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Prévia do material em texto

INTRODUÇÃO À 
SOCIOLOGIA 
PARA TERAPIA 
OCUPACIONAL 
AULA 8
ABERTURA 
Olá!
A sociologia tem como uma de suas bases a desnaturalização dos fenômenos sociais. 
Nesse sentido, a produção do conhecimento consiste em um fenômeno social e objeto de 
estudo dessa ciência desde as primeiras décadas do século XX.
Nesta aula, você vai estudar a definição de sociologia do conhecimento, a importância da obra 
do sociólogo Karl Mannheim na construção desse campo de estudo e como essa sociologia 
se diferencia da teoria do conhecimento. Além disso, você vai ver as críticas contemporâneas 
sobre a produção de conhecimento, como os estudos pós-coloniais e decoloniais.
Bons estudos.
Sociologia do 
Conhecimento
REFERENCIAL TEÓRICO
A produção do conhecimento é objeto de estudo de diversas ciências, como a filosofia e 
a sociologia. Sociólogos como Karl Mannheim, por exemplo, analisaram o conhecimento 
como objeto de estudo, ao observá-lo de forma crítica, considerando o contexto social e 
histórico de sua produção.
A sociologia do conhecimento se distingue da teoria do conhecimento, ramo da filosofia, e 
coloca em cena as questões sociais, políticas e culturais que estão relacionadas à elaboração 
do conhecimento.
Na obra Sociologia Contemporânea, base teórica desta aula, leia o capítulo "Sociologia 
do conhecimento", e você vai compreender mais sobre o conhecimento como objeto 
sociológico e as críticas contemporâneas que relacionam colonialidade com o 
processo de produção de saberes.
Faça seu estudo e, ao final, você terá reunido os seguintes aprendizados:
• Identificar o campo de pesquisa e o objeto da sociologia do conhecimento.
• Diferenciar sociologia do conhecimento e teoria do conhecimento.
• Analisar os saberes decoloniais, suas afirmações e dificuldades de inserção no campo de
disputa dos saberes europeus.
Boa Leitura.
Sociologia do conhecimento
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Identificar o campo de pesquisa e o objeto da sociologia do 
conhecimento.
  Diferenciar sociologia do conhecimento e teoria do conhecimento.
  Analisar os saberes decoloniais, suas afirmações e dificuldades de 
inserção no campo de disputa dos saberes europeus.
Introdução
A sociologia produz conhecimento ao questionar o que é dado como 
“natural” pela maioria dos indivíduos em suas interações sociais. No en-
tanto, como analisar o próprio conhecimento, visto que ele também é 
um elemento da vida social?
A sociologia do conhecimento surge como resposta elaborada a 
essa questão, considerando-se que o questionamento sobre a produção 
do conhecimento e sua relação com a realidade envolve fatores sociais 
e históricos.
Neste capítulo, você estudará as bases da sociologia do conhecimento 
a partir da obra do sociólogo Karl Mannheim e a definição do que é esse 
ramo de estudo da sociologia. Além disso, poderá observar as diferenças 
entre a sociologia do conhecimento e a teoria do conhecimento, campo 
de estudo da filosofia. Por fim, você fará revisão sobre a produção do 
conhecimento a partir da perspectiva decolonial, que questiona o padrão 
eurocêntrico imposto na produção das visões de mundo.
Conhecimento e sociologia
A sociologia do conhecimento é uma corrente teórica que tem origem nas 
discussões, já existentes desde o fi m do século XIX, sobre a especifi cidade dos 
objetos estudados pelas ciências naturais e as ciências culturais. Ao mesmo 
tempo, essa sociologia nasce como um esforço intelectual para compreender o 
contexto de produção do conhecimento, reconhecendo que a realidade cultural, 
política, social e econômica de uma determinada época afeta diretamente a 
vida intelectual e o conhecimento produzido.
