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2 CAPÍTULO Noções de material genético e núcleo Muitas características dos seres vivos são determinadas pelo material genético herdado dos pais. O tipo de dentição das onças é geneticamente determinado, sendo adaptativo à sua nutrição carnívora. Genes também são responsáveis pela determi- nação da cor dos pelos desses animais. A onça-pintada (Panthera onca) é o maior felino das Américas. Já está extinta nos Estados Unidos e no Uruguai. No Brasil, já não é mais encontrada nos Pampas e está ameaçada de extinção no restante do país. O desmatamento e o abate desses felinos como retaliação por terem comido animais domésticos são as maiores causas do perigo de extinção. FRENTE 1 P H O T O C E C H / IS T O C K P H O T O .C O M BIOLOGIA Capítulo 2 Noções de material genético e núcleo22 Material genético e núcleo Organização do núcleo O núcleo é delimitado pela carioteca ou envoltório nuclear. A carioteca é um envoltório duplo, com consti- tuição lipoproteica e dotada de poros funcionais, os quais permitem de modo seletivo o intercâmbio de materiais com o citoplasma. A carioteca encontra-se ligada ao retículo endoplasmático. O interior do núcleo é preenchido por um coloide, denominado nucleoplasma ou cariolinfa. O material genético nuclear é a cromatina, formada por cromonemas. Há também o nucléolo, uma estrutura densa e arredondada, constituída por alguns segmentos de cromonemas, proteínas e grande quantidade de RNA ribossômico (Fig. 1). Esse tipo de RNA (ácido ribonucleico) é gerado pela atividade dos segmentos de cromatina; o RNA ribossômico entra na composição dos ribossomos, estruturas responsáveis pela síntese de proteínas. Poro Cromatina Carioteca Ribossomos Nucléolo Retículo endoplasmático Núcleo Cariolinfa Fig. 1 Componentes do núcleo de uma célula. Cromatina Uma célula somática humana apresenta 46 filamentos de cromatina, também denominados cromonemas. Cada cromonema tem uma imensa molécula de DNA e proteínas associadas (as histonas). O material genético de procarion- tes tem DNA circular (não apresenta extremidades livres) e não possui histonas associadas. Um cromonema tem inúmeros genes; uma célula hu- mana possui cerca de 30 mil genes. Algumas das proteínas codificadas pelos genes são enzimas que controlam as reações químicas do metabolismo. Assim, o núcleo é res- ponsável pelo comando do metabolismo celular. A estrutura de um cromonema envolve uma molécula de DNA (ácido desoxirribonucleico) que se enrola, de es- paço em espaço, a grupos de 8 moléculas de histonas. O conjunto constituído por DNA e histonas que ele circunda recebe o nome de nucleossomo (Fig. 2). DNA Nucleossomo (8 moléculas de histonas) Histonas Fig. 2 Organização de um filamento de cromatina (cromonema). A presença de histonas confere mais estabilidade à molécula de DNA e é útil na condensação do material ge- nético, processo que ocorre durante a divisão celular. Ciclo celular Muitas células somáticas passam por duas grandes eta- pas – a intérfase e a mitose – que constituem o chamado ciclo celular (Fig. 3). Intérfase é o período em que a célula não está em divisão celular, e pode estar em crescimento, armazenando materiais e sintetizando proteínas. É nesse período que a célula duplica seu DNA. Prófase Metáfase Anáfase Telófase Intérfase (não está em divisão) Divisão (meiose ou mitose) Fig. 3 Etapas do ciclo celular. Mitose constitui a divisão celular propriamente dita. Esse processo gera duas células-filhas geneticamente idênticas entre si e a célula-mãe que lhes deu origem. A mitose é, didaticamente, dividida em quatro fases: prófase, metáfase, anáfase e telófase. Há outra modalidade de divisão celular, a meiose, que se relaciona com a formação de células reprodutoras e será discutida mais adiante. O material genético no ciclo celular Durante a intérfase, os filamentos de cromatina es- tão descondensados. Veremos que isso significa maior atividade do DNA, como, por exemplo, na produção de RNA mensageiro. Em algumas situações, o DNA de cada cromonema duplica-se (sofre replicação). Isso gera dois filamentos iguais e unidos, denominados cromátides- -irmãs. Duas cromátides-irmãs ficam ligadas por uma região conhecida como centrômero. Quando a célula entra em mitose, o material gené- tico sofre condensação. Os filamentos tornam-se mais curtos e espessos; com isso, ficam também mais visíveis ao microscópio óptico. Pode-se dizer que cromossomos e cromonemas representam a mesma estrutura (filamen- tos de material genético) em momentos diferentes do ciclo celular e com aspecto característico (condensado/ descondensado). Em certo momento da mitose, o centrômero duplica-se e as cromátides separam-se. Os dois filamentos resultan- tes são denominados cromossomos-irmãos. Cada um dos cromossomos-irmãos é conduzido para uma célula-filha diferente. Então ocorre a descondensação do cromossomo, completando o processo. F R E N T E 1 23 Um aspecto importante envolvido no ciclo celu- lar é a determinação do número de cromossomos. O procedimento prático consiste em contar o número de centrômeros. Assim, um cromossomo duplicado tem duas cromátides de um único centrômero. No entanto, dois cromossomos-irmãos que foram recentemente separados apresentam cada qual um centrômero, gerando no total dois centrômeros. O centrômero é uma região dos cromossomos que não sofre duplicação durante a intérfase; isso só ocorre em uma das fases finais da divisão celular (a metáfase). Durante a divisão celular, o centrômero não sofre con- densação. Trata-se, então, de uma