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Aula 7 Ética Geral e Profissional

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Aula 7
Ética Geral e Profissional
Introdução
Nesta aula, vamos conhecer os dispositivos do Estatuto que versam sobre honorários, bem como as regras do Código de Ética e Disciplina que orientam a cobrança de honorários.
Os honorários advocatícios
A remuneração do advogado, que não decorra de relação de emprego, continua sendo denominada honorários. Não há critérios definitivos que possam delimitar a fixação dos honorários advocatícios, porque trata-se de uma cobrança de valores que flutuam em razão de vários fatores, alguns particularmente de forte densidade subjetiva (LÔBO, 2009, p. 138/139).
Nesse sentido, prelecionam Gonzaga, Neves e Beijato Jr. (2016, p. 89):
Todo advogado possui legalmente por conta da contratação para a prestação dos serviços, direito aos honorários convencionados entre ele e o cliente e os honorários sucumbenciais devidos pela parte vencida, fixados em sentença.
A natureza jurídica dos honorários advocatícios é de crédito de natureza alimentícia, incluídos os de sucumbência (STJ, inf. 345/STF; RE nº 470407-DF). Assim, os honorários contratuais e os honorários sucumbenciais possuem natureza de alimentos. Nesse sentido, observa Kiyoshi Harada (2011), que a verba de sucumbência pertence ao advogado, nos termos do Estatuto da Advocacia, independentemente, dessa verba representar uma retribuição aleatória e incerta. Honorários advocatícios são, portanto, os vencimentos devidos ao advogado em decorrência dos serviços prestados ao seu cliente (LOPES, 2008. p. 8).
No art. 22, do EOAB, caput, a lei estabelece que advogados recebam honorários pelos serviços prestados e, na hipótese, temos três formas diferentes, a saber:
· Honorários convencionais ou contratados;
· Honorários arbitrados judicialmente;
· Honorários de sucumbência.
O art. 48, § 1º, do CED, estabelece que o contrato de prestação de serviços de advocacia não exige uma forma especial, mas deve ser redigido com clareza e precisão e, nesse sentido, informar:
· Qual o seu objetivo;
· O valor dos honorários ajustados;
· Qual será a forma de pagamento;
· A extensão do patrocínio;
· Se o valor ajustado abrangerá todos os atos do processo ou limitar-se-à a determinado grau de jurisdição
· Além de dispor sobre a hipótese de a causa encerrar-se mediante transação ou acordo.
Na fixação dos honorários, o advogado deverá agir com moderação e considerar os critérios ofertados no art. 49, do CED, a saber:
I - a relevância, o vulto, a complexidade e a dificuldade das questões versadas;
II - o trabalho e o tempo a ser empregados;
III - a possibilidade de ficar o advogado impedido de intervir em outros casos, ou de se desavir com outros clientes ou terceiros;
IV - o valor da causa, a condição econômica do cliente e o proveito para este resultante do serviço profissional;
V - o caráter da intervenção, conforme se trate de serviço à cliente eventual, frequente ou constante;
VI - o lugar da prestação dos serviços, conforme se trate do domicílio do advogado ou de outro;
VII - a competência do profissional;
VIII - a praxe do foro sobre trabalhos análogos.
Espécies de honorários advocatícios
Conforme observado no art. 22, do EOAB, temos três espécies de honorários:
· Honorários convencionados ou contratados
São aqueles pactuado livremente entre o cliente o advogado. Critério mínimo a ser observado é a tabela da OAB, que é sempre organizada pela Seccional.
Ressalte-se que as tabelas de honorários estabelecidas pelos Conselhos Seccionais são simples referenciais nas relações entre cliente e advogado, como decidiu o Órgão Especial do Conselho Federal da OAB (Proc. N.200/97/OEP), sendo apenas vinculante para o advogado que os cobrar do Estado quando prestar assistência jurídica aos necessitados (LÔBO, 2009). Neste ponto o CED ressalta que a cobrança de ser feita com moderação e bom senso e a tabela de honorários de cada Seccional apresenta um valor mínimo sugerido. Não poderá ocorrer cobranças abaixo do valor mínimo estabelecido em tabela e, neste ponto, o advogado deverá observar o art. 48, § 6º do CED:
Art. 48. A prestação de serviços profissionais por advogado, individualmente ou integrado em sociedades, será contratada, preferentemente, por escrito.
§ 6º Deverá o advogado observar o valor mínimo da Tabela de Honorários instituída pelo respectivo Conselho Seccional onde for realizado o serviço, inclusive aquele referente às diligências, sob pena de caracterizar-se aviltamento de honorários.
