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Livro Texto - Unidade I

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Prévia do material em texto

Autora: Profa. Tais Masotti Lorenzetti Fortes
Colaboradoras: Profa. Renata Guzzo Souza Belinelo
 Profa. Laura Cristina da Cruz Dominciano
Fundamentos Históricos
de Enfermagem
Professora conteudista: Tais Masotti Lorenzetti Fortes
Formada em Enfermagem em 1986, trabalhou como enfermeira em unidade de clínica médica e clínica de 
doenças infectocontagiosas, bem como no controle de infecções hospitalares, enquanto terminava a especialização 
em Enfermagem médico-cirúrgica. Iniciou a carreira docente em 1994, ministrando disciplinas de saúde do adulto e 
doenças transmissíveis. Acreditando na responsabilidade de a enfermagem apresentar as possibilidades terapêuticas e 
estimular o paciente na participação de seu tratamento, cursou pós-graduação em Marketing. Com a prática repetida 
na atenção de idosos, realizou mestrado em Gerontologia Social. As mudanças pedagógicas levaram-na a estudar 
metodologias participativas e que levem em consideração a vivência anterior do aluno, e por esse motivo fez outra 
especialização, agora em métodos de aprendizagem participativa. O doutorado foi realizado em Patologia Clínica, 
estudando o processo de envelhecimento da pele e propondo métodos de prevenção de lesões pertinentes ao processo 
de alterações cutâneas.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
F738f Fortes, Taís Masotti Lorenzetti.
Fundamentos históricos de Enfermagem. / Taís Masotti 
Lorenzetti Fortes. – São Paulo: Editora Sol, 2020.
112 p., il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230.
1. Teorias de enfermagem. 2. Prática assistencial. 3. Demanda 
Administrativa. I. Título.
CDU 616-083
U504.05 – 20
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Lucas Ricardi
 Ana Fazzio
Sumário
Fundamentos Históricos de Enfermagem
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7
Unidade I
1 O CUIDAR ..............................................................................................................................................................9
1.1 Dimensão histórica no mundo: evolução e prática contemporânea .................................9
1.2 Dimensão histórica brasileira: evolução e prática contemporânea brasileira ............. 28
2 O DESENVOLVIMENTO DO CONHECIMENTO DE ENFERMAGEM .................................................. 34
3 PADRÕES DE CONHECIMENTO E SUA IMPORTÂNCIA PARA O CUIDAR .................................... 35
4 DESENVOLVIMENTO DO ENSINO DE ENFERMAGEM ......................................................................... 38
Unidade II
5 AS TEORIAS DE ENFERMAGEM .................................................................................................................. 53
5.1 As teorias de Enfermagem e sua influência nos processos cuidativos .......................... 53
5.1.1 Teorias orientadas para a tese das necessidades/problemas ................................................ 57
5.1.2 Teorias orientadas para a interação ................................................................................................ 60
5.1.3 Teorias orientadas por campos de energia ................................................................................... 62
5.1.4 Teorias orientadas para os sistemas ................................................................................................ 65
6 A PRÁTICA ASSISTENCIAL E A DEMANDA ADMINISTRATIVA, ÓRGÃOS DE CLASSE 
E DE REPRESENTAÇÃO PROFISSIONAL, MERCADO DE TRABALHO ................................................. 68
6.1 Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) ............................................................................... 69
6.2 Conselho Regional de Enfermagem (Coren) ............................................................................. 69
6.3 Conselho Internacional de Enfermagem (ICN) ......................................................................... 70
6.4 Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn) .......................................................................... 71
6.5 Sindicato de Enfermagem ................................................................................................................ 73
6.6 Sociedades de especialistas .............................................................................................................. 74
6.7 Símbolos e juramento ........................................................................................................................ 76
6.8 Mercado de trabalho ........................................................................................................................... 77
7 O PROCESSO DE ENFERMAGEM (PE) ...................................................................................................... 82
7.1 Evolução histórica ................................................................................................................................ 82
8 FASES DO PROCESSO ..................................................................................................................................... 88
8.1 Coleta de dados ou investigação ................................................................................................... 89
8.2 Planejamento de Enfermagem ....................................................................................................... 92
8.3 Implementação ..................................................................................................................................... 93
8.4 Avaliação .................................................................................................................................................. 94
7
APRESENTAÇÃO
A disciplina Fundamentos Históricos de Enfermagem busca fornecer elementos para a construção da 
identidade profissional mediante as discussões sobre a prática e o contexto profissional da Enfermagem. 
Nessa trajetória, traz conteúdos relativos ao processo de enfermagem, enfocando as diferentes teorias 
e metodologias de trabalho existentes.
Será apresentada sustentação legal para discussão e reflexão de forma que se vê o cuidar como 
prática profissional, oferecendo informações sobre o contexto histórico da criação e do desenvolvimento 
do processo de enfermagem para identificar conceitos relacionados à operacionalização desse processo: 
filosofia, base conceitual e as construções teóricas em Enfermagem.
Através desta apresentação, pretende-se identificar os projetos pessoais que caracterizam a 
escolha profissional, descrever o panorama da Enfermagem no Brasil, identificar a formação e 
competência dos componentes da equipe de enfermagem,apontar os campos de atuação do 
enfermeiro na sociedade, fornecer dados e situações que possibilitem o reconhecimento da 
prática profissional institucionalizada, conhecer o processo de enfermagem – origem, objetivos 
e aplicabilidades – e desenvolver a compreensão sobre os significados dos referenciais teóricos e 
metodológicos para o exercício profissional.
INTRODUÇÃO
Estudando a história, nos deparamos com o que fomos e fizemos através de nossos antepassados, e 
isso nos ajuda a compreender o que podemos ser e fazer. Assim, a história é a ciência do passado e do 
presente, mas o estudo do passado e a compreensão do presente não acontecem de uma forma perfeita, 
pois nos baseamos em relatos pessoais, carregados de suas emoções e percepções.
A história não se resume à simples repetição dos conhecimentos acumulados. Ela deve servir como 
instrumento de mudança e reflexão para que possamos aprimorar nosso fazer, saber e ser.
Desta maneira, não se pode ser um profissional sem conhecer a caminhada que nos antecedeu, 
para partirmos daqui, e não de trás, para não termos que refazer caminhos já trilhados, 
experimentados e melhorados.
Inicialmente, nos propomos a revisitar fatos descritos e relatados, experiências pessoais e seus resultados 
e daqui olharmos para nossos caminhos conscientes de nossas possibilidades e responsabilidades.
Vamos buscar em nós o resultado dessa evolução humana, social e tecnológica. Visitaremos costumes 
e crenças que nos antecederam e nos influenciam até hoje, nos hábitos e fazeres.
“Acho que os sentimentos se perdem nas palavras. Todos deveriam ser transformados em ações, em 
ações que tragam resultados” (NIGHTINGALE apud SANTOS, 2010, p. 53).
8
Essa frase de Florence representa o sentido da Enfermagem. Por vezes ouvimos que alguém se dispõe 
a estudar Enfermagem por motivos variados, ora pelo prazer de servir, ora pela emoção da urgência e 
ora pelo prazer de colocar em prática seus conhecimentos em busca dos melhores resultados.
Para sabermos sobre a Enfermagem, temos que conhecer quem a trouxe para nós e como ela foi 
trazida, de que modo foi construída ao longo dos anos e que perspectivas há. Conheceremos aqui 
personalidades que participaram ativamente desse caminho, suas ideias e ideais. 
Bem-vindo, aluno ou profissional de Enfermagem, à história da saúde, da Enfermagem e, portanto, 
à sua própria história.
9
FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DE ENFERMAGEM
Unidade I
1 O CUIDAR
1.1 Dimensão histórica no mundo: evolução e prática contemporânea
Quando buscamos a origem do cuidado em saúde e quem teria sido o primeiro profissional de saúde, 
cuidador ou responsável por questões de saúde, vamos voltar por muito tempo, até chegar ao homem 
da caverna. Obviamente, os relatos não têm a mesma característica atual, não há escritos, mas desenhos 
e a reconstituição através de escavações.
Acredita-se que os homens eram responsáveis pela caça e proteção da comunidade em que viviam, 
normalmente em cavernas, enquanto as mulheres cuidavam das crianças e da moradia. Nesse aspecto, 
era a mulher também que cuidava dos ferimentos do homem e familiares, baseando-se na observação 
de resultados de procedimentos realizados empiricamente. Outra fonte de observação eram os animais, 
ou seja, se um deles ingerisse alguma fruta, erva ou raiz, era sinal de que ela não era maligna. Animais 
que se esfregavam em plantas para cicatrizar feridas também demostravam os efeitos daquela planta, 
caso da copaíba, usada até os dias atuais.
Já nesse breve relato, podemos observar que o cuidado de saúde está diretamente ligado às 
organizações sociais, políticas, econômicas, suas leis e crenças (GIOVANINI et al., 2005).
É bastante aceita a divisão dessa história por períodos associados às organizações sociais e 
conquistas intelectuais relacionadas à saúde.
O primeiro período é o das práticas de saúde instintivas, que se referem ao momento em 
que os grupos sociais não tinham uma residência fixa por muito tempo, ou seja, são nômades. Os 
homens buscavam locais que lhes oferecessem melhores condições de sobrevida, como proteção física, 
alimentação e água limpa. Essas condições permitiam o cultivo da terra, com a plantação de alimentos 
que servissem para a manutenção daquele grupo familiar. Como todos buscavam condições semelhantes, 
acabavam migrando para locais próximos, vizinhos, e não demorou para que percebessem as vantagens 
de viver em comunidade. 
Nessas novas comunidades, o homem já tinha o poder patriarcal da força, caça e proteção, e a 
mulher já apresentava o cuidado instintivo. 
Como se sabe, conhecimento é poder, e as práticas de cuidado, tratamento e cura foram chamando 
a atenção e provocando a necessidade de concentrar tal conhecimento nas esferas do poder.
