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Prof. Odair Dias UNIDADE II Política Setorial - Habitação A Lei de Terras de 1850 ordena a estrutura fundiária por meio da compra e venda e confirma o poder político dos proprietários de terra, e sua relação com o fim da escravidão em 1888 e com a emergência do trabalho livre, demarcam mudanças na sociedade brasileira para o evento da urbanização. Trata-se de uma colonização processada por meio das sesmarias e das capitanias hereditárias, que definiram formas de apropriação da terra e influíram na consolidação do capitalismo brasileiro, principalmente em termos de um patrimonialismo que privatiza a terra, seja no campo, seja na cidade. Recordando Estrutura fundiária – originou-se do latim fundus, "fazenda, bens de raiz" ou estrutura agrária (do latim agrariu); é a forma como o recurso terra se divide em propriedades, de acordo com o processo histórico da área analisada e também com as leis da propriedade ditadas pelo Estado. Urbanização – é o processo de afastamento das características rurais de um lugar ou região, para características urbanas. Geralmente, está associado ao desenvolvimento da civilização e da tecnologia. Sesmarias – origina-se de sesma, derivada do latim sexĭma, ou seja, "sexta parte“, foi um instituto jurídico português que normatizava a distribuição de terras destinadas à produção agrícola. A principal função do sistema de sesmarias é estimular a produção e isso era patente no seu estatuto jurídico. Conceitos As Capitanias Hereditárias foram um sistema de administração territorial criado pelo rei de Portugal, D. João III, em 1534. Esse sistema consistia em dividir o território brasileiro em grandes faixas e entregar a administração para particulares (principalmente nobres com relações com a Coroa Portuguesa). Desigualdade social é um conceito que afeta principalmente os países não desenvolvidos e subdesenvolvidos, em que não há um equilíbrio no padrão de vida dos seus habitantes, seja no âmbito econômico, educacional, profissional, de gênero, entre outros. Questão social é a expressão da distribuição desigual das atividades humanas na organização socioespacial do processo de produção e reprodução do capital e é também forma de resistência e de luta entre as classes sociais que compõem a estrutura social no contexto das cidades. Conceitos Espaço urbano é o conjunto de diferentes usos da terra justapostos entre si. Esse conjunto de usos da terra é a organização espacial da cidade ou simplesmente o espaço urbano fragmentado. Outra característica econômica da zona rural é o ecoturismo, também chamado de turismo rural. A segregação urbana – também chamada segregação socioespacial – refere-se à periferização ou marginalização de determinadas pessoas ou grupos sociais por fatores econômicos, culturais, históricos e até raciais, no espaço das cidades. Conceitos A Lei n. 11.124, de 16 de junho de 2005, dispõe sobre o Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social – SNHIS, cria o Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social – FNHIS e institui o Conselho Gestor do FNHIS. O Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social (SNHIS) tem como objetivo principal implementar políticas e programas que promovam o acesso à moradia digna para a população de baixa renda, que compõe a quase totalidade do déficit habitacional do País. Além disso, esse Sistema centraliza todos os programas e os projetos destinados à habitação de interesse social, sendo integrado pelos seguintes órgãos e entidades: Ministério das Cidades, Conselho Gestor do Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social, Caixa Econômica Federal, Conselho das Cidades, Conselhos, Órgãos e Instituições da Administração Pública direta e indireta dos Estados, Distrito Federal e Municípios, relacionados às questões urbanas e habitacionais, entidades privadas que desempenham atividades na área habitacional e agentes financeiros autorizados pelo Conselho Monetário Nacional (MDR,2020). Diretrizes Gerais da Política Urbana (Lei n. 11.124, de 16 de junho de 2005) A Lei n. 11.124 também instituiu o Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social – FNHIS, que em 2006 centraliza os recursos orçamentários dos programas de Urbanização de Assentamentos Subnormais e de Habitação de Interesse Social, inseridos no SNHIS. O Fundo é composto por recursos do Orçamento Geral da União, do Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Social – FAS, dotações, recursos de empréstimos externos e internos, contribuições e doações de pessoas físicas ou jurídicas, entidades e organismos de cooperação nacionais ou internacionais e receitas de operações realizadas com recursos do FNHIS. O que é FNHIS? O SNHIS surgiu de um projeto de lei de iniciativa popular apresentado ao Congresso Nacional em 1992, com mais de um milhão de assinaturas, as quais foram recolhidas com o apoio das Comunidades Eclesiais de Base, ligadas, principalmente, à Igreja Católica. Esse foi um dos quatro projetos de iniciativa popular que se tornou lei desde que a Constituição de 1988 reservou ao povo brasileiro a prerrogativa de propor novas leis. Esse projeto de lei de iniciativa popular foi elaborado com o auxílio do Fórum Nacional de Reforma Urbana, com o objetivo de criar um fundo público para o atendimento das demandas por moradia popular. A ementa original do Projeto de Lei n. 2.710, de 1992, estabelecia a criação do Fundo Nacional de Moradia Popular e o Conselho Nacional de Moradia Popular, além de outras providências. A redação final propôs alterações ao projeto, e a nova ementa passou a dispor sobre o Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social, a criação do Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social (FNHIS) e seu conselho gestor. Após 13 anos de tramitação e muitos embates ideológicos, a Lei n. 11.124, de 16 de junho de 2005, foi sancionada e publicada no Diário Oficial da União (DOU). Complete a afirmação: A _____________ ordena a estrutura fundiária por meio da compra e da venda e confirma o poder político dos proprietários de terra e sua relação com o fim da escravidão em 1888 e com a emergência do trabalho livre, demarca mudanças na sociedade brasileira para o evento da urbanização. a) Lei dos cortiços, 1854. b) Lei de zoneamento, 1995. c) Lei de Terras, 1850. d) Estatuto da cidade, 2004. e) Lei do ventre livre, 1871. Interatividade Complete a afirmação: A _____________ ordena a estrutura fundiária por meio da compra e da venda e confirma o poder político dos proprietários de terra e sua relação com o fim da escravidão em 1888 e com a emergência do trabalho livre, demarca mudanças na sociedade brasileira para o evento da urbanização. a) Lei dos cortiços, 1854. b) Lei de zoneamento, 1995. c) Lei de Terras, 1850. d) Estatuto da cidade, 2004. e) Lei do ventre livre, 1871. Resposta Na perspectiva de retomada dos principais instrumentos para o planejamento do setor habitacional, o MCidades coordenou a elaboração da Política Nacional de Habitação. A PNH contou com a contribuição de amplos setores sociais e foi aprovada pelo Conselho das Cidades, em dezembro de 2004. Para a sua implementação, a Política Nacional de Habitação conta com um conjunto de instrumentos, sendo o principal deles: o Sistema Nacional de Habitação – SNH. O SNH se divide em dois subsistemas: o Sistema Nacional de Mercado e o Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social (SNH,2004). Política de Habitação de Interesse Social e o Programa Minha Casa Minha Vida O Sistema Nacional de Mercado é composto por uma rede de agentes públicos e privados de produção e de financiamento imobiliário sujeitos às dinâmicas de mercado e às regulamentações específicas. O principal objetivo do Sistema Nacional de Mercado consiste em intensificar e diversificar a participação dos agentes privados, no sentido de promover a expansão da oferta de imóveis e crédito para a populaçãocom capacidade de arcar com financiamento imobiliário (SNH, 2004). O Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social – SNHIS é voltado prioritariamente para ações de promoção de moradia digna para a população de baixa renda. Seu principal objetivo é equacionar o problema do déficit habitacional, por meio de programas e ações que invistam na melhoria das condições de habitabilidade. I – viabilizar para a população de menor renda o acesso à terra urbanizada e à habitação digna e sustentável; II – implementar políticas e programas de investimentos e subsídios, promovendo e viabilizando o acesso à habitação voltada à população de menor renda; e III – articular, compatibilizar, acompanhar e apoiar a atuação das instituições e órgãos que desempenham funções no setor da habitação. Art. 3º O SNHIS centralizará todos os programas e projetos destinados à habitação de interesse social, observada a legislação específica. É importante compreender que cada legislação