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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/324653965 Química ambiental Book · April 2018 CITATIONS 0 READS 1,508 3 authors, including: Rafael Ferreira Universidade Federal do Espírito Santo 51 PUBLICATIONS 336 CITATIONS SEE PROFILE Josimar Ribeiro Universidade Federal do Espírito Santo 79 PUBLICATIONS 878 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Rafael Ferreira on 20 April 2018. 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Barthus Licenciatura Q uí m ic a Am bi en ta l UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO Núcleo de Educação Aberta e a Distância Rafael de Queiroz Ferreira Josimar Ribeiro Rosângela C. Barthus Vitória 2013 Química Ambiental Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP) (Biblioteca Central da Universidade Federal do Espírito Santo, ES, Brasil) Ferreira, Rafael de Queiroz. Química ambiental / Josimar Ribeiro, Rafael de Queiroz Ferreira, Rosângela C. Barthus. - Vitória : Universidade Federal do Espírito Santo, Núcleo de Educação Aberta e à Distância, 2013. 126 p. : il. Inclui bibliografia. ISBN: 978-85-8173-065-3 1. Química ambiental. I. Ferreira, Rafael de Queiroz. II. Barthus, Rosângela C. III. Título. CDU: 54 Presidente da República Dilma Rousseff Ministro da Educação Aloizio Mercadante Diretoria de Educação a Distância DED/CAPES/MEC João Carlos Teatini de Souza Climaco UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO Reitor Reinaldo Centoducatte Diretora-Geral do Núcleo de Educação Aberta e a Distância (ne@ad) Maria Aparecida Santos Corrêa Barreto Coordenadora UAB da UFES Teresa Cristina Janes Carneiro Coordenadora Adjunta UAB da UFES Maria José Campos Rodrigues Diretora Administrativa do ne@ad Maria José Campos Rodrigues Diretor Pedagógico do ne@ad Júlio Francelino Ferreira Filho Diretor do Centro de Ciências Exatas Armando Biondo Filho Coordenador do Curso de Graduação Licenciatura em Química – EAD/UFES Josimar Ribeiro Revisor de Conteúdo Maria de Fátima Fontes Lelis Revisor de Linguagem Andrea Antonini Grijó Design Gráfico LDI – Laboratório de Design Instrucional ne@ad Av. Fernando Ferrari, nº 514 CEP 29075-910, Goiabeiras Vitória – ES (27) 4009-2208 R484q LDI coordenação Heliana Pacheco José Otávio Lobo Name Letícia Pedruzzi Fonseca Priscilla Garone Ricardo Esteves Gerência Daniel Dutra Editoração Thaís André Imbroisi Samuelly Ribeiro Silva Capa Paulo Reckel Paulo Caldas Impressão Gráfica e Editora GSA Laboratório de Design Instrucional Copyright © 2013. Todos os direitos desta edição estão reservados ao ne@ad. Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, da Direção Administrativa do ne@ad – UFES. A reprodução de imagens nesta obra tem caráter pedagógico e científico, amparada pelos limites do direito de autor, de acordo com a lei nº 9.610/1998, art. 46, III (citação em livros, jornais, revistas ou qualquer outro meio de comunicação, de passagens de qualquer obra, para fins de estudo, crítica ou polêmica, na medida justificada para o fim a atingir, indicando-se o nome do autor e a origem da obra). Toda reprodução foi realizada com amparo legal do regime geral de direito de autor no Brasil. Sumário Geração hidroelétrica 10 Combustível fóssil 14 Energia Eólica 19 Energia Nuclear 23 Célula e Combustível 32 Atividades 37 Desenvolvendo e Aplicando o conhecimento 37 Referências 38 Introdução 42 Transformações químicas na atmosfera 45 Poluição Atmosférica 52 Atividades 56 Desenvolvendo e Aplicando o conhecimento 56 Referências 57 Introdução 60 Ciclo Hidrológico 61 Água: propriedades físicas e implicações no clima 64 Água: Solvente e Meio Biológico 65 Águas Naturais e reações 66 Os íos presentes em águas naturais e potáveis 75 Interação da água com o solo e a química dominante 77 A importância das reações químicas considerando a água e um meio ecológico 79 Poluição e Purificação da Água 82 Água subterrânea 89 Atividades 96 Desenvolvendo e Aplicando o conhecimento 97 Referências 97 Introdução 100 A produção de alimentos 101 Pesticidas 104 Alimentos geneticamente modificados 116 Atividades 119 Desenvolvendo e Aplicando o conhecimento 120 Referências 121 Energia 1 Atmosfera 2 Recursos Hídricos 3 Biosfera 4 O Estudo da Química Ambiental Antes de iniciarmos o estudo da Química Ambiental precisamos verificar o que você sabe ou pensa a respeito de alguns conceitos. Esta estratégia metodológica é conhe- cida como sondagem de conhecimentos prévios. Alguns termos e conceitos que estudaremos ao longo deste curso são listados a seguir. Utilizando um bloco de anotações ou o seu caderno, indique o termo ou o conceito que você julga estar relacionado com a Figura 1 e justifique sua escolha. Em seguida, discuta com os seus colegas de turma junto ao fórum de discussão da disciplina Química Ambiental na plataforma Moodle suasconclusões. 1) Fontes de energias 2) Efeito estufa 3) Recursos hídricos 4) Energia renovável 5) Poluição do meio ambiente Figura 1. Sistema de geração de energia elétrica por meio dos ventos. 6) Substâncias químicas tóxicas 7) Controle de pragas 8) Ozônio estratosférico 9) Células a combustível 10) Ciclo da água O conhecimento sobre química ambiental propicia um melhor entendimento do mundo que nos rodeia e, consequentemente, nos ajuda a ter uma melhor qualidade de vida, pois nos permite exercer melhor nossos direitos e deveres como cidadãos, preservando e cuidando melhor do planeta, que é a nossa casa. Por meio deste livro você aprofundará os seus conhecimentos acerca de vários tópicos relacionados à química ambiental, tais como: energia, poluição, recursos hí- dricos e biosfera, abordando aspectos químicos e biológicos que afetam diretamente os organismos vivos, vulneráveis aos efeitos de substâncias tóxicas em seu meio am- biente. No primeiro capítulo você estudará as fontes de energia, os custos ambientais — como a ameaça do aquecimento global, derramamento de petróleo e poluição do ar e das águas —, as fontes renováveis e a energia nuclear e seus principais problemas. Em 1987, a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada em 1983 pela Organização das Nações Unidas (ONU), recomendou num relatório a criação de uma nova carta ou declaração universal sobre a proteção ambiental e o desenvolvimento sustentável publicado com o título “Nosso futuro comum”. O prin- cípio de sustentabilidade está no fato de que o desenvolvimento tem que “Atender às necessidades da geração presente sem comprometer a habilidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”. Assim, todas as formas de relação do homem com a natureza devem ocorrer com o menor dano possível ao ambiente. Em geral, as discussões ambientais atuais estão associadas à palavra sustentabilidade, que ad- vém da percepção de que a atividade humana está progressivamente consumindo de forma abrupta os recursos naturais, sem que a natureza possa se recuperar de forma satisfatória e isso pode acarretar grandes prejuízos para as futuras gerações. A noção de sustentabilidade tem-se firmado como o novo paradigma do desen- volvimento humano. A Agenda 21 Brasileira firmada pelo Brasil, durante a Confe- rência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, em 1992, compromete-se com a construção política das bases do desen- volvimento sustentável, cujo objetivo é conciliar justiça social, equilíbrio ambiental e eficiência econômica. Quando pensamos em sustentabilidade e energia, longo vem à nossa mente a ideia da queima de combustível fóssil, do uso do petróleo, do gás e do carvão, práticas Figura 2. Fluxo de energia irradiada pelo Sol e coletado pela Terra. consideradas não sustentáveis para geração de energia, pois a energia contida nesses materiais não pode ser facilmente recuperada. Além disso, a queima desses materiais propicia o aumento da quantidade de CO2 presente na atmosfera, o que, segundo al- guns pesquisadores, provoca o aquecimento do planeta. A Figura 2 representa o fluxo de energia irradiada de uma fonte rica em energia, o Sol. A energia irradiada por nossa estrela mais próxima e cerca de 1,2 × 1031 kJ por ano e somente uma pequena parcela é coletada pelo planeta Terra, ou seja, 54,4 × 1020 kJ por ano, o que equivale em porcentagem 0,000000045 %. Dessa fração 14,1× 1020 kJ por ano é refletida pela atmosfera, 17,5 × 1020 kJ por ano é usada para aquecimento e evaporação em oceanos (12,5 × 1020 kJ por ano), somente 0,085 × 1020 kJ por ano é usada pelas plantas durante o processo de fotossíntese e finalmente, 7,6 × 1020 kJ por ano é usado para aquecimento do solo (com 2,2 × 1020 kJ por ano refletido pela superfície). ATIVIDADE 1 Disserte suscintamente sobre o conceito de sustentabilidade. Evaporação da água 12,5x1020 kj por ano Terra Oceano Ar 54,4x1020 kj por ano Fotossíntese 0,085x1020 kj por ano Aquecimento da terra 7,6x1020 kj por ano 1.1 Geração hidroelétrica 10 1.2 Combustível fóssil 14 1.3 Energia Eólica 19 1.4 Energia Nuclear 23 1.5 Célula a Combustível 32 1.6 Atividades 37 1.7 Desenvolvendo e Aplicando o conhecimento 37 1.8 Referências 38 1 Energia 12 • Química Ambiental Considerada uma fonte de energia renovável, a hidroeletricidade é o tipo mais eficiente e consiste em aproveitar a energia potencial ou cinética da água, transformando-a em energia mecânica e pos- teriormente em eletricidade. Neste tópico, discutiremos os aspectos da geração de energia elétrica pelo uso da água, os problemas am- bientais e suas relações socioeconômicas. O Brasil