· Honorários arbitrados judicialmente
Este tipo de honorários ocorre em duas situações específicas. A primeira quando há a falta de estipulação ou acordo entre advogado e cliente. Não há contrato escrito e ocorre uma controvérsia sobre os valores a serem pagos, não obstante a orientação do art. 48 do CED. O Juiz arbitrará um valor conforme as provas do serviço realmente prestado e o cliente efetuará o pagamento. A segunda situação ocorre quando o advogado patrocina juridicamente necessitado na eventual ausência da defensoria pública. Neste caso, em caráter excepcional, o advogado realiza um ato de advocacia. Sendo certo que nesta segunda hipótese, na substituição eventual da defensoria pública, o advogado será remunerado pelo Estado na forma da tabela da OAB.
· Honorários Sucumbência
São honorários concedidos por sentença, nas ações judiciais, sempre que há um vencido. Neste caso, o vencido será condenado a pagar o que deve e, também, a pagar honorários advocatícios ao advogado do vencedor da demanda. Por isso o nome “sucumbenciais”. Trata-se de direito autônomo do advogado.
Apesar de a Lei estabelecer que o recebimento dos honorários de sucumbência como direito indisponível, o STF decidiu na ADI 1.194-4, que na hipótese já estudada de advogado empregado, o contrato de trabalho poderá dispor de maneira diversa. Acrescente-se que o Código de Processo Civil, no art. 85, § 2°, incisos I a IV trouxe novo entendimento sobre os honorários sucumbenciais.
Execução dos honorários
O advogado tem, portanto, direito autônomo para executar seus honorários, podendo o precatório ser expedido em seu favor (art. 23, EOAB). Na hipótese de revogação, renúncia ou substabelecimento sem reservas os honorários são proporcionais ao trabalho realizado (art. 17, CED).
Sobrevindo o falecimento ou a incapacidade civil do advogado, os sucessores ou representantes legais recebem os honorários inclusive os sucumbenciais (art. 24, § 2º, EOAB).
A OAB, no art. 22, § 3º, EOAB, apresenta uma sugestão na hipótese de ausência de estipulação quanto à forma de pagamento, em contrato escrito.
Assim, sugere que o advogado cobre um terço no início, outro até decisão em 1ª instância e o restante o final.
É importante ressaltar que o contrato escrito e a sentença que fixar honorários são títulos executivos e constitui crédito privilegiado geral na forma do art. 83, inciso V, alínea C, da Lei 11.101/2005.
Cabe ainda ressaltar que não devemos confundir gratuidade de Justiça e assistência jurídica gratuita, porque são situações diferentes e, neste caso, um advogado, cujo cliente solicita a gratuidade de justiça não está obrigado a renunciar os honorários contratados.
No Rio de Janeiro, por exemplo, temos a súmula 40, do TJ-RJ, que estabelece:
Não é obrigatória a atuação da Defensoria Pública em favor do beneficiário da gratuidade de Justiça, facultada a escolha de advogado particular para representá-lo em Juízo, sem a obrigação de firmar declaração de que não cobra honorários.
Honorários quota litis
O EOAB silencia quanto ao pacto de quota litis, ou seja, a participação proporcional no resultado ou ganho obtido na demanda. Trata-se de um contrato vinculado ao êxito, embora nem todo contrato de êxito tenha cláusula quota litis.
O Código de Ética e Disciplina, no art. 50, ao contrário da maioria dos códigos deontológicos, admite, em princípio, o pacto de quota litis, observados os seguintes requisitos:
· excepcionalidade;
· contrato escrito;
· pagamento em pecúnia;
· cliente comprovadamente sem condições pecuniárias.
CED, Art. 50. a hipótese da adoção de cláusula quota litis,os honorários devem ser necessariamente representados por pecúnia e, quando acrescidos dos honorários da sucumbência, não podem ser superiores às vantagens advindas a favor do cliente.
Acrescente-se que a definição para contrato com cláusula quota litis está expressa no parágrafo primeiro, do art. 50, do CED, o que diferencia claramente de contratos de êxito. Vejamos:
art. 50, § 1º, do CED. A participação do advogado em bens particulares do cliente só é admitida em caráter excepcional, quando esse, comprovadamente, não tiver condições pecuniárias de satisfazer o débito de honorários e ajustar com o seu patrono, em instrumento contratual, tal forma de pagamento.
§ 2º Quando o objeto do serviço jurídico versar sobre prestações vencidas e vincendas, os honorários advocatícios poderão incidir sobre o valor de umas e outras, atendidos os requisitos da moderação e da razoabilidade.
Prescrição para ação de cobrança de honorários
O prazo prescricional da ação de cobrança de honorários é de cinco anos, coincidindo com o Código Civil. O termo inicial para contagem do prazo segue a regra processual e inicia-se do:
· vencimento do contrato;
· trânsito em julgado quando arbitrado judicialmente;
· ultimação da atividade extrajudicial;
· desistência, transação, renúncia ou revogação do mandato (o termo inicial é o dia útil seguinte).
