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Curso Vida Nova 
de Teologia Básica 
INTRODUÇÃO À BÍBLIA 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) 
Harris, R. Laird 
Introdução à Bíblia I R. Laird Harris ; 
tradução Bruno G. Destefani. -- São Paulo : 
Vida Nova, 2005. -- (Curso vida nova de teologia 
básica ; v. 1) 
Título original: Exploring tha basics of the 
Bible. 
ISBN 978-85-275-0331-0 
1. Bíblia - Introduções 2. Teologia - Estudo e 
ensino I. Título. II. Série. 
05-1682 CDD-220.61 
Índices para catálogo sistemático: 
1. Bíblia : Introdução 220.61 
2. Introdução à Bíblia 220.21 
Curso Vida Nova 
de Teologia Básica 
INTRODUÇÃO À BÍBLIA 
R. LAIRD HARRIS 
Traducão 
.> 
Bruno G. Destefani 
011 
VlDANOVA 
Copyright© 2002 Evangelical Training Association 
Título do original: Exploring tha Basics of the Bible 
Traduzido da edição publicada em 2002 pela Crossway Books, uma 
divisão da Good News Publishers (Wheaton, Illinois, EUA) 
1: edição: 2005 
Reimpressão: 2007 
2: edição: 2008 
Reimpressão: 2010 
Publicado no Brasil com a devida autorização 
e com todos os direitos reservados por 
SOCIEDADE RELIGIOSA EDIÇÕES VIDA NOVA, 
Caixa Postal 21266, São Paulo, SP, CEP 04602-970 
www.vidanova.com.br 
Proibida a reprodução por quaisquer meios (mecânicos, 
eletrônicos, xerográficos, fotográficos, gravação, estocagem em 
banco de dados, etc.), a não ser em citações breves 
· com indicação de fonte. 
ISBN 978-85-275-0331-0 
Impresso no Brasil/ Printed in Brazil 
COORDENAÇÃO EDITORIAL 
Robinson Malkomes 
CONSULTORIA 
Aldo Menezes 
REVISÃO 
Marisa K. Alvarenga de S. Lopes 
COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO 
Sérgio Siqueira Moura 
DIAGRAMAÇÃO 
Sk editoração 
CAPA 
Julio Carvalho 
Conteúdo 
Apresentação . . .. . ... . .. . .. . .. . ... . .. . . .. . .. . ... . .. . .. . . .. . . .. . .. . .. . .. . ... ... . .. . . .. . .... .. 7 
1. Revelação e inspiração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 
2. Por que os cristãos crêem na Bíblia? 
- O Antigo Testamento..................................................... 23 
3. Por que os cristãos crêem na Bíblia? 
- O Novo Testamento ....................................................... 33 
4. Qyem escreveu o Antigo Testamento?.................................... 43 
5. Qyem escreveu o Novo Testamento?....................................... 55 
6. Como a Bíblia foi preservada 
- O Novo Testamento........................................................ 6 7 
7. Como a Bíblia foi preservada 
- O Antigo Testamento ..................................................... 7 5 
8. Controvérsias em torno da Bíblia .... .. .. .. ....... .... .. .. .. .. .. .. .. .. .... ... 8 5 
9. A alta crítica e a Bíblia............................................................. 99 
10. A arqueologia e o Antigo Testamento ..................................... 107 
11. Ferramentas para o estudo bíblico ........................................... 117 
12. Métodos de estudo bíblico ...................................................... 129 
Enriqueça sua biblioteca............................................................... 13 9 
Apresentação 
Curso Vida Nova de 
Teologia Básica 
T odos os cristãos precisam de teologia Durante muito tempo a teologia esteve confinada nos círculos acadê-micos. Sua linguagem técnica e seu rigor científico impediam que o 
público leigo, não-especializado, saboreasse a boa erudição bíblica. A parte 
que lhe cabia era ouvir longos sermões, que nem sempre atingiam o coração 
dos ouvintes, muito menos sua mente. 
A distinção entre clérigos e leigos, sem dúvida, contribuiu para o 
surgimento desse abismo entre a teologia e os não-iniciados no saber teoló-
gico. O estudo sobre Deus e sua relação com seu povo foi se tornando cada 
vez mais propriedade de uma elite intelectual. 
As Escrituras, no entanto, apontam outro caminho. O povo de Deus, 
e não apenas uma parcela desse povo (os mestres), é chamado de "sacerdócio 
real". Esse povo deve anunciar "as grandezas daquele que [o] chamou das 
trevas para sua maravilhosa luz" (lPe 2.9). Todos estão obrigados a cumprir 
a Grande Comissão: fazer discípulos para o Mestre, ensinando-os a obede-
cer todas as coisas que ele ordenou (Mt 28.19-20). Todos devem renovar a 
mente, para experimentar a "boa, agradável e perfeita vontade de Deus" 
(Rm 12.2). Todos devem estar preparados para "responder a todo aquele 
que [ ... ] pedir a razão da esperança" que há neles (lPe 3.15). Todos são 
instados a crescer não apenas na "graça'', mas também "no conhecimento de 
nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo" (2Pe 3.18). 
A retomada do ensino bíblico do sacerdócio de todos os crentes, no 
entanto, não significa que Deus não tenha capacitado especialmente alguns 
para exercer determinados dons na igreja. O apóstolo Paulo afirma que 
. ....._ セ@ INTRODUÇÃO À BÍBLIA 
セMMMMセ@
Deus "designou uns como apóstolos, outros como profetas, e outros como 
evangelistas, e ainda outros como pastores e mestres" (Ef 4.11). Esses espe-
cialmente capacitados, porém, não deviam guardar para si o depósito do 
conteúdo da fé. Eles tinham uma missão a cumprir: 
... o aperfeiçoamento dos santos para a obra do ministério e para a edificação do 
corpo de Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento 
do Filho de Deus, ao estado de homem feito, à medida da estatura da plenitude 
de Cristo; para que não sejamos mais como crianças, inconstantes, levados ao 
redor por todo vento de doutrina, pela mentira dos homens, pela sua astúcia na 
invenção do erro; pelo contrário; seguindo a verdade em amor, cresçamos em 
tudo naquele que é a cabeça, Cristo. 
Nele o corpo inteiro, bem ajustado e ligado pelo auxílio de todas as juntas, 
segundo a correta atuação de cada parte, efetua o seu crescimento para edificação 
de si mesmo em amor (Ef 4.12-16). 