10
Unidade I
 Observação
Nesse momento, não há ganho científico algum, uma vez que o 
conhecimento é muito primitivo e faz o cuidado afetivo e instintivo.
O homem se apodera de tal conhecimento e o reveste de misticismo no chamado período de práticas 
mágico-sacerdotais.
Nesse momento, o conhecimento sobre o mundo e tudo o que o cerca era restrito aos sacerdotes 
em seus templos – portanto, baseado exclusivamente na crença da relação de tudo com a religião 
ou manifestação espiritual. Esse período é de cerca do século V a.C. O Egito tinha uma economia 
desenvolvida, o mar impulsionava a vocação marítima e facilitava o transporte e a comunicação entre as 
cidades. A transmissão de poder se baseava em hereditariedade e na complexa relação de pais polígamos 
e filhos com várias mulheres. 
A religião tinha papel muito importante, interferindo na vida de toda a comunidade. Há vários 
deuses, responsáveis por atividades diversas, como agricultura, fartura, chuva e saúde. As cidades são 
protegidas por deuses diferentes, a quem competia a proteção do povo e de suas necessidades. 
Na mitologia grega, várias divindades estavam vinculadas à saúde. Os gregos cultuavam, além da 
divindade da medicina, Asclepius, ou Aesculapius, duas outras deusas: Higieia, que representa uma 
valorização das práticas higiênicas, a Saúde, e Panacea, a Cura, a deusa da razão. Esculápio é o deus da 
arte da cura e da cirurgia.
A concepção mágico-religiosa partia do princípio de que a doença resultava da ação de maldição 
ou forças alheias ao organismo causadas pelo pecado. Para os antigos hebreus, a doença não era 
necessariamente devida à ação de demônios ou de maus espíritos, mas representava, de qualquer modo, 
um sinal da cólera divina diante dos pecados humanos (SCILIAR, 2007).
O sacerdote tinha papel de mediador entre os deuses e o doente ou necessitado. A população não 
se sentia atendida por tais práticas e realizava cultos de magia e superstição, na busca de melhora das 
condições de vida, liberdade ou igualdade de direitos.
O sacrifício de animais era comum. Com ele, acreditava-se satisfazer os deuses e, assim, conseguir 
a graça aguardada. Os enfermos tratados nos templos de Esculápio eram colocados sobre a pele desses 
animais e sedados, para participarem dos rituais de tratamento e cura.
Os templos de Esculápio, construídos em locais tranquilos e bonitos, primavam pelo ambiente 
favorável à cura dos doentes e eram construídos nas colinas ou montanhas abrigadas contra os ventos 
maléficos. Eram localizados ao lado das florestas e de uma fonte de águas minerais, de termas ou, pelo 
menos, de água puríssima. Cada um desses santuários tinha um altar para oferendas, e os serviços 
eram ministrados por sacerdotes. O enfermo era submetido a dietas com restrições de vinhos e iguarias, 
11
FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DE ENFERMAGEM
atividades físicas e banhos de ervas, massagens e unções antes de adentrar no templo. Para tanto, 
pagava-se em ouro, prata ou oferendas.
Sacrificava-se um animal, geralmente cabra ou galo, oferecido pelo enfermo para tornar favorável 
o espírito da divindade. Seguiam-se preces fervorosas e cânticos. Quando a cura era atingida, o mérito 
era do sacerdote e de suas técnicas. Quando o paciente morria, aresponsabilidade era do próprio, por 
não ser merecedor da cura.
A prática de cuidados de saúde gratuita era diferente das pagas. Iniciam-se escolas de cura na Itália, 
com conhecimento empírico e poucas informações acerca do funcionamento do organismo humano.
Poucas referências a um princípio de Enfermagem remetem a parteiras domiciliares e algumas 
mulheres de casta auxiliando nos templos.
 Observação
Há algumas referências de arquitetura dos templos onde se faziam os 
sacrifícios de animais, e estes tinham canais de condução para o sangue 
dos animais não ficar dentro dos templos.
No final do século V e início do século IV a.C., começavam as insatisfações quanto à crença de deuses 
responsáveis por cada vez mais privilégios aos ricos e menos aos pobres e escravos. Inicia-se o período 
de práticas de saúde no alvorecer da ciência. 
A filosofia abre espaço para uma observação mais criteriosa da relação entre a natureza e as 
manifestações humanas. Não há ainda conhecimentos anatomofisiológicos. 
Surge, nesse momento, Hipócrates (460-377 a.C.). Influenciado por Sócrates e outros filósofos, 
Hipócrates, considerado o pai da Medicina moderna, procura separar as doenças dos aspectos místicos 
e religiosos. Seus trabalhos e pesquisas são relatados por outros autores, como Platão e, apesar de não 
haver registros, acredita-se que tenham contado com a participação de outros pesquisadores da época. 
O texto atribuído a Hipócrates (apud RODRIGUES, 2013, p. 23) intitulado “A Doença Sagrada” começa 
com a seguinte afirmação: “A doença chamada sagrada não é, em minha opinião, mais divina ou mais 
sagrada que qualquer outra doença; tem uma causa natural e sua origem supostamente divina reflete 
a ignorância humana”.
Para Hipócrates, a doença era o resultado de desequilíbrios ou desorganização dos quatro humores 
do corpo, que são a bile amarela, a bile negra, a fleuma e o sangue. 
Seu texto conhecido como “Ares, Águas, Lugares” (apud FRIAS, 2004, p. 63) discute os fatores 
ambientais ligados à doença, defendendo um conceito ecológico de saúde-enfermidade. Com esses 
estudos, pôde-se refletir sobre epidemiologia e meio ambiente.
12
Unidade I
Seguindo os princípios hipocráticos de humores e fluidos, Galeno (129-199) propõe que a causa das 
doenças seja endógena, ou seja, estaria dentro do próprio homem, sendo a resposta à sua constituição 
física ou a hábitos de vida que evoluíssem para o desequilíbrio.
Ao mesmo tempo, no Oriente aborda-se a saúde e a doença com base em forças vitais que, quando 
agem de forma desarmoniosa, evoluem para doença. As terapias são à base de acupuntura e ioga e 
buscam restaurar o fluxo de energias no organismo.
As práticas de saúde na tradição romana trouxeram muitas influências na área de higiene e 
saneamento. Por exemplo, um animal não poderia ser abatido por pessoa que tivesse doença de pele, o 
que faz sentido: lesões de pele podem conter micróbios. Moluscos eram proibidos – dessa forma, certas 
doenças, transmitidas por ostras, podiam ser evitadas. Havia também hábitos de higiene das mãos e pés 
antes de se alimentar, lembrando que as pessoas se sentavam no chão para comer, portanto, o alimento 
ficava próximo aos pés.
A dissecção de cadáveres era proibida, o que atrasou a evolução de conhecimentos e desenvolvimento 
de técnicas.
 Saiba mais
Leia o artigo a seguir:
BACKES, M. T. S. et al. Conceitos de saúde e doença ao longo da história 
sob o olhar epidemiológico e antropológico. Revista Enfermagem UERJ, Rio 
de Janeiro, v. 17, n. 1, p. 111-117, jan./mar., 2009.
O momento com o poder militar, os grandes latifundiários, os patrões ameaçando colonos e o 
feudalismo é chamado de práticas de saúde monástico-medievais. São os primeiros séculos do 
período cristão, e as práticas de saúde são influenciadas pelas questões econômicas, sociais e políticas 
do medievo e da sociedade feudal. Há as guerras bárbaras e disputas por terras do início da queda do 
império romano; ao mesmo tempo, a devastação das terras, com a morte de soldados e muitos feridos, 
leva à disseminação de doenças relacionadas à falta de higiene e promiscuidade sexual. Epidemias de 
sífilis, lepra e malária e manifestações geográficas de terremotos e inundações propiciam retrocesso de 
crendices em manifestações e superstições. 
Com o pensamento e práticas cristãs, há alterações sociais e políticas. O clero tem laços estreitos com a 
nobreza e assume posição financeira de destaque, além de respeito e credibilidade. Como conhecimento 
é poder, os conhecimentos acerca das questões de saúde ficam restritos ao clero. 
O misticismo volta a ser o foco de tratamentos de saúde, desvinculando-se o conhecimento científico.
13
FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DE ENFERMAGEM
Simultaneamente, os cristãos são movimentados pelos sentimentos de amor ao próximo, 
bondade e abnegação, e reúnem-se em congregações e ordens religiosas, propagando a assistência 
religiosa à saúde.
Os exércitos romanos exigiam cuidados médicos. Cada legião e cada navio de guerra possuía um 
profissional. Os hospitais militares romanos constavam de enfermarias, que se comunicavam por 
corredores com um pátio central quadrangular. Possuíam cozinha e farmácia. Ruínas dessas instituições 
romanas foram encontradas nas margens do Danúbio, em Viena, Baden e Boon.
O decreto de Constantino em 335 d.C. fechou as asclepieia, primeiras instituições religiosas da 
península Itálica, e estimulou a criação dos hospitais cristãos durante o IV e V séculos. Surgiram tais 
organizações cristãs no Oriente, de onde se transportaram para Roma. 
Concílios católicos impuseram aos bispos a obrigação de recolherem os doentes em suas dioceses. O 
Quarto Concílio de Cartagena ordenava que os hospitais fossem construídos ao lado da igreja, como no 
islamismo surgiam junto às mesquitas.
A origem do hospital é anterior à Igreja Católica. O príncipe Siddhartha Gautama, fundador 
do budismo, cuja época vivida estima-se entre 563 e 483 a.C., foi responsável pela construção de 
instituições hospitalares e, junto a elas, nomeava a cada dez cidades um médico responsável por 
atendê-las (ARAUJO, 2013).
O problema da lepra acelerou a construção hospitalar pela necessidade de defesa pública sanitária. 
Hospitais para leprosos foram mencionados por Gregório de Tours, no ano 560. Ao tempo de Luiz XIII 
eles existiam na França em número de 2.000. Na Inglaterra e Escócia eram em número de 220.