Os autores clássicos da sociologia, Marx, Weber e Durkheim, apresentaram 
análises sobre a produção de conhecimento e a vida social. No entanto, foi 
somente na década de 1920, com as reflexões sistematizadas do filósofo Max 
Scheler e do sociólogo e Karl Mannheim, que a sociologia do conhecimento 
surge como um campo de estudo específico.
Mas afinal, qual o objeto de estudo dessa sociologia? A sociologia do 
conhecimento objetiva avaliar os aspectos sociais da produção do conheci-
mento, em outras palavras, o conhecimento do conhecimento. Sobre isso, veja 
o trecho a seguir:
a singularidade da Sociologia do Conhecimento deriva do fato de que toma 
por objeto todo o conhecimento tornando-se um conhecimento do conhe-
cimento, um conhecimento reflexivo [...]. Deste modo, a reflexividade 
é a operação que permite pôr em descoberto o sujeito do conhecimento, 
tematizando-o como parte, como parte ativa, do ato de conhecer (LAMO 
DE ESPINOSA; GARCÌA; ALBERO, 1994, p. 48 apud RODRIGUES JÚ-
NIOR, 2002, p. 116).
Desse modo, a sociologia do conhecimento se distingue da teoria do co-
nhecimento, como você verá a seguir, consolidando-se como um ramo da 
sociologia atualmente dedicado a diferentes questões relacionadas à sociedade 
e ao conhecimento científico, às instituições voltadas para a produção de 
conhecimento e bens simbólicos, às universidades e à educação.
Karl Mannheim e o conhecimento como objeto 
sociológico
Na perspectiva de Karl Marx e Frederich Engels, a infraestrutura determina 
a superestrutura. Desse modo, o conhecimento é produto das relações que os 
homens estabelecem entre si, relações essas que são baseadas nas condições 
concretas da existência (possuir ou não possuir meios de produção).
Sociologia do conhecimento2
Para Marx, a infraestrutura consiste na base da sociedade capitalista. É nela que se 
localizam os meios de produção, as relações de trabalho e a exploração de uma classe 
sobre a outra. É a dimensão econômica da sociedade. Já a superestrutura abrange a 
dimensão cultural, política e jurídica da sociedade, consistindo em uma estrutura 
ideológica que é resultado das formas de manutenção do poder da classe dominante.
Dentro desse contexto, a ideologia, diz Marx, é o pensamento distorcido 
da realidade e que é imposto pela classe dominante. É o meio de tornar ideias 
como verdadeiras e aceitas pela sociedade, mas sempre atendendo aos inte-
resses da classe dominante.
Na visão de Karl Mannheim, a teoria marxiana é insuficiente para explicar 
a relação entre a produção de conhecimento e a realidade social. Segundo o 
autor, é necessária uma autorreflexão que questione inclusive a própria noção 
de ideologia. Ou seja, se, para Marx, o desmascaramento das ideologias é o 
núcleo central da questão do conhecimento, para Mannheim todo e qualquer 
pensamento é determinado pela realidade social, não só a da classe dominante. 
Assim, todo conhecimento é um conhecimento perspectivado, pois tem como 
base nossas estruturas mentais (que são diferentes umas das outras, uma vez 
cada indivíduo possui um contexto existencial).
Mannheim se desloca do conceito de ideologia e utiliza a noção de perspectiva 
para explicar que o modo como se percebe um objeto e o que se vê nele está 
relacionado às estruturas do pensamento. O conhecimento consiste em uma ma-
nifestação do pensamento. Essa relação se torna objeto de estudo da sociologia do 
conhecimento ao longo dos anos, uma vez estabelecida como disciplina científica.
O quadro conceitual de Mannheim também apresenta uma reformulação 
da noção de utopia, apresentando-a como o conjunto de conteúdos idealizados 
por grupos sociais que se opõem à realidade existente (MANNHEIM, 1982).
Thomas More, no início do século XVI, definiu utopia como lugar inalcançável. Já Marx 
concebe utopia como uma categoria não científica.