Essas passagens bíblicas mostram claramente que a teologia deve estar a 
serviço de todo o povo de Deus. Mais ainda: que todo o povo de Deus deve se 
beneficiar de todos os campos do labor teológico. Vejamos alguns exemplos: 
1. Anunciar as grandezas de Deus (1Pe 2.9) requer preparo no falar. A 
parte da teologia que cuida da boa transmissão oral da Palavra de Deus 
é a homilética, cujos princípios não se aplicam somente à preparação 
de sermão, mas à comunicação da Palavra de Deus como um todo. 
2. Não basta fazer discípulos, é preciso ensiná-los (Mt 28.19-20). Isso 
requer conhecimento das coisas de Deus (e esta é uma definição básica 
de teologia= estudo sobre Deus). 
3. Estar preparado para "responder a todo aquele que [ ... ] pedir a razão 
da esperançà' que há em nós (1Pe 3.15) requer conhecimento bíblico 
e o exercício da "apologética" (um discurso de defesa da fé cristã bem 
embasado nas Escrituras). 
4. Qyando Pedro disse que os cristãos devem crescer "no conhecimento 
de [ ... ] Jesus Cristo" (2Pe 3.18), ele estava, segundo o contexto, 
alertando-os a não se deixar levar pelos que "deturpam'' as Escrituras 
(2Pe 3.14-17). Pedro também reconheceu que há passagens de difícil 
interpretação (v. 16). A hermenêutica é a parte da teologia que se en-
carrega de avaliar o sentido preciso de uma passagem bíblica, lidando 
com as "coisas difíceis". Bem preparados, não seremos "levados [ ... ] 
por todo vento de doutrina, pela mentira dos homens, pela sua astú-
cia na invenção do erro" (Ef 4.14). 
É evidente, portanto, que todos nós, povo de Deus, precisamos de 
teologia. Todos nós precisamos aprimorar diariamente nosso conhecimento 
das Escrituras. Devemos ser realmente estudiosos da Palavra de Deus. E o 
labor teológico nos conduz a esses fins. 
APRESENTAÇÃO セ@ .--· 
セMMMセセ@
A importância e as vantagens do Curso 
Vida Nova de Teologia Básica 
Edições Vida Nova reconhece o valor e a força da comunidade leiga 
de nossas igrejas. Nossa missão é levar conhecimento e preparo teológico a 
todo o povo de Deus. Pensando nessa parcela significativade cristãos e com 
pleno conhecimento da necessidade do saber teológico para todos, temos o 
prazer de apresentar o Curso Vida Nova de Teologia Básica. Trata-se de 
um curso básico de teologia para leigos. Isso quer dizer que esse curso está 
desprovido do jargão teológico tradicional e de tecnicismos dessa área. É 
um curso perfeito para leitores que desejam conhecer um pouco de teologia 
numa linguagem informal, instrumental e não-acadêmica. 
O material é altamente didático e informativo. É de fácil assimila-
ção. Os autores também se valem de perguntas para debate, que funcionam 
como questões de recapitulação, a fim de fixar na mente do leitor os pontos 
principais apresentados ao longo de cada lição. Como se diz em homilética: 
''A repetição é a mãe da retenção". C2lianto mais recapitulamos, mais fixa-
mos o que aprendemos. Além disso, há uma bibliografia ao mesmo tempo 
concisa e precisa, conduzindo o leitor a obras que poderão auxiliá-lo em 
seu crescimento espiritual. 
Todos os cristãos desejosos de crescer no "conhecimento de nosso 
Senhor e Salvador Jesus Cristo" se beneficiarão desse curso. Crentes bem 
preparados e conhecedores da Palavra de Deus farão das escolas dominicais, 
dos centros de treinamento de líderes e de outros ministérios voltados para 
o aperfeiçoamento do corpo de Cristo um espaço agradável de estudo e 
reflexão das Escrituras. 
O currículo básico do curso inclui os seguintes assuntos: 
1. Introdução à Bíblia 
2. Panorama do Antigo Testamento 
3. Panorama do Novo Testamento 
4. Panorama da história da igreja 
5. Homilética 
6. Apologética cristã 
7. Teologia sistemática 
8. Educação cristã 
9. Filosofia 
10. Aconselhamento 
Os próximos volumes previstos para lançamento são: Interpretação 
da Bíblia, Missões, Evangelismo, Louvor e adoração, Ética cristã e 
Administração eclesiástica. 
....._ セ@ INTRODUÇÃO À BÍBLIA 
セMMMMMMMMMMMM]MMM
Introdução à Bíblia 
Como não se pode fazer teologia sem a Palavra de Deus, esse é o tema 
deste primeiro volume do Curso Vida Nova de Teologia Básica. 
Este volume pretende fornecer respostas às seguintes questões: 
1. Deus realmente se revelou à humanidade? Há objetividade nessa 
revelação? 
2. Se a Bíblia foi escrita por homens, como ela pode ser definida como 
a Palavra de Deus? De que modo Deus se comunicou com os ho-
mens a fim de produzir a Bíblia? 
3. Por que os cristãos crêem na Bíblia? Há evidências racionais para 
essa crença? 
4. Qyem escreveu o Antigo Testamento? 
5. A Bíblia é um livro antigo, mas é realmente confiável? Como ter 
certeza de que o conteúdo não foi alterado com o passar do tempo? 
6. Existem realmente milagres e profecias? 
7. O que é alta crítica? Conseguiu a Bíblia sobreviver a seus ataques? 
8. O que a arqueologia tem a dizer sobre a confiabilidade das Escrituras? 
Além de analisar essas questões altamente relevantes, o estudante da 
Bíblia também será equipado com ferramentas para o estudo das Escrituras. 
São publicações que devem compor sua biblioteca particular: diversas versões 
das Escrituras, bíblias de estudo, obras de consulta, livros de teologia siste-
mática, comentários bíblicos, introdução bíblica, história da igreja e da teolo-
gia e livros de teologia prática. 
Mas nem só de ferramentas vive um estudante das Escrituras. Ele 
precisa de um método de pesquisa a fim de facilitar e conduzir seu traba-
lho de pesquisa da Bíblia. Há um capítulo destinado exclusivamente a isso. 