possui cerca de 560 usinas e subestações e 1079 linhas de transmissão que formam a rede de operação do Operador Na- cional do Sistema Elétrico, segundo dados do Ministério de Minas e Energia (MME). Até 2005 a capacidade instalada dessas usinas alcançou a potência total de 84.177 MW (megawatts), dos quais 70.014 MW em usinas hidrelétricas e o restante em usinas termoe- létricas (14.163 MW). Atualmente, o Brasil possui uma rede básica de transmissão de energia que se estende a mais de 104 mil km, levando energia com tensões de 230 kV a 750 kV (quilovolts). A Figura 1.1 apresenta a Energia Natural Afluente, ENA, dos recursos hídricos da região Sudeste/Centro-Oeste. Segundo o Bo- letim de Monitoramento do Sistema Elétrico do Brasil no mês de novembro de 2012, com o início da estação chuvosa, houve uma geração hidroelétrica 1.1 16.000 32.000 48.000 64.000 80.000 0 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Região Sudeste / Centro-oeste MLT ENA - 2011 ENA - 2012 M W m ed 55 .7 30 70 .5 47 64 .0 90 58 .8 44 43 .5 44 46 .4 87 54 .5 48 61 .6 55 34 .9 11 41 .0 88 44 .7 26 31 .2 27 29 .7 43 32 .4 23 23 .2 00 25 .1 87 27 .7 29 34 .7 58 20 .9 96 23 .5 19 24 .9 85 17 .6 40 20 .6 60 16 .7 58 17 .6 64 15 .2 31 13 .7 78 21 .2 20 23 .3 30 12 .5 20 27 .1 92 24 .1 82 21 .4 82 41 .1 77 40 .7 36 Figura 1.1. Energia Natural Afluente, ENA, da região Sudeste/Centro-Oeste dos anos de 2011 e 2012. Fonte: Ministé- rio de Minas e Energia. Capítulo 1: Energia • 13 elevação do volume de precipitação nas principais bacias da re- gião Sudeste/Centro-Oeste, contudo, não se observou um aumento significativo das vazões em virtude do longo período sem chuvas. Como podemos ver na Figura 1.1, a ENA bruta teve o valor médio de 22.841 MW, ou seja, de 84 % MLT (vazão média de longo termo). Considerando o ranking histórico de 82 anos, esse valor correspon- de somente à 58ª posição. A Figura 1.2 apresenta dados da Energia Armazenada em Re- servatório, EAR, em função do mês em diferentes anos. Segundo os dados do Boletim de Monitoramento do Sistema Elétrico Brasi- leiro, o intercâmbio das regiões Sul e Sudeste/Centro-Oeste no mês de novembro de 2012 provocou uma elevação nos reservatórios na região Sul, com um decréscimo de 5,1 % na região Sudeste/Centro- -Oeste. Além disso, observa-se que o armazenamento atingiu o menor valor para o mês desde 2001 (31,9 pontos percentuais de EAR). Ademais, a depreciação dos reservatórios na região Sudeste/ Centro-Oeste foi agravada em virtude dos intercâmbios com as regiões Nordeste e Norte. 2008 2009 2010 2011 2012 Período chuvoso Chuvoso Período seco 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 1- ja n 15 -j an 29 -j an 12 -f ev 26 -f ev 11 -m ar 25 -m ar 8- ab r 22 -a br 6- m ai 20 -m ai 3- ju n 17 -j un 1- ju l 15 -j ul 29 -j ul 12 -a go 26 -a go 9- se t 23 -s et 7- ou t 21 -o ut 4- no v 18 -n ov 2- de z 16 -d ez 30 -d ez Energia Armazenada Máxima = 201.265 MWmês Região Sudeste / Centro-oeste % EA R 30-11-2012 : 31,9% Figura. 1.2. Recursos hídricos das regiões Sudeste e Centro-oeste. Fonte: Ministério de Minas e Energia. 14 • QuímicaAmbiental A Tabela 1.1 apresenta dados da Energia Armazenada em Re- servatório no final do mês de novembro de 2012 e capacidade total dos reservatórios brasileiros. Os dados da Tabela 1.1 mostram que a região Sudeste/Centro-Oeste apresenta uma capacidade máxima em megawatts mês de 201.265 MW, o que corresponde a 70,1 % da capacidade total brasileira, isso indica a sua grande importância para o sistema elétrico brasileiro. Regiões Energia Armazenada no Final do Mês (% EAR) Capacidade Máxima (MWmês) % da Capacidade Total Sudeste 31,9 201.265 70,1 Sul 37,6 19.618 6,8 Nordeste 34,3 51.859 18,1 Norte 38,9 14.267 5,0 Total: 287.009 100 Tabela. 1.1. Energia Armazenada em Reservatório, EAR. Como podemos observar na Figura 1.3, que mostra a matriz de energia elétrica no Brasil, 69,73 % de toda a energia produzida no país vem das hidrelétricas e os demais 30,27 % estão distribuídos nas demais fontes, das quais 18,92 % são atribuídos ao petróleo, ao gás natural e ao carvão mineral. Fontes essas sobre as quais discu- tiremos na próxima seção. Eóica 1,51% Carvão Mineral 1,62% Nuclear 1,67% Petróleo 6,13% Biomassa 8,17% Gás 11,17% Hidrelétrica 69,73% Solar 0,01% Figura 1.3. Matriz de energia elétrica brasileira. Fonte: Agência Nacional de Energia Elétrica, ANEEL. Capítulo 1: Energia • 15 Bem, como, então, é gerada energia elétrica nas usinas hidrelé- tricas? O Brasil possui grandes quantidades de rios com desníveis acentuados, o que possibilita a sua utilização de forma econômica e mais eficiente. O processo consiste em aproveitar a energia po- tencial ou cinética da água, transformando-a em energia mecânica pelas turbinas e finalmente em eletricidade pelo gerador. A função basicamente da força das águas para gerar energia elétrica nas usi- nas as fazem ser denominadas hidrelétricas. As usinas hidrelétricas possuem uma barragem ou represa para conter um volume grande de água do rio e também para controlar o fluxo (vazão) dessas águas. No interior da represa, aquedutos inclinados são instalados para levar a água para as turbinas. Durante o seu funcionamento, a água desce pelos tubos e faz girar o sistema de hélices, movimen- tando o eixo dos geradores que produzem a energia elétrica. Perto dos geradores, são instalados os transformadores, equipamentos que acumulam e enviam a energia elétrica para os cabos das linhas de transmissão. Por ser um do sistema mais barato de produção de energia, são inúmeras as suas vantagens, entretanto provoca impactos ambien- tais, tanto na fase de construção como na fase de operação da hi- droelétrica. A região próxima da usina pode sofrer severo impacto ambiental, gerando situação danosa aos ecossistemas existentes na região. No Brasil, por exemplo, a usina de Belo Monte, que está sendo construída na Bacia do Rio Xingu, em sua parte paraense, está envolvida em uma polêmica há mais de 20 anos, mesmo após o Ministério do Meio Ambiente (MMA), conceder a licença ambiental para sua construção em fevereiro de 2010. Muitos ambientalistas e indígenas da região envolveram-se em conflitos com a Empresa Norte Energia, responsável pela construção da usina. Durante a conferência Rio +20, realizada na cidade do Rio de Janeiro em ju- nho de 2012, o cacique Raoni Metuktire realizou muitas manifesta- ções contra a construção da usina de Belo Monte, solicitando a sua suspensão devido ao descumprimento das condicionantes. A Figura 1.4 representa o esquema do funcionamento de uma usina hidrelétrica. Após passar pelas turbinas e as movimentar, as águas represadas voltam para o rio. Com 14 mil MW de capacidade de geração, a Itaipu é a segunda maior usina hidrelétrica do mundo em potência instalada, atrás so- mente da usina na China, conhecida como Três Gargantas. A hidro- elétrica de Itaipu está situada na Bacia do rio Paraná, na “tríplice 16 • Química Ambiental fronteira” formada pelos limites territoriais entre Brasil, Paraguai e Argentina e foi construída pelo Brasil e Paraguai. Sua adminis- tração continua com os dois países, e parte da energia destinada ao Paraguai é vendida para o Brasil, devido ao seu maior consumo. Figura 1.4 Esquema de uma usina hidrelétrica. Os combustíveis fósseis são considerados fontes não renováveis de energia, pois não podem, em curto prazo, ser repostos ao planeta. Eles são constituídos por depósitos naturais de petróleo, gás na- tural e carvão. Os depósitos naturais de petróleo, por exemplo, se formaram há milhões de anos atrás pela decomposição de matéria orgânica de origem animal e vegetal, os quais foram submetidos a altas temperaturas e pressões na nossa crosta. O petróleo é uma mistura complexa de hidrocarbonetos, que contém centenas de substâncias sólidas, líquidas e gasosas, cuja composição apresenta certas variações conforme as condições de formação. Os campos petrolíferos se localizam tanto em terra quanto em mar, em águas rasas, profundas e ultraprofundas. O Es- pírito Santo foi destaque na produção de petróleo e gás natural no Brasil por sua cadeia produtiva de petróleo nas áreas de pré e pós- -sal, formando uma combinação com elevado potencial. Grandes combustível fóssil 1.2 Linhas de transmissão Gerador Gerador Turbina Saída Aqueduto Entrada Solo Represa Reservatório Porta de controle Capítulo 1: Energia • 17 reservatórios de óleo e gás são encontrados acima e abaixo de uma camada de sal, apresentando excelente estado de conservação, ou seja, petróleo não degradado por bactérias, que corresponde a pe- tróleos classificados como leves. Outro produto importante presen- te nos poços de petróleo, ou óleo bruto (fase líquida) é chamado de gás natural, constituído principalmente por metano, CH4. O gás natural é dividido em duas subcategorias que são: a) gás associado: quando o gás natural está associado à fase líquida do petróleo ou sobre uma fina camada ou dissolvido no petróleo; b) gás não associado: quando a quantidade de petróleo é muito pequena ou inexistente. Além do metano, o gás natural pode ser constituído por outros hidrocarbonetos, por exemplo, etano (C2H6), propano (C3H8), butano (C4H10) e também por outros gases em porcentagens menores da ordem de 0,5 % a 15 %, tais como: N2 e CO2. A Petrobras foi criada em 1953 em um contexto histórico e po- lítico, tornando-se a obra magna do nacionalismo político-econô- mico do então presidente Getúlio Vargas. Em 1951, Vargas enviou ao congresso um projeto de lei que estabelecia o monopólio estatal sobre a perfuração e o refino do petróleo por meio da empresa Petrobras, uma empresa de capital misto cuja maioria das ações seria controlada pelo Estado. Ocorreram muitos conflitos durante a implementação dessa lei, até que, em 3 de outubro de 1953, foi sancionada. A produção de petróleo nos três primeiros anos de funcionamento da Petrobras foi muito grande, sendo três vezes maior do que a produção desde 1939, quando o primeiro poço foi aberto e explorado no Brasil. A origem da palavra petróleo é latina e significa petra (pedra) e oleum (óleo), ou seja, óleo de pedra. O petróleo tem como principais componentes substâncias conhecida com hidrocarbonetos, forma- dos basicamente pelos elementos carbono e hidrogênio. O óleo pode ser classificado por meio do grau API (desenvolvido pela American Petroleum Institute), que relaciona a densidade do óleo em relação à densidade relativa do petróleo, medida a 15,6 ºC. É classificado como leve se o grau API for > 31,1; médio se estiver entre 22,3 – 31,1; pesado entre 10,0 – 22,3 e extrapesado < 10,0. 