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16/10/2014 1 Áreas Naturais Protegidas: Histórico e Evolução no Brasil e no Mundo Profa. Luciana Vieira de Paiva Introdução • Quando nos referimos a Manejo de Áreas Naturais Protegidas, estamos falando de que? PRESERVAÇÃO OU CONSERVAÇÃO ? Introdução • Os dois termos, Preservação e Conservação, geralmente são usados como se fossem a mesma coisa, e na verdade, representam relacionamentos diferentes do ser humano com a natureza. – Preservação – É a manutenção de um ambiente natural como ele é, sem mudança ou extração de recursos e independente do interesse utilitário e do valor econômico que possa conter. É a proteção integral, a “intocabilidade”. – Conservação – É manter todos os componentes ecológicos em boas condições, mas permitindo o uso sustentável. É a administração adequada dos recursos naturais. Introdução Preservação Conservação É necessária quando há risco de perda de Biodiversidade, seja de uma espécie, um ecossistema ou de um bioma como um todo. É a mais utilizada, pois possibilita utilizar os recursos naturais em prol da população humana, mantendo um meio ambiente equilibrado. Conservação • Um meio ambiente equilibrado oferece uma grande variedade de serviços ambientais que podem ser utilizados, direta ou indiretamente, pela população humana • Purificação do ar e da água • Renovação do solo • Reciclagem de nutrientes • Produção de alimentos • Polinização • Renovação de campo • Renovação de florestas • Controle do clima • Controle populacional • Controle de pragas Serviços Naturais • Ar • Água • Solo • Vida (Biodiversidade) • Minerais não-renováveis • Energia renovável (sol, vento, fluxo de água) • Energia não-renovável (combustível fóssil, energia nuclear) Recursos Naturais Conservação Portanto, a sobrevivência de todas as espécies, inclusive da espécie humana, está associada ao bom funcionamento do meio ambiente e das suas relações. 16/10/2014 2 Conservação • Sendo assim, sempre que falarmos de manejo ou estabelecimento de áreas naturais protegidas, estamos nos referindo à Conservação. • A Conservação da Biodiversidade se subdivide em duas: – Conservação Ex situ – Conservação In situ Conservação ex situ É o processo de proteção de espécies em perigo de extinção. Essa proteção ocorre através da remoção de parte da população do hábitat ameaçado e do transporte dessa população para uma nova localização, que pode ser uma outra área selvagem (santuário) ou um cativeiro (zoológicos). Este compreende um dos métodos de conservação de espécies. Conservação in situ Significam a manutenção dos genótipos de plantas, animais e microrganismo nas comunidades as quais pertencem e nos ambientes em que estão adaptados. No Brasil, a proteção in situ da biodiversidade tem sido praticada através de áreas protegidas, áreas de povos indígenas e quilombolas, com a vantagem adicional de permitir a atuação de forças evolucionárias como a mutação, migração, recombinação e seleção natural. Áreas Protegidas (APs) • Definição de áreas protegidas pela IUCN (1994) – É “Uma superfície de terra ou mar consagrada à proteção e manutenção da diversidade biológica, assim como dos recursos naturais e culturais associados, e manejada através de meios jurídicos e outros eficazes”. Áreas Protegidas (APs) • Definição pelo Decreto Legislativo nº 2 de 1994 no Art. 2 – Significa “uma área definida geograficamente que é destinada, ou regulamentada, e administrada para alcançar objetivos específicos de conservação”. Evolução histórica das APs • Criação do Parque Nacional de Yellowstone, nos EUA, em 1872 – O principal marco do estabelecimento do atual conceito de áreas naturais protegidas; – Assegurava as condições ambientais dessas áreas dos efeitos deletérios do desenvolvimento urbano-industrial, prevalecendo a perspectiva preservacionista; – Esta experiência foi replicada por vários países, cabendo destaque ao Canadá (1885), Nova Zelândia (1894), Austrália, África