3Sociologia do conhecimento
Assim, historicamente, a própria burguesia (classe dominante na realidade 
capitalista), já teve seu caráter utópico ao se contrapor à realidade existente 
da Idade Média, segundo o autor. Foi somente na modernidade que os ideais 
burgueses se tornaram grupo social dominante.
Em termos metodológicos, a sociologia do conhecimento, a partir de Man-
nheim, propõe uma análise situacional em que os fenômenos políticos e sociaissejam compreendidos a partir dos grupos/atores sociais envolvidos e dos 
conteúdos ideacionais desses grupos. Essa análise permitiria a compreensão 
da natureza social do conhecimento.
As investigações realizadas com base na sociologia do conhecimento 
também destacariam os fatores históricos que ameaçam ou fortalecem a 
democracia. Nos momentos de conflito, em que grupos sociais se opõem, 
a compreensão dos fenômenos sociais na dimensão aqui descrita permitiria 
planejar contextos sociais desejáveis e evitar situações indesejáveis.
Contudo, essas intervenções racionais e elaboradas não ocorrem espontane-
amente. É preciso identificar os responsáveis pela análise e pelo planejamento 
de novas realidades sociais. O ator social com essa atribuição é denominado 
por Mannheim como a intelligentsia. Segundo Vieira (2008, p. 75):
Compreender as razões sociais dos antagonismos seria, para ele, essencial para 
ultrapassar as visões determinadas pelos vieses produzidos e internalizados 
pelas condições sociais de existência. A sociologia do conhecimento, por meio 
de um extenso projeto de investigação, seria capaz, em um primeiro momento, 
de traçar diacrônica e sincronicamente um quadro amplo das diferentes visões 
de mundo, bem como das suas determinações sociais. Na sequência produzi-
ria uma síntese das perspectivas, superando ou minorando os antagonismos 
que tencionam as relações entre os diferentes grupos e que obstaculizariam 
a definição de um projeto de desenvolvimento social planejado e negociado. 
Nesse quadro teórico percebemos a pretensão de intervenção, bem como a 
representação dos intelectuais ou, mais propriamente, da intelligentsia como 
agente social mediador. Os homens e as mulheres versados na sociologia do 
conhecimento seriam os únicos capazes de mediar os conflitos, uma vez que 
eles reuniriam as condições racionais para localizar historicamente e social-
mente os condicionamentos que originam as formas de pensar antagônicas.
A intelligentsia refere-se aos intelectuais com algum grau de desvinculação 
social (reconhecendo que os intelectuais também possuem seus vínculos sociais) 
e que são responsáveis pela manutenção da democracia em momentos de crise 
e conflito. O intelectual, na teoria de Mannheim, é um ator político social 
de fundamental importância para a sociedade. O autor via, no conhecimento 
produzido pela intelligentsia, um meio de intervenção na vida social.
Sociologia do conhecimento4
O sociólogo italiano Antonio Gramsci também aponta o papel do intelectual na 
vida social como agente político. No entanto, se, para Mannheim, a sociologia do 
conhecimento confere as condições para a intervenção social, para Gramsci é a ciência 
e a arte política que asseguram essas condições.
Sociologia do conhecimento e teoria 
do conhecimento
A teoria do conhecimento é o campo de estudo da fi losofi a que se dedica à 
refl exão sobre o conhecimento. A fi losofi a desenvolveu respostas e modos 
de compreender para questões como “o que é conhecimento?” ou “como o 
conhecemos?”, comuns a todas as áreas do conhecimento científi co.
Desde a antiguidade, o conhecimento é objeto de questionamentos, no 
entanto, somente na modernidade essa se torna uma questão central do pen-
samento filosófico. 
A teoria do conhecimento destaca a diferença entre consciência (interior) e 
realidade (exterior). Nesse sentido, conhecer algo implica elaborar um pensa-
mento/representação sobre ele. Dentre as principais correntes epistemológicas, ou 
seja, relativas à natureza do conhecimento, estão o racionalismo e o empirismo.