Aproveite o Curso Vida Nova de Teologia Básica. Prove por si mesmo 
como é bom e agradável conhecer profundamente a Palavra de Deus. Tome 
para si as palavras de Paulo a Timóteo: "Procura apresentar-te aprovado diante 
de Deus, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a 
palavra da verdade" (2Tm 2.15). 
Os Editores 
Março de 2005 
Revelação e inspiração 
O livro de Génesis conta como Deus criou a humanidade à sua ima-gem e semelhança. Um dos propósitos do Senhor era que Adão tivesse contato e comunhão com ele. A partir desse relato, fica claro 
que Deus cuidava do homem, conversava com ele e lhe dava ordens. Pois, o 
fato de o Deus altíssimo dialogar com pessoas dessa maneira representa 
uma maravilhosa revelação de sua Palavra, de seu ser e de sua vontade. 
Depois que Adão e Eva pecaram, Deus poderia muito bem ter 
desistido deles. O primeiro casal o desobedecera por livre e espontânea 
vontade; a conseqüência disso era a morte. Entretanto, Deus, em sua infinita 
misericórdia, desenvolveu o plano da salvação. Assim sendo o Senhor 
procurou Adão no jardim e o responsabilizou por seu pecado. Essa foi a 
primeira revelação de Deus para o ser humano pecador. 
REVELAÇÃO ESPECIAL E REVELAÇÃO GERAL 
Deus deu continuidade a essa prática falando com Adão, Eva, a 
serpente, Caim, Noé e muitos outros. A essa comunicação direta da parte 
de Deus chamamos revelação especial. 
Podemos aprender muito sobre Deus a partir do universo que ele 
criou. Uma criação tão vasta dá testemunho da existência de um Deus Todo-
poderoso. As maravilhas de nosso mundo dão prova da sabedoria infinita 
. ....._ セ@ INTRODUÇÃO À BÍBLIA 
セMMMMMMMMMMMM
de Deus. Nossa própria consciência aponta para a existência de um Deus 
santo e benevolente. A essas provas de sua presença através da criação cha-
mamos revelação geral. 
Entretanto, essa revelação geral tem sido negada por muitos. 
Segundo alegam, aquilo que nos parece complexo na natureza é pura obra 
do acaso, e essa "ética interior'', a que chamamos consciência, é fruto de 
nosso convívio social, de um aprendizado recebido desde o nascimento, 
de uma ilusão que nós mesmos criamos, etc. No entanto, em Romanos 
1.19-23 o apóstolo Paulo afirma claramente que podemos perceber Deus 
na natureza, e ele se refere expressamente à consciência no texto de Ro-
manos 2.15. Todavia, é impressionante percebermos que a grande maio-
ria das pessoas sempre acreditou em algum tipo de divindade. Além disso, 
embora alguns neguem a existência da consciência, todas as culturas 
conhecidas possuem alguma espécie de código moral. Isso nos leva a con-
cluir que a revelação natural já está bem fundamentada. Paulo diz que o 
fato de isso não levar algumas pessoas a adorar o Deus verdadeiro se deve 
à iniqüidade delas (Rm 1.18). 
INSPIRAÇÃO 
Qgando Deus falou ao ser humano na Antigüidade, isso se deu atra-
vés de uma revelação oral especial. Até onde sabemos, o homem só foi desen-
volver um sistema de escrita depois do dilúvio. Talvez as pessoas daquela 
época utilizassem algum método para registrar quantidades de objetos, mas 
ao que parece a escrita como hoje a conhecemos teve início na Mesopotâmia 
e no Egito, pouco antes de 3000 a.C. Porém, a revelação oral de Deus era 
algo tão especial, verdadeiro e inspirado quanto sua palavra escrita, que 
surgiria mais tarde. Qyando falou a Caim, Deus não o fez através da voz de 
sua consciência, e Caim respondeu-lhe com ira. Essa passagem retrata uma 
comunicação direta e objetiva da parte de Deus. 
Ninguém sabe o nome de muitas das pessoas com quem Deus con-
versou nos primeiros tempos. Embora o Antigo Testamento afirme que 
Enoque "andou com Deus'', esse termo provavelmente se refere a um con-
vívio habitual e constante, e não à ação de caminhar junto com alguém. 
De qualquer maneira, isso indica harmonia e comunhão, o que implica 
em diálogo. Tal conceito concorda com a referência no Novo Testamen-
to de que Enoque foi um profeta (Jd 14). Noé recebeu revelações ex-
plícitas e meticulosas da parte de Deus. Não foi a sua própria imaginação 
bem desenvolvida que lhe deu as instruções a respeito da arca. Ao contrá-
rio, o Senhor lhe disse quais deveriam ser as dimensões da embarcação, 
que animais reunir, etc. Sem essa mensagem específica, Noé também te-
ria perecido. 
REVELAÇÃO E INSPIRAÇÃO セ@ .----
MセセMMMMMMMMMセ@
Outra lição que podemos aprender com Noé é que ele ministrava a 
Palavra de Deus para sua geração. O relato de Gênesis, e de forma mais 
direta uma passagem de 2Pedro, mostram que Noé avisou seus contem-
porâneos a respeitodo julgamento iminente que sobreviria ao mundo. Essa 
é a função do profeta. Após ter recebido uma mensagem de Deus, ele deve 
transmiti-la ao povo. 
Embora a Bíblia não conte muito a respeito da revelação divina 
durante o longo período entre Noé e Abraão, ela traz muitas informações 
sobre as épocas subseqüentes. Deus falou muitas vezes a Abraão. Deu-lhe 
ordenanças específicas e promessas que seriam cumpridas de maneiras 
que ele jamais poderia ter imaginado. Ele era considerado um príncipe 
pelos seus contemporâneos (Gn 23.6) e um adorador do Deus verdadeiro 
(Gn 14.22). Através de sua vida e de suas mensagens, ele ministrava à sua 
geração, e por meio dos registros feitos por Moisés, continua falando 
também a nós. 
Moisés foi o primeiro profeta a preservar as palavras de Deus da 
forma escrita. O Senhor lhe falou face a face (Nm 12.8). Além disso, 
ordenou-lhe que escrevesse seus mandamentos (Êx 24.4-8). A maior parte 
do Pentateuco, depois do relato do chamado de Moisés, em Êxodo 2, traz 
expressões como "o Senhor disse a Moisés". No final de Deuteronômio, 
lemos que Moisés escreveu a lei de Deus e instruiu o povo a obedecer 
aquelas ordenanças, bem como a lê-las publicamente durante a Festa dos 
Tabernáculos, realizada a cada sete anos (Dt 31.9-13). 
