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– Se eu encontrar estes malandros, não sei não... Fig. 27 “Este” no lugar de “aquele” para criar um efeito de aproximação. O ator se transformava. Este era artista... Fig. 28 “Este” no lugar de “esse” para criar ênfase. 2. Polissemia Veja agora os valores que os demonstrativos “tal” e “mesmo” podem assumir: y tal Tal foi o assalto de que falei. (= esse) Encontrei Samuel em tal situação no congresso de 94. (= semelhante) y mesmo No mesmo local, eu o vi. (= exato) Ela é a mesma mulher, em todas as ocasiões. (= idêntica) Eu mesmo voarei! (= em pessoa) Ela estudou mesmo! (= de fato, como advérbio) Os pronomes isso, esse, essa exercem função ana- fórica, retomam palavras, orações, períodos, parágrafos: Nas estradas por que passei colhi flores e espinhos. Esses acontecimentos tornaram-me mais sensível. Já os pronomes isto, este, esta possuem função catafórica, isto é, introduzem palavras, orações, pa- rágrafos. Criam expectativa em torno do que vai ser mencionado. São estas as pérolas da morte: o fim e um novo começo! Quando houver dois elementos, deve-se retomá-los por meio de este (o mais próximo) e aquele (o mais distante): Carlota, a escrava, vem denunciar Carlota livre, amaldiçoe esta, lembre-se daquela. 3. Aspectos gramaticais y Os demonstrativos “isto”, “isso”, “aquilo” podem ser associados a advérbios, também chamados prono- mes adverbiais demonstrativos: Isto ................. aqui Isso ................. aí Aquilo ............ ali, lá y Os demonstrativos de reforço “mesmo”, “próprio” con- cordam com o nome ao qual se referem: Eles mesmos fizeram o serviço. Elas próprias denunciaram à polícia. Em função adverbial, todavia, o demonstrativo “mesmo” permanece invariável: Elas pintavam mesmo! y São pronomes demonstrativos: este, esta, estes, estas, esse, essa, esses, essas, aque- le, aquela, aqueles, aquelas, mesmo, mesma, mesmos, mesmas, próprio, própria, próprios, próprias, tal, tais, semelhante, semelhantes, isto, isso, aquilo, o, a, os, as. Pronome indefinido Os indefinidos são utilizados para criar noções vagas, de sentido impreciso ou de grande abrangência, como no exemplo a seguir. TODO ISSO ESTE NINGUÉM Fig. 29 Pronomes indefinidos. Nas favelas, no Senado Sujeira pra todo lado Ninguém respeita a constituição Mas todos acreditam no futuro da nação Que país é este? Renato Russo. “Que país é este”. Intérprete: Legião Urbana. In: Que país é este. EMI Music, 1987. 1a faixa. Os indefinidos “todo”, “ninguém” e “todos” referem-se ao fato de que a corrupção é exercida por boa parte dos brasilei- ros, em todas as partes do país. Veja algumas particularidades: a. o indefinido “qualquer” possui plural atípico e, quando posposto ao substantivo, é pejorativo. Respondam a quaisquer dúvidas. É um homem qualquer... M A R IO R O B E R TO D U R A N O R T Z /W IK IP E D IA • R E P R O D U Ç Ã O • R E P R O D U Ç Ã O 22 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 1 Morfologia – Classes gramaticais b. “algum” e “alguma”, quando pospostos ao substanti- vo, assumem valor negativo. Mulher alguma me enganou! (alguma = nenhuma) c. “todo” e “toda” seguidos de substantivos: y não seguido de artigo, significa “qualquer”: Toda obra precisa ser avaliada com carinho. y seguido de artigo, significa “inteiro”: Toda a obra precisa ser avaliada com carinho. d. “todo” e “toda”, antepostos ao adjetivo, significam “in- teiramente”. Estava toda arrumada. e. os indefinidos são pronomes de terceira pessoa, alguns são variáveis, outros invariáveis. Veja a tabela a seguir: Variáveis Invariáveis masculino feminino algum alguns alguma algumas alguém nenhum nenhuns nenhuma nenhumas ninguém todo todos toda todas tudo outro outros outra outras outrem muito muitos muita muitas nada pouco poucos pouca poucas cada certo certos certa certas vário vários vária várias tanto tantos tanta tantas quanto quantos quanta quantas qualquer quaisquer qualquer quaisquer Tab. 12 Pronomes indefinidos. Além dos pronomes indefinidos, há também as locu- ções pronominais indefinidas: “cada um”, “cada qual”, “quem quer que”, “seja quem for”, “seja qual for”. Pronome interrogativo Há dois aspectos importantes: a. o interrogativo “que” possui variantes que objetivam a ênfase. – O que você quer? – Que que você quer? b. nas interrogativas indiretas, não há ponto de interrogação. Não sei quem é você. Pronome relativo O uso dos relativos y que: emprega-se com referência a pessoa ou coisa; precedido de o, pode referir-se a uma oração inteira. MP quer o dinheiro que Pitta recebeu por livro. Jornal da Tarde, 14 fev. 2001. que = dinheiro Os trabalhadores estavam dormindo, o que facilitou a busca. que = Os trabalhadores estavam dormindo Emprega-se preferencialmente esse relativo depois das preposições monossilábicas a, com, de, em (vide, a seguir, o emprego de o qual e flexões). y quem: emprega-se com referência a pessoas ou se- res personificados. Eis a mulher a quem amei. quem = mulher Esse relativo pode aparecer sem antecedente explícito. Em Investigo a quem investigas fica implícita a expressão aquele a quem (aquele como antecedente implícito). y o qual (e flexões): substitui o relativo que com o pro- pósito de dar mais eufonia à frase, ou