Racionalismo
  As ideias são inatas ao homem.
  Todo conhecimento verdadeiro tem origem na razão.
  A razão independe da experiência sensível.
  Método dedutivo: geral para o particular.
  René Descartes.
Empirismo
  Ideias e conhecimento são resultado da experiência, do que o homem vive.
  Todo conhecimento deve ser justificado a partir dos sentidos.
  A razão age de acordo com a experiência sensível.
  Método indutivo: particular para o geral.
  Francis Bacon, John Locke, Thomas Hobbes.
5Sociologia do conhecimento
A teoria do conhecimento também observa o conhecimento a partir de 
sua essência:
  Realismo. 
  Idealismo.
E pela possibilidade do conhecimento:
  Dogmatismo.
  Ceticismo.
Assim, a abordagem filosófica concebe o conhecimento a partir da relação 
entre um sujeito conhecedor e um objeto conhecido, questionando não só a 
realidade conhecida, mas também a própria capacidade do homem de conhecer 
(REALE, 2002).
A sociologia, por sua vez, consolida o campo de estudo do conhecimento 
a partir das análises sistemáticas de autores como Karl Mannheim, Robert 
K. Merton, C. Wright Mills, Thomas Luckmann e Peter L. Berger. A análise 
sociológica do conhecimento se distingue da teoria do conhecimento ao vin-
cular todo pensamento ao seu contexto histórico social. Ou seja, a construção 
do conhecimento é analisada a partir da perspectiva histórica e dos valores 
sociais que marcam a formulação desse conhecimento.
Para a epistemologia, abordagem filosófica tradicional, o homem pen-
sante é descrito como sujeito do conhecimento, detentor de racionalidade e 
capacidade de pensamento autônomo. O conhecimento é resultado do seu 
esforço individual.
Já a sociologia de Mannheim, por exemplo, apresenta a categoria indivíduo 
como homem em busca do conhecimento (da verdade), que produz conhe-
cimento de acordo com os fatores sociais que o rodeiam. O conhecimento é 
produto de suas experiências sociais, e não só de sua ação racional em busca 
de saberes.
Epistemologia é o ramo da filosofia que estuda os fundamentos do conhecimento.
Sociologia do conhecimento6
Conhecimento e pensamento decolonial
Em sua análise sobre a formação do continente latino-americano e a produção 
de saberes, o sociólogo peruano Quijano (2005) desenvolve, no fi m dos anos 80, 
o conceito de colonialidade. O autor aponta que as relações de colonialidade 
não se encerraram com o fi m do colonialismo, e que essas dinâmicas de poder 
permanecem no mundo atual.
Colonialismo e colonialidade se distinguem. Enquanto o primeiro se refere a 
uma relação política e econômica de domínio de uma nação sob outra, a segunda 
diz respeito a uma manifestação de poder entre duas nações/povos, oriunda do 
colonialismo moderno. Tal poder se articula por meio das relações de trabalho, 
na ideia de raça e também na produção do conhecimento (MALDONADO-
-TORRES, 2007). O conhecimento, nessa perspectiva, seria produzido a partir 
de um contexto de colonialidade e subalternidade entre nações.
Nesse sentido, não existe modernidade sem colonialidade, pois “[...] a 
colonialidade é constitutiva da modernidade, e não derivada [...]” (MIGNOLO, 
2005, p. 75). Ou seja, modernidade e colonialidade são as duas faces de uma 
mesma moeda.
A noção de colonialidade foi ampliada pelo argentino Mignolo (2005), 
que sugere que essa matriz de poder entrelaça as mais diversas dimensões, 
como o controle da economia, da autoridade, da natureza, do gênero e da 
sexualidade e do conhecimento. Em uma tripla dimensão: a colonialidade do 
poder, do saber e do ser. 