possui também seus princípios, assim como traz a Lei: Art. 4º A estruturação, a organização e a atuação do SNHIS devem observar: I – os seguintes princípios: a) compatibilidade e integração das políticas habitacionais federal, estadual, do Distrito Federal e municipal, bem como das demais políticas setoriais de desenvolvimento urbano, ambientais e de inclusão social; b) moradia digna como direito e vetor de inclusão social; c) democratização, descentralização, controle social e transparência dos procedimentos decisórios; d) função social da propriedade urbana visando a garantir atuação direcionada a coibir a especulação imobiliária e permitir o acesso à terra urbana e ao pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade; Princípios a) prioridade para planos, programas e projetos habitacionais para a população de menor renda, articulados no âmbito federal, estadual, do Distrito Federal e municipal; b) utilização prioritária de incentivo ao aproveitamento de áreas dotadas de infraestrutura não utilizadas ou subutilizadas, inseridas na malha urbana; c) utilização prioritária de terrenos de propriedade do Poder Público para a implantação de projetos habitacionais de interesse social; d) sustentabilidade econômica, financeira e social dos programas e projetos implementados; e) incentivo à implementação dos diversos institutos jurídicos que regulamentam o acesso à moradia. Quanto às diretrizes da referente Lei, temos: Conforme mostrado ao lado pelas pesquisas PNAD (Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios, 2019), o novo teto do problema foi atingido em 2017, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) mais recente. Compreender o déficit nacional é recorrer à história, ainda que não se aprenda com ela. Na cidade de São Paulo (SP), entre os anos 2000 e 2010, o IBGE aponta que a população cresceu 12,3%; enquanto o número de brasileiros vivendo em favelas subiu 70%. Entre 2008 e 2017, o salário-mínimo variou 60%, enquanto os valores de aluguéis tiveram 100% de reajuste e os imóveis foram valorizados em 230%. Isso nos assegura que a maioria dos brasileiros não possuem renda para casa própria ou dividem o mesmo teto com várias pessoas da família, conhecidos etc.; pois não possuem condições econômicas de alugar um imóvel próprio. Gráfico a partir de dados da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios, 2019. Habitação precária Ônus excessivo com aluguel Adensamento excessivo Coabitação familiar NÚMEROS Diferentes da pobreza extrema imaginada, o déficit maior é entre famílias que vivem de aluguel e ganha até 3 salários mínimos Tipo Renda familiar O termo déficit habitacional é utilizado para se referir ao número de famílias que vivem em condições de moradia precárias. Esse déficit está associado às moradias que estão em risco e que necessitam de uma nova construção, o que é diferente de moradias inadequadas, que estão associadas à qualidade de vida da pessoa no local, como a falta de água potável, recolhimento de esgoto, acesso à energia elétrica, telefonia fixa, recolhimento de lixo, entre outros fatores que interferem na qualidade de vida da população. O déficit habitacional se refere à necessidade física de novas moradias para a solução de problemas sociais e específicos de habitação e é calculado a partir de quatro componentes, esses somados de forma em sequência para que haja uma compreensão dos parâmetros que envolvem a necessidade das novas habitações. Lembrete... O Programa “Minha Casa, Minha Vida” tem como principal objetivo a redução do déficit habitacional ao criar mecanismos de incentivo à produção e à aquisição de novas unidades habitacionais, à requalificação de imóveis urbanos e à produção ou à reforma de habitações rurais para famílias com renda mensal de até dez salários-mínimos. Com essa iniciativa, o governo buscou garantir acesso da população de baixa renda à casa própria e influenciar o crescimento econômico com a geração de empregos. Entretanto, para criar o PMCMV, o governo federal necessitou fazer barganhas e articulações políticas que permitiram que o processo tramitasse em regime de urgência e que a lei fosse aprovada com celeridade. Devido às barganhas e às negociações políticas, tanto o Plano Nacional de Desenvolvimento Urbano quanto a Política Nacional de Habitação foram subjugados às negociações do mercado (FERREIRA, G. G.; CALMON, P.; FERNANDES, A. S. A.; ARAÚJO, S. M. V. G. 2019). O termo déficit habitacional é utilizado