nos permite entender como os segmentos da fala ora parecem ser realizados apenas na boca e ora permitem a impressão de ressoarem na cavidade nasal: O palato separa a cavidade oral da nasal e o véu palatino é a válvula que permite a alternância entre sons nasais e orais. O segmento que for produzido com o véu palatino levantado impedindo a passagem de ar pela cavidade nasal é classificado como um segmento oral; de forma diferente, se o véu estiver abaixado permitindo a ressonância na cavidade nasal o segmento é considerado um som nasal. A nasalidade, também, é um parâmetro. A propósito, na atividade II, o espelho é prescindível. Um colega de turma poderá fazer a atividade solicitada de frente para você. Só não sei se serão interessantes tantas caras e bocas! Chegamos a alguma conclusão? Considerando todos esses aspectos, os quatro parâmetros discutidos permitem a identificação e classificação de qualquer segmento consonantal do português. Para efeito de distinção entre segmentos, contudo, basta-nos o critério de registro mínimo, baseado 21 Estudos Fonéticos e Fonológicos da Língua Portuguesa em pelo menos três distinções: Modo de articulação + ponto de articulação + grau de vozeamento. Vamos Revisar? Discutimos sobre os processos de articulação dos fones consonantais. E, com tudo que analisamos, vocês devem ser capazes de identificar os segmentos compondo palavras, além de reconhecer o símbolo fonético utilizado para representar os fones. Em função disso, proponho três atividades como revisão, descritas logo em seguida. Atividades e Orientações de Estudos Atividade 1 Complete a tabela fonética das consoantes do português, conforme preenchemos para as fricativas labiodentais. Lembrar, apenas, que aqueles segmentos que não apresentam distinção entre desvozeado e vozeado, é porque são todos vozeados: Tabela fonética consonatal Modo de articulação Ponto de articulação Bilabial Labiodental Dental Alveolar Alveopalatal Palatal Velar Gotal Oclusiva desv Oclusiva voz Africadadesv Afircada voz Fricada desv fricada voz F V Nasal Tepe Vibrante Retroflexa Lateral Atividade 2 Abaixo, você tem mais uma tabela. Nela encontramos palavras da língua portuguesa em que se encontra destacado um morfema. Complete a tabela com o símbolo fonético correspondente e a sua classificação mínima, conforme sinalizado para o primeiro exemplo 22 Estudos Fonéticos e Fonológicos da Língua Portuguesa ortográfico. Registro ortográfico Símbolo fonético Classificação do segmento consonantal Para [p] Oclusiva bilabial desvozeada Bola Cola Gato Dado Tatu Faca Sala Vaca Casa Chapéu Já Mala Nada Sonho Cara Loja Palha Atividade 3 Finalmente, uma última tabela com segmentos. Para completá-la, você deve classificar os sons e registrar palavras cujo fone em questão esteja presente. Segmento Classificação Exemplo na palavra [ʧ] [ʤ] [x] [ɣ] [h] [ɦ] 23 Estudos Fonéticos e Fonológicos da Língua Portuguesa Resumo Estudamos, neste capítulo, o porquê da decisão no início de nosso curso pela fonética articulatória. Especificamos a apropriação de sistemas de nossa fisiologia em funções secundárias na articulação da fala. Percebemos que os articuladores envolvidos criam processos específicosna produção dos segmentos, processos esses que produzem os parâmetros mínimos de identificação e classificação das consoantes: grau de vozeamento, ponto de articulação e modo de articulação. Conhecemos, também, os símbolos fonéticos consonantais e algumas possibilidades de representação dos sons nas palavras. 24 Estudos Fonéticos e Fonológicos da Língua Portuguesa Capítulo 2 Neste capítulo, vamos estudar os seguintes temas: » Segmento vocálico oral e nasal; » Ditongos; » Sílaba; » Tonicidade; » Transcrição fonética de palavras. Metas » Identificar os mecanismos de articulação das vogais do português brasileiro; » Dominar a tabela fonética vocálica; » Analisar a distribuição, classificação e registro dos segmentos vocálicos considerando a tonicidade; » Aprender e realizar transcrições fonéticas de palavras. 