Essa experiência colonial é indissociável da modernidade (MALDONADO-
-TORRES, 2008) e do processo de construção e consolidação do sistema de 
mundo a partir da colonização das Américas. A colonialidade, portanto, constitui 
a sombra da modernidade. Mesmo silenciada das mais diversas formas, está na 
base das sociedades latino-americanas e faz parte do cotidiano das relações sociais:
Assim, apesar do colonialismo preceder a colonialidade, a colonialidade 
sobrevive ao colonialismo. Ela se mantém viva em textos didáticos, nos 
critérios para o bom trabalho acadêmico, na cultura, no sentido comum, na 
autoimagem dos povos, nas aspirações dos sujeitos e em muitos outros aspec-
tos de nossa experiência moderna. Neste sentido, respiramos a colonialidade 
na modernidade cotidianamente (MALDONADO-TORRES, 2007, p. 131).
É nessa perspectiva que as ciências sociais muitasvezes incorrem na 
reprodução da narrativa e das representações de uma perspectiva colonial 
entre a Europa e o resto do mundo. Nesse sentido, os chamados estudos 
7Sociologia do conhecimento
pós-coloniais produzem uma crítica às teorias e à sociologia (mais espe-
cificamente à macrossociologia da modernização), questionando a ideia 
de modernidade e propondo uma reinterpretação da história moderna. 
A modernidade é compreendida a partir de uma crítica às narrativas 
eurocêntricas.
Esses estudos não compõem uma única matriz teórica, mas sim um conjunto 
de reflexões com orientações distintas e contribuições que indicam um esforço 
na desconstrução dos essencialismos e uma referência epistemológica crítica 
às concepções dominantes de modernidade (COSTA, 2006).
O pensamento pós-colonial também surge a partir da identificação de 
uma relação antagônica por excelência, ou seja, do colonizado e do colo-
nizador (BALLESTRIN, 2013). Esta sendo não apenas um dado ou um 
apêndice da constituição do mundo moderno, mas sim a base de sua criação 
e consolidação.
Os estudos pós-coloniais (BALLESTRIN, 2013) possuem um estreito 
vínculo teórico com três escolas contemporâneas. A primeira consiste no 
pensamento pós-estruturalista, que destaca a importância e o caráter discur-
sivo do social. Em seguida, a ideia de pós-modernidade no que diz respeito à 
percepção do descentramento das narrativas e dos sujeitos contemporâneos. 
Posteriormente, os estudos culturais britânicos, principalmente o pensamento 
de Stuart Hall e o seu “[...] deslocamento das questões ligadas ao marxismo 
para temas como racismo, etnicidades gênero e identidade culturais [...]” 
(COSTA, 2006, p. 118).
O giro decolonial
Foi somente nos anos 90 que a América Latina ganha maior visibilidade no 
debate sobre colonialidade. Mignolo (2005) destaca o quanto a trajetória de 
resistência da América Latina está ocultada tanto nas ciências sociais tradicio-
nais como nos estudos subalternos. No fi nal da mesma década, foi constituído 
o Grupo Modernidade/Colonialidade (M/C) que, formado por intelectuais 
latino-americanos, realizou “[...] a radicalização do argumento pós-colonial no 
continente por meio da noção de giro decolonial [...]” (BALLESTRIN, 2013, 
p. 89), atualizando o pensamento crítico latino-americano e se debruçando 
sobre as especifi cidades contemporâneas e a permanência da colonialidade 
global a nível pessoal e coletivo.