para se referir ao: a) Número de famílias que vivem em condições de moradia precárias. b) Preço do metro quadrado da área urbana. c) Número de pessoas com dívidas de prestações de habitação. d) Redução de investimento em habitação. e) Número de pessoas com casa própria. Interatividade O termo déficit habitacional é utilizado para se referir ao: a) Número de famílias que vivem em condições de moradia precárias. b) Preço do metro quadrado da área urbana. c) Número de pessoas com dívidas de prestações de habitação. d) Redução de investimento em habitação. e) Número de pessoas com casa própria. Resposta Como resposta à crise econômica mundial de 2008, que teve reflexos no crescimento econômico brasileiro, e visando à eleição que se aproximava em 2010, o governo optou pela adoção de políticas com respostas de curto prazo no que se refere ao aquecimento da economia, que incluíam a manutenção do crédito, o atendimento aos setores mais atingidos pela recessão e a sustentação dos investimentos públicos, principalmente, na área de infraestrutura. Considerando o desenho adotado para o programa, baseado na participação do setor privado, o PMCMV relegou ao segundo plano as premissas e os debates acumulados em torno do Plano Nacional de Habitação de Interesse Social. Um dos impactos mais imediatos em relação aos programas desenvolvidos no âmbito do Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social (FNHIS) foi a redução dos repasses de recursos para as ações de provisão habitacional. Desde o lançamento do PMCMV, o Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social passou a concentrar seus recursos nas ações de urbanização de assentamentos precários e desenvolvimento institucional. Relação entre a crise econômica e a infraestrutura no Brasil O direito à moradia é reconhecido como um direito humano em diversas declarações e tratados internacionais de direitos humanos, nos quais o Estado Brasileiro participa. Entre tantos, destacam-se os seguintes: a Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948 (artigo XXV, item 1), o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais de 1966 (artigo 11), a Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial de 1965 (artigo V), a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher de 1979 (artigo 14.2, item h), a Convenção sobreos Direitos da Criança de 1989 (artigo 21, item 1), a Declaração sobre Assentamentos Humanos de Vancouver de 1976 (Seção III (8) e Capítulo II (A.3), a Agenda 21 sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992 (Capítulo 7, item 6). Sinalizamos a fundamentação internacionalizada ao direito à moradia, conforme Estatuto da Cidade: O Serviço Social tem como matéria-prima do seu trabalho as expressões da questão social. Assim, cabe ao profissional o desafio de decifrar permanentemente como se expressam as contradições postas na realidade e construir práticas criativas, capazes de superar as dificuldades encontradas pela população nas questões da falta de moradia, da ineficácia de políticas sociais, da falta de equipamentos/serviços públicos, da exposição a áreas de risco, das condições ambientais inadequadas e da ausência de participação social na gestão e no planejamento das políticas habitacionais (CFESS, 2016). Os profissionais atuam de forma a contribuir no planejamento – gestão, execução, avaliação – frente a ações em programas e projetos sociais e monitoramento, via conselhos, órgãos públicos e no trabalho em ONGs e vários outros espaços de lutas. Além dessa atuação, a ação profissional está ligada ao desenvolvimento social em programas de assentamento, regularização fundiária e remoções (BRAGA, 2010). Expressões da questão social Os usuários do Serviço Social na área habitacional são sujeitos sociais e muitos não têm acesso a uma moradia digna e representam uma parcela significativa da classe trabalhadora que possui renda familiar de até cinco salários-mínimos. Nesse cenário, o assistente social, por meio das dimensões ético-políticas, teórico-metodológicas e técnico-operativas do fazer profissional, tem o desafio de contribuir no espaço institucionalizado com a defesa dos direitos (CFESS, 2016). Diante da mundialização do capital (CHESNAIS, 1996), com seus impactos destrutivos no emprego, nos salários e nos sistemas de proteção social e dadas as formas particulares da crise do capitalismo, assumidas no contexto brasileiro, um dos mais importantes desafios de assistentes sociais é