25 Estudos Fonéticos e Fonológicos da Língua Portuguesa Capítulo 2 – O Segmento Vocálico Vamos conversar sobre o assunto? No capítulo anterior, estudamos os processos de descrição e registro das consoantes. Você pode perceber que conversamos sobre bastante coisa. A natureza complexa dos mecanismos, muitos sistemas envolvidos e a quantidade de segmentos precisaram ser amplamente esclarecidos. Mas não se preocupe. Isso não será preciso na descrição das vogais. Os segmentos vocálicos, apesar de sua importância na constituição da voz, apresentam mecanismos de articulação bem mais simples. Duvidam? Vamos começar retomando o que já sabemos sobre as vogais; não aquilo que foi dito no capítulo anterior, a propósito da distinção da primeira cisão, mas aquelas informações internalizadas ao longo dos anos nos processos de aprendizado de uma língua. Vamos retornar aos tempos em que brincamos de balbuciar e de imitar sons para aprender a falar! As Vogais Figura 6 A imagem ao lado põe em destaque a principal cavidade de nosso sistema articulatório. É exatamente nesse espaço onde ocorrem os primeiros exercícios de fala, pois é nele que compomos as vogais. Perceba que a língua se apresenta soberana e pode se deslocar para qualquer lugar e na direção que quisermos; isso nos permite especular que dela, principalmente, dependerá a caracterização e classificação dos segmentos vocálicos. 26 Estudos Fonéticos e Fonológicos da Língua Portuguesa Gugu, gagá No geral, quando criancinhas, produzimos por imitação sons contínuos em repetição associados a caretas, bolhas de cuspe e fugas descontroladas da língua - a chamada protrusão da língua! - além do famoso biquinho da mamãe. Motivadas por causas variadas, há pessoas que mantêm alguns desses movimentos, mesmo já adultas, o que nos leva a considerá-las infantilizadas, tamanha a tipicidade desses processos na infância. Nessa fase, muitas vezes, abrimos a boca e realizamos, com a língua em repouso na mandíbula, estreitamentos alternados com aberturas amplas e produzimos sons diferentes. Não raro, realizamos tais movimentos mobilizando a língua para frente e para trás. Em um exercício fabuloso de aprendizado por tentativas e acertos, o músculo da língua e a boca (os lábios) vão sendo treinados e nós vamos descobrindo as vogais. Vamos criando nossa fala. Você lembra como fazia isso? Seria interessante lembrar. Diferentemente da articulação das consoantes, tais segmentos dependem, essencialmente, desse treinamento de movimentação da língua e dos lábios para sua realização, pois sabemos que as vogais não sofrem travamentos na corrente de ar durante sua produção. Mas, atenção! As vogais não são interrompidas nem mesmo lá na laringe, o que não significa dizer que são sons sem vibrações. Vimos, no capítulo 1, que para todas as vogais, as cordas vocais se retesam e, esticadas, traduzem essa energia em ondas que lhes dão a qualidade de som ou vozeamento. A não ser que estejamos sussurrando ou com algum problema fisiológico nas cordas vocais, as vogais são segmentos soantes; não foi assim que dissemos? Voltando a cavidade oral. Para compreender bem a produção dos segmentos vocálicos, não podemos esquecer que é nessa cavidade que eles acontecem. O seguinte processo ilustra a articulação vocal: A língua limita-se a movimentação vertical – aproveitando o sentido do deslocamento da mandíbula – e horizontal. Estando presa a uma base, esta última movimentação se restringe à parte interna da boca e alterna-se entre a entrada da cavidade bucal (parte anterior) e a base da língua dentro da cavidade, a parte posterior. Quanto aos lábios, esses podem assumir o formato de fendas estendidas ou fendas arredondadas. Fácil, não é? Depois dessas considerações gerais e iniciais, conseguiu lembrar alguma coisa? Que tal se você realizasse esses movimentos para checar se é assim que tudo acontece? Atividades e Orientações de Estudos Vamos fazer alguns exercícios de identificação de vogais. Pronuncie as sequências indicadas e verifique em