18 • Química Ambiental A Figura 1.5 apresenta a evolução do preço do petróleo ao longo das últimas duas décadas, entre os anos de 1995-2012. Na década de 90 o preço do barril de petróleo não variava muito, entre R$ 11 a 34 reais, mas no final dessa década o preço do barril começou a subir apresentando picos nos anos de 2003 e 2008. Em 2009, o pre- ço teve uma queda bruta passando de R$ 210 reais para aproxima- damente R$ 100 reais,uma variação de mais de 100 %. Nos últimos três anos, os valores vêm crescendo e atualmente está novamente em torno de R$ 210 reais. ja n - 1 99 5 ja n - 1 99 6 ja n - 1 99 7 ja n - 1 99 8 ja n - 1 99 9 ja n - 2 00 0 ja n - 2 00 1 ja n - 2 00 2 ja n - 2 00 3 ja n - 2 00 4 ja n - 2 00 5 ja n - 2 00 6 ja n - 2 00 7 ja n - 2 00 8 ja n - 2 00 9 ja n - 2 01 0 ja n - 2 01 1 ja n - 2 01 2 226,45 205 183,54 162,09 140,63 119,18 97,73 76,27 54,82 33,36 11.91 Re al b ra si ei ro p or b ar ril Figura 1.5. Evolução do preço do petróleo entre os anos de 1995-2012. Fonte: http://www.indexmundi.com A vantagem do uso do petróleo está no fato dele ser um líquido, o que torna fácil o seu transporte. Isso promoveu o desenvolvimen- to de veículos movidos por combustível fóssil, tais como: automó- veis, aviões, barcos, dentre outros. Os derivados do petróleo, usados atualmente como combustível, apresentam também a vantagem de serem relativamente limpos, pois a maior parte dos resíduos de enxofre e metais fica nos subprodutos, durante o processo de re- fino do petróleo. Por outro lado, a combustão desses combustíveis no interior dos motores dos veículos libera para a atmosfera uma grande quantidade de poluentes gasosos, tais como: NOx, CO2, CO, SO2. Ademais, durante o processo de extração, o petróleo pode con- taminar o solo ou os oceanos quando há derramamento, causando enormes problemas para os ecossistemas marinhos. Capítulo 1: Energia • 19 A Figura 1.6 demonstra o derramamento de petróleo que ocor- reu em 2010, no fundo do mar devido a um problema no poço de extração de petróleo na costa dos Estados Unidos, quando a plataforma Deepwater Horizon da empresa British Petroleum, lo- calizada numa região de intensa exploração de petróleo, a 65 km da costa americana (Estado da Louisiana), explodiu, causando a morte de 11 funcionários. Dois dias depois, a plataforma afundou a aproximadamente 80 quilômetros da costa da Louisiana, sul dos Estados Unidos. Em consequência do acidente, o sistema automá- tico que deveria fechar imediatamente a válvula de segurança do poço no fundo do mar não funcionou. Assim, o poço ficou aberto por vários dias vazando quase 1 milhão de litros de petróleo por dia, provocando o pior acidente desde tipo nos Estados Unidos. O sistema de válvula poderia ser fechado manualmente, contudo, o problema era que a válvula estava a 1,5 km de profundidade, o que se mostrou de difícil resolução. Após varias tentativas mal suce- didas o poço foi fechado, mas o desastre foi inevitável, formando uma enorme mancha de óleo que se aproximou do litoral ameri- cano. Desde então, o óleo vem prejudicando a fauna marinha, o turismo e a pesca na região. Figura 1.6. Imagem aérea da região do derramamento de petróleo no litoral americano da empresa British Petroleum em abril de 2010. Fonte: http://veja1.abrilm.com.br/assets/images/2012/11/112068/bp-20121128-size-598. jpg?1354125910 20 • Química Ambiental No Brasil, o derramamento de petróleo é um problema. Recen- temente, em 2012 houve um vazamento na área do pré-sal (pro- fundidade de 2.140 metros), na bacia de Santos, SP (localizada a 300 km da costa brasileira). Os especialistas afirmaram que foram derramados por volta de 160 barris de petróleo na região, contudo o petróleo não chegou à costa brasileira. Outro evento ocorrido no Brasil foi caso envolvendo a empresa Chevron em novembro de 2011, quando houve o derramamento de cerca de 2.400 barris de petróleo na bacia de Campos, no litoral do Rio de Janeiro. O Ibama (Instituo Brasileiro de Meio Ambiente) na época multou a empresa em R$ 60 milhões de reais, pois o vazamento ocorreu devido à perfuração de um novo poço na mesma região do campo de Frade, onde já se produzia petróleo, o que provocou um excesso de pressão no local. O carvão mineral é outra fonte de combustível e sua história no Brasil começa no século XVIII em 1795. O Brasil apresenta 8 jazidas de maior destaque e diversas menores, e 88 % dos recursos estão localizados no estado do Rio Grande do Sul. O principal uso do carvão no Brasil ocorre em usinas geradoras de eletricidade, as termoelétricas, onde esse é queimado de forma eficiente e completa. Os demais consumidores são: indústria de cimento; petroquímica, indústria de celulose e papel; indústria de alimentos e indústria ce- râmica. No Brasil, o carvão metalúrgico para uso siderúrgico, des- de 1991, é integralmente importado. No caso do carvão energético, inversamente, é quase todo produzido no país. Isso se deve ao fato de que nossas jazidas, de reduzidas dimensões, com camadas car- boníferas irregulares, de pequena espessura e pouca continuidade lateral, têm muita dificuldade em produzir em alta escala. Entre os recursos energéticos não renováveis, apesar do pe- tróleo e do gás natural serem ainda mais usados e possuírem um desenvolvimento mais avançado, as reservas mundiais de carvão ocupam a primeira colocação em abundância, superando o petróleo em cerca de 4 vezes, distribuídas geograficamente sobre o planeta de forma menos concentrada em relação ao petróleo e gás. As principais desvantagens do uso do carvão estão no fato de sua extração poder causar sérios danos ao meio ambiente e à saúde humana, apesar das severas leis federais, estaduais e municipais existentes. Também com respeito à sua queima, nas usinas termoe- létricas, há a emissão de fuligem e SO2 e NO, que são os principais responsáveis pela chuva ácida, e de partículas de aerossóis que Capítulo 1: Energia • 21 desempenham um papel importante na regulação do clima global, além de causar impactos aos seres vivos. Assim, como os demais combustíveis fósseis, o CO2 emitido contribui com o efeito estufa global. Comparativamente, a queima de carvão emite mais CO2 do que a queima de petróleo ou gás natural por unidade de energia produzida, pois sua relação C/H é baixa. Um dos assuntos, que atualmente recebe muita atenção, é a des- carbonização, processo pelo qual se tenta reduzir a quantidade de CO2 presente na atmosfera. A descarbonização será um processo de isolar o CO2 e armazená-lo de forma a não ser prejudicial ao ecos- sistema e que seja economicamente viável. Após a queima dos com- bustíveis fósseis, o CO2 poderia ser separado dos gases de exaustão por absorção em aminas orgânicas, reagindo e formando carba- matos. Em seguida o carbamato é aquecido e libera novamente a amina e CO2, que poderiam ser armazenados em diferentes lugares, por exemplo, no fundo do mar, em aquíferos, em reservatórios de petróleo e gás. A injeção de CO2 já está sendo realizada em alguns campos petrolíferos para forçar o fluxo do óleo pelo reservatório até o poço, intensificando a sua recuperação. A primeira turbina eólica ligada à rede pública com capacidade para geração de energia elétrica comercial foi instalada na Dina- marca, em 1976. De lá para cá, o potencial eólico só vem crescendo e atualmente estão em funcionamento mais de 40 mil turbinas eó- licas em todo o mundo. Como já foi mencionado, o planeta vive um momento único de consciência em torno da importância da adoção de fontes de energia renováveis. A Tabela 1.2 apresenta a matriz de energia elétrica brasilei- ra em termos da capacidade instalada e disponível em diferentes formas de geração de energia. Como podemos observar, no Brasil atualmente há 82 usinas eólicas com uma capacidade instalada de 1.815 MW e capacidade disponível de 1,51 %. Apesar de o Brasil apresentar um percentual de geração de energia elétrica de 70 % , oriundos das usinas hidrelétricas, o novo perfil mundial em torno da sustentabilidade não mais permite alagamentos de grandes áre- as para a criação de barragens, característicos das grandes hidrelé- tricas, além dos já mencionados problemas ambientais gerados pela construção desse tipo de usina. energia eólica 1.3 22 • Química Ambiental Fonte Número de Usinas Capacidade Instalada(MW) % Capacidade Disponível Hidrelétrica 1.025 83.647 