Veremos mais a respeito dos profetas e de sua atuação no quarto 
capítulo. No momento, estudaremos algumas conseqüências decorrentes 
dessa visão dos profetas do Antigo Testamento como instrumentos da 
revelação de Deus, ou como seus porta-vozes para o povo (Êx 7.1, 2). 
Lembremos que um profeta em Israel não era considerado apenas um 
homem profundamente espiritual. Na verdade, era visto como um indivíduo 
chamado por Deus para dele receber revelações (Nm 12.2-8). A palavra do 
profeta era reconhecida como a palavra de Deus, de tal maneira que era 
como se ele tivesse ingerido um rolo de pergaminho vindo do céu e depois 
o transmitisse oralmente para o povo (Ez 2.7-3.3). A mensagem por eles 
transmitida era a palavra de Deus. 
O mesmo podemos dizer a respeito daquilo que os profetas 
escreveram. Nem todas as mensagens proféticas eram registradas por escrito. 
Urias profetizou em nome do Senhor, assim como o fizera Jeremias. No 
entanto, foi morto pelo rei Jeoaquim e suas palavras não foram registradas 
(Jr 26.20, 21). Todavia, quando o Senhor falou através dos profetas em 
Israel, na Antigüidade, as palavras deles eram genuinamente vindas de Deus. 
O fato de terem sido transmitidas apenas oralmente ou também na forma 
escrita não importava. Josué, por exemplo, acrescentou seu relato ao Livro 
da Lei de Deus (Js 24.26). Sabemos, porém, que boa parte, senão a quase 
......._ セ@ INTRODUÇÃO À BÍBLIA 
セMMMMMMMMMMセM
totalidade do Antigo Testamento, foi transmitida primeiramente de forma 
oral e mais tarde registrada através da linguagem escrita. 
Alguns defendem uma diferença entre o discurso profético e os es-
critos proféticos, afirmando que apenas estes últimos foram inspirados. 
Todavia, o Antigo Testamento não faz tal distinção. 
Esses exemplos ilustram o que queremos dizer com o termo "inspiração 
das Escrituras". Uma boa definição desse termo seria afirmarmos que a 
inspiração é "obra do Espírito Santo em indivíduos escolhidos por Deus, 
através do qual a pessoa é levada a falar ou escrever, em seu próprio idioma, 
exatamente as palavras de Deus, sem que cometa erro algum com respeito a 
fatos, doutrinas e juízos". No segundo e terceiro capítulos iremos oferecer a 
base bíblica desse conceito. 
INSPIRAÇÃO VERBAL 
Esse conceito de inspiração defende que as próprias palavras 
transmitidas são de fato prescritas por Deus, inspiradas pelo Espírito Santo. 
Isso às vezes é apresentado de maneira caricatural como sendo a "teoria do 
ditado". Entretanto, a maioria dos teólogos conservadores atuais não acredita 
que Deus simplesmente tenha ditado sua Palavra para escribas, como se 
eles fizessem as vezes de uma secretária ou de um robô. Deus usava os 
profetas e os controlava, porém sem violar o estilo de redação ou a perso-
nalidade deles. A doutrina que mais se aproxima da "teoria do ditado" foi 
aquela desenvolvida em 1545, no Concílio católico de Trento. Ela expressa, 
em latim, que as Escrituras são Spiritu Sancto dictante. Todavia, nessa 
expressão o vocábulo dictante não significa "ditadas", segundo entendemos 
hoje, mas sim "ditas" ou "transmitidas" pelo Espírito Santo. 
INFALIBILIDADE E INERRÂNCIA 
Historicamente, a Bíblia tem sido considerada um texto inspirado, o 
que quer dizer, em outras palavras, que ela é tida como a autêntica Palavra 
de Deus. Tradicionalmente também tem sido considerada infalível. Isso é o 
mesmo que dizer que nas Escrituras não há erros. Em épocas mais recentes, 
teólogos da linha conservadora têm considerado a crença na Bíblia como "a 
única regra infalível de fé e prática". Com isso querem dizer claramente 
que a Palavra de Deus é uma regra perfeita de fé e de conduta. Entretanto, 
com o surgimento do liberalismo, essa doutrina tem comumente sido 
reinterpretada para transmitir o significado de que a Bíblia é infalível apenas 
em questões de fé e moral. Dessa maneira o termo infalível foi "diluído", 
permitindo a identificação de equívocos no texto bíblico com relação a 
fatos científicos e históricos. Essa postura é amplamente defendida entre os 
REVELAÇÃO E INSPIRAÇÃO セ@ __... 
セMMMMMGMGMMMMMMMMMMセ@
liberais da atualidade. Para combater essa postura "secularizada" com rela-
ção às Escrituras, teólogos conservadores consideraram necessário adotar o 
uso do adjetivo inerrante, para afirmar que a Bíblia não possui erros. 
Dizer que a Palavra de Deus é infalível deveria ser suficiente. 
Entretanto, diante da situação mencionada acima, percebemos ser necessário 
dizer também que ela é inerrante, uma vez que se pretenda declarar que a 
Bíblia é a perfeita verdade em tudo o que afirma,. Assim, a Bíblia é 
verbalmente inspirada, infalível e inerrante, no sentido de que seus 
manuscritos originais não contêm erros. A declaração de fé da Evangelical 
Theological Society expressa esse pensamento de maneira sucinta, porém 
precisa: "Apenas a Bíblia, em sua totalidade, é a Palavra de Deus em forma 
escrita e, portanto, inerrante em seus autógrafos [textos originais]". 
Muitos consideram essa visão das Escrituras muito restritiva. Dizem 
que estamos vivendo no século XXI, e que não deveríamos acreditar mais em 
tais doutrinas. Afirmam que os fatos contrariam essa visão e que os conceitos 
científicos presentes na Bíblia já caíram em desuso. Não podemos mais 
acreditar na existência de uma terra plana, com o céu "lá no alto", segundo 
dizem eles. Afirmam que a crença na existência real de Adão ou em histórias 
como a de Jonas deve ser negada. Na verdade, declaram que as Escrituras 
possuem contradições. Essas pessoas defendem que há um elemento humano 
na Bíblia que não pode ser isento de erro. E chegam à conclusão de que, se 
insistirmos na questão da inerrância da Palavra de Deus, jamais iremos 
convencer os indivíduos da era moderna. 