qual vogal a posição da língua encontra-se mais alta ou mais baixa; mais para frente ou mais para trás; e se os lábios se apresentam arredondados ou não- arredondados: 27 Estudos Fonéticos e Fonológicos da Língua Portuguesa Sequência -> pronuncie alternadamente as vogais: Critério I: Classificação considerando o deslocamento vertical sa língua [i] como em Siri e [a] como em ata. Alta: Baixa: [e] como em ipê e [a] como em ata. Alta: Baixa: [e] como em ipê e [Ɛ] como em fé. Alta: Baixa: [o] como em avô e [ɔ] como em avó. Alta: Baixa: [i] como em Siri; [e] como em ipê; [Ɛ] como em fé; [a] como em ata. Alta: Médio-alta Médio-baixa Baixa [u] como em tu; [o] como em avô; [ɔ] como em avó e [a] como em ata. Alta: Médio-alta Médio-baixa Baixa Sequência-> Pronucie a alternadamente as vogais: Critério II: Classificação considerando o deslocamento horizontal da língua [i] como em Siri; [u] como em tu Anterior: Posterior: [e] como em ipê; [o] como em avô Anterior: Posterior: [Ɛ] como em fé; [ɔ] como em avó Anterior: Posterior: [i]; [e]; [Ɛ]; [a]; [ɔ]; [o] e [u] Anteriores: Central: Posteriores: Sequência-> pronuncie alternadamente as vogais: Critério III: Classificação considerando o arredondamento ou não dos lábios [i]; [e]; [Ɛ]; [a]; [ɔ]; [o] e [u] Não-arredondadas: Arredondadas: É Hora de Teorizar Confirmamos com os exercícios que precisamos apenas de três parâmetros para identificar e classificar as vogais em posição tônica do português: Altura da língua, anterioridade da língua e arredondamento dos lábios. Como nós fizemos para as consoantes, devemos agora descrever e identificar os segmentos dentro de cada parâmetro. Para tanto, fique atento à figura 7, a seguir: 28 Estudos Fonéticos e Fonológicos da Língua Portuguesa Figura 7 Altura da Língua Este parâmetro se refere à posição assumida pela língua em seu deslocamento vertical. Observe a figura 7. À medida que a língua estreita a passagem de ar se movimentando para cima, ela cria segmentos vocálicos baixo, médios e altos. Como percebemos nos exercícios, são posições ocupadas, respectivamente, pelo som de {A}, {E, O} e {I, U}. Na verdade, notamos que há quatro níveis de altura que, em termos fonéticos, se registraria com os segmentos: Baixo Médio Altos [a] Baixo: [Ɛ] [ɔ] Alto: [e]; [o] [i]; [u] Anterioridade da Língua Ainda observando a figura 7, identificamos facilmente três posições que podem ser assumidas pela língua em um deslocamento na dimensão horizontal durante a articulação de um segmento: Por esse critério reagrupamos as vogais em posição anterior {E, I}; central {A} e posterior {O, U}. Em termos fonéticos: Anterior Central Posterior [i]; [e]; [Ɛ] [a] [u]; [o]; [ɔ] A partir desses dois parâmetros é possível visualizar um gráfico interessante: um triângulo de base invertida que, virtualmente, representaria a posição onde as vogais se realizam dentro da cavidade bucal: 29 Estudos Fonéticos e Fonológicos da Língua Portuguesa Figura 8 Arredondamento dos Lábios Je ne parle pas Français7 Embora não estejamos falando sobre o Francês, o último exercício acima nãodeixou dúvida que arredondamos segmentos vocálicos. Depois de sofrerem estreitamentos dentro da cavidade bucal, os fones vocálicos do português assimilam a última característica, agora, imposta pelos lábios. Em termos fonéticos, temos a distribuição: Não-arredondadas Arredondadas [i]; [e]; [Ɛ]; [a] [u]; [o]; [ɔ] As Vogais e a sua Silabicidade Inerente Até agora já conversamos muita coisa sobre vogais;8 sabemos, inclusive, como classificá-la considerando os processos em que se submete a corrente de ar quando tais segmentos são produzidos. Aliás, é com base nas diferenças de processos de articulação que a análise fonética distingue vogal de consoante. Precisamos, ainda, falar sobre outra maneira de analisar as vogais. A característica essencial de conduzir a voz, de ser a soante lhes imprime uma função que, para o português, é fundamental: as vogais sempre ocupam o núcleo das sílabas. Problemas à vista? Não devemos antecipar essa