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1 Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde Néria Invernizzi da Silveira Tradução e Adaptação cultural do instrumento: “The SACSTM Instrument” Mestrado Profissional em Educação nas Profissões da Saúde Sorocaba 2018 2 Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde Néria Invernizzi da Silveira Tradução e Adaptação cultural do instrumento: “The SACSTM Instrument” Mestrado Profissional em Educação nas Profissões da Saúde Trabalho Final apresentado à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção de título de MESTRE PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO NAS PROFISSÕES DA SAÚDE, sob orientação da Profa. Dra. Leni Boghossiam Lanza. Sorocaba 2018 3 Silveira, Néria Invernizzi da S587 Tradução e Adaptação cultural do instrumento: “The SACSTM Instrument” / Néria Invernizzi da Silveira. -- Sorocaba, SP, 2018. Orientadora: Leni Boghossiam Lanza. Trabalho Final (Mestrado Profissional) -- Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde. 1. Estomia. 2. Ferimentos e Lesões. 3. Estudos de Validação. I. Lanza, Leni Boghossiam. II. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde. III. Título. Ficha catalográfica elaborada por Antonio Pedro de Melo Maricato CRB8/6922 4 Néria Invernizzi da Silveira Tradução e Adaptação cultural do instrumento: “The SACSTM Instrument” Trabalho Final apresentado à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção de título de MESTRE PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO NAS PROFISSÕES DA SAÚDE, sob orientação da Profa. Dra. Leni Boghossiam Lanza. Aprovada em: ____ de ______________ de 2018. BANCA EXAMINADORA _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ 5 DEDICATÓRIA Aos meus pais Claudino e Nelly. Aos meus irmãos Vera, Ivone e Joel pelas adversidades enfrentadas neste período. Ao meu marido Célio, por estar ao lado na jornada da vida. Ao meu filho Marcelo, minha vida e meu orgulho. Às pessoas com estomias. Aos meus amigos. 6 AGRADECIMENTOS À Deus. Aos meus primeiros professores e os que contribuíram para minha formação profissional. À vida profissional que mostrou, com os pacientes e profissionais de saúde, à caminhar para a inserção na especialidade de estomaterapia. Á Prof. Dr. Leni Boghossiam Lanza que percorreu este caminho de orientação para o mestrado tornando-se uma amiga e compreendendo as minhas necessidades emocionais. À grande amiga e companheira Suely Rodrigues Thuler pela amizade, pelas trocas de experiências, pela atenção, carinho e cuidados comigo. À Prof. Dr. Vera Lúcia Conceição de Gouveia Santos pela oportunidade de cursar a especialidade. Às Profas Dras Neusa Maria Costa Alexandre e Sônia Regina Pérez Evangelista Dantas pelo incentivo pela participação apoio nesta caminhada. À Profas Dras Maria Angela Boccara de Paula, Izabel Cristina Ribeiro da Silva Saccomann e Lúcia Rondelo Duarte pelas considerações durante o exame de qualificação. Aos alunos do 4º ano de enfermagem da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP, Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde. À Heloísa Helena Armenio pelo carinho das respostas e sempre muito atenciosa. Ao Prof. Dr Reinaldo Gianini pela colaboração estatística. À Patricia Bento Pasqual pela tradução para a língua Inglesa. À todas as Enfermeiras ET que participaram desta pesquisa com a imprescindível colaboração, mas necessário manter a privacidade e sigilo, bem como todos os profissionais e pessoas que direta ou indiretamente colaboraram para a realização deste estudo. 7 RESUMO Introdução: A pele ao redor da estomia deve ser avaliada constantemente pois possui risco de perda de sua integridade e não há instrumento no Brasil para a avaliação, classificação e localização topográfica destas lesões. Objetivo: Este estudo objetivou realizar e adaptação cultural do “The SACSTM Instrument” para o Brasil, avaliar o índice de validade de conteúdo (IVC) e a confiabilidade interobservadores. Método: É um estudo metodológico com abordagem quantitativa. A adaptação cultural foi desenvolvida por quatro tradutores, sendo dois para a tradução e dois para a retrotradução. O IVC das equivalências de semântica, idiomática, cultural e conceitual foram analisadas por sete juízes e a versão final foi elaborada pela pesquisadora. A concordância interobservadores ocorreu pela análise de quarenta e uma fotografias por dois ET. Resultado: O SACSTM obteve IVC=1. A confiabilidade, para a avaliação e classificação das lesões apresentou concordância de 41,18% e K=0,2444, e para localização topográfica resultou em 46,67% e K=0,3151. Outra medida de concordância interobservadores foi o nível de significância estatística que apresentou p<0,001 concluindo ser extremamente significante. Discussão: O processo de tradução e adaptação cultural foi desenvolvido com o rigor científico do objetivo da pesquisa. O IVC =1 foi o mesmo que ocorreu em um estudo da Turquia. Na Itália e EUA resultou respectivamente em IVC = 0,91 e IVC = 0,94, demonstrando a viabilidade na prática clínica, porém com capacitação específica. Conclusão: O instrumento SACSTM foi traduzido e adaptado para a cultura do português do Brasil e significou ser uma ferramenta padronizada internacionalmente e de utilidade na prática clínica para a avaliação, classificação, localização topográfica das lesões periestomias, certificando resultados fidedignos e que atendeu os objetivos deste estudo. Palavras-chave: Estudos de validação, estomia, ferimentos e lesões. 8 ABSTRACT Introduction: The skin around the ostomy should be evaluated constantly because of the risk of having its integrity impaired and there is no instrument validated in Brazil for assessment and classification of the lesions and topographic location. Objective: To carry out the cultural adaptation of "The SACS™ Instrument" for use in Brazil and assess content validity, inter-observer reliability and evaluate the educational dimension to the understanding of this instrument. Method: This is a methodological study with a quantitative and qualitative approach. The cultural adaptation was elaborated by four translators in the translation and back-translation phases and its summaries were compiled by the author. The content validity index (CVI) was analyzed by seven judges for semantic, idiomatic, cultural and conceptual equivalences. The formula for calculating the CVI was the addition of the answers, divided by the total number of answers. Inter-observer reliability came from the investigation of 41 photographs, carried out by two nurses who specialize in stomatherapy and the values were presented in percentage and with the weighted kappa coefficient (K). To achieve instrument validity a focus group strategy was used, with eight students from year four of the undergraduate nursing program. Result: The result obtained for SACS™ Instrument was IVC=1. Reliability for the evaluation and classification of the lesions presented agreement of 41.18% and K = 0.2444, and for topographic location resulted in 46.67% and K = 0.3151. Another measure of interobserver agreement was the level of statistical significance that presented p <0.001 and was found to be extremely significant. Discussion: The process of translation and culturaladaptation was developed with the scientific rigor of the research objective. IVC = 1 was the same as that in a study in Turkey. In Italy and the USA, IVC = 0.91 and IVC = 0.94, respectively, demonstrated the viability in clinical practice, but with specific training. Conclusion: The SACSTM instrument was translated and adapted to Brazilian Portuguese culture and meant to be an internationally standardized tool and useful in clinical practice for the evaluation, classification, topographic location of peristomial lesions, certifying reliable results and that met the objectives of this study. Keywords: Validation studies, ostomy, wounds and lesions 9 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AAET American Association of Enterostomal Therapist ABEn Associação Brasileira de Enfermagem ABRASO Associação Brasileira dos Ostomizados AIS Ações Integradas de Saúde CBE Congresso Brasileiro de Estomaterapia CNE Conselho Nacional de Educação COAG Canadian Ostomy Assesment Guide CPPAPE Comissão de Política Pública de Atenção à Pessoa com Estoma D Direito / a DIR XII Diretoria Regional de Saúde de Campinas - DIR XII DIR XXIV Diretoria Regional de Saúde de Taubaté - DIR XXIV EEUSP Escola de Enfermagem da Universidade Estadual de São Paulo E Esquerdo / a ECET European Council of Enterostomal Therapy ELF English as a Língua Franca EUA Estados Unidos da América Enf ET Enfermeiro Estomaterapeuta FCMS - PUC - SP Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo FICAT Federative International Committee on Anatomical Terminology GEE Grupo de Interesse Enterosestomaterapia GIEE Grupo de Interesse em Enfermagem em Enterosestomaterapia IAET International Association for Enterostomal Therapist IBM International Business Machines ES Equivalência Semântica EI Equivalência Idiomática ECo Equivalência Conceitual EC Equivalência Cultural ILF Inglês como língua Franca INAMPS Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social 10 IOA International Ostomy Association K Kappa de Cohen IVC Índice de Validade de Conteúdo L Lesão MEC Ministério da Educação e Cultura MOU Memorandum of Understanding MS Ministério da Saúde NAAET North American Association for Enterostomal Therapist OPM Órteses, Próteses e Materiais especiais OSTOCAMPRE Associação dos Ostomizados de Campinas e Região PIB Poli-isobutileno QV Qualidade de vida QID Quadrante Inferior Direito Quadrante Superior Esquerdo (QSE), QSD Quadrante Superior Direito QSE Quadrante Superior Esquerdo QIE Quadrante Inferior Esquerdo PNA Paris Nomina Anatômica SACSTM The SACSTM Instrument SES-SP Secretaria do Estado da Saúde de São Paulo SIA/SUS Sistema de Informação Ambulatorial do SUS SIGTAP Sistema de Gerenciamento da Tabela de Procedimentos SIS Styrene-isoprene-styrene SOBEST Associação Brasileira de Estomaterapia SOBECC Sociedade Brasileira de Enfermeiros de Centro Cirúrgico, Recuperação Pós-Anestésica e Centro de Material e Esterilização SPSS Statistical Package for the Social Sciences SUDS Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde SUS Sistema Único de Saúde TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TiSOBEST Título de Especialista em Estomaterapia pela SOBEST T Topography ou localização topográfica UOA United Ostomy Associaciation WCET World Council of Enterostomal Therapists 11 WOCN® Wound, Ostomy and Continence Nursing Society® 12 LISTA DE QUADROS Quadro 1 Fórmula para o cálculo do Índice de Validade de Conteúdo....... 