Apresentaremos algumas respostas breves contra essas críticas e as 
trataremos com mais detalhes no oitavo capítulo. Primeiramente, temos 
que dizer que é necessário sermos cautelosos ao refutar qualquer doutrina 
antiga - principalmente uma que esteja fundamentada no ensino de Cristo 
e de seus apóstolos - pela simples finalidade de supostamente conven-
cermos nossos contemporâneos. Os profetas da Antigüidade receberam a 
instrução de pregar a Palavra de Deus, quer as pessoas lhes dessem ouvidos 
ou não (cf. Is 6.9, 10; Jr 20.9 e Ez 2.5-7). 
Em segundo lugar, é bastante duvidoso que a Bíblia retrate uma terra 
plana, com o céu "lá no alto". Alguns afirmam que perceberemos essa descrição 
apenas se interpretarmos as Escrituras literalmente. Entretanto, ninguém, 
nem mesmo o teólogo conservador mais zeloso que existe, lê a Bíblia tomando-
ª em sentido literal. O texto sagrado está repleto de metáforas, parábolas e 
poesia, que devem ser interpretadas da mesma maneira queas presentes em 
qualquer outra obra literária. Ninguém levaria ao pé da letra expressões comuns 
como "morrer de dar risada'' ou "ele tem um coração de ouro'', ou ainda "faz 
uma eternidade desde que a vi pela última vez". Portanto, a objeção levantada 
pelos liberais baseia-se numa interpretação literal e errônea de várias passagens 
poéticas, para daí afirmar que a Bíblia contradiz o senso comum. Todavia, 
chegaríamos à mesma conclusão se aplicássemos essa sistemática a poesias 
-..... セ@ INTRODUÇÃO À BÍBLIA 
セMMMMMMMMMMセM
que descrevam a lua, as árvores, as montanhas ou qualquer outro cenário 
maravilhoso e belo. 
Muitos se esquecem de que os astrônomos da época neotestamentária 
já afirmavam que a Terra era redonda. Até mesmo antes, no ano 250 a.C, 
Eratóstenes mediu a circunferência de nosso planeta com bastante precisão. 
É curioso o fato de que teólogos mais recentes, que se opõem à idéia de que 
o céu esttja "lá no alto'', falem sobre a "intervenção" do reino do céu na 
história. E tão esquisito retratar o céu dessa maneira, como algo à parte da 
história, quanto é imaginá-lo como algo "lá no alto". Entretanto, como 
afirmou C. S. Lewis com muita pertinência em seu livro Miracles1, "toda 
descrição a respeito de coisas que não podemos perceber por meio dos sentidos 
deve ser considerada metafórica. Não há outra maneira para descrever o que 
não conseguimos vislumbrar". 
Portanto, a linguagem bíblica não implica o fato de que o céu, em 
termos espirituais, esteja "lá no alto" (embora no hebraico, como em nosso 
idioma, usa-se a mesma palavra para significar o céu no qual estão as 
estrelas, as nuvens, e o espaço onde os pássaros voam, o qual de fato encon-
tra-se "lá no alto"). De maneira semelhante, não se pode dizer que "os 
confins da terra" sejam o extremo do planeta além do qual caímos no 
espaço. O vocábulo hebraico traduzido por "terra" também é muito usado 
com o significado de "território ou região". Os "confins da terra" geralmente 
representam lugares distantes e "quatro cantos da terra" descreve vastas 
áreas em qualquer direção (cf. Ez 7.2). 
Em terceiro lugar, se as pessoas não conseguem crer em uma criação no 
sentido literal, devem ser suficientemente capazes de provar que o acaso é o 
responsável pela incrível riqueza e complexidade da vida, ou pela criação desse 
ser tão singular e dotado de inteligência, propósito e consciência moral a que 
chamamos de ser humano. 
Por último, fazer objeção quanto à inerrância das Escrituras com base 
em supostas contradições é um ato de negligência para com os vastos estudos 
sobre esses assuntos, realizados desde os dias de Justino, que foi martirizado 
por sua fé, no ano 148 de nossa era. Ele escreveu em sua obra Diálogo com o 
judeu Trifõ: "Estou plenamente convicto de que nenhum trecho das Escrituras 
contradiz outro". 
É óbvio que a Bíblia contém algumas aparentes complicações e certos 
conceitos difíceis de compreender. Com toda certeza, podemos esperar algo 
assim de um documento proveniente de outra cultura que remonta aos 
tempos antigos. Se o choque cultural é algo previsível quando viajamos 
para outros países, maior ainda é a possibilidade de encontrarmos aspectos 
1 C. S. Lewis,Miracles (Nova York: Macmillan, 1947; publicado no Brasil sob o título 
Milagres), p. 74. 
REVELAÇÃO E INSPIRAÇÃO ....___ _... 
セセMMMMセ@
surpreendentes na Bíblia. Entretanto, muitas dessas dificuldades já foram 
solucionadas por intermédio de descobertas a respeito de costumes e idiomas 
antigos. Assim, um cristão bem informado pode atribuir as dificuldades 
que ainda restam ao mero desconhecimento sobre detalhes do cotidiano e 
da história da Antigüidade. Problemas de ordem factual continuam a ser 
elucidados, para satisfação de muitos dos estudiosos atuais. 
Os cristãos da linha conservadora não aceitam a idéia de que as 
Escrituras contenham verdadeiras contradições. Assim como os pais da igreja 
primitiva, eles acreditam que essas supostas contradições devem-se à falta 
de conhecimento ou a erros de cópia de menor importância. 
INTERPRETAÇÃO BÍBLICA (HERMENÊUTICA) 
A Reforma Protestante foi um movimento que incentivou o retorno 
à Bíblia. Sua ênfase estava em disponibilizar as Escrituras para os leigos. 
Wycliffe defendera esse princípio anteriormente, mas foram Lutero, Tyndale 
e outros que realmente levaram adiante o trabalho de traduzir a Bíblia para 
o idioma das massas. O corolário era que a Palavra de Deus é um livro 
simples que pode ser lido e compreendido por pessoas comuns. 