discussão, pois o conceito de sílaba é fonológico, mas precisamos esclarecer que ser o núcleo silábico determina características não apenas nos segmentos que assumem tal função, mas também em seus pares contíguos. E isso interessa à Fonética, além de trazer implicações de registro, sobretudo, na fidelidade das transcrições, como veremos adiante. A silabicidade inerente desses segmentos provoca algumas questões que passamos a discutir a seguir. Saiba Mais 7 A frase em questão significa “eu não falo francês”. A língua francesa é conhecida pelo grande número de segmentos vocálicos arredondados. Este fato imprime aos falantes a característica de estarem sempre fazendo biquinho ao articularem as palavras. Atenção 8 O neologismo aqui tem como único propósito destacar nas vogais o fato de ser sempre núcleo de sílabas. E isso só é possível porque são segmentos soantes. 30 Estudos Fonéticos e Fonológicos da Língua Portuguesa 1ª implicação: a questão da tonicidade As vogais tônicas são articuladas do mesmo jeito que as não tônicas? Você lembra o que é uma vogal tônica? “Adotamos o termo vogal tônica para denominar uma vogal que tenha proeminência acentual em relação às outras vogais. (...) As vogais tônicas estão em oposição às vogais átonas. Vogais átonas podem ser pretônicas e postônicas. Vogais pretônicas antecedem o acento tônico e vogais postônicas sucedem o acento tônico.” Fonte: SILVA, Thaís Cristófaro. Fonética e fonologia do português: roteiro de estudos e guia de exercício. São Paulo: contexto, 1999. Veja que o conceito de vogal tônica é relativo e confirma a ideia do segmento vocálico como pico silábico. E mais. Fica claro que o fato de se perceberem sons proeminentes em uma sequência, como é a fala, confere características articulatórias diferentes para as posições que antecedem ou sucedem a vogal mais forte. Por isso, em uma transcrição fonética deverão aparecer fones diferentes para o registro de vogais que acontecem antes da tônica (pretônicas) e depois da tônica (postônicas). Assim, além dos parâmetros de identificação geral de vogais, devemos considerar a influência da posição de ocorrência na palavra para caracterização e registro da articulação. As vogais tônicas devem ser marcadas na transcrição colocando um apóstrofo precedendo a vogal (ou sílaba) acentuada: pá [‘pa], tatu [ta’tu]; e as vogais pretônicas e postônicas devem ser registradas, eventualmente, com fones diferentes e específicos, conforme indicados nos quadros, a seguir: Vogais pretônicas orais Anterior Central Posterior Arred. não-arred. Arred. não-arred. Arred. não-arred. Alta i u Média-alta e o Média-baixa (ə) Baixa a Vogais postônicas orais Anterior Central Posterior Arred. não-arred. Arred. não-arred. Arred. não-arred. Alta ɪ ʊ Média-alta Média-baixa ə Baixa Com esses dois últimos quadros, temos um panorama de fones, agora, satisfatório. Considerando que estudamos, também, os fones consonantais, podemos até arriscar algumas transcrições fonéticas. Veja se você entende: 31 Estudos Fonéticos e Fonológicos da Língua Portuguesa Registro ortográfico Transcrições fonéticas Abacaxi [abaka’ʃi] Pérola [‘pƐɾʊlə] Braço [‘bɾasʊ] Bolo [‘bolʊ] Pelé [pƐ’lƐ] E, então? Achou estranhas as transcrições? Atentem para as observações a seguir; possivelmente, algumas dúvidas poderão ser sanadas. Vale lembrar que os registros fonéticos devem ser fieis a articulação percebida pelo analista. Os quadros de vogais pretônicas e postônicas apenas indicam as ocorrências mais freqüentes dos segmentos nessas posições. Por razões diferentes, é possível, por exemplo, que as palavras transcritas acima sejam realizadas foneticamente diferentes. Aí usaremos os fones padrões, tal como indicado naquele quadro geral de vogais. Assim, poderemos ter as transcrições [əbəkə’ʃi], [‘pƐɾɔlə], [bɾaso], [‘bolo] em dialetos diferentes. Bacana, não é? 2ª implicação: as quase-vogais e os ditongos Quanta informação, hein? Vamos conversar agora sobre a segunda implicação. Já ouviu falar de semivocóide ou glide? Se você