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ESTUDO DO REGULADOR DE TENSÃO E ANÁLISE DOS IMPACTOS DA GERAÇÃO FOTOVOLTAICA NA REDE DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA Gleyson Magalhães Santos1; Msc. Olivar Borges2. 1Estudante de Engenharia Elétrica, IFTM, Campus Paracatu, gleyson.santos@estudante.iftm.edu.br 2 Professor do IFTM, Campus Paracatu, MG, olivar@iftm.edu.br Resumo: O mundo moderno possui o propósito de constante evolução econômica e tecnológica, por consequência exige alto padrão de consumo de energia elétrica. Para garantir esses objetivos, existe a necessidade de investimentos por parte das concessionárias para entrega da energia elétrica com a qualidade regulamentada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). Os estudos sobre distribuição de energia elétrica trazem soluções para problemas de instabilidade do nível de tensão através da instalação de regulador de tensão. Essa pesquisa traz dois tipos de reguladores de tensão monofásicos mais usados nas redes de distribuição de energia (autobooster e 32 degraus) junto a suas características, aplicações e seu funcionamento. A busca por energias renováveis intensificou a geração fotovoltaica na matriz energética. Por isso, esse trabalho apresenta as causas adversas e impactos nos reguladores de tensão aos longos das redes de distribuição de energia elétrica devido a variação de tensão causada pela geração distribuída (GD) em 4 cenários, avaliando a operação de comutação de TAP do regulador de tensão na rede de distribuição afim de manter os níveis de tensão dentro do modulo 8 do Procedimento de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Nacional (PRODIST). Tais análises foram realizadas através de estudos de caso com auxílio do software OpenDSS. Palavras-chave: Sistema de distribuição de energia elétrica. Qualidade da energia elétrica. Regulador de tensão. Geração distribuída. OpenDSS. STUDY OF THE VOLTAGE REGULATOR AND ANALYSIS OF THE IMPACTS OF PHOTOVOLTAIC GENERATION ON THE ELECTRIC ENERGY DISTRIBUTION NETWORK Abstract: The modern world has the purpose of constant economic and technological evolution, therefore it demands a high standard of electricity consumption. To guarantee these objectives, there is a need for investments by concessionaires to deliver electricity with the quality regulated by National Electric Energy Agency (ANEEL). Studies on electrical energy distribution bring solutions to voltage level instability problems through the installation of a voltage regulator. This research brings two types of single-phase voltage regulators most used in energy destruction networks (autobooster and 32 steps) together with their characteristics, applications and operation. The search for renewable energy has intensified photovoltaic generation in the energy matrix. Therefore this work presents the adverse causes and impacts on voltage regulators along the electricity distribution networks due to voltage variation caused by distributed generation (GD) in 4 scenarios, evaluating the TAP switching operation of the voltage regulator voltage in the distribution network in order to maintain voltage levels within module 8 of the Electricity Distribution Procedure in the National System (PRODIST). Such analyzes were carried out through case studies with the aid of the OpenDSS software. Keywords: Electric power distribution system, Electric power quality, Voltage regulator, Distributed generation, OpenDSS. 2 1 INTRODUÇÃO O desenvolvimento econômico de um país está ligado diretamente ao Sistema Elétrico de Potência (SEP) constituído pela geração, transmissão e distribuição de energia elétrica. Desta forma, é importante o investimento em recursos que aumentam a qualidade da distribuição da energia, com o objetivo de melhorar a produtividade industrial, ampliar os recursos tecnológicos na agropecuária e contribuir para o bem estar e conforto da sociedade. Devido ao aumento da carga instalada e consumo nas unidades consumidoras há exigência de investimentos por parte das concessionárias para entrega da energia elétrica com qualidade ao consumidor. A ANEEL é o órgão regulamentador de todo setor elétrico, desde a geração até a comercialização da energia elétrica, visando a qualidade dos serviços prestados pelas concessionárias. Para atender diversas unidades consumidoras, a energia elétrica percorre longas distâncias e um dos obstáculos é a dificuldade em