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204 Unidade 4 Ética * Veja o filme A classe operária vai ao paraíso, de Elio Petri, 1972, e leia o romance O Buda do subúrbio, de Hanif Kureishi, Companhia das Letras. Essas sacolas levam cerca de 400 anos para se decompor na natureza. Feitas de derivados do petróleo, quando incineradas liberam gran- de quantidade de gás carbônico na atmosfera, um dos principais responsáveis pelo aquecimen- to global. Descartadas de maneira incorreta, são um dos principais poluidores de mares e oce- anos. Uma vez no mar, elas provocam a morte de muitos animais marinhos, que ingerem frag- mentos de plástico e morrem. Veja a seguir algumas sugestões de como di- minuir o uso dessas sacolas no dia a dia. • Quando for às compras, você pode levar sacolas retornáveis, como as de feira ou de pano. • No supermercado, se possível coloque suas compras em caixas de papelão em vez de colo- cá-las em sacolinhas plásticas. • Caso seja indispensável o uso de sacolas plás- ticas, utilize sua capacidade máxima, reutilize sacolas já usadas ou encaminhe-as para recicla- gem. Peça a seus pais e outros parentes que fa- çam o mesmo. De olho no mundo Reúna-se com seu grupo de colegas e, com base no texto, discutam sobre o uso de objetos de plás- tico (sacos de supermercado, recipientes, emba- lagens, garrafas de água, etc.). Depois, elaborem uma campanha de esclarecimento e incentivo ao uso racional dos saquinhos de supermercado, es- colhendo uma modalidade de peça publicitária (um esquete de rádio, um cartaz, um vídeo, uma imagem para camisetas, etc.). Depois, apresentem à classe o resultado do trabalho. A crise do petróleo Os anos dourados, entre- tanto, começaram a perder o brilho* a partir da década de 1970. Nos Estados Unidos, os gastos com a intervenção de tropas norte-americanas na Guerra do Vietnã fizeram cres- cer assustadoramente a dívida nacional. Diante disso, em 1971 o governo norte- -americano promoveu a desvalorização do dólar, al- terando com isso o valor de todas as outras moedas. Dois anos mais tarde, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), entidade interna- cional cuja maioria é formada por Estados árabes, provocou uma nova crise de proporções mundiais: em outubro de 1973, às vésperas da Guerra do Yom Kippur, conflito entre árabes e israelenses (leia o ca- pítulo 19), a organização dobrou o preço do barril de 2 petróleo. Durante o conflito, a Opep chegaria a sus- pender a venda de petróleo aos países cujos governos apoiassem o governo de Israel. Assim, em 1974, o barril de petróleo era vendido a mais de 11 dólares, o que levou muitas indústrias dependentes do combustível em todo o mundo a re- duzir seu ritmo de produção e a demitir trabalhado- res. Nesse processo, milhares de pessoas perderam o emprego. As principais potências capitalistas reduziram seu ritmo de crescimento econômico e a inflação disparou em boa parte do mundo, chegando aos dois dígitos em países como França, Inglaterra e Estados Unidos. A maior parte das populações da África, da Ásia e da América Latina tornou-se mais pobre. Diversos países desses continentes entraram em recessão na década de 1980 e o desemprego aumentou (sobre a situação do Brasil, ver capítulo 21). As desigualda- des sociais em todo o mundo se acentuaram, e um grande número de pessoas passou a viver na miséria, mendigando e dormindo nas ruas. Cisne se alimenta em lago poluído por embalagens plásticas em Cumbria, Inglaterra. Foto de 2005. A s h le y C o o p e r/ C o rb is /L a ti n s to ck HMOV_v3_PNLD2015_200a208_U04_C17.indd 204 4/25/13 4:46 PM 205Duas décadas de crise Capítulo 17 O triunfo do neoliberalismo Diante da crise generalizada, muitos economis- tas passaram a defender a necessidade de se pôr em prática uma nova política econômica. Para eles, como forma de reduzir seus gastos, os Estados deve- riam se afastar das atividades produtivas e deixar o mercado regular livremente o preço dos bens e ser- viços. Para