sabe o que é um ditongo, com certeza conhece o fenômeno sonoro que representa. Você deve ter lembrado que os ditongos representam sequências de segmentos no interior de uma sílaba. O que difere, por exemplo, a sequência “ai” nas palavras pais e país é o comportamento que as vogais assumem no interior da sílaba. Em uma há o abrandamento de uma das vogais; em outra, as duas vogais são plenas. Conforme dissemos, em português, só a vogal pode ser silábica, isto é, núcleo da sílaba. Nas palavras em questão, vemos graficamente o registro de dois morfemas vocálicos rigorosamente iguais, mas que acontecem foneticamente diferentes. Na primeira palavra, temos uma vogal que apresenta mudanças de qualidade em um deslocamento entre duas posições articulatórias vocálicas de [a] até [ɪ]. Uma vogal é o núcleo da sílaba, a outra é assilábica. Na segunda palavra, as duas vogais são foneticamente proeminentes e preenchem, por isso, o núcleo de uma sílaba isoladamente. Na primeira situação temos um ditongo e na segunda, um hiato. As ocorrências plenas das vogais foram amplamente vistas e os registros fonéticos estudados. Mas, e para as vogais assilábicas? Se são ocorrências foneticamente diferentes devem ser registradas foneticamente diferentes, também. Bom, chegou a hora de falar sobre aquela palavrinha que compõe a pergunta com que iniciamos essa segunda discussão: Semivocoide ou glide é o nome técnico do segmento assilábico. Observe que do termo percebe-se o caráter de quase-vogal (semi) do segmento que, na verdade, se junta, se agrega o vogal silábica, prolongando-a; fato sinalizado pelo termo em inglês, inclusive, que significa escorregar, mover-se. O glide é o que as gramáticas classificam como semivogal e indicam como representações fonéticas dos sons de “i” e “u” assilábicos. Podem acontecer em início de sílabas ou no final caracterizando ditongos crescentes ou decrescentes, respectivamente. 32 Estudos Fonéticos e Fonológicos da Língua Portuguesa Possui um tratamento fonológico diferente, por isso, no geral são utilizados apenas em registros fonéticos que, por hora, é o que nos interessa. No próximo volume, esclareceremos a questão fonológica. Para efeito de transcrição, temos os seguintes fones: [ɪ] ou [y] para os sons assilábicos de “i”; [ʊ] ou [w] para os sons assilábicos de “u”. Assim, em nosso dialeto, as transcrições das palavras pai e pau seriam [‘paɪ] ou [‘pay] para a primeira e [‘paʊ] ou [‘paw], para a segunda. 3ª implicação: a nasalização das vogais é fonética Bem, esta última implicação é resultado de uma questão polêmica antiga: existiria, realmente, vogal nasal plena ou tal segmento aconteceria apenas por assimilação da nasalidade de uma consoante próxima? A nasalização é um glide? Está acima do segmento? Palavras como camareira, janela trazem vogais nasais como núcleo silábico? Existiriam palavras com vogais nasais sem a presença de consoantes nasaiscom as quais se forme um corpus significativo? Note que a questão da nasalidade instaura um conflito contra a ideia do posicionamento silábico das vogais. Em não existindo vogais nasais, a qualidade de nasal só pode ser registrada com um mecanismo que esteja acima do segmento, por um suprasegmento, ou subentendida pelo registro de uma consoante nasal, não acontecendo, portanto, um segmento nasal vocálico como pico silábico. A solução para esta questão é fonológica e será no volume dedicado a esse tema. Adotamos o posicionamento conceitual que aceita a ocorrência de fones vocálicos nasais que diferem minimamente em qualidade das vogais orais correspondentes. Baseado nesse fato, registram-se foneticamente sons vocálicos nasais adotando-se os mesmos símbolos utilizados para representar as vogais orais com um til colocado acima das vogais para marcar a nasalidade: Anterior Central Posterior Arred. não-arred. Arred. não-arred. Arred. não-arred. Alta ĩ Ũ Média-alta ĕ Õ Média-baixa Baixa ã Vamos revisar? Bom, poderia dizer que você que acompanhou atentamente as explicações, agora já está habilitado a realizar e compreender transcrições fonéticas do português. Os símbolos fonéticos dos segmentos consonantais e vocálicos foram apresentados como registros em várias possibilidades de ocorrência. Isso nos permite propor para você que realize as atividades a seguir, não apenas para revisão do conteúdo estudo, mas também como forma de treinamento e domínio da técnica de transcrição fonética. 