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253FRAGMENTOS DE CULTURA, Goiânia, v. 25, n. 2, p. 253-262, abr./jun. 2015.
AGRICULTURA FAMILIAR 
AMAZÔNICA: SISTEMA DE 
PRODUÇÃO - ILHA COMPOMPEMA - 
ABAETETUBA - PARÁ*
LEANDRA ROSE PALHETA DA SILVA**, JESSICA RODRIGUES 
DA SILVA***, FELIX LELLIS DA SILVA****, MARZANE PINTO
DE SOUZA*****
 
É preciso ao analista “portar-se como um artista que compra tin-
tas com o dinheiro da despesa da casa e queima seus móveis para 
aquecer a modelo. 
(Carta de 05 de Junho de 1910; Freud e Pfister, 1998)
O papel da agricultura familiar é de extrema importância no contexto da agricul-tura brasileira (HURTIENNE, 2005), observa-se que a agricultura familiar na Amazônia (SCHMITZ, 2007a) passou por algumas transformações como a 
politica de conscientização dos métodos utilizados na atividade agrícola, em que é possível 
observar que a maioria dos estabelecimentos da agricultura familiar da Amazônia é usada o 
sistema tradicional da agricultura, chamado de “sistema corte e queima” este é caracterizado 
como repercussões de prejuízos ambientais, por meio desse sistema que se caracteriza no 
uso continuo da terra que variam de 1 a 2 anos e logo em seguida estabele-se o método de 
pousio “Descanso da terra”, migrando para outra área (SCHMITZ, 2007b). 
Ao longo dos anos a agricultura familiar passou por grandes mudanças para adap-
ta-se ao novo sistema de equilíbrio entre atividade agrícola, necessidades econômicas, fatores 
Resumo: a pesquisa foi realizada na comunidade São João Batista na Ilha do rio Cam-
pompema - Abaetetuba. O objetivo deste trabalho é identificar os principais mecanismos da 
relação de trabalho e da dinâmica do sistema de produção, observando suas potencialidades 
e valores de mercado e produção, mostrando a dinâmica de produção do sistema e suas po-
tencialidades, e valores dentro das comunidades tradicionais.
Palavras-chave: Agricultura. Comunidade. Dinâmica e produção.
* Recebido em: 05.01.2015. Aprovado em: 23.02.2015.
** Graduanda de Agronomia no IFPA. Bolsista de extensão. E-mail: leandra_palheta@hotmail.com.
*** Graduanda de Aquicultura no IFPA. Bolsista de extensão. E-mail: jehsilva21@hotmail.com.
**** Professor no IFPA Castanhal. E-mail: lixlellis@yahoo.com.br.
***** Professora do IFPA Castanhal. E-mail: marzane_souza@yahoo.com.br.
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sociais e problemas ambientais, neste sentido, o modelo de desenvolvimento sustentável é o 
grande fator de transição de uma agricultura tradicional para agricultura transformadora, que 
propõe abranger as necessidades do homem no campo, proporcionando segurança alimentar 
para possíveis soluções do século, através da diversificação agrícola, realizando segurança am-
biental, preservando a natureza e inventando floresta de forma rentável sem consequências 
ambientais, melhorando as características físico-químicas do solo, sem comprometer a micro 
e macro fauna, e contribuindo para a permanência do homem no campo, através de uma 
economia favorável (WANDERLEY, 2000; VEIGA, 1996). 
A discursão da agricultura familiar na Amazônia pode ser pensada a partir de como 
as unidades familiares são compreendidas, por meio do funcionamento agrícola familiar re-
lacionados com as questões agroambientais abrangendo o modelo de desenvolvimento sus-
tentável, analisando as principais vantagens e desvantagens para ter acesso a dinâmica da 
propriedade e de como estar se relacionando com os fatores sociais. De acordo com Veiga 
(1996d) e Schneider (2006), a agricultura familiar e agricultura sustentável como um meca-
nismo que acompanha as pressões capitalistas, nesse contexto, a agricultura familiar acompa-
nha as pressões sociais por alimentos saudáveis e respeito à natureza, tendo que promover a 
produção de alimentos em alta e escala mundial e com qualidade, no âmbito agronômico essa 
repercussão para a agricultura familiar concentra nos esforços dos movimentos de agricultura 
“alternativa orgânico, biodinâmico, natural e biológico” na busca de soluções mais sustentá-
veis, apresentados como fator de transição para agricultura familiar sustentável na Amazônia. 