47 Quadro 2 Esquema para a avaliação das equivalências para cada item do SACSTM................................................................................ 52 Quadro 3 Perfil das tradutoras................................................................... 54 Quadro 4 Composição das versões do tradutor 1, Tradutor 2 e a síntese das traduções............................................................................ 55 Quadro 5 Perfil das retrotradutoras........................................................... 58 Quadro 6 Síntese da tradução em português, as retrotraduções do retrotradutor 1 e retrotradutor 2 e a síntese das retrotraduções. 60 Quadro 7 Perfil dos membros do comitê de juízes..................................... 64 Quadro 8 Avaliação dos juízes referentes ao título, a definição do título, as lesões (L) e localização Topográfica (T)................................ 65 Quadro 9 Avaliação dos juízes referentes à designação das letras, números das lesões periestomias.............................................. 66 Quadro 10 Avaliação dos juízes referentes à designação das letras e números e as descrições das lesões......................................... 68 Quadro 11 Avaliação dos juízes referentes à designação das letras, números e a classificação de cada localização topográfica das lesões de pele periestomia........................................................ 70 Quadro 12 Versão adaptada para o português do Brasil do Instrumento SACSTM..................................................................................... 72 Quadro 13 Perfil dos Enf ET Interobservadores.......................................... 76 Quadro 14 Respostas dos interobservadores mediante as fotografias........ 77 Quadro 15 Valores do Índice de Kappa de acordo com o nível de concordância............................................................................. 79 Quadro 16 Valores do nível de significância estatística............................... 79 13 LISTA DE FIGURAS Figura 1 The SACS TM Instrument......................................................... 22 Figura 2 Quadrantes da localização topográficas das lesões de pele periestomia.............................................................................. 72 Figura 3 Registro da avaliação e classificação da lesão da pele periestomia............................................................................. 73 Figura 4 Processo de tradução, adaptação cultural da versão adaptada do Instrumento SACS TM.......................................... 74 14 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO........................................................................................... 16 2. OBJETIVO................................................................................................. 20 2.1.Objetivo Geral...................................................................................... 20 2.2.Objetivo Específico............................................................................... 20 3. O INSTRUMENTO SACS TM ...................................................................... 21 4. ESPECIALIDADE DE ENFERMAGEM EM ESTOMATERAPIA E ESTOMIAS.................................................................................................... 26 4.1 História da Estomaterapia.................................................................... 26 4.2 Estomias.............................................................................................. 31 4.2.1 Período pré-operatório............................................................... 33 4.2.2 Período transoperatório............................................................. 34 4.2.3 Período pós-operatório............................................................... 35 4.2.3.1 Período pós-operatório imediato.................................... 35 4.2.3.2 Período pós-operatório mediato..................................... 36 4.3.3.3 Período pós-operatório tardio........................................ 37 4.3 Complicações das estomias............................................................... 37 4.4 Pele periestomia.................................................................................39 4.4.1 Incidência de lesões de pele periestomia.................................. 39 4.4.2 Causas das lesões da pele periestomia.................................... 42 4.4.3 Prevenção e tratamento das lesões periestomia....................... 43 5. MÉTODO................................................................................................... 46 5.1 Tipo de estudo..................................................................................... 46 5.2 Aspectos éticos.................................................................................... 49 5.3 Participantes do estudo........................................................................ 50 5.4 Critérios de Inclusão............................................................................ 50 5.5 Critérios de exclusão............................................................................ 50 5.6 Coleta de Dados.................................................................................. 50 5.7 Instrumentos........................................................................................ 51 6. RESULTADOS.......................................................................................... 53 6.1 Tradução............................................................................................. 53 6.2 Síntese das traduções......................................................................... 54 6.3 Retrotradução...................................................................................... 58 6.4 Síntese das retrotraduções.................................................................. 59 6.5 Propriedades de medidas.................................................................... 63 6.5.1 Índice de Validade de Conteúdo................................................... 63 6.5.2 Confiabilidade............................................................................... 75 6.5.2.1 Concordância Interobervadores........................................ 76 7. DISCUSSÃO.............................................................................................. 80 CONCLUSÃO................................................................................................ 85 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 86 REFERÊNCIAS............................................................................................. 87 APÊNDICES APÊNDICE 1 - Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE).............. APÊNDICE 2 - Instrução para o preenchimento do instrumento de avaliação para os juízes.................................................................................................. APÊNDICE 3 - Instrumento para a avaliação das equivalências..................... APÊNDICE 4 - Fotografias digitalizadas........................................................ 97 100 103 109 16 1. INTRODUÇÃO Após a promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil em 5 de outubro de 1988, foram definidas estratégias a serem implantadas, gradualmente no território nacional, em relação ao sistema de saúde, culminando na publicação da Lei Orgânica da Saúde nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, quando teve início no país o Sistema Único de Saúde (SUS). 1,2 Primeiramente, para a estratégia de consolidação do SUS, em 1983, iniciou- se o processo de descentralização da saúde com a política de Ações Integradas de Saúde (AIS) e, em 1987, foi implementado o Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde (SUDS). As diretrizes do SUS regulam as ações e serviços públicos de saúde em todo o território nacional, na concepção de organização de uma rede regionalizada e hierarquizada com processos de: descentralização da política administrativa de recursos físicos, financeiros e humanos para os estados e, posteriormente, para os municípios.3 Como enfermeira e funcionária do extinto Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social (INAMPS), participei das mudanças de remanejamento dos recursos humanos na área de saúde para o estado de São Paulo (SP) e, após, para município de Campinas.4 Assim, inserida na equipe multiprofissional e atuando junto às pessoas com estomias, participamos de encontros com grupos de apoio de pessoas com a mesma alteração do seu estado de saúde e profissionais da área, pois, desta forma, havia possibilidade de favorecer e esclarecer condutas e dúvidas sobre adaptações das capacidades físicas, intelectuais, divertimentos, entre outros. Neste início de trajetória profissional, auxiliei na fundação da Associação dos Ostomizados de Campinas e Região (OSTOCAMPRE) que foi fundada em 15 de dezembro de 1989.4- 7 Em virtude das atividades assistenciais e de organização de serviço, participei do Curso de Especialização de Enfermagem em Estomaterapia da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP) em 1992. Este curso foi o primeiro a ser instituído no Brasil e era coordenado pela Profª Drª Vera Lúcia 17 Conceição Gouveia Santos, enfermeira estomaterapeuta e Dr. Afonso Henrique da Silva e Souza Junior, médico cirurgião coloproctologista. 