33 Estudos Fonéticos e Fonológicos da Língua Portuguesa Atividades e Orientações de Estudos Atividade I Dê um exemplo de palavra do Português para cada vogal ou ditongo listado. A Vogal ou ditongo em questão deve ocorrer em sílaba tônica. 1. [i] 2.[e] 3[ a] 4. [Ɛ] 5. [ɔ ] 6.[o ] 7[ u] 8 [ɪ ou y ] 9. [ɪe] 10.[ ɪa] 11[oʊ] 12[aɪ] 13[eɪ] 14[ʊ ou w] 15[ĕ] 16[ĩ] 17[aʊ] 18[ã] 19[õ] 20[ũ] Atividade II Observe esta sequência de palavras: Garfo, farsa, terço, para, grave, carroça, rato, dedicar, carbono, carga, vacas, pasta, asno, assa, acha, haja, tipo, tinge, ditado, doce. Transcreva as palavras destacadas acima considerando que, em todos os dialetos, os segmentos ocorrem em sua forma padrão. As exceções, que lhes imprimem características específicas, são orientadas pelos critérios indicados em cada dialeto: Dialeto 1: o “r” será vibrante em posição intervocálica e no início de palavras ; retroflexo final de palavras e travando sílaba (final da sílaba); o “s” será alveolar quando travar sílaba. Dialeto 2: o “r” será fricativo velar quando intervocálico, no início e final de palavras e travando sílaba; o “s” será alveopalatal quando travar sílaba; o “t” e o “d” serão africados diante de vogal anterior, alta; Dialeto 3: o “r” será fricativo glotal quando intervocálico , no início e final de palavras e travando sílaba; o “s” será alveopalatal quando travar sílaba. Dialeto 4: o “r” será vibrante em posição intervocálica e no início de palavras ; tepe no final de palavras e travando sílaba; o “s” será alveopalatal quando travar sílaba. 34 Estudos Fonéticos e Fonológicos da Língua Portuguesa Considerações Finais Olá, cursista! Esperamos que você tenha aproveitado esse segundo volume da disciplina Estudos Fonéticos e Fonológicos da Língua Portuguesa. Nesse módulo, você conheceu o aparelho fonador humano e aprendeu a identificar o modo como acontece a voz. Os mecanismos de produção dos sons vocálicos e consonantais foram vistos e agora você já domina os seus dispositivos de registro, análise e classificação. Finalmente, pudemos iniciar o treinamento de transcrição fonética, muito importante para profissionais da voz ou professores de língua estrangeira, a partir da análise em detalhes da articulação de cada segmento. No próximo módulo, aprofundaremos de vez as questões dos sons do português, pois estudaremos a gramática fonológica de nossa língua. Muitos dos mecanismos e recursos por nós estudados no âmbito da fonética migrarão como ferramentas decisivas para a compreensão de padrões fonológicos. Até o próximo volume. Moisés João de Araújo Neto Professor Autor 35 Estudos Fonéticos e Fonológicos da Língua Portuguesa Referências ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Gramática Latina. São Paulo: Saraiva, 2008. BAGNO, Marcos. A língua de Eulália: uma novela sociolinguística. SP: Contexto, 1999. BORBA, Francisco. Introdução aos estudos linguísticos. São Paulo: Pontes, 1998. BUZZI, Arcângelo. Filosofia para iniciantes: a existência humana no mundo. Rio de janeiro: Vozes, 1991. CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetizando sem o bá, bé, bi, bó, bu. São Paulo: Scipione, 1999. CALLOU, Diná & LEITE, Yonne. Iniciação à Fonética e à Fonologia. Rio de Janeiro: Zahar, 1999. CEREJA, William & COCHAR, Thereza. Literatura Brasileira. São Paulo: Atual editora, 2000. CHOMSKY, Noam. Novos horizontes no estudo da linguagem e da mente. São Paulo: Editora da UNESP, 2000. CLARK, H & CLARK, E. Psychology and Language: an introduction to psycholinguistics. New York: Harcourt, 1977. FARACO, Carlos. 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