Esse fator de transição pode-se ser observado por meio de uma pratica que tem repercutido 
como recurso favorável para atividade agrícola familiar, que pode ser expressa por meio do 
sistema agroflorestal. 
Para Buainain, Romeiro e Guanziroli (2003), a agricultura familiar é uma atividade 
extremamente heterógena que vem se transformando e adaptando conforme as necessidades 
da sociedade e a capacidade de produção, essa diferença estar relacionada com a disponi-
bilidade de recursos, acesso ao mercado, capacidade de geração de renda, diversificação de 
produção normalmente estar relacionada com a região, com relação ao tamanho de área das 
propriedades familiares o tamanho médio é de 17 ha. 
As formas de trabalho vieram se transformando ao longo do tempo e na área rural 
não foi diferente e tais transformações se deram por meio das relações sociais, políticas 
e econômicas nos últimos anos (OLIVEIRA, 2009). Agricultura Familiar se destaca por 
assumir a questão de que nos estabelecimentos agrícolas familiares, o sistema de produção 
caracteriza-se no trabalho desenvolvido na terra, em que é realizado pela família, desse modo 
pode-se ressaltar que esta produção esteja voltada para as necessidades internas da propriedade 
e do grupo familiar. Nessa forma de organização do trabalho e desenvolvimento da produção 
as atividades agrícolas podem ou não coincidir com as atividades não agrícolas, apresentados 
através do artesanato, do comercio entre outras (SCHNEIDER, 2008). 
Para Becker (2001, p.136), o processo ocupacional vivenciado na região Amazônica 
de modo inicial foi um modelo predominantemente com características exógenas, em que o 
processo foi sustentado a partir de elevadas taxas de investimentos do setor público voltados a 
estruturar a região por meio de investimentos em infraestrutura. E que a curto, médio e longo 
prazo gerou em enormes problemas e conflitos territoriais.
A questão territorial na Amazônia ao longo do tempo tem sofrido algumas mudanças, 
principalmente na relação do homem e o meio biofísico. Para Costa e Richetti (2010), as as 
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mudanças recentes ocorridas em relação sociedade e natureza, são provenientes da forma como 
o homem começa a reavaliar sua visão sobre o meio ambiente. Afirmam ainda que;
[...] as relações sociais também se modificam, pois não têm como pensar o social e o natural como 
processos isolados, uma vez que é a sociedade que produz modelos de relação sociedade-natureza 
e, pelo mesmo lado, também produz modelos de relação sociedade-sociedade (RICHETTI, 2010, 
p. 20). 
As relações atuais entre homem e natureza devem fortalecer e nortear programas e 
políticas públicas ambientais voltadas a promover o desenvolvimento sustentável, a partir de 
geração de emprego e renda, de modo, a conter o avanço da degradação ambiental vigente, 
e favorecida historicamente por políticas públicas ineficientes para a região. O desenvolvi-
mento sustentável é compreendido na observação com a pratica realizada por meio do uso 
dos recursos da floresta e dos cursos d’água estão, portanto, presentes nos seus modos de 
vida. Nos últimos anos com a abordagem sobre a importância da agricultura familiar no de-
senvolvimento da sociedade brasileira esta passou a ser vista como uma forma de geração de 
empregos e ocupações produtivas tendo como consequência a fixação do homem no campo 
(MESQUITA; MENDES, 2012). 
De acordo com Schneider (2008), a agricultura familiar nacional por ser aquela que 
possui uma determinada área de extensão pequena comparada com a agricultura patronal de 
caráter empresarial, e que a principal fonte de renda se dá por meio da agricultura e a gestão 
da propriedade dos membros da família assim como a mão de obra utilizada, sendo que se 
caso necessário existe a contratação de mão de obra de terceirosde forma a complementar 
para desempenhar as atividades temporárias da propriedade.
Neste sentido, a própria população estabelece uma conexão entre a relação com a 
política pública fortalecendo os mecanismos que podem beneficiar a questão social dentro do 
território. Com isso, os sujeitos sociais, se fortalecem a partir dos movimentos sociais, organi-
zados por ambos, através de associações, cooperativas e grupos ligados à religião.