transportar essa energia em níveis adequados de tensão. A grande distância percorrida na transmissão provoca perdas de tensão no caminho trilhado, além das oscilações ao longo do dia, devido a variação de cargas no sistema, sofrendo alteração no padrão de qualidade da energia, impactando diretamente o consumidor final. No Brasil temos um crescente aumento de GDs, reflexo de políticas públicas que incentivam fontes de energia renovável, dados apresentados pelo Ministério de Minas e Energia revelam que é previsto que esse cenário cresça nos próximos anos. As fontes eólicas e solares juntas possuem aproximadamente 25 % da capacidade total do país. (BRASIL, 2023). Apesar dos benefícios de produção de energia limpa proporcionados pelas GDs estudos atuais podem acarretar um constante desnível de tensão nas redes de distribuição. Por consequência prejudica a qualidade da tensão, sendo necessário a instalação de equipamentos de controle de tensão para que a energia seja distribuída em conformidade com os padrões exigidos. Os estudos sobre distribuição de energia trazem soluções para problemas de instabilidade do nível de tensão através da instalação de regulador de tensão. Esse equipamento é um autotransformador que pode tanto aumentar, quando reduzir a tensão, utilizado para manter o nível de tensão dentro dos valores pré-estabelecidos. Os reguladores de tensão são 3 colocados ao longo dos alimentadores com a função de ajustar os níveis de tensão e reduzir a instabilidade nas redes de distribuição. Essa pesquisa possui a finalidade de estudar conceito, tipos, condições de utilização, e os impactos causados pela geração fotovoltaica nos níveis de tensão e nos reguladores de tensão. Portanto, o equilíbrio da tensão evita que as concessionárias de energia elétrica sejam multadas em caso de instabilidade da energia. Esse estudo será feito através de pesquisas bibliográficas e análise de estudo de caso. 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 A IMPORTÂNCIA DOS REGULADORES DE TENSÃO Caraterizados como um dos principais fatores para o desenvolvimento econômico de um país, a geração, transmissão e distribuição de energia elétrica é prioridade para a sociedade no mundo moderno e globalizado. Os setores econômicos secundários e terciários dependem de um alto padrão de qualidade de energia elétrica para o desenvolvimento industrial, comercial e aumento da qualidade de vida e bem estar de toda sociedade. (CARLI, 2018) O Brasil tem aproveitado recursos renováveis para produção de energia elétrica, no primeiro semestre de 2023, energia hidráulica, eólica e solar, foram 90% dos recursos utilizados para o abastecimento de eletricidade, segundo os dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). No mês de março de 2023, a capacidade brasileira de gerar a energia através das hidrelétricas chegaram a 82,6 %, essa foi a maior porcentagem calculada, desde o ano de 2011 (82,9 %) (ONS, 2023), mas há pouco tempo o Brasil passou pela pior crise hidrológica desde 1930, e ainda no ano de 2021 estava enfrentando essa situação (ONS, 2021). A matriz elétrica brasileira é ainda mais renovável do que a energética, isso porque grande parte da energia elétrica gerada no Brasil vem de usinas hidrelétricas. A energia eólica também vem crescendo bastante, contribuindo para que a nossa matriz elétrica continue sendo em cima maior parte renovável (EPE,2022). No período de escassez hídrica, foi necessário a utilização das usinas termoelétricas para conseguirsuprir o abastecimento de energia, porém essa forma de produção elétrica é muito poluidora e de alto custo, dessa forma, houve bastante investimento em outros tipos de energia como eólica e solar. Esse tipo de energia renovável geralmente é situado próximo das unidades consumidoras, e podem ser estabelecidas pelos consumidores na extensão da rede de distribuição, retratando uma geração distribuída (GAMA, 2021). 