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admin,PrincípiosPsicológicosBásicosdaLinguagem

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PRINC1PIOS PSICOLÓGICOS BÁSICOS 
DA LINGUAGEM 
INTRODUÇÃO 
LINGUAGEM E 
COMUNICAÇÃO 
MARIA HELENA NOVAES 
Tendo em vista o interêsse sempre vivo e atual do 
estudo da Linguagem, em suas múltiplas facêtas, 
pareceu-nos oportuno apresentar um levantamento 
dos princípios psicológicos básicos ligados a êste pro-
cesso. Esta sondagem, feita através de uma exaus-
tiva pesquisa bibliográfica, visa ajudar os estudiosos 
do assunto, tanto psicólogos, como professôres, peda-
gogos, orientadores educacionais e profissionais, con-
tinuamente chamados a resolver problemas de Lin-
guagem, oferecendo maiores conhecimentos desta 
matéria. Por outro lado, é por todos reconhecido o 
importante papel que desempenha a Linguagem no 
processo da comunicação do indivíduo com a socie-
dade, no processo educativo, bem como no da forma-
,ção da personalidade do indivíduo. Assim, seleciona-
mos os aspectos que nos pareceram mais significati-
vos, numa tentativa de sistematização de dados, pro-
curando conseguir certa unidade na exposição dos 
mesmos. 
I PARTE 
Linguagem é instrumento de pensamento, de expres-
são emocional e afetiva mas, sobretudo, de interco-
municação social. 
A linguagem é o conjunto de sinais intencionalmente 
(~pressivos usados para a intercomunicação pessoal. 
Através da linguagem é feita a comunicação de inte-
rêsses, crenças, conhecimentos, aspirações e ideais 
comuns aos indivíduos e às gerações que se sucedem. 
30 
LINGUAGEM E 
COMUNICAÇÃO 
ARQUIVOS BRASILEIROS DE PSICOTJ!:CNICA 
A linguagem é um instrumento valioso de adaptação 
social, uma vez que possibilita a comunicação do indi-
víduo com o meio ambiente. 
Linguagem e Comunicação estão intimamente liga-
das e constituem um processo único que envolve a 
manifestação dos aspectos mais complexos e diver-
sos da personalidade humana. 
A comunicRlção do indivíduo com os demais indiví-
duos é feita por intermédio dos sinais e símbolos 
utilizados pela linguagem. 
A linguagem é uma afirmação do "eu" em relação 
aos "outros". A importância do diálogo e da comu-
nicação do ser humano com o mundo ambiental é 
focalizada nos trabalhos de Spitz, Burlingham e 
Freud sôbre o problema das dificuldades de inter-
-relação das crianças vítimas de carência afetiva. 
Constataram que estas crianças, embora tivessem 
os recursos e dispositivos do mecanismo da lingua-
gem, não contavam com o sistema relacional entre as 
atividades mímicas e fônicas e a confirmação de um 
interlocutor real. 
No processo da comunicação a linguagem oral e a 
linguagem mímica desempenham papel de relevante 
importância. P. Janet afirma: "o homem é um ani-
mal tagarela que fala seus atos e age suas palavras". 
Na linguagem os gestos e as palavras, com as suas 
características próprias, são os esquemas organiza-
dores e os agentes rítmicos que dão movimento e vida 
aos objetos, atos e sons. 
A linguagem possibilita a formação de uma consciên-
cia social. 
A função social da linguagem consiste em assegurar 
uma adaptação comum de todos os membros da cole-
tividade à realidade exterior e à vida social. 
Ao ensinar à criança o nome dos objetos a sociedade 
também transmite o significado social dos mesmos 
e o seu uso comum, o que é importantíssimo para o 
processo da comunicação e do mútuo entendimento. 
PRINClPIOS PSICOLóGiCOS BÁSICOS bA LINGUAGEM 31 
LINGUAGEM E 
COMUNICAÇÃO 
A linguagem permite ao indivíduo atualizar os seus 
conceitos, formular juízos estáveis e idéias comuns 
que facilitarão a sua comunicação com o meio am-
biente. 
o que separa os homens que falam idiomas diferen-
tes, ou ainda, o mesmo idioma, não é a linguagem, 
no seu sentido estrito, mas sim as diferenças de 
idéias, de desenvolvimento intelectual, de costumes, 
de cultura, de experiências, de valôres e de educação. 
o indivíduo está em contínua relação verbal com a 
sociedade e com os demais indivíduos. 
Através da evolução do processo linguagem-comuni-
cação observa-se a organização verbal da emoção. 
À medida que a criança aprende a expressar-se e 
enriquece, através da linguagem verbal, os seus re-
cursos de comunicação, as reações emocionais perdem 
a fôrça de coerção imediata e brutal que exercia 
sôbre o Eu, cedendo lugar à reflexão, fator decisivo 
em tôda a criação verbal e comunicação. 
A emoção apreendida e representa,da pela palavra 
sofre através da evolução da linguagem uma meta-
morfose. A atividade subj8tiva - diz G. Humboldt 
- forma no pensamento um objeto. A representação 
mental resulta da união do ato de contemplação do 
objeto persistente e da atividade dos sentidos. Já na 
palavra o esfôrço intelectual abre caminho através 
dos lábios e o efeito produzido (som) volta ao ouvido 
do indivíduo. Assim, a representação chega à verda-
deira objetividade, sem por isto perder a sua subje-
tividade, facilitando muito a comunicação com o meio 
exterior. 