analisar e buscar explicações acerca da realidade social, numa perspectiva de totalidade, identificando suas múltiplas determinações e reconhecendo as contradições em tempos de concentração da riqueza e de intensa desigualdade social, para um agir profissional com ética, comprometido com as necessidades dos trabalhadores e trabalhadoras (CFESS,2016). Desafios na atuação do assistente social Racionais MCs: Rap abordando questões acerca das condições de vida e moradia nas periferias de são Paulo na década de 1990 Homem na estrada Canção de Racionais MC's Equilibrado num barranco incômodo Mal acabado e sujo, porém Seu único lar, seu bem e seu refúgio Um cheiro horrível de esgoto no quintal Por cima ou por baixo, se chover será fatal Um pedaço do inferno, aqui é onde eu estou Até o IBGE passou aqui e nunca mais voltou Numerou os barracos, fez uma pá de perguntas Logo depois esqueceram (...) Fonte: acervo pessoal É importante ressaltar que o espaço se define não a partir dos seus resultados finais mais imediatos e visíveis, tais como se apresentam na paisagem urbana de nossas cidades, mas sim por meio da compreensão do seu processo de produção social, que articula, concomitantemente, as dimensões material e simbólica das relações sociais. Assim, o espaço supõe, ao mesmo tempo, diferentes dimensões e temporalidades contraditórias da práxis social (CFESS, 2016). São muitos os mecanismos pelos quais a cidade reproduz a desigualdade social, explicitando a ausência do direito à cidade, na apropriação desigual dos espaços na lógica entre legislação urbana, serviços públicos e obras de infraestrutura (MARICATO, 2013). Os traços que desenham o perfil da sociedade brasileira são definidos, historicamente, por uma estrutura fundiária que privilegia a concentração de terra, de renda e de riqueza; em um processo que teve seu principal marco histórico na Lei de Terra de 1850, que instituiu a propriedade fundiária no país. Essa desigualdade social está presente nos condomínios fechados, alimentando uma sociabilidade enclausurada, que rejeita a vida pública, estabelecendo com a cidade a prática da segregação (CALDEIRA, 2000). Está nas cidades nas quais a classe trabalhadora se vê pressionada a construir suas moradias em encostas inseguras, em áreas de preservação ambiental, ou a viver em conjuntos habitacionais edificados em áreas periféricas, sem equipamentos sociais e sem infraestrutura urbana, em razão do preço da terra mais barata. Está na separação que se faz entre campo e cidade, nos impactos pela expansão do agronegócio, na construção de grandes obras, como as barragens, e na expansão das commodities que estabelecem o preço dos alimentos. Desigualdade social no cotidiano e reflexos habitacionais Foto por Tuca Vieira / reprodução BBC Como afirma Harvey (2009), o direito à cidade significa o direito de todos nós a criarmos cidades que satisfaçam as necessidades humanas, as nossas necessidades (...) O direito à cidade não é simplesmente o direito ao que já existe na cidade, mas o direito de transformar a cidade em algo radicalmente diferente. Diante de uma sociedade capitalista cada vez mais destituída de direitos, a implementação da política urbana coloca-se como possibilidade de distribuição da riqueza socialmente produzida. Tal distribuição se expressa na moradia adequada, na disponibilidade dos serviços de saneamento e infraestrutura, na qualidade do transporte coletivo e na mobilidade, nos serviços e equipamentos urbanos, no uso da cidade respondendo à diversidade da dinâmica societária, independentemente da etnia, idade, orientação sexual, religião e capacidades (CFESS, 2016). A herança escravocrata e o desprestígio do trabalho, o patriarcalismo e a privatização da esfera pública, o personalismo e a rejeição às relações impessoais e profissionais, o clientelismo e a universalização da política do favor contrariamente ao reconhecimento dos direitos, a tradição autoritária negando a cidadania, estão presentes em cada m² da cidade periférica (CFESS, 2016). O direito à cidade Conforme Guerra (2012), não há neutralidade na intervenção profissional e a direção política do trabalho social respalda-se no compromisso assumido com o projeto ético-político da profissão, que é qualificado por Netto como um conjunto de valores que a legitimam socialmente, delimitam e priorizam seus objetivos e funções, formulam os requisitos (teóricos, institucionais e práticos) para o seu exercício, prescrevem normas