4 Os altos níveis de GD (geração de rede distribuída) dificultam a qualidade da distribuição de energia elétrica, então, faz-se necessário regular a tensão para respeitar os níveis de conformidade previstos na ANEEL (GAMA, 2021). A busca por melhorias e confiabilidade nos sistemas de redes de distribuição tem gerado grandes mudanças para entrega da energia com qualidade ao consumidor final. Entre essa busca, se encontra o melhoramento dos níveis de tensões através de reguladores de tensão monofásicos, seguindo os parâmetros relativos ao fornecimento e consumo da energia elétrica, diminuindo as perdas de energia no percurso entre a geração até as unidades consumidoras. Existe um padrão de energia elétrica estabelecido através de indicadores pela ANEEL por meio do PRODIST módulo 8. A avaliação na qualidade de energia pode ser constatada através da tensão do atendimento classificada em tensão adequada, precária ou crítica (CARVALHO, 2012). O módulo 8 do PRODIST engloba os requisitos para que ocorra a distribuição de energia elétrica de forma eficiente. Dessa forma, é importante observar as faixas de variação de tensão, através de medições, e é obrigação da concessionária indenizar aos clientes que estão sendo prejudicados pelo serviço prestado de forma irregular (BURATTI, 2016). O equipamento Regulador de Tensão (RT) serve para manter um nível de tensão pré- estabelecido em um alimentador, mesmo em meio de variações de cargas, para que as empresas fornecedoras de energia elétrica possam distribuir energia de boa qualidade (BLATT, 2016). Entende-se que o RT é um autotransformador automático que contém comutação de TAP’S para que seja ajustado de acordo com os níveis de tensão (MADRUGA, 2011). 2.2 OS PRINCIPAIS TIPOS DE REGULADORES DE TENSÃO As redes de distribuição de média tensão possuem dois principais tipos de RT’s na função de controlar os níveis de tensão, são eles: autobooster e autotransformadores de trinta e dois degraus (MADRUGA, 2011). O autobooster é monofásico e contém 4 degraus de 1,5% a 2,5% cada, equivalente a uma capacidade total de ± 6% e 10%. Esse equipamento funciona no controle de tensão em único sentido, ou seja, não eleva e abaixa a tensão de forma simultânea e pode ser usado como auxiliador para os 32 degraus em várias execuções (MADRUGA, 2011). Esse equipamento possui funcionamento mais simples em relação a regulação da tensão. (MAMEDE, 2013). 5 Figura 1 – Esquema do regulador autobooster configurado como elevador de tensão Fonte: FELBER, (2010, p.52) Figura 2 – Esquema do regulador autobooster configurado como redutor de tensão Fonte: FELBER, (2010, p.53) Conforme a representação da Figura 1 o regulador de tensão está parametrizado na posição R (Raise) como elevador de tensão. Já na representação da Figura 2 o regulador de tensão está parametrizado na posição L (Lower), como abaixador de tensão. Nos esquemas acima o diagrama da direita é uma simplificação do diagrama da esquerda (FELBER, L. A, 2010). O autobooster é composto das seguintes partes: tanque de aço cheio de óleo mineral, dentro do qual se encontra a parte ativa do equipamento; núcleo e enrolamento que constituem a parte ativa; trocador de posição (motor de carregamento da mola, mola de impulso, resistor de ponte e batente); tampa de aço e para-raios (MAMEDE,2013). O regulador de tensão 32 degraus concede em seus terminais de saída uma tensão em níveis constantes e previamente estabelecidos. O autobooster opera como elevador ou somente abaixador de tensão, então, o modelo 32 degraus se diferencia, pois pode realizar a diminuição ou aumento da tensão nos seus terminais (MAMEDE, 2013). O modelo 32 degraus geralmente possui um relé que identifica o exato momento para diminuir ou aumentar a tensão de 6 alimentação. Para esse propósito a tensão de alimentação é mensurada por meio de um transformador de potencial comparado com a tensão parametrizada no relé sensor de tensão. Quando a tensão está fora dos seus valores pré-estabelecidos é iniciada a temporização (tempo morto). Passado esse tempo envia-se um sinal para operação da chave de comutação de tensão (FELBER, L. A, 2010). Figura 3 – Regulador de tensão 32 degraus Fonte: Mamede, (2013, p.918) É comum a utilização dos reguladores de tensão de 32 degraus em redes de distribuição rurais de vários quilômetros, é instalado em trecho com grande variação de queda de tensão, onde sua tensão máxima não atinge o valor mínimo determinado pela ANEEL (MAMEDE, 2019). Os reguladores de tensão são empregados em subestações, alimentadores, alimentadores longos e alimentadores rurais para compensar a queda de tensão excessiva e melhorar o perfil da tensão (REIS, 2013). Nesse caso os geradores de energia são muitos distantes e é preciso percorrer um longo caminho para entregar a energia, isso faz com que os níveis de tensão caiam e sofram variação até chegar no seu destino (MAMEDE, 2013). Dessa forma, considera-se os reguladores de tensão como fonte de aprimoramento do atendimento na distribuição de energia elétrica (CARVALHO, 2012). Nas redes de distribuição rural são mais usados RT’s monofásicos e geralmente nas subestações são utilizados reguladores trifásicos (MAMEDE, 2013). 