do Sul e México (1898) e Argentina (1903) – No Brasil, influenciou na criação dos Parques Nacionais: Sete Quedas e Ilha do Bananal 16/10/2014 3 • No início, em muitos países, o que fundamentou a existência de áreas naturais protegidas foi a socialização do usufruto, por toda a população, das belezas cênicas existentes nesses territórios. • Com o tempo foram sendo incorporados novos conceitos cada vez mais ligados a Conservação da Biodiversidade das áreas escolhidas e não apenas as belezas cênicas. • Áreas “virgens” deveriam receber proteção total, permitindo em seu interior apenas atividades educativas ou científicas. • A presença humana não deveria ser permitida, só em situações muito particulares e restritas. Evolução histórica das APs • Somente em 1916, foram consolidadas as bases conceituais para a criação e manejo dos Parques Nacionais, as quais compreendiam: – Algo para benefício e desfrute do público, considerando a manutenção para gerações futuras; – Espaço com recursos naturais e históricos; – Processo de manejo voltado à conservação dos recursos naturais. Evolução histórica das APs • Em 1934 é criado o Código Florestal Brasileiro, o qual estabeleceu APs como: – Parque Nacional – Floresta Nacional – Floresta Protetora – Áreas de Preservação em Propriedades Privadas Evolução histórica das APs O cumprimento da lei foi muito aquém do esperado, e além disso, trouxe prejuízo aos recursos florestais, pois o Art. 19 permitia a transformação de florestas heterogêneas em homogêneas (pinus e eucaliptos) • Duas convenções foram importantes, pois discutiram assuntos relacionados à: 1) Fauna e Flora em seu estado natural, 2) proteção da biota e das belezas cênicas, e ainda, 3) definições de quatro categorias de APs. – Convenção realizada em Londres, Inglaterra, em 1933 – Convenção Panamericana realizada em Washington, EUA, em 1940. Evolução histórica das APs • As quatro categorias de APs definidas foram: – Parque Nacional; – Reserva Nacional; – Monumento Natural; – Reserva Restrita de Regiões Virgens. – Nessa Convenção Panamericana os Parques Nacionais foram definidos como: Evolução histórica das APs “Áreas que deveriam ser estabelecidas para proteção e conservação das belezas cênicas naturais e da fauna e flora de importância nacional, beneficiando o público que poderia usufruir de paisagens naturais colocadas sob superintendência oficial”. Parque Nacional da Serra das Confusões – Bom Jesus, sul do Piauí • Em 1937 – foi criado no Brasil o Parque Nacional de Itatiaia com o objetivo de conservar a paisagem ali existente. • Em 1948 – foi promovida pela Unesco a Conferência de Fontainebleau, na França que envolveu 33 países, e instituiu a União Internacional para a Proteção da Natureza (IUNP atual IUCN). – O Congresso Brasileiro aprovou as disposições da Convenção para proteção da flora, fauna e das belezas cênicas naturais da América. Evolução histórica das APs 16/10/2014 4 • Em 1960 – Instalado dentro da IUCN, a Comissão de Parques Nacionais e Áreas Protegidas, com os objetivos de promover e monitorar esses espaços e orientar o manejo dessas áreas. Evolução histórica das APs Lançado o Red Data Book – listava 135 espécies animais ameaçadas de extinção, sobretudo os mamíferos mais populares e de maior porte. • Em 1962 – Aconteceu a 1ª Conferência Mundial sobre Parques Nacionais e, além de direcionarem suas atenções para os ambientes marinhos, também discutiram sobre o tema: Manejo das áreas protegidas e a possibilidade de exploração econômica desses locais. Evolução histórica das APs • Em 1965 – No Brasil, teve a edição de um novo Código Florestal, onde houve mudanças em relação as UCs, com divisão entre:– Restritivas ou de uso indireto – não permitiam a exploração dos Recursos Naturais: • Parques Nacionais • Reservas Biológicas – Não Restritivas ou de uso direto – permitiam a exploração: • Florestas Nacionais, • Florestas Protetoras • Florestas Remanescentes, • Reservas Florestais • Parques