OBJETIVO
O objetivo desse trabalho é abordar uma discursão acerca da agricultura familiar 
na Amazônia, enfatizando a principal relação com o meio biofísico e suas potencialidades, 
e valores de mercado, produção e desenvolvimento de atividades, mostrando a dinâmica de 
produção do sistema. 
METODOLOGIA 
A pesquisa desenvolvida foi realizada na comunidade São João Batista na Ilha de 
Campompema, no município de Abaetetuba pertence à mesorregião do Nordeste Paraense, 
possuindo coordenadas geográficas de 01º 43’ 24”de latitude Sul e 48º 52’ 54” de longitude a 
Oeste. Ocupa uma área de 1.610,74 km² e conta com uma população de 139.819 habitantes, 
localizando-se a 120 km da capital, Belém (IBGE, 2007). Neste município inclui 72 ilhas, 
situadas na confluência do rio Tocantins com o rio Pará, no estuário do rio Amazonas, onde 
vivem 35.000 habitantes, denominados de ‘moradores das ilhas’ ou ‘ribeirinhos’. Apresenta 
uma forte relação com o meio natural, o modo de vida depende da acessibilidade fluvial, da 
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pesca artesanal, pesca extrativista do camarão, produção artesanal de matapi e produção de 
açaí nativo.
Os questionários utilizados foram subdivididos em duas partes: a primeira visa 
abordar as questões econômicas envolvidas no processo de produção, a segunda foi estrutura-
da de forma a permitir o entendimento sobre a dinâmica e a caracterização da produção e dos 
custos de produção (processo de manejo da área e variação de preço quanto ao escoamento 
da produção por rasas), retornos sociais (melhoria da qualidade de vida dos produtores) e 
características ambientais a partir do uso da terra e contou com o apoio dos entrevistados, 24 
produtores, relacionados à agricultura familiar da produção de açaí.
DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA
Caracterização da Área de Estudo – Ilha Campompema
Nos últimos anos com a abordagem sobre a importância da agricultura familiar no 
desenvolvimento da sociedade brasileira esta passou a ser vista como uma forma de geração 
de empregos e ocupações produtivas tendo como consequência a fixação do homem no cam-
po (MESQUITA; MENDES, 2012). A relação do agricultor com o meio ambiente da UPF 
evidencia a preocupação em manter estes recursos dentro do processo cíclico de renovação, 
de modo a garantir vantagens sociais a partir da exploração sustentável, fato que conduz a 
família agir com o foco na preservação ambiental, voltado as premissas do desenvolvimento 
sustentável.
Outro aspecto relevante na relação grupo social e natureza são as relações de traba-
lho e os diferentes processos de socialização que estão presentes na interação da família com a 
comunidade, estes desenvolvem mecanismos de trabalhos para facilitar a atividade desenvol-
vida, bem como ampliando os recursos, tanto natural quanto social e econômico.
A forma de organização de trabalho, por meio de mão de obra vinculada as relações 
de parentesco também são percebidas na organização dos mutirões - são reuniões de membros 
das famílias que desenvolvem a mão-de-obra, dentro da UPF o sistema é realizado durante o 
período de manejo da área do açaí, principalmente durante o período de roçagem e realização 
de construções e manutenção dos sistemas produtivos da família e da comunidade.
A COMUNIDADE SÃO JOÃO BATISTA
A comunidade é pertencente à ilha Campompema no município de Abaetetuba, 
cuja principal fonte de trabalho e renda é o comércio, além da agricultura, da pecuária e do 
extrativismo, notadamente de madeira, fibras, palmito e frutos de açaí e miriti (IBGE, 2007). 
Esta comunidade ribeirinha caracteriza-se pela população que vive as margens dos rios, esta 
possui uma relação extremamente forte com a água e com o ambiente que vivem nas ilhas, 
este grupo social se organiza de acordo com suas necessidades e se fortalecem nas organizações 
sociais existentes.
Neste contexto, de ocupação territorial da ilha, têm-se uma problemática em re-
lação à regularização da área, onde esta a principio encontrava-se irregular fundiariamente, 
tornando-se uma localidade sem adoção de politicas publicas. Segundo o Pro Várzea (IBA-
MA, 2005, p.18) os moradores das comunidades da várzea querem a posse da terra garantida, 
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nos depoimentos de alguns deles, fica claro que, havendo direitos seguros de uso da terra e 
acesso a recursos naturais, há o encorajamento para investimento de longo prazo por parte das 
famílias, ou seja, os meios de vida que dependem dos recursos naturais precisam de direitos 
seguros de uso da terra para terem sustentabilidade, ou melhor, serem preservados.