A linguagem desempenha papel de relevante impor-
tância na transformação do espaço da ação em espa-
ço de perspectiva e do campo de ação em campo de 
conhecimento. 
Segundo Dewey, a palavra, como símbolo socializado, 
pode vir a S8r uma barreira, um rótulo e um veículo 
no processo de comunicação do indivíduo com a so-
ciedade. 
32 
LINGUAGEM E 
PENSAMENTO 
ÁRQUIVÓS BRASlLEIRÓS DE PSICOTltCNICÀ 
A linguagem acompanha a evolução do pensamento 
infantil desde a fase do sincretismo até o pensamen· 
to formal e abstrato do adulto. 
A palavra, como símbolo socializado, precisa e isola 
um significado, envolvendo organização de pensamen-
to e direção dos processos mentais para um fim ou 
propósito determinado. 
Para que as palavras sirvam à elaboração do pensa-
mento, para que possam operar como estímulos men-
tais e emocionais devem ter carga ideativae con-
teúdo afetivo, isto é, que signifiquem e sugiram algu-
ma coisa. 
Na sua origem o pensamento prende-se à ação e aos 
objetos concretos, assim como a linguagem. 
A linguagem contribui para o enriquecimento do 
pensamento estando incorporada ao próprio proces-
so evolutivo do indivíduo. 
Janet afirma: pensamento é ação e nunca foi uma 
metamorfose da ação. 
Para Binet o pensamento e a linguagem estão inti-
mamente ligados, sendo que o pensamento possui 
uma base motora e já é esbôço de ação. 
Piaget interpreta o desenvolvimento dos mecanismos 
operacionais do pensamento da criança baseando-se 
no esquema da ação sensório-motora, ou seja, o es-
quema da assimilação. 
A imitação pré-verbal da criança pode ser consi-
derada como uma das manifestações de sua inteli-
gência sensório-motora, desde a passagem das con-
dutas sensório-motoras até as formas elementares do 
pensamento representativo. 
As ima2'ens mentais, bem oomo as imagens verbais 
ou sonoras. são imitações interiorizadas realizadas 
pelas atividades perceptivo-motoras. 
A linguagem contribui muito para a estruturação 
final das operações lógico-concretas do pensamento 
infantil. 
PRINClPIOS PSICOLóGICOS BÁSICOS DA LINGUAGEM 33 
LINGUAGEM E 
PENSAMENTO 
Os mecanismos cognitivos traduzem-se em forma de 
expressões verbais e é a linguagem que os modifica, 
enriquece e socializa. 
A linguagem tem papel de destaque na formação das 
idéias e na atividade intelectual. 
O processo da linguagem é o instrumento mais im-
portante e precioso para a conquista, a construção 
e a representação de um verdadeiro mundo de 
objetos. 
H. Von .Kleist afirma: a linguagem não se limita a 
comunicar pensamentos preexistentes mas é um me-
diador indispensável na formação do próprio pensa-
mento. A linguagem não é, portanto, mera transpo-
sição do pensamento para a sua forma verbal mas, 
coopera essencialmente no ato primitivo que o esta-
beleceu. Assim, a linguagem é um estímulo, uma 
causa motriz de primordial importância. Podemos 
dizer mesmo que a idéia vem falando e a dinâmica 
do pensamento corre paralelamente à dinâmica do 
discurso, havendo entre os dois processos um cons-
tante intercâmbio de fôrças. 
Tôda pergunta necessita de uma resposta. Na per-
gunta está sempre implícita uma curiosidade obje-
tivadirigida para a posse de um objeto, bem como 
para a aquisição de um conhecimento, "o que é", 
"por que" definem na realidade todo o círculo do co-
nhecimento. A criança que pergunta possui um ins-
trumento nôvo para interferir pessoalmente no mun-
do e para construir o seu próprio mundo. Todo o ser 
parece animado à criança porque está ao seu alcan-
ce através da linguagem e responde às suas pergun-
tas. O comércio que estabelece pela linguagm com o 
mundo vincula-se com o mundo das pessoas, bem 
como, com o dos objetos. A criança não fala com as 
coisas porque as considera animadas mas, pelo con-
trário, as considera animadas porque fala com elas, 
esperando respostas que lhe darão a oportunidade 
de estabelecer uma verdadeira relação mútua entre 
as coisas e o Eu. 
o vocabulário é um jôgo de idéias verbais e de cate-
gorias gramaticais, ou seja, de relações lógicas entre 
idéias. 
34 
LINGUAGEM E 
PENSAMENTO 
LINGUAGEM E 
PERCEPÇÃO 
ARQUIVOS BRASILEIROS DE PSlCOT~CNICA 
Saussure declara: o jôgo de sinais convencionais, tais 
como os elementos significativos de uma língua, sua~ 
palavras, seus procedimentos gramaticais, só podem 
ter valor pelo fato de se determinarem reciproca-
mente uns aos outros, servindo de veículo ao pensa-
mento humano. 
o pensamento está diretamente ligado à linguagem e 
o ponto de partida dos estudos da psicologia do pen-
samento é a aderência do pensamento à palavra. 
A unidade da palavra serve de ponto de cristalização 
para a multiplicidade das reprtsentações mentais, 
facilitando o intercâmbio de pensamentos. 
