Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
GEOTECNOLOGIAS APLICADAS À ÁREA AMBIENTAL W B A 03 94 _v 1. 1 2 Felipe Rodrigues Macedo Raquel Carnivalle Silva Melillo Londrina Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2020 GEOTECNOLOGIAS APLICADAS À ÁREA AMBIENTAL 1ª edição 3 2020 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Presidente Rodrigo Galindo Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Braga de Oliveira Higa Carolina Yaly Giani Vendramel de Oliveira Juliana Caramigo Gennarini Henrique Salustiano Silva Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Nirse Ruscheinscky Breternitz Mariana Gerardi Mello Revisor Ana Claudia Guedes Silva Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Gilvânia Honório dos Santo Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) __________________________________________________________________________________________ Macedo, Felipe Rodrigues M141g Geotecnologias aplicadas à área ambiental/ Felipe Rodrigues Macedo, Raquel Carnivalle Silva Melillo – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2020. 43 p. ISBN 978-65-86461-68-8 1. Geotecnologias. 2. Cartografia Sistemática e Temática. I. Carnivalle, Raquel. II.Título. CDD 550 ____________________________________________________________________________________________ Jorge Eduardo de Almeida CRB: 8/8753 © 2020por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. 4 SUMÁRIO Fundamentos de Cartografia _ _______________________________________ 05 Sistema de Informação Geográfica _________________________________ 20 Sensoriamento Remoto ____________________________________________ 35 Geotecnologias aplicadas à área ambiental _________________________ 52 GEOTECNOLOGIAS APLICADAS À ÁREA AMBIENTAL 5 Fundamentos de Cartografia Autoria: Felipe Rodrigues Macedo Leitura crítica: Ana Claudia Guedes Silva Objetivos • Entender as diferenças entre Cartografia Sistemática e Temática. • Compreender os Sistemas Geodésicos de Referência. • Identificar as diferenças entre o Sistema de Coordenadas Geográficas e UTM (Universal Transversa de Mercator). 6 1. Fundamentos de Cartografia Nesta unidade, abordaremos os conceitos fundamentais para a compreensão da Cartografia, que darão o suporte básico para os trabalhos em geotecnologias. Esses conhecimentos são essenciais para que o profissional entenda a teoria e as aplicações que estão por trás das ferramentas e funcionalidades dos comandos realizados nos Sistemas de Informações Geográficas (SIG). Além disso, abordaremos os seguintes temas: as diferenças entre a cartografia sistemática e a temática, a semiologia gráfica, os sistemas geodésicos de referência, os sistemas de coordenadas geográficas e UTM (Universal Transversa de Mercator) e, por fim, a escala. 1.1 Princípios de cartografia sistemática e temática Segundo o Instituto Brasileiro Geografia e Estatística (IBGE, 2020) o conceito de cartografia é: [...] um conjunto de estudos e operações científicas, técnicas e artísticas que, tendo como base os resultados de observações diretas ou a análise de documentação já existente, visa a elaboração de mapas, cartas e outras formas de expressão gráfica ou representação de objetos, elementos, fenômenos e ambientes físicos e socioeconômicos, bem como sua utilização (IBGE, 2020, [s.p.]). Nesse sentido, Carvalho e Araújo (2008) explicam que a cartografia se divide em duas áreas: a cartografia sistemática e a cartografia temática. Entretanto, isso não significa que a ciência tenha surgido com essa divisão, mas, na prática, é difícil encontrar algum documento cartográfico que não possua um desses temas. A Cartografia Sistemática se volta para a representação do espaço através da elaboração de mapeamentos básicos, a partir de 7 levantamentos que podem ser topográficos, aerofotogramétricos ou apoiados em imagens de satélites. Logo, as escolhas de projeção cartográfica, escala, simbologia, entre outras informações são consideradas requisitos necessários pelos profissionais envolvidos na elaboração do mapa-base de uma determinada área (CARVALHO; ARAÚJO, 2008). Assim, a cartografia sistemática utiliza convenções e escalas padrão na execução dos mapeamentos básicos da representação da superfície terrestre. De acordo com Archela (2000), ela é baseada na localização precisa dos objetos na superfície terrestre, na instalação e conservação das redes de apoio geodésico, na realização dos levantamentos aerofotogramétricos e, por fim, na elaboração e atualização dos mapeamentos básicos. Por outro lado, a cartografia temática se preocupa com o planejamento, a execução e a impressão final de mapas temáticos, que são aqueles que possuem um tema principal a ser representado. Segundo Fitz (2008a), para um bom resultado em um mapa temático, é necessário seguir algumas etapas predefinidas e, como esses mapas são baseados em outras já existentes, é preciso ter conhecimento das características da base de origem. A cartografia temática é utilizada na expressão dos resultados obtidos pelas ciências que necessitam transmitir dados na forma gráfica. Desse modo, esses dados devem ser representados a partir da utilização de uma técnica mais conveniente, com o objetivo de melhorar a visualização das informações. Para transmitir os dados para uma forma gráfica, Jacques Bertin utilizou os princípios da semiótica. A semiologia gráfica representa um conjunto de diretrizes que norteiam o uso de elementos visuais na disseminação de informação em mapas temáticos (SAMPAIO; BRANDALIZE, 2018). 8 Nesse sentido, Queiroz (2000) explica que Bertin identificou três relações: similaridade, ordem e proporcionalidade. Por sua vez, elas são os significados da representação gráfica e devem ser expressas pelas variáveis visuais: tamanho, valor, granulação (textura), cor, orientação e forma. Além disso, essas variáveis visuais possuem três modos de implantação: pontual, linear e zonal. Dessa maneira, Bertin criou um sistema de linguagem cartográfica. Com isso, entendemos um pouco das diferenças entre a cartografia sistemática, que mapeia o modelado do relevo, e a cartografia temática, que possui algum tema. Porém, conforme mencionamos, é difícil separar uma da outra, pois o próprio mapa topográfico, que é sistemático, possui um tema. 1.2 Cartograma Segundo o IBGE (2000, [s.p.]), o cartograma pode ser definido como “um esquema representativo de uma superfície ou parte dela, sobre a qual são apresentadas informações quantitativas e qualitativas, de eventos geográficos, cartográficos e socioeconômicos”. Assim, o cartograma apresenta dados quantitativos na forma de gráfico, representando áreas de bairros, municípios, estados ou países. Esse tipo de representação possui uma preocupação maior em transmitir uma informação de modo que o usuário possa entender o comportamento e a distribuição daquele dado no espaço, em vez de sua representação espacial. Nesse sentido, Sampaio (2018) afirma que o termo cartograma é o resultado da junção dos termos carta (Latim: charta / Grego: Khartes – folha para escrita) com o sufixo grama (Grego: Gramma – letra, signo), podendo ser entendido como o material gráfico que produz um significado. Em inglês, o termo cartograma éutilizado, geralmente, como sinônimo de mapas de anamorfose. 9 Segundo IBGE (2020), o mapa é a representação no plano, normalmente, em pequena escala dos aspectos geográficos, naturais, culturais e artificiais de uma área na superfície terrestre. Já o termo carta é a representação no plano, em média ou grande escala, dos aspectos artificiais e naturais de uma área da superfície terrestre, subdividida em folhas padronizadas que possuem paralelos e meridianos, com a finalidade de possibilitar a avaliação de detalhes, com grau de precisão compatível com a escala. Assim, Sampaio (2018) indica que o termo mapa pode ser utilizado, preferencialmente, para materiais gráficos que apresentam todos os elementos formais de uma representação cartográfica. Enquanto o termo carta possui as mesmas características de um mapa, porém faz parte de uma sequência contínua, ordenada e articulada da representação do espaço. De maneira geral, o termo cartograma é genérico e acaba sendo utilizado para nominar representações cartográficas simplificadas, que possuem elementos típicos de um mapa limitado, como: escala, indicação geográfica, legenda, título etc.; no entanto, cumpre a sua função de transmitir a informação, ou seja, um mapa temático com informações reduzidas sobre referencial cartográfico, escala, localização etc. 1.3 Sistemas geodésicos de referência Além disso, existe uma dificuldade em modelar a superfície da Terra devido a quantidade de irregularidades do relevo e a diferenciação da gravidade em distintos pontos da superfície terrestre. Assim, é necessário, modelar esse formato complexo em uma representação mais simples, regular e geométrica, se aproximando da sua forma real. Para a representação do formato terrestre, consideramos quatro tipos de superfícies: modelo real, geoidal, elipsoidal e esférico. Cada um 10 desses modelos possui suas peculiaridades e características, sendo que quanto mais elevado o grau de representação, mais complexa será a base de cálculos sobre essa superfície. O meio acadêmico utiliza o termo geoide para o modelo físico que mais se aproxima da verdadeira forma da Terra. Segundo Fitz (2008a), seria uma superfície idêntica ao nível médio e inalterado dos mares, criada por um conjunto de pontos infinito cuja medida do potencial do campo gravitacional da Terra é constante e possui direção exatamente perpendicular. Já o elipsoide de referência é uma figura geométrica tridimensional matematicamente definida, que mais se aproxima da forma do geoide (FITZ, 2008a). A Figura 1 mostra os diferentes modelos de representação da superfície terrestre. Figura 1 – Diferentes modelos de representação da superfície terrestre Fonte: Rosa (2013 p. 14). 