para o comportamento dos profissionais e estabelecem as balizas de sua relação com os usuários de seus serviços, com as outras profissões e com as organizações e instituições sociais (1999, p. 95). As referências históricas na construção desse projeto merecem ser permanentemente lembradas, por serem resultado de lutas coletivas que possibilitaram saltos qualitativos na trajetória profissional e respostas profissionais orientadas teórico-metodológicas e ético-políticas (CFESS, 2016). Uma perspectiva coletiva, junto aos movimentos sociais, nos processos de participação e organização popular, e uma perspectiva individual e/ou grupal, com vistas a construir respostas às necessidades básicas dos sujeitos usuários da política urbana, no acesso aos direitos, bens e equipamentos públicos. Portanto, seu trabalho referenda-se nas reflexões construídas sobre as funções privativas profissionais (art. 5º, do Código de Ética do/a Assistente Social, de 1993), para construção de “estratégias para fazer frente à questão social [que] tem sido tensionadas por projetos sociais distintos, que convivem em luta no seu interior, os quais presidem a estruturação e a implementação das políticas sociais públicas e dosserviços sociais atinentes aos direitos legais inerentes aos poderes do Estado – legislativo, executivo e judiciário” (IAMAMOTO, 2012, p. 54). Atuação do AS se efetiva sob dois grandes eixos: É fundamental considerar, para localizar o trabalho de assistentes sociais no contexto da política urbana, a direção social dada pelo projeto ético-político profissional, cujos fundamentos históricos e teórico-metodológicos, orientados por valores e princípios éticos numa perspectiva totalizante e crítica. A apreensão das determinações e a visão histórico-processual da realidade são elementos que contribuem para identificar os limites dados pela estrutura econômica capitalista e, no mesmo movimento, para alimentar a convicção de que todas as coisas e todas as ideias movem-se, transformam-se, desenvolvem-se, porque são processos. Mas só se tornam processos pela ação de homens e mulheres, sujeitos históricos capazes de transformar a história (CFESS, 2016). Atuação profissional na política urbana Consistente conhecimento teórico-metodológico, que propicie aos/às profissionais uma compreensão da realidade social e o reconhecimento das demandas e possibilidades de ação profissional; Capacitação técnico-operacional, que possibilite a construção e identificação de mediações para fortalecer as lutas dos movimentos sociais, com vistas a outra sociabilidade; Pressupostos ético-políticos no desenvolvimento de ações que se orientam em princípios e valores ontológicos fundamentais, como liberdade, equidade, universalidade, socialização da riqueza e emancipação e nas formas de comportamento como respeito à diversidade, defesa da autonomia e da alteridade, recusa do arbítrio, do autoritarismo, da discriminação e do preconceito (BARROCO, 2009, p. 131). Nesse sentido, o trabalho social exercido pelo/a assistente social na política urbana deve pressupor: O Serviço Social tem como matéria-prima do seu trabalho: a) As expressões da questão social. b) A defesa das individualidades. c) Os desajustes da sociedade. d) Ação focada no indivíduo. e) A defesa da liberdade. Interatividade O Serviço Social tem como matéria-prima do seu trabalho: a) As expressões da questão social. b) A defesa das individualidades. c) Os desajustes da sociedade. d) Ação focada no indivíduo. e) A defesa da liberdade. Resposta O/A assistente social está inserido como trabalhador/a, a partir das ações do capital, do Estado e da classe trabalhadora na dinâmica contraditória de produção social do espaço (CFESS, 2016). A política urbana não esgota o urbano, mas é uma das principais formas de regulação e produção do espaço. Assim, torna-se necessário compreender o papel, os interesses e as formas de ação e organização da cadeia produtiva imobiliária, do Estado e da classe trabalhadora frente à política urbana e à produção do espaço (CFESS, 2016). As ações profissionais na política urbana devem ser operacionalizadas no campo da intersetorialidade, o que significa considerar conhecimentos e práticas de profissionais de outras áreas de conhecimento, os/as quais, apoiados/as na dimensão da totalidade, possibilitam estabelecer uma interlocução necessária para “superar a fragmentação dos saberes” e romper “com a naturalização, a psicologização e a moralização das