69,73 Gás 145 13.395 8,17 Biomassa 445 9.801 6,13 Nuclear 998 7.350 1,67 Carvão Mineral 2 2.000 1,62 Eólica 10 1.944 1,51 Solar 82 1.815 <0,01 Capacidade disponível 2.717 119.962 100 Fonte: Agência Nacional de Energia Elétrica, ANEEL. Desta forma, a procura de novas fontes de energia de forma sustentável faz-se necessário. As turbinas utilizadas para geração de energia eólica tiveram várias configurações, dentre essas: turbina de eixo de rotação vertical, turbina de eixo de rotação horizontal, turbinas de mono pá, turbina de di e tri pás, turbina com gerador síncrono, turbina com gerador de indução, etc. Entretanto, as pesquisas mostraram que a melhor configuração para o projeto de turbina eólica é que apresentava o seguinte perfil: eixo de rotação horizontal, hélice com três pás, gerador de indução alinhamento ativo e estrutura rígida ou não maleável, como ilustrado na Figura 1.7. A potência máxima gerada pode ser obtida ajustando o ângulo de passo das pás da hélice e em alguns casos, esse dispositivo é usado para limitar a potência gerada. As primeiras turbinas eólicas tinham uma capacidade de ge- ração elétrica entre 10 kW e 50 kW de potência nominal, aquelas desenvolvidas em escala comercial. Já nos primeiros anos da dé- cada de 90, essa potência saltou para 100 a 300 kW, ou seja, um aumento de 100 – 500 % e em 1995, a potência já era de 300 – 750 kW. Dois anos depois, em 1997, as turbinas comercializadas tinham a potência de 1 a 1,5 MW. Atualmente, alguns países da Europa já possuem protótipos em operação com potência da ordem de 5 MW. Tabela 1.2. Matriz de energia elétrica brasileira Capítulo 1: Energia • 23 Figura 1.7. Esquema de uma turbina eólica. Fonte: CENTRO BRASILEIRO DE ENERGIA EÓLICA - CBEE / UFPE. 2000. Disponível em: www.eolica.com.br. (adaptado) A Figura 1.8 representa a energia elétrica gerada em usinas eólicas nas regiões Nordeste e Sul do Brasil, nos anos 2011 e 2012. Como podemos observar, nesses anos, a região Nordeste apresentou sempre valores maiores em relação a produção de energia da região Sul, além disso, a capacidade instalada na região Nordeste é supe- rior em média 350 MW, nos dois últimos anos. Isso acontece porque as ‘jazidas’ de vento do Brasil estão entre as melhores do mundo, pois são compostas por ventos ditos ‘bem comportados e elegantes e porque 90 % do potencial eólico do Brasil está localizado na região Nordeste (litoral dos estados do Ceará e Rio Grande do Norte e em algumas partes do semiárido nordestino). Multiplicador de velocidade Acoplamento elástico Sensores de vento Gerador elétrico Torre de sustentação Controle de giro Sistema de freio a disco Sistema de controle Sistema de freio aerodinâmico Rotor Pás Nacele 24 • Química Ambiental 200 400 600 800 1000 1200 0 10% 20% 30% 40% 50% 0% Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Capacidade instalada (MW) Geração Eólica (MWméd) Fator de capacidade M W Geração Eólica - Região Nordeste 60% 70% 90% 100% 80% 2011 2012 Fator de capacidade médio mensal de Janeiro a Outubro: Em 2011: 24,1% Em 2012: 37,9% Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Geração Eólica - Região Sul 2011 2012 Fator de capacidade médio mensal de Janeiro a Outubro: Em 2011: 27,3% Em 2012: 28,1% 10% 20% 30% 40% 50% 0% 60% 70% 90% 100% 80% 120 240 360 480 600 720 0 M W Capacidade instalada (MW) Geração Eólica (MWméd) Fator de capacidade Figura 1.8. Energia gerada por mês em usinas eólicas instaladas nas regiões: (A) Nordeste e (B) Sul. Fonte: MME. Capítulo 1: Energia • 25 O mundo tomou conhecimento da energia nuclear em meados 1945, quando do lançamento e detonação da bomba atômica na cidade de Hiroshima no Japão, a primeira explosão de uma bomba atômica na história da humanidade. Nagasaki, outra cidade japo- nesa, foi atingida três dias depois, em 9 de agosto. Mas, o primeiro teste nuclear da historia foi levado a cabo pelos Estados Unidos, no dia 16 de julho de 1945. Para compreendermos melhor os fatos que levaram a criação dos artefatos nucleares devemos voltar a 1895, quando uma desco- berta acidental provocou uma mudança de paradigma com respeito à estrutura atômica. Nesse ano, o físico Wilhelm Conrad Röntgen (1845-1923) trabalhando na Universidade de Wurzburga, Alema- nha, teve sua atenção desviada pela presença de um extravagan- te brilho em uma tela fluorescente que estava disposta a alguns metros do equipamento de descargas de gases rarefeitos que ele estava usando, a qual estava coberta com um manto de cor negra, também percebeu que a luminosidade desaparecia se o equipamen- to era desligado. Esse comportamento sugeria que alguma coisa estava atravessando a proteção de seu equipamento e atingindo a placa fluorescente. Entretanto, como desconhecia a natureza física do fenômeno observado, Röntgen os denominou de raios X. Fascinado com a descoberta de Röntgen o também físico fran- cês Antoine-Henri Becquerel (1852-1908) passou a investigar a natureza da possível fluorescência provocada pelo composto sul- fato de potássio e uranilo, K2UO2(SO4)2 e observou que o composto era capaz de emitir espontaneamente uma radiação que impres- sionava filmes fotográficos. A comunidade científica ficou mui- to intrigada com as descobertas dos dois físicos e assim, vários cientistas da época começaram a investigar essas misteriosas ra- diações. Dentre esses estavam Joseph John Thomson (1856-1940), Ernest Rutherford (1871-1937) e Marie Curie (1867-1934). Contudo, a relação entre a radioatividade (termo esse, primeiramente men- cionado por Marie Curie) e o núcleo atômico só foi feita no século XX, pois a existência do núcleo atômico ainda não tinha sido prevista, o que somente foi feito em 1911, por meio da famosa ex- periência de Ernest Rutherford do bombardeamento de uma fina folha de ouro com partículas alfa. Exceto para o átomo de hidrogênio, todos os núcleos atômicos têm mais de um próton no núcleo, sendo que cada um dos prótons energia nuclear 1.4 26 • Química Ambiental possui carga positiva, a pergunta que se faz é como um núcleo com mais de um próton pode ser estável já que cargas semelhan- tes se repelem? Para responder tal pergunta, precisamos levar em consideração duas forças atuando no núcleo de um átomo: a força de repulsão e a atração eletrostática, tais como aquelas pre- sentes entre os íons em um cristal de cloreto de potássio. Existe outra força denominada força nuclear forte, a qual supera a força eletrostática de repulsão dos prótons e mantém os prótons e os nêutrons confinados no núcleo, além disso, os nêutrons ajudam a manter os prótons mais afastados uns dos outros e assim, dimi- nuindo a repulsão entre eles. Por haver uma diferença entre as força nuclear forte e eletros- tática, alguns núcleos com grande quantidades de prótons podem ser instáveis devido à presença de poucos nêutrons para diluir as repulsões eletrostáticas entre os prótons. E esses núcleos carregam muita energia comparativamente a outras distribuições dos mes- mos núcleos. Para alcançar uma energia menor e assim mais esta- bilidade, os núcleos instáveis têm uma tendência a ejetar pequenos fragmentos nucleares e liberar simultaneamente muita radiação eletromagnética de alta energia. A radiação nuclear ou radiação atômica é evidenciada pela pre- sença de um feixe de partículas (fótons), vindo de uma amostra e a esse fenômeno é dado o nome de radioatividade, em que os ele- mentos químicos que apresentam tal propriedade são conhecidos com materiais radioativos. Atualmente, reconhece-se a existência de aproximadamente 350 isótopos naturais, e 17 % deles apresen- tam o fenômeno da radioatividade. O núcleo do átomo em certas condições pode emitir vários tipos de radiações, dentre elas podemos citar: 1) radiação alfa; 2) radiaçãobeta; 3) radiação gama; 4) raios X. A radiação alfa ocorre quando um núcleo emite um feixe de partículas alfa, constituído por núcleos de hélio (denominado par- tículas α). As partículas alfa são as partículas com maior massa dentre aquelas comumente emitidas pelos radionuclídeos. As partí- culas alfa são simbolizadas como , em que 4 representa número Radionuclídeo é nome dado aos isótopos que apresentam radioatividade. Capítulo 1: Energia • 27 de massa e o 2 representa o número atômico. Apesar de apresentar também carga (2+), essa é omitida nessa simbologia. Por ser uma partícula muito grande comparativamente a ou- tras partículas com mesma natureza eletromagnética, as partícu- las alfa não se afastam muito da fonte emissora. Mesmo quando saem do emissor, geralmente apresentam um décimo da veloci- dade da luz, assim apresentam uma baixa energia cinética que é rapidamente perdida em poucos centímetros se deslocando no ar atmosférico, devido às colisões com as moléculas de outras subs- tâncias presentes no ar. Finalmente, essas acabam capturando elétrons do meio e passam a ser átomos de hélio. Por apresentarem baixa energia, não têm muito poder de penetração não ultrapas- sando uma folha de papel. No caso da radiação beta o que temos é um feixe de elétrons os quais são chamados de partículas β. Por exemplo, um nêutron pre- sente em um núcleo de um isótopo do elemento hidrogênio, o trítio pode sobre decaimento emitir uma partícula beta, um próton e um antineutrino (é a antipartícula do neutrino), a equação 1.6.1 representa esse processo: Em que podemos observar que o nêutron é representado por, o pró- ton por , a partícula beta por e a partícula de antineutrino por . Entretanto, em oposição ao que é