11 Segundo Fitz (2008a), para estabelecer uma relação entre um ponto na superfície terrestre e no elipsoide de referência, é necessário um sistema geodésico de referência que, por sua vez, consegue fazer essa ligação entre a superfície real e o cálculo matemático. Um sistema geodésico é constituído de marcos geodésicos e suas coordenadas, o qual busca correlacionar o geoide e o elipsoide. Assim, o elipsoide de referência é ajustado ao geoide local, estabelecendo coordenadas geodésicas corretas para a elipsoide (ROSA, 2013). Desse modo, para um elipsoide de revolução, é necessário conhecer o seu semieixo maior (a), o semieixo menor (b) e o achatamento (α). O cálculo do achatamento é realizado pela seguinte fórmula: ba a α = − Segundo Rosa (2013), a posição, a forma e o tamanho do elipsoide em relação ao geoide completam um conjunto de parâmetros que são denominados datum geodésico, o qual se divide em dois tipos: vertical e horizontal. O datum vertical é uma superfície de nível que possui relação com o cálculo para referenciar as altitudes sobre a superfície terrestre. Por sua vez, o datum horizontal é utilizado para o cálculo da posição de um elemento na superfície da Terra, ou seja, para obtenção das coordenadas geográficas (latitude e longitude). Diante disso, é possível traçar os planos horizontal e vertical, latitudes e longitudes, respectivamente. Assim, o elipsoide de referência apenas facilita o cálculo matemático para uma elipse perfeita da superfície terrestre que possui uma forma imperfeita (geoidal). 12 Nesse sentido, cada país adota um tipo de sistema geodésico, sendo que o Sistema Geodésico Brasileiro (SGB) é composto por redes de altimetria, gravimetria e planimetria. A altimetria está vinculada ao geoide; no caso brasileiro, coincide com a marca “zero” do marégrafo de Imbituba, Santa Catarina – datum vertical. O referencial de gravimetria do sistema geodésico brasileiro está vinculado a milhares de estações existentes espalhadas por todo território nacional, que coletam dados sobre a aceleração da gravidade em cada uma delas. Por último, o referencial de planimetria define as superfícies, a origem e a orientação do sistema de coordenadas utilizado no mapeamento e georreferenciamento do território brasileiro – datum horizontal (FITZ, 2008b). Todavia, existem dois tipos de datum horizontais: os globais – em que o elipsoide é global e não possui um ponto de amarração local, somente aqueles definidos no sistema; compreendendo no alinhamento do centro do elipsoide ao centro do geoide; e os locais – quando o elipsoide de referência se posiciona em um ponto de amarração local (estação terrestre), possuindo parâmetros diferenciais o que faz o centro do elipsoide ser desalinhado ao centro do geoide. Segundo Rosa (2013), um exemplo de posicionamento do elipsoide para a obtenção do datum é o sistema de coordenadas geográficas World Geodetic System 1984 (WGS-84), o qual não possui um ponto único de amarração local, mas realiza vários ajustamentos de redes geodésicas. Já o sistema de referência South American Datum 1969 (SAD 69), que é o elipsoide para a América do Sul, possui o ponto de amarração situado no vértice Chuá, em Minas Gerais (ROSA, 2013). O Brasil adotou o datum planimétrico de Córrego Alegre até o início da década de 1970, havendo uma mudança, por curto período de tempo, para o datum Chuá Astro, e somente em 1977 passou a adotar oficialmente o SAD 69 (IBGE, 2000). 13 No entanto, com o passar dos anos e o surgimento de novas tecnologias, viu-se a necessidade de adoção de um novo referencial geodésico. Assim, em 2005, o IBGE definiu o Sistema de Referência Geocêntrico para a América do Sul (SIRGAS) na versão 2000, como o SGB, o qual foi oficialmente adotado em 2015. Esse sistema, por sua vez, não possui um ponto datum associado, mas uma rede de pontos distribuídos em todo o território sul americano (SAMPAIO; BRANDALIZE, 2018) De acordo com o IBGE (2000), uma das principais diferenças entre o datum horizontal SAD 69 e o SIRGAS 2000 é que o primeiro não é geocêntrico, ou seja, o centro do elipsoide não é alinhado ao centro do geoide, como no SIRGAS 2000 e o WGS-84. Deste modo, ocorre uma diferença de distância entres os sistemas, que no Brasil é de 60 e 70 metros na direção nordeste, variando ao longo do território nacional. A Figura 2 representa essas diferenças no plano cartesiano X, Y e Z, podendo ser entendido como latitude, longitude e altitude, respectivamente. Figura 2 – Exemplo de diferenças cartesianas entre os referenciais geográficos SIRGAS 2000 e SAD 69 Fonte: IBGE (2000 p. 6) 14 No caso de mapeamento, o parâmetro do elipsoide utilizado no SIRGAS 2000 é considerado idêntico ao do WGS-84. Os semieixos dos dois elipsoides são idênticos a = 6.378.137 e b = 6.356.752, a diferença está em uma pequena variação no achatamento terrestre (α), sendo 1/298.257223563 para o WGS84 e 1/298.257222101 para o SIRGAS 2000 (ROSA, 2013). Devido a essa característica, as latitudes e longitudes são iguais, havendo um pequeno erro na altitude que não afeta a maioria dos mapas. Por isso, atualmente, a elaboração de mapas no Brasil deve seguir como sistema geodésico o SIRGAS 2000. Entretanto, muitas cartastopográficas e outros produtos cartográficos elaborados no passado ainda possuem o datum SAD 69 ou Córrego Alegre. Esses produtos, se utilizados como base de mapas temáticos, por exemplo, deverão, obrigatoriamente, ter o datum vertical e horizontal convertido para o SIRGAS 2000. A Resolução n° 1 do Presidente do IBGE, de 25 de fevereiro de 2005, especifica os cálculos necessários para essa conversão (IBGE, 2005). A conversão é necessária, pois utilizar sistemas geodésicos diferentes em um mesmo mapa causará erros de precisão na localização dos objetos. 1.4 Sistemas de Coordenadas Geográficas e Universal Transversa de Mercator (UTM) De modo geral, existem dois sistemas de coordenadas: os sistemas de coordenadas geográficas e os sistemas de coordenadas UTM. O primeiro é um sistema global normalmente expresso no sistema sexagesimal, ou seja, em graus, minutos e segundos, podendo, também, ser apresentadas em graus decimais (SAMPAIO; BRANDALIZE, 2018). A latitude, representada pela letra grega φ (fi), é a distância entre o Plano do Equador e um ponto na superfície terrestre, variando de 0º e 90º ao norte e ao sul, geralmente, a marcação do sul é negativa. A longitude, representada pela letra grega λ (lambda), é a distância entre o meridiano 15 de origem (Greenwich = 0º) e um ponto na superfície terrestre. Segundo Fitz (2008b), ela varia de 0º até 180º tanto ao leste quanto ao oeste, geralmente, a marcação do oeste é negativa. Já o sistema de coordenadas UTM adota coordenadas métricas planas ou plano-retangulares. Ele possui sua origem estabelecida pelo cruzamento do equador com um meridiano padrão específico, chamado de Meridiano Central (MC). Os valores das coordenadas têm um sistema que estabelece o valor de 10.000 km sobre o equador e de 500 km sobre o MC. Segundo Fitz (2008b), as coordenadas lidas a partir do eixo N (Norte-Sul) de referência decrescem no sentido sul e as coordenadas do eixo E (leste-oeste), contadas a partir do MC de referência, possuem valores decrescentes no sentido oeste. É importante ressaltar que o MC do sistema de coordenadas UTM não tem relação com o Meridiano de Greenwich (utilizado no sistema de coordenadas geográficas). Desse modo, ele “reinicia a contagem” a cada 500 km e cada reinício é chamado de fuso. Além disso, outra informação a se destacar é que um mapa só poderá ser elaborado no sistema de coordenadas UTM se a área a ser mapeada não abranger dois fusos. Caso isso ocorra, terá de ser, necessariamente, utilizado o sistema de coordenadas geográficas. A Figura 3 mostra os fusos UTM para o Brasil: 16 Figura 3 – Fusos dos sistemas de coordenadas UTM para o Brasil Fonte: elaborada pelo autor. Além disso, é importante não confundir o sistema de coordenadas UTM com a projeção UTM. O primeiro é o sistema de coordenadas utilizado para definir a posição de um objeto na superfície da Terra em relação ao elipsoide de referência, e a segundo é uma forma de projeção cilíndrica utilizado na representação da superfície terrestre para produção de mapas. 1.5 Escala Uma das normativas mais importantes da Cartografia é a escala. Para Fitz (2008a), a escala pode ser definida como a relação ou a proporção existente entre as distâncias lineares representadas em um mapa e aquelas existentes no terreno. Nesse sentido, existem dois tipos de escalas: a numérica e a gráfica. A escala numérica estabelece por meio de números a relação entre o comprimento no mapa e a distância no terreno, sendo “representada 17 por uma fração em que o numerador é sempre a unidade, designando a distância medida no mapa, e o denominador representa a distância correspondente no terreno” (FITZ, 2008a, [s.p.]). Já a escala gráfica, normalmente utilizada em mapas digitais, é representada por uma linha (régua) graduada contendo subdivisões denominadas talões. Os talões apresentam a relação de seu comprimento com o valor correspondente no terreno, indicado sob a forma numérica, na sua parte inferior. Segundo Fitz (2008b), o talão deve ser expresso, preferencialmente, por um valor inteiro. A Figura 4 apresenta um exemplo de escala gráfica utilizada em mapas. Figura 4 – Exemplo de escala gráfica Fonte: Fitz (2008a, p. 20). Assim, o cálculo de escala é dado por meio de uma simples regra de três: D N d= Onde: D: distância real no terreno; N: denominador da escala do mapa; d: distância medida no mapa. Nessa fórmula, quando fazemos o cálculo de um mapa 1:30.000 e medindo 1 centímetro no mapa, por exemplo, nossa resposta será de 30.000 cm real. Para sabermos em metros, é necessária uma conversão para