8-10 Neste mesmo ano, em 04 de dezembro de 1992, foi fundada a Sociedade Brasileira de Estomaterapia (SOBEST), da qual fui um dos membros fundadores. Entidade sem fins lucrativos, que tem como um dos seus objetivos o desenvolvimento científico cultural de seus associados, principalmente por meio de eventos científicos, para atender o novo Código Civil Brasileiro, em 2005 a SOBEST passou a ser denominada Associação Brasileira de Estomaterapia: estomias, feridas e incontinências, sendo que participei como membro da diretoria nas gestões 2009 a 2011 e 2012 a 2014, no cargo de Primeira Secretária.10 Simultaneamente a estes fatos, em 1992, São Paulo foi o primeiro estado da Federação Nacional a instituir uma política pública para as pessoas com estomias, por meio da Normatização de Assistência aos Ostomizados da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES-SP), que teve como premissas: descentralização da assistência da pessoa com estomias de forma hierarquizada, padronização dos equipamentos coletores e adjuvantes e a reorganização das unidades públicas ambulatoriais para a clientela específica.11- 14 Neste cenário de assistência e educação para os profissionais e pacientes, em 1993, escrevi o capítulo Ostomia e (é) uma nova vida, no qual se aborda orientações para manutenção da integridade de pele. 15 A crescente necessidade da assistência integral à pessoa com estomia foi delineada pela Portaria MS/GM nº116 de 09/09/1993, que se referia ao repasse do recurso financeiro ambulatorial e pela Portaria MS/GM146, de 14/10/1993 que estabelecia a rotina da assistência para as pessoas com estomias para o grupo de órtese e próteses e materiais auxiliares (OPM), sendo uma conquista da Associação Brasileira dos Ostomizados (ABRASO).16-19 Mediante ao panorama da universalidade do SUS, o primeiro processo de descentralização da assistência para a pessoa com estomia da SES-SP ocorreu em 1994, em uma parceria entre a Diretoria Regional de Saúde de Campinas (DIR XII) e Diretoria Regional de Saúde de Taubaté (DIR XXIV).12 O Enfermeiro Estomaterapeuta (Enf ET) foi o responsável pela elaboração da programação para capacitação de enfermeiros generalistas para a assistência integral à pessoa com estomia, com foco principal na prevenção das lesões de pele periestomia. 12,13 18 A experiência na assistência da pessoa com estomia, principalmente em lesões de pele, nos trouxe experiências inéditas, que culminaram com a realização de trabalhos científicos e publicações, como a pesquisa intitulada “Proposta do Novo Modelo de Bolsa de Ostomia”, apresentada em 1997, durante o II Congresso Brasileirode Estomaterapia (CBE) e, em 1998 durante 12 th Biennial Congress of the World Council of Enterostomal Therapist (WCET). 20, 21 Considerando o ano de 2004 um marco para a Estomaterapia nacional em que o Brasil sediou o 15th Biennial Congress WCET e V CBE em Florianópolis, ocorreu a apresentação da pesquisa “Evaluacion of a Drainable Ostomy Bag With a 2ª Opening” que mostrou que a durabilidade da adesão do sistema coletor preserva a integridade de pele periestomia.22 Com a crescente organização do SUS para desenvolvimento de ações de saúde para as pessoas com estomia, houve a formação da Comissão de Política Pública de Atenção à Pessoa com Estoma (CPPAPE), que foi formada por membros da SOBEST e da ABRASO para a elaboração da Proposta de Portaria Ministerial da Política Nacional de Saúde das Pessoas com Estomia em que uma das diretrizes era a criação de um programa de capacitação de recursos humanos, sendo uma das premissas evitar lesões de pele periestomia 24,25 , culminando na Portaria MS/GM nº 400 de 16/11/2009, anexo I que refere que o serviço deve “prestar assistência especializada que envolve a educação para o autocuidado, a avaliação das necessidades biopsicossociais gerais do indivíduo e da família e as específicas relacionadas à estomia e pele periestomia, incluindo a prevenção e tratamento das complicações, indicação e prescrição de equipamentos coletores e adjuvantes de proteção e segurança”.23, 24,25 Mediante o cumprimento da Portaria nº 400, houve necessidade de cadastro de pacientes e registros da assistência prestada, principalmente quanto às lesões de pele periestomia. Estes registros foram constantes nas minhas experiências clínicas, em que em minhas anotações de enfermagem costumava desenhar a estomia e incluía, com outra cor de caneta, o local da lesão com suas respectivas medidas de extensão, referia as características da pele lesionada e a causa da lesão, porque são dados importantes e norteadores para o tratamento da lesão, prescrição dos equipamentos coletores e adjuvantes e o cálculo da quantidade de equipamentos por um período estimado e o agendamento para avaliação da lesão.26 19 No Brasil, os instrumentos para avaliação de pele periestomia são institucionais e construídos por enfermeiros estomaterapeutas ou capacitados, sem validação sistematizada para sua utilização, portanto há escassez de instrumentos formais, validados e confiáveis nacionalmente para avaliações clínicas das alterações das camadas da pele periestomias. Esta situação é um desafio para os profissionais de saúde em nosso país, pois reflete na qualidade da elaboração do planejamento das intervenções da assistência à saúde, comprometendo assim, a eficácia dos equipamentos prescritos, dessa forma aumentando o consumo de equipamentos coletores e contribuindo para diminuir a qualidade de vida (QV) das pessoas com estomia de eliminação. 27 Ao conhecer o “The SACS TM Instrument”, um Instrumento específico para a avaliação e classificação do tipo, a localização topográfica e o registro das lesões da pele periestomia, tive o interesse de realizar estudos, pois mostrava minhas dificuldades em descrever as lesões de pele periestomia de uma forma sistematizada, considerando a prática clínica e as evidências científicas. Assim, acreditando que estudos poderiam viabilizar a utilização em estabelecimentos hospitalares e ambulatoriais com uma linguagem única, contribuindo para redirecionar a forma de registros das lesões de estomias e com o processo de formação de profissionais na graduação e especialização, decidi realizar este estudo. Neste sentido, minha questão principal foi: Como planejar e executar o processo de tradução, adaptação cultural, para o português do Brasil, o índice de validade de conteúdo e a concordância interobservadores para um instrumento no idioma em inglês? 20 2. OBJETIVOS Este estudo tem como objetivos: 2.1 Objetivo Geral Realizar a tradução e adaptação cultural do instrumento SACSTM para o idioma Português do Brasil; 2.2 Objetivo Específico Avaliar o índice de validade de conteúdo do instrumento SACSTM, após adaptação cultural; Avaliar a confiabilidade interobservadores 21 3. O INSTRUMENTO SACS TM O Instrumento SACSTM foi apresentado no Brasil com uma aparência de um cartão de visita, descrevendo em de um lado as lesões, auxiliadas por fotografias a avaliação e classificação das lesões e do outro lado a localização topográfica das lesões. Observei que o seu estudo foi desenhado para diminuir as dificuldades de avaliação da pele periestomia e me despertou a atenção. (Figura 1) A avaliação das estomias e da pele periestomia requer que o enfermeiro estomaterapeuta (Enf ET) ou enfermeiros capacitados desenvolvam o raciocínio clínico para as intervenções e avaliações. Neste sentido, há instrumentos baseados em evidências, que podem ser utilizados na gestão da assistência qualificada na sistematização, com terminologia internacional e embasados em evidências para realizações de pesquisa com método comparativo.28 Bosio et al, em 2006 criaram um instrumento que permite a classificação das alterações da pele periestomia, a localização destas lesões por quadrantes ao redor da estomia e um registro padronizado por meio da pesquisa intitulada Studio Osservazionale Multicentrico Sulle Alterazioni Cutanee Post-enterostomie (SACSTM).29 A Empresa ConvaTec Incoporation, fabricante de produtos para a saúde é detentora do direito autoral do The SACSTM Instrument e autoriza seu uso internacionalmente, como demonstrado na figura 1. 