Obviamente a própria história comprovou essa visão. Isso não significa, 
porém, que qualquer um possa compreender plenamente todas as passagens 
bíblicas. No entanto, ao lê-las, podemos aprender de Deus e a respeito do 
seu plano da salvação, e pela fé aceitá-lo. Os juízos do Senhor, porém, são 
insondáveis e "inescrutáveis, os seus caminhos" (Rm 11.33). Até mesmo 
referências a incidentes históricos e práticas comuns na Antigüidade são 
complicadas de entender. Para isso precisamos de informações sobre o 
cotidiano do mundo daquela época. 
Portanto uma interpretação detalhada da Bíblia requer o estudo de 
idiomas, da cultura, da história, etc. Todavia, existe uma nova vertente da 
hermenêutica que afirma que a Bíblia não é relevante para nós, hoje em dia. 
Defensores dessa postura dizem que os judeus antigos viviam de maneira 
muito diferente da nossa, que não se interessavam por exatidão numérica, 
relações cronológicas, ou precisão histórica. Esses críticos dizem que a Bíblia 
não apresenta erros sob a ótica dos padrões da época em que foi escrita, mas 
que revela incorreções se estudada à luz dos padrões científicos atuais. 
Podemos mencionar muitos fatos para refutar essas afirmações. 
Primeiro, os antigos não eram tão relapsos assim como alguns pensam. As 
pirâmides, construídas 500 anos antes de Abraão, são orientadas com base 
na Estrela Polar, com um desvio de apenas cinco graus! No ano 732 a.C, 
em Jerusalém, os engenheiros comandados por Ezequias cavaram um túnel 
sinuoso através de mais de 600 metros de rocha sólida. Começaram o trabalho 
a partir dos dois extremos e as duas equipes de escavação se encontraram no 
. ......_ _b INTRODUÇÃO À BÍBLIA 
セNMMMMMMMMMMMMMMMMMMM
meio do caminho. Os dois braços do túnel ficaram desalinhados por pouco 
mais de meio metro. 
Em segundo lugar, ninguém é totalmente exato. Fazer cálculos 
aproximados não é o mesmo que cometer erros. Muitos já afirmaram que a 
Bíblia continha equívocos históricos, mas em diversas ocasiões, descobertas 
arqueológicas vieram a demonstrar que as Escrituras estavam corretas. 
Outros defendem o argumento - já bastante desgastado - de que a 
Bíblia é irrelevante para nossa época, por ser produto do mundo antigo. 
Todavia milhões de pessoas, que encontraram conforto, respostas e salvação 
através das Escrituras, afirmam justamente o contrário. Embora a cultura 
da Antigüidade seja bastante distinta da nossa, as diferenças não ofuscam 
as semelhanças. Os seres humanos naquela época viviam, amavam, alimen-
tavam-se, ficavam doentes, lutavam, pensavam, pecavam e morriam da 
mesma maneira que nós hoje. Não é correta a afirmação de que a mente 
do homem antigo era muito diferente da nossa. E. D. Hirsch chama isso 
de "falácia do passado inescrutável"2• Ele comenta que há menos diferenças 
entre os indivíduos da era moderna e os da época antiga, do que entre 
vários indivíduos que vivem no mundo de hoje. Portanto, a Bíblia é 
compreensível e também relevante. 
Ainda há outros, que se denominam evangélicos, que dizem que a 
Bíblia contém erros. Eles afirmam, porém, que essas incorreções podem ser 
desconsideradas e que não afetam a mensagem divina. Dizem ainda que a 
inerrância anularia o fator humano necessário para o registro das Escrituras. 
Entretanto, essa idéia baseia-se num erro de interpretação. O con-
ceito histórico de inspiração verbal e de inerrância defende que Deus, por 
seu Espírito, age de maneira poderosa nos seres humanos, embora seu 
trabalho se dê "nosbastidores". O processo de inspiração não vem totalmente 
de Deus, excluindo assim a participação do homem, pois isso seria uma 
espécie de ditado espiritual. Em contrapartida, também não é totalmente 
humano, desconsiderando por sua vez a intervenção de Deus, uma vez que 
isso seria humanismo. Tampouco podemos dizer que foi realizado metade 
por Deus e metade pelo homem. Dessa forma graves erros seriam inevitáveis. 
A resposta correta é que Deus valeu-se de indivíduos, que lançaram 
mão de toda sua capacidade humana, e agiu através deles de maneira poderosa, 
embora tenha permanecido totalmente no controle de todo processo. 
Concluímos então que a inspiração verbal somente é possível porque o 
Espírito de Deus é perfeitamente capaz de agir dessa maneira. O resultado 
foi que os autores da Bíblia não escreveram como as pessoas comumente o 
fazem, mas foram "movidos pelo Espírito Santo" (2Pe 1.21). Como acontece 
2 E. D. Hirsch, The Aims of Interpretation (Chigago: University of Chicago, 1976), 
p. 41. 
REVELAÇÃO E INSPIRAÇÃO セ@ セᆳ
MセセMMMMMMMMMセ@
com a maioria das verdades espirituais, essa doutrina também está envolta 
em mistério. Entretanto, é um mistério maravilhoso, pois colocou em nossas 
mãos uma Bíblia inerrante. 
A IMPORTÂNCIA DAS ESCRITURAS INSPIRADAS 
O conceito de inspiração verbal ou de inerrância tem sido adotado 
pelos líderes da igreja desde seu início3• Uma postura tão difundida com 
certeza é fundamental. Uma das principais ênfases da Reforma era o lema 
sola scriptura, ou seja, somente a Bíblia. Esse enfoque foi vital para dar 
vazão àquele grande avivamento espiritual. 
Devido à influência dos liberais, a doutrina da inerrância praticamente 
desapareceu da Alemanha, no século XIX, e em muitas partes dos Estados 
Unidos, no início do século XX. Uma renovação da plena confiança e da 
crença na Bíblia fomentou o fortalecimento dos evangélicos e da pregação 
das boas novas no final do século passado. É muito fácil perceber a ligação 
entre as duas coisas. 