observado durante a emissão de partículas alfa, a qual ocorre com a mesma energia discreta a partir de um determinado radionuclídeo, um espectro contínuo de energia é obtido durante a emissão de partículas beta. Esse com- portamento violava o princípio da conservação de energia e os cientistas da época tiveram muitas dificuldades em explicar esse resultado, mas em 1927, Wolfgang Pauli propôs que durante o pro- cesso de emissão de partículas beta, esse era acompanhado pela emissão de outra partícula, com massa quase zero e eletricamente neutra. Por não apresentarem carga elétrica, essas partículas foram nomeadas primeiramente com “nêutrons”. Contudo, com a desco- berta de James Chadwick, em 1932, do que conhecemos hoje por nêutrons, essas tiveram o nome alterado para neutrino, que signi- fica pequeno nêutron, em italiano por sugestão do físico italiano Enrico Fermi (1901-1954). Finalmente, os pesquisadores devido à natureza da sua origem passaram a chamá-la de antineutrino, . Atualmente, sabe-se que, durante o período diurno, o planeta Terra recebe do Sol cerca de 65 bilhões de neutrinos por segundo para cada centímetro quadrado da superfície terrestre. Sendo uma partícula subatômica muito leve e sem carga, o neu- trino interage com outras partículas apenas por meio da interação gravitacional e da força nuclear fraca, que são duas das qua- tro interações fundamentais da natureza. As outras duas são a força eletromagnética e a força nuclear forte. Os pesquisadores verificaram que o neutrino é a segunda partícula mais abundante do universo conhecido abaixo somente das partículas denominadas de fótons. EQUAÇÃO 1.6.1 28 • Química Ambiental Sabe-se que somente a partícula beta com alta energia tem po- der de penetração na pele, mas dependendo da sua energia cinéti- ca inicial. Essa pode mover-se no ar atmosférico seco aproximada- mente 3 metros, indo muito mais longe do que as partículas alfa. Isso ocorre porque o elétron é muito pequeno comparativamente ao próton (partícula presente na emissão alfa), assim a probabi- lidade de colidir com outras partículas ou moléculas presente no ar é muito menor. O terceiro tipo de radiação que vamos mencionar é a radiação gama. O processo de emissão de radiação gama está diretamente associado às transições entre níveis de energia dentro do núcleo. Assim como os átomos possuem níveis de energia dos orbitais, os núcleos atômicos também têm seus próprios níveis de energia. A radiação gama consiste em partículas de fótons com alta energia e em geral pode ser representada por meio do símbolo . Diferente das radiações mencionadas nos parágrafos anteriores, a radiação gama por ter alta energia, tem poder penetrante muito maior e pode causar modificações do DNA, nos tecidos e órgãos dos seres vivos, o que pode provocar o surgimento de câncer na região que foi atingida. Em geral, para se bloquear esse tipo de radiação pene- trante, o material mais usado é o elemento chumbo, sendo neces- sária para tal uma placa de chumbo bem espessa. Figura 1.9 Acelerador de partículas do Laboratório de Luz Sincrotron (LNLS) em Campinas, Brasil. Capítulo 1: Energia • 29 A equação 1.1 representa a preparação de alumínio por meio da transmutação, ou seja, a transformação de um isótopo em outro. Esse processo pode ocorrer pelo decaimento radioativo ou força- do, pelo bombardeio do núcleo com partículas alfa de alta energia em aceleradores de partículas em campo elétrico (Figura 1.9). Inicialmente, um próton atinge um átomo de magnésio, Mg, transmutando em um núcleo composto de alumínio-27, 27Al , que pode sofrer decaimento de várias formas, e uma delas é a formação do alumínio-27, estável pela liberação de radiação gama. Finalmente, vamos discutir um pouco sobre os raios X, um tipo de radiação eletromagnética com energia menor do que da radia- ção gama, por exemplo. Como mencionado anteriormente, quem detectou pela primei- ra vez os raios X foi o físico alemão Wilhelm C. Röntgen. Em virtu- de do desconhecimento da natureza desta radiação, a comunidade científica da época propôs a denominação de raios X. Essa radiação foi descoberta durante os experimentos que Röentgen fazia em seu laboratório estudando o fenômeno da luminescência produ- zida por raios catódicos. O equipamento estava recoberto de tal forma que nenhuma luz exterior podia penetrar a câmara escura a qual tinha em seu interior um pedaço de papel recoberto com o composto platinocianeto de bário, Pt(CN)4Ba. Durante a aplicação de certa voltagem, os elétrons eram acelerados com energia ciné- tica suficiente no interior do tubo para produzir radiação capaz de marcar a chapa fotográfica. A fissão nuclear é um processo pelo qual um núcleo atômico com grande massa se divide produzindo núcleos com massa meno- res. A fissão nuclear ocorre quando um núcleo instável absorve um nêutron. Como o nêutron não apresenta carga elétrica, ele atraves- sa a nuvem eletrônica da eletrosfera do átomo facilmente e, assim é capaz de penetrar no núcleo atômico provocando sua fissão. Enrico Fermi realizando experimentos com alvo de urânio descobriu que, ao direcionar nêutrons para um alvo de urânio, núcleos mais leves eram produzidos. Ele ainda não sabia que o que tinha observado era a fissão nuclear dos átomos de urâ- nio-235. A reação de fissão dos átomos de urânio-235 é represen- tada na equação 1.2 a seguir: Contador Geiger é um instrumento usado para detectar as radiações beta e gama, que têm energia suficiente para penetrar a janela do equipamento. Há uma câmara dentro do equipamento com gás a baixa pressão que, ao ser atingido pela radiação sofre ionização. Os íons formados por sua vez podem completar o circuito elétrico do sistema, que é amplificado, e um sinal sonoro. EQUAÇÃO 1.1 30 • Química Ambiental Como podemos observar, durante a absorção do nêutron os átomos de urânio-235 se tornam o núcleo composto que por sua vez sofre a fissão em dois específicos núcleos menores em mas- sa, em geral criptônio e bário . Mas já foram identificados mais de 30 núcleos com número atômico intermediário, por isso a equação 1.2 é representada com as letras A e B, as quais represen- tam esses possíveis núcleos que podem ser formados. Alémdisso, o coeficiente z representa o número médio de nêutrons que podem ser produzidos durante o processo de fissão, e que em geral tem o valor de 2,47. Durante a fissão do átomo de urânio-235, 3 nêutrons (denominados nêutrons secundários) que apresentam energia maior do que os nêutrons absorvidos inicialmente (denominados nêutrons térmicos, que se movem lentamente) são produzidos. Es- ses nêutrons podem então, ser absorvidos por outros núcleos de forma em cadeia provocando o que conhecemos com reação em ca- deia de fissão, ou reação nuclear em cadeia que é autossustentada e por meio da qual produto de um evento causa uma ou mais repe- tições do processo. A Figura 1.10 representa o processo de reação em cadeia dos átomos de urânio-235. Figura 1.10. Representação esquemática da fissão nuclear em cadeia dos átomos de urânio-235. EQUAÇÃO 1.2 A B A’ B’ A” B” On 235 U92 On On On On On A energia liberada durante tal evento é muito grande e assim, pode-se usar essa energia para produzir energia elétrica pelo movi- mento de geradores elétricos por meio do calor liberado. Capítulo 1: Energia • 31 Por exemplo, a queima de aproximadamente 3 mil toneladas de carvão pode se equiparada à energia disponível em 1 kg de urânio-235. A maior vantagem ambiental da geração elétrica por meio de usinas nucleares é a não utilização de combustíveis fós- seis, evitando o lançamento na atmosfera dos gases responsáveis pelo aumento do aquecimento global, bem como de outros produtos tóxicos. Para que a reação nuclear em cadeia ocorra de forma autossu- ficiente é necessário que haja uma quantidade suficientemente alta de isótopo físsil, ou seja, isótopo capaz de sofrer fissão, no caso urânio-235. O urânio no Brasil é extraído do minério, separado e transformado em diuranato de amônio, um sal amarelo que ficou mais conhecido como “yellow cake”. Essa forma mineral possui em sua composição 99,28 % de urânio 238 e apenas 0,72% de urânio 235. O “yellow cake”, por meio de processos complexos, é transfor- mado num composto com flúor, conhecido como hexafluoreto de urânio ou UF6 sólido. Em geral, o urânio-235 usado nos reatores de uma usina de energia nuclear está entre a porcentagem de 2 a 5 % em massa, na forma de dióxido de urânio (UO2) em pastilhas vítre- as. A energia criada pela fissão desses átomos é usada para ferver água e o vapor resultante move as turbinas, gerando eletricidade. Existem atualmente três processos possíveis de enriquecimento do urânio-235 na porcentagem desejada para ser usados em usinas nucleares que são: 1) difusão gasosa; 2) centrifugação; 3) enriquecimento isotópico a laser. No primeiro caso, o enriquecimento gradual do urânio é feito pela passagem forçada do componente gasoso do UF6 (hexafluore- to de urânio) em sucessivas barreiras porosas de difusão. Durante sua passagem, a razão de massa entre UF6-238/UF6-235 é um fa- tor de 1,0064, assim, após n passagens o enriquecimento torna- -se (1,0064)n. Para reatores que usam água pressurizada, o valor mínimo é ~ 3 %, ou seja, é necessário 350 passagem para obter o material desejado. Atualmente, por ser um processo bastante one- roso esse vem sendo gradualmente substituído pela centrifugação. Diferente no processo anterior em que a razão de separação das massas dos