tal unidade, obtendo nesse caso, 300 metros. Em relação a escala, 18 ela pode ser maior ou menor em comparação a outra. A escala é maior quando o denominador for menor, consequentemente o mapa será mais detalhado. A escala será menor quando o denominador for maior, ou seja, o mapa será menos detalhado. Um exemplo é um mapa de 1:10.000, que possui uma escala maior (mais detalhada) que um mapa de escala 1:100.000 (menos detalhada). Nesta unidade, aprendemos um pouco sobre a cartografia como uma ciência e arte na elaboração de mapas, as diferenças entre a cartografia sistemática e temática, as formas de representação da superfície terrestre por meio de mapas, cartas ou cartogramas e os sistemas geodésicos de referência. Os sistemas de coordenadas geográficas e UTM, por fim, a escala, item fundamental para a qualidade de um mapa sem erros. Esses assuntos são importantes para o entendimento do profissional que elaborará o mapa. Devido aos avanços tecnológicos, atualmente, muitos sistemas de computador conseguem elaborar um mapa de maneira rápida, porém para um mapa ter qualidade, precisão e, consequentemente, não ter erros, é necessário que o profissional tenha conhecimentos de Cartografia e não somente os conhecimentos de software. Referências Bibliográficas ARCHELA, R. S. Análise da cartografia brasileira: bibliografia da cartografia na geografia no período de 1935-1997. Tese (Doutorado em Geografia Física) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2000. CARVALHO, E. A.; ARAÚJO, P. C. A Cartografia: bases conceituais. Natal: UFRN, 2008. FITZ, P. R. Cartografia básica. São Paulo: Oficina de Textos, 2008a. FITZ, P. R. Geoprocessamento sem complicação. São Paulo: Oficina de Textos, 2008b. 19 IBGE. Informativo geocêntrico nº 1: Projeto de mudança do referencial geodésico. Rio de Janeiro: IBGE, 2000. Disponível em: http://geoftp.ibge.gov.br/ metodos_e_outros_documentos_de_referencia/outros_documentos_tecnicos/pmrg/ informativo1.pdf. Acesso em: 6 mar. 2020. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estátistica. Resolução do Presidente 01/2005. Altera a caracterização do Sistema Geodésico Brasileiro. Brasília: IBGE, 2005. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estátistica. Dicionário cartográfico. Brasília: IBGE, 2020. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/geociencias/metodos- e-outros-documentos-de-referencia/vocabulario-e-glossarios/16496-dicionario- cartografico.html?=&t=sobre. Acesso em: 4 fev. 2020. QUEIROZ, D. E. R. A. Semiologia e a Cartografia Temática. Boletim de Geografia, Maringá, v. 18, p. 121-127, 2000. ROSA, R. Introdução ao Geoprocessamento. Uberlândia: UFU, 2013. Disponível em: http://professor.ufabc.edu.br/~flavia.feitosa/cursos/geo2016/AULA5- ELEMENTOSMAPA/Apostila_Geop_rrosa.pdf. Acesso em: 10 abr. 2019. SAMPAIO, T. V. M. Cartografia Temática. Curitiba: UFPR, 2018. Disponível em: https://docs.ufpr.br/~tonysampaio/disciplinas/cartografia_tematica/Cartografia%20 Tem%C3%A1tica.pdf. Acesso em: 17 jan. 2020. SAMPAIO, T. V. M.; BRANDALIZE, M. C. B. Cartografia geral, digital e temática. Curitiba: UFPR, 2018. Disponível em: http://www.prppg.ufpr.br/site/ppggeografia/ wp-content/uploads/sites/71/2018/03/cartografia-geral-digital-e-tematica-b.pdf. Acesso em: 10 jan. 2020. http://geoftp.ibge.gov.br/metodos_e_outros_documentos_de_referencia/outros_documentos_tecnicos/pmrg/informativo1.pdfhttp://geoftp.ibge.gov.br/metodos_e_outros_documentos_de_referencia/outros_documentos_tecnicos/pmrg/informativo1.pdf http://geoftp.ibge.gov.br/metodos_e_outros_documentos_de_referencia/outros_documentos_tecnicos/pmrg/informativo1.pdf https://www.ibge.gov.br/geociencias/metodos-e-outros-documentos-de-referencia/vocabulario-e-glossarios/16496-dicionario-cartografico.html?=&t=sobre https://www.ibge.gov.br/geociencias/metodos-e-outros-documentos-de-referencia/vocabulario-e-glossarios/16496-dicionario-cartografico.html?=&t=sobre https://www.ibge.gov.br/geociencias/metodos-e-outros-documentos-de-referencia/vocabulario-e-glossarios/16496-dicionario-cartografico.html?=&t=sobre https://docs.ufpr.br/~tonysampaio/disciplinas/cartografia_tematica/Cartografia%20Tem%C3%A1tica.pdf https://docs.ufpr.br/~tonysampaio/disciplinas/cartografia_tematica/Cartografia%20Tem%C3%A1tica.pdf http://www.prppg.ufpr.br/site/ppggeografia/wp-content/uploads/sites/71/2018/03/cartografia-geral-digital-e-tematica-b.pdf http://www.prppg.ufpr.br/site/ppggeografia/wp-content/uploads/sites/71/2018/03/cartografia-geral-digital-e-tematica-b.pdf 20 Sistema de Informação Geográfica Autoria: Felipe Rodrigues Macedo Leitura crítica: Ana Claudia Guedes Silva Objetivos • Descobrir a história e a evolução dos Sistemas de Informações Geográficas (SIG). • Compreender os bancos de dados geográficos. • Identificar os tipos de dados geográficos. 21 1. O que é Geoprocessamento A preocupação com questões ambientais vem aumentando ao longo das últimas décadas, principalmente quando se trata da relação do homem com a natureza. O conceito de desenvolvimento sustentável surgiu como uma ligação para a melhora na qualidade de vida das gerações atuais, sem deixar de proteger o meio ambiente para as gerações futuras. Assim, surgiu uma necessidade de uma melhor compreensão do espaço geográfico, visando um melhor planejamento e ordenamento do território. Nesse contexto, por possuir ferramentas fundamentais na análise de dados geográficos, o geoprocessamento é um aliado na abordagem integrada do ambiente. Segundo Câmara e Davis (2001), a palavra geoprocessamento se refere a utilização de técnicas computacionais e matemáticas que realizam o processamento de informações geográficas, que, por sua vez, permitem associar coordenadas sobre a superfície terrestre, podendo ser utilizadas em diversas áreas, como a Cartografia, Análise de Recursos Naturais e Planejamento Urbano e Regional. No Brasil, o termo geoprocessamento é utilizado como sinônimo de Geomática. Rosa (2013, p. 6) afirma que a “Geomática se utiliza de técnicas matemáticas e computacionais para a análise de informações geográficas, ou seja, informações temáticas ligadas à superfície terrestre, demonstrando, assim, a similaridade entre os dois termos”. Os softwares desenvolvidos especificamente para o geoprocessamento são chamados de Sistemas de Informações Geográficas (SIG) (Geographic Information Systems – GIS), eles permitem a realização de análises complexas, integração de dados de diversas fontes e criação de bancos de dados georreferenciados. 22 Portanto, a partir dos SIGs, podemos realizar o processamento digital das imagens de sensoriamento remoto, bem como os mapeamentos da área de interesse, visando a sua gestão e o planejamento territorial. 2. Histórico do Geoprocessamento O primeiro SIG foi desenvolvido devido a necessidade de coletar medidas geográficas simples, o qual ficou conhecido como Sistema de Informação Geográfica do Canadá (Canada Geographic Information System – CGIS), em meados de 1960, tendo sua criação associada ao inventário de terras do Canadá, que visava identificar os recursos naturais do país e seus usos potenciais, como um esforço conjunto do governo federal e dos governos provinciais. Para isso, o CGIS foi planejado e desenvolvido como uma ferramenta de mensuração, um produto de informação tabular, e não como uma ferramenta de elaboração de mapas (LONGLEY et al., 2013) Por outro lado, os Estados Unidos tinham a necessidade de realizar o censo demográfico de 1970. Para isso, foi desenvolvido um programa de Codificação Dual Independente de Mapas (Dual Independent Map Coding) que criou os registros digitais de todas as ruas do país, dando suporte ao censo. A similaridade entre os dois sistemas (americano e canadense) acabou resultando em um importante estudo na Universidade de Harvard para o desenvolvimento de um SIG multifuncional que pudesse atender ambas as aplicações. Como resultado do projeto, foi gerado o software SIG ODYSSEY no final dos anos de 1970 (LONGLEY et al., 2013). Durante os anos de 1980, o SIG ascendeu devido a dois fatores principais: o desenvolvimento dos microprocessadores, que permitiram a redução de gastos e o aumento da quantidade de memória em “chips” menores; e o crescimento de softwares de baixo custo, sendo muitos deles já disponíveis para computadores pessoais (PCs). Esses 23 fatores levaram o SIG a ser uma nova tecnologia no processamento de informações, com capacidades únicas de automação, gerenciamento e análise de vários tipos de dados espaciais (HAMADA; GONÇALVES, 2007). A partir de 1990, o uso do SIG se tornou ferramenta de apoio na tomada de decisões, não sendo utilizado apenas no meio acadêmico, mas também nas instituições governamentais e empresas privadas, que começaram a investir na utilização desses softwares que unem diversas funções no mesmo sistema, como a análise espacial, o processamento digital de imagens, a modelagem 3D e a geoestatística (ROSA, 2013). No início do século 21, os SIGs passam a fazer parte da Internet, se tornando mais simples, não necessitando de usuários especialistas na área. Segundo Rosa (2013), além disso, plataformas com base SIG surgiram na web, entre elas: o Google Maps, o OpenStreetMap, o Google Earth e o Google Street View. Já na década atual, a evolução dos sistemas de informação geográfica se passa por softwares livres, ou seja, gratuitos, como o QGIS, GvSIG, entre outros Diante desse histórico, vimos como os SIG evoluíram de softwares com usos extremamente específicos, como o CGIS do Canadá, sua evolução ao longo dos anos de 1980 juntamente da evolução dos computadores pessoais. Atualmente, eles possuem simplicidade no manuseamento, sendo utilizados até por não especialistas, principalmente nas tomadas de decisões de governos e empresas, devido a sua precisão e baixo custo de implementação. 