A percepção é um processo ativo integrado à própria 
ação. Em tôda a percepção há um sentido ativo, não 
se limitando a fotografar a realidade, nem a regis-
trar passivamente esta mesma realidade que o indi-
víduo atinge através dos receptores sensoriais. 
Perceber consiste essencialmente em identificar. Par-
timos de um certo número de índices recolhidos pelos 
sentidos para obter um significado. É o que Brunner 
chama de categorização. 
A percepção é uma forma de adaptação à realidade 
ambiental e consiste num processo de aprendizagem 
longo. É realizada mais para nos orientar no mundo 
do que para nos oferecer uma visão do mundo. 
A percepção produz-se em dois níveis diferentes: 1) 
nível da identificação espácio-temporal, ou seja a 
identifica~ão estrutural do objeto percebido. Esta 
operação é comum ao homem e ao animal, uma vez 
que êste é capaz de reagir a um quadrado ou a um 
triângulo, o que constitui uma identificação espacial 
ou então, a sinais sonoros sucessivos que constituem 
uma identificação temporal. Em têrmos de condicio-
namento corresponde ao que Pavlov chama de "pri-
meiro sistema de sinalização", utilizando-se os sinais 
sonoros; 2) nível da identificação por denominação 
que corresponde à linguagem falada ou escrita e que 
já pressupõe certa estruturação mental. Há intera-
ção entre os dois nínis e em alguns casos de afasia 
verificamos que, muitas vêzes, não conseguem os afá-
sicos identificar uma letra num fundo confuso e, por 
conseguinte, não conseguem nomeá-la. 
PRINCíPIOS PSICOLóGICOS BÁSICOS DA LINGUAGEM 35 
LINGUAGEM E 
PERCEPÇÃO 
Bruner admite que o ato de perceber termina com 
a cat9gorização, estando de pleno acôrdo com Gemelli 
que diz que a percepção só termina quando o signifi-
cado é apreendido. Entretanto, Michotte salienta o 
papel importante da semantização e acredita que 
as relações entre percepção e linguagem são íntimas 
e dignas de um estudo aprofundado. Cada experiên-
cia perceptiva modifica a maneira de pensar e cada 
transformação ou aquisição no modo de pensar pode 
modificar a experiência perceptiva ao nível percep-
tivo-verbal. 
Segundo a teoria da Gestalt o "todo é maior do que 
a soma das partes e contém propriedades que não 
podem ser encontradas em nenhuma das partes". 
Assim, a aprendizagem consiste na procura de um 
padrão total de resposta em uma resposta específica. 
O meio natural de descobrir as partes é por um pro-
cesso de análise ou individua·::ão de um todo maior, 
uma vez que as coisas são reconhecidas como todos. 
A capacidade de observação, de atenção, de concen-
tração, bem como a discriminação visual da criança 
ajudam muito o desenvolvimento da sua capacidade 
perceptiva e, esta, o desenvolvimento e enriquecimen-
to da linguagem. 
A palavra é percebida como um todo, uma unidade 
e não pela análise das letras. CaUell, fazendo uma 
experiência de rea·~ão de tempo, provou que o tempo 
necessário para decifrar uma palavra é o mesmo que 
para decifrar letras simples. Portanto, a palavra é 
sugerida mais pela forma como um todo, do que pelas 
letras vistas isoladamente dêst9 padrão total. 
As palavras familiares à criança são percebidas, de 
início, em têrmos de sua total estrutura. Já as pala-
vras não conhecidas requerem da criança uma maior 
atenção para a composição da palavra em si. 
A forma das letras é um fator importante para o 
reconhecimento das mesmas e observa-se que o prin-
cípio da Gestalt do fechamento das formas é uma 
realidad9 na aprendizagem da linguagem. A criança 
que principia a ler tende a identificar as palavras 
através das letras dominantes, junto às maiúsculas. 
Woodworth demonstrou que as letras fàcilmente 
identificáveis, em uma série pequena, tendem a per 
der a sua identidade quando vistas em séries maiores 
36 
LINGUAGEM E 
PERCEPÇÃO 
LINGUAGEM E 
APRENDIZAGEM 
ARQUIVOS BRASILEIROS DE PSlCOTJJlCNICA 
de letra>l, sofrendo as letras intermediárias o efeito 
do mascaramento com mais facilidade, do que a.~ 
letras finais. 
As palavras que contêm uma troca regular de letras 
pequenas e l0ngas são mais fác~is de ler, do que as 
palavras que têm apenas letras pequanas. Os seg-
mentos superiores das letras fornecem pistas mais 
significativas para a identificação das palavras do 
que os inferiores. 
Há uma nítida influência da forma da palavra na 
visão indireta, especialmente para a direita do ponto 
à(· fixação, tornando-se mais fácil para a criança ler 
as palavras que têm a parte inicial, do que a parte 
final. Entretanto, segundo Vernon, a parte maIS 
importante da palavra é a que dá a chave do seu sig-
nificado. 
A influência da experiência anterior é muito impor-
tante na aquisição da linguagem, pois introduz ele-
mentos das vivências do indivíduo no reconhecimento 
das palavras. 
Há uma i.nfluência da familiariedade da palavra no 
processo da percepção das palavras. 
No reconhecimento das palavras há uma urgência 
de ir adiante, daí a necessidade de facilitar a leitura 
de sentenças e histórias. 
O homem adquire o mecanismo da linguagem por 
fôrça de determinantes biológicos, sociais e psico-
lógicos. 