tanto, propunham a privatização das em- presas estatais e a abertura das economias em rela- ção ao mercado externo. Além disso, afirmavam que o governo deve- ria reduzir cada vez mais a sua participação nos serviços de assistência social, transferindo essas atribui- ções às empresas privadas*. A própria legislação traba- lhista, diziam eles, deveria ser substituída pela livre negociação entre patrões e empregados. Enfraquecia-se assim o papel dos sindicatos. Tais medidas, prometiam, estimulariam o crescimento econômico, levando a uma melhor distribuição da riqueza. Essa teoria econômica, conhecida como neoli- beralismo, foi amplamente posta em prática duran- te o período em que Margareth Thatcher, do Partido Conservador, ocupou o cargo de primeira-ministra da Inglaterra, entre 1979 e 1990. Posteriormente, difundiu-se por outros países, como os Estados Uni- dos, onde, em 1980, assumiu o poder o presidente Ronald Reagan, do Partido Republicano. Tanto Reagan como Thatcher desativaram pro- gramas sociais e extinguiram mecanismos destinados a amparar os trabalhadores. Essas medidas, aliadas a cortes nos gas- tos do governo, fizeram a econo- mia dos dois países crescer, mas acentuaram as desigualdades so- ciais*. Só na Grã-Bretanha, havia, em 1989, 400 mil sem-teto. Os Tigres Asiáticos Enquanto boa parte dos países ocidentais enfren- tava forte recessão nas décadas de 1970 e 1980, al- gumas nações da Ásia atravessavam um momento de grande desenvolvimento econômico. Entre 1965 e 1990, esses países cresceram três vezes mais do que a América Latina. De modo geral, as taxas de crescimen- to foram da ordem de 8% ao ano, razão pela qual es- ses países passaram a ser chamados de Tigres Asiáticos. Impulsionados pelo forte desenvolvimento in- dustrial do Japão ocorrido na década de 1960, Co- reia do Sul, Taiwan (Formosa), Hong Kong e Cinga- pura foram os primeiros Tigres a experimentar essa expansão econômica. No final da década de 1970, foi a vez dos novos Tigres: Indonésia, Tailândia e Malásia. Nesse meio-tempo, a China, país de economia socialista, contraposta à dos Tigres Asiáticos, todos de economia capitalista, passou a apresentar índi- ces ainda maiores de desenvolvimento (veja na seção Passado presente, na página seguinte, análise sobre o extraordinário desenvolvimento da China nas últi- mas décadas). A expansão econômica dos Tigres Asiáticos foi estimulada, principalmente, pelas altas taxas de pou- pança, pelos elevados índices de investimento e pe- los baixos salários. A ênfase na educação garantiu uma boa qualidade de mão de obra. Os setores de eletroeletrônicos, vestuário e informática foram os que mais cresceram. Em meados de 1997, o sistema financeiro dos Tigres Asiáticos entrou em crise, provocando fuga de capitais e quebra de empresas. Em vários desses paí- ses, o governo viu-se obrigado a desvalorizar a moe- da e a pedir empréstimos ao Fundo Monetário Inter- nacional (FMI). A crise dos Tigres Asiáticos teve enorme reper- cussão: as bolsas de valores de todo o mundo caí- ram e a economia mundial viveu um período de ins- tabilidade generalizada. A partir de 1999, porém, a economia da maioria desses países voltou a crescer. * Veja o filme Wall Street, de Oliver Stone, 1987. Lideranças políticas de alguns dos países mais industrializados do mundo em foto de 1981, em Ottawa, no Canadá. Ronald Reagan (quarto da esquerda para a direita), presidente dos Estados Unidos, e Margareth Thatcher (segunda da direita para a esquerda), primeira-ministra britânica, foram dois grandes defensores do neoliberalismo econômico nesse período. G e o rg e s B e n d ri h e m /A g e n c e F ra n c e -P re s s e * Veja os filmes Ou tudo ou nada, de Peter Cattaneo, 1997; e Meu nome é Joe, de Ken Loach, 1998. HMOV_v3_PNLD2015_200a208_U04_C17.indd 205 4/25/13 4:46 PM 206 Unidade4 Ética As transformações econômicas da China A China é protagonista da mais espetacular transformação econômica da história, que tirou o país