2.1 Geoprocessamento no Brasil No Brasil, o geoprocessamento começou com a divulgação e formação dos profissionais, realizado pelo Prof. Jorge Xavier da Silva, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no início dos anos 1980. Conjuntamente, a vinda ao Brasil do responsável pela criação do CGIS, Dr. Roger Tomlinson, em 1982, incentivou a criação de grupos de 24 pesquisa interessados em desenvolver o SIG no país (CÂMARA; DAVIS, 2001). Segundo Rosa (2013), a UFRJ desenvolveu o software SAGA (Sistema de Análise Geoambiental), com grande capacidade de análise geográfica, sendo utilizado como material didático e em projetos de pesquisa. Ainda nos anos 1980, a empresa de aerolevantamento AeroSul desenvolveu um sistema para automatização de processos cartográficos (CÂMARA; DAVIS, 2001). Em 1984, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) criou uma divisão específica para o desenvolvimento de tecnologia de geoprocessamento e sensoriamento remoto, a chamada Divisão de Processamento de Imagens (DPI). Até 1990, a DPI desenvolveu os SIGs: Sistema de Tratamento de Imagens (SITIM) e o Sistema Geográfico de Informações (SGI), para ambiente PC/DOS (CÂMARA; DAVIS, 2001). A partir de 1991, o INPE desenvolveu o Sistema para Processamento de Informações Geográficas (SPRING). Esse software, por sua vez, une o tratamento das imagens de sensoriamento remoto, mapas temáticos, mapas cadastrais, redes e modelos numéricos de terreno (CÂMARA; DAVIS, 2001). Desde 1996, o SPRING é distribuído via Internet.Portanto, a evolução do SIG no Brasil, também acompanhou o que ocorria fora do país. Atualmente, existe uma convergência no uso dos SIGs, onde tanto o SPRING como o TerraVIEW (outro SIG do DPI/INPE) são traduzidos para o inglês e o espanhol. Assim, muitos dos softwares estrangeiros também estão em Língua Portuguesa, facilitando e ampliando o uso por profissionais e usuários comuns. 25 3. Bancos de Dados Geográficos Existem ao menos três maneiras de utilizar um SIG: como ferramenta para elaboração de mapas; como apoio na análise espacial dos fenômenos naturais e humanos; e como um banco de dados geográficos, incluindo as funções de armazenamento e recuperação de informação espacial (CÂMARA; MEDEIROS, 1998). Nesse sentido, um dos fatores principais dos SIG são sua capacidade de inserir e integrar, em uma única base de dados, as informações espaciais originadas de dados cartográficos, dados censitários e imagens de satélite, como também podem oferecer funções para combinar várias informações, por meio de algoritmos de manipulação e análise, além disso, pode consultar, recuperar, visualizar e imprimir o conteúdo de uma base de dados georreferenciados. Log, alguns componentes de um SIG são: a interface com o usuário, a entrada e integração de dados, as funções de processamento gráfico e de imagens, a visualização e impressão, o armazenamento e recuperação de dados (CÂMARA; MEDEIROS, 1998). A Figura 1 esquematiza a hierarquia do SIG. No primeiro nível, está o usuário e como ele controla e opera o sistema. No segundo nível estão as funções para o processamento dos dados espaciais: os algoritmos, fórmulas etc. E, por fim, o gerenciamento dos bancos de dados geográficos, que reúne a capacidade de armazenar e recuperar os dados. 26 Figura 1 – Arquitetura de Sistemas de Informação Geográfica Fonte: Câmara e Davis (2001, p. 3). 4. Sistema de Gerenciamento de Bancos de Dados no SIG O SIG possui a capacidade de tratar e recuperar dados geográficos, como a localização espacial e suas características alfanuméricas. Cada objeto geográfico necessita ter armazenado seus atributos e suas várias representações gráficas. A principal diferença entre os diferentes sistemas de SIG está na forma como os dados geográficos são gerenciados. Nesse sentido, existem, basicamente, três diferentes arquiteturas de SIG na utilização de um Sistema de Gerenciamento de Banco de Dados (SGBD): relacional, integrada e objeto-relacional (CÂMARA; MEDEIROS, 1998). O sistema dual utiliza um SGBD relacional que armazena os atributos dos objetos geográficos na forma de tabelas e arquivos, dando a eles dados para as representações geométricas. As tabelas, por sua vez, são organizadas de modo que as linhas correspondem aos dados e 27 as colunas correspondem aos atributos. Na inserção de atributos não espaciais, cada entidade gráfica recebe um identificador único, que faz a ligação com seus respectivos atributos não espaciais (CÂMARA; MEDEIROS, 1998). A arquitetura integrada consiste em armazenar todo o dado espacial em um SGBD. A vantagem é a utilização dos recursos para controle e manipulação de dados espaciais. Nesse sentido, existem duas alternativas de arquitetura integrada: a baseada em SGBDs relacionais e a baseada em extensões espaciais sobre SGBDs objeto-relacionais. A primeira utiliza campos longos, chamados de BLOBs, que armazenam o componente espacial do dado. A segunda possui procedimentos e funcionalidades que permitem armazenar, acessar e analisar os dados espaciais de formato vetorial (CÂMARA; MEDEIROS, 1998). O SGBD objeto-relacional (SGBDOR) é semelhante ao relacional, com recursos extras para trabalhar com objetos, lidando com os atributos e funções dos objetos. Nos SGBDOR atuais, foram acrescidas e aprimoradas algumas funções para tratar os dados espaciais, como a consulta de análise sintática, otimizadores de consulta, linguagem de consulta e serviços de indexação capazes de lidar com informações geográficas e serviços de transação capazes de transações longas (LONGLEY et al., 2013). Assim, o SIG é a combinação de recursos humanos (Peopleware) e técnicos (Hardware/Software). Uma velha frase do mundo computacional de um técnico da empresa IBM, George Fuechsel, disse “Garbage in...garbage out”, que numa tradução literal significa “lixo que entra, lixo que saí”. Assim como em outras áreas da computação, nos SIGs, se os dados geográficos inseridos forem ruins, de má qualidade ou errados, o resultado final será ruim ou errado. Desse modo, não é possível “salvar” um dado ruim, o sistema apenas reproduzirá aquele erro, então a qualidade dos dados é determinará o produto final. 28 Os dados SIGs são divididos em duas partes: espaciais e alfanuméricos. Segundo Fitz (2008), os dados espaciais são divididos em dois tipos de dados: os vetoriais e os matriciais, e podem ser representados espacialmente, ou seja, em uma forma gráfica. Os dados vetoriais são uma estrutura gráfica composta por três tipos distintos: pontos, linhas e polígonos. Os pontos abrangem todas as entidades geográficas que podem ser posicionadas por um único par de coordenadas (x, y), ou seja, representam a localização de um objeto no espaço de, como uma escola ou poste de iluminação (ROSA, 2013). As linhas são um conjunto de pelo menos dois pontos. Segundo Rosa (2013), além das coordenadas dos pontos que compõem a linha, deve- se armazenar informações que indiquem o atributo que está associado à aquela linha. Assim, linhas podem representar rodovias, linhas de transmissão de energia elétrica ou telefonia, ferrovias, rios e córregos etc. Os polígonos, por sua vez, possuem por objetivo descrever as propriedades topológicas de áreas, de tal maneira que os atributos associados aos elementos da área representada possam ser manipulados da mesma forma em que um mapa temático analógico. Assim, cada elemento tem área, perímetro e formato individualizado (ROSA, 2013). Alguns exemplos de áreas são: os vetores que indicam a forma de um município, de uma bacia hidrográfica, as quadras de um bairro e etc. Esses dados podem ser obtidos de diversas formas, como nas medições com uso de GPS e levantamentos topográficos realizados em campo, bem como com mapas topográficos, pedológicos, geológicos, de divisas municipais, banco de dados com nome de lugares, entre outros. A Figura 2 apresenta um exemplo compilado de dados vetoriais pontual, linear e polígono em um SIG, usando duas ampliações diferentes da mesma imagem. A intenção é mostrar o SIG e os dados vetoriais e não um mapa propriamente dito. Em um mapa, deveriam constar todas as 29 informações obrigatórias de um mapa e na Figura 2 é mostrado o dado vetorial como é visto no SIG. Figura 2 – Representações de dados vetoriais na forma de ponto, linha e polígonos em um SIG Fonte: elaborado pelo autor. Os dados matriciais, também conhecidos como raster, podem ser armazenados em uma estrutura matricial. Segundo Fitz (2008), esse é um tipo estrutura de dados em que uma matriz com linhas e colunas contendo células, denominadas de pixel, que apresentam um valor z que pode indicar, por exemplo, uma cor ou tom de cinza. Imagens de satélites, fotografias aéreas digitais e mapas digitalizados, são os exemplos mais comuns de dados raster. Os dados alfanuméricos, por sua vez, “são dados constituídos por caracteres (letras, números ou sinais gráficos) que podem ser 30 armazenados em tabelas, as quais podem formar um banco de dados” (FITZ, 2008, p. 56). Geralmente, eles são dispostos em tabelas que possuem atributos, estando vinculados a uma estrutura espacial georreferenciada. Segundo Fitz (2008), esse tipo de dado, geralmente, é utilizado junto de uma estrutura vetorial. A entrada de dados no SIG requer do usuário uma procura por dados geoespaciais e por atributos disponíveis em diversas fontes de dados geográficos existentes. É necessário, também, compreender as escalas, as projeções cartográficas,os sistemas de referência geodésica e os sistemas de coordenadas distintos. Todos esses dados podem ter ou não custo, em diversas instituições ou organizações, públicas ou privadas. Atualmente, a busca pode ser realizada por meio dos websites das instituições/organizações, principalmente as públicas, que estão disponibilizando seus acervos de dados on-line ou informações sobre dos dados (SAMPAIO; BRANDALIZE, 2018). Essa entrada requer, ainda, que o usuário do sistema tenha acesso aos metadados disponibilizados pelas instituições/organizações. Esses metadados são informações pertinentes, como a escala de representação, a projeção cartográfica e os sistema de coordenadas utilizados, o datum (horizontal e/ou vertical), as unidades de medida e ano de obtenção/produção dos dados originais, entre outros (SAMPAIO; BRANDALIZE, 2018). Além disso, o armazenamento de dados geoespaciais está no meio digital, e tais dados, geralmente, são disponibilizados por meio de repositórios, bases de dados e bibliotecas digitais, além de portais na internet. Um exemplo é o Portal Brasileiro de Dados Geoespaciais (SIG Brasil), que é uma rede de servidores denominada Diretório Brasileiro de Dados Geoespaciais (DBDG), que tem por objetivo integrar os dados geoespaciais gerados por diversas instituições, facilitando o acesso a esses dados e a outros recursos. Nesse portal, existem dados 31 de diferentes provedoras, entre os principais estão: a Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN), o Instituto de Cartografia Aeronáutica (ICA), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e INPE, entre outras (SAMPAIO; BRANDALIZE, 2018). 