Os fatôres que devem ser levados em conta no pro-
cesso da aprendizagem da linguagem são: 1) matu-
ração; 2) experiência anterior; 3) motivação; 4) 
diferenças individuais; e 5) socialização. 
Há leis psicológicas, psico-sociológicas e psico-fisio-
lógicas que norteiam o processo da aprendizagem da 
palavra. Existe um equilíbrio que provém do fato 
que existe um indivíduo que fala e outro que escuta ; 
o que fala, tende a dispender o menor esfôrço possí-
vel (lei da economia) e a ,empregar, por isso mesmo, 
o mínimo de palavras diferentes possíveis, o que 
ouve exige o máximo de diferenciação para compre-
ender, sem muito esfôrço também. 
PRINClPIOS PSICOLóGICOS BÁSICOS DA LINGUAGEM 37 
LINGUAGEM E 
APRENDIZAGEM 
Como na curva do desenvolvimento, a curva da 
aprendizagem da palavra apresenta períodos de ace-
leração, de diminuição e de progresso. Ao final dos 
estudos primários, Smith aponta uma diminuição e, 
ao término dos estudos secundários (17 anos), uma 
aceleração. 
A palavra é uma sorte de etiqueta, têm uma signifi-
ca,ção "referencial" ao objeto, bem como uma signi-
ficação conceitual em relação ao conjunto significado. 
Daí o freqüente êrro da generalização das crianças, 
pela dificuldade que têm de diferenciação do sentido 
das palavras, e a dificuldade do adulto em compreen-
dêr a criança, pela fluidez dasignificação das pala-
vras que utiliza. 
A criança só começa a dominar o mecanismo da lin-
guagem quando constrói frases conscientemente e 
não, quando apenas repete automàticamente. 
Dentre as leis que regem o processo da aprendiza-
gem da linguagem podemos destacar: A) Lei da 
freqüência, atribuída à repetição; B) Lei do efeito, 
as respostas que 'satisfazem as necessidades do indi-
víduo tendem a ser repetidas (Munn); C) Lei da 
estabilidade da percepção, que depende da conver-
gência da atitude e do estímulo; D) Lei da criação 
de novas relações, que enriquecem a aprendizagem 
da linguagem. 
A linguagem tende constantemente a desembaraçar-
-se do que é supérfluo e a destacar o que é necessá-
rio, para que a sua finalidade seja atingida, isto é, 
fazer-se compreender. 
Na aprendizagem a repetição é importante quando 
permite outras condições operarem e outras relações 
aparecerem, havendo então uma consciência da expe-
riência enriquecida pela repetição e não destruída 
pelo automatismo da mesma. 
No processo da aprendizagem da palavra é preciso 
levar-se em conta que existe uma fonte de informa-
ção, selecionadora de uma mensagem que é trans-
formada, pelo transmissor, em sinais a serem envia-
dos por uma linha de comunicação. Por exemplo, 
quando o indivíduo fala, o seu cérêbro é a fonte da 
informação, o cérebro do auditor o destino da men-
sagem, o seu sistema vocal o transmissor, o ouvido 
38 
LINGUAGEM E 
APRENDIZAGEM 
ARQUIVOS BRASILEIROS DE PSICOTll':CNICA 
do outro e a aparelhagem fisiológica envolvida, o 
receptor. Assim, é preciso sempre avaliar a natu-
reza, quantidade e qualidade da informação, a capa-
cidade da. linha de comunica~ão, a eficiência do sis-
tema de codificação e os ruidos e fatôres inter-
ferentes. 
Duas categorias de fatôres devem ser destacadas no 
processo da aprendizagem da palavra: 1) fatôres 
orgânicos, anátomo-fisiológicos que representam os 
instrumentos da troca lingüística, como por exemplo, 
os processos visuais, acuidade auditiva, aparelho 
fonador etc ... 2) fatôres psicológicos que traduzem 
as possibilidades e as necessidades da personalidade 
de comunicar-se, que englobam, por exemplo, a per-
cepção da palavra, o conhecimento da mesma, a apre. 
ensão e interpretação do seu significado etc ... 
Na aprendizagem as diferenças de desenvolvhnpnto 
entre as crianças da mesma idade respondem pelas 
diferentes fêações ao meio em que vivem. A criança 
reage seletivamente ao ambiente e vai criando o seu 
pl'óvrio mundo, através da experiência vital. A faci-
ll'~ade e eficiência pelas quais a criança apren 1e a 
falar são devidas, sobretudo, aos fatôres motivação 
e maturação. 
Há uma relação distinta entre a capacidade de ler, 
a idade mental da cri anca e a maturidade mental, 
mesmo porque, a idade mental não é o único fator 
responsável pelo sucesso na leitura. Dêvem ser leva-
dos em consideração os demais fatôres, da maturi-
dade, condições físicas, nível ideomotor, nível cultu-
ral, adaptação social, hábitos de linguagem e expe-
riências pessoais. 
o processo de ensinar deve estar ligado ao processo 
de aprender. Aprendei!' a ler envolve o conceito da 
associação na aprendizagem e a criança aprende a ler 
quando responde fisicamente, mentalmente e emo-
cionalmente às palavras impressas. Naturalmente, o 
condicionamento é a moderna nomenclatura para a 
aprendizagem associativa. 
Na aprendizagem da leitura estão envolvidos tam-
bém os processos da percepção e da apreensão do 
significado das palavras, conforme afirma Buswell. 