do isolamento e da pobreza de trinta anos atrás e mudou de maneira radical a vida de 1,3 bi- lhão de pessoas. O restante da humanidade assis- te assombrada à emergência dessa nova potên- cia, que, no curto período de 2005 a 2008, saiu da sétima para a terceira posição entre os maiores PIBs do mundo, deixando para trás Alemanha, In- glaterra, França e Itália. O país onde ter uma bicicleta era o grande sonho de consumo é hoje o segundo maior mer- cado automobilístico do mundo. Os chineses que viviam de costas para o mundo se ocidentalizaram* com uma rapidez eston- teante – na maneira de ves- tir, na crescente liberação se- xual, na multiplicação de redes de fast-food, na paixão por grifes estrangeiras e no incipiente con- sumismo. Desde 1978, a China cresce a uma média de 9,6% ao ano, feito que nenhum outro país exibiu por tanto tempo. Nesse ritmo, o tamanho da eco- nomia dobra a cada oito anos. A rápida expansão resgatou 400 milhões de pessoas da pobreza ab- soluta, no mais bem-sucedido programa de com- bate à miséria da história. Mas o Partido Comunista hoje go- verna um país no qual a distância en- tre ricos e pobres cresce de maneira alarmante. A me- teórica ascensão é acompanhada pelo aumento das ten- sões*, na medida em que a prosperi- dade benefi cia mais os moradores das cidades do leste do que os 56% da po- pulação da zona rural. Enquanto Pe- quim e Xangai exibem uma legião de bilionários, milhões de camponeses ainda trabalham a terra com o mesmo arado de madeira puxado por búfalos usado há séculos no país. Adaptado de: TREVISAN, Cláudia. A mais espetacular mudança econômica. O Estado de S. Paulo, 8 jun. 2008, p. E-4. Passado Presente Revolução no Irã As mudanças notadas no mundo ocidental pro- duziram reflexos também nos países muçulmanos. Nas décadas de 1950 e 1960, um grupo de religio- sos começou a se destacar entre eles: o dos funda- mentalistas islâmicos. Os adeptos dessa corrente de pensamento acreditam na superioridade da reli- 4 * Veja o filme A plataforma, de Jia Zhang-Ke, 2000. * Veja o documentário China blue, de Micha X. Peled, 2005. Habitações precárias e prédios de luxo fazem parte da mesma área residencial de Wuhan, província de Hubei, na China. Foto de 2012. D a rl e y S h e n /R e u te rs /L a ti n s to ck gião maometana sobre as demais, interpretam o Al- corão (livro sagrado dos muçulmanos) ao pé da letra e se opõem à modernização pela qual vêm passando diversos países islâmicos, sobretudo os do Oriente Médio. Para eles, a existência de bares, boates, ban- cos, hotéis e cinemas nesses países é a prova de que a cultura islâmica está sendo influenciada pela “de- cadente cultura ocidental”. HMOV_v3_PNLD2015_200a208_U04_C17.indd 206 4/25/13 4:46 PM 207Duas décadas de crise Capítulo 17 Na década de 1970, os fundamentalistas entra- ram definitivamente no cenário internacional. No Irã, os xiitas, uma seita muçulmana fundamentalista, to- maram o poder em 1979, após deflagrarem a primei- ra revolução islâmica dos tempos modernos. O Irã passava na época por um processo de oci- dentalização dos costumes. O xá (rei) Mohamed Reza Pahlevi, no poder desde meados de 1950, havia sus- pendido diversas restrições impostas às mulheres e estimulado a educação e a industrialização. Seu governo, no entanto, era acusado de benefi- ciar apenas a parcela mais rica da população, sem se preocupar com a grande maioria dos iranianos, mui- tos dos quais viviam em condições miseráveis. Tam- bém havia denúncias de corrupção e revolta contra a ação da polícia secreta, que reprimia, torturava e as- sassinava opositores. Em 1978, os protestos contra a monarquia se in- tensificaram. O principal líder da oposição era o aia- tolá (título religioso) xiita Ruhollah Khomeini, exilado em Paris. Em janeiro de 1979, o xá foi obrigado a fugir do Irã. Dias depois, Khomeini re- tornava triunfalmente ao país. Senhor da situação, Kho- meini instaurou no Irã uma República teocrática*. Segui- dores do xá foram presos ou