A economia familiar da população ribeirinha da Amazônia, voltada à pesca e a 
produção de açaí, tem demonstrado significativa contribuição na economia local, no entan-
to, ainda se observa a falta de políticas públicas voltadas a fomentar os processos produtivos 
nessas regiões, voltados a gerar renda e promover a dignidade social das famílias envolvidas. 
Nesta região é relevante destacar o manejo ambiental do açaí, o qual devido às condições eda-
foclimáticas, o mesmo que confere uma significativa produção na safra que ocorre no inicio 
de junho a novembro garantindo boa rentabilidade econômica.
De acordo com Correa e Pinheiro (2010), o acesso a essas políticas públicas fez-se 
pioneira na ilha Campompema, localizada no rio Pará, acerca de trinta minutos de barco da 
cidade de Abaetetuba, através do projeto de assentamento São João Batista, que possui ca-
racterísticas peculiares, primeiramente por estar implantado em uma ilha fluvial e, também, 
por abrigar exclusivamente ribeirinhos da região. A base econômica desses ribeirinhos está 
centrada na atividade pesqueira e na extração do açaí e do “miriti”, comercializados na cidade 
de Abaetetuba.
Ainda presente neste discurso sobre o processo de ocupação, (Correa e Pinheiro, 
2010), fortalece que a respeito da atuação de órgãos governamentais em prol da consolida-
ção de políticas públicas viáveis para esta área assentada, onde mostra que em 2004, o Ins-
tituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) do Pará, juntamente com a Secretaria 
de Patrimônio da União (SPU) e com o movimento dos ribeirinhos do município paraense 
de Abaetetuba, criaram os dois primeiros Projetos de Assentamento Agroextrativistas (PAEs) 
em duas ilhas de Abaetetuba (Campompema e Jurumã).
Encontra-se explícita a preocupação que o representante da familiar possui com 
os recursos naturais, onde este é apontado como fator primordial de sustento da família, e 
dentro desta perspectiva preocupa-se em praticar a educação ambiental, por meio da coleta 
seletiva do lixo evitando a poluição dos rios; não despeja dejetos nos rios, por isso optou em 
construir uma forma rudimentar de estrutura resistente (Alvenaria); deixa necessária a presen-
ça de área de preservação, assim objetiva tornar possível o uso de recursos naturais inesgotável, 
através de atitude sustentáveis. 
Na Ilha de Campompema, existe uma diversificação no sistema de produção da 
família da Unidade Produtiva Familiar - UPF, onde é possível observar que a interação dos 
subsistemas se estabelece conforme a necessidade do manejo e com a preocupação da manu-
tenção das áreas apropriadas para a produção, onde é tudo organizado para apropriação do 
espaço visando à sustentabilidade da família. 
DINÂMICA DO SISTEMA DE PRODUÇÃO EM ÁREA DE VÁRZEA 
Produção do Matapi
O matapi é uma fonte de renda que é utilizada principalmente no inverno em que 
a que o açaí encontra-sena entressafra e sua produção não está em quantidade suficiente 
para a comercialização, este produto é utilizado para a captura do camarão e principalmente 
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tem como objetivo a sua comercialização, segundo informações do dono da propriedade o 
material utilizado para a produção do matapi são as talas retiradas de uma palmeira chamada 
Jupati (Raphiavinifera P. Beauv.) estas talas são compradas, pois não existe na propriedade, 
mas foi afirmado que mesmo que tivesse ainda continuaria comprando as talas, pois o traba-
lho que se tem ate conseguir o material é muito grande e ele acha mais acessível a compra. 
Em média é comprado um (01) milheiro por um preço de R$ 100,00 reais e através deste é 
produzido 110 matapi em que é fabricado em média 15 por dia. 
PISCICULTURA E PESCA ARTESANAL
Dentro da UPF é possível a pesca artesanal e a pesca estabelecida entre os pes-
cadores, com instrumento de gestão dos recursos pesqueiros na ilha de Campompema. 
