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F R E N T E 1 19 jo s e m o ra e s /i S to c k p h o to .c o mEssa situação só se altera quando os raios solares voltam a aquecer a região, fazendo com que o ar frio próximo ao solo rompa a camada tampão de ar quente que havia se formado Durante o inverno, como o sol demora mais a esquentar o ar, a inversão térmica pode ser mais acentuada e prolongada. Como dito, esse processo é natural e não apresentaria, a princípio, nenhum problema No entanto, quando uma re- gião onde ocorre inversão térmica é muito industrializada e urbanizada e, portanto, a poluição atmosférica é elevada , a camada de ar frio dificulta a dispersão dos poluentes Desse modo, forma-se o que se costuma denominar smog, ou névoa seca, um conjunto de poeira e poluentes gasosos Uma consequência do smog durante o inverno (época de intensificação da inversão térmica) é o aumento da incidência de doenças respiratórias. Fig. 11 Poluição concentrada nas camadas mais baixas da atmosfera na cidade de São Paulo (SP), em decorrência da inversão térmica. Foto de 2012. Chuvas ácidas As águas das chuvas que apresentam pH abaixo de 4,5 são chamadas de chuva ácida. Sua formação ocorre devido à poluição atmosférica gerada por dióxido de enxofre (SO2) e óxidos de azoto (NO, NO2 e N2O5). Tais gases são liberados pela queima de combustíveis fósseis (especialmente o carvão mineral) e pelas atividades industriais em geral. Chuva ácida: consequências Queda de partículas (precipitação seca) Ácido nítrico (HNO 3 ) Vapor de água e nuvens Chuva ácida Neblina ácida Neve ácida Emissão de dióxido de enxofre e óxido de azoto Condensação da água Precipitação seca Danos na vegetação Água do degelo ácida Desaparecimento da vida aquática Lixiviação ácida Toxicidade pelo alumínio Fonte: PETRIN, Natália. Chuva ácida In: TODO Estudo Disponível em: www.todoestudo.com.br/geograa/chuva-acida Acesso em: 24 fev 2021 Fig. 12 As piores consequências das chuvas ácidas são a degradação da vegetação (natural ou agrícola) e a poluição dos recursos hídricos, já que a água da chuva alimenta rios e lençóis freáticos. O que ocorre, nesse caso, é que o vapor de água reage com os gases poluentes, de modo que a chuva formada contém ácidos, como o sulfúrico (H2SO4), o sulfuroso (H2SO3), o nitroso (HNO2) e o nítrico (HNO3), diluídos nela GEOGRAFIA Capítulo 10 Urbanização II20 Enchentes e alagamentos urbanos Alguns problemas associados à estação chuvosa nas grandes cidades são as enchentes, os alagamentos, as inundações e as enxurradas, que afetam, principalmente, as populações mais pobres que habitam áreas de risco. A possibilidade de perder os móveis, os documentos pessoais, as roupas, a casa ou até a vida a cada chuva forte gera uma tensão constante nessas pessoas. Além disso, aumentam-se a proliferação de doenças como a leptospirose, transmitida pela urina de rato, e a contaminação da água com rejeitos tóxicos dispostos inadequadamente sobre o solo. Alagamento: corresponde ao acúmulo momentâneo de água em determinadas localidades em razão de falhas no sistema de drenagem. Enchente: também chamada de cheia, pode ser definida como a ele vação do nível da água no canal de drenagem devido ao aumento da vazão, mas sem extravasar. Enxurrada: é o escoamento superficial fortemente concentrado e com grande energia de transporte Inundação: refere-se ao transbordamento das águas de determinado curso de água, impactando a planície de inundação. Apesar de terem uma relação direta com as fortes chuvas, as enchentes nas grandes cidades, em geral, não podem ser vistas como catástrofes naturais; pelo contrário, devem ser avaliadas como problemas socioambientais. Os alagamentos não são consequência apenas das chuvas, mas também da relação entre elas e o solo. Normal- mente, a maior parte da água das chuvas deveria se infiltrar no solo e o restante ser escoado de modo lento, em razão da desaceleração promovida pela cobertura vegetal. Mas, como na cidade essa cobertura é removida e grande parte do solo é impermeabilizado pelo asfaltamento de ruas e concretagem de praças e calçadas, não há infiltração, e seu escoamento superficial aumenta em volume e veloci- dade, chegando em maior quantidade e mais rapidamente às áreas baixas; assim, a vazão da água é muito maior do que seria em outra situação de uso do solo. Calcula-se que, em áreas com vegetação preservada, cerca de 10% da água da chuva escoa superficialmente e, nas grandes cidades com alto índice de impermeabilização, o escoamento é de pouco mais de 70% da água precipitada Vazão das diferentes coberturas do solo Urbana V a z ã o Agricultura Agroflorestal Floresta Tempo Fonte: UFRRJ. Mapa mental dos problemas das enchentes urbanas. Disponível em: www.ufrrj. br/institutos/it/de/acidentes/mma10.htm. Acesso em: 24 fev. 2021 Fig. 13 Áreas urbanas têm maior escoamento superficial, enquanto áreas menos im- permeabilizadas tendem à maior absorção de água pelo solo e em um tempo maior. Em relação às áreas e às pessoas mais afetadas, a água corre para onde, naturalmente, ela deve ir, ou seja, para os rios e córregos Em regiões de clima