assassinados, as mulheres foram obrigadas a cobrir os cabelos em público e a música secular foi proibida. Em 1980, o Irã e o Iraque (apoiado pelos Estados Unidos) entraram em uma guerra que se estendeu até 1988, arrasou a economia dos dois países, dei- xou mais de 700 mil mortos e não teve vencedores. Com a morte de Khomeini, em 1989, fundamentalis- tas e reformistas passaram a disputar o poder no país, como mostra o boxe a seguir. * Veja a animação Persépolis, de Vincent Paronnaud e Marjane Satrapi, 2007, e leia a graphic novel homônima, de Marjane Satrapi. Fundamentalistas × reformistas A Revolução Iraniana encontrou eco muito po- sitivo no mundo árabe, sendo saudada, em pri- meiro lugar, como um evento antiocidental e, em segundo, como sinal encorajador de que profun- das mudanças internas eram possíveis. A fase de normalização da revolução começou na segunda metade dos anos 1980: a população estava satu- rada dos sermões religiosos, as reformas agrária e econômica tardavam e a corrupção voltou, aliada a um sentimento generalizado de decepção. Quando Khomeini faleceu, em 1989, o Irã havia se tornado um Estado isolado, acusado de abrigar e incitar terroristas, inspirando medo e repugnância. Desde a última década do século XX, vem se travando uma dura luta entre os conservadores (os radicais fundamentalistas*) e os reformistas. Os temas de controvérsia são não só as normas sociais, as liberdades políticas, a abertu- ra ou o fechamento em rela- ção ao mundo, mas também os problemas econô- micos, que pioraram nos anos 1990. A tendência reformista deseja reintegrar o Irã ao mundo como um Estado “normal”, defende o diálogo em vez do choque entre as civilizações e não mais rejeita a priori a globalização. Os fun- damentalistas, em contrapartida, controlam todos os mecanismos do poder: a lei e os juízes, a polí- cia, o exército, o dinheiro, os meios oficiais de co- municação, e dispõem do apoio tácito das classes menos instruídas e mais tradicionalistas. Adaptado de: DEMANT, Peter. O mundo muçulmano. São Paulo: Contexto, 2004. p. 236-239. Passado Presente * Veja o filme O círculo, de Jafar Panahi, 2000. A Revolução Islâmica no Irã nasceu como um movimento em prol da democracia. Nesta foto, de 1979, manifestantes seguram cartaz com foto do aiatolá Khomeini que, naquele ano, liderou a derrubada do governo do xá Reza Pahlevi e a implantação de uma República islâmica no país. G a b ri e l D u v a l/ A g e n c e F ra n c e -P re s s e HMOV_v3_PNLD2015_200a208_U04_C17.indd 207 4/25/13 4:46 PM 208 Unidade 4 Ética Hora DE REFLETIR Como vimos, o grupo ambientalista Greenpeace surgiu na década de 1970, preocupado com a degra- dação ambiental decorrente da industrialização. Hoje, grupos ambientalistas e setores da sociedade lutam para que as indústrias adotem um comportamento ético e passem a colocar entre suas prioridades não só o lucro e o crescimento econômico, mas também a preservação do meio ambiente e a melhoria da qua- lidade de vida dos trabalhadores e da comunidade como um todo. Ao adotar esse comportamento, o empresário es- tará assumindo sua responsabilidade social para com a sociedade e as futuras gerações. Em sua comuni- dade existem indústrias que desenvolvem trabalhos de preservação do meio ambiente? É possível haver responsabilidade social sem ética nos negócios? Em grupos, discutam o tema e reúnam informa- ções sobre a sua região. Em seguida, montem pai- néis com um esquema para responder às questões propostas. Apresentem o painel à classe e promo- vam um debate. A revolução do microchip Cientistas norte-americanos apresentaram, em 1961, um invento que revolucionou o mundoda tecnologia, aposentando de vez as antigas válvulas a vácuo e os transistores: o microchip. Medindo poucos centímetros, os microchips são circuitos integrados que combinam deze- nas de transistores, diodos e resistores. Graças à sua invenção, calculadoras, rádios, computa- dores gigantescos e outras máquinas puderam ser