As várias denominações dadas aos hospitais eram derivadas do grego e designavam o objetivo 
principal de cada instituição. Alguns dos termos mais frequentemente usados eram o nosocomium 
para os doentes, o brephotrophium para enjeitados, o orphanotrophium para os órfãos, os ptochium 
para os pobres que eram incapazes de trabalhar, o gerontochium para idosos e o xenodochium para 
peregrinos pobres ou doentes. Um dos nosocômios fundado por São Basílio (330 a 372) na Capadócia, 
voltado integralmente à missão religiosa, é referência nas construções hospitalares. Suas basílicas, como 
eram chamadas, tinham as dimensões de uma pequena cidade, com suas ruas regulares, edifícios para 
diferentes tipos de pacientes, residências para médicos e enfermeiros, oficinas e escolas industriais. 
Fundou também um hospital especialmente para cuidar dos leprosos. São Gregório de Nazianzo 
ficou profundamente impressionado com a extensão e a eficiência dessa instituição, que descreveu 
com entusiasmo (AQUINO, 2008). Outro hospital foi construído por Fabiola (380 a 400), que, segundo 
historiadores, dedicou-se ao cuidado de pobres e doentes, fundando em Óstia, junto a Roma, um grande 
hospital para doentes abandonados com atendimento gratuito. 
Em Paris, o Hôtel-Dieu foi fundado em 651 pelo Bispo Saint-Landry. Ainda em atividade, é o hospital 
mais antigo da capital francesa, conservando algumas características da época, apesar de ter sofrido 
várias reformas após alguns incêndios (MEULENBERG,1998). 
14
Unidade I
Acredita-se que as estruturas físicas e assistenciais eram precárias, e, mesmo como início da 
medicina moderna, a influência religiosa e a falta de mão de obra qualificada para dar continuidade 
à assistência fazia desses hospitais locais muitas vezes impróprios ao doente. Há relatos de divisões 
por salas ou edificações para homens e mulheres separadamente; doenças contagiosas, como a lepra 
e varíola, também tinham espaços específicos; relatos sobre acidentes de guerra, problemas de olhos e 
outros esparsos também foram obtidos.
Nos séculos XII e XIII, os frades aprendiam noções de medicina dentro dos monastérios e passaram a 
atender os chamados nos domicílios. Os Concílios de Clermont, em 1130, e de Letrau, em 1139, proibiram 
aos monges e canônicos regulares o exercício da prática médica. Em 1219, foi proibida a saída dos 
religiosos para tais assistências. Honório III (1216-1227) proibiu aos clérigos seculares o exercício da 
medicina (BRASIL, 1965). O Concílio de Viena, reunido em 1312, decidiu que o tratamento dos enfermos 
seria feito pelos leigos. Aos religiosos competia o direito de assistência espiritual. Era o início do período 
das práticas de saúde pós-monásticas.
Um retrato político da época apresenta o feudalismo em decadência. Grandes cidades foram se 
desenvolvendo, e o contato e o comércio entre elas estimularam o crescimento financeiro comercial. 
Agricultores e escravos conquistavam sua liberdade, impedindo a sobrevivência do sistema feudal 
alicerçado no trabalho servil e escravo. Até o início do século XV, o feudalismo dá lugar, paulatinamente, 
a Estados nacionais de governo, mudanças políticas e centralização do poder.
Até esse momento, o comércio se detinha no eixo do Mediterrâneo, e as conquistas marítimas 
levavam ao continente americano esperança, ganância e novo eixo comercial.
Um marco importante na divulgação das informações e conhecimento está na tipografia e na 
facilidade de copiar e multiplicar os escritos em maior escala. Isso, somado ao acesso à informação, 
à queda do catolicismo e de seus vínculos políticos e a guerras religiosas, resulta na multiplicação 
de crenças.
 Lembrete
Até o momento, as comunicações, registros e relatos eram manuscritos 
e demoravam muito para serem produzidos. A tipografia que deu 
possibilidade de produção de livros foi um grande avanço.
Em Bolonha, a universidade abrigava tantos alunos que a cidade foi dividida em duas partes, uma 
frequentada pelos legistas e a outra, pelos artistas. Os legistas eram os alunos de direito e os artistas 
eram compostos pelos docentes e discentes de Filosofia, Medicina, Cirurgia, Astrologia, Matemática. 
Com o crescimento dos cursos da área artística, houve necessidade de construir um edifício próprio para 
o ensino. Surgiu, destarte, a escola nova ou archiginnasio, terminada em 1563.
As aulas de Medicina, especialmente as de anatomia, eram grandes eventos sociais. Já cabia então 
a dissecação de cadáveres para estudo de anatomia, porém na primeira aula, quando seriam iniciados 
15
FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DE ENFERMAGEM
os procedimentos no cadáver, era realizado um ritual com missa em benefício à alma do cadáver. Este 
era colocado sobre uma mesa de mármore, no meio da sala, com duas velas acesas; eram ofertados oito 
círios de cera branca de Veneza, dois pães de açúcar e um par de luvas de Roma, todos colocados em 
um prato de porcelana. 
A Renascença, movimento artístico, cultural e intelectual nascido na Itália, foi decisivo para a busca 
científica do cuidado em saúde.
O progresso da ciência foi, naturalmente, determinando o aperfeiçoamento gradual dessas casas de 
assistência. Principalmente a cirurgia tomou bom impulso não só pelo melhoramento dos conhecimentos 
anatômicos, como também pelo abandono da obediência à Igreja. Em 1528 era possível ver os cirurgiões 
de longas vestes, que eram um pequeno grupo, educado nas universidades e autorizado a praticar todos 
os processos operatórios; os de curtas vestes eram os barbeiros encarregados de fazer a barba e outras 
atividades médico-cirúrgicas.
Era dada grande importância à circulação de ar nas enfermarias e em como se organizavam. Em um 
levantamento da quantidade de leitos hospitalares disponíveis e dos necessários, o Hôtel-Dieu, de Paris, 
relata ter 1.100 leitos para um doente, cada um, e 600 leitos grandes, para mais de uma pessoa, cada um, 
podendo assim a instituição abrigar cerca de 2.500 doentes, no total. Também comum era a estrutura 
de enfermarias contínuas, sem divisões de paredes entre 20 leitos cada.
Nesse momento já há alguma formação em enfermagem. Em 1634, constituiu-se a ordem das irmãs 
de caridade de São Vicente de Paulo, originada no Hôtel-Dieu por um pequeno grupo de moças que 
aprenderam enfermagem. 
As produções intelectuais trouxeram grandes nomes como Paracelsus, Leonardo da Vinci e 
Andréa Vesalius.
A Espanha formou a Academia de Córdoba (em 960) e teve uma biblioteca de trezentos mil volumes. 
Em outros pontos, como Toledo, Sevilha e Múrcia, instituições de ensino se organizaram.
A quantidade de universidades, escolas ou espaços preparatórios multiplicava-se na Europa. Os 
alunos tinham benefícios oferecidos pelo governo, os cursos não tinham divisão por disciplinas, mas por 
temas, e os alunos e professores gozavam de autonomia e escolhiam o próprio reitor.
Fora da Europa, Damasco, Bagdá (em 1160) e Cairo (em 1283) tiveram grande expressão na construção 
de hospitais e formação de equipes de saúde. O hospital tinha enfermarias separadas para mulheres, 
convalescentes e especialidades médicas, ambulatórios, cozinhas dietéticas, biblioteca, capela e asilo de 
órfãos. A equipe de enfermagem é a primeira que se tem relato de ter enfermeiros dos dois sexos. Bagdá 
era o principal centro de oftalmologia e psiquiatria.
A fundação das universidades, a descoberta da imprensa e do microscópio e a intensificação do 
tráfego foram ações que contribuíram no desenvolvimento da ciência médica.
16
Unidade I
O caráter inovador do movimento humanista associado ao Renascimento gerava oposição no 
interior das universidades – o saber convencional dos filósofos e teólogos escolásticos, quase todos 
ligados ao clero, era refratário às mudanças. As universidades deveriam concentrar-se na transmissão 
do conhecimento, e não em sua descoberta. Diante desse impedimento, os humanistas fundaram as 
academias – instituições próprias para a discussão de ideias (FONSECA, 2007).
Foram desenvolvidos estudos de anatomia, fisiologia e individualização da descrição das 
doenças, fundada na observação clínica e epidemiológica. A experiência prática acumulada pelos 
médicos até então forneceu elementos para estudos sobre a origem das epidemias e o fenômeno 
do adoecimento humano.
Segundo Foucault (1982b), é possível distinguir três etapas na formação da medicina social: 
• A medicina de Estado, surgida na Alemanha do século XVIII com a organização de um sistema 
de observação da morbidade, a normalização do saber e práticas médicas, a subordinação dos 
médicos a uma administração central e a integração de vários médicos em uma organização 
médica estatal. 
• A medicina urbana, que com seus métodos de vigilância e hospitalização não é mais do que um 
aperfeiçoamento, na segunda metade do século XVIII, do esquema político-médico da quarentena. 
Surgida na França, a higiene urbana tinha como preocupação central a análise das regiões de 
amontoamento que significassem ameaça à saúde humana, como os cemitérios e os matadouros, 
propondo sua realocação e o controle da circulação do ar e da água. Era a medicalização das cidades. 
• Por fim, com o desenvolvimento do proletariado industrial na Inglaterra, a medicina 
inglesa começa a se tornar social através da “lei dos pobres”. Caracterizada pela assistência 
e controle autoritário dos pobres, a implantação de um cordão sanitário que impunha o 
controle do corpo da classe trabalhadora por meio da vacinação, do registro de doenças e 
do controle dos lugares insalubres visava torná-la mais apta ao trabalho e menos perigosa 
para as classes ricas.
Ainda hádivisão social da assistência de saúde oferecida, agora relativa à formação dos profissionais 
envolvidos. A assistência aos nobres e ricos é prestada por médicos graduados, remunerados regiamente; 
a assistência a burgueses e artesãos, pertencentes a uma classe média, competia aos médicos e cirurgiões 
de formação técnica; a assistência aos pobres, que dependia de doações e gratuidade, era realizada por 
curandeiros e barbeiros.