30 22 Figura 1 – The SACS TM Instrument 30 Fonte: <https://www.convatec.com/ostomy/sacs-instrument/>30 O SACSTM foi desenvolvido por 7 Enf ET e 4 cirurgiões italianos e publicado, primeiramente no Il Giornali di Chirurgia, em que participaram pacientes de oito centros de assistência às pessoas com estomia nas regiões do Itália, sendo a Região Norte em Azienda Ospedaliera “San Giovanni Battista di Torino” na cidade de Torino e Ospedale Regionale na cidade de Bolzano; a Região Centro em Azienda U.S..L.4. Ospedale “Misericordia e Dolce” na cidade de Prato, Policlinico Universitario “Campus Biomedico” na cidade de Roma e Azienda U.S.L.11 - Ospedale “San Giuseppe” na cidade de Empoli e a Região Sul em Ospedale Piemonte na cidade de Messina, Presidio Ospedaliero “San Luigi, Currò” e Azienda Ospedaliera di Alta Specializzazione Ospedale “Garibaldi” na cidade de Catania, sob a Direzione Medica da Bristol-Myers-Squibb ConvaTec, em Roma, com o objetivo de evitar vieses geográficos ou ambientais.29 Este estudo foi prospectivo observacional e ocorreu entre dezembro de 2003 a fevereiro de 2006; contou com a participação de 656 pacientes, dos quais 339 (372 homens e 67 mulheres) apresentavam lesão de pele periestomia, com a média de idade de 63 anos (25 a 85 anos) e geraram 800 fotografias digitais, porque esta é a maneira de arquivar momentos importantes. Neste estudo, foram pré-definidos que as 23 ocasiões para a realização das fotografias, foram a semana zero, que era o primeiro dia da avaliação da lesão, seguidos da quarta semana, da décima segunda semana e a na décima quarta semana (0, 4, 12 e 14 semanas).29 Os dados fotográficos coletados e os relatórios apresentados foram processados pelo software denominado Statistical Package for the Social Sciences® (SPSS) da International Business Machines (IBM), que é uma empresa especializada na área de tecnologia da informação. 29 A conclusão demonstrou que as fotografias permitiam a identificação das lesões, identificadas pela letra L e foram classificadas e descritas em categorias de acordo com a profundidade da lesão que atingiaas camadas da pele, seguidas com números cardeais de um a cinco e a maior severidade pela letra L seguida por X . Estas mesmas imagens permitiram a identificação da localização topográfica da lesão da pele periestomia, identificada pela letra T. Estas localizações foram descritas e categorizadas de acordo com os quadrantes utilizados para câncer de mama, tendo como marco, a posição anatômica humana da axila e do osso externo, seguida por números romanos de I a V (de um a cinco).29 Em 2007, os mesmos autores publicaram na Revista Wound, Ostomy and Continence Nursing Society ( WOCN®) a pesquisa intitulada A Proposal for Classifying Peristomal Skin Disorders: Results of a Multicenter Observational Study, que após três conferências de especialistas membros da European Council of Enterostomal Therapy (ECET), revisaram as 800 fotografias digitais e selecionaram 20 fotografias, sendo então elaborado um questionário de múltipla escolha para cada foto, que foi enviado por correio eletrônico, para quatro especialistas, sendo dois cirurgiões e dois Enf ET, que não participaram do estudo anterior.31 As respostas destes quatros especialistas foram estatisticamente analisadas pelo software SPSS Modelo Chicago I11® e obtiveram o Índice de Validade de Conteúdo (IVC) igual a 0,94, significando que a concordância dos especialistas foi “muito boa”. 31 Após a publicação sobre a proposta de classificação para as lesões periestomia, ocorreu a inclusão de um item no Instrumento Canadian Ostomy Assessment Guide (COAG), que é um instrumento desenvolvido entre 1999 e 2001, para a utilização na prática clínica de enfermeiras generalistas capacitadas para a prescrição adequada do equipamento coletor e adjuvantes.32 24 O Instrumento COAG foi criado por nove Enf ET, sete enfermeiros generalistas e dois Enf ET funcionários da empresa ConvaTec e na sua aplicação clínica obteve como resultado que o tempo de uso do equipamento coletor aumentou uma média de 1,5 dias, os custos diminuíram em $1,80 canadense/dia, não foram identificadas diferenças no estado da pele periestomia e a sensação de bem-estar e segurança do paciente aumentou significativamente e foi útil para 67% dos enfermeiros generalistas, gerando comentários qualitativos para a o item avaliação da pele periestomia, que permitia somente a resposta se a pele estava intacta ou não.27,32 Mediante a estes comentários qualitativos sobre a pele periestomia intacta ou não, houve a inclusão do SACSTM no COAG utilizando, para esta avaliação uma escala do tipo Likert, com pontuação de um a quatro (1-para não relevante/não importante até 4-muito relevante/muito importante) para o SACSTM, obtendo o resultado do IVC= 0,94, e mais 880 comentários qualitativos.27 A análise dos 880 comentários qualitativos para do SACSTM mostrou que para as lesões de pele periestomias havia minuciosidade de conteúdo e as descrições relacionadas às lesões eram as mesmas que se utilizam internacionalmente com uma vantagem, a de conter fotos clínicas. Quanto a análise para localização topográfica da lesão, houve a sugestão de classificar como os quadrantes como face de relógio. (Figura 1) 27 A terminologia anatômica usada para descrever a localização de determinado órgão tem como base um ponto referencial para sua definição sendo a face de relógio a denominação que maioria dos profissionais de saúde utiliza para determinar uma comunicação clara das classificações anatômicas. Existe a anatomia descritiva e a topográfica com terminologia internacional revisadas desde 1895, após sucessivos congressos de anatomia. Em 1955, foi criada a Paris Nomina Anatômica (PNA) e, em 1989, foi criado a Federative International Committee on Anatomical Terminology (FICAT), que define o termo significativo para cada estrutura anatômica com o objetivo de atualizar e uniformizar todas as nomenclaturas.33,34 Sendo assim, The SACSTM Instrument caracteriza-se por Assessing and Classififying a peristomal Skin Lesion: L1 - Peristomal redness with intact skin; L2 - Open lesion not extending into subcutaneous tissue; partial-thickness skin loss; L3 - Open lesion extending into subcutaneous tissue and below; full-thickness skin loss; L4 - Full thickness skin loss with non-viable, dead tissue (necrotic, fibrinous) e LX - Abnormal growth present (hyperplasia, granulomas, neoplasm) e para Topografy com: 25 T I - Left upper peristomal quadrant (12-3 o’clock); T II - Left lower peristomal quadrant (3-6 o’clock); T III - Right lower peristomal quadrant (6-9 o’clock); T IV - Right upper peristomal quadrant e TV - All peristomal quadrants (9-12 o’clock). 30 O idioma original do SACSTM é o italiano, porém o idioma Inglês adquiriu status fundamental, do ponto de vista da formação do indivíduo para comunicação internacional de política, economia, cultural e acadêmico. Atualmente é o idioma mais utilizado no mundo para a comunicação entre pessoas, ou seja, brasileiros, espanhóis, franceses, entre outros aprendem inglês para se comunicarem não somente com americanos ou britânicos, mas também com qualquer outra pessoa, pois o idioma inglês permite a aproximação de várias culturas e, consequentemente, propiciam sua integração em um mundo globalizado. Este é o conceito de Inglês Internacional ou como o acrônimo English Língua Franca (ELF ou ILF) que está integrada à área de linguagens, códigos e tecnologias pois assume parte do conjunto de conhecimentos para a regulação da linguística internacional. 35,36 Os contextos acadêmicos, ensinos, negócios e política têm mostrado que o ensino de línguas para a formação da comunicação do idioma em inglês está ao alcance global, por esta razão o SACS TM na língua inglesa é o objeto deste estudo. 35, 36 26 4. ESPECIALIDADE DE ENFERMAGEM EM ESTOMATERAPIA E ESTOMIAS 4.1 História da estomaterapia As ações para a melhoria dos cuidados das pessoas com estomia iniciou-se em outubro de 1958 na Cleveland Clinic, Ohio, nos Estados Unidos da América (EUA) com Dr Robert Beach Turnbull Jr. (1913-1981) cirurgião coloproctologista respeitável internacionalmente devido as contribuições importantes no desenvolvimento de técnicas cirúrgicas que tiveram sucesso. A história contada é que ele soube que uma das suas antigas pacientes com ileostomia, Sra. Norma Nottinghan Gill-Thompson (1920-1998) estava ajudando as pessoas que tinham uma estomia, com conversas incentivadoras, com os cuidados e informações sobre “os sacos” disponíveis na sua cidade, em Akron, Ohio, pois além da sua experiência pessoal, sua avó foi uma pessoa colostomizada.37 A Sra. Norma Gill necessitou, aos seus 34 anos, em 1954, ser operada devido ao diagnóstico de Retocolite Ulcerativa que ocasionou a retirada total do seu intestino grosso, havendo assim a necessidade da confecção de uma ileostomia de caráter definitivo.38 Neste contexto, Dr. Turnbull com todas suas atividades profissionais e o crescente volume de pacientes, sentiu a necessidade de haver uma pessoa para servir de elo entre ele e os pacientes e então convidou Sra. Norma Gill para conversar com pacientes que seriam submetidos à cirurgia de construção da estomia, bem como após as cirurgias a participarem de reuniões em grupos para discutir assuntos de interesse comum e troca de experiências. Norma Gill foi a primeira pessoa a ser contratada pela Cleveland Clinic como “técnica em ostomia”. 