O pensamento decolonial, segundo Mignolo (2005), rompe com o projeto 
pós-moderno e com o pensamento base do pós-colonialismo, propondo con-
tribuir em diversos eixos:
Sociologia do conhecimento8
Dentre as contribuições consistentes do grupo, estão as tentativas de marcar: 
(a) a narrativa original que resgata e insere a América Latina como o continente 
fundacional do colonialismo, e, portanto, da modernidade; (b) a importância da 
América Latina como primeiro laboratório de teste para o racismo a serviço do 
colonialismo; (c) o reconhecimento da diferença colonial, uma diferença mais 
difícil de identificação empírica na atualidade, mas que fundamenta algumas 
origens de outras diferenças; (d) a verificação da estrutura opressora do tripé 
colonialidade do poder, saber e ser como forma de denunciar e atualizar a 
continuidade da colonização e do imperialismo, mesmo findados os marcos 
históricos de ambos os processos; (e) a perspectiva decolonial, que fornece 
novos horizontes utópicos e radicais para o pensamento da libertação humana, 
em diálogo com a produção de conhecimento (BALLESTRIN, 2013, p. 110).
A opção pelo termo decolonial, em vez de descolonial, visa a marcar 
uma distinção com o significado de descolonizar em seu sentido clássico. 
A descolonização compreende a superação do colonialismo, que envolve as 
lutas políticas por independência das antigas colônias. Já a decolonialidade, na 
perspectiva desses autores, refere-se a um projeto mais profundo de transcender 
a colonialidade e subverter o padrão de poder colonial.
Ainda que essas questões em comum sejam apontadas, muitos autores dos 
estudos pós-coloniais e decoloniais não se aproximam ou não se aprofundam em 
uma discussão sobre o Brasil. A colonização portuguesa nos apresenta um país 
com um contexto muito específico perante os outros países da América Latina.
No entanto, muitos autores brasileiros apresentaram um pensamento bas-
tante semelhante à crítica pós-colonial, como Paulo Freyre ou Darcy Ribeiro, 
e muitos, ainda hoje, atuam no mesmo sentido, ainda que não se filiem ao 
grupo Modernidade e Decolonialidade. Segundo Reis e Andrade (2018), a 
execução do projeto decolonial envolve apropriar-se dos recursos utilizados 
pelo colonizador para construir um projeto educacional de fato emancipatório:
Similarmente, a fim de se colocar em prática o projeto decolonial, tornar-se-á 
necessário utilizar os aparatos educacionais, políticos e curriculares a fim 
de se proporcionar o direito à voz aos sujeitos subalternos, constituindo-os 
como seres epistemologicamente situados na práxis reflexiva da condição 
subalterna. Para tanto, tornar-se-á necessário um currículo educacional cuja 
pluriversalidade configure orientação teórico-metodológica na produção dos 
conhecimentos (REIS; ANDRADE, 2018, p. 7).
No Brasil, por exemplo, o pensamento decolonial orienta algumas práti-
cas de educação escolar indígena. Os projetos, liderados pelos movimentos 
indígenas, reivindicam a valorização de sua cultura também em termos epis-
temológicos. Ou seja, um modelo e um currículo educacional baseado em 
9Sociologia do conhecimento
suas próprias concepções de mundo, como, por exemplo, a consideração dos 
interesses coletivos em detrimento dos individuais e a visão não exploratória 
da natureza (REIS; ANDRADE, 2018).
Essas alternativas pedagógicas se opõem ao modelo de educação baseado 
no interculturalismo que predomina na América Latina. Esse termo é utilizado 
em políticas neoliberais que visam a uma integração que não transforma as 
estruturas coloniais de poder e ameniza os conflitos étnicos.
A descolonização intelectual é apresentada como passo fundamental para a 
descolonização do pensamento, um caminho para a emancipação dos povos su-
balternos. Nesse sentido, a produção do conhecimento atualmente envolve não 
só as narrativas coloniais, mas a própria revisão da base desse conhecimento.
Visite a página da AYA – Biblioteca Estudos Pós-Coloniais e Decoloniais. Acesse o link:
https://goo.gl/BypmWv
BALLESTRIN, Luciana. América Latina e o giro decolonial. Revista Brasileira de Ciência 
Política, Brasília, n. 11, p. 89-117, ago. 2013 .