7 Os bancos de reguladores trifásicos são empregados de forma frequente no sistema de redes de distribuição, são compostos por RT´s monofásicos, desse modo, cada regulador de tensão possui circuitos compensadores de forma autônoma e as comutações ocorrem de forma individual em cada fase (BURATTI, 2016). Figura 4 – Banco regulador de tensão Fonte: Cerim, (2016) 2.3 IMPACTOS CAUSADOS PELA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA (GD) NA REDE DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA Elevados índices de energia solar fotovoltaica podem gerar variação de tensão e sobretensão nas redes de distribuição, essas consequências são mais fortes quando são instaladas muitas placas fotovoltaicas no final de alimentadores longos e carregados. A potência real e reativa gerada pelas GDs podem interferir na tensão em regime permanente, comprometendo a qualidade de energia elétrica e a operação dos dispositivos de proteção da rede de distribuição (BEZERRA, 2019). Estudos apresentam como a potência gerada pelos sistemas fotovoltaicos alteram a curva de demanda dentro do sistema de distribuição de energia elétrica. A figura abaixo representa um pico da geração no instante de tempo diferente do pico de demanda (PALUDO, 2014). 8 Figura 5- Demanda de carga e potência fotovoltaica no período de um dia. Fonte: Smith, (2011) A introdução de GDs no local próximo da carga possibilita a redução de demanda de potência na Subestação (SE). Conforme representado na figura 5, certo período do dia a potência gerada pelas GDs é maior que o consumo de carga (PALUDO, 2014). Essa situação pode acarretar um fluxo de potência reversa no ponto de conexão do gerador fotovoltaico com a rede de distribuição elétrica. Então, esse fluxo de potência bidirecional pode gerar tensões fora dos limites padrões dos equipamentos elétricos, outra questão que o fluxo reverso pode acarretar é a perturbação do sistema de proteção e na regulação de tensão (PALUDO, 2014). O método de regulação de tensão através de on load tap changer (OLTC) é muito utilizado nos sistemas de transmissão no início dos alimentadores, esse regulador de tensão na subestação é do tipo transformador, isto é, um transformador que consegue realizar TAP e regular a tensãomesmo operando com carga. Os painéis fotovoltaicos nos trazem uma nova forma de geração de energia, não sendo mais a subestação a principal fonte de potência no sistema. A elevação/queda de tensão mediante GD exige uma atuação frequente na operação dos OLTCs e RT´s, o que resulta no desgaste, redução da vida útil desses equipamentos (BEZERRA, 2019). Os períodos de baixo consumo e elevada produção de energia solar podem acarretar sobretensões do sistema, sobretudo em sistemas de gerador de energia solar de alta potência ou em geradores de potência menor, mas em grande quantidade. Esse efeito provoca no sistema de 9 distribuição um resultado adverso nos elementos da rede que usufruem do monitoramento de tensão remota conhecida como (LDC) Line Drop Compesation (BEZERRA, 2019). Entretanto, os níveis de tensão devem obedecer aos valores pré-estabelecidos para preservar a vida útil dos equipamentos de controle de tensão e também para que através do sistema proteção não seja desconectada a GD da rede (GAMA, 2021). O modelo convencional do sistema de controle de comutador de tensão é feito através da medição da tensão e da corrente da carga, estima a tensão do ponto remoto, e faz a mudança de TAP quando a tensão mesurada está fora do padrão. (GAMA, 2021). 2.4 MATERIAL E MÉTODOS Os materiais utilizados são estudos realizados por Gama (2021) em revista de tecnologia aplicada e na dissertação de mestrado de Paludo (2014) ambas possuem simulações da rede distribuição e sistema fotovoltaico existente no OpenDSS. 