PRINCíPIOS PSICOLóGICOS BÁSICOS DA LINGUAGEM 39 
LINGUAGEM E 
APRENDIZAGEM 
LINGUAGEM E 
DESENVOLVIMENTO 
Processo da 
formação da 
linguagem oral 
e modalidades 
evolutivas 
As diferenças individuais respondem muito mais 
pelas dificuldadas de aprendizagem da linguagem, do 
que os métodos de ensino inadequados e nível inte-
lectual. 
Há uma grande influência das tensões emocionais no 
processo da aprendizagem da linguagem. 
A linguagem é um aspecto do desenvolvimento global 
do indivíduo estando diretamente ligada ao desen-
volvimento da inteligência, da afetividade, da motri-
cidade e ao processo da socialização. 
A linguagem na sua evolução depende não só do ciclo 
da maturação como também dos círculos funcionais 
perceptivo-expressivos. 
A criança passa de uma fase mímica para uma fase 
de expressão verbal através, primeiramente, da utili-
zação de símbolos sonoros, depois, de fórmulas sono-
ras. Em seguida, atravessa uma fase de pesquisa 
voluntária dos símbolos que melhor expressem o que 
quer comunicar e, finalmente, entra na fase de auto-
matização e de enriquecimento dos seus meios de 
expressão verbal. 
o processo evolutivo da linguagem é regido por dois 
princípios: da economia e da facilidade na com-
preensão mútua. 
A linguagem primitiva foi puramente emocional e 
pantomímica passando, mais tarde, a ser onomato-
páica (imitativa) e, por fim, adquirindo um caráter 
simbólico verbal ou gráfico. A princípio, os sinais 
eram expressivos de situações difusas e de ações 
correlativas, depois foram-se discriminando e mati-
zando. 
Mira y Lopez distingue as seguintes etapas no pro-
cesso da formação da linguagem oral: 
a) expressão emocional involuntária, 
b) condicionalização de certas respostas motoras 
com efeito secundário, 
c) condicionalização da conduta, 
d) percepção dêste efeito secundário. 
40 ARQUIVOS BRASILEIROS DE PSICOTJ!':CNICA 
LINGUAGEM E Assim, o condicionamento torna possível o restabe-
DESENVOLVIMENTO lecimento da associação em têrmos de estímulos e 
respostas e um contrôle da aprendizagem associativa. 
E'vol'14ç'ão da, 
linguagem da 
crianÇla 
N o ensino da linguagem a associação se processa 
entre os vários estímulos que oferece o símbolo 
verbal. As palavras impressas adquirem significação 
através da associação das reações que acompanha-
ram as palavras sonoras. 
A aprendizagem da linguagem baseia-se na associa-
ção da palavra sonora com uma atividade ou situa-
ção, adquirindo o som um significado real e inte-
grando o processo da linguagem. 
A linguagem apresenta as seguintes modalidades 
evolutivas: a) mímico-emocional, b) mlmlco-ex-
pressiva, c) imago-gráfica, d) ídeo-gráfica, e) 
verbo-simbólica. 
A linguagem é de início manifestação puramente 
emocional. Ex.: o chôro exprime mal estar; o riso, 
satisfação, etc ... 
Dada a íntima correspondência fisiológica entre o 
aparelho auditivo e o fonador, o estímulo auditivo da 
própria voz tende a fixar a articulação correspon-
dente e assim, a criança passa a repetir, pela forma 
primitiva da imitação, os sons que ouve. 
Nesta primeira fase o estímulo social concorre ape-
nas para acentuar fonemas espontâneos, preparató-
rios da linguagem, mais tarde convencional ou socia-
lizada. Ex.: as combinações sonoras ocmo má-má, 
que ouve dos adultos, a criança repete-as com tanto 
mais freqüência quanto as ouve com freqüência. 
Na fase da vocalização a criança apenas exercita-se 
a manejar os sons e as sílabas pronunciadas não 
possuem sentido específico. Geralmente, esta fase da 
vocalização é acompanhada de movimentos de pernas 
e braços da criança. 
Depois da fase do balbucio e da vocalização a crian-
ça começa a estabelecer as relações entre os sons e 
as pessoas, objetos, atividades e a influência do meio 
fa,milia,r faz-s~ sentir com intensidade. 
PRINClPIOS PSICOLóGICOS BÁSICOS DA LINGUAGEM 41 
LINGUAGEM E 
DESENVOLVIMENTO 
Evolução da 
lingun,gem da 
criança 
-\ 
Com os primeiros vocábulos surge a função simbó-
lica da linguagem e aparece o aspecto da imagem e 
da idéia, entretanto só mais tarde disporá de voca-
bulário enriquecido passando as palavras a adqui-
rirem sentido diferenciado e mais preciso. O voca-
bulário ativo de uma criança de 12 a 15 meses não 
passa, em regra, de meia dúzia de palavras. A menor 
convivência com adultos retarda de 3 a 4 meses o 
aparecimento dos primeiros vocábulos. 
De 1 a 6 meses de idade a criança está na fase do 
balbucio e vocalização, de 7 a 9 meses entra na 
faseda imitação involuntária, dos 10 a 11 meses já 
tem uma reação adequada a ordens simples (sentar, 
levantar etc ... ) e aos 12 para 15 meses começa o 
uso ativo das primeiras palavras significativas. 