COSTA, S. Desprovincializando a sociologia: a contribuição pós-colonial. Revista Brasileira 
de Ciências Social, São Paulo, v. 21, n. 60, p. 117-134, fev. 2006.
MALDONADO-TORRES, N. A topologia do ser e a geopolítica do conhecimento. Moder-
nidade, império e colonialidade. Revista Crítica de Ciências Sociais, v. 80, p. 71-114, 2008. 
MALDONADO-TORRES, N. Sobre la colonialidad del ser: contribuciones al desarrollo 
de un concepto. In: CASTRO-GÓMEZ, S.; GROSFOGUEL, R. (Org.). El giro decolonial: 
reflexiones para una diversidad epistémica más allá del capitalismo global. Bogotá: 
Universidad Javeriana, 2007. p. 127-167.
MANNHEIM, K. Ideologia e utopia. 4. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1982.
MIGNOLO, W. D. A colonialidade de cabo a rabo: o hemisfério ocidental no horizonte 
conceitual da modernidade. In: LANDER, E. (Org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo 
e ciências sociais: perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: [s.n.], 2005. p. 71-103.
Sociologia do conhecimento10
QUIJANO, A. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In: A LANDER, 
E. (Org.). Colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais: perspectivas latino-
-americanas. Buenos Aires? [s.n.], 2005. p. 227-278.
REALE, M. Introdução à filosofia. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
REIS, M. N.; ANDRADE, M. F. F. O pensamento decolonial: análise, desafios e perspectivas. 
Revista Espaço Acadêmico, Maringá, v. 17,n. 202, p. 1-11, mar. 2018.
RODRIGUES JÚNIOR, L. Karl Mannheim e os problemas epistemológicos da sociologia 
do conhecimento: é possível uma solução construtivista? Episteme, Porto Alegre, n. 
14, p. 115, jan./jul. 2002.
VIEIRA, C. E. Intelligentsia e intelectuais: sentidos, conceitos e possibilidades para a 
história intelectual. Revista Brasileira de História da Educação, Maringá, v. 8, n. 1 [16], p. 
63-85, 2008.
Leituras recomendadas
COSTA, S. Dois atlânticos: teoria social, anti-racismo, cosmopolitismo. Belo Horizonte: 
UFMG, 2006.
MALDONADO-TORRES, N. Transdisciplinaridade e decolonialidade. Sociedade e Estado, 
Brasília, v. 31, n. 1, p. 75-97, jan./abr. 2016.
MAZUCATO, T. Aspectos teóricos da sociologia do conhecimento de Karl Mannheim. São 
Carlos: Ideias, Intelectuais e Instituições–UFSCar, 2015.
SCHLEMER ALCANTARA, L. C.; CIOCE SAMPAIO, C. A. Bem viver: uma perspectiva (des)
colonial das comunidades indígenas. Revista RUP, v. 7, n. 2, p. 1-31, 2017.
11Sociologia do conhecimento
PORTFÓLIO
A sociologia do conhecimento tem como base um olhar crítico sobre a produção do 
conhecimento, questionando o que é dado como “natural” pela maioria dos indivíduos em 
suas interações sociais.
Você trabalha como professor de sociologia numa universidade e precisa apresentar aos 
seus alunos o debate sobre eurocentrismo e produção do conhecimento. Além da aula 
expositiva, seu plano de aula prevê a realização de uma atividade prática em que os alunos 
analisem livros didáticos de diversas épocas e identifiquem se neles há discursos de 
colonialidade.
Cite os procedimentos que você pode realizar para que a atividade alcance o seu objetivo. 
Indique exemplos práticos de como o eurocentrismo e a perspectiva colonialista se fazem 
presentes nos livros didáticos. 
PESQUISA
Filosofia e Sociologia em filmes - Jonatas Braga 
Acesse https://www.youtube.com/watch?v=nLw4Z1JNkQk e enriqueça seu 
conhecimento.
N

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