37-39 Desta forma, houve o surgimento de uma nova categoria de profissional em outubro de 1958 e Dr. Turnubull criou o nome para este profissional com a junção da palavra “stoma” adicionando prefixo "entero" para especificar "uma abertura no abdome" juntamente a palavra terapia por significar tratamento e então Enfermeira Estomaterapeuta.39 27 “It was Turnbull who first recognized the need for specialists in stomal care. After recruiting Norma Gill, Akron,Ohio, to be the first practitioner, he developed the name for her work. Because he believed the word stoma would indicate a "mouth" type of opening, he added the prefix "entero" to specify "an opening into the abdomen" and thus Enterostomal Therapy or Stomaterapy Nursing” 39 A parceria de trablaho destes pioneiros resultou na criação do primeiro programa de estomaterapia em 1961, na atual Cleveland School Clinic Foundation Education Building considerada padrão ouro de ensino para o mundo. O curso era oferecido 4 vezes ao ano para médicos, enfermeiros, assistentes sociais e pacientes durante 8 semanas com a formação de novas organizações de indivíduos e profissionais. A reputação do curso tornou-se valorizada, pois norteava para todo o mundo, que a criação de novos cursos deveria ser aprovada por meio de processo, o que ocorre até os dias atuais de credenciamento de cursos de especialização de enfermagem em estomaterapia, com o objetivo de manter os padrões de excelência do ensino. A especialidade foi tornando-se reconhecida mediante a concepção do serviço de estomaterapia no Hospital Ferguson-Droste-Ferguson, em Grand Rapids em Michigan, atualmente Ferguson Clinic.9, 37 Historicamente, ambos também foram os pioneiros em organização de encontros bienais sobre a gestão do cuidar em estomaterapia, vislumbrando a necessidade de profissionais especializados em estomaterapia e, portanto, são considerados internacionalmente como “pai” e “mãe” da especialidade em estomaterapia.9,39 Juntos, em 1962 fundaram a United Ostomy Associaciation (UOA), com membros profissionais de saúde e pessoas com estomias. Em 1975, pelo crescente número de pacientes e profissionais de outros países o nome foi alterado para International Ostomy Association (IOA). Sra. Norma Gill e Dr. Trunibull, em 1968, referiram que as associações deveriam ser distintas, sendo uma delas para as pessoas com estomias e a outra para profissionais. Foi então, neste ano, 1968, fundada nos Estados Unidos da América (EUA), a American Association of Enterostomal Therapist (AAET), que manteve os mesmos objetivos iniciais para a formação de novos cursos e que, em 1970, foi denominada North American Association for Enterostomal Therapist (NAAET) e em 1971, a International 28 Association for Enterostomal Therapist (IAET) e atualmente WOCN® com encontros previamente agendados de 2 em 2 anos.37,38 Seguindo os caminhos da Cleveland Clinic, países iniciaram suas atividades em estomaterapia como Canadá, em 1968; Inglaterra, em 1969; Austrália, em 1971; Africa do Sul, em 1971; Escandinavia, em 1976 e França, em1978, estabelecendo serviços de estomaterapia dentro de hospitais ou das comunidades, pois tinham o compromisso de multiplicação do modelo sistematizado do curso Enterostomal Therapy Nursing Education, para cursos de estomaterapia com nível de pós- graduação em 1972. Seguindo esta maravilhosa trajetória, foi em Londres, em 1976, durante uma das combinadas reuniões bianuais, que a Sra. Norma Gill sugeriu a criação de uma associação internacional de Enf ET, que foi fundada em 1978, com repesentantes de 32 países, em Milão e sendo considerado o primeiro congresso do WCET. O WCET, em 1980, deliberou que a estomaterapia é uma especialidade privativa do profissional enfermeiro, determinando os valores de respeito pela dignidade e diversidade individual de todas as pessoas, da integridade e código de ética reconhecido internacionalmente, a comunicação para promover a colaboração entre seus associados e outras especialidades interessadas em assistência integral dos cuidados para corpo, mente e espírito e a abordagem das pesquisas científicas de acordo com avanços dos cuidados especializados.9,37,38 Concomitantemente, a WOCN e WCET, e novamente por incentivo da Sra. Norma Gill, foram criadas as suas revistas científicas em 1974 e 1980 respectivamente. Foi decidido que os artigos deveriam ser escritos em inglês, pois a língua inglesa era e é consagrada como a mais comumente escrita e falada entre as organizações científicas internacionais.37 Retornando para fins de 1979 e o início de 1980, com o aumento de publicações para a importância da manutenção da integridade da pele periestomia intestinal, peri fístulas digestivas e temas sobre os processos do cuidar e tratar as lesões de pele ao redor das estomias urinárias, das incontinências anal e urinárias, das lesões por pressão, indagações da posição do longo período do procedimento cirúrgico pela própria hospitalização ou ausência de mobilização do paciente no domicílio, geraram investigações e ações de caráter preventivos e foi declarado, em 1983, que na mensagem do presidente no Journal of Enterostomal Therapy da IAET, atualmente revista da WOCN, a expansão das competências do Enf ET incluindo o cuidar de feridas agudas ou crônicas, fístula digestivas e incontinências. 37-45 29 No Brasil, o desenvolvimento da enfermagem em estomaterapia inicia-se em meados da década de 80 com o estímulo da Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn), por meio da seção São Paulo, na formação de Grupos de Interesse Clínico em Enfermagem e em especial foi criado o Grupo de Interesse em Enfermagem em Enterosestomaterapia (GIEE) que, posteriormente, foi denominado Grupo de Interesse Enterosestomaterapia (GEE) e desde 1984 foi a base da especialidade. Auxiliaram e ainda transformam o cenário brasileiro para o crescimento da identidade da estomaterapia tendo a presença da Profª Drª Vera Lúcia Conceição de Gouveia Santos, que foi cursar Especialização em Estomaterapia em Madrid em 1989, voltando para o Brasil com a missão de implantar a estomaterapia no Brasil. A Profª Drª Vera Lúcia Conceição de Gouveia Santos juntamente com o Dr. Afonso Henrique da Silva e Souza implantaram e coordenaram conjuntamente da primeira até a sexta edição do curso de especialização em Enfermagem em Estomaterapia na EEUSP e, posteriormente, a Profª Vera coordenou-o até a sua última turma, sendo a vigésima turma a que ocorreu em 2015. Ainda sob sua direção, em quatro de dezembro de 1992 foi fundada a SOBEST, e com sua notável responsabilidade e competência em 1994, foi presidente do I CBE (primeiro CBE), bem como a primeira Delegada Internacional do Brasil junto ao WCET e foi integrante de comitês do WCET e membro de diretorias de outras associações internacionais nas áreas de abrangência da estomaterapia, bem como recebeu da SOBEST, o Título Honorífico de Especialista Emérito em Estomaterapia da associação. É diretora do Departamento de Relações Internacionais da SOBEST, na gestão 2016-2020.8,10, 46-50 A SOBEST é uma organização multidisciplinar, de caráter científico e cultural, com bases éticas e filosóficas para o exercício profissional da enfermagem e o desenvolvimento técnico-científico para a melhoria do desempenho da qualidade de assistência e sua diretoria é composta por departamentos, com finalidades específicas. Em relação ao Departamento de Educação, foi designado para analisar, fiscalizar e fazer recomendações e ajustes de programação para o reconhecimento dos cursos nacionalmente e, consequentemente, ao credenciamento internacional para a WCET devido a SOBEST ter uma estrutura e organização definidas que em 2009 recebeu o documento Memorandum of Understanding (MOU) da WCET, que outorga a SOBEST o credenciamento dos cursos porque a SOBEST segue criteriosamente as diretrizes internacionais é a garantia que o ENF ET exerça suas funções em qualquer lugar do mundo e cumpre-se que todos os cursos de 30 especialização em estomaterapia devam ser autorizados pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) e pelo colegiado do Conselho Nacional de Educação (CNE) para universidades ou instituições de escolas de extensão das universidades.49 A expansão da estomaterapia no Brasil torna a especialidade mais sólida e em 1.999 foipublicado o primeiro Boletim Informativo SOBEST e em 2003 foi lançada oficialmente a Revista Estima. O avante desenvolvimento técnico-científico em enfermagem baseada em evidências da estomaterapia brasileira traz o aprimoramento do nome da revista em 2015 para Estima, Revista da Associação Brasileira de Estomaterapia: estomias, feridas e incontinências ou Brasilian Journal of Enterostomal Therapy que está no sistema brasileiro de avaliação de periódicos, na classificação Qualis 2. 51 Atualmente, a SOBEST, por intermédio do Departamento de Desenvolvimento Profissional, desenvolve o concurso para a obtenção ou renovação do título de especialista em Estomaterapia denominado TiSOBEST. Este concurso ocorre todos os anos durante os eventos científicos promovidos pela SOBEST e consiste em um processo de pontuação para a análise do memorial do candidato, que, se alcançar 50 pontos, será automaticamente titulado, e caso esta pontuação for inferior aos 50 pontos, o candidato poderá ter sua complementação por meio de prova de conhecimentos técnico-científicos, sendo necessário que atinja o total de pontuação de 60 pontos para o alcance do título. A renovação do título será em um intervalo mínimo de 6 anos. O TiSOBEST tem o objetivo de distinguir e certificar o Enfermeiro que concluiu o curso de especialização em estomaterapia, para exercer a especialidade com competência na rede hospitalar, ambulatorial, domiciliária pública ou privada, na assessoria, em empresas que comercializam ou produzem produtos da área da estomaterapia, no ensino especializado e em participação de políticas públicas. 52 A enfermagem em estomaterapia no Brasil mostra contribuições efetivas para o desenvolvimento da especialidade e o profissional capacitado deve exercê-la com conhecimentos, ações, habilidades, experiência, autonomia nas intervenções e conscientização do processo de trabalho em equipe multiprofissional. 