Assim, a partir da diminuição da hiperlonia e da 
abertura do campo perceptivo para o mundo de pala-
vras "objetos falantes", a expressão verbal da crian-
ça começa a evoluir "do corpo que fala, às partes 
do corpo que entram em relação com as coisas, pas-
sando a utilizar a gesticulação, a indicação, a pro-
testação vocal e manual e, depois, os jogos verbais 
auto-imitativos e hetero-imitativos. 
A compreensão da palavra ouvida antecede a possi-
bilidade da palavra falada. 
O princípio da satisfação imediata explica inversões 
curiosas da sintaxe infantil, uma vez que a criança 
de 1 ano e 2 anos fala para satisfazer os seus desejos. 
Ex. : Déa quer mais beber aguinha. 
Stern destaca as palavras-frases no período de 1 ano 
e 3 meses que tendem a desaparecer no período de 
1 ano e 6 meses a 2 anos, iniciando-se então o período 
das frases curtas ainda incompletas. Ex.: titia embo-
ra não. 
Gesell indica para a criança de 1 ano e 11 meses 
um vocabulário de 50 palavras diferentes, partindo 
daí para as palavras de relações. 
A partir de 3 anos aparecem as sentenças simples e 
completas com todos os seus elementos. Ex.: Déa 
vai pra casa da vovó. 
42 ARQUIVOS BRASILEIROS DE PSICOTJiJCNICA 
LINGUAGEM E 
DESENVOLVIMENTO 
Evolução da 
lingwagem da 
crianÇla 
Dos 4 anos em diante aparecem em percentagem 
significativa as orações complztas. Ex.: agora vou 
botar um chapéu bonito mesmo, para êle ir passear 
com a mãe dêle. 
A evolução da linguagem infantil apresenta as se-
guintes etapas: a) do balbúcio, b) de palavras de 
significação duvidosa, c) de palavras-frase, d) de 
proposiçõe8 simples - incompletas, e) de proposi-
ções simples - completas. f) de proposições com-
plexas - incompletas, e g) de proposições comple-
xas - completas. 
A linguagem embora utilize, a princípio, o Il'ecurso 
gem gráfica. 
o vocabulário da crian~a dependerá, naturalmente, 
das condições de vida da família, da comunidade, 
das próprias condições locais e à medida que tem 
exp~riências novas, através de jogos, brinquedos, 
livros, tenderá a enriquecê-lo. 
As sucessivas substituições da linguagem resultam, 
ao mesmo bmpo, da maior abundância e precisão dos 
meios expressivos e da crescente comunicação das 
crianças com a sociedade dos adultos. 
o valor significativo da linguagem dependerá do 
grau de desenvolvimento geral da criança, das in-
fluências do ambiente familair, das vivências indivi-
duais e das experiências vitais. 
A linguagem embora utilize a princIpIO o recurso 
da imitação de maneira intensiva, cada vez afirma-
-se mais no seu processo individual, desenvolvendo 
cada criança a sua própria linguagem. 
Stern afirma: - quando a criança desperta para o 
simbolismo verbal, não só emprega as palavras como 
símbolos mas, também adverte que as palavras re-
presentam algo e empenha-se na busca de palavras 
novas. Descobre que a todo objeto corresponde um 
complexo sonoro que o simboliza, que serve para 
designar êste objeto e dialogar com OS outros; daí 
começa a sua curiosidade pelos nomes e uma ver-
dadeira mania de denominação. 
PRINClPIOS PSICOLóGICOS BASICOS DA LINGUAGEM 43 
LINGUAGEM E 
DESENVOLVIMENTO 
{i}vol1bf;âo da 
linguagem da 
criança 
No estudo evolutivo da linguagem conteúdo e forma 
são estruturas indissociáveis que devem ser estuda-
das paralelamente. 
o verbo é uma semantema qUe implica e explica o 
tempo. Distingue-se duas noções de tempo: - o 
tempo implícito, aquêle que o verbo leva consigo, 
parte integrante da sua substância e que se encon-
tra indissoluvelmente ligado ao verbo. Ex.: ao pro-
nunciar o verbo caminhar, já se tem idéia de um 
processo e de um tempo determinado para cumprir 
a sua realização, - o tempo explicado, aquêle que 
é divisível em momentos distintos - passado, pre-
sente e futuro e suas interpretações - que o tempo 
do verbo e a frase atribui. 
N a linguagem infantil aparece em primeiro lugar 
o modo imperativo; durante o 2'1 ano o presente do 
indicativo tem, às vêzes, a intenção imperativa. Ex.: 
Déa quer aguinha (o que equivale a uma ordem). 
A partir do 39 ano predomina o indicativo até os 
5 anos sendo o modo subjuntivo e condicional usados 
raramente e substituídos pelo imperfeito do indica-
tivo. Ex.: aquêle bicho está voando porque se estava 
parado, estava com as asas abaixadas. 
N a linguagem da criança até 4 anos, o futuro simples 
não existe e em seu lugar aparece o futuro imediato. 
que se confunde aliás com o presente, uma vez que 
a criança ainda não pensa em futuro longínquo e o 
uso normal do amanhã só aparece dos 14 anos em 
diante. Ex.: Vou passear. 
No período de afirmação infantil, aos 2 anos, o 
pronome e adjetivo "meu" aparece com freqüência, 
expressando bem o egocentrismo da criança; só de-
pois, aos 4 anos, o "seu" aparece com igual inten-
sidade. 
o plural raramente é empregado pela criança de 1 a 
3 anos e o aumento crescente do emprêgo da 3~ pes-
soa é prova da sua socialização crescente. 