expressões da questão social” (ORTIZ, 2010). Atuar na perspectiva da totalidade contra uma visão fragmentada da realidade social; Construir o perfil socioeconômico da população usuária da política urbana, evidenciando as condições determinantes e os condicionantes da precarização do modo de vida, com vistas a possibilitar a formulação de estratégias de intervenção e a produção de informação qualificada; Promover espaços de discussão com a população, problematizando a realidade, em um exercício permanente de conhecimento e análise da realidade; Entender o cadastramento que é realizado com famílias e grupos sociais, usuários da política urbana, como um importante instrumento de informações e identificação de demandas, que possibilita a apreensão, tanto de suas expressões culturais, políticas e econômicas, quanto das múltiplas faces da violência. De caráter socioeducativo: Identificar as representações e problematizar as percepções que os grupos sociais têm sobre sua realidade social; Garantir espaços e processos de reflexão contínua para propiciar o entendimento das instituições públicas e seus vínculos sociais; Conhecer e mobilizar a rede de serviços, tendo por objetivo viabilizar os direitos sociais; Conhecer e articular a rede de sujeitos coletivos que atuam no espaço urbano; Democratizar as informações por meio de orientações, individuais e coletivas, tendo claras as singularidades e particularidades das famílias e grupos sociais usuários da política urbana; Democratizar os encaminhamentos quanto aos direitos da população usuária da política urbana. De caráter socioeducativo: Planejar o trabalho profissional sob a perspectiva da articulação e fortalecimento dos movimentos sociais da classe trabalhadora é, mais do que nunca, essencial para não restringir a ação político-profissional que, diante de exigências governamentais, pode assumir um caráter autoritário e controlador; Fomentar a participação de grupos sociais usuários da política urbana, no conhecimento crítico da sua realidade, potencializando os sujeitos sociais para a construção de estratégias coletivas; Refletir, com usuários e usuárias da política urbana e outros sujeitos coletivos, sobre o significado do levantamento de informações das áreas de intervenção. De caráter organizativo e de mobilização popular: Desenvolver análises críticas das expressões da ‘questão social’ na particularidade da questão urbana, para identificar mediações que sejam capazes de fazer enfrentamentos às violações dos direitos, recompondo-os e ampliando-os; Estimular a apreensão dos instrumentos jurídicos e urbanísticos explicitados no Estatuto da Cidade, que definem que a terra e a cidade têm que cumprir a função social; Debater e socializar informações sobre a efetivação dos instrumentos urbanísticos e jurídicos para o acesso à justiça, nas demandas fundiárias e de ocupação do espaço; De assessoria, supervisão e formação: Contribuir para a instrumentalidade profissional, por meio de consultas bibliográficas, de preparação de seminários sobre assuntos de interesse do trabalho, de leituras de arquivos, bancos de dados e documentos; Desenvolver uma formação continuada, com vistas ao conhecimento da política urbana, para o aperfeiçoamento na prestação dos serviços aos grupos sociais usuários da política urbana; Elaborar e desenvolver instrumentais e pedagogias participativas de intervenção, que possibilitem identificar as potencialidades dos grupos sociais. De assessoria, supervisão e formação: O breve resgate das metamorfoses da política urbana no Brasil mostrou a forma como foi conduzida a organização do espaço urbano (e sua relação com o campo), no processo de produção do capital. São mudanças que revelam uma distância entre a realidade que se propõe a transformar, na defesa da função social da propriedade e da cidade, e as normas jurídicas e os programas e projetos que são desenvolvidos, incapazes de alterar as relações desiguais de acesso à terra e à cidade e de privilegiar interesses coletivos na perspectiva da transformação da realidade social (CFESS, 2016). Por que é importante compreendermos sobre mobilidade urbana como matéria que influencia as intervenções do assistente social? Bom, é possível compreender o espaço urbano, onde moramos, vivemos, caminhamos, trabalhamos, consumimos, estudamos, convivemos, dentre outros. Mobilidade urbana (Lei n. 12.587/12 institui a Política Nacional de Mobilidade Urbana – PNMU) Segundo Telles (2001, p. 