52 31 4.2 Estomias A palavra estomia ou estoma provêm da palavra grega “stoma” e significa boca ou abertura. Trata-se de uma abertura, confeccionada cirurgicamente colocando um órgão oco ou víscera do nosso organismo em contato diretamente com o meio externo, com o objetivo de restabelecer a funcionalidade orgânica para a manutenção da vida nas distintas fases do nascimento, do crescimento, da maturidade, da velhice e até a morte.53 Diante da necessidade da criação de uma estomia, a pessoa apresenta indícios de uma doença quando há mudanças do hábito intestinal, do diâmetro e sangramento nas fezes, entre outros, que necessitará de investigações com realização de exames laboratoriais e de imagem para a confirmação do diagnóstico real. Todo o processo de internação, da cirurgia geradora estomia, a realidade no enfrentamento das dificuldades de adaptações mediante às mudanças principalmente do impacto da imagem corporal, com sentimentos de vergonha, dúvidas da alimentação, higiene, vestuário, preocupação com os sentimentos dos familiares e amigos, custos do tratamento após a cirurgia, significados e concepções sobre sexualidade, insegurança na utilização dos equipamentos coletores, receio da ausência de equipamentos, dificuldade de praticar esportes, enfim, outros fatores relacionados com os as dimensões físicas, fisiológicas, psicológicas, sociais, culturais e espirituais. Estes fatores são de conhecimento da equipe multiprofissional que deve ter atitudes positivas na abordagem deste indivíduo.. 53-55 A estomia interfere na QV e há intervenções terapêuticas na área da saúde com e ações desenvolvidas durante o período de recuperação do paciente que auxiliam no processo de reabilitação. Este processo é da responsabilidade das equipes multiprofissionais e não é exclusividade somente de uma categoria profissional, visando que o indivíduo possa retornar paulatinamente às suas atividades anteriores ou de maneira próxima de antes de ter a estomia de forma temporária ou definitiva.53 -57 Segundo Howard Rusk66, que é considerado o "pai da reabilitação integral", “A prática da reabilitação baseia-se na crença filosófica de que a responsabilidade de qualquer especialista não termina quando a doença é vencida ou completada a fase cirúrgica, mas que só termina quando o indivíduo volta a viver e a trabalhar com o que lhe restou de suas capacidades.” Sendo assim, a reabilitação da 32 pessoa com estomia requer muito mais que orientar e avaliar o desempenho do autocuidado para a troca, higiene e retirada do equipamento coletor, é avaliar se está conseguindo ter as oportunidades de compartilhar sua vida como antes da cirurgia.58 A terminologia utilizada para as estomias é determinada pela localização do órgão exteriorizado adicionando o sufixo “stoma”, assim sendo se ocorrer no sistema respiratório denomina-se traqueostomia; no sistema digestório para alimentação, gastrostomia ou jejunostomia; no sistema digestório para eliminações, ileostomia se for situada no intestino fino, cecostomia se for no ceco; colostomia se ocorrer nos cólons ascendente, transverso, descendente e sigmoide. As técnicas cirúrgicas estão sempre sendo aperfeiçoadas para as melhorias da QV e elaborada para gerarem continência intestinal. A técnica intestinal idealizada por Macedo-Malone gera um procedimento que permite a execução de enemas anterógrados pela estomia intestinal em períodos programados.53, 59 Para as estomias do sistema do trato urinário, denominadas derivações urinárias incontinentes e habitualmente urostomias. As denominações correspondem ao segmento exteriorizado sendo as nefrostomias à direita (D) ou esquerda (E) se rim direito ou esquerdo , respectivamente; pielostotomia à direita (D) ou esquerda (E) se ocorrer no cálice renal D ou E ou ambos; ureterostomia à direita (D) ou esquerda (E) se exteriorizar o ureter D ou E ou ambos; vesicostomia quando a técnica cirúrgica exterioriza a mucosa da bexiga diretamente na pele; cistostomia se houver um cateter inserido diretamente na bexiga e uretrostomia se advir da uretra, bem como a de utilizar uma porção do intestino fino ou grosso onde são inseridos os ureteres denominadas técnica de Bricker e Mogg respectivamente. Há técnicas com o objetivo de produzir continência urinária como a técnica da Neobexiga Ortofônica ou Monti.60, 61 Outra técnica importante denominada ileostomia úmida ou colostomia úmida é descrita quando realizada em um único local no abdome em que fica alocada a derivação intestinal e urinária. Há também outra técnica cirúrgica para uma estomia intestinal denominada colostomia perineal, pois sua localização é na região perineal.62,63 A confecção da estomia pode ser necessária por situações de: doenças crônicas degenerativas (ex: neoplasias dos sistemas acima referido, Esclerose Lateral Amiotrófica); doenças inflamatórias intestinais (ex: Doença de Crohn, Retocolite Ulcerativa); doenças hereditárias (ex: Polipose Familiar, Síndrome de Lynch); 33 doenças vasculares (ex: trombose de artéria mesentérica e enterocolite necrotizante); doenças agudas (ex: obstruções intestinais, perfuração de alça por corpo estranho); doenças adquiridas (ex: megacólon chagásico ou psicogênico, incontinência fecal); traumatismos abdominoperineais (ex: acidentes automobilísticos, esportivos e de trabalho, ferimento por armas, estupros e empalamentos); má formação congênita do sistema digestório (ex: ânus imperfurado, mielomeningocele Doença Hirschsprung, fístula reto vaginal); situações idiopáticas (ex: síndrome de Olgivie e íleo paralítico); iatrogênica (ex: perfuração intestinal de cirurgia pélvica ou exames como biópsia de próstata); estomias para proteção de anastomoses (ex: ressecção de tumores em cólon); e desvio de trânsito intestinal ou urinário em situações especiais (ex: síndrome de Fournier, lesão por pressão), dentre outros.53 Frenteàs necessidades da cirurgia geradora de estomias, o paciente, familiares e toda a equipe multiprofissional estará diante de períodos importantes que asseguram o processo de reabilitação. Esses períodos compreendem ao pré- operatório, transoperatório e pós-operatório.64 4.2.1 Período pré-operatório Durante o período pré-operatório as pessoas que necessitam fazer uma estomia estão vulneráveis, pois serão expostos nos contextos biopsicossocial e espiritual. Toda a equipe de saúde deve estar capacitada com as verbalizações e trejeitos com o corpo para que o paciente denote interesse e compreensão mediante situação de angústia que vive e o que é relevante para a QV. É neste período que se faz a demarcação da estomia no abdome; outro procedimento fundamental para a independência e a QV, é um método a ser cumprido concomitantemente com a equipe composta pelo cirurgião, pelo Enf ET ou enfermeiro assistencial habilitado e a colaboração ativa do paciente. 64 A demarcação da estomia é um procedimento no período pré-operatório e para esta atividade é necessário dispor de uma régua, um medidor circular com 2,5 cm, uma caneta comum e uma especial para a garantia da permanência dos marcos referenciais durante a degermação cirúrgica da pele e a equipe deve: conhecer a técnica cirúrgica planejada e o tipo de incisão cirúrgica a ser realizado (atualmente, as cicatrizes são medianas); identificar o músculo reto abdominal e o segmento a ser 34 exteriorizado e sua localização nos quadrantes abdominais (Quadrante Inferior Direito (QID), Quadrante Superior Direito (QSD), Quadrante Superior Esquerdo (QSE), Quadrante Inferior Esquerdo (QIE); estabelecer distâncias de 4 a 5 cm de acidentes anatômicos ( proeminências ósseas, rebordo costal e crista ilíaca anterossuperior); verificar as cicatrizes (umbilical e de cirurgias anteriores); reconhecer as linhas naturais (cintura e prega inguinal); avaliar tecido adiposo localizado nas dobras de pele; marcar provisoriamente o local da estomia com o paciente em decúbito dorsal, com um círculo de aproximadamente 2,5 cm de diâmetro; verificar se o paciente visualiza “a marca” em decúbito dorsal, posição sentado, em pé e movimentos de flexão (para verificar se a localização ficou livre de dobras da pele e consolidar a marca realizada com a caneta especial. 65, 66 4.2.2 Período transoperatório A seguir, durante o período transoperatório, há uma relação distinta quanto às formas de exteriorização que as descritas em livros e artigos especializados e é o último ato que o cirurgião faz, após ter executado o procedimento cirúrgico específico. O cirurgião remove a pele demarcada com um formato arredondado de acordo com a dimensão da alça intestinal a ser exteriorizada. Seguindo os passos da técnica cirúrgica, é retirado o tecido subcutâneo e gorduroso até alcançar a bainha do músculo reto abdominal anterior, onde ocorre uma incisão em cruz e então as fibras musculares são abertas com bisturi ou divulsionadas. Na sequência, a bainha posterior do músculo reto abdominal é incisionada expondo o peritônio e visualizando a alça intestinal, que será tracionada, de maneira que possa passar pela tunelização, acontecida no músculo reto abdominal e exceder, em centímetros, para a pele da parede abdominal, com o objetivo de tornar uma altura da estomia em relação ao plano da parede abdominal. A fixação da alça intestinal se inicia com pontos de sustentação entre o peritônio parietal e a serosa em formato de pontos “cardeais” e após é realizada a técnica de eversão da mucosa e finalmente as suturas mucocutâneas. A cada fase da construção da estomia é observada a vascularização da arcada arterial peritoneal. Os princípios acima descritos são utilizados para o modo exteriorização da estomia em terminal, quando é uma estomia única, em alça, é seccionada parte da alça intestinal observando-se o segmento proximal (em que saem 35 as fezes, flatos e/ou urina) e o segmento distal em que ocorre a saída de muco intestinal ou em duas bocas onde o segmento proximal e o distal podem estar juntos ou separados. 