A percentagem das frases negativas, já elevada aos 
2 anos (80%), que expressam a crise de oposição da 
criança, mantém-se até os 3 anos, para decrescer 
em seguida. Os advérbios de negação ultrapassam 
44 ARQUIVOS BRASILEIROS DE PSICOTl!:CNICA ----_.-------------------------------------------------------
LINGUAGEM E 
DESENVOLVIMENTO 
Evolwç'ão da 
ling'UJagem da 
cna1l;Çla 
em freqüência os de afirmação e a intenção volun-
tariosa do "não" e do "sim" indicam apenas o querer 
e o não querer. 
Os advérbios de lugar aparecem primeiro que os de 
tempo e de modo. De 1 a 3 anos, "cá" e "lá" ocorrem 
em situação emocional que expressa o desejo de 
aproximação ou do afastamento de pessoas e objetos. 
A linguagem infantil no período de 1 a 6 anos é 
nItidamente funcional e atende aos maiores interês-
ses da criança. 
A linguagem, como os hábitos, desenvolve-se sob a 
influência contínua do ambiente social. Pelo processo 
da imitação são adquiridos os têrmos referentes ao 
convívio social e por meio dessa atitude aprende a 
interpretar atitudes alheias. O comportamento da 
criança de 5 anos já inclui reprodução de atitudes 
emocionais. 
O principal interêsse da criança de 1 a 6 anos con-
centra-se no grupo familiar e o desenvolvimento da 
sua linguagem está prêso a estas relações. O voca-
bulário da cri anca está contaminado de familiares e 
de situações familiares. 
A aquisição da linguagem também está em função 
dos interêsses da criança ligados às suas experiên-
cias e necessidades básicas. Assim os assuntos pre-
dominantes na linguagem do pré-escolar são liga-
dos a: pessoas familiares, casa e objetos de uso pes-
soal e caseiros, animais e plantas (a criança de 2 
a 4 anos trata os animais caseiros como se fôssem 
sêres humanos), alimentos, veículos, ruas, pontes, 
cenas da vizinhança paisagem túneis etc ... 
Os vocábulos relativos às profissões aparecem depois 
dos 3 anos de idade quando se interessa em imitar 
o soldado, o condutor de bonde, o professor, o cozi-
nheiro etc ... 
O uso ativo da linguagem consiste em recorrer a hábi-
tos adquiridos, daí o papel importante que desem-
penha o ato reflexo condicionado. 
Há uma relação dinâmica entre a psico-motricidade e 
a linguagem, intervindo a motricidade em todos os 
níveis do desenvolvimento das funções cognitivas que 
entram em jôgo no processo da linguagem, tais como: 
PRINCíPIOS PSICOLóGICóS BÁSICOS DA LINGUAGEM 45 -----_.---------------------- _.-- .. -
LINGUAGEM E 
DESENVOLVIMENTO 
Evo7Mção da 
linfJ1,«Lgem da 
C1'Ja~a 
percepção dos esquemas sensoriais e motores, ima-
gem mental, representações pré-<>peratórias e opera-
,ções propriamente ditas (Piaget) .. 
A linguagem aparece durante o curso do desenvolvi-
mento da inteligência sensório-motora, que contribui 
muito para o seu enriquecimento. 
A criança, à medida que se desenvolve no plano 
motor, aumenta oseu vocabulário relacionado com 
atividades manuais. As primeiras noções de espaço, 
consistência, forma são adquiridas pela atividade 
manual. 
De 1 a 5 anos predominam os vocábulos relativos 
à ação, já os vocábulos referentes à forma, côr ou 
atributos estáticos só aparecem na proporção de um 
têrço. 
Os jogos de construção facilitam a aprendizagem das 
relações espaciais e da linguagem relacionada, como 
por exemplo: abrir, entre, etc... O plano vertical 
aparece no jôgo de construção aos 2 anos, ex. : acima. 
Por volta dos 3 a 4 anos a construção começa a inte-
ressar pela altura e largura e a evolução do vocabu-
lário segue de perto a atividade construtiva, ex.: em 
frente, atrás, em volta. 
Em uma série de objetos arrumados em fila, as 
crianças fixam-se nos objetos das extremidades e 
empregam têrmos relativos a estas posições extremas, 
por isso há pobreza de vocábulos de posições inter-
mediárias. 
Até 2 anos de idade o mundo infantil não vai além 
do que está ao alcance de suas mãos e 2/3 das pala-
v,ras relativas a situações ou mudanças no espaço 
referem-se ao seu ambiente próximo e a criança 
possui um vocabulário pobre em têrmos espaciais, 
indicando os objetos com as palavras êste, êsse. 
Aos 3 anos a criança começa a estabelecer as primei-
ras noções de tamanho e a noção do seu esquema 
corporal contribui muito para fazer paralelos entre 
ela e os objetos. Começa também a comparar os 
objetos e vai estabelecendo relações de tamanho e 
grandeza. Ex.: êste lápis grande, êste pequenino. 
O desenvolvimento intelectual da criança fundamen-
ta-se na experiência concreta e os conceitos só adqui-
rem significação quando derivados de situações 
vividas. 