tropical, esses corpos de água apresentam várzeas, que são áreas de ala- gamento natural durante o período de chuvas. No entanto, a expansão do mercado imobiliário, em diversas ocasiões, não respeitou este ciclo, levando à ocupação por sistemas de transporte e, principalmente, loteamentos populares. Por serem locais de risco, esses loteamentos são também menos valorizados e comportam a população mais pobre, que acaba sendo a mais afetada pelas enchentes Em síntese, o que acontece é: y Retificação dos cursos dos rios e ocupação de suas antigas áreas de inundação periódica. y Assoreamento das calhas dos rios pelos sedimentos dos solos que ficaram expostos com o desmatamento, sobras do intenso processo de construção civil e lixos sólidos. y Impermeabilização do solo por edificações e pavi- mentação, ocasionando a menor infiltração da água e, assim, diminuindo a capacidade de recarga dos aquíferos e aumentando o volume e a velocidade do escoamento superficial. y Canalização de córregos e implantação de sistema de coleta de águas pluviais, que também aumentam o volume e a velocidade com que a água das chuvas chega aos rios Alguns encaminhamentos preventivos: y Manutenção das áreas verdes e promoção do reflo- restamento. y Preservação das matas ciliares y Coleta de águas pluviais, direcionando-as para reser vatórios (piscinões), de onde são liberadas apenas quando o volume das águas dos rios baixar. y Planejamento urbano que incentive menor imper- meabilização do solo, seja com áreas reservadas a canteiros, seja com uso de materiais permeáveis. y Sistema de manutenção e limpeza eficiente de tubula- ções, bueiros e eventual desassoreamento de cursos de água Resíduos sólidos A sociedade urbano-industrial é produtora de ele- vada quantidade de resíduos sólidos, popularmente chamados de lixo. Embalagens, restos de comida, pa- péis e materiais usados são tratados, em geral, como lixo, mas poderiam, em boa parte, ser reaproveitados de alguma forma – ou, melhor ainda, poderiam deixar de ser produzidos com a adoção de novas técnicas de pro- dução e hábitos de consumo No plano individual, o ritmo acelerado da rotina urbana, sobretudo nas metrópoles, ajuda a promover hábitos de consumo que produzem mais resíduos, como refeições prontas e utensílios descartáveis. Nos países subdesen- volvidos e em desenvolvimento, ainda há inúmeras áreas urbanas sem coleta seletiva, o que prejudica o processo de reutilização desses resíduos. Em áreas rurais, os restos de comida, por exemplo, são mais facilmente reaproveitados, em geral, por meio da compostagem ou como comida para animais. F R E N T E 1 21 Já nas áreas urbanas, a quase totalidade desses resíduos sólidos é destinada a lixões ou aterros sanitários, cuja situação acarreta uma série de problemas, já que são áreas nas quais o lixo é depositado com pouco ou nenhum tipo de cuidado ou planejamento. Não há, porexemplo, isolamento entre o lixo e o solo, de modo que o chorume – material tóxico produzido pela decomposição anaeróbica da matéria orgânica – infiltra-se no solo e contamina o lençol freático, os córregos e os rios Lixo Lixão Aterro sanitário Chorume Poluição Lençol freático Urubus e outros animais Fig. 14 Comparação entre lixão e aterro sanitário. Outro problema é que, como o lixo não é aterrado em camadas, ficando constantemente exposto, ampliam-se as chances de proliferação de doenças por meio de animais que transitam entre os lixões e outras áreas da cidade, particu- larmente ratos, baratas e urubus. Como os lixões ficam em áreas periféricas das cidades, novamente é a população mais carente que acaba sofrendo com a situação. Por sua vez, os aterros sanitários são locais planejados para receber adequadamente os resíduos sólidos. Esse pla- nejamento considera, inclusive, o lugar em que podem ser instalados, ou seja, o solo, que não pode ser muito arenoso. Mas a principal vantagem consiste no preparo dessa área para receber o lixo, que é depositado em camadas que são alternadas com porções de terra para controlar o processo de decomposição Além disso, dois produtos dessa decom- posição, o chorume e o gás metano, são corretamente manejados O primeiro, líquido, é recolhido e tratado antes de ser lançado no esgoto; e o segundo pode ser queimado para evitar seu lançamento direto na atmosfera ou, ainda, ser utilizado para geração de energia em pequenas centrais termelétricas. Aterro sanitário: funcionamento Drenos de gás Drenos de gás Saída para a estação de tratamento Camada de argila compactada Camada impermeabilizante Dreno do chorume Lençol freático Manta de polietileno impermeabilizante (geomembrana) Células de lixo Drenos de águas de superfície Vegetação de pequeno porte Setor em execução Setor concluído Setor em preparação Fonte: CEMPRE. Lixo municipal: manual de gerenciamento integrado, 2018. Disponível em: https://cempre.org.br/wp-content/uploads/2020/11/6 Lixo_Municipal_2018.pdf. Acesso em: 24 fev. 2021. Fig. 15 O funcionamento de um aterro sanitário é complexo e envolve muito cuidado para não haver poluição do solo e das águas.
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