A Enfermagem permaneceu, ao longo do Renascimento, presa aos monastérios e antigos 
hospitais. Sem desenvolvimento ou ganho científico e articulações profissionais, só foi usufruir 
das mudanças com a Reforma Protestante que, iniciada em solo alemão, se espalhou pelos 
estados alemães e, posteriormente, pelo norte da França, Grã-Bretanha, Países Baixos, Bélgica e 
Escandinávia. Com um novo rompimento entre a cristandade, começava a ganhar corpo. Foi a voz 
de Martinho Lutero (1483-1546) que levou adiante essa reforma, incidindo não apenas sobre o 
dogmatismo católico, mas na sociedade, na cultura e no próprio pensamento moderno.
17
FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DE ENFERMAGEM
Com a cisão da Igreja, os hospitais que eram administrados pela Igreja Católica passaram para 
a administração luterana. O aporte financeiro que a Igreja Católica dava aos hospitais não foi 
substituído prontamente pela nova Igreja. Assim como aqueles profissionais antes ligados ao 
catolicismo, esses, muitas vezes despreparados, não possuíam conhecimento técnico científico ou 
eram em número insuficiente.
Para dar continuidade à assistência nos hospitais que resistiram à crise financeira, foram contratadas, 
a salários muito baixos, pessoas que se dispunham a realizar o trabalho complexo e exaustivo nos 
hospitais. Muitas eram de má índole e totalmente despreparadas. Muitos doentes preferiam permanecer 
em casa para não ser atendidos por essas pessoas.
Convocado pelo papa Paulo III para assegurar a unidade da fé e a disciplina eclesiástica, o Concílio 
de Trento, realizado de 1545 a 1563, foi o 19º concílio ecumênico da Igreja Católica. Foi a reação à 
divisão então vivida na Europa devido à Reforma Protestante, por isso é conhecido também como 
Concílio da Contrarreforma. A Reforma Católico-romana foi reforçada pela criação, em 1540, da 
Companhia de Jesus – ordem religiosa fundada pelo espanhol Inácio de Loyola – que transformou-se 
num verdadeiro exército em defesa da manutenção dos princípios católicos e da evangelização na 
Europa, na Ásia e nas Américas.
Nas atas do Concílio constam recomendações de organização, manutenção e fiscalização dos 
hospitais por parte da Igreja Católica. Surgem então movimentos religiosos, como os Irmãos de São João 
de Deus, que se dedicavam aos cuidados de doentes mentais, os Irmãos de São Camilo de Lellis, que se 
empenhavam a auxílio espiritual e profissional a doentes, e São Vicente de Paula, obras bem planejadas 
que são precursoras de enfermagem moderna (PAIXÃO,1979).
 Observação
A mudança da Igreja Católica para Protestante nos hospitais foi 
demorada e muito violenta. Há relatos históricos de massacres e abandonos 
de pacientes sem tratamento.
A Revolução Industrial, iniciada em 1760, ao lado de grandes descobertas, impulsionou a expansão 
econômica e científica na Europa, Ásia e América. É o início do período das práticas de saúde no 
mundo moderno. 
O trabalho artesanal, no qual o homem era detentor de todo o processo, dá lugar a um processo 
industrial com profundas modificações sociais.
Mostra-se um período de grandes descobertas, de descortinar o conhecimento e dar 
possibilidade de avanço de várias áreas do conhecimento e, consequentemente, da saúde. No 
laboratório de Louis Pasteur e em outros, o microscópio, descoberto no século XVII, mas até 
então não muito valorizado, trazia a existência de micro-organismos causadores de doença, 
possibilitando a introdução de soros e vacinas. 
18
Unidade I
Enquanto isso, com a Revolução Industrial surge uma nova situação; o trabalho em ambientes 
fechados, às vezes confinados, a que se chamou de fábricas. O êxodo rural, assim como as 
questões urbanas de saneamento precárias e sobrecarregadas, soma-se às péssimas condições 
de trabalho (e ambiente), alterando o perfil de adoecimento dos trabalhadores que passaram 
a sofrer acidentes e a desenvolver doenças nas áreas fabris, como o tifo europeu (na época 
chamada febre das fábricas). A maioria da mão de obra era composta de mulheres e crianças que 
sofriam com péssimas condições de trabalho, em jornadas de até 20 horas diárias sem condições 
de higiene e alimentação.
Poderia se pensar agora na prevenção e cura das doenças. As descobertas marítimas que trouxeram 
e levaram doenças de contágio puderam ser estudadas e exploradas através das descobertas de vacinas, 
medicações e avaliações clínicas.
Nessa época nascia também a epidemiologia, baseada no estudo pioneiro do cólera em 
Londres, feito pelo médico inglês John Snow (1813-1858), e que se enquadrava num contexto de 
“contabilidade da doença”. Se a saúde do corpo individual podia ser expressa por números – os 
sinais vitais –, o mesmo deveria acontecer com a saúde do corpo social: ela teria seus indicadores, 
resultado desse olhar contábil sobre a população e expresso em uma ciência que então começava 
a emergir, a estatística. A busca matemática de dados sobre uma população já havia acontecido 
em cerca de 1650, pelo médico inglês William Petty (1623-1687), que fez o estudo Anatomia 
Política, coletando dados sobre população, educação, produção e também doenças. John Graunt 
(1620-1674), comerciante de profissão, com base nos dados de obituários, realizou os primeiros 
estudos analíticos de estatística vital, identificando diferenças na mortalidade de diferentes grupos 
populacionais e correlacionando sexo e lugar de residência. Esse processo ganhou impulso no 
século XIX (FRIAS JUNIOR, 1999).
Em 1826, Louis René Villermé (1782-1863), médico, publicou um relatório analisando a mortalidade 
nos diferentes bairros de Paris, concluindo que era condicionada, sobretudo, pelo nível de renda. 
Na Inglaterra, Chadwick, que não era médico nem sanitarista, mas advogado, impressionou o 
Parlamento, que em 1848 promulgou uma lei (Public Health Act) criando uma Diretoria Geral de Saúde, 
encarregada, principalmente, de propor medidas de saúde pública e recrutar médicos sanitaristas. Dessa 
forma, teve início oficial o trabalho de saúde pública na Grã-Bretanha.
Tais conhecimentos influenciam na arquitetura hospitalar, que conta com conhecimentos sobre 
transmissão de doenças, fluxo de ar, organização de enfermarias e modelos de construção em forma de 
cruz, estrela ou blocos, separando áreas de cozinha, lavanderia e farmácia das enfermarias.
Complementar ao estudo das práticas de saúde e seus períodos históricos, o conhecimento da 
evolução de tais práticas em algumas culturas também auxilia a compreensão das características atuais 
do cuidado em saúde.
19
FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DE ENFERMAGEM
 Observação
As práticas em saúde apresentadas são referências de períodos 
relacionados a momentos históricos. Mudam de acordo com civilizações e 
sua cultura, como se verá a seguir. 
Egito 
O costume de mumificar contribuiu para os progressos da medicina no Egito, pois familiarizou os 
egípcios com a constituição e a disposição dos órgãos internos. Esse costume permitiu a observação 
através de anatomia comparada, pois tornava possível reconhecer as semelhanças e diferenças entre as 
vísceras do corpo humano sadio e de outro doente e ainda dos animais.
Estudos sobre a medicina egípcia apontam que realizavam cirurgias e praticavam a circuncisão 
e a amputação. Através das múmias e do estudo de esqueletos encontrados, revela-se a técnica dos 
ortopedistas egípcios no tratamento das fraturas. Plínio cita em seus escritos que os antigos egípcios 
empregavam o grande mármore do Cairo chamado Memphitis; seu pó, diz ele, misturado com vinagre, 
adormece de tal modo as partes em que é aplicado que pode-se cortá-lasou cauterizá-las sem que o 
doente sinta. A farmacopeia egípcia era riquíssima. Os papiros médicos enumeram mais de quinhentas 
substâncias empregadas na preparação de medicamentos. Essas substâncias eram extraídas dos três 
reinos da natureza e usavam como veículo a água, o vinho, a cerveja, o leite e o óleo. Os médicos eram 
bem numerosos, estudavam em escolas especiais e tinham muito prestígio (GIORDANI, 1969).
A magia desempenhava importante papel na vida cotidiana dos egípcios; era costume recorrer-se a 
processos mágicos para prevenir e curar doenças. As enfermidades são personificadas e a elas se dirigem 
preces e fórmulas mágicas. Magia e medicina se completavam para a terapêutica.
Índia 
A medicina indiana é tão antiga que se confunde com a história da própria Índia. Teve origem nos Vedas, a 
mais antiga literatura do mundo, nos quais eram registrados todos os conhecimentos que pudessem ser úteis 
à humanidade: engenharia, física, astrologia, biologia, toxicologia, filosofia, teologia etc. Os Vedas – Rig-Veda, 
Yajur-Veda, Sama-Veda e Atharva-Veda – eram coleções de hinos ou canções escritos por videntes (rishis). Essas 
canções eram de dois tipos: Magia Branca, com rituais de cura de doença, promovendo paz e prosperidade, 
e Magia Negra, com rituais de destruição por meio de feitiçaria – antigamente era muito comum o uso de 
encantamentos, de essência de plantas e animais, das forças naturais, como o Sol, e até da energia criativa 
do homem para fins terapêuticos. As substâncias medicamentosas em geral eram usadas como amuletos. Em 
cerca de 1500 a.C., o mais recente dos Vedas, o Atharva-Veda, desenvolveu o Ayurveda; este, por sua vez, gerou 
seis grandes tratados médicos, em épocas diversas, entre eles o Charaka Samhita (tratado de medicina interna) 
e o Sushruta Samhita (tratado de cirurgia), escritos inicialmente para treinar médicos para tratarem de reis 
e princesas. O Ayurveda já estava bastante desenvolvido no tempo de Buda (563-483 a.C.), mas a medicina 
ayurvédica viveu uma fase grandiosa, pois o próprio Buda era um grande estimulador de sua prática e estudo.