2.4.1 Métodos utilizados na análise da pesquisa do Gama (2021) A primeiro momento será analisada uma pesquisa feita por Gama (2021) que possui objetivo de identificar os impactos causados pelas GDs nas redes de distribuição e no regulador de tensão. Para isso, serão analisadas as variações de tensão e de TAPs, por meio do software OpenDSS, utilizando o caso teste de 8.500 barras do IEEE (Institute of Electrical and Electronics Engineers) da biblioteca do OpenDSS, em cenário com e sem a presença de GDs. O estudo verificou a qualidade de energia entregue aos consumidores e os possíveis impactos causados aos reguladores de tensão presentes na rede de distribuição. Será avaliado o regulador VREG2, averiguando suas 3 fases (A, B e C) com delay de 15 segundos. No primeiro cenário não foi utilizada a Geração Fotovoltaica, avaliou-se a variação de tensão sem as GDs; o segundo cenário possui geração fotovoltaica com 50% de penetração da GDs e delay de 15 segundos na comutação do TAP do RT; o terceiro cenário possui geração fotovoltaica com 90% de penetração da GDs e delay de 15 segundos na comutação do TAP do RT. 2.4.2 Métodos utilizados na análise da pesquisa da Paludo (2014) Na análise da dissertação de mestrado Paludo (2014) foram observadas simulações, por meio do software OpenDSS, com o sistema IEEE 13 barras, estabelecendo que as barras tem seus valores fixos, em episódios de carga média e carga máxima. A condição de carga média considerando 50% da potência nominal das cargas. No estudo foi considerado a conexão de geradores trifásicos nas barras 675. O fator de potência adotado para o sistema fotovoltaico foi unitário, pois foi considerado apenas a injeção de potência ativa por parte dos geradores. Os limites de tensão utilizados foram 1,05 pu, para limite superior e 0,93 pu para limite inferior, em conformidade ao módulo 8 do PRODIST. O objetivo do estudo foi identificar as 10 consequências da conexão do gerador na barra de maior carga do sistema IEEE 13 barras, com intuito de analisar os impactos dos geradores fotovoltaicos na rede de distribuição. 2.5 RESULTADOS E DISCUSSÃO 2.5.1 Estudo dos resultados e discussões da pesquisa do Gama (2021) O cenário 1 representa uma rede IEEE 8.500 barras sem GDs inseridas. O regulador de tensão funcionam com delay de 15 segundos, com objetivo de manter a tensão em níveis padronizados pelo módulo 8 do PRODIST. O gráfico a seguir mostra a reação do regulador de tensão na rede sem GD e com cargas atualizadas no período horário. Figura 6 - Posição do TAP do VREG2 sem GD e delay de 15 segundos. Fonte: Gama, (2021, p53) Durante às 14 horas de observação (de 05:00 até 18:30), referente a comutação da posição do TAP do regulador de tensão nas 3 fases do VREG2 representados na figura 6. Representado na figura 7, o RT atuou na faixa positiva, devido as subtensões na rede necessitando aumentar a tensão o secundário para que a tensão a jusante permaneça dentro do nível de qualidade. Figura 7 – Tensão no secundário do VREG2 sem GD e delay de 15 segundos. Fonte: Gama, (2021, p53) A operação do equipamento trabalhou na tensão máxima por grande tempo na fase A, confirmando ser a fase mais carregada do sistema, onde a posição 16 do TAP representa a tensão 1,1 pu no secundário do regulador de tensão. Dessa forma, o regulador de tensão não garantiu que a tensão prevalecesse acima de 0,92 pu, visto que o limite de operação do equipamento necessitou ser acionado de forma constante. 11 O regulador de tensão opera a cada 15 segundos, embora a curva de carga de baixa tensão da rede possuir dados horários. Então, determinados momentos existe um salto na variação do TAP que não é conservado. Isso é, em determinados momentos o TAP eleva em mais de 3 posições e depois reduz, como demonstrado na figura 6 às 08:30 na fase B. Devido a comutação do regular de tensão com delay de 15 segundos impossibilita a análise da nova tensão, antes da atuação do próximo ciclo. Depois que se corrige a tensão do ciclo anterior pelo regulador, novas comutações do TAP são feitas, sem a validação da nova informação de tensão da rede. No software OpenDSS, o regulador de tensão é configurado para cada fase, possibilitando diversas configurações de TAP, de acordo com o carregamento por fase. A exposição das figuras 6 e 7 demonstram as diferentes posições de ajustes de tensão para cada fase. Ao longo das 14 horas simuladas, o VREG2 apontou 38 comutações do TAP para fase A, 62 para fase B e 31 para a fase C. O elevado número de variações no TAP em curto período é relevante nesse estudo. Dentro do cenário 2 está incorporado 50% de GD na rede, conforme a capacidade nominal do transformador do alimentador, mantendo o delay de 15 segundos no RT. Figura 8 – Posição do TAP do VREG2 com 50 % de GD e delay de 15 segundos. Fonte: Gama, (2021, p54) No primeiro caso não foi detectada comutações para níveis negativos do TAP, apontado subtensão. Na figura 8 nas três fases existem pontos de comutação negativa. A variação para valores negativos no posicionamento do TAP, define que o RT necessita ajustar-se em seu secundário para valores menores que 1,0 pu, de acordo com figura 9. No momento que a tensão depois do regulador de tensão está em ascensão, são realizadas comutações negativas para ficar em conformidade com os níveis de tensão aceitáveis pelo PRODIST. 