de evitar uma interpretação ambígua (clareza). Compare as frases a seguir. Eis a jogada de José, que todos devemos aplaudir. Eis a jogada de José, a qual todos devemos aplaudir. A primeira oração é ambígua, o relativo que pode re- cuperar jogada ou José. Já na segunda, o relativo a qual só pode recuperar jogada. Emprega-se esse tipo de relativo com as demais pre- posições essenciais ou acidentais (Eis o filme sobre o qual falávamos). y cujo (e flexões): emprega-se como pronome adjetivo, isto é, sempre acompanhado de um substantivo, com o qual concorda em gênero e número; esse pronome equivale pelo sentido a do qual, de quem, de que (tem valor possessivo). Eis o poeta de cuja obra falávamos. cuja = do poeta (obra do poeta) A moça a cuja filha fiz referência é muito honesta. cuja = da moça (filha da moça) y quanto: emprega-se com o antecedente tudo, todos, todas, que podem estar elípticos. Em tudo quanto olhei fiquei em parte. Manuela Parreira da Silva. (Org.). Fernando Pessoa: poesia completa de Ricardo Reis. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. p. 89. y onde, aonde, donde (ou de onde): são empregados quando o antecedente for lugar. A cidade onde moro é linda. O litoral aonde foste não é poluído. Eis o país donde vim. O uso desses relativos obedece ao seguinte critério: onde: remete a algo parado, o verbo pede a preposição em (morar em); aonde: remete a algo em movimento, o verbo pede a preposição a (foste a); donde: traz a ideia de origem, o verbo pede a preposição de (vim de). É comum esse tipo de pronome estar empregado inadequa- damente. Em Eu tive um diálogo ontem à noite, onde eu pude constatar a ignorância do meu vizinho, o conectivo adequado é quando (quando eu pude...), visto que não há antecedente com ideia de lugar. Atenção F R E N T E 1 23 Artigo É a classe gramatical que determina ou indetermina o substantivo. Há os definidos (o, a, os, as) e os indefinidos (um, uma, uns, umas). O artigo definido surge no latim vulgar e se origina do demonstrativo illu, illa. A consoante l é ainda observada em muitas línguas, como no francês (le, la), no castelhano (el, lo, la) e no italiano (il, lo, la). A evolução dos definidos deu-se da seguinte forma: illu>elo>lo>o; illa>ela>la>a; illos>elos>los>os; illas>elas>las>as Na locução el-Rei, por exemplo, o artigo está apoco- pado (elo>el). O fenômeno explica nomes de cidade como São João Del Rei. Fig. 30 São João Del Rei. O artigo indefinido já aparecia no latim clássico na forma de numeral: unus. A evolução deu-se da seguinte maneira: unu>ũu>um; una>ũu>uma; unus>ũos>ũus>uns; unas>ũas>umas Valores semânticos do artigo definido O artigo definido costuma assumir os seguintes valores semânticos: y referir-se a um ser conhecido: Leopoldo!Assaltaram a escola!! O emissor utiliza o artigo definido “a”, pressupondo que o receptor conheça a escola. y podem indicar conjunto, classe de seres: A mulher ainda sofre preconceitos. y podem intensificar o ser: Ele é o ator, o melhor! y atribuem a um ser a responsabilidade de um fato: É ele o assassino de Mariana! y atribuem ao substantivo a ideia de inteiro quando pos- postos ao indefinido “tudo, todo, toda”: Todo dia ela cantava. Ela cantava todo o dia. B e rn ar d o G o uv ê a/ W ik ip e d ia pr. qualquer dia subst. pr. o dia inteiro art. subst. No plural, mesmo com a presença do artigo, a ideia costuma ser de generalização: “Trabalho todos os dias”. Para que não haja generalização, é preciso um contexto que determine os dias: “Armando compareceu a todas as sessões marcadas”. Valores semânticos do artigo indefinido Os artigos indefinidos assumem os seguintes valores: y podem indicar aproximação numérica: Devia ter uns trinta anos, no máximo. y podem qualificar positivamente ou negativamente o substantivo: Tinha uns olhos... os homens babavam... y podem tornar a frase conotativa: Meu lar é o jardim. Meu lar é um jardim. y destacam a ideia quando acompanhados do indefini- do “certo”: O pai via no noivo da filha um certo ar de malandragem. Emprego do artigo definido Não se utiliza o artigo definido depois de “cujo”, antes de pronome de tratamento (exceto senhor, senhora, senho- rita e dona), antes de substantivo de sentido indeterminado e em provérbios: Eis a mulher de cuja a filha falei. (errado) Eis a mulher de cuja filha falei. (certo) A Vossa Excelência chamou? (errado) Vossa Excelência chamou? (certo) Ela não lidava com o jovem. (errado) Ela não lidava com jovem. (certo) Quem com o ferro fere com o ferro será ferido. (errado) Quem com ferro fere com ferro será ferido. (certo) Não se utiliza o artigo diante da palavra “casa” no sen- tido de moradia: Jantará em casa? Não se utiliza o artigo diante da palavra “terra” no sen- tido de terra firme. Se a palavra “terra” indicar o planeta (“Marcianos invadem a Terra”) ou vier acompanhada de expressão qualificadora (“Voltamos da terra dos meus avós”), o artigo aparecerá. Atenção Utiliza-se o artigo depois do numeral “ambos”: Elogiaram ambos os compositores. Utiliza-se o artigo para evitar a repetição de um subs- tantivo. Roubou o quadro de Picasso e o de Renoir. mora no jardim compara o lar a um jardim 24 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 1 Morfologia – Classes gramaticais