20
Unidade I
A Era de Ouro acabou entre os séculos X e XII, quando o norte da Índia sofreu repetidas e violentas 
invasões dos muçulmanos, assassinando monges budistas, destruindo universidades e queimando 
bibliotecas. Aqueles que conseguiram escapar fugiram para o Nepal e para o Tibete levando poucos 
textos ayurvédicos; alguns destes são preservados hoje apenas na tradução tibetana. Os conquistadores 
muçulmanos trouxeram para a Índia seu próprio sistema médico, mas o Ayurveda mesmo assim 
sobreviveu. No século XVI, Akbar, o maior imperador mongol notavelmente esclarecido, ordenou que 
todo o conhecimento médico indiano fosse compilado, contribuindo ainda mais para a preservação do 
Ayurveda (DAMIÃO NETO, 2013).
Tratam as doenças através da correção do desequilíbrio entre os três humores do corpo: o vaya, 
representado pelo ar; o kapha, representado pela água; e o pitta, representado pelo fogo. O surgimento 
das doenças depende do desequilíbrio desses três elementos, e a cura, do seu equilíbrio. É provável que 
a Teoria Grega dos Quatro Humores se tenha inspirado na medicina ayurveda. Os médicos usavam uma 
combinação de cânticos, medicamentos e operações. 
A medicina indiana defendia que a saúde dependia do equilíbrio entre os sete chakras-centros de 
poder espiritual localizado ao longo da coluna vertebral e associados a glândulas e órgãos. Podiam ser 
equilibrados por meio de medicamentos, yoga, massagens e cânticos. 
Mesopotâmia palestina
As civilizações mesopotâmicas, como o próprio nome indica, desenvolveram-se na região conhecida 
como Mesopotâmia, que compreende o atual Iraque, no Oriente Médio. O nome mesopotâmia significa 
“região entre rios”, ou “terra entre rios”, isso porque se trata de uma região situada entre os rios Tigre 
e Eufrates. Progressivamente, muitas das práticas médicas desenvolvidas na Mesopotâmia viriam 
a extinguir-se antes do fim do primeiro milênio a.C. Embora existam algumas semelhanças entre os 
conhecimentos médicos do período final da Babilônia-Assíria com os da Grécia Antiga, tanto a medicina 
racional hipocrática como, depois, a greco-romana foram essencialmente determinadas pelo Antigo 
Egito. Em contrapartida, a medicina mesopotâmica influenciou profundamente, através do Talmud (livro 
sagrado dos judeus) e dos muitos judeus que residiam no território e na Palestina, os costumes médicos, 
em particular até ao século VI d.C. (VIEIRA, 2012). 
Moisés, o grande legislador do povo hebreu, prescreveu preceitos de higiene e exame do doente 
com diagnóstico, desinfecção, afastamento de objetos contaminados e leis sobre o sepultamento de 
cadáveres para que não contaminassem a terra. Moisés ensinou, em seus pontos essenciais, quase todos 
os princípios de higiene praticados hoje. Entre eles encontramos a prevenção de doenças, desinfecção 
pelo fogo e pela água, controle epidêmico mediante denúncia e isolamento dos portadores de doenças 
contagiosas, seguida de completa desinfecção de todos os objetos possivelmente contaminados. 
A higiene pessoal era imposta e o sistema de esgoto, obrigatório. Ele ordenou que todas as pessoas 
portadoras de doenças contagiosas fossem isoladas e proibiu que se comessem vários animais impuros, 
como o porco, o coelho e os mariscos. Todas as determinações tinham uma base mística para que o povo 
a cumprisse, mas sabe-se, hoje, que tinham princípio científico. 
21
FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DE ENFERMAGEM
Assíria e Babilônia 
Alguns relatos são encontrados no Alcorão por volta do ano 600, anteriores à unificação pelo profeta 
Maomé (570-632). Povos que em função de guerras, unificações e cisões, hoje são conhecidos por outros 
nomes. As contribuições mais evidentes são relativas aos semitas: assírios (Iraque), fenícios (Líbano) e de 
alguns povos da região da Mesopotâmia associados aos persas, sumérios e acádios. Entre estas podemos 
citar a interferência do Estado no código do imperador semita Hamurabi (1728-1686 a.C.), o legislador 
da Babilônia que relata remunerações a médicos de acordo com sua graduação e feito. Nos relatos há 
menção a matérias em bronze utilizadas nos procedimentos de algumas doenças. Encontra-se também 
a relação de moscas e mosquitos com epidemias, bem como ratos. Acreditava-se em demônios e sua 
relação com doenças.
Pérsia
Avicene, como era conhecido Ibn S na, foi um persa que escreveu tratados (cerca de 1.020) sobre 
vários assuntos, dos quais aproximadamente 240 chegaram aos nossos dias. Em particular, 150 desses 
tratados se concentram em Filosofia e 40 em Medicina.
As suas obras mais famosas são o Livro da Cura, uma vasta enciclopédia filosófica e científica, e o 
Cânone da Medicina, utilizado como principal livro em muitas universidades medievais, entre elas a 
Universidade de Montpellier e a Universidade Católica de Leuven, ainda em 1650. Ela apresenta um 
sistema completo de Medicina em acordo com os princípios de Galeno e Hipócrates.
O persa Zaratustra ou Zoroastro, médico, teólogo e filósofo, acreditava no dualismo entre Deus/
Diabo, existência/morte, saúde/doença. Criou uma religião, o masdeísmo, que foi a principal da Pérsia 
por anos. Classificava os médicos/sacerdotes, de acordo com suas tarefas, em médicos que curam com 
a palavra sagrada, médicos que curam com ervas e médicos que curam com a faca. Todos os sacerdotes 
médicos tiveram que ser preparados na escola, que era a Zaratrustotema. 
Grécia
Na Grécia Antiga, até o surgimento do pensamento filosófico-médico, quase nada era conhecido 
sobre a anatomia e a fisiologia humanas. O cuidado dos doentes era feito com métodos religiosos, com 
o objetivo de manutenção da energia vital, indispensável à vida. O novo pensamento passou a pregar 
a necessidade de se conhecer a essência natural do homem. A partir de então, textos foram escritos e, 
posteriormente, reunidos no Corpus Hipocraticum, que tem como principais valores os relacionados à 
ética médica(BARBOSA, 2007).
Hipócrates de Cós desenvolveu entre os séculos V e IV a.C. uma criteriosa análise das patologias 
que afetavam os seres humanos. Quando abordamos as práticas de saúde, temos aqui os principais 
acontecimentos das práticas no Alvorecer da Ciência, principalmente pelo pensamento médico de 
Hipócrates, considerado uma ruptura com o tipo de pensamento mágico sobre as doenças. Para 
Hipócrates, o corpo humano estava em conexão com a phisis, a natureza, que quando era harmoniosa, 
resultava em saúde, e quando em desequilíbrio, doença. Deu especial atenção à observação dos sinais e 
22
Unidade I
sintomas. Além disso, Hipócrates também avançou em direção à prescrição de cura e de prevenção de 
doenças por meio de propostas de dietas prescritas pela observação de quais alimentos combinavam ou 
não com o tipo de humor do indivíduo.
Entende-se por humor, na medicina grega, o que definia a composição alquímica de uma pessoa. Os 
quatro humores principais eram: o colérico, o melancólico, o sanguíneo e o fleumático.
Sendo assim, Hipócrates, seguido por outros, como Galeno, e por medievais, como Avicena e Pedro 
Hispano, construiu as bases para a medicina ocidental. 
Roma
Os romanos faziam uso de ervas e de várias misturas supersticiosas. Alexandria, que mais tarde foi 
incendiada, perdendo-se a maior biblioteca da época e escritos preciosos, era o centro formador de 
medicina e atribuía prestígio aos ex-alunos. Era permitida a dessecação de cadáveres, para indignação 
de Tertúlio e Santo Agostinho. 
Havia incertezas sobre as práticas curativas ou de intervenção agressiva e imediata. As escolas 
eram práticas de acompanhamento dos mestres nas consultas e visitas aos enfermos. Com o crescente 
interesse político pelas práticas e educação em saúde, houve a construção de auditórios, que mais tarde 
seriam as salas de aula.
China
Mestre Lao Tsé, um contemporâneo de Confúcio que teria vivido no século IV a.C., pregava a filosofia 
do tao (caminho, em chinês), segundo a qual a natureza é harmônica e organizada, mas está em constante 
mutação. Ele influenciou fortemente o budismo e o confucionismo. Na visão dos orientais, tudo o que 
existe no Universo é feito de energia, inclusive o ser humano. Para que haja saúde física e mental, a 
energia deve fluir e circular pelo corpo em equilíbrio e harmonia – os dois estados responsáveis pela 
ordem das coisas na natureza. Sob essa perspectiva, nenhuma parte do corpo ou da psique pode ser 
levada em conta individualmente.
A China também desenvolveu conhecimentos em sua medicina tradicional. Muito da filosofia da 
medicina tradicional chinesa é derivado da filosofia do taoísmo e mostra a clássica crença chinesa 
que as experiências humanas individuais refletem os princípios da causalidade que regem o ambiente 
em todas as escalas. Esses princípios causais, seja essência material, seja espiritual, correspondem à 
expressão dos destinos decretados pelo céu (tao).
Durante a idade de ouro de seu reino, entre 2696 a 2598 a.C., em forma de um diálogo com seu 
ministro Ch’i Pai, o imperador Amarelo registrou seu conhecimento médico, segundo a tradição chinesa. 
Na dinastia Chin, o médico generalista e defensor da acupuntura e moxabustão, Huangfu Mi, cita 
também o imperador Amarelo em seu Chia I Ching. O resultado é o exemplar das raízes fundamentais 
da medicina chinesa tradicional.