produzidos em tamanhos cada vez menores. Em 1971, diversos microchips de silício foram unificados em uma única peça de 3 mm × 4 mm. Dessa junção surgiu o microprocessador. Fazendo a função de 2 300 transistores, ele continha todas as informações necessárias para que um compu- tador lesse e executasse as instruções dos pro- gramas. O aperfeiçoamento do microprocessador permitiu a criação do primeiro computador pes- soal, em 1979. De olho no mundo Em dupla, façam uma pesquisa sobre a presen- ça do microchip na nossa vida cotidiana. Encon- trem uma utilização pouco conhecida e inusitada do microchip e reúnam informações para descre- ver oralmente à classe a descoberta da dupla. ¡sso...Enquanto 1. O período entre o final da Segunda Guerra Mun- dial e o início da década de 1970 é conhecido como a Era de Ouro do capitalismo. Que caracte- rísticas desse período justificam a denominação? 2. Por que a crise do petróleo foi responsável pelo fim dos anos dourados, no início da década de 1970? 3. Explique quais são os fundamentos da política econômica do neoliberalismo. Cite dois exem- plos de governos que implantaram as ideias neoliberais. 4. Por que a Coreia do Sul, Taiwan (Formosa), Hong Kong e Cingapura, entre outros países, foram cha- mados de Tigres Asiáticos? 5. Descreva as mudanças econômicas e sociais vividas pela China nas últimas décadas e suas contradições. 6. Em que contexto se realizou a Revolução Iraniana que conduziu o aiatolá xiita Ruhollah Khomeini ao poder em 1979? 7. Por que a Revolução Iraniana provocou, a partir de 1989, um conflito entre fundamentalistas e re- formistas? Organizando as IDEIas Atenção: não escreva no livro. Responda sempre no caderno. HMOV_v3_PNLD2015_200a208_U04_C17.indd 208 4/25/13 4:46 PM 209 R o b e rt o S tu ck e rt F il h o /A g ê n c ia F ra n c e -P re s s e Pawel Supernak/Corbis/Latinstock Com uma população de 141 milhões de habitantes, a Federação Russa é o maior país do mundo em extensão: ocupa uma área de 17 milhões de quilômetros quadrados. Algumas das maiores reservas mundiais de carvão, gás e petróleo estão em território russo, e a exportação dessas mercadorias é uma das bases da economia do país. Ao lado do Brasil, da Índia, da China e da África do Sul, a Federação Russa tem sido considerada uma das principais economias emergentes da atualidade. Nos primeiros anos do século XXI, a economia do país apresentou um crescimento acima da média mundial. A crise financeira mundial de 2008 afetou a expansão desse crescimento, mas mesmo assim, em 2012, o PIB da Federação Russa ultrapassou os 4%, revelando que a economia russa voltou a crescer. Essa situação é bem diferente daquela enfrentada pela Rússia no início da década de 1990, quando o país passou por uma profunda crise econômica, agravada pelo fim da União Soviética, da qual fazia parte. Na ocasião, Da esquerda para a direita, vê-se a presidente do Brasil Dilma Rousseff, o chefe do Estado russo Vladimir Putin, o primeiro-ministro indiano Manmohan Singh, o presidente da China Hu Jintao e o presidente sul-africano Jacob Zuma, em encontro dos líderes do Brics em Los Cabos, México. A reunião foi realizada pouco antes da cúpula do chamado G20, em junho de 2012. Capítulo 18 O fim do bloco comunista Objetivos do capítulo n Compreender o processo de crises socioeconômicas e políticas que culminou com a extinção da União Soviética nas décadas finais do século XX. n Relacionar o fim da URSS às alterações na geopolítica do Leste Europeu e ao fim da Guerra Fria. n Compreender o significado do termo Brics e o papel da Rússia como país de economia emergente na atualidade. n Perceber a relação entre o surgimento de novos países no antigo território da URSS e a eclosão de vários conflitos étnico-religiosos nesses países. n Compreender a relação entre o conceito da unidade – Ética – e a transparência na política e o acesso à informação. o governo russo deixava de lado uma economia planificada, baseada em empresas estatais, e