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F R E N T E 2 93 Após a primeira edição de A origem das espécies, Darwin tentou explicar melhor seu trabalho; chegou mesmo a utilizar conceitos lamarckistas, como a “lei da herança dos caracteres adquiridos”. Darwin morreu em 1882 e não conseguiu elaborar uma explicação satisfatória para a va- riabilidade dos seres vivos. Isso só foi feito depois de 1900, com o auxílio da genética. Surge, então, o darwinismo am- pliado, o neodarwinismo ou teoria sintética da evolução (Fig. 21); trata-se da reunião de duas áreas da biologia: a evo- lução e a genética, ampliando a compreensão da natureza. Mutações da espécie Geram Gera Recombinação genética Adaptação Seleção natural Fig. 21 Neodarwinismo, ou Teoria sintética da evolução, e os processos de amplia- ção da variabilidade dos seres vivos. Atualmente sabemos que a variabilidade é determinada por vários fatores, como a formação de gametas por meio- se, a fecundação e as mutações. A Frente 1 ocupa-se de explicar tudo isso, discutindo uma noção sobre mutações; a meiose será analisada detalhadamente (incluindo os fe- nômenos da segregação independente e o crossing-over ou recombinação genética). Mutações geram novos tipos de genes e constituem a fonte básica de variabilidade, que é ampliada pela recom- binação genética. Mutações ocorrem aleatoriamente; não dependem da necessidade dos seres vivos. O ambiente atua sobre o organismo portador da mutação pela seleção natural, assim, mutações favoráveis são preservadas na po- pulação. A seguir são apresentados os exemplos clássicos de neodarwinismo. Insetos e DDT O DDT foi o primeiro inseticida amplamente usado para combater insetos nocivos. Sua aplicação em larga escala ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial, na Europa, para combater piolhos, agentes transmissores de tifo. Pos- teriormente, o DDT foi empregado no combate de pragas agrícolas e no controle de insetos transmissores de outras doenças, como malária e febre amarela. No entanto, com o tempo, o DDT deixou de ter a mesma eficiência; algumas populações de insetos sobreviviam mesmo com aplicações contínuas do produto. Consideremos uma população de mosquitos trans- missores de malária. As aplicações do DDT mostram-se eficientes, já que ocorre uma redução considerável dos mosquitos. Com o tempo e com seguidas aplicações de DDT, os mosquitos já não são mais afetados. Devemos, então, considerar dois tipos de mosquito: os sensíveis (morrem com a aplicação do produto) e os resistentes (sobrevivem na presença do DDT). A explicação para o ocorrido é que no início havia grande quantidade de mosquitos sensíveis e um pequeno número de resistentes; isso caracteriza a variabilidade da espécie. Seleção sexual Os indivíduos mais adaptados apresentam maior pro- babilidade de sobrevivência, tendem a viver mais tempo e a deixar maior número de descendentes. Dessa maneira, suas características são mantidas nas gerações seguintes. Darwin descreveu outra modalidade de seleção entre muitas espécies, a seleção sexual. Os indivíduos que con- seguem se acasalar também exibem características que permitem atrair parceiros sexuais, como a presença de coloração vistosa e comportamentos apropriados. Comparação Darwin e Lamarck propuseram explicações evolu- cionistas para o processo de adaptação dos seres vivos ao ambiente. Lamarck considerava que o ambiente gera necessidade de adaptação e desencadeia um esforço, pelo qual a espécie modifica-se e torna-se adaptada ao meio. Pode-se dizer que o mecanismo proposto por Lamarck é um processo de adaptação ativa, pois envolve esforço dos indivíduos. Darwin considera que o ambiente promove a sele- ção dos mais adaptados. A adaptação não é produto do esforço dos organismos; isso