Sem que haja uma mensagem real e verdadeira vinda do céu, ficamos 
perdidos num oceano de opiniões humanas e de fraqueza moral. O ensino 
dos Dez Mandamentos foi eliminado das escolas públicas americanas. Sua 
autoridade tem sido negada em algumas denominações mais antigas. O resul-
tado é desastroso. Entretanto, o discípulo amado há muito deixou a advertência: 
"Eu, a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro, testifico: Se 
alguém lhes fizer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os flagelos escritos 
neste livro; e, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta profecia, 
Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa e das coisas que se 
acham escritas neste livro" (Ap 22.18, 19). 
A Bíblia é a Palavra de Deus transmitida a nós. Devemos lê-la, 
estudá-la, meditar nela, e principalmente, colocá-la em prática. Em seguida, 
é preciso que nos juntemos a outros que partilham dessa fé preciosa, a 
fim de garantir que as Escrituras sejam respeitadas e ensinadas até os con-
fins da terra. 
3 Norman L. Geisler, ed., Inerrancy (Grand Rapids: Zondervan Publishing, 1980), 
caps. 12 e 13. 
......_ セ@ INTRODUÇÃO À BÍBLIA 
セMMMMMMMMMMセM
1 ENRIQUECENDO O VOCABULÁRIO 1 
revelação geral, revelação especial, infalível, 
inerrante, hermenêutica 
1 PERGUNTAS DE RECAPITULAÇÃO 1 
1. O que o texto de Romanos 1.18-32 nos ensina com relação à 
possibilidade de as pessoas conhecerem o Deus verdadeiro por meio 
de sua revelação na natureza? 
2. Se todo ser humano possui uma consciência e, por conseguinte, 
padrões morais, por que motivo não tem uma vida boa e perfeita? 
3. O que o texto de Êxodo 7.1 ensina com relação aos profetas serem 
porta-vozes de Deus? 
REVELAÇÃO E INSPIRAÇÃO .....___ __... 
GM]MMMMGMMMMMMセMMMセ@
4. Os profetas de Baal, sustentados por Jezabel, realmente falaram em 
nome de seu deus, ou apenas disseram aquilo que o povo queria 
ouvir (1Rs 22.6)? 
5. Compare os textos de Jó 26.7 e 9.6. Como podemos explicar a 
aparente contradição entre eles? 
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セNMMMMMMMMMMMMMMM
1 ANOTAÇÕES 
Por que os cristãos 
crêem na Bíblia? 
O Antigo Testamento 
P or que os cristãos crêem na Bíblia? Podemos elucidar essa questão de várias maneiras. Algumas respostas são mais importantes do que outras. Uma parte delas baseia-se bastante na razão. Já outra parte 
fundamenta-se na fé. Todas essas respostas são fundamentais e estudaremos 
esses dois grupos separadamente. Neste capítulo, apresentaremos as respostas 
relacionadas ao Antigo Testamento. No capítulo seguinte, trataremos das 
razões pelas quais os cristãos podem crer no Novo Testamento. 
A APROVAÇÃO DE CRISTO 
A resposta mais direta e mais clara do porquê de os cristãos crerem 
no Antigo Testamento é o fato de que Cristo também cria. Confiamos em 
seus ensinamentos. Para nós, cristãos, o Senhor Jesus é a autoridade máxima 
em todas as questões. Por meio de milagres, maravilhas e sinais, ele provou, 
sem deixar dúvidas, que viera de Deus. Através de seu poder, ao ressuscitar 
dos mortos, demonstrou ser o Filho unigênito de Deus. Paulo resumiu essa 
doutrina em Romanos 1.4: "E foi designado Filho de Deus com poder, 
segundo o espírito de santidade pela ressurreição dos mortos". Se duvidarmos 
dos ensinamentos de Cristo, estaremos questionando tudo o que há de 
mais precioso e fundamental na fé cristã. Jesus cria no Antigo Testamento 
e ensinava as verdades que ali se encontram. Isso, por si, já é suficiente. 
·--.... セ@ INTRODUÇÃO À BÍBLIA 
セセMMMセ@
Através do relato bíblico, fica claro que Cristo realmente cria e ensinava 
que o Antigo Testamento é a Palavra de Deus. Muitos versículos em par-
ticular mostram seus ensinamentos com relação a isso, e várias outras passa-
gens nos evangelhos revelam, de maneira geral, sua atitude para com as 
Escrituras Sagradas. 
A conversa de Cristo com os dois discípulos, na estrada para Emaús 
depois de sua ressurreição, é de importância fundamental. Leia Lucas 
24.13-31. Nesse relato, percebemos claramente que aqueles indivíduos 
não haviam· acolhido plenamente o testemunho das mulheres, que afirmavam 
que Cristo havia ressuscitado. A eles Jesus disse: "Ó néscios e tardos de 
coração para crer tudo o que os profetas disseram!" (v. 25). E então passou 
a citar muitas passagens do Antigo Testamento, mostrando como as 
Escrituras traziam a previsão daqueles acontecimentos. O texto diz ainda: 
"E, começando por Moisés, discorrendo por todos os Profetas, expunha-
lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras" (v. 27). Notemos 
como Cristo baseou seus argumentos no livro conhecido como "as Escrituras" 
e também como "Moisés e os Profetas". Este último é um designativo do 
Antigo Testamento comumente encontrado nos manuscritos do mar Morto 
e também no Novo Testamento. Esse termo ou "a Lei e os Profetas" aparece 
várias vezes no Novo Testamento, com pequenas variações. Jesus estava 
declarando que os discípulos deveriam ter crido naqueles escritos. 
O texto de Lucas 16.29-31 apresenta esse ensinamento de maneira 
veemente. Na parábola sobre o homem rico e Lázaro, Jesus dá grande ênfase 
à necessidade de crermos na Palavra de Deus. O homem rico foi condenado 
ao tormento eterno, do qual não havia escapatória nem alívio. Lázaro, o 
mendigo, por sua vez, encontrava-se em um lugar de bênção eterna. O 
homem rico rogou que Abraão enviasse Lázaro de volta, para alertar seus 
cinco irmãos. Cristo cita a resposta do patriarca demonstrando sua óbvia 
aprovação: "Eles têm Moisés e os Profetas", isto é, o Antigo Testamento. O 
homem condenado ao tormento eterno implorou novamente que seus irmãos 
recebessem um testemunho especial e miraculoso. Abraão respondeu: "Se 
não ouvem a Moisés e aos Profetas, tampouco se deixarão persuadir, ainda 
que ressuscite alguém dentre os mortos" (v. 31.). 