isótopos é proporcional à raiz quadrada, nesse processo 32 • Química Ambiental a força centrífuga é diretamente proporcional à massa e assim, há uma rota mais eficiente para separar os isótopos. Finalmente, já está sendo proposto o enriquecimento isotópico a laser. Nesse processo, um feixe de luz monocromático, com fóton e energia apropriada, é direcionado ao composto de urânio o qual pode excitar moléculas que contenham um isótopo específico, pois se excita somente uma pequena parcela de moléculas com outros isótopos, sendo possível separar os isótopos excitados, enriquecen- do grandes quantidades de urânio com um único passo, diminuin- do o custo e a complexidade do processo. A Figura 1.11 apresenta uma representação esquemática de uma usina nuclear. Como podemos observar, o reator é composto por um núcleo de reação constituído por uma blindagem, água de aque- cimento, varetas de reação (combustível de urânio) e bastões de Figura 1.11. Representação esquemática de um reator de água pressurizada em uma usina nuclear. Água fria Gás Água Refrigeradores (condensadores) Trocada de calor Vapor Gás Gerador Bastão de calor Varetas de urânio Blindagem Água 300°C Núcleo do Reator Capítulo 1: Energia • 33 calor, que têm a função de captar o calor gerado pelas varetas de combustão e transferir sua energia para água do reator, que após aquecida circula no trocador de calor, transforma a água nesse sistema em vapor. E que por sua vez é conduzida para o gerador, em que a turbina é movimentada gerando energia elétrica. Poste- riormente, o vapor é condensado no refrigerador e assim retorna ao trocador de calor. Como as varetas de combustão apresentam urânio-235 com por- centagem em torno de 2 – 5 % , não existem perigos com respeito à explosão atômica de um reator nuclear, pois para produzir uma bomba atômica a porcentagem mínima de urânio necessária gira em torno de 85 %. Contudo, o que pode acontecer é a fusão do núcleo pelo superaquecimento do reator ao qual pode passar pelas paredes do recipiente que contém as varetas de combustão levando à liberação de radiação. Outro problema é a divisão das moléculas de água pela sua decomposição em átomos de hidrogênio e oxigênio, que podem recombinar-se gerando uma explosão. Essa situação aconteceu recen- temente nos reatores de Fukushima no Japão, quando após um terre- moto seguido por um tsunami, os reatores ficaram sem refrigeração o que provocou a liberação de gás hidrogênio, que por sua vez recombi- naram com as moléculas de oxigênio provocando uma grande explo- são. A Figura 1.12 é uma fotografia desse incidente ocorrido em 2011. Rejeito radioativo é todo e qualquer material resultante de to- dos os processos do ciclo do combustível, que vão da mineração; Figura 1.12. Imagem área da usina nuclear de Fukushima no Japão. Fonte: http://info.abril. com.br/images/materias/2013/01/Fukushima-20130119143400.jpg 34 • Química Ambiental passando por beneficiamento; conversão; enriquecimento; recon- versão; produção das pastilhas e elemento combustível; seu uso em usinas nucleares e armazenamento final. As usinas nucleares geram os rejeitos de baixo, de médio e de alto nível de atividades e são estocados em locais específicos e apropriados, para futu- ra reciclagem e uso dos energéticos remanescentes. Por exemplo, xenônio tem o tempo de meia vida da ordem de 10 anos, por outro lado, a maioria dos gases apresenta tempo de meia vida re- lativamente curto. No caso dos sólidos, além dos radionuclídeos, cujo tempo de meia vida é extremamente longo, alguns bastante importantes tais como os radionuclídeos: I-131, Sr-90 (tempo de meia vida de 28 anos), Cs-137 (tempo de meia vida de 30 anos), podem causar sérios problemas aos seres humanos por poderem substituir outros átomos do corpo (Cs no lugar de Sódio, Sr no lugar do cálcio) ou seu isótopo (iodo). Uma tecnologia alternativa que está ganhando força para a geração de energia de forma sustentável é a tecnologia associada à célula a combustível. A célula a combustível é um dispositivo eletroquímico com inserção externa de reagentes, que por meio da energia química contida nas substâncias utilizadas, com combustível e oxidante con- vertem tal energia diretamente em energia elétrica e calor. Assim, sua eficiência é muito superior se comparada a métodos tradicionais de geração de energia, visto que se trata de um método químico e não mecânico e não apresenta limitações termodinâmicas. Os automóveis, grandes contribuidores do aquecimento global, passam a ter cada vez mais atenção com relação a essa tecnologia, já que é limpa e segura. A tecnologia de células a combustível em veículos nãoé nova. Segundo Linardi e colaboradores, veículos que utilizavam esse tipo de tecnologia começaram a ser produzidos na forma de protótipos no final da década de 1960. Ao contrário da bateria, que é um dispositivo de armazenamen- to de energia e que é limitada pela quantidade de reagente dispo- nível, a célula a combustível, converte a energia da reação entre seu combustível e um oxidante, num fluxo ordenado de elétrons. De forma teórica, enquanto é fornecido o combustível à célula, essa é capaz de produzir energia. Mas na realidade, a vida operacional das células a combustível é reduzida devido a fatores como ativida- de eletrocatalítica (envenenamento) e condutividade protônica dos célula a combustível 1.5 Capítulo 1: Energia • 35 eletrodos que a compõem. Desta forma, os pesquisadores ao redor do mundo estão constantemente investigando melhores materiais capazes de serem usados nos ânodos que apresentam melhor ativi- dade eletrocatalítica e também melhor resistência à corrosão, a fim de melhorar a eficiência da célula. A Figura 1.13 representa um esquema de célula a combustível do tipo PEM (membrana trocadora de prótons, do inglês proton exchange membrane). Esse tipo de célula é composto por dois compartimentos um para o cátodo em que o catalisador geralmente é composto de Pla- tina, o qual quebra as ligações da molécula de oxigênio em átomos de oxigênios que se ligam aos prótons, H+, que passam pela membrana trocadora de prótons, conhecida também como membrana de eletró- lito polimérico, por exemplo, Nafion®. E esses prótons veem do ânodo pela ruptura da ligação H—H, se o combustível for H2 molecular que é injetado no compartimento anôdico (segundo compartimento). Como produto final, desta reação tem-se a H2O. Isso faz das células a com- bustíveis fontes limpas de geração de energia (emissão zero). As equações químicas, que representam as reações desse pro- cesso em meio ácido, podem ser visualizadas a seguir: Reação no ânodo: Reação no cátodo: Reação global: ∆ G = - 237 kJ/m ol Figura 1.13. Esquema de uma célula a combustível de hidrogênio. As membranas do tipo PEM são compostas por um polímero do grupo dos fluorocar- boneto com grupos sulfonato ligados covalentemente ( ). Os grupos sulfonatos formam canais que são preenchidos com água, o que favorece a penetração e passagem dos prótons. Por outro lado, como os grupos sulfonatos estão carregados negativamente os ânions não conseguem passar pela membrana. EQUAÇÃO 1.3 EQUAÇÃO 1.4 EQUAÇÃO 1.5 OxigênioHidrogênio Célula a combustível Membrana Energia elétrica H2 H2O 36 • Química Ambiental O grande problema em se usar hidrogênio está no fato de que esse não possui uma infraestrutura instalada comercialmente. O seu manuseio e a armazenagem são extremamente perigosos. Além disso, se o hidrogênio for produzido pela reforma de algum combustível fóssil, como o metano, esse em geral está contami- nado com CO, que é um componente muito eficaz no envenena- mento dos catalisadores baseados em platina, fazendo com que a célula perca potência rapidamente e forçando a troca do material do ânodo. Ademais, a produção via eletroquímica de hidrogênio é relativamente cara. Em virtude disto e de outros fatores, existe um grande interesse em desenvolver células diretas a álcool, como o metanol e o eta- nol. Nas ultimas décadas, ocorreu um grande desenvolvimento nas células diretas de metanol (veja Figura 1.14), contudo, o metanol apresenta também alguns inconvenientes, tais como menor densi- dade de energia comparada ao hidrogênio e problemas de manu- seio, por se tratar de uma substância tóxica. Dessa forma, o etanol tem se tornado o foco principal das pesquisas no Brasil, pois esse já é largamente produzido no Brasil, onde há uma indústria bem estruturada voltada para sua produção, uma vez que é utilizado como combustível veicular há décadas. Ademais, o etanol possui toxicidade muito menor se comparado ao metanol, além da tecno- logia envolvida ser muito parecida à das células a metanol direto. Outra proposição é o uso de alcoóis poliídricos como: etileno glicol e glicerol, que possuem alto ponto de ebulição e são muito menos voláteis. Esses possuem densidade energética teórica maior que o metanol, além de serem passíveis de eletro-oxidação. A produção em massa de células a combustíveis tem alguns desafios para serem superados tais como: (i) escolha de um combustível capaz de produzir uma quantidade relativamente grande de energia com baixo custo; (ii) desenvolvimento de membranas que possam reduzir mais o so- brepotencial total da célula, para o uso de células operando em baixa temperatura; (iii) melhoria do controle da passagem do combustível pela mem- brana precisa ser aperfeiçoado, o chamado ‘cross-over’; (iv) melhoria da cinética de redução do oxigênio na parte catódica da célula; (v) troca das ligas baseadas em Pt por outro material mais ba- Capítulo 1: Energia • 37 rato e com mais eficiência, em relação à reação de oxidação do combustível. Figura 1.14. Célula a combustível direta de metanol. Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/File:Fuel_ cell_NASA_p48600ac.jpg As células são atualmente classificadas de acordo com o tipo de eletrólito utilizado. Os principais tipos são: célula a combustível de eletrólito polimérico (PEMFC, do inglês, proton exchange membra- ne fuel cell), alcalina (AFC, do inglês, alkaline fuel cell), de ácido fosfórico (PAFC, do inglês, phosphoric acid fuel cell), de carbonato fundido (MCFC, do inglês, molten carbonate fuel cell) e de óxido sólido (SOFC, do inglês, solid oxide fuel cell). 38 • Química Ambiental A Tabela 1.3 apresenta de forma geral algumas das principais características das células a combustível comerciais e em desen- volvimento no mundo atualmente. PEMFC AFC PAFC SOFC MCFC Eletrólito Membranas poliméricas hidratadas de troca iônica Ácido poliperfluoros- -sulfônico Solução aquosa de hidróxido de potássio embebido em matriz de amianto Ácido fosfórico líquido embebido em uma matriz: SiC Óxido de zircônia sólido com adição de ítrio Carbonato fundido líquido em MAlO2, em que M pode ser: Na, Li ou K Conector Carbono ou metal Metal Carbono/ Grafite Metal/Níquel, cerâmica ou aço Óxido de Níquel/ Aço inox Catalisador Baseados em platina Baseados em platina Baseados em platina Fase metálica de Níquel Ligas de Níquel ou Ni/Cr Aplicações Veicular, energia portátil, rede elétrica pública Militar, Espacial Automotiva, rede elétrica pública Rede elétrica pública Rede elétrica pública Temperatura de operação (oC) 60 – 90 90 – 100 175 – 200 600 – 1.000 600 – 1.000 Transportador de carga H+ OH- H+ O2- CO3 2- Reação global* 2H2 + O2 → 2H2O [reação] * Reação global usando o combustível mais comum na célula ou comercial (hidrogênio).[reação]: H2 + 1/2O2 + CO2 → H2O + CO2 Fonte: S. Thomas e M. Zalbowitz (1999) Fuel Cells: green power. Los Alamos National Laboratory: Los Alamos, NM. De modo geral, a escolha do eletrólito dita o intervalo de tempera- tura de funcionamento da célula a combustível. A Tabela 1.3 mostra que a temperatura de operação das células varia de 60 ºC a 1.000 ºC, dependendo do tipo de célula. Por exemplo, as células que operam a baixa temperatura incluem as alcalinas, membrana polimérica e ácido fosfórico, e as que operam em temperaturas elevadas são: carbonato fundido e óxido sólido. A temperatura de operação de um célula está diretamente relacionada aos materiais e componentes utilizados em cada tipo de célula. Por exemplo, eletrólitos aquosos estão limitados a temperaturas de cerca de 200 °C ou menos, devido à sua elevada pressão de vapor e rápida degradação a temperaturas mais elevadas. Tabela 1.3. Comparação entre as diferentes células a combustível existentes Capítulo 1: Energia • 39 Algumas células do tipo PEM, podem ser classificadas de acor- do com o tipo de combustível utilizado, como as células diretas ál- cool (DAFC, do inglês,direct alcohol fuel cell). A classificação pode ocorrer também especificamente quando se usa como combustível, por exemplo: metanol – DMFC – direct methanol fuel cell; etanol – DEFC – direct ethanol fuel cell; glicerol – DGFC – direct glyce- rol fuel cell, etc. Esses tipos de células estão sendo desenvolvidas principalmente com o objetivo de uso em aplicações portáteis, tais como: celulares, laptop, notebook, netbook, tablet, ipod, iphone, etc. atividades1) Explique como é gerada energia elétrica nas usinas hidrelétricas.2) Com respeito a usina hidrelétrica de Itaipu, pesquise, em fontes confiáveis, quais foram os impactos ambientais da região inun- dada pelas águas da represa dessa usina. 3) Cite três fontes não renováveis de energia. 4) Atualmente, qual é a melhor configuração para uma turbina eólica? 5) O que é reação em cadeia? 6) Cite três vantagens de quando se usa célula a combustível como fonte alternativa de geração de energia. Desenvolvendo e aplicando o conhecimento 1) Sabe-se que o uso humano primário de energia corresponde a 4,3 × 1017 kJ por ano, o que está associado ao consumo 3,7 × 1017 kJ por ano de energia oriunda de combustíveis fósseis e 6,0 × 1016 kJ por ano de outras fontes. Calcule a energia usada pelos seres humanos em um dia e compare com a energia fornecida pelo Sol também em um dia. Dado: energia fornecida pelo Sol por ano = 54,4 × 1020 kJ. 2) Quais são os três tipos de processos utilizados para produzir o U-235 na porcentagem necessária para uma usina nuclear? 3) Quais são as semirreações em uma célula a combustível de hidrogênio/oxigênio? 4) Elabore uma descrição esquemática de uma usina nuclear de água pressurizada. 5) Defina: radiação gama, radiação beta e radiação alfa. 6) A usina de Balbina construída no Rio Uatumã (AM) e inaugurada 40 • Química Ambiental Referências PERUZZO, F. M.; CANTO, E. L. Química na abordagem do cotidia-no. Química Geral e Inorgânica, Ed. Moderna, 4ª edição, vol. 1, São Paulo, 2010. SPIRO, T. G.; STIGLIANI, W. M. Química Ambiental. 2a edição. São Paulo: Pearson Pretice Hall, 2009. BOSQUILHA, G. E. Minimanual compacto de química: Teoria e prá- tica. 1ª edição, Ed. Rideel, São Paulo, 1999. BRADY, J. E.; SENESE, F. Em colaboração com JESPERSEN, N. D. Química: A matéria e suas transformações. Tradução e revisão técnica: SILVA, E. C... [et al.]. 5ª edição, vol. 2, Ed. LTC, Rio de Janeiro, 2009. GRIFFITHS, D. Introduction to elementary particles. [S.l.]: John Wiley & Sons, 1987. p. 9. THOMAS, S. A.; ABDALLA, F. B.; LAHAV, O. Upper bound of 0.28 eV on neutrino masses from the largest photometric redshift survey. Physical Review D 105, 2010. BAHCALL, J. N. Solar Models and Solar Neutrinos: Current Status. Physica Scripta T121, 2005. KIMBALL, J. W. (2006). Kimball’s Biology Pages, The Nitrogen Cycle (http://users.rcn.com/jkimball.ma.ultranet/BiologyPages/N/Ni- trogenCycle.html) acedido a 11 de Abril de 2007 http://www.ciclodaagua.com.br. Acessado em 31 de janeiro de 2013. parcialmente em 1988 é considerada atualmente um dos piores investimentos do Brasil, pois inundou uma área de aproximada- mente 2300 km2, dos quais 30 mil hectares de Terra Indígena de Waimiri-Atroari, para uma potência instalada de 250 MW e pro- vocou inúmeros problemas ambientais e sociais. Baseado nesse re- lato, discuta os impactos socioambientais da construção da usina de Belo Monte. 7) Quais são os principais atrativos referentes ao conceito de susten- tabilidade para a instalação de usinas eólicas? 8) Qual foi o pior acidente em uma usina nuclear da história da hu- manidade? Onde esse acidente ocorreu e por quê? 9) Quais são os problemas com respeito às células a combustíveis que utilizam hidrogênico com combustível? 10) Cite cinco tipos de célula combustível existente e informe suas principais utilizações, vantagens e desvantagens. Capítulo 1: Energia • 41 ALEGRIA, F. Clean coal workshop – European Comission. In: SE- MINÁRIO TECNOLOGIAS LIMPAS DE ENERGIA E CARVÃO. Porto Alegre, FIERio Grande do Sul/MME/OLADE, 1997. CORREA DA SILVA, Z.C. & FERREIRA, J.A.F. Considerações sobre a pesquisa geológica de carvão no estado do Rio Grande do Sul. I ENCONTRO DE PESQUISADORES EM CARVÃO NO R. G. DO SUL. Porto Alegre, UFRio Grande do Sul/CIENTEC/CNPq, 1985. http://www.ienergia.com.br/energia/geracao.aspx acessado em 30 de janeiro de 2013. http://www.mme.gov.br/see/galerias/arquivos/Publicacoes/Bole- tim_mensalDMSE/Boletim_de_Monitoramento_do_Sistema_ Elxtrico_-_Novembro_-2012.pdf acessado em 02 de fevereiro de 2013. http://www.eletrobras.com/elb/natrilhadaenergia/services/eletro- bras/trilhaenergia/pdfs/como-a-energia-eletrica-e-gerada-no- -brasil.pdf acessado em 05 de fevereiro de 2013. http://www.socioambiental.org/esp/bm/index.asp acessado em 07 de fevereiro de 2013. Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL. Atlas de energia elétrica do Brasil, Brasília, 2002. SEMPRE BRAZIL FOREVER - ANO 8 - Nº 29 - JULHO/AGOSTO/SE- TEMBRO 2007. Energia eólica – UMA REVOLUÇÃO MOVIDA A VENTO. http://www.eolica.com.br/home/pt/index.php acessado em 07 de fevereiro de 2013. U.S. DEPARTMENT OF ENERGY, OFFICE OF FOSSIL ENERGY. Na- tional Energy Technology Laboratory. Fuel cell Handbook. 7. Ed. Morgantown, West Virginia. 2004. LINARDI M.; WENDT H.; GÖTZ M. Tecnologia de células a combus- tível; Química. Nova, Vol. 23, Nº 4, p. 538-546, 2000. KORDESCH, K. & SIMADER, G. Fuel Cell and their Application, Ed. VCH, Weinheim, Alemanha, 1996. http://www1.eere.energy.gov/hydrogenandfuelcells/applications. html acessado em 15 de janeiro de 2013. 