É possível trabalhar sem remuneração?
O Estatuto prevê uma hipótese de gratuidade no exercício da advocacia: quando o advogado receber mandato de um colega para defendê-lo em processo oriundo de ato ou omissão praticado profissionalmente — art. 22, § 5º, EOAB. Presume-se, nesse caso, que os direitos e as garantias do advogado, em geral, estejam em discussão e há interesse transubjetivo da classe (LÔBO, 2009, p.141).
Há ainda a advocacia pro bono, benemérita e de proveito social que nos dizeres de Macedo Jr. (p. 128):
No art. 30, o CED observa que no exercício da advocacia pro bono, o advogado deverá apresentar o mesmo zelo e a dedicação habituais, de forma que a parte assistida se sinta amparada e confie no seu patrocínio. E, no § 1º, do referido artigo, define o que significa advocacia pro bono:
“Considera-se advocacia pro bono a prestação gratuita, eventual e voluntária de serviços jurídicos em favor de instituições sociais sem fins econômicos e aos seus assistidos, sempre que os beneficiários não dispuserem de recursos para a contratação de profissional”. Esta possibilidade não se aplica a fins político-partidários (art. 30, § 3º do CED).
Advocacia configura relação de consumo?
A súmula 02/2011, do CFOAB e o Resp. nº 532.377/RJ, nos respondem que não.
A atividade advocatícia não se insere na relação de consumo conforme já está pacificado pelo Conselho Federal da OAB por estar integralmente regulada em lei especial, o EOAB. Sobre esta impossibilidade, destacamos alguns argumentos:
Neste mesmo sentido, Vieira Jr. (2203, p. 85) observa que a advocacia guarda uma função constitucional com impedimentos quanto à publicidade. E mais, não exerce atividade de prestação de serviço massificada. Trata-se de obrigação contratual, mas regida por lei especial, a Lei 8.906/94.
Advocacia. Concorrência. Consumidor.
1. A Lei da advocacia é especial e exauriente, afastando a aplicação, às relações entre clientes e advogados, do sistema normativo da defesa da concorrência.
2. O cliente de serviços de advocacia não se identifica com o consumidor do Código de Defesa do Consumidor (CDC).
Os pressupostos filosóficos do CDC e do EAOAB são antípodas e a Lei 8.906/94 esgota toda a matéria, descabendo a aplicação subsidiária do CDC.
Para finalizarmos as regras deontológicas pertinentes aos honorários advocatícios, lembramos uma recomendação importante que nem sempre é observada pelo causídico. Se ocorrer hipótese de arbitramento ou cobrança judicial de honorários em face do cliente inadimplente, deve o advogado renunciar previamente ao mandato que recebera do cliente em débito já que irá demandar contra ele.
Atividades
O TST (Tribunal Superior do Trabalho) decidiu que a relação entre um advogado e seu cliente é uma relação de consumo, e não de trabalho. Por isso, as ações de cobrança de honorários advocatícios devem ser ajuizadas na Justiça comum, e não na trabalhista.
De acordo com a primeira Turma do TST, a Súmula 363 determina que compete à Justiça Estadual processar e julgar ações de cobrança ajuizada por profissionais liberais contra clientes, que remete então os autos à justiça comum.
Segundo os autos, os dois advogados contestaram o entendimento regional com base na ampliação da competência da Justiça do Trabalho introduzida pela Reforma do Judiciário, Emenda Constitucional 45/2004, mas o argumento foi rejeitado.
Para o relator Walmir Oliveira da Costa, a competência da justiça trabalhista, ampliada pela EC 45/2004, abrange as ações oriundas da relação de trabalho e as controvérsias dela decorrentes.
Segundo o magistrado, a ação de cobrança de honorários advocatícios ajuizada por profissional liberal contra cliente decorre de relação de consumo regulada pelo Código de Defesa do Consumidor, tipo de prestação de serviços autônomo em que o fornecedor mantém o poder de direção sobre a própria atividade.
O ministro ressaltou que a controvérsia sobre se a ação de cobrança de honorários advocatícios se insere no conceito de relação de trabalho ou se tem caráter de consumo já foi esclarecida pelo STJ, a quem cabe, de acordo com a Constituição Federal, julgar conflitos de competência.
O entendimento do STJ é o de que, nas ações de cobrança de honorários em função de contrato de prestação de serviços por profissional autônomo discute-se obrigação contratual de Direito Civil, não havendo pedido de reconhecimento de relação de emprego ou de pagamento de verbas rescisórias.
Além disso, o profissional liberal não está subordinado ao seu cliente, e com ele não estabelece vínculo empregatício.
Resumo da aula
· Reconheceu as regras para a cobrança de honorários advocatícios;
· Identificou a possibilidade do contrato de honorários com cláusula quota litis e a advocacia pro bono.

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