23
FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DE ENFERMAGEM
Exemplo de aplicação
Ainda hoje muitas pessoas atribuem a doença, sua manifestação e cura a efeitos religiosos, abrindo 
mão de tratamentos técnicos de saúde por práticas religiosas. 
Reflita sobre como agir para auxiliar as pessoas com tal comportamento.
Enfermagem moderna
Ao longo da descrição histórica da evolução das práticas de saúde, pouco se aborda a Enfermagem. 
Há poucos relatos de cuidadores sem habilidades específicas ou conhecimento técnico. Geralmente, 
a figura de alguém realizando cuidados com doentes está relacionada a escravos, serviçais, mulheres 
religiosas ou leigos. 
Em meados de 1500, os hospitais têm administração religiosa, mudando de acordo com as crenças. 
No mesmo serviço há formação de mão de obra, entre ela a Enfermagem.
Fundada em 1633 e mantendo seu trabalho até os dias atuais, a Companhia das Irmãs de Caridade, 
na França, por padre Vicente de Paulo (1576 - 1660) e Luísa de Marillac (1591-1660) foi criada em 
um momento em que a miséria e as doenças causadas pelas contínuas guerras estavam aniquilando 
a França. Padre Vicente de Paulo era francês, um sacerdote católico que se preocupava com a situação 
de abandono dos pobres franceses. Luísa de Marillac era de família abastada e, após enviuvar, resolveu 
dedicar sua vida aos pobres e aos doentes. 
O trabalho da Companhia era o de alimentar os pobres, cuidar dos doentes nos hospitais, ir aos 
domicílios daqueles que necessitassem e realizar o trabalho paroquial. Foi uma das primeiras associações 
a realizar cuidados de enfermagem no domicílio, inaugurando um serviço importante de assistência 
social. Nos hospitais, implantaram a higiene no ambiente, individualizando os leitos dos enfermos, 
anteriormente compartilhado. 
Luísa de Marillac devia receber as jovens aldeãs que quisessem consagrar-se a Deus para tratarem 
dos doentes, formá-las na piedade, ensinar-lhes a curar as feridas e fazer o serviço dos pobres. A razão 
pela qual padre Vicente de Paulo e Luísa de Marillac chamaram aldeãs está expressa no discurso de que 
ambos, durante suas andanças, haviam encontrado “donzelas sem inclinação para o casamento nem 
recursos para abraçar a vida religiosa, mas dispostas a se dedicarem às obras de caridade”. 
As atividades tinham como objetivo o de auxiliar as Senhoras das Confrarias no cuidado aos pobres e 
doentes, principalmente àqueles dos hospitais e domicílios. O treinamento devia ser de poucas palavras, 
nenhuma explicação e o máximo de silêncio, interrompido por exercícios de catequese e cuidados 
domésticos e caridade. Um simples olhar, gestos, palmas deviam significar em sua brevidade a técnica de 
comando e a moral da obediência. Durante os primeiros dez anos, a Companhia não tinha regulamento 
definitivo, e pouco a pouco o que era prática tornava-se tradição; o ritual do cuidado era passado de uma 
24
Unidade I
a outra, conforme iam aprendendo a arte de ser enfermeira. Tinham como primeiro princípio o de que 
Deus lhes entregou “[...] nas pessoas dos pobres velhos, crianças, doentes, prisioneiros e outras mulheres, 
todos os serviços, sejam corporais, sejam espirituais, [...] e ainda que não sejam religiosas” (PADILHA, 
2005, p. 724). O plano de conduta das Irmãs de Caridade prescrevia sempre o serviço espiritual aliado 
aos cuidados corporais de enfermagem. Todas as candidatas a irmãs de caridade deveriam aprender as 
três virtudes formadoras da alma das irmãs: a humildade, a simplicidade e a caridade. 
Luísa de Marillac e padre Vicente de Paulo levaram a confraria da alta nobreza de Paris aos leitos 
dos doentes do Hôtel-Dieu. Esse grande hospital estava sob a coordenação dos cônegos da Catedral, e o 
serviço interno era dirigido pelas irmãs agostinianas. Trabalhavam ali aproximadamente 150 religiosas, 
das quais 50 eram noviças. Era um lugar infecto, sem leitos brancos e limpos, sem uma disciplina 
minuciosa, com alimentação insuficiente e assistência religiosa quase nula. Entretanto, o número de 
doentes era enorme, sempre acima de 1.200, chegando a 2.000. As camas eram quase encostadas umas 
às outras e comuns a vários doentes, chegando a conter cada uma seis pessoas. A confraria da caridade 
contava com mais de 200 senhoras, inclusive a rainha da França, Maria de Médicis. Padre Vicente de 
Paulo foi nomeado diretor de todo serviço espiritual do hospital.
O regulamento a ser seguido pelas Irmãs de Caridade enfermeiras foi elaborado quando elas passaram 
a atuar em outros hospitais da França. No correr do dia, havia uma vigilância contínua sobre os doentes 
para atenderem aos seus menores reclamos, o alimento nas horasmarcadas, as poções quando tiverem 
sede, com algumas pastilhas que lhes adoçassem a boca. Ao anoitecer, às 19 horas, deitavam-se todos os 
doentes, que eram servidos com um pouco de vinho e algumas doçuras para os que pudessem necessitar 
delas à noite. Das 20 horas em diante, uma irmã vigiava todas as salas, pronta a acudir ao menor gemido 
ou chamado. Os rituais de cuidado iam se construindo numa base voltada para a prática do cuidar 
vivenciada pelas irmãs no cotidiano dos hospitais e dos domicílios, orientadas inicialmente por Luísa de 
Marillac e Vicente de Paulo, através de cartas, regulamento e transmissão verbal umas às outras, dando 
origem ao que seria, posteriormente, denominado de técnicas de enfermagem organizada numa base 
científica de cuidar, preconizadas por Florence Nightingale.
Quase dois séculos depois, no dia 12 de maio de 1820, durante uma viagem que Edward e Francis 
Nightingale fizeram pela Europa, nasceu uma de suas filhas, que recebeu o nome de Florence em 
virtude de o seu nascimento ter acontecido na cidade de Florença – sua irmã mais velha Parthenope era 
nascida em Nápoles (Parthenope). Por ter nascido em uma família rica e educada, viveu a adolescência 
participando de uma sociedade aristocrática e estudou diversos idiomas, matemática, religião e filosofia. 
Tinha o hábito de fazer anotações variadas, em suas viagens e do cotidiano. Extremamente religiosa, 
desejava fazer trabalho de Deus ajudando os pobres e doentes. Moça brilhante e impetuosa, recusou 
o papel convencional para as mulheres de seu estatuto, que seria tornar-se esposa submissa, e decidiu 
dedicar-se à caridade, encontrando seu caminho na enfermagem. Ela anunciou sua decisão para a 
família em 1845, com restrições impostas pela mãe, que tinha objeções a uma moça de boa formação 
dedicar-se ao auxílio a pobres e doentes.
Tradicionalmente, o papel de enfermeira era exercido por mulheres ajudantes em hospitais ou 
acompanhando exércitos; muitas cozinheiras e prostitutas acabavam tornando-se “enfermeiras”, sendo 
que estas últimas eram obrigadas como castigo.
25
FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DE ENFERMAGEM
 Saiba mais
Assista ao filme a seguir, que retrata parte da vida de Florence:
FLORENCE Nightingale. Dir. Norman Stone. Reino Unido: BBC One, 
2008. 60 minutos.
Em dezembro de 1846, em resposta à morte de um mendigo numa enfermaria em Londres, que 
acabou evoluindo para um escândalo público, ela se tornou a principal defensora de melhorias no 
tratamento médico. Imediatamente, ela obteve o apoio de Charles Villiers, presidente do Comitê de Lei 
para os Pobres. Isso a levou a ter papel ativo na reforma das Leis dos Pobres, estendendo o papel do 
Estado para muito além do fornecimento de tratamento médico.
Exemplo de aplicação
Para as guerras, iam soldados preparados, mas também cidadãos comuns, sem preparo ou 
equipamentos adequados. Ao final da guerra, muitos já não tinham mais calçados e roupas em 
condições apropriadas. 
Para lutar, manter-se saudável e sobreviver às condições de tempo de estresse, era preciso muita 
disposição. Reflita sobre como era possível a participação da enfermagem nessas condições.
Figura 1 – Florence Nightingale
No mesmo ano, Florence visitou Kaiserwerth, um hospital pioneiro fundado e dirigido por uma 
ordem de freiras na Alemanha, ficando impressionada pela qualidade do tratamento médico e pelo 
comprometimento e prática das religiosas. Fez um estágio de três meses no Instituto de Diaconisas de 
Kaiserswerth, na Alemanha, onde aprendeu os primeiros passos da disciplina na enfermagem (regras 
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Unidade I
e horários rígidos, religiosidade, divisão do ensino por classes sociais). A organização do Instituto de 
Diaconisas instituída pelo pastor luterano Theodor Fliedner e sua esposa Frederika muito se assemelhava 
àquela preconizada pelas Irmãs de Caridade de São Vicente de Paulo, estando mais preocupados em 
formar o caráter de suas alunas do que em ministrar-lhes conhecimentos específicos de enfermagem. 
Florence Nightingale conheceu e apreendeu o trabalho desenvolvido pelas Irmãs de Caridade 
de São Vicente de Paulo em Paris, no Hôtel-Dieu, onde acompanhou o tipo de trabalho assistencial 
e administrativo que realizavam, suas regras, sua forma de cuidar dos doentes, fazendo anotações, 
gráficos e listas das atividades desenvolvidas, e aplicou o mesmo questionário que já havia distribuído 
nos hospitais da Alemanha e Inglaterra, tendo aprofundado seus estudos. 
Num segundo momento, Florence Nightingale retornou a esse hospital por mais um mês, vestindo 
o hábito das irmãs, para sentir mais próximo o seu carisma, apenas residindo em casa separada. 
Possivelmente, o convívio com as regras de conduta das Irmãs de Caridade e as Senhoras da Confraria a 
influenciaram intimamente na construção do seu modelo de enfermagem. 