42 • Química Ambiental Capítulo 1: Energia • 43 2.1 Introdução 42 2.2 Transformações químicas na atmosfera 45 2.3 A Poluição Atmosférica 52 2.4 Atividades 56 2.5 Desenvolvendo e Aplicando o conhecimento 56 2.6 Referências 57 2Atmosfera 44 • Química Ambiental A atmosfera é o invólucro gasoso de nosso planeta, que se estende desde a superfície terrestre (ao nível do mar) até alguns milhares de quilômetros, cuja função é fundamental para os seres vivos, ao manter as condições ideais na superfície para a criação e manuten- ção da vida e, também, protegê-lo de agressões externas. Para efei- tos didáticos, podemos subdividi-la em cinco camadas, que estão diretamente reacionadas a algumas propriedades físicas e químicas do meio ambiente. Contudo, a divisão feita de acordo com a estra- tificação térmica é a mais adequada do ponto de vista ambiental. Como podemos observar na Figura 2.1a a troposfera é a primei- ra destas camadas e se estende do nível do mar até cerca de 15 km de altitude. A troposfera apresenta uma temperatura inicial próxi- ma à temperatura média global, ou seja, cerca de 15 °C, mas que diminui com o aumento da altitude em decorrência da dissipação do calor proveniente da superfície terrestre na atmosfera. Após a troposfera, temos a estratosfera que se caracteriza por apresentar uma elevação da temperatura com o aumento da altitude. Tal fe- nômeno é vital para a nossa existência e é causado pela absorção de grande parte da radiação ultravioleta pelas moléculas de ozônio presentes na estratosfera. Contudo, na camada seguinte, denomi- nada mesosfera, a temperatura volta a decrescer com o aumento da altitude devido, principalmente, à diminuição da concentração das moléculas de ozônio nessa camada. A seguir, temos a termosfera e a exosfera que apresentam temperaturas elevadíssimas e crescen- tes com a altitude devido à absorção da radiação de alta energia de comprimento de onda (cerca de 200 nm). Outra decorrência das elevadas temperaturas dessas camadas é a presença constante de espécies iônicas e atômicas em suas composições. Dentre todas as camadas citadas anteriormente, apenas a tro- posfera mantém contato direto com a crosta terrestre. Essa por sua vez é a região responsável pelas mudanças climáticas da terra, pois é nessa camada que se originam praticamente todas as massas de ar (85 a 95 %do ar atmosférico). Consequentemente, essa deve pro- porcionar o ambiente básico para a sobrevivência dos organismos aeróbicos. Em outras palavras, ela é rica em oxigênio livre (O2) para a respiração. Portanto, a troposfera é o principal foco dos estudos ambientais, já que nessa camada ocorre a maioria dos fenômenos relacionados à poluição do ar. Introdução 2.1 Além das cinco camadas citadas anterior- mente, existem outras três subcamadas que se caracterizam por sinalizar inversões térmicas entre as camadas atmosféricas e apresentar temperaturas relativamente constantes com a altitude. Elas são deno- minadas tropopausa, estratopausa e meso- pausa e complementam, respectivamente, a troposfera, estratosfera e mesosfera (Figura 2.1b). A estratopausa é também uma ca- mada muito importante do ponto de vista ambiental, pois é nela que se encontra uma camada rica em O3 (ozonosfera), que protege a Terra da radiação ultravioleta proveniente do Sol. Capítulo 2: Atmosfera • 45 Figura 2.1. Estrutura em camadas da atmosfera e gradiente de temperatura adiabático. Quanto à composição, a atmosfera não é apenas composta por substâncias no estado gasoso. Ela também é composta naturalmen- te por alguns materiais sólidos dispersos, tais como: pólen, poeira, micro-organismos, dentre outros. Além disso, a atmosfera é com- posta também por uma fração de substâncias líquidas dispersas no meio na forma de pequenas gotículas resultantes da condensação do vapor d´água, que formam nuvens, neblinas e chuvas. Todavia, em termos relativos, a fase gasosa é a que apresenta a maior parcela de constituintes na atmosfera. Como podemos observar na Figura 2.2, essa é composta, aproximadamente, por 78% de nitrogênio (N2), 21% de oxigênio (O2), 0,93% de gases nobres (hélio – He, neônio – Ne, argônio – Ar, criptônio – Kr e 120 85 50 10 0 -100°C -80°C -60°C -40°C -20°C 0°C 20°C 40°C 60°C 80°C 100°C Tropopausa Estratopausa Mesopausa (meteoros) TERMOSFERA MESOSFERA ESTRATOSFERA TROPOSFERA Máximo de ozônio Temperatura Al tit ud e (K m ) 46 • Química Ambiental Outros 0,04% Gás Carbônico 0,03% Gases Nobres 0,93% Oxigênio 21% Nitrogênio 78% Figura 2.2. Composição aproximada da porção gasosa da atmosfera. Embora a composição média da atmosfera permaneça pratica- mente constante desde o surgimento de vida na Terra, todas as moléculas de gases que a compõem, obedecem a um rigoroso equi- líbrio dinâmico, que depende não só de fenômenos físicos, mas também de fenômenos químicos e biológicos. Contudo, as princi- pais alterações ocorridas nos componentes atmosféricos se dão em seus constituintes minoritários, com destaque para as alterações ocorridas na concentração de CO2. Apesar da pequena quantidade, as alterações na concentração dessa substância na atmosfera, pro- porcionam sérias transformações nas propriedades físicas, quími- cas e biológicas no meio ambiente. xenônio – Xe), 0,03% de gás carbônico (CO2) e 0,04% de outros gases (dióxido de enxofre – SO2, dióxido de nitrogênio – NO2, ozônio – O3, dentre outros). Capítulo 2: Atmosfera • 47 Podemos fazer uma analogia da atmosfera terrestre como sendo um grande reator químico, em que podemos ter, por um lado, compostos abundantes e altamente reativos, como o oxigênio, além de diversos compostos em pequena concentração que podem atuar como reagentes e/ou catalisadores. Por outro lado, temos a luz solar que pode atuar como fonte de energia e principal respon- sável pelas transformações químicas dos compostos provenientes da superfície terrestre. Um dos parâmetros de maior importância para as transforma- ções químicas na atmosfera é a velocidade ou cinética com que elas se desencadeiam, uma vez que muitos compostos podem ter uma velocidade de transformação rápida (na escala de minutos ou horas) ou lenta (na escala de anos). Além disso, a velocidade da reação depende de vários fatores, como concentração dos reagentes, tem- peratura, catalisador e reatividade da molécula. O tempo de residência é fundamental para estabelecer o raio de ação de um composto, tomando por base o local em que ocorreu a emissão. Para exemplificar sua importância, temos que o tempo de residência do CO2 é de quatro anos, enquanto que o tempo de residência do NO2 é de apenas um dia. Logo, quando emitidos em conjunto, o CO2 alcançara um raio de atuação maior que o NO2, que possui um tempo de permanência na atmosfera de apenas 24 horas. Os compostos e materiais particulados, que são responsáveis pelas transformações químicas na atmosfera, podem ter procedên- cia natural (superfície do mar, vulcões etc.) ou antrópica (chaminé, motores a combustão etc.). Podem ser oriundos de fontes pontuais, quando a emissão ocorre de um ponto específico, ou de fontes difusas, quando a emissão está espalhada em uma grande área. Por fim, os poluentes podem ser classificados como primários e secundários. Os primários são aqueles lançados diretamente no ar pela emissão direta de fontes naturais ou antrópicas, e os secun- dários são formados na atmosfera como produtos de uma reação que ocorrem devido à presença de certas substâncias químicas e determinadas condições físicas. Os compostos que chegam ou são formados na atmosfera são consumidos pelos chamados sorvedouros. Existem diversos tipos de sorvedouros naturais, como a chuva, que dissolve gases solúveis na chamada deposição úmida, ou os ventos, que arrastam os com- postos em direção ao solo pela chamada deposição seca. Existem TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS NA ATMOSFERA 2.2 A cinética ou capacidade de reagir dos compostos na atmosfera é conhecida como tempo de residência e é definida como o tempo médio de permanência do composto na atmosfera. 48 • Química Ambiental também sorvedouros que utilizam mecanismos químicos para transformação de compostos. Essa sequência de transformações é conhecida como ciclo biogeoquímico e destacaremos a seguir os seus três principais atores: o carbono, o enxofre e o nitrogênio. 2.2.1 Ciclo do carbono O carbono é o elemento químico mais abundante de nosso planeta e por isso está presente na composição de todos os seres vivos. Além disso, o carbono pode estar presente na atmosfera na forma de diferentes compostos que formam o chamado ciclo do carbono. A maioria desses compostos são sintetizados pelos organismos vivos e apresenta um número de oxidação que varia de +4 a −4. Contudo, o carbono com valência +4 é a principal forma transportada no meio ambiente, com destaque para as espécies de dióxido de carbo- no (CO2), carbonato (CO3 2−) e bicarbonato (HCO3 −). Suas principais reações de formação ou transformação são apresentadas abaixo. A primeira delas corresponde à absorção de CO2 da atmosfera pelos vegetais durante o processo de fotossíntese: Em seguida, e não menos importante, temos o processo de respi- ração celular, responsável pela produção de energia dos seres vivos: A fotossíntese e a respiração são processos de reciclagem do carbono, em que esse passa de sua fase inorgânica à fase orgânica e volta a fase inorgânica, completando assim o seu ciclo. Essa duas reações podem ser visualizadas na Figura 2.3, a seguir: O equilíbrio envolvendo a dissolução do CO2 em meio aquoso e sua interação com íons metálicos é o principal responsável pela formação de esqueletos e carapaças de alguns organismos com conchas, casca de ovos ou pela formação e dissolução de rochas e sedimentos. EQUAÇÃO 2.1 EQUAÇÃO 2.2 Capítulo 2: Atmosfera • 49 Figura 2.3. Esquema geral do ciclo do carbono. Por fim, temos as reações que participam do mecanismo de trans- porte do CO2 em meio aquoso e sua interação com íons metálicos: No entanto, este ciclo natural do carbono é significativamente afetado pela emissão de CO2 na atmosfera proveniente da queima de combustíveis fósseis: Essas emissões são as principais responsáveis pelo aqueci- mento global. Estima-se que a quantidade de CO2 emitida na atmosfera apenas com os preparativos
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