de Caça Florestais Evolução histórica das APs • Em 1967 – Foi criado no Brasil, o Instituto Brasileiro para o Desenvolvimento Florestal (IBDF) que tinha por objetivos: – Orientar, coordenar e executar com vistas ao uso racional e a conservação dos Recursos Naturais renováveis do país. Evolução histórica das APs • Em 1968 – Ocorreu, na França, a Conferência da Biosfera, onde discutiram sobre: – Impactos; – Uso e Conservação mais racionais; – Convencer nações menos desenvolvidas da necessidade da conservação e, ainda, – Definição do termo Biosfera. Biosfera ficou definida como: Parte do mundo no qual a vida pode existir, incluindo porções da litosfera, da hidrosfera e da atmosfera. Evolução histórica das APs • Em 1969 – Em Nova Delhi, a 10ª Assembléia Geral da IUCN, onde discutiram que um parque nacional deveria ter uma área relativamente extensa. • Na Década de 70 – tiveram inúmeros eventos importantes e, conflitos entre populações e APs: – 1971, em Rasmar, Irã – houve a Convenção sobre Zonas Úmidas de Importância Internacional; – 1972, em Estolcomo, Suécia – houve a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano; Evolução histórica das APs Nesses eventos surgiram as primeiras noções de ecodesenvolvimento (desenvolvimento sustentável), 16/10/2014 5 • Década de 70 – No Brasil – Criação da Secretaria do Meio Ambiente – SEMA (em 1973) – orientada para a conservação do meio ambiente e o uso racional dos recursos naturais. – IBDF propôs, em 1979, a I Etapa do Plano de Sistemas de UCs para o Brasil. Considerava a região amazônica como prioritária para a criação de novas UCs. – Promulgado o regulamento dos parques nacionais através do Decreto nº 84.017 / 79, que introduziu a necessidade da elaboração de planos de manejo para todos os PNs. Evolução histórica das APs Evolução histórica das APs • Entendia-se por Planos de Manejo: Projeto que utilize técnicas de planejamento ecológico para determinar o zoneamento de um Parque Nacional, caracterizando cada uma de suas zonas e propondo seu desenvolvimento físico de acordo com suas finalidades. • Ainda na Década de 70 – Na África, muitos grupos étnicos foram desalojados para a implantação de APs; – No Canadá, em 1972, houve a 11ª Assembléia Geral da IUCN, que incorporou, a partir da definição de Zoneamento dos Parques Nacionais, a exploração dos recursos naturais e a ocupação humana nessas áreas. – Mesmo com o reconhecimento de que a população humana e sua cultura fazia parte do ecossistema, ainda assim, a criação de alguns parques levava a realocação forçada de grupos étnicos. Evolução histórica das APs • Em 1975 – Na 12ª Assembléia Geral da IUCN, em Zaire: • Houve um alerta para que a criação das APs não resultasse em desagregação cultural e econômica dos grupos que não afetavam a integridade ecológica da área. Evolução histórica das APs • Em 1978 – A Comissão de Parques Nacionais e Áreas Protegidas publicou a definição de um sistema internacional de classificação de áreas protegidas, compreendendo 10 categorias de manejo: • Reserva Científica; • Parque Nacional; • Monumento Natural (Monumento Nacional); • Reserva de Conservação da Natureza (Reserva Natural Manejada ou Santuário da Vida Silvestre); • Paisagem Protegida; • Reserva de Recursos Naturais; • Reserva Antropológica; • Área Natural Manejada com Finalidade de Utilização Múltipla, • Reserva da Biosfera e, • Sítio Natural do Patrimônio Mundial. Evolução histórica das APs • Em 1980, a IUCN / PNUMA / WWF apresentaram o texto: Estratégia Mundial para a Conservação, que apresentou três objetivos principais: – Manter os processos ecológicos essenciais aos sistemas vitais; – Preservar a diversidade genética; – Assegurar o aproveitamento sustentado das espécies e dos ecossistemas. • Estado de SP inicia o processo de tombamento das áreas remanescentes de Mata Atlântica Evolução histórica das APs 16/10/2014 6 • Em 1982, em Bali, Indonésia, houve o III Congresso Mundial de Parques, que foi