significa que o mecanismo proposto por Darwin é um processo de adaptação pas- siva (Fig. 20). O bico longo do beija-flor é uma adaptação à obtenção de néctar contido no fundo de flores que apresentam a forma de tubo. Essa adaptação é descrita de maneira dife- rente, segundo a visão darwinista ou lamarckista. Darwin Lamarck Ambiente Ambiente Gera necessidade (esforço) Atua sobre a variabilidade Adaptação ativa Adaptação passiva Fig. 20 O papel do ambiente na visão de Lamarck e de Darwin. Frase lamarckista: O beija-flor tem bico longo para alcan- çar o néctar do fundo das flores. O significado dessa frase é: o beija-flor tem bico longo porque tem necessidade de alcançar o néctar do fundo das flores. Frase darwinista: O beija-flor pode alcançar o néctar do fundo das flores porque tem bico longo. Neodarwinismo ou teoria sintética da evolução A publicação do livro A origem das espécies foi um grande sucesso em termos de vendas, em muitos países. No entanto, o livro contrariava a visão fixista predominante da época e isso gerou muitas críticas desfavoráveis. Um ponto de fragilidade do trabalho de Darwin era o processo de surgimento de variabilidade. Esse assunto é explica- do pela genética, que efetivamente começa a existir para o mundo em 1900, com a redescoberta dos trabalhos de Mendel, considerado o pai da genética, cujos trabalhos permaneceram desconhecidos durante sua vida. BIOLOGIA Capítulo 1 Evolução: conceitos e evidências94 • “as bactérias acostumaram-se com o antibiótico”; • “as bactérias adquiriram resistência ao antibiótico”. Na verdade, a explicação é a mesma que foi utilizada para os mosquitos e o DDT: na população existiam bactérias sensíveis ao antibiótico e bactérias mutantes resistentes; o antibiótico selecionou as resistentes, que passaram a pre- dominar na população. Dessa forma, o antibiótico perdeu sua eficácia (Fig. 23). Variabilidade Antibiótico como agente de seleção natural Bactérias resistentes (mutantes) Bactérias sensíveis Adaptação População final População inicial Os sensíveis gerados são eliminados Fig. 23 A adaptação de bactérias a um antibiótico é explicada pelo neo darwinismo. Mariposas Considere um exemplo hipotético. Em uma floresta as árvores têm os troncos cobertos de liquens, apresentando, por isso, coloração clara. Nesse ambiente há uma espécie de mariposa com duas variedades: claras e escuras (tam- bém chamada melânica). Pássaros predadores avistam com mais facilidade as mariposas escuras, e elas são devoradas em maior quantidade. Com isso, passam a predominar as mariposas claras, mais bem adaptadas ao ambiente. Caso uma fábrica seja instalada nas imediações e ela libere fuligem para o ar, os troncos das árvores fi- cam mais escuros. Nessa condição, as mariposas claras ficam mais destacadas e são devoradas pelos pássaros predadores. As mariposas escuras predominam nessas condições ambientais; são as mais adaptadas a esta nova condição ambiental (Fig. 24). A aplicação de DDT eliminou os indivíduos sensíveis, mas os resistentes sobreviveram e se multiplicaram, passando a predominar; o DDT seria correspondente a um agente de seleção natural, e o predomínio de mosquitos resistentes corresponde à adaptação da espécie ao ambiente. Aqui vale a explicação darwinista: A variabilidade é submetida à seleção natural e pas- sam a predominar os mais adaptados. Os indivíduos resistentes estavam presentes na popu- lação antes de ser feita a aplicação de DDT. Os resistentes são mutantes; eles não se tornaram mutantes porque ti- nham necessidade de adaptar-se ao inseticida (Fig. 22). Variabilidade DDT como agente de seleção natural Adaptação Os sensíveis gerados são eliminados Mosquitos resistentes (mutantes) Mosquitos sensíveis População inicial População final Fig. 22 