46 ARQUIVOS BRASILEIROS DE PSICOTlliCNICA 
----- -------------------------------------------------------
LINGUAGEM E 
DESENVOLVIMENTO 
Evolução da 
linguagem da 
cría'n,t;la 
A criança ao lidar diretamente com os objetos obser-
va atributos de forma, substância, tamanho, quan-
tidade, côre vai estabelecendo relações causais ex-
pressas pelo uso freqüente do "pO'r quê", dos 2 anos 
em diante. 
N a idade pré-escolar as noções de espaço, tempo e 
quantidade não se separam das situações específicas 
a que estão ligadas, uma vez que a criança não tem 
capacidade de abstração, limitando-se à noção de 
tempo da criança, ao ritmo natural da sua vida 
quotidiana. 
A noção d8 quantidade na criança parece provir do 
sentimento de presença e a facilidade com que a 
criança repete os nomes dos números não implica 
na exata avaliaç[w da quantidade, que só virá mais 
tarde. 
A criança, como aliás o adulto, revela acentuada 
tendência para terminar estruturas inacabadas. A 
noção de falta está relacionada com alguma coisa que 
procura ou que tenha desaparecido. A idéia da ine-
xistência absoluta é inteiramente estranha, talvez 
daí provenha a dificuldade em entender a significa-
ção do zero. 
Entre 5 e 6 anos, a criança preocupa-se em conse-
guir equilíbrio simétrico no jôgo de construção, tendo 
nítida preferência pelas formas harmoniosas, estu-
dadas pela Gestalt e que influenciam tanto a aqui-
si~ão das noções de tamanho, como as de quantidade. 
A pr.:.:cisão da linguagem dependerá da atividade pró-
pria à criança e das reações habituais é que nascerá 
o verdadeiro significadO' da palavra. 
A princípio, a criança apenas comenta a atividade 
exercida no momento, ou aquela que acabou de fazer. 
A partir de 2 anos, a criança já diz o que vai fazer 
e associa a linguagem à atividade que pratica. Aos 
3 anos a criança fala durante a execução da sua ati-
vidade e comenta a execução feita. O progresso idea-
tivo também se manifesta na organização racional 
da atividade. Ex. a criança de 1 ano não age inten-
cionalmente no sentido da brincadeira, já aos 5 e 6 
anos declara o objetivo da sua brincadeira. 
PRINCtPIOS PSICOLóGICOS BÁSICOS DA LINGUAGEM 47 
LINGUAGEM E 
DESENVOLVIMENTO 
EvolUJção da 
linguagem da 
criança 
No jôgo dramatizado repete a. criança expressões de 
atividade e sentimentos apreendidos. Ex.: agora, fi-
lhinha vai c:~rmir. Fica quieta senão eu zango. 
Aos 3 anos desenvolve-se a fase mágica da lingua-
gem, tendo a criança o poder evocativo de completar 
pela palavra a realidade, vivendo intensamente esta 
fase imaginária. Atribui vida humana aos objetos e 
a fase do animismo intensa entre os 3-4 anos decai 
em seguida. 
A fantasia livre da criança transforma o mundo das 
idéias e da realidade. Por volta dos 7 anos o monó-
logo em voz alta desaparece totalmente, substituído 
pela linguagem interior, e a lógica da criança já vai 
se ajustando à realidade das coisas, aparecendo uma 
organização mental e progresso intelectual, tanto na 
linguagem falada, como no desenho. 
A linguagem gráfica da criança é muito importante 
e evolui da fase da rabiscação para a do desenho celu-
lar, de acôrdo com a lei do contôrno fechado da 
Gestalt, passando depois para uma representação pri-
mária, uma tentativa de imitação contaminada pelo 
realismo infantil até conseguir uma expressão grá-
fica mais rica e significativa. É interessante observar 
que, muitas vêzes, a linguagêm oral adianta-se ao 
que, por falta de técnica, não conseguiu represen-
tar e começa então a dar um significado ao seu gra-
fismo. Ex. : o mesmo rabisco arredondado é ovo, bola, 
chapéu. Os assuntos do desenho infantil são os mes-
mos da linguagem oral e as duas formas de expres-
são se (;ompletam. 
A fantasis infantil envolve fábula imaginada e fábu-
la falada. A palavra é sugerida pela imagem e a 
imagem pela palavra, a tal ponto que ambas vivem 
e operam uma para a outra. 
o antropomorfismo infantil está alimentado pela 
linguagem e baseia-se no sentimento de que há uma 
mtuição imediata das coi~as porque possuímos um 
meio para nos entendermos com elas. 
A atividade verbal não só é uma circunstância con-
comitante a tôda atividade Júdica, como o seu estí-
mulo contínuo. 
4S ARQUIVOS BRASILEIROS DE PSlCOT1JCNICA _._----------------------------
LINGUAGEM E 
DESENVOLVIMENTO 
A inclinação para o jôgo se vincula, em grande parte, 
à inclinação da criança para a fantasia, estando por-
tanto jôgo e linguagem estreitamente ligados. 
A linguagem coopera na construção do mundo dos 
objetos, do mundo da percepção e da intuição obje-
tiva, bem como é indispensável na construção do 
mundo da imaginação pura. 
Quanto mais progride a criança no seu desenvolvi-
mento verbal mais sente despertar o uso universal 
e objetivamente válido da linguagem. 
o desenvolvimento da linguagem infantil processa-
se, primeiro, respondendo à linguagem falada, depois, 
aprendendo a dizer as palavras e a falar, em seguida, 
aprende a ler e interpretar símbolos escritos e, final-
mente, a escrever. . 
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