região com aspecto mais delgado do que o restante do cromossomo; essa região é conhecida como constrição primária. Alguns cromossomos têm outra área que não sofre condensa- ção: é a constrição secundária. A parte do cromossomo que segue após a constrição secundária é denominada região satélite (Fig. 5). Em alguns cromossomos, essa parte é a região organizadora do nucléolo, pois é uma parte envolvida com intensa síntese de RNA ribossômico, componente do nucléolo. Região satélite (sat)Constrição secundária Centrômero Constrição primária Fig. 5 Um cromossomo apresenta centrômero (constrição primária); há cromos- somos também dotados de constrição secundária. Tipos de células: haploides e diploides As células reprodutoras do ser humano são os gametas. O gameta masculino (espermatozoide) tem 23 cromos- somos; o gameta feminino (óvulo) também possui 23 cromossomos. Fecundação ou fertilização é o encontro dos gametas masculino e feminino, seguido da união de seus núcleos; o resultado é a formação da célula-ovo ou zigoto, que apresenta 46 cromossomos (23 de origem materna e 23 de origem paterna). O zigoto sofre mitose, gerando duas células que também se dividem e isso acaba originando os trilhões de células componentes de um novo indivíduo; cada uma dessas células também possui 46 cromossomos. O zigoto e as células componentes do organismo (cé- lulas somáticas) têm o dobro do número de cromossomos presentes nos gametas. Zigoto e células somáticas têm “número duplo” de cromossomos, sendo denominados células diploides. Gametas possuem “número simples” de cromossomos e são designados como células haploides (Fig. 6). O número haploide de cromossomos é represen- tado por n, enquanto o número diploide é indicado por 2n. Espermatozoide 23Óvulo Fecundação Zigoto Mitoses Indivíduo (tem células somáticas com 46 cromossomos) Células haploides Células diploides n 2n Fig. 6 Células haploides e células diploides. Fig. 4 Modificações do material genético durante o ciclo celular. Cromatina Cromátides Cromátides Genes Centrômero Centrômero Rep lica ção Descondensação Condensação Sep araç ão Cromossomo duplicadoCentrômeros Cromossomos-irmãos A B A B A B A B A B A B A B Centrômeros BIOLOGIA Capítulo 2 Noções de material genético e núcleo24 Homólogos e alelos Vamos considerar uma espécie hipotética de animal que apresenta n = 2. Isso significa que seus gametas (células haploides) possuem dois cromossomose que suas células diploides (2n), como o zigoto, têm quatro cromossomos. Os dois cromossomos de um espermatozoide são diferentes entre si. O óvulo dessa espécie apresenta os mesmos tipos de cromossomos presentes no espermatozoi- de. Quando os gametas se unem, o zigoto formado possui dois conjuntos cromossômicos, um de origem paterna e ou- tro de origem materna. Podemos identificar, no zigoto e nas células somáticas, pares de cromossomos que apresentam o mesmo aspecto: são os cromossomos homólogos (Fig. 7). Fig. 7 Cromossomos homólogos: células diploides e células haploides. Espermatozoide (n = 2) Óvulo (n = 2) Fecundação Zigoto (2n = 4) Cromossomos homólogos Cromossomos homólogos Cromossomos homólogos têm a mesma forma e, ge- ralmente, o mesmo tamanho; um é proveniente do pai e o outro da mãe. Uma célula diploide tem pares de cromosso- mos homólogos; uma célula haploide tem um representante de cada par de homólogos. Plantas podem ter células triploi- des (3n), que têm trios de cromossomos homólogos (Fig. 8). Cromossomos homólogos n 2n 3n Fig. 8 Célula haploide (n) apresenta um representante de cada tipo de cromos- somo. Em células diploides (2n), há um par de cada tipo de cromossomo. Células triploides (3n) possuem trios de cada tipo de cromossomo. Em um par de cromossomos homólogos, há genes res- ponsáveis pela determinação das mesmas características. A posição que esses genes ocupam no cromossomo é seu locus (o plural é loci). Dois genes, “A” e “B”, ocupam diferentes loci no mesmo cromossomo, cada qual em uma extremidade (Fig. 9). Genes “A” “B” Fig. 9 Locus é a posição do gene no cromossomo. Em uma situação hipotética, o gene “B” poderia ter duas variações: B, que determina pelo preto, e b, que condiciona pelo marrom. Dizemos que B e b são formas alélicas de um mesmo gene; de modo simplificado, pode- -se dizer que B e b são alelos. Além disso, alelos ocupam a mesma posição (locus) em cromossomos homólogos. Por outro lado, o gene “A” poderia ter dois alelos: um de- termina pelo ondulado e outro condiciona pelo liso (Fig. 10). a b A B Alelos Alelos A: confere pelo ondulado a: confere pelo liso B: confere pelo preto b: confere pelo marrom Cromossomos homólogos Fig. 10 Alelos e cromossomos homólogos e as características que determinam. Conclusão: alelos são genes que ocupam a mesma posição em cromossomos homólogos (locus) e são res- ponsáveis pela determinação da mesma característica. B e b, por exemplo, determinam a cor do pelo (B – preto e b – marrom). Noções de gene Como o material genético funciona Gene é um segmento de DNA que comanda a produ- ção de uma proteína. O DNA componente do gene serve de molde para a produção de uma molécula de RNA (é o chamado RNA mensageiro – ). O RNAm liga-se a vários ribossomos presentes no citoplasma e orienta a síntese de uma proteína específica, que pode ser uma enzima (Fig. 11). RNAm RNAm RNAm Proteína Proteína (enzima) Catalisa reação química específica DNA Aminoácidos Ribossomo DNA Citoplasma Núcleo Síntese de RNAm no núcleo Fig. 11 Mecanismo de controle de reações químicas pelo DNA nuclear.
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