considerado importante devido suas discussões: – Questões relacionadas: • Às áreas naturais protegidas; • Ao desenvolvimento regional; • À importância do envolvimento das comunidades locais e povos indígenas. Evolução histórica das APs À partir do documento de Bali, essas populações passaram a ser consideradas atores atuantes no manejo dos recursos naturais e não apenas usuárias, fato importante para o estabelecimento legal de áreas protegidas com ocupação humana. • Em 1989 – No Brasil, foi criado o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), para unificar a política ambiental brasileira e corrigir erros, principalmente, na administração das UCs. • Neste ano, o IBAMA e a Fundação para a Conservação da Natureza (Fuanatua) elaboraram uma proposta de Sistema Nacional de UCs (SNUC), que serviu de base para o projeto de lei nº 9.985 / 00. Evolução histórica das APs • Em 1992, em Caracas, Venezuela, houve o 4º Congresso Mundial de Parques, que discutiu: – A importância da integração das APs aos planos de desenvolvimento dos diferentes países; – A necessidade de mais APs; – A alteração dos sistemas de manejo. Evolução histórica das APs Destino das APs vinculado ao destino das populações locais: “...a chave da proteção de paisagens apreciadas está nas comunidades que as chamam de lar” (IUCN, 1993) • Em 1994 – em Buenos Aires, Argentina, houve a 19ª Assembléia Geral da IUCN, onde foi definido um novo sistema de classificação de áreas naturais protegidas, composto por seis categorias de manejo: – I. Proteção Integral (Reserva Natural, Área Natural Silvestre). – II. Conservação de Ecossistemas e Turismo (Parque Nacional) – III. Conservação das Características Naturais (Monumento Natural) – IV. Conservação Através de Manejo (Área de Manejo de Habitat/Espécies) – V. Conservação de Paisagens Terrestres, Marinhas e Lazer (Paisagens Terrestres e Marinhas Protegidas) – VI. Utilização Sustentável dos Ecossistemas Naturais (Área Protegida com Recursos Manejados) Evolução histórica das APs • Em 1997, em Albany, Austrália houve a Conferência das Áreas Protegidas no Século XXI, onde: – Apresentaram a relevância das áreas protegidas nos aspectos econômicos, sociais e ambientais da sociedade atual e, – ficaram definidas os principais desafios a serem enfrentados pelas áreas naturais protegidas: • Mudança de enfoque das áreas naturais protegidas de ilhas para redes; • Necessidade de manejo por e com as comunidades locais; • Aumento dos padrões de gestão e capacitação para enfrentamento dos desafios identificados. Evolução histórica das APs • Resumo: – A partir da década de 50, com destaque para a década de 70, ocorreu uma impressionante expansão da criação de APs: • 1300 novos parques. • Nos anos 70 a expansão foi de + de 80% 2/3 deste total nos países em desenvolvimento; – Essa expansão ocorreu em resposta a preocupação da comunidade internacional com a rápida perda de biodiversidade; – Além disso, os governantes passaram a ver as APs como: • Potenciais fontes de renda por meio do turismo; • Como ferramenta política conveniente para o controle dos recursos florestais. Evolução histórica das APs 16/10/2014 7 • Resumo: – Verifica-se que, a partir da constituição de uma agenda internacional para discussão das questões relacionadas à proteção de Áreas Naturais, houve a evolução tanto dosconceitos quanto do planejamento, manejo e gestão desses locais, permitindo o estabelecimento de um sistema de caráter mundial. – A rede de APs em todo o mundo totaliza mais de 4 milhões de km2: • Europa – 3,9% • União Soviética – 2,5% • América do Norte – 8,1% • América do Sul – 6,1% • África – 6,5% • Ásia – 4,3% • Austrália – 4,3% Evolução histórica das APs Representação percentual de áreas protegidas por continente • Segundo Primack e Rodrigues (2001) até 1993 existiam: CURIOSIDADE 8.619 APs no mundo Equivalente à 7.922.660 km2 5,9% da superfície seca da Terra
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