5. Softwares e ferramentas de geoprocessamento A maior referência em SIG é o software ArcGIS da empresa Esri (Environmental Systems Research Institute). A Esri surgiu em 1969, em Redlands, Califórnia, EUA, como uma empresa voltada a consultoria de planejamento territorial. A empresa fornecia auxílio aos tomadores de decisão na organização e planejamento de informação geográfica. Em meados dos anos de 1970, a Esri criou uma ferramenta para ajudar nos trabalhos da empresa. O sistema era baseado em polígonos e foi fornecido a uma empresa da cidade, também californiana, de San Diego. Como havia aumento da demanda de serviços, a Esri desenvolveu um sistema automatizado para a geração de mapas, surgindo em 1982 o software ARC/INFO, uma poderosa ferramenta para análises geoespaciais que se tornou o primeiro SIG comercial. Assim, nos anos de 1990, com o avanço dos computadores pessoais, a Esri desenvolveu o SIG para desktop, denominado Arcview, agregando uma nova classe de usuários. Porém, no final dos anos de 1990, a empresa decidiu reformular o ARC/INFO para que esse fosse utilizável tanto em empresas como nos desktops de usuários comuns, assim, nasceu o ArcGIS (ESRI, 2015). Visando também no aprimoramento de tecnologia, o software brasileiro SPRING, desenvolvido pelo INPE, foi criado por meio do aperfeiçoamento do software SITIM/SGI. Contudo, no início dos anos de 1990, a equipe do INPE viu a necessidade de melhorar o software e torna-lo mais usual. Assim, em 1991, o desenvolvimento do SPRING se baseou em um modelo de dados que combinava as ideias de “campos” 32 e “objetos geográficos”, o que até então não existia em outros softwares no mercado (ESRI, 2015). A interface do programa baseava-se em menus e uma linguagem de consulta e manipulação espacial. Desde 1996, o SPRING é disponibilizado na Internet e pode ser obtido pelo site da Divisão de Processamento de Imagens (DPI) (DPI, 2018). Além desse software, temos o SIG Quantum GIS, conhecido como QGIS. Originado em 2002, ele possui a característica de ser livre e opensource, e por ser gratuito, bem como realizar várias atividades que também estão presentes no ArcGIS – que é um software pago. Nesse sentido, vários recursos podem ser obtidos através de plugins, desenvolvidos pela comunidade de desenvolvedores. Assim, por ser um software leve, com interface agradável e de fácil operação, o QGIS vem se tornando a referência em termos de SIG livre, recebendo constantes atualizações devido a sua popularidade entre os profissionais da área. Outro SIG que vem ampliando a base de usuários é o Google Earth Engine (GEE). Esse não é um software, como os outros, mas uma plataforma na nuvem, onde o usuário realiza operações, principalmente de Sensoriamento Remoto, através dos servidores do Google, dinamizando o processamento digital de imagens. O sistema é composto por Datasets que possuem petabytes (1015 bytes) de arquivos geoespaciais, principalmente imagens de satélite. Compute power que é uma infraestrutura computacional otimizada para o processamento paralelo de dados geoespaciais. As APIs são utilizadas para realizar os requerimentos junto aos servidores do Google, que é feito através das linguagens Javascript e Python. Por último, o code editor, um editor de código integrado a plataforma para o requerimento e visualização das análises espaciais complexas usando o 33 API Javascript (GOOGLE, 2019). Existem inúmeros outros softwares como os comerciais, como Philcarto e GlobalMapper e os livres, como GvSIG. Neste capítulo, abordamos sobre a evolução dos Sistemas de Informações Geográficas, os SIGs. O avanço da computação ao longo das décadas fez com que os SIG também evoluíssem e passassem a ser softwares mais complexos, gratuitos e de usos mais simples. As informações geoespaciais, atualmente, estão disponibilizadas em diversas fontes na internet e podem ser obtidas, na maioria dos casos, gratuitamente. Referências Bibliográficas CÂMARA, G.; DAVIS, C. Introdução: por que geoprocessamento? In: CÂMARA, G.; DAVIS, C.; MONTEIRO, A. M. V. (org.). Introdução à ciência da geoinformação. São José do Campos: INPE, 2001. p. 1-5. CÂMARA, G.; MEDEIROS, J. S. (org.). Geoprocessamento para projetos ambientais. São José do Campos: INPE, 1998. DIVISÃO DE PROCESSAMENTO DE IMAGENS–DPI. Histórico. 2018. Disponível em: http://www.dpi.inpe.br/DPI/institucional/pessoal/historico. Acesso em: 27 fev. 2020. ESRI. History up close. ESRI, Redlands, 2015. Disponível em: https://www.esri.com/~/ media/Files/Pdfs/about-esri/esri-history-up-close. Acesso em: 27 fev. 2020. FITZ, P. R. Geoprocessamento sem complicação. São Paulo: Oficina de Textos, 2008. GOOGLE. Introduction Google Earth Engine. 2019. Disponível em: https:// developers.google.com/earth-engine/. Acesso em: 27 fev. 2020. HAMADA, E.; GONÇALVES, R. R. D. V. Introdução ao Geoprocessamento: princípios básicos e aplicação. Jaguariúna: EMBRAPA, 2007. Disponível em: https:// www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/15316/introducao-ao- geoprocessamento-principios-basicos-e-aplicacao. Acesso em: 27 fev. 2020. LONGLEY, P. A.; GOODCHILD, M. F.; MAGUIRE, D. J.; RHIND, D. W. Sistemas e ciência da informação geográfica. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2013. ROSA, R. Introdução ao Geoprocessamento. Uberlândia: UFU, 2013. Disponível em: http://professor.ufabc.edu.br/~flavia.feitosa/cursos/geo2016/AULA5- ELEMENTOSMAPA/Apostila_Geop_rrosa.pdf. Acesso em: 17 fev. 2020. http://www.dpi.inpe.br/DPI/institucional/pessoal/historico https://www.esri.com/~/media/Files/Pdfs/about-esri/esri-history-up-close https://www.esri.com/~/media/Files/Pdfs/about-esri/esri-history-up-close https://developers.google.com/earth-engine/ https://developers.google.com/earth-engine/ https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/15316/introducao-ao-geoprocessamento-principios-basicos-e-aplicacao https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/15316/introducao-ao-geoprocessamento-principios-basicos-e-aplicacao https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/15316/introducao-ao-geoprocessamento-principios-basicos-e-aplicacao https://www.amazon.com.br/s/ref=dp_byline_sr_ebooks_2?ie=UTF8&field-author=Michael+F.+Goodchild&text=Michael+F.+Goodchild&sort=relevancerank&search-alias=digital-text https://www.amazon.com.br/s/ref=dp_byline_sr_ebooks_3?ie=UTF8&field-author=David+J.+Maguire&text=David+J.+Maguire&sort=relevancerank&search-alias=digital-texthttp://professor.ufabc.edu.br/~flavia.feitosa/cursos/geo2016/AULA5-ELEMENTOSMAPA/Apostila_Geop_rrosa.pdf http://professor.ufabc.edu.br/~flavia.feitosa/cursos/geo2016/AULA5-ELEMENTOSMAPA/Apostila_Geop_rrosa.pdf 34 SAMPAIO, T. V. M.; BRANDALIZE, M. C. B. Cartografia geral, digital e temática. Curitiba: UFPR, 2018. Disponível em: http://www.prppg.ufpr.br/site/ppggeografia/ wp-content/uploads/sites/71/2018/03/cartografia-geral-digital-e-tematica-b.pdf. Acesso em: 10 fev. 2020. http://www.prppg.ufpr.br/site/ppggeografia/wp-content/uploads/sites/71/2018/03/cartografia-geral-digital-e-tematica-b.pdf http://www.prppg.ufpr.br/site/ppggeografia/wp-content/uploads/sites/71/2018/03/cartografia-geral-digital-e-tematica-b.pdf 35 Sensoriamento Remoto Autoria: Felipe Rodrigues Macedo Leitura crítica: Ana Claudia Guedes Silva Objetivos • Compreender os sistemas de posicionamento global por satélites. • Entender os princípios básicos de radiação eletromagnética. • Apreender os métodos de obtenção de imagens de Sensoriamento Remoto (SR). 