13): “Assim, podemosafirmar que a mobilidade urbana está intrinsecamente relacionada com a Política Nacional de Assistência Social – PNAS (2005) que define o ‘princípio de territorialização’ e considera as ‘desigualdades socioterritoriais’ como elemento norteador dessa política pública. Consequentemente o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) se respalda na condição socioespacial para identificar as demandas do serviço social, elaborar programas/projetos como por exemplo, os equipamentos sociais de atendimento CRASs e CREASs respeitando a localização (geografia) das demandas do serviço social melhorando assim, o acesso dos usuários aos serviços prestados pela assistência social.” Os objetivos definem a visão de futuro almejada para a mobilidade urbana das cidades brasileiras. A PNMU visa interferir nas cidades para que elas ofereçam maior igualdade de acesso às oportunidades de emprego, saúde, educação e lazer; para que trilhem o caminho de um desenvolvimento urbano mais sustentável, economicamente equilibrado, menos agressivo ao meio ambiente e socialmente inclusivo; e, por fim, que as condições de mobilidade das cidades possam evoluir continuamente com apoio e participação de toda a sociedade (MC, 2016). Para se concretizar, a cobertura de atendimento da assistência social junto às demais políticas, outro pilar importante de estruturação da assistência social foi a Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS, Lei Federal n. 8.742/93) que regulamenta esse aspecto da Constituição e estabelece normas e critérios para a organização da assistência social, que é um direito e exige definição de leis, normas e critérios como em seu artigo 4º, inciso II – da universalização dos direitos sociais, a fim de tornar o destinatário da ação assistencial alcançável pelas demais políticas públicas. Ressalta-se que a assistência social tem como objeto de intervenção a “questão social” trazida pelo Estado de fundamentação neoliberal. É necessário entender que “questão social é o conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista” (IAMAMOTO, 1999, p. 27) e que a assistência social, em muitos casos, é o único caminho para alcançar a condição de dignidade, respaldado pelo art. 3º, da Constituição Federal. De acordo com Harvey, o direito à cidade significa: a) O direito de todos nós criarmos cidades que satisfaçam as necessidades humanas, as nossas necessidades. b) O direito de comprar uma habitação onde escolher. c) O direito de ir e vir. d) O direito de ser inserido em projetos habitacionais. e) O direito de criar espaços de convivência e escolher quem ocupará tais locais. Interatividade De acordo com Harvey, o direito à cidade significa: a) O direito de todos nós criarmos cidades que satisfaçam as necessidades humanas, as nossas necessidades. b) O direito de comprar uma habitação onde escolher. c) O direito de ir e vir. d) O direito de ser inserido em projetos habitacionais. e) O direito de criar espaços de convivência e escolher quem ocupará tais locais. Resposta BONDUKI, N. G. Origens da habitação social no Brasil. Arquitetura moderna, lei do inquilinato e difusão da casa própria. São Paulo: Estação Liberdade: FAPESP, 1998. CARDOSO, A. L. Política Habitacional no Brasil: balanço e perspectivas. Revista Proposta, n. 95. FASE: Dez/Fev. 2003. CFESS. Atuação de assistentes sociais na Política Urbana – subsídios para reflexão. 2016. GUIMARÃES, Berenice Martins. Favelas em Belo Horizonte: tendências e desafios. Análise e Conjuntura, Belo Horizonte, v. 7, n. 2 e 3, p. 11-18, maio/dez. 1992. LE VEN, Michel M. Classes sociais e poder político na formação espacial de Belo Horizonte (1893-1914). Dissertação (Mestrado em Ciência Política) – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1977. Referências MARICATO, Ermínia. Brasil 2000: qual planejamento urbano? Cadernos IPPUR, Rio de Janeiro, Ano XI, n. 1 e 2, p. 113-130, 1997. MARICATO, Ermínia. As idéias fora do lugar e o lugar fora das idéias. In: ARANTES, O; VAINER, C.; MARICATO, E. A cidade do pensamento único. 3. ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2002. PAZ, R. D. O.; TABOADA, K. Curso a distância, Trabalho Social em programas e projetos de habitação de interesse social. Brasília: Ministério das Cidades, 2010. SILVA, M. O. da S. Política Habitacional Brasileira. Verso e Reverso. São Paulo: Cortez Editora, 1989. Referências ATÉ A PRÓXIMA!
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