53,67-69 O centro cirúrgico é uma área de alta complexidade devido às dimensões e áreas funcionais de espaço físico, diversidade dos equipamentos e instrumentais que compõem cada especialidade, as diferentes equipes e categorias de profissionais envolvidos, exigindo atuações interdisciplinares nas quais permeiam relações interpessoais para o desempenho das atividades de trabalho. A Sociedade Brasileira de Enfermeiros de Centro Cirúrgico, Recuperação Pós-Anestésica e Centro de Material e Esterilização (SOBECC) faz recomendações das ações de enfermagem divididas em quatro fases. A primeira refere a visita pré-operatória; a segunda, ao transoperatório ou intraoperatório, quando o enfermeiro deverá verificar e registrar se a construção da estomia foi ou não construída no local demarcado e adequando as bases adesivas recortadas mediante a dimensão da estomia e a respectiva bolsa coletora transparente; a terceira é a recuperação anestésica; e a quarta fase é a visita pós-operatória.70 4.2.3 Período pós-operatório 4.2.3.1 Período pós-operatório imediato O período pós-operatório imediato compreende as 48 horas após o procedimento cirúrgico e a atuação do enfermeiro consiste na manutenção da estabilidade hemodinâmica, equilíbrio hidroeletrolítico, controle da dor e a assistência específica na observação e evolução da estomia para detectar complicações precoces, sendo motivo para utilizar a bolsa coletora transparente e a manutenção da integridade da pele periestomia; por esta razão, há a classificação em dois grupos: a avaliação da estomia e da pele periestomia. 64 Os critérios para a avaliação das estomias estão relacionados com a posição no abdome de acordo com: o segmento exteriorizado em Ileostomia, Ileostomia úmida, colostomia úmida, colostomia de colo ascendente, colostomia de colo transverso, colostomia de colo descendente, colostomia de colo sigmoide, nefrostomia D ou E, pielostomia ou E, ureterostomia D ou E, vesicostomia, cistostomia e 36 uretrostomia; a localização no QID, QSD, QSE, QIE, região lombar D ou E, suprapúbica ou perineal; o tempo de permanência em temporária ou definitiva; o modo de exteriorização em terminal, em alça e em duas bocas próximas ou em duas bocas distantes; a avaliação do efluente (fezes ou urina) de forma líquido, pastoso, moldado ou não observável durante a consulta de enfermagem.71 Ainda há de ter a avaliação específica da estomia, criteriosamente em relação às considerações das: mensurações de superfície devem ser céfalo-podálica, as posições deitada, sentada e em pé lateralidade e da protrusão nas dimensões e correspondentes às registradas em milímetros; borda da sutura mucocutânea, com ou sem presença de pontos periestomias; coloração em, vermelho, róseo, roxo ou preto; forma em relação à base com o corpo da estomia, em regular, quando base é igual ao corpo da estomia ou irregular, quando base for diferente ao corpo da estomia; a presença de tubo de fixação da alça intestinal, em rígido ou flexível pois estes garantem a estabilidade da alça intestinal em relação ao abdome, ou cateteres urinários que garantem a sutura pérvia da junção entre o ureter e alça intestinal minimizando riscos de complicações. 64,71 4.2.3.2 Período pós-operatório mediato O período pós-operatório mediato compreende logo após as 48 horas pós cirurgia até o momento da alta hospitalar, em que há informações e orientações quanto aos cuidados com a estomia, os equipamentos coletores e adjuvantes e capacitar o paciente no desenvolvimento de habilidades para o autocuidado avaliando suas condições clínicas e emocionais ou dos cuidadores. O planejamento para as orientações após alta hospitalar deve constar do exame físico com a prescriçãodos equipamentos coletores e adjuvantes e que, de uma forma didática, deverão ser abordadas as principais etapas de esvaziamento, limpeza, troca do equipamento e encaminhamento para unidades de saúde do SUS ou operadoras de planos de saúde.64 37 4.2.3.3 Período pós-operatório tardio No período pós-operatório tardio, logo após a alta hospitalar, o paciente deverá manter a continuidade de assistência ambulatorial que conta com a tríade: do recurso humano capacitado institucional, formado por uma equipe mínima de profissionais como o médico, Enf. ET ou enfermeiro generalista capacitado e assistente social; o recurso físico de um consultório que acomode o paciente e familiares e finalmente o recurso financeiro para aquisição dos equipamentos coletores para a Atenção de Assistência aos Ostomizados I e II ou para as operadoras de planos privados, com a finalidade de orientações específicas e a obtenção da quantidade dos equipamentos coletores e adjuvantes mensalmente .26, 64, 71, 72 4.3 Complicações das estomias pós-operatórias Neste universo da assistência de pessoas com estomias é fundamental categorizar as complicações em dois grupos, as relacionadas com a estomia e as relacionadas com a pele ao seu redor.64, 71 A complicações com a estomia são inicialmente o edema devido a mobilização da alça intestinal exteriorizada que regride espontaneamente retornando ao funcionamento fisiológico do organismo. Entretanto, podem ocorrer complicações precoces como a: necrose que é a obstrução do fluxo sanguíneo que pode ser parcial ou total. A intervenção consiste em observar a coloração escurecida da mucosa da estomia e aguardar que se delimite a zona necrosada para avaliar se a isquemia é intraperitoneal. O procedimento é cirúrgico com a remoção do seguimento necrosado e a reconstrução da estomia. Outra complicação é a hemorragia que acontece por lesão de vasos no subcutâneo ou no submucoso ao redor da sutura mucocutânea e o procedimento consiste em aplicação de gases embebidas em adrenalina na estomia, sutura ou cauterização do vaso sangrante com anestesia local. A retração da estomia, outra complicação, ou seja, a estomia está abaixo do plano do abdome e a intervenção é a prescrição de equipamento com base adesiva com convexidade e a utilização de cinto elástico ajustável para evitar as lesões de pele periestomia. Pode também ocorrer o afundamento ou “desabamento” da estomia que representa o deslizamento da alça intestinal para a cavidade abdominal, com rompimento da sutura 38 mucocutânea, podendo ser parcial ou total, sendo que se o afundamento for total é necessária intervenção cirúrgica com possibilidade de reposicionamento da estomia e se ocorrer afundamento parcial, a observação deve ser constante, utilizar produtos que promovam a cicatrização acarretando em intervenções para a retração da estomia. Por fim, pode ocorrer infecção ao redor da sutura mucocutânea o que exige a emprego de produtos que promovam a cicatrização e a continuidade de antibióticoterapia. 71, 73-75 As estomias estão sujeitas, com o decorrer do tempo, a outras complicações consideradas tardias, como a: estenose que é o estreitamento do orifício da estomia evoluindo para quadros de suboclusão ou oclusão intestinal com o paciente referindo cólicas abdominais, ausência de eliminações da fezes e gases, distensão abdominal, náuseas, vômitos e a intervenção conservadora consistirá em orientações sobre a alimentação, ingesta hídrica, dilatação digital ou instrumental ou cirúrgica que dependerá do grau da estenose; hérnia paracolostômica relacionada com a dimensão da abertura da musculatura abdominal ser maior que o do diâmetro da alça intestinal exteriorizada, a construção da estomia fora do músculo reto-abdominal e as orientações basear-se-ão na contenção abdominal com o uso de faixas elásticas e de orientações para evitar situações que aumentem a pressão intra-abdominal e, sendo necessária, cirurgia emergencial se ocorrer estrangulamento da alça intestinal ou abaulamento de grande dimensão ao redor da estomia; prolapso é quando houver o deslizamento da alça intestinal para fora da parede abdominal podendo alcançar medidas de 15 a 20 cm e devem ser aplicadas técnicas de redução manual, pressionando a ponta do intestino até o orifício da estomia, porém se ocorrer prolapso súbito deverá ser considerada uma cirurgia de urgência quando o segmento intestinal apresentar necrose na sua porção distal da estomia. 68, 74, 75 A avaliação da pessoa com estomia, no período de pós-operatório tardio, é essencial que ocorra em períodos determinados de acordo com a última avaliação das condições clínicas e biopsicossocial e é recomendável que ocorra pelo menos uma vez ao ano quando houver estabilidade da estomia e o completo processo de reabilitação .62,65,71 39 4.4 Pele periestomia A pele é dividida em 3 camadas: epiderme, derme e hipoderme. A epiderme é a camada mais superficial e é composta de células epiteliais escamosas. A derme é a segunda camada e contém vasos sanguíneos e linfáticos. A hipoderme é a camada de tecido conectivo. Essas três camadas desempenham funções de proteção contra infecções e evaporação e regulação térmica, excreção de catabólitos, armazenamento de água, síntese de vitamina D, vigilância imunológica, proteção das estruturas internas, entre outras.76 A pele periestomia é caracterizada com a extensão, no entanto há divergências entre autores. Segundo Cesaretti é de 20 cm2 , enquanto para Antonini e Bosio é de 7,5 cm e para Domansky e Chimentão é de 10 cm ao redor da estomia, após a inserção da estomia na pele. No pós-operatório a pele apresenta-se íntegra e com a presença da sutura mucocutânea.77,78,79,80 4.4.1 Incidência das lesões de pele periestomia A incidência de lesões de pele periestomia não estão esclarecidas na literatura. As experiências clínicas e estudos de casos apresentados em artigos e eventos científicos demonstram que é uma situação comum e que exige conhecimentos técnicos-científicos para prevenção e tratamento. 