36 1. Sensoriamento Remoto Nesta unidade, abordaremos sobre os sistemas de posicionamento global por satélite, os fundamentos básicos do Sensoriamento Remoto (SR), a teoria, o espectro eletromagnético, os modos de obtenção de imagens de sensoriamento remoto, as características das imagens de satélite multiespectrais. Isso posto, seremos capazes de entender os usos dos sistemas de posicionamento por satélite e compreenderemos a fundamentação teórica do SR e seus diversos usos, desde mapeamentos de vegetação, passando por expansão urbana e outros, como dados climáticos, relevo etc. 1. Histórico e evolução dos sistemas de posicionamento por satélite Os Sistemas de Posicionamento Global por Satélite (Global Navigation Satellite System – GNSS) começaram no ano 1973, quando o Departamento de Defesa dos Estados Unidos desenvolveu um sistema de posicionamento por satélite para fins militares, conhecido como NAVSTAR GPS (Navigation Satellite with Time And Ranging–Global Positioning System) que passou por dois períodos de testes, um até 1979 e outro até 1985. Na terceira fase, o departamento produziu os aparelhos de GPS e parou de usar a rede com 24 satélites. A utilização inicial do GPS foi para facilitar os deslocamentos de tropas, a localização de tropas inimigas e a navegação de alta precisão para transporte militar. O GPS foi testado na Guerra do Golfo (1990-1991), facilitando a locomoção das tropas pelo deserto. Em 1994, o sistema GPS foi totalmente finalizado e foi possível integrá-lo às operações de levantamentos terrestres (CARVALHO; ARAÚJO, 2009). Atualmente, o GPS é referência quando se trata de GNSS. Entretanto, ele não é o único sistema ativo, pois existem pelo menos outros três sistemas conhecidos: 37 GLONASS (Global Orbiting Navigation Satellite System), Beidou/Compass e Galileo. O GLONASS nasceu em paralelo ao GPS, porém na antiga União da Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Ele também possuía como objetivo dar suporte a área militar e, desde 1988, era utilizado pela sociedade civil. Com o fim da URSS, a Federação Russa assumiu o projeto, finalizando-o em 1995. Porém, eles tiveram problemas com muitos satélites que foram desativados, chegando a possuir, no ano de 2002, apenas 9 dos 25 originais. Esse sistema passou por modernizações, e em 2010 atingiu o número de 23 satélites em funcionamento (DOMPIERI; SILVA; NOGUEIRA JÚNIOR, 2015). O Galileo surgiu após a recusa do Estados Unidos de permitir que outros países desenvolvessem o GPS. Assim, a União Europeia decidiu desenvolver um sistema próprio. Entre os anos de 1999 e 2002, houve a fase de definição da arquitetura do sistema e do segmento espacial. Em 2005, o primeiro satélite foi lançado, o projeto prevê ao menos 30 satélites em operação (DOMPIERI; SILVA; NOGUEIRA JÚNIOR, 2015). Por fim, o Beidou ou Compass foi iniciado em 1983, porém seu primeiro satélite foi lançado apenas no ano 2000. A expectativa do governo chinês é de até 2020 o sistema estar finalizado, com 35 satélites em órbita. 1.1 Fundamentos de Sensoriamento Remoto (SR) O sensoriamento remoto (SR) é a arte e a ciência na obtenção de informações sobre um objeto sem, necessariamente, estar em contato físico com ele, sendo realizado através de sensores instalados em aeronaves e satélites. Segundo Jensen (2009), não existe uma distância predeterminada que diga o que pode ser considerado remoto, por exemplo, um satélite pode observar outros planetas e sistemas estelares, um microscópio 38 eletrônico pode ser utilizado para obter fotografias de objetos extremamente pequenos, um instrumento de raio-X pode ser utilizado para “enxergar” ossos ou outra matéria interna sem tocar na pele ou nos músculos. De acordo com Moreira (2005), para SR, a energia solar é a base de todos os princípios que se enquadram nesta tecnologia, até mesmo os sensores ativos funcionam a base de energia solar. Os sensores, por sua vez, são divididos em dois tipos: ativos e passivos. Os sensores ativos são aqueles que possuem uma fonte de energia própria, eles podem emitir uma quantidade de energia na direção dos objetos terrestres (alvos) para captar a sua reflexão, por exemplo, o radar. Já os sensores passivos não possuem fonte própria de energia e necessitam de fontes externas para captar a reflexão dos alvos. Segundo Fitz (2008), uma filmadora ou uma câmera fotográfica sem spot ou flash, enquadram-se nessa categoria. Como exemplo em SR, temos os principais sensores dos principais satélites em órbita utilizados no sensoriamento remoto, como a série Landsat, CBERS, entre outros. 1.2 A Radiação Eletromagnética (REM) A radiação é um tipo de emissão de energia na atmosfera, que pode ser transmitida por meio de ondas eletromagnéticas, as quais se caracterizam por serem transversais, e, por isso, não necessitam de um meio material de propagação, se movendo inclusive no vácuo (MOREIRA, 2005). A radiação eletromagnética (REM) é gerada toda vez que uma carga elétrica é acelerada. O comprimento de onda, por sua vez, é a distância média entre dois picos e é, normalmente, medido na unidade micrômetros (µm) ou nanômetros (nm), tendo relação com a duração do tempo que a partícula carregada é acelerada. 39 Já a frequência é o número de comprimentos de onda em um determinado ponto medido no tempo. Segundo Jensen (2009), a onda que emite um pico a cada segundo e completando um ciclo, é aquela que possui uma frequência de um ciclo por segundo, ou um hertz, abreviado como 1 Hz. A REM consiste em dois tipos de campos: o elétrico e o magnético; eles são perpendiculares entre si e oscilam no mesmo sentido de propagação da onda. Assim, é possível ser demonstrado, fisicamente, que um campo elétrico gera um campo magnético e vice-versa, e dessa forma dois campos energéticos provém desse tipo de radiação (FITZ, 2008). O Sol é a mais importante fonte natural de REM. Ao chegar na superfície terrestre, a energia solar causa diversos fenômenos físicos, entre eles se destacam os relacionados à absorção, ao aquecimento, à reflexão e à transmissão de energia. De acordo com Fitz (2008), quando a energia é refletida, ela pode ser captada por sensores acoplados em satélites artificiais que orbitam a Terra. A Figura 1 apresenta um esquema básico de como são obtidas as imagens de SR. 40 Figura 1 – Obtenção de imagens por sensoriamento remoto Fonte: Florenzano (2011, p. 9). 1.3 Espectro eletromagnético O espectro eletromagnético é uma representação ordenada e contínua da radiação eletromagnética no que se refere aos diversos comprimentos de onda, frequência ou energia. De acordo com Rosa (2013), ele está subdividido em faixas, que representam regiões com características específicas sobre os processos ou mecanismos físicos geradores ou detectores de energia. Segundo Jensen (2009), assim, todos os objetos que possuem temperatura acima do zero absoluto (-273 ºC ou 0 K) emitem energia eletromagnética,por exemplo, a água, solo, rocha, vegetação e seres vivos; possuindo, portanto, intervalos de comprimento de onda medidos por mecanismos físicos de detecção. O Quadro 1 apresenta as principais 41 faixas do espectro eletromagnético, denominadas também como regiões do espectro. Quadro 1 – Divisões do espectro eletromagnético Faixa do espectro eletromagnético Características Comprimento de Onda Faixa das ondas de rádio e TV Muito utilizadas na comunicação. Maior que 30 cm Faixa das microondas Apresenta bons resultados para sensores como o Radar, já que essa radiação é pouco afetada pela atmosfera. 1 mm a 30 cm Faixa do infravermelho Muito utilizada em trabalhos de sensoriamento remoto por estar associada ao calor. Esse tipo de radiação é emitido por corpos aquecidos. 0,7 μm a 1,0 mm Faixa do visível Essa é a principal porção do espectro eletromagnético para uso em sensoriamento remoto. 0,4 μm a 0,7 μm Faixa do ultravioleta (UV) Sua radiação é essencial para a existência da vida na Terra, mas que também pode causar danos ao ser humano (queimaduras, alergias ou câncer de pele). É pouco utilizada para trabalhos em Sensoriamento Remoto. 10 nm a 0,4 μm Raio X Frequentemente utilizada na medicina. 0,01 nm a 10 nm 42 Raios gama Utilizada na medicina em tratamentos de radioterapia. 0,003 nm a 0,01 nm Fonte: adaptado de Fitz (2008). Nota explicativa: 1 nm (nanômetro) equivale a 0,001 μm (micrômetro); 1 μm equivale a 0,001 mm (milímetro); 1 mm que equivale a 0,1 cm (centímetro). Essas regiões ainda podem ser divididas em regiões menores, como a faixa do Infravermelho, que se subdivide em: • Infravermelho próximo (entre 0,7 μm e 5 μm); • Infravermelho médio (entre 5 μm e 30 μm); • Infravermelho distante (entre 30 μm e 1,0 mm). Segundo Fitz (2008), a porção situada entre cerca de 8 μm a 14 μm é chamada de infravermelho termal, pois nela se estabelecem as emissões máximas de calor de um corpo. Por sua vez, a faixa do visível subdivide- se em: Violeta: 0,380 μm a 0,440 μm; Azul: 0,440 μm a 0,485 μm; Ciano: 0,485 μm a 0,500 μm; Verde: 0,500 μm a 0,565 μm; Amarelo: 0,565 μm a 0,590 μm; Laranja: 0,590 μm a 0,625 μm; Vermelho: 0,625 μm a 0,740 μm. 43 A principal faixa do espectro eletromagnético utilizado pelo SR está situada entre o ultravioleta e o infravermelho termal. Assim, é nessa região do espectro que mais sofre os efeitos da atmosfera terrestre, devido a isto, dependendo do comprimento de onda emitido, haverá uma maior ou menor resistência. No entanto, as microondas utilizadas pelo radar não sofrem influência significativa das nuvens (FITZ, 2008). Assim, conforme ocorre a propagação da REM pela atmosfera, ela pode ser absorvida, refletida e espalhada. Caso ela seja retida, acontecerá seletivamente essa absorção através de vários constituintes, como: vapor d’água, ozônio, dióxido de carbono e etc.; sendo transformada em outras formas de energia, bem como reemitida em outros comprimentos de onda. Nas faixas do ultravioleta e visível, o ozônio é o principal atenuador da absorção, enquanto que na faixa do infravermelho o vapor d’água e o dióxido de carbono são os principais atenuadores. Porém, existem algumas regiões no espectro eletromagnético em que a absorção atmosférica é relativamente pequena. Segundo Rosa (2013), essas regiões são conhecidas como janelas atmosféricas e se caracterizam por possuírem uma boa transparência. Nessas regiões desenvolvemos praticamente todas as atividades de SR. 1.4 Obtenção de imagens de sensoriamento remoto De maneira geral, as imagens de SR podem ser obtidas de duas formas: por uma aeronave cuja altura de voo é predeterminada em função da distância focal da câmara e da escala desejada para as fotos ou imagens, sendo obtidos dois tipos de produtos: fotografias aéreas convencionais (películas) ou digitais e imagens de radar, caso o avião seja equipado com esse tipo de sensor. A segunda forma de obtenção é através de um sensor localizado em um satélite artificial localizado na órbita terrestre, 44 que podem ser obtidas imagens de radar ou outras imagens