A adaptação de insetos a um inseticida é explicada pelo neodarwinismo. Enfim, pode-se concluir que, com o uso prolongado do DDT, ocorreu a seleção de mutantes resistentes. Bactérias e antibióticos Bactérias podem causar inúmeras doenças em seres humanos, como sífilis, tuberculose, tétano entre outras. O tratamento dessas doenças normalmente é realizado com o uso de antibióticos. Vamos supor que uma doença bacteriana específica seja tratada com eficiência empre- gando-se certo antibiótico. Depoisde alguns anos, é comum que o antibiótico deixe de funcionar em pacien- tes que apresentam aquela mesma doença bacteriana repetidas vezes. Por que isso ocorre? Muitas vezes são dadas explicações incorretas: F R E N T E 2 95 No início deste item está escrito que o exemplo é hipotético. Isso se deve ao fato de o clássico caso das mariposas da Inglaterra ter perdido sua credibilidade. O trabalho de Kettlewell realizado na década de 1950, na Inglaterra, não teve o rigor científico adequado, pois foram empregados modelos de papel e não foi verificada a ação de pássaros em mariposas reais. (mariposas claras e escuras) Agente de seleção natural Predomínio de mariposas claras Predomínio de mariposas escuras Variabilidade na população Ausência de poluição (troncos claros) Presença de poluição (troncos escuros) Adaptação Pássaros predadores Pássaros predadores Condição ambiental Fig. 24 O predomínio de mariposas escuras em troncos escuros é uma adaptação ao ambiente. Revisando 1 Relacione evolucionismo ou fixismo aos seguintes aspectos. a) Seres vivos sem modificações ao longo do tempo: b) Seres vivos com modificações ao longo do tempo: 2 Relacione evolucionismo ou fixismo aos seguintes tipos de adaptação. a) Dinâmica: b) Estática: 3 Defina fósseis. 4 Cite três tipos de evidências de evolução baseados em semelhanças entre seres vivos. BIOLOGIA Capítulo 1 Evolução: conceitos e evidências96 5 O que são estruturas vestigiais? 6 Cite as duas “leis” que constituem o fundamento do trabalho de Lamarck sobre evolução. 7 Para Lamarck a de adaptação desencadeia as mudanças adaptativas nos seres vivos. Preencha corretamente a frase anterior. 8 Qual é o conceito central do trabalho de Darwin acerca da evolução dos seres vivos? Que outro cientista chegou a uma conclusão semelhante à de Darwin? 9 O ser humano modifica espécies domésticas principalmente por meios de cruzamentos orientados. Como é denomi- nado esse processo? 10 Na natureza, indivíduos podem ter caracteres capazes de atrair parceiros para o acasalamento. Como se chama esse mecanismo? 11 Compare darwinismo e lamarckismo com base no papel do ambiente para a adaptação dos seres vivos. 12 Qual é a outra denominação do neodarwinismo? Qual foi o ponto do darwinismo que foi completado com o neodarwinismo? Exercícios propostos 1 PUC-RS (Adapt.) Responda à questão, somando os va- lores dos itens numerados de 1 a 4, correspondentes a estudos que são úteis na investigação da evolução biológica de um táxon. 1. Anatomia e embriologia comparadas. 2. Similaridade com o DNA de outros táxons. 3. Registros paleontológicos (fósseis). 4. Existência de órgãos vestigiais. A alternativa que contém o somatório de todos os itens corretos é: A 6 B 7 8 D 9 E 10 2 UFSC O quadro, a seguir, mostra a comparação do número de aminoácidos diferentes, nas cadeias po- lipeptídicas da hemoglobina de vários mamíferos. A análise bioquímica de polipeptídeos e proteínas, além de outras evidências, permite aos cientistas traçarem as linhas evolutivas dos diferentes grupos de seres vivos. Espécies comparadas Número de aminoácidos diferentes homem chimpanzé 0 homem gorila 2 homem macaco Rhesus 12 macaco Rhesus gorila 14 homem cavalo 43 cavalo gorila 45
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