12 Figura 9 – Tensão no secundário do VREG2 com 50 % de GD e delay de 15 segundos Fonte: Gama, (2021, p54) As figuras 8 e 9 mostram que com a introdução de GD houve um alívio de carga, em determinados momentos do dia, sendo desnecessário na maior parte do tempo o ajuste na fase A no secundário do RT para o limite de 1,1 pu. Quando existe maior penetração de GD, o regulador de tensão necessita de corrigir de forma constante as sobretensões, como ilustrado na figura 8 às 08:58. A curva de geração disposta para a simulação possui uma resolução de 30 segundos, então, nesse espaço de tempo a tensão da rede pode oscilar, de forma que provoque a frequente ação do regulador de tensão. Além disso, a oscilação dos níveis de geração provoca um funcionamento mais complexo para os reguladores de tensão, por isso, em comparação com o cenário sem GD, no atual cenário com 50% de GD possui uma mudança de TAP de 604, 483 e 295 nas fases A, B, C respectivamente.Nota-se que a penetração de 50% de GD causa 7 vezes mais atuações do RT, na fase A chega a uma variação maior que 15 vezes. O Cenário 3 consiste na geração fotovoltaica com penetração de 90% em relação a potência nominal do transformador. Os reguladores de tensão estão configurados com atraso de comutação do TAP no modo default do OpenDSS, estabelecido em 15 segundos. Para avaliar o desempenho da rede por meio da operação do regulador de tensão, a figura 10 representa a variação do TAP do VREG2 ao longo do dia. 13 Figura 10 - Posição do TAP do VREG2 com 90 % de GD e delay de 15 segundos. Fonte: Gama, (2021, p57) A figura 10 revela que o VREG2 possue alterações significativas em comparação com o cenário de 50% de penetração de GD. Porém, está explícito o aumento de atuação em faixas negativas de TAP. Isso indica que o aumento de geração fotovoltaica provoca mais sobretensões na rede, destacando os períodos de 08:00 e 15:30, de maior incidência dos raios solares. Mesmo com o aumento nas sobretensões, o VREG2 não precisou diminuir significativamente a tensão da rede a jusante. A figura 11 mostra que a tensão no secundário do transformador permaneceu acima de 0,95 pu. Figura 11 - Tensão no secundário do VREG2 com 90 % de GD e delay de 15 segundos. Fonte: Gama, (2021, p57) É importante destacar que o aumento de penetração de GD proporciona um alívio de carga devido ao autoconsumo das cargas localizadas na mesma barra de geração. No entanto, durante períodos de baixa irradiação solar e alto consumo de carga, como entre 16:30 e 18:30, o VREG2 precisa operar próximo ao seu limite máximo de tensão para evitar problemas de subtensão na rede a jusante. 14 Em relação a quantidade de comutações necessárias para manter a rede IEEE 8.500 operando dentro dos níveis de qualidade de energia estabelecidos, observa-se uma variação na posição do TAP de 648 vezes na fase A, 497 vezes na fase B e 404 vezes na fase C. Ao comparar a quantidade de variações no TAP durante o dia, verifica-se que a fase A, com 90% de incidência, apresentou uma redução no número de comutações em comparação à incidência de 50%. Esse resultado pode ser justificado pelo fato de que a fase A possui mais consumidores de grande porte, conforme observado no cenário base sem GD (cenário 1), e, portanto, há mais possibilidades de clientes com GD. 2.5.2 Estudo dos resultados e discussões da pesquisa do Paludo (2014) Na barra 675 houve uma variação gradativa da potência fotovoltaica até 850 kW, referente ao valor nominal da carga na barra na condição de carregamento máximo. As colunas coloridas da figura 12 representam variação da tensão em cada barra (nó), devido ao aumento progressivo da GD. Cada cor indica diferentes valores de potência fotovoltaica dentro do sistema elétrico. As fases B e C apresentam seus resultados na figura 13 e 14, de forma respectiva. As barras que não possuem resultado indicam a falta de determinada fase no nó. Figura 12 - Variação da tensão na fase A devido à conexão de sistema fotovoltaico na