digitais em bandas específicas do espectro (FITZ, 2008). Segundo Jensen (2009), as fotografias aéreas podem ser: 1- Fotografia Aérea Vertical, que é considerada vertical devido ao eixo óptico a câmera está dentro de +/- 3º (perpendicular) à superfície da Terra; 2–Fotografia Aérea Oblíqua-baixa, que pode ser chamada de inclinada, é aquela em que o eixo óptico da câmera está deslocado da vertical em + 3º sem o horizonte visível; 3–Fotografia Aérea Oblíqua-alta é aquela onde o eixo óptico da câmera está deslocado da vertical em + 3º, porém, com o horizonte visível. Para obter a visão tridimensional do terreno é necessário o uso de duas fotografias. Essas imagens são obtidas de uma linha de voo previamente determinada e cada nova imagem mostra uma parte da imagem anterior, superior e inferior. Segundo Jensen (2009), a análise de um par de fotografias (chamadas de par estereoscópico) é feita através de um aparelho chamado estereoscópio. Além disso, os aerolevantamentos podem também utilizar o sistema de radar, que operam na faixa de frequência das microondas. Esse sistema permite a alta transmissão das ondas eletromagnéticas na atmosfera, sendo que quanto menor a frequência do radar maior será a sua penetração na superfície terrestre. Segundo Fitz (2008), todavia, os radares independem da iluminação solar, bem como geram imagens sob as condições mais adversas do tempo, por exemplo, as nuvens e as precipitações não interferem na qualidade da imagem gerada, o que é útil para regiões de clima tropical úmido. Os radares utilizados em SR são denominados radares de abertura sintética (Synthetic Aperture Radar–SAR). Esses sistemas coletam os dados no deslocamento e trajetória dada pela faixa de voo da aeronave, por 45 meio da chamada visada lateral. De acordo com Fitz (2008), o sensor emite as ondas eletromagnéticas em direção a superfície terrestre que ecoa a onda de volta ao sensor, esse sinal é processado para a geração de imagens digitais. As imagens de radar obtidas por satélites (plataforma em que o radar se encontra acoplado), também realizam esse mesmo procedimento. Com o uso de satélites, as fotografias aéreas caíram em desuso, entretanto, com o surgimento de aeronaves não-tripuladas deu sobrevida a aerofotogrametria, devido ao uso de drones ou VANTs (Veículo Aéreo Não-Tripulado) serem mais rápidos e baratos do que o levantamento com o uso de aviões. 1.5 Resoluções e classificações de imagens de satélite Os satélites orbitais utilizados em sensoriamento remoto podem possuir órbitas polares, quando passam próximas dos polos com inclinação aproximada de 90° em relação ao plano do Equador (FITZ, 2008). De acordo com Florenzano (2011), no entanto, existem satélites com órbitas inclinadas entre o polos e equador, essa órbita é chamada heliossíncrona e esse tipo cruza o equador sempre na mesma hora local. Segundo Fitz (2008), os satélites geoestacionários permanecem numa posição que lhes permita um deslocamento velocidade igual e no mesmo sentido do movimento de rotação terrestre, e são utilizados para obter imagens que auxiliam nas previsões meteorológicas. Portanto, os satélites com órbita geoestacionária ficam “girando” junto da Terra, o que dá a impressão de estarem parados (estacionados). Um sensor é um dispositivo que identifica à radiação eletromagnética em uma faixa predeterminada do espectro eletromagnético, ele faz um registro e gera um produto adequado para ser interpretado pelo usuário. De acordo com Rosa (2013), o sistema do sensor, geralmente, é constituído por um coletor (lente, espelho ou antena) e um sistema 46 de registro (detector ou filme). Os sensores possuem resoluções diferentes e de características específicas definidas pelas próprias imagens coletadas. A resolução temporal é o tempo que o sensor leva para retornar a uma área previamenteimageada. Já a resolução espacial é a área real da superfície terrestre por cada pixel correspondente na imagem (Figura 2). A resolução espectral é dada pela banda espectral compatível com o equipamento, ou seja, a capacidade de absorção (número de canais) do sensor em relação aos comprimentos de onda, (Figura 3) (FITZ, 2008). Figura 2 – Imagens dos satélites: (a) LANDSAT, resolução espacial 30 metros; (b) SPOT: com 10 m e (c) Ikonos 1 m, de uma porção do lago de Paranoá, Brasília, DF (a) (b) (c) Fonte: Meneses (2012b, p. 26). 47 Figura 3 – Identificação de estradas de terra em diferentes resoluções espectrais, onde a visualização no infravermelho próximo é melhor que na banda do visível Fonte: Meneses (2012b, p. 29). No entanto, a resolução radiométrica está relacionada com a quantidade de níveis digitais existentes na imagem, ou seja, quanto maior os níveis digitais na imagem, maior será a resolução radiométrica e, consequentemente, melhor será a qualidade da imagem. Essa resolução é representada pelos níveis de cinza (ou cores) de uma imagem e, geralmente, está na forma binária, ou bits, necessários para o seu armazenamento (Figura 4). De acordo com Fitz (2008), a Resolução digital é dada pela quantidade de pixels (ppi) ou pontos por polegada (dpi). 48 Figura 4 – Diferentes níveis de resolução radiométrica Fonte: Meneses (2012b, p. 30). Nesse sentido, quanto maior o dpi melhor a resolução da imagem, ou seja, ela será mais nítida, mas não necessariamente terá mais detalhes dos alvos na imagem, pois isso tem relação com a resolução espacial. No entanto, duas imagens do mesmo alvo podem ter 300 dpi, que é o mínimo recomendado para uma imagem com resolução desejável, porém uma pode estar com resolução de 20 metros (cada pixel representa 20 metros no terreno), e outra com resolução de 1 metro. 49 Nesse caso, a última mostrará detalhes que não poderão ser vistos na outra imagem, devido ao maior valor de resolução espacial. 1.6 Sistema de sensores Para entendermos a formação de imagens do sensoriamento remoto é preciso entender o espaço de cores RGB. As cores RGB são uma combinação entre o vermelho, verde e azul, formando as cores secundárias ciano, magenta e amarelo. A junção de todas essas cores forma a cor branca. Outro sistema muito utilizado é o CMYK, em que o ciano, magenta e amarelo formam as cores secundárias vermelho, verde e azul. Por fim, a união de todas as cores forma a cor preta. Uma maneira simples de entender isso é o monitor de computador que, geralmente, trabalha em RGB, essas cores formam o branco. Já o CMYK é mais utilizado em impressoras, essas cores formam o preto. Impressoras coloridas, por sua vez, trabalham com tinta (toner) nas cores ciano, magenta e amarelo, além do preto. Assim, as imagens de SR são, em geral, no sistema RGB. Os sensores multiespectrais capturam as imagens no seu comprimento de onda suportado pelo sensor. Desse modo, uma imagem de satélite pode possuir seis, sete ou mais bandas espectrais, cada uma em um comprimento de onda. Portanto, o usuário deve selecionar três bandas que possuam o máximo da informação desejada, a fim de gerar uma imagem colorida. De acordo com Meneses (2012a), as melhores bandas são aquelas situadas nas regiões de maior diferença de refletância entre os alvos. Para montar uma imagem colorida é necessário o uso de 3 bandas para o sistema RGB, ou seja, uma para o azul, uma para o verde e outra para o vermelho. Não é necessário o uso das bandas azul, verde e vermelho nesta ordem. Assim, podemos usar vermelho, infravermelho próximo 50 e infravermelho médio como RGB que obteremos uma composição colorida real, ou seja, onde a vegetação é verde. As imagens coloridas dependem da quantidade de energia refletida pelo alvo, da mistura e a associação das cores com as imagens. Se um objeto é totalmente branco ou preto e em todas as imagens em preto e branco, ele continua com sua cor “colorida” (verdadeira). Já os tons de cinza se tornam coloridos. Se em alguma imagem preto e branco ele se torna cinza, na foto colorida ele passará a ter alguma cor, isso ocorre em áreas urbanizadas, que podem ser brancas em determinados comprimentos de onda e cinza em outros. De acordo com Florenzano (2011), a composição colorida pode ganhar tons magenta ou ciano, isso depende de como é composta a imagem colorida. Nesta unidade, abordamos os sistemas de posicionamento por satélite GPS, GLONASS, Beidou e Galileo. Aprendemos sobre os fundamentos do SR e do espectro eletromagnético, que são elementos extremamente importante para a compreensão de como a luz solar é refletida e captada pelos sensores dos satélites. A radiação eletromagnética, ao se propagar pela atmosfera, é absorvida por vários dos seus elementos constituintes. O espalhamento a radiação solar incidente na atmosfera gera um campo de luz difusa que se propaga em todas as direções. Além disso, vimos o conceito de obtenção das imagens para o sensoriamento remoto, que pode ser realizada por aviões, drones e satélites artificiais. O uso de satélites, por sua vez, se divide em orbitais e geoestacionários. O primeiro é, geralmente, utilizado no levantamento de recursos naturais. Já o segundo é utilizado nos levantamentos climáticos. Os cinco tipos de resolução de imagens de sensoriamento remoto são: resolução temporal, espacial, espectral, radiométrica e digital e, por fim, os sistemas de sensores e suas diferentes bandas espectrais desenvolvidas para a obtenção de um comprimento de onda específicos. 51 Referências Bibliográficas CARVALHO, E. A.; ARAÚJO, P. C. Noções básicas de sistema de posicionamento global GPS. Natal: UFRN, 2009. DOMPIERI, M. H. G.; SILVA, M. A. S. D.; NOGUEIRA JÚNIOR, L. R. Sistemas de referência terrestre e posicionamento por satélite. Aracaju: Embrapa Tabuleiros Costeiros, 2015. EPIPHANIO, J. C. N. Satélites de sensoriamento remoto. São José dos Campos: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais–INPE, 2002. FITZ, P. R. Geoprocessamento sem complicação. São Paulo: Oficina de Textos, 2008. FLORENZANO, T. G. Iniciação em Sensoriamento Remoto. 