Além dessas alternativas, a família possui em sua propriedade um sistema de piscicultu-
ra, com criação de peixes e camarão. De acordo com o proprietário da UPF, a criação 
de peixes em tanque escavado é uma atividade rentável e além desse aspecto fortalece a 
complementação na alimentação familiar,tilápia (Oreochromisniloticus), o curimatá (Pro-
chilodusscrofa, P.) e o camarão comum (camarão amazônico), são as espécies que cultiva 
no tanque, típico da região.
A pesca artesanal é um tipo de pesca caracterizada principalmente pela mão-de-obra 
familiar, com embarcações de porte pequeno, como canoas ou jangadas, ou ainda sem embar-
cações, como na captura de moluscos perto da costa. Sua área de atuação está nas proximida-
des da costa e nos rios e lagos. O camarão é o principal marisco capturado pela família, que 
contribui para a renda familiar, o tipo de material utilizado para a captura é o matapi. 
É importante ressaltar o conhecimento das políticas publicas existentes na comuni-
dade presente na realidade da família, onde o seguro defeso é uma delas, a pratica de defeso 
é o período em que a captura de uma determinada espécie é proibida, normalmente este 
determinado período é em torno da reprodução da espécie possibilitando assim maior esti-
mativa de proliferação da espécie, o defeso não é a única medida de controle a pesca ilegal 
até porque o funcionamento desta prática estar atrelado a uma rigorosa fiscalização de órgãos 
competentes, também medidas como a criação de Unidades de Conservação Marinhas aju-
dam a controlar este objetivo. Atividade da pesca atrelada a questão da assistência técnica em 
populações ribeirinhas é necessário que se tenha políticas publicas voltados para comunidades 
tradicionais de pesca, políticas efetivas no âmbito da atividade pesqueira com o objetivo de 
incentivar o pescador a atividade pesqueira correta, alcançando a conscientização da con-
servação da fauna marinha e preservação da biodiversidade, uma vez que esta atividade seja 
consolidada de forma trágica sem respeitar épocas amenas e tolerantes a pesca.
A grande questão é alcançar a mentalidade do aquicultor familiar de forma coesa, 
dentro de parâmetros de assistência técnica, tornando seu trabalho apto às condições e limites 
ambientais. As comunidades ribeirinhas são comunidades que exercem papel importante na 
aquicultura familiar da atividade de pesca, esta contribui abundantemente para a geração de 
renda familiar e nacional, mas também em problemáticas estruturais, como a pesca incorreta.
A piscicultura familiar envolve as relações sociais e de trabalho que são observadas a 
partir do modo como estão organizados. Segundo Santos (2005) em relação à pesca artesanal, 
é realizada de acordo com as condições estruturais do pescador da aquicultura familiar, onde 
apresenta as funções de armazenamento são executadas pelo próprio pescador que, armazena 
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somente pescado em recipientes com gelo e/ou, em menor proporção, efetua a salga do pro-
duto para posterior consumo e/ou comercialização.
RECURSOS NATURAIS E SOCIAIS NOS ESTABELECIMENTOS: 
SUSTENTABILIDADE DO SISTEMA PRODUTIVO
O sistema de produção na concepção de um sistema agro - florestal tradicional, 
os quais são desenvolvidos por comunidades tradicionais indígenas e ribeirinhas para fins 
principalmente de autoconsumo. As características principais deste sistema são o emprego de 
mão de obra familiar e de vizinhos, inclui reduzido ou nenhum uso de insumos e material 
convencional (implementos e máquinas). 
Baseado nas concepções do (IPAM, 2013), podem-se entender sistemas agroflores-
tais como formas de uso e manejo da terra, nas quais árvores ou arbustos são utilizados em 
conjunto com a agricultura e/ou com animais numa mesma área, de maneira simultânea ou 
numa sequência de tempo. Nesta perspectiva o sistema agroflorestal caracteriza-se por incluir 
pelo menos uma espécie florestal arbórea ou arbustiva, a qual pode ser combinada com uma 
ou mais espécies agrícolas e/ou animais, isso porque esta espécie florestal fornece produtos 
úteis ao produtor, além de preencher um papel importante na manutenção da fertilidade dos 
solos como ocorre com os açaizais da Ilha de Campompema.