Em 1854, com a Guerra na Crimeia, a Grã-Bretanha lutava junto com a França ao lado dos aliados 
turcos em sua guerra contra a Rússia. Mais uma vez, as contingências aproximam Florence Nightingale 
das irmãs de caridade, só que agora de forma indireta. As irmãs já estavam em Constantinopla desde 
1839, desenvolvendo seu trabalho nos hospitais, e por ocasião da guerra foram enviadas por solicitação 
do governo francês para os hospitais militares e da marinha a fim de prestar cuidados aos enfermos. 
Enquanto isso, os hospitais militares ingleses estavam vivendo o caos. O exército britânico estava prestes 
a ser derrotado em decorrência da doença, do frio e da fome. O cólera reduziu o exército e as primeiras 
batalhas da Crimeia foram feitas por homens exauridos pela doença e sedentos. De acordo com Padilha 
(1999), os jornais ingleses criticavam a administração dos hospitais militares e alguém que conhecia o 
excelente trabalho das irmãs de caridade nos hospitais militares franceses escreveu no Times: “Por que 
não temos irmãs de caridade?”. O ótimo tratamento que dispensavam aos soldados franceses constituía, 
sem dúvida, uma novidade para os ingleses. 
Nesse período, o governo convida Florence para convocar e capacitar um grupo de enfermagem para 
ir à guerra, e ela é instruída a não questionar as ordens de seus superiores de guerra. A contribuição mais 
famosa de Florence foi durante a Guerra da Crimeia, que se tornou seu principal foco quando relatos 
de guerra começaram a chegar à Inglaterra contando sobre as condições horríveis para os feridos. Em 
outubro de 1854, Florence e uma equipe de 38 enfermeiras voluntárias treinadas por ela, inclusive sua 
tia Mai Smith, partem para os Campos de Scutari localizados no Império Otomano.
Como as voluntárias não tinham nenhuma experiência e algumas eram muito pouco esclarecidas, 
Florence estabelece regras de conduta, como não andar sozinhas, vestir-se com o corpo todo coberto, 
manter os cabelos presos, não usar nenhum tipo de adereço, adorno ou maquiagem, falar baixo e não 
discutir as ordens recebidas.
Necessárias à época, essas regras perduraram muito tempo e influenciaram no perfil da enfermagem 
moderna, desestimulando o questionamento, a pesquisa e a possibilidade de autonomia para a 
Enfermagem como se vê atualmente.
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FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DE ENFERMAGEM
Ao chegar aos hospitais de guerra, percebeu a falta de higiene, alimentação inadequada e o consumo 
de álcool por todos, em função do frio e da falta de atividades de lazer. Ela implantou hábitos de higiene 
pessoal e local e propôs a entrada de ar e luz nas enfermarias. Também montou uma biblioteca para os 
soldados terem lazer nas horas vagas e determinou critérios para as refeições. 
Por se tratar de local de temperaturas muito baixas, chegando a nevar, os doentes ficavam com as 
extremidades frias e muito desconfortáveis. Florence tinha o hábito de passar à noite nas enfermarias 
avaliando os pacientes e fazendo massagens, aquecendo seus pés para que dormissem melhor. Para tais 
rondas, utilizava uma lâmpada comum à época, alimentada por líquido combustível, daí a referência à 
“dama da lâmpada” quando se tratava de Florence. A lâmpadaé considerada símbolo da Enfermagem, 
representando a iluminação dos caminhos de doentes e dos próximos profissionais.
Organizou um hospital de 4 mil soldados internados, baixando a mortalidade local de 40% para 2%. 
Florence Nightingale voltou para a Inglaterra como heroína, em agosto de 1857, e, de acordo com a 
BBC, era provavelmente a pessoa mais famosa da Era Vitoriana, além da própria rainha Vitória. Depois de 
contrair febre tifoide, ficou com sérias restrições físicas, o que a obrigou a retornar da Crimeia em 1856.
Impossibilitada de fazer seus trabalhos físicos, dedicou-se à formação da Escola de Enfermagem, 
em 1859, na Inglaterra, onde já era reconhecida por seu valor profissional e técnico, recebendo prêmio 
concedido através do governo inglês. Fundou a Escola de Enfermagem no Hospital Saint Thomas, com 
curso de um ano, que era ministrado por médicos com aulas teóricas e práticas.
Em 1883, a rainha Vitória concedeu-lhe a Cruz Vermelha Real, e em 1907 ela se tornou a primeira 
mulher a receber a Ordem do Mérito.
Florence Nightingale deve ter utilizado muito do que havia aprendido com as irmãs de caridade, 
como as vastas exigências de caráter moral e espírito religioso feito às candidatas, a distribuição e 
o controle do tempo destinado ao trabalho hospitalar, o curso e as folgas e também a admissão de 
alunas de classes sociais diferenciadas. As de classe elevada (lady nurses) podem ser comparadas às 
senhoras da confraria, que eram preparadas para as atividades de supervisão, direção e organização do 
trabalho em geral, e as de nível socioeconômico inferior (nurses) podem ser comparadas às irmãs de 
caridade provenientes das aldeias, que eram mais preparadas para o trabalho manual, o cuidado direto, 
a obediência e a submissão. 
As ideias de Florence Nightingale acerca da enfermagem como profissão divergiam da ideologia 
da era vitoriana, correspondente à prática da enfermagem, ou seja, uma forma de ocupação manual 
desempenhada por empregadas domésticas. Não obstante, a escola iniciou seu funcionamento tendo 
por base: 
• o preparo de enfermeiras para o serviço hospitalar e visitas domiciliárias a doentes pobres; 
• o preparo de profissionais para o ensino de enfermagem. Na seleção das candidatas, as qualidades 
morais tinham prioridade durante o curso e a disciplina era rigorosa. 
28
Unidade I
O rigor da escola justificava-se considerando o que era corrente na época, isto é, quem cuidava dos 
doentes na Inglaterra eram pessoas imorais e, portanto, o modelo preconizado deveria ser o oposto, o 
mais próximo possível do que realizavam as associações religiosas, porém laicas.
 Observação
Na época retratada aqui, a espuma não era conhecida; portanto, os 
colchões eram de palha, o que dificultava a manutenção da higiene dos 
pacientes, especialmente quando havia sangue e pus.
Com o prêmio recebido do governo inglês por esse trabalho, fundou a primeira escola de enfermagem 
no Hospital St. Thomas, Londres, em 24 de junho de 1860. Os fundamentos que nortearam a criação da 
Escola de Enfermagem foram originados também de suas experiências anteriores à guerra, ou seja, sua 
educação aristocrática que lhe permitiu ter acesso a vários idiomas, à matemática, à religião e à filosofia. 
Florence Nightingale faleceu em 13 de agosto de 1910, deixando um legado de persistência, 
capacidade, compaixão e dedicação ao próximo e estabelecendo as diretrizes e caminhos para 
a enfermagem moderna. Também contribuiu no campo da Estatística, sendo pioneira na utilização 
de métodos de representação visual de informações – por exemplo, gráfico setorial (habitualmente 
conhecido como gráfico do tipo “pizza”), criado por William Playfair.
 Saiba mais
Leia a obra a seguir:
COSTA, R. et al. O legado de Florence Nightingale: uma viagem no 
tempo. Texto & Contexto Enfermagem, Florianópolis, v. 18, n. 4, p. 661-
669, out./dez. 2009.
Nightingale lançou as bases da enfermagem profissional com a criação, em 1860, de sua escola de 
enfermagem no Hospital St. Thomas, em Londres, a primeira escola secular de enfermagem do mundo, 
agora parte do King’s College de Londres. O Juramento Nightingale feito pelos novos enfermeiros foi 
nomeado em sua honra, e o Dia Internacional da Enfermagem é comemorado no mundo inteiro no seu 
aniversário de nascimento.
1.2 Dimensão histórica brasileira: evolução e prática contemporânea brasileira
A saúde no Brasil praticamente inexistiu nos tempos de colônia. O modelo exploratório nem 
pensava em assistência de saúde. O pajé, com suas ervas e cantos, e os boticários, que viajavam pelo 
Brasil Colônia, eram as únicas formas de assistência à saúde. Para se ter uma ideia, em 1789, havia no 
Rio de Janeiro apenas quatro médicos.
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FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DE ENFERMAGEM
O primeiro hospital do Brasil é a Santa Casa de Santos, do Estado de São Paulo, que foi inaugurado 
em 1° de novembro de 1543. A construção teve início em 1542, por iniciativa do português Braz Cubas, 
líder do povoado do porto de São Vicente, posteriormente Vila de Santos, com o auxílio dos próprios 
moradores da região.
A assistência hospitalar à população brasileira, desde o início da colonização, era oferecida 
basicamente pelas Santas Casas e pela filantropia em geral. Os hospitais militares surgiram 
no Brasil a partir do século XVIII, ocupando os edifícios dos jesuítas recém-expulsos do País e 
oferecendo assistência somente aos soldados e componentes das tropas. 
 Lembrete
Os hospitais mantêm as estruturas físicas, o que muda é somente a 
equipe profissional, que deixa de ser religiosa para ser leiga.
Até o final do século XIX, o principal problema de saúde eram as pestes, principalmente varíola e 
febre amarela. A organização dos serviços era precária e os conhecimentos científicos estavam baseados 
nas concepções miasmáticas das doenças. Para combater as doenças e proteger a população, as ações 
públicas se preocupavam com o espaço urbano e com a circulação do ar e da água. Até esse momento, 
tais questões eram de responsabilidade de autoridades locais, que tomavam medidas contra a sujeira 
das ruas e das casas. Os indigentes e os pobres eram assistidos em instituições filantrópicas ligadas à 
Igreja Católica ou em entidades ligadas às colônias de imigrantes (árabes, italianos, judeus, alemães, 
franceses). O restante da população procurava, ou um médico particular, ou outros profissionais, como 
cirurgiões, barbeiros, sangradores, curandeiros, parteiros e curiosos.