3. ed. ampl. e atual. São Paulo: Oficina de Textos, 2011. JENSEN, J. R. Sensoriamento remoto do ambiente: uma perspectiva em recursos terrestres. São José dos Campos: Parêntese Editora, 2009. MENESES, P. R. Modelos de cores aplicados às imagens. In: MENESES, P. R.; ALMEIDA, T. D. (org.). Introdução ao processamento de imagens de sensoriamento remoto. Brasília: CNPq, 2012a. p. 121-137. MENESES, P. R. Princípios de sensoriamento remoto. In: MENESES, P. R.; ALMEIDA, T. D. (org.). Introdução ao processamento de imagens de sensoriamento remoto. Brasília: CNPq, 2012b. p. 1-34. MOREIRA, M. A. Fundamento do sensoriamento remoto e metodologias de aplicação. 3. ed. Viçosa: Ed. UFV, 2005. ROSA, R. Introdução ao Geoprocessamento. Uberlândia: UFU, 2013. Disponível em: http://professor.ufabc.edu.br/~flavia.feitosa/cursos/geo2016/AULA5- ELEMENTOSMAPA/Apostila_Geop_rrosa.pdf. Acesso em: 10 abr. 2019. 52 Geotecnologias aplicadas à área ambiental Autoria: Felipe Rodrigues Macedo Leitura crítica: Ana Claudia Guedes Silva Objetivos • Entender os usos e aplicações dos Sistemas de Informações Geográficas (SIGs). • Compreender as variáveis integradoras da análise ambiental. • Aprender sobre as geotecnologias e os processos decisórios. 53 1. As Geotecnologias e o meio ambiente Nesta unidade, estudaremos os conceitos e exemplos fundamentais para a compreensão dos Sistemas de Informações Geográficas SIGs, bem como seus usos e aplicações. Assim, abordaremos temas como o uso e aplicação dos SIGs, com ênfase nas análises ambientais, a importância desses sistemas geográficos para o meio ambiente, bem como no que tange ao desenvolvimento sustentável. Além disso, discutiremos também sobre o uso das geotecnologias como processo decisório nas tomadas de decisões. Esses conhecimentos serão base para o gerenciamento de projetos que visam analisaras condições ambientais, utilizando os SIGs, principalmente naqueles estudos em que há integração de dados. 1.1 Uso e aplicações do Sistema de Informações Geográficas (SIG) O Sistema de Informações Geográficas (SIG) pode ser compreendido, de acordo com Fitz (2008), como uma reunião de outros sistemas associados, que são compostos por programas com módulos e outros programas constituídos em sistemas independentes. Com o passar dos anos, os softwares de SIG foram aprimorados, devido ao aumento considerável da utilização e aplicação desses sistemas pela sociedade, auxiliando os usuários na obtenção de informações de forma rápida, precisa e exata, compreendendo, portanto, em ganhos de produtividade eficiência e logística em algumas atividades que utilizam essa plataforma. Nesse sentido, podemos visualizar a prática e o emprego dessa geotecnologia para diversos fins, como na Geografia, na Engenharia Civil, na Arquitetura e Urbanismo, na Engenharia Ambiental e Florestal, 54 na Cartografia, na Geologia e em outras áreas. Ademais, sociólogos e biólogos também se utilizam desses sistemas que subsidiam a análise e interpretação de fenômenos que se distribuem espacialmente pela superfície da Terra. Além da utilização dos SIGs por diversas áreas do conhecimento, também há o seu uso por órgãos governamentais, entidades privadas e não governamentais, com o intuito de integrar dados espaciais e não espaciais, principalmente vinculados aos estudos e projetos relacionados ao meio ambiente (HAMADA; GONÇALVES, 2007). Nesse sentido, Câmara et al. (1996) afirmam que um determinado evento geográfico pode ser analisado de maneiras e precisões diferentes, situações que dependerão do objetivo da aplicação do SIG. Assim, um determinado evento geográfico pode ser analisado de maneira e precisões distintas, situações definidas conforme o objetivo da pesquisa. Diante disso, os SIGs podem ser classificados conforme sua aplicação em três formas: socioeconômicas; ambientais e gerenciamento (MAGUIRE; GOODCHILD; RHIND, 1993 apud CÂMARA et al., 1996, p. 27). As aplicações socioeconômicas abrangem trabalhos com o uso da terra, seres humanos e infraestrutura do território. A Figura 1 demonstra um produto cartográfico referente a aplicação socioeconômica de um SIG. 55 Figural 1 – Representação da aplicação socioeconômica em ambiente SIG–mapa de uso da terra na bacia hidrográfica do rio Barra Preta, Paraná Fonte: Caraminan et al. (2019, p. 662). No caso da Figura 1, foram utilizadas imagens de satélites da série Landsat 8, do dia 19 de janeiro de 2018, para a confecção do mapa de uso da terra da bacia hidrográfica do rio Barra Preta. A construção do mapa foi realizada no SIG ArcGis 10.4 por meio da classificação Maxver (supervisionada) (CARAMINAN et al., 2019). As informações utilizadas para as aplicações socioeconômicas dos SIGs dizem respeito à realização de coletas censitárias, mapas urbanos digitalizados, fotografias aéreas ou até mesmo imagens de satélites. Os tratamentos estatísticos devem ser utilizados a fim de verificar as possíveis inconsistências nos bancos de dados. 56 Já para as aplicações ambientais, os enfoques estão vinculados ao uso dos recursos naturais, bem como no meio ambiente, como estudos de manejo e conservação de recursos naturais, gestão da exploração agrícola, planejamento urbano e ambiental. A Figura 2 apresenta um produto cartográfico gerado para aplicações ambientais: a declividade do terreno de uma bacia hidrográfica que tem influência direta na ocorrência das ordens de solos, uso e ocupação do solo, vegetação e outros. Figura 2 – Representação da aplicação ambiental em ambiente SIG– mapa declividade da bacia hidrográfica do rio Barra Preta, Paraná Fonte: Caraminan et al. (2019, p. 658). Os dados utilizados em aplicações ambientais dos SIGs estão relacionados à existência de bases cartográficas disponibilizadas por 57 órgãos, geralmente, governamentais. Por outro lado, também é possível utilizar, nas aplicações ambientais, dados primários coletados em campo, como é o caso das fotografias áreas de drones e veículos aéreos não-tripulados (VANTs), ou de características físico-químicas dos tipos de solo. Na situação verificada na Figura 2, o mapa de declividade da bacia hidrográfica do rio Barra Preta foi gerado a partir de dados SRTM (Shuttle Radar Topography Mission), obtidos a partir do site do Topodata, com resolução espacial de 30 metros (CARAMINAN et al., 2019). Já as aplicações de gerenciamento envolvem o planejamento e a modelagem de cenários de projeções futuras, além da identificação de impactos e problemas ambientais, visando a mitigação de cada um deles. A Figura 3 é um produto cartográfico realizado a partir da análise dos aspectos socioeconomicos e ambientais da Bacia Hidrográfica do rio Barra Preta (CARAMINAN et al., 2019). 58 Figura 3 – Representação da aplicação de gerenciamento em ambiente SIG – mapa das Unidades Geoambientais da Bacia hidrográfica do rio Barra Preta, Paraná Fonte: Caraminan et al. (2019, p. 664). O mapa das Unidades Geoambientais da Figura 3 tem como objetivo mostrar as potencialidades e as fragilidades ambientais e socioeconômicas da Bacia hidrográfica do rio Barra Preta. Neste caso, a Unidade Ia possui características diferentes das Unidade Ib e II. Sabendo disso, os gestores municipais ou, até mesmo, a população pode utilizar essa área de forma sustentável, respeitando as potencialidades dessa área, por exemplo, a Unidade Ia pode ser utilizada para a agricultura mecanizada, devido as características dos solos e da declividade, mas levando em consideração a preservação das áreas de nascentes, pois abastece boa parte dos moradores rurais. Por outro lado, a Unidade II 59 pode ser utilizada para pastagem e reflorestamento, com a implantação da silvicultura do eucalipto ou da apicultura, como diversificação das atividades que não utilizam mecanização do solo, pois as declividades são altas e não recomendas, devido principalmente a intensificação das feições erosivas. Medeiros e Câmara (2001), ainda, apontam a utilização dos SIGs para quatro grandes dimensões que estão relacionados aos estudos ambientais: mapeamento temático, diagnóstico ambiental, avaliação do impacto ambiental e o ordenamento territorial. Outras dimensões podem ainda ser contempladas, como é o caso dos Relatórios de Impacto Ambientais (RIMA) e os Zoneamentos Ecológico Econômicos (ZEE). Mas, como ocorrem os usos e aplicações dos SIGs? Principalmente através da confecção de produtos cartográficos, que atendam minimamente as normas da cartografia sistemática e temática. Além da possibilidade de análise da distribuição espacial dos fenômenos, criando banco de dados geográficos que são passíveis de serem alterados, armazenados e recuperados, fornecendo maiores alternativas e estratégias para tomadas de decisão pelo usuário. 2. O uso dos SIGs nas análises ambientais O ser humano vem apresentando comportamentos destrutivos no que diz respeito ao meio ambiente. Assim, cada vez mais, tem se intensificados as consequências das ações antrópicas, como a escassez de água, mudanças climáticas globais e locais, desmatamento, perda de solos destinados a agricultura, poluições, movimentos de massa e outras ações maléficas ao meio ambiental. 60 É nesse momento que surge a necessidade de compreender os processos, formas e funções que estão associados às alterações físicas, químicas e biológicas do ambiente. Logo, trabalhos com ênfase na análise ambiental se destacam, os quais devem abordar e discutir as interações entre as variáveis ecológicas, econômicas, sociais, culturais e politicas das áreas de interesse. No Brasil, os estudos relacionados com a análise ambiental e a preocupação com o meio ambiente são marcados, principalmente, a partir do início do século passado, embasados a partir de políticas ambientais, como é o caso do Código Florestal, de 23 de janeiro de 1934,
Compartilhar