Os Sistemas Agroflorestais (SAF) são sistemas de produção viável para a natureza, 
tornam-se modelos de sustentabilidade. Na unidade produtiva familiar do estagio, o pro-
prietário implantou como principal cultura o açaí, pois esta palmeira como a imitação da 
cobertura vegetal da floresta é mais um elemento para diversificação produtiva. Esta perspec-
tiva favorece a recuperação da produtividade de solos degradados através de espécies arbóreas 
implantadas, que adubam naturalmente o solo, reduzindo a utilização de insumos externos e, 
com isso, os custos de produção e aumentando a eficiência econômica da unidade produtiva. 
Além disso, a maior diversificação representa mais produtos comercializáveis, favorecendo 
uma geração de trabalho e renda mais equilibrada no tempo e no espaço.
Neste contexto, a partir de uma visão sistêmica da propriedade rural e do am-
biente na qual ela encontra-se inserida, buscamos relacionar a compreensão sobre a teoria 
relacionada à prática que possibilite o exercício sobre o funcionamento do estabelecimen-
to agrícola familiar. Para Matos (2012), na região Amazônica, os SAFs representam uma 
opção estratégica para os pequenos produtores, principalmente pela baixa demanda de 
insumos, pelo aproveitamento intensivo da mão de obra familiar e pelo maior rendimen-
to por unidade de área em comparação com sistemas convencionais de produção, nesta 
perspectiva os sistemas agroflorestais são alternativas relevantes para a produção agrícola, 
enquanto proporcionam a recuperação do ambiente, melhorando os atributos do solo e a 
vegetação existente.
O sistema agroflorestal na área de várzea, dentro da UPF é visto como um consorcio 
em 07 hectares, a principal cultura é o açaí e as demais são alternativa para autoconsumo e 
produção de insumos, como adubação orgânica. A distribuição das espécies florestais, dispen-
sando a implementação de técnicas mais elaboradas como espaçamento e fileiras direcionadas, 
obedecendo apenas o objetivo de complementação. Desta forma, o SAFs estão relacionados 
principalmente à questão de uma alternativa sustentável que viabiliza sua produção de açaí 
orgânica, que dispensa o uso de adubação sintética, não necessita de quantidade significativa 
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de mão de obra, e na Ilha de Campompema, os ribeiros tem sua própria alternativa para es-
coar a produção, através da cooperativa local.
O fortalecimento deste grupo social é por meio da gestão dos recursos naturais e 
através deste caracteriza-se diversificação de recursos do meio biofísico utilizado, onde os 
sistemas inicialmente foram planejados para garantira subsistência da família - segurança 
alimentar, e atualmente utiliza-se como meio de preservação destes recursos utilizados, como 
é possível visualizar a produção do manejo ambiental, dispensando o uso do fogo, realizando 
reflorestamento para manter a riqueza da diversidade e a questão nutricional do solo, prote-
ção de mananciais, proteção do solo contra erosão, sem que haja retirada da mata ciliar, todos 
esses fatores em prol do aumento da biodiversidade. Para Van de Plug (2000), quanto mais 
o sistema é integrado, mais se torna sustentável estando ligado ao uso dos recursos naturais 
com o manejo desenvolvido pelo homem, em que compreendemos que dentro da UPF essa 
interação é possível por que abrange a concepção de sustentabilidade. 
MANEJO E PRODUÇÃO EXTRATIVISTA DO AÇAÍ
A produção de açaí orgânico manejado encontra-se dentro de um modelo extrati-
vista chamado neoextrativista, onde este se torna a nova alternativa de encaixar o extrativis-
mo a partir da adoção de técnicas, como é realizado na propriedade familiar onde o estagio 
acontece, a produção do açaí torna-se manejado para favorecer o aumento da produtividade 
e melhorar a forma de trabalho ribeirinha, onde é relatado durante o estagio, que o açaí ma-
nejado diminuiu os acidentes com a colheita do açaí, em função de que este não desenvolve 
palmeiras altas e finas, o que provocavam muitos acidentes de trabalho (FABRÉ, RIBEIRO, 
2003; PEREIRA, 2005). O açaí manejado torna-se uma alternativa sustentável para a UPF 
onde se faz necessário ao aproveito dos recursos naturais, conservação do meio biofísico, para 
fortalecimento da relação que a família possui com a natureza, voltada para a produção de 
açaí orgânico visando também à segurança alimentar e desenvolvendo atividades alternativas 
para a sobrevivência. Assim, o estagio supervisionado contribui para que reflexões teóricas e 
práticas sobre sistemas agroflorestal e quintal florestal, podendo analisar a possibilidade de 
qual modelo se faz viável para UPF.