Com a chegada da família real portuguesa em 1808, as necessidades da corte forçaram a criação das 
duas primeiras escolas de medicina do País: o Colégio Médico-Cirúrgico no Real Hospital Militar da Cidade 
de Salvador e a Escola de Cirurgia do Rio de Janeiro. E foram estas as únicas medidas governamentais 
até a República.
Em 1860, as rivalidades entre Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai, causadas pelos desentendimentos 
quanto às fronteiras entre os países, a liberdade de navegação dos rios platinos, as disputas pelo poder 
por parte das facções locais e as rivalidades históricas de mais de três séculos, foram motivos do começo 
do maior conflito armado ocorrido na América do Sul, a Guerra do Paraguai (1864-1870), que serve 
como fim das lutas durante quase dois séculos entre Portugal e Espanha e, depois, entre Brasil e as 
repúblicas hispano-americanas pela hegemonia na região do rio da Prata. 
 Saiba mais
Sobre a parte romanceada da vida de Ana Neri, assista ao filme:
BRAVA gente, a história de Ana Neri. Dir. Roberto Farias. Brasil: 2002. 
45 minutos.
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Unidade I
É na Guerra do Paraguai que surge Ana Justina Ferreira Neri, nascida na Vila Nossa Senhora do 
Rosário do Porto de Cachoeira do Paraguaçu (Cachoeira, Bahia), em 13 de dezembro de 1814. Viúva 
do capitão-de-fragata Isidoro Antônio Neri, viu seus familiares mais próximos serem convocados para 
a Guerra do Paraguai e solicitou ao presidente da Província da Bahia poder acompanhar os filhos e 
o irmão, ou pelo menos prestar serviços voluntários nos hospitaisdo Rio Grande do Sul, no que foi 
atendida. Ana Neri tinha conhecimentos sobre ervas e tratamentos de saúde empíricos. Embarcou, 
em Salvador, com a tropa do 10º Batalhão de Voluntários da Pátria em agosto de 1865, na qualidade 
de enfermeira.
Serviu como voluntária na Guerra do Paraguai (1864-1870), como auxiliar do corpo de saúde do 
Exército brasileiro. Durante toda a guerra, prestou serviços nos hospitais militares de Salto, Corrientes 
(Argentina), Humaitá e Assunção (Paraguai), bem como nos hospitais da frente de operações. Viu morrer 
na luta um de seus filhos e um sobrinho. Ana era rica, estudada, culta e poliglota, severa e disciplinadora. 
Durante a Guerra do Paraguai, Ana Neri enfrentou o caos da saúde no país com doenças comuns 
da época, como o cólera, febre tifoide, disenteria, malária e varíola. Transformou a realidade sanitária 
local, impondo condições mínimas de higiene para que doenças não se alastrassem e feridas fossem 
tratadas. É considerada a primeira pessoa não religiosa a dedicar-se aos cuidados com a saúde de uma 
comunidade ou população e a primeira enfermeira do Brasil. O governo imperial conferiu-lhe a Medalha 
Geral de Campanha e a Medalha Humanitária de primeira classe.
 Observação
Mesmo tendo vivido na mesma época, Ana Nery (1814-1880) e Florence 
Nightingale (1820-1910) nunca se conheceram e, provavelmente, não 
sabiam da existência uma da outra.
Naquelas condições difíceis, organizou os hospitais de campanha, e a primeira enfermaria foi 
montada em sua própria casa, em Assunção, e às suas expensas. Faleceu no Rio de Janeiro, em 1880, 
aos 66 anos de idade. 
No Brasil, em 1892, foram criados os primeiros laboratórios bacteriológicos, que tinham o intuito 
de gerar melhores condições sanitárias para as cidades urbanas. Com o surgimento de epidemia de 
várias doenças, o então presidente da República Rodrigues Alves nomeia como diretor do Departamento 
Federal de Saúde Pública o Dr. Oswaldo Cruz, que implantou medidas de desinfecção sanitária. Convocou 
1.500 pessoas para ações que invadiam as casas e queimavam roupas e colchões. Sem nenhum tipo de 
ação educativa, a população foi ficando cada vez mais indignada. E o auge do conflito foi a instituição 
de uma vacinação antivaríola. A população saiu às ruas e iniciou a Revolta da Vacina. Oswaldo Cruz 
acabou afastado. Apesar do fim conflituoso, o sanitarista conseguiu resolver parte dos problemas e 
colher informações que ajudaram seu sucessor, Carlos Chagas, a estruturar uma campanha rotineira de 
ação e educação sanitária.
31
FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DE ENFERMAGEM
No ano de 1920, foram criados órgãos especializados no combate a doenças, como tuberculose, 
lepra e DST.
As enfermeiras visitadoras não recebiam capacitação específica e eram muito mal recebidas pela 
população. Ao longo dos quatro anos do projeto, muitas desistiram, inclusive, da procura pela formação 
de Enfermagem.
A atuação do Estado na oferta de assistência médica à população, principalmente a hospitalar, 
até a década de 1920, era quase inexistente. A exceção foram os estabelecimentos de assistência aos 
“alienados”, que do total de 32 existentes no País em 1912, 16 eram mantidos pelo governo federal, 
estadual ou municipal. A assistência médica no Distrito Federal, então Rio de Janeiro, e nas outras 
cidades do Brasil era praticamente privada, seja filantrópica, com alguns subsídios do estado, seja 
lucrativa. Esta última surgiu na capital do império na segunda metade do século XIX e tentava oferecer 
à população abastada atendimento diferenciado, vista a precariedade dos leitos filantrópicos e escassez 
de leitos e enfermarias particulares nas Santas Casas. A população da cidade do Rio de Janeiro no final 
do século XIX contava com menos de 25 estabelecimentos gratuitos e quase 40 casas de saúde com 
fins lucrativos, que eventualmente praticavam gratuidade. Entre o final do século XIX e início do XX, 
multiplicaram-se essas casas de saúde e seriam criados novos hospitais, muitos deles relacionados às 
colônias de imigrantes, mas a carência dessas instituições continuava persistindo (MORAES, 2005).
Nilo Peçanha, então governador do estado do Rio de Janeiro, com o objetivo de diagnosticar, prevenir 
e combater as endemias, organizou a primeira Comissão da Fundação Rockefeller (FR), que chegou ao 
Brasil em 1915, com a presença de Wickliffe Rose, diretor da International Health Commission, que, a 
partir de 1916, passou a se chamar International Health Board (IHB) e desempenhou papel de destaque 
na condução das atividades da Rockefeller no Brasil, para coletar informações e identificar áreas de 
atuação, fato este que estreitou relações e abriu caminho para a entrada de médicos e sanitaristas 
norte-americanos da Rockefeller no País. A Missão Médica da Rockefeller chegou ao Rio de Janeiro em 
setembro de 1916 (FREIRE, 2008).
Ainda na década de 1920, inicia-se a Missão Técnica de Cooperação para o Desenvolvimento da 
Enfermagem no Brasil, chefiada pela Sra. Ethel O. Parson.
A Fundação Rockefeller atuou no Brasil de 1916 a 1942, registrando, em relatórios periódicos, 
diagnósticos, ações e tendências do quadro sanitário local. Em 1916, em um relatório sobre os países da 
América Latina, diagnosticou na região uma carência de sólida base científica para suporte de políticas 
públicas consistentes e a ausência de treinamento médico quanto a questões de saúde pública e carreiras 
especializadas e de organizações sanitárias estáveis e abrangentes.
Em 1923, surge a Lei Elói Chaves, criando as Caixas de Aposentadoria e Pensão. Essas instituições 
eram mantidas pelas empresas que passaram a oferecer esses serviços aos seus funcionários. A União não 
participava das caixas. A primeira delas foi a dos ferroviários. Elas tinham entre suas atribuições, além da 
assistência médica ao funcionário e a sua família, concessão de preços especiais para os medicamentos, 
aposentadorias e pensões aos herdeiros. Essas caixas só valiam para os funcionários urbanos.
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Unidade I
Carlos Chagas, que passou a acumular a direção do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) com a do DNSP, 
incentivaria a criação de cursos e escolas, entre elas a Escola de Enfermeiras Visitadoras, em 1923, em 
cooperação com a Fundação Rockefeller. 
Esse modelo começa a mudar a partir da Revolução de 1930, quando Getúlio Vargas toma o poder. É 
criado o Ministério da Educação e Saúde, e as Caixas são substituídas pelos Institutos de Aposentadoria 
e Pensões (IAPs), que, por causa do modelo sindicalista de Vargas, passam a ser dirigidos por entidades 
sindicais, e não mais por empresas, como as antigas Caixas. Suas atribuições preveem assistência 
médica, sendo o primeiro IAP aquele dos trabalhadores marítimos. A União continuou se eximindo do 
financiamento do modelo, que era gerido pela contribuição sindical, instituída no período getulista, 
mesmo porque o Estado dizia-se falido e sem recursos financeiros.
Os hospitais do Rio de Janeiro, capital da República, eram, em sua maioria, bem construídos e 
localizados, mas mal ocupados, com excesso de população, segundo avaliação de Parsons, da Fundação 
Rockfeller (apud MOREIRA, 1999). Os médicos prestavam a assistência, mas a enfermagem era realizada 
por atendentes, homens e mulheres ignorantes e sem treinamento adequado. Pouco melhores eram 
as condições no Departamento Nacional de Saúde, composto pelas divisões de Tuberculose, Doenças 
Venéreas e Higiene Infantil, nas quais trabalhavam 44 mulheres jovens capacitadas como enfermeiras 
visitadoras por curso de 12 leituras teóricas. Todo o esforço de observação da enfermeira norte-americana 
é no sentido de enfatizar a precariedade das práticas de enfermagem no Brasil, se comparadas com os 
padrões anglo-saxônicos. Os rituais de seleção deveriam englobar critérios de classe, gênero e moralidade 
destinados a fabricar os novos emblemas da profissão. 
Os desafios a serem enfrentados naquele momento não eram poucos, considerando-se que o sucesso 
do projeto dependia tanto de uma atuação competente

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