migrava para a economia capitalista de mercado, que adota atualmente. Neste capítulo estudaremos como ocorreu o fim da União Soviética. HMOV_v3_PNLD2015_209a218_U04_C18.indd 209 4/25/13 4:46 PM 210 Unidade 4 Ética travam grandes avanços na produção de cimento, roupas, trigo, calçados e outros bens, as lojas e mer- cados encontravam-se com suas gôndolas frequen- temente vazias. Quando aparecia algum produto nesses estabelecimentos, formavam-se extensas fi- las de compradores. urss em crise No período compreendido entre o fim da Se- gunda Guerra Mundial e o início da década de 1980, a União Soviética se consolidou como uma superpo- tência, polarizando com os Estados Unidos a dispu- ta pela hegemonia mundial. Ao longo dessas déca- das, o governo soviético conseguiu garantir direitos básicos à população, como o acesso à educação e à saúde. Além de intensa industrialização, houve tam- bém grandes avanços científicos. A partir dos anos 1970, porém, essa sociedade altamente burocrati- zada e de economia estatizada começou a dar sinais de esgotamento. Uma das razões para isso era o rígido controle da economia exercido pela burocracia, que estabe- lecia metas para os setores produtivos por meio de planos que envolviam todas as atividades econômi- cas. Dessa forma, o governo soviético estabelecia o que as fábricas deveriam produzir e em que quanti- dade, onde as matérias-primas deveriam ser compra- das, qual o preço final das mercadorias, o salário dos trabalhadores, etc. As pessoas indicadas pelo governo para dirigir as empresas eram burocratas* que tinham por prin- cipal objetivo atingir as metas fixa- das pelo plano. Como não havia concorrência, os fabricantes não se preocupavam em aprimorar a qua- lidade das mercadorias e em ofere- cer uma grande variedade de bens de consumo. Na década de 1970, os países capitalistas de- senvolvidos obtiveram notáveis avanços tecnológi- cos, principalmente nas áreas de informática, mi- croeletrônica, biotecnologia e telecomunicações. As indústrias soviéticas, contudo, não acompanharam esse desenvolvimento. Refém da Guerra Fria e de uma concepção burocrática do desenvolvimento, o governo soviético destinava boa parte de seus recur- sos à expansão da indústria bélica, de modo a fazer frente aos Estados Unidos na corrida armamentista. Todos esses fatores somados colocaram a economia soviética à beira do colapso. Incapazes de atingir as metas de produção esti- puladas pelo governo, as fábricas apresentavam es- tatísticas falsas, afirmando que o objetivo havia sido alcançado. Assim, enquanto os dados oficiais mos- 1 Nos últimos anos do comunismo na União Soviética, a dificuldade em encontrar artigos de primeira necessidade tornou-se cada vez maior. Nesta foto de 1987, pessoas fazem fila em Moscou para comprar sapatos. * Veja o filme Cidade zero, de Karen Chakhnazarov, 1988. Para muitos, era mais fácil comprar os artigos oferecidos no mercado paralelo, onde os preços eram mais altos do que os tabelados pelo governo. Diver- sos produtos estrangeiros só eram obtidos por meio do con- trabando*. Apenas os burocra- tas da nomenklatura – palavra que passou a designar a elite do Partido Comunista e do governo, detentora de di- versas mordomias – tinham fácil acesso aos produtos de luxo vindos do exterior. A crise não afetava apenas a indústria de bens de consumo. As indústrias de base revelaram-se de- fasadas e ineficientes. No campo, as safras agrícolas já não garantiam o sustento da população,levando o governo a importar alimentos. Além disso, a corrup- ção se generalizava, envolvendo a máquina do go- verno e a do Partido Comunista, o único autorizado a atuar. A insatisfação da população aumentava cada vez mais, sobretudo nos países do Leste Europeu. * Veja o filme 4 meses, 3 semanas e 2 dias, de Cristian Mungiu, 2007. P e te r T u rn le y /C o rb is /L a ti n s to ck HMOV_v3_PNLD2015_209a218_U04_C18.indd 210 4/25/13 4:46 PM
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