barra 675 (a) Carga máxima (b) Meia carga 15 Figura 13 - Variação da tensão na fase B devido à conexão de sistema fotovoltaico na barra 675 (a) Carga máxima (b) Meia carga Figura 14 - Variação da tensão na fase C devido à conexão de sistema fotovoltaico na barra 675 (a) Carga máxima (b) Meia carga Fonte: Paludo, (2014, p.81) Inicialmente é possível perceber em quase todas as barras um aumento de tensão nas 3 fases à medida que ocorre o aumento da potência fotovoltaica (SFV- Sistema fotovoltaico) instalada na barra 675. Observa-se que na situação de meia carga as tensões aumentam, devido às violações de tensões após a conexão com a GDs. Na situação de carga máxima existe interrupção no crescimento das tensões nas fases A e C, devido comutação do TAP do regulador de tensão. A fase B não teve nenhuma atuação do RT para situação de carga máxima, conforme ilustração das figuras 12 (a) e 14 (a). As movimentações dos TAPs nessa condição são observadas na figura 15(a), em relação a carga ativa total de 3366 kW, ocorre na fase C a primeira comutação de TAP quando a GD 16 alcançou 13% da carga total. Na fase A ocorreu a segunda mudança de TAP quando alcançou 17%. As comutações de TAPs nas condições de meia carga que aconteceram nas fases A e B estão representadas na Figura 15 (b). Nesta circunstância foi considerado o total de carga 1683 kW com a primeira comutação de TAP (fase A) em 10% do valor total da carga, a segunda comutação do TAP (fase B) ocorreu com 30% do valor total da carga. Figura 15 - Comportamento das posições de TAP à variação da potência do gerador fotovoltaico (a) Carga máxima (b) Meia carga Fonte: Paludo, (2014, p.82) Observou-se que a elevação da potência dos geradores fotovoltaicos ocorreu de forma controlada, porém proporcionou efeitos negativos na regulação do sistema de distribuição, sendo prejudicial aos reguladores de tensão ao estimular a frequência de chaveamento de TAPs sob carga que provoca o maior desgaste dos equipamentos. 3 CONCLUSÃO Os reguladores de tensão são muito utilizados no Brasil e apresenta bons resultados em manter os níveis de tensão adequados nos limites especificados, conforme o módulo 8 do PRODIST. O modelo 32 degraus é o mais utilizado na atualidade, pois opera no aumento e diminuição de tensão de forma simultânea. A busca por diversificação da matriz energética e a produção de energia através de fontes renováveis para atender as necessidades dos consumidores e ter um meio ambiente mais equilibrado. Porém, a geração de energia renovável, em especial, a solar fotovoltaica, é realizada próximo das unidades consumidoras, podendo ser instaladas pelos consumidores no decurso da rede de distribuição. As GDs possuem um perfil de potência concentrada e aleatória, 17 então, nesse caso existe uma maior complexidade para o funcionamento das redes de distribuição, necessitando a busca de soluções através das redes inteligentes (smart grids). A geração fotovoltaica gera fluxo reverso de energia em momentos que a geração é maior que o consumo, isso provoca o aumento do perfil da tensão. A grande quantidade de painéis fotovoltaicos pode afetar a tensão em regime permanente, ocasionando impacto na qualidade de energia. Nesse trabalho foram analisados dois estudos de casos de autores diferentes para observação do comportamento nos níveis de tensão na rede de distribuição com a presença de geração fotovoltaica. O objetivo foi identificar a quantidade de atuações na variação TAPs dos reguladores de tensão. A análise das duas pesquisas trouxe a mesma conclusão: a penetração de geração fotovoltaica na rede provoca uma constante mudança de TAPs nos reguladores de tensão, o que leva ao desgaste desses equipamentos, reduz sua vida útil e gera maior necessidade de manutenção dos mesmos. 18 REFERÊNCIAS BEZERRA, M. A. Desenvolvimento hadware in the loop para avaliação de reguladores de tensão na distribuição. Dissertação (mestrado em engenharia elétrica) – UFRJ. Rio de Janeiro, p. 6-23.2019. BLATT, J. J. F. Proposta de instalação de regulador de tensão em uma rede de distribuição primária a partir da análise do perfil de tensão. 2016. Brasil registra participação de mais de 90% de energia proveniente de fontes renováveis. ONS, 2023. Disponível em: < Brasil registra participação de mais de 90% de energia proveniente de fontes renováveis (ons.org.br)>. Acesso em: 31 de mar. 2023. BURATTI, R. 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