Devido à necessidade de maior produção voltada a suprir a demanda do mercado 
pelo fruto e pelo subproduto o palmito, assim os plantios de açaí da área de várzea de Aba-
etetuba vem adquirindo diferentes formas de manejo, como, retiradas de espécies sem valor 
econômico, excesso de plantas e retirada de algumas espécies apenas para facilitar a circulação 
das pessoas, porém ocorre o manejo em que não se retira nenhuma espécie (AZEVEDO apud 
GROSSMANN, 2004). No açaizal da propriedade é realizado um manejo moderado e entre 
as técnicas utilizadas para realizar essa atividade está:
Quanto à forma de comercialização, depende da época, pois no inicio da safra 
como a produção ainda está baixa e esta não é repassada para a Cooperativa dos fruticultores 
de Abaetetuba (COFRUTA) é comercializada na feira da cidade, ao chegar ao pique da safra 
e consequentemente o aumento da produção a comercialização se da na feira e também é 
repassada para a COFRUTA. O meio de transporte utilizado é a rabeta, pois além de possuir 
uma velocidade elevada e um tamanho mais apropriado. Dependendo da época, como inicio 
da safra, pique da safra, entressafra e final da safra, existe uma variação nos preços que podem 
serem representados por início, pique e fim da safra. 
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Constata-se que a população ribeirinha desenvolve técnicas produtivas tradicionais 
integradas aos saberes técnicos e científicos a partir dos saberes construídos nas relações com a 
práticas cotidianas, garantindo a sustentabilidade da unidade produtiva familiar. Pode-se que 
a população ribeirinha desenvolve uma relação peculiar entre seu modo de vida e a natureza, 
garantindo a manutenção e preservação dos recursos naturais, e vem desenvolvendo ao longo 
do tempo tecnologias sem agressão ao meio biofísico. Onde os sistemas de produção adotados 
são diversificados e consorciados, de modo garantir o uso otimizado da unidade produtiva 
familiar, e mesmo tempo venha satisfazer as premissas do desenvolvimento sustentável.
Esta pesquisa evidencia que a produção do açaí extrativista manejado é considerada 
rentável para a agricultura familiar e ainda neste resultado mostra sua importância na contribuição 
do agronegócio brasileiro, onde seu processo produtivo é forte gerador, seja no nível de produção, 
produtividade, oscilação de preço e a comercialização. O desenvolvimento do sistema produtivo 
deve ocorrer de forma que os agentes envolvidos procurem solidificar suas práticas atrelando-as 
a estruturas de cooperação e de governança eficientes, de modo a viabilizar agregação de ren-
da, desenvolvimento sócio local e inserção social. Neste contexto, a relação de trabalho que estes 
agricultores desenvolvem a partir deste estudo conclui-se que a agricultura familiar tem grande 
importância para a contribuição à produção de açaí, produção artesanal e na área de fruticultura, 
pois, além de garantir o autossustento das famílias, em sua maioria, é capaz também de gerar valor. 
A importância da execução de atividades relacionadas com sistemas agroflorestal 
estar intimamente ligados com o processo de transição agroecológico que consiste na introdu-
ção de novas práticas, mais respeitosas com o ambiente, em sintonia com o novo paradigma 
da sustentabilidade e o desenvolvimento sustentável (COSTABEBER; MOYANO, 2000). 
AMAZONIAN FAMILY AGRICULTURE: SYSTEM OF PRODUCTION 
IN THE CAMPOMPEMA ISLAND, MUNICIPALITY OF ABAETETUBA, 
STATE OF PARÁ
Abstract: the research was conducted in the community St John the Baptist in Island in the river 
Campompema - Abaetetuba. The objective of this work is to identify the main mechanisms of the 
relationship of work and of the dynamics of the production system, noting its potential and market 
values and production, showing the dynamics of the production system and its potential, and va-
lues within the traditional communities.
Keywords: Agriculture. Community dynamics and production.
Referências
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beirinhos das Ilhas de Paquetá e Ilha Grande, Belém, Pará. In: CONGRESSO BRASILEIRO 
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BATISTA, V.S.; FABRÉ, N. N. A pesca e o peixe na várzea: espaços, conflitos e conservação. 2003.
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