73,74 Na publicação de Salvadalena, em 2008, sobre uma revisão sistemática de literatura do período entre 1990 a 2007 que identificou 21 estudos, concluiu-se que era impossível calcular a incidência de complicações de estomia e pele periestomia por causa de diferenças nos projetos de estudo, definições operacionais e tempo dos dados colhidos.81 Ratliff, em 2010, mencionou que o intervalo de complicações da pele periestomia é entre 10 e 70% nos EUA, em um estudo prospectivo com doze Enf ET que avaliaram 89 pacientes no período de um ano; mostrou que 42 pacientes tiveram lesão de pele periestomia, sendo 31 pacientes tiveram danos químicos ou dermatite irritante, 5 apresentaram lesão mecânica, 4 tiveram infecções por fúngica (Candida Albicans), 1 apresentou uma reação alérgica e 1 paciente apresentava pioderma gangrenoso. Concluindo, neste estudo, que as complicações da pele periestomia são 40 descritas, mas de forma limitadas. A padronização dos cuidados pode ser uma estratégia para monitorar as lesões, desenvolvendo assim a assistência baseada em evidências. 82 Para constatar a dificuldade a incidência de lesões de pele periestomia, Salvadalena refere que as complicações mais comuns são retração, hérnia, prolapso, necrose e lesões de pele periestomia problema. Tappe et al concluíram que as complicações de pele periestomia ocorrem em média após de 6 semanas de cirurgia; Person et al descreveram complicações relacionadas à estomia, incluindo lesões da pele periestomia em 180 pacientes com colostomia e ileostomia, durante o período de 2 anos com a classificação em eritema leve, eritema severo, pseudoverrucose leve e pseudoverrucose grave, sendo o eritema leve o mais comum após 2 semanas de alta hospitalar, sendo53% em paciente com colostomia e 79% em pacientes com ileostomia em alça. Bass et al, em pesquisa retrospectiva com 593 pacientes divididos em 2 grupos: grupo A - composto por 292 pacientes que receberam orientações e foram demarcados e, entre as complicações existentes, 40 (45%) apresentaram lesões de pele periestomia nos primeiros 30 dias de cirurgia e grupo B - composto por 301 pacientes que não foram orientados e demarcados e, entre as complicações existentes, 84 (77%) apresentaram lesões de pele, levando a concluir que as lesões de pele periestomia ocorriam nas estomias mal localizadas. Pearl et al revisaram retrospectivamente 197 pacientes com estomias intestinais e relataram uma incidência de 42% de lesões precoces da pele periestomia ocorrendo durante a internação e concluíram que a construção da estomia que teve a maior taxa das morbidades foram as lesões de pele periestomia, principalmente as ileostomia. Cheung relatou uma incidência de 66,86% de complicações em uma série de 316 pacientes com 322 estomas, encontrando 156 (29%) dos pacientes com colostomias e 123 (20%) pacientes com ileostomia, onde 10 (70%) pacientes apresentavam lesão de pele e não descreveu que tipo de lesão. Park et al, em estudo retrospectivo de 1.616 pacientes com estomas intestinais avaliados entre 1976 e 1995, 553 (34%) pacientes apresentaram dentro de 30 dias da cirurgia a lesão de pele periestomia precoce, que ocorreu em 12% e as lesões tardias em 6% dos pacientes, porém não informaram o número de pacientes investigados. Omura e Anazawa avaliaram 344 fotografias em 113 pacientes que usaram barreiras cutâneas e descobriram que apenas 7,4% das fotografias revisadas estavam livres de alterações de pele, porém relataram uma incidência de inflamação de 86% referindo que a pele muda aos 9 41 meses. Sawa e et al, em estudo retrospectivo, analisaram 192 pacientes com estomia por câncer colo-retal para a avaliar a demarcação da estomia no período pré- operatório e tipo de estomia e complicações ocorrendo no primeiro mês de pós- operatório. A demarcação foi feita em 65% das cirurgias eletivas e em 75% das emergências e os resultados foi que 30% dos pacientes apresentaram complicações da estomia, 34% apresentou necrose, e conclui que a demarcação pré-operatória pela Enf ET teve uma significância e efeito sobre a incidência de complicações da estomia. Burt-McAliley e Van Rijswijk estudaram os efeitos das barreiras ou protetores cutâneos com 108 pacientes em 14 ambulatórios (7 na Alemanha e 7 nos EUA), sendo que 8% dos pacientes tiveram eritema e 26% dos pacientes apresentaram sinais de irritação da pele e os pacientes eram mais propensos a desenvolver irritação da pele com o uso da barreira Karaya em comparação com a barreira de pectina. Herlufsen e et al pesquisaram, através de entrevista de 202 indivíduos com estomias permanentes vivendo em uma comunidade dinamarquesa, onde 100 (49%) dos participantes tiveram uma colostomia, 82 (41%) tiveram uma ileostomia e 19 (9%) tiveram urostomia, com o período médio desde a cirurgia até 8 anos; 61% usaram equipamento coletor de duas peças e 39% usaram de uma peça de 1 peça, e referiram que 45% apresentaram lesão de pele periestomia, classificadas como lesão leve em 57%, moderada em 33% e grave em 10% dos participantes e que as causas mais comuns descritas forma erosão da pele pelos efluente intestinal (33%), maceração (20%), eritema (16%) e dermatite de contato (8,5%) sendo que a frequência em ocorreram foi nas ileostomia de 57%, nas derivação urinária de 48% e nas colostomia de 35% com a existência da lesão por mais de 3 meses em 76% dos pacientes, porque mais de 80% das pessoas não buscaram uma orientação com profissional de saúde. Ratliff conclui que, a pesquisa que descreve as lesões da pele periestomia com configurações diferentes, há necessidade de um instrumento padronizado como um método viável para monitorar a incidência, a identificação de risco, a associação fatores e intervenções preventivas efetivas. Neste mesmo estudo, cita Bosio et al que será descrito com mais detalhes no corpo deste trabalho.82 O estudo de revisão de literatura organizada por Beitz concluiu que a incidência de complicações em pele periestomia é muito variável de 6%a 66,8%, devido as diferenças de definições da terminologia, das populações avaliadas, do projeto de estudo e tempo de estudo, demonstrando a problemática para a comparações dos estudos.27 42 Taneja et al, em 2017 referiram que há aproximadamente 100 mil pessoas com estomias vivendo nos Estados Unidos e, em um estudo de coorte retrospectivo, entre 1 de janeiro de 2008 e 30 de novembro de 2012, com 128 pacientes, sendo que 51 (40%) foram submetidos à colostomia, 64 (50%) foram submetidos a ileostomia e 13 (10%) foram submetidos a urostomia e com idade média de 60,6 (± 15,6) anos, concluiu que durante esses 5 anos, aproximadamente 36,7% apresentaram evidências de lesões de pele periestomia no período de 90 dias após cirurgia, sendo 7,7% para as derivações urinárias, 35,3% para colostomia, 43,8% para ileostomia, com tempo médio entre a cirurgia e o aparecimento das lesões de pele periestomia variando de 23,7 ± 20,5 dias e que os pacientes com lesão periestomia tiveram o período de internações na média de 21,5 dias versus 13,9 dias para aqueles sem lesões da pele periestomias. 83 Steinhagen e Colwell, em 2017, referem que de 20 a 70% das pessoas com estomias experimentarão complicações das estomias e talvez até taxas maiores, se incluírem as lesões de pele periestomia, sendo 25 a 43% dos pacientes com ileostomia e 7 a 20% das pessoas com colostomias.84 4.4.2 Causas das lesões da pele periestomia A lesão na pele periestomia é caracterizada por um processo patológico que envolve lesões de pele ao redor da estomia, que se manifestam por sinais de eritema, calor e dor, podendo ocorrer de forma aguda ou crônica, com ou sem ruptura da integridade da pele. Há fatores intrínsecos do paciente que pode ter predisposição para desencadear lesões, como as condições de uma doença de base, morbidades como: doenças cardíacas, respiratórias, metabólicas, hepática, autoimunes, a idade, principalmente nos extremos da vida. Os tratamentos anteriores como quimioterapia e/ou radioterapia, uso de corticoides entre outras medicações, podem interferir e propiciar lesões de pele.84-88 A pele possui uma microflora bacteriana e, em estudos realizados, foram descritas culturas de bactérias de origem intestinal presentes na pele periestomia. Além das condições apresentadas, a pele, em toda sua extensão, contém uma microflora bacteriana, classificada como residentes e são encontradas na epiderme e no folículo piloso. A pele periestomia apresenta esta flora bacteriana com o 43 predomínio de bactérias entéricas e a distribuição de pilosidade na parede abdominal pode favorecer esse tipo de contaminação.89 Outros fatores propiciam a possibilidade do surgimento lesões da pele periestomia que são considerados de etiologias externas, como o uso de agentes irritantes para higienização da pele ao redor da estomia, frequência e o período de exposição das eliminações (fezes e/ou urina). 83,84 A construção da estomia também é considerada um dos fatores que contribue com a possível presença de lesão da pele periestomia e está diretamente correlacionada com a técnica cirúrgica do segmento exteriorizado, localização de implantação da estomia no abdome, que implicará na consistência e frequência da eliminações, o ângulo de drenagem, protrusão da estomia e fatores assistenciais como: equipamentos coletores ou adjuntos mal utilizados ou indevidamente prescritos, informação de como o paciente utiliza os equipamentos coletores debaixo das roupas, entre outros.83-88 Atualmente, há evidências científicas, relatos de experiências de Enf ET e guidelines
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