Notemos a força e a pertinência desse argumento. O testemunho do 
Antigo Testamento é mais valioso do que o de um indivíduo vindo do 
além. Os líderes judeus, através de suatradição, haviam anulado a palavra 
do Senhor. Vemos também como essa verdade transparece em outros fatos 
posteriores. Nem as ressurreições de Lázaro, de Betânia, e a do próprio 
Cristo foram suficientes para convencer os líderes judeus. O testemunho 
da Lei e dos Profetas é definitivo, exatamente como Jesus afirmara. 
Outras passagens bíblicas confirmam isso. Em João 10.33-39, Jesus 
cita o texto de Salmos 82.6, chamando esse versículo de "vossa lei". Ele 
prossegue argumentando que, como "a Escritura não pode falhar", ela servia 
POR QUE OS CRISTÃOS crセem@ NA BÍBLIA? - O ANTIGO TESTAMENTO 
para justificar o que ele dizia. Não pretendemos aqui considerar a clara 
afirmação de Cristo quanto à sua divindade. Desejamos, porém, chamar 
atenção para o fato de que Jesus baseou seus argumentos nas Escrituras, 
que não podem falhar. Ele fundamentou sua defesa na palavra deuses. Essa 
única palavra, por constar nas Escrituras, era algo tão certo que Jesus pôde 
usá-la como base para sua afirmação. 
"Porque, se, de fato, crêsseis em Moisés, também creríeis em mim; 
porquanto ele escreveu a meu respeito. Se, porém, não credes nos seus escritos, 
como crereis nas minhas palavras?" (Jo 5.46, 47). Nessa passagem, Cristo 
refere-se a Moisés como o autor dos primeiros cinco livros do Antigo 
Testamento - também chamados Pentateuco-, e afirma que devemos 
crer nesses escritos. Na verdade, Jesus faz uma estreita ligação entre o fato 
de crermos nos escritos de Moisés e a necessidade de crermos em suas palavras. 
Dessa forma, duvidar do Antigo Testamento é o mesmo que duvidar de 
Jesus. Se cremos nele, também devemos crer no Antigo Testamento. Essas 
passagens ensinam sobre a importância de crermos no Antigo Testamento, 
bem como acerca do perigo de negá-lo. 
Há outras provas disso em Mateus 5.17-19 e Lucas 16.16, 17. 
Pedimos ao leitor que confira essas passagens. Elas demonstram claramente 
que Cristo referia-se ao Antigo Testamento ou à "Lei e os profetas". Esse 
termo era usado para designar, de maneira específica, os 39 livros do Antigo 
Testamento presentes no cânon que usamos hoje. Esse compêndio, ou "a 
Lei", é reconhecido como perfeito em todo o seu registro. A declaração 
mais estupenda em relação ao Antigo Testamento é a seguinte: "E é mais 
fácil passar o céu e a terra do que cair um til sequer da Lei" (Lc 16.17). 
Mateus foi ainda mais explícito, afirmando que ela é perfeita até a "menor 
letra ou o menor traço" (NVI). É interessante comparar essas passagens com 
o que Jesus disse a respeito de suas próprias palavras. Disse ele: "Passará o 
céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão" (Mt 24.35; Lc 21.33). 
Notemos que Jesus não se referia à preservação do meio em ·que seriam 
registradas, pois muitos dos documentos originais já se deterioraram. Ele 
falava da verdade e do poder eternos presentes na Palavra. 
Algumas pessoas fazem objeção à afirmação presente em Mateus 
5 .17, dizendo que Jesus, na seqüência do texto, contradiz as Escrituras. A 
respeito disso é suficiente afirmar que tal fato não ocorreu. Cristo não estava 
contradizendo o Antigo Testamento, mas sim negando a interpretação 
tradicional, transmitida pelos escribas. No versículo 43, por exemplo, lemos: 
"Ouvistes que foi dito" [e não "o que está escrito"]: "Amarás o teu próximo 
e odiarás o teu inimigo". Apenas a primeira parte dessa citação (Lv 19.18) 
consta do Antigo Testamento. O trecho seguinte não está presente nas 
Escrituras.Jesus contradisse esse acréscimo feito pelos fariseus. Em versículos 
semelhantes, podemos demonstrar que Jesus não contrariou o Antigo 
Testamento em si. Ele criticava os acréscimos, os erros de tradução e as 
·-.... セ@ INTRODUÇÃO À BÍBLIA 
セセセセセセセセセセセセ@
deturpações feitas pelos escribas.Jesus honrava o Antigo Testamento como 
a genuína Palavra de Deus. 
A atitude de Jesus com relação ao Antigo Testamento também é 
clara em muitas referências genéricas. Ele citou as Escrituras para expulsar 
Satanás (Mt 4.4, 7, 10). Deu início ao seu ministério em Cafarnaum, ao ler 
Isaías na sinagoga (Lc 4.16-19). Ele declarou à congregação reunida: "Hoje, 
se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir" (Lc 4.21). Disse aos saduceus 
que estes erravam "não conhecendo as Escrituras" {Mt 22.29). Apelou 
para o Antigo Testamento com o intuito de justificar suas ações no sábado 
(Mt 12.5), sua atitude ao expulsar os cambistas do templo (Mt 21.13) e o 
fato de ter aceitado o louvor do povo em sua entrada triunfal em Jerusalém 
(Mt 21.16). Declarou que deveria sofrer, como estava previsto nas profecias 
{Lc 18.31-34). Afirmou também que a ação de Judas havia sido profe-
tizada {Me 14.21; Jo 13.18; 15.25). Jesus recusou-se até mesmo a recor-
rer à ajuda dos anjos, pois do contrário não "se cumpririam as Escrituras" 
(Mt 26.54). Suas atitudes como um todo demonstravam que ele era submisso 
à Palavra. Isso fica claro em um versículo notável: "Para que se cumpram 
as Escrituras" (Me 14.49). Logo, se Jesus aceitava o Antigo Testamento, 
quem somos nós para questioná-lo ou negá-lo? Os cristãos devem crer na 
Palavra de Deus e prestar-lhe obediência. 
Podemos apresentar várias outras provas. Jesus aceitava os ensinos 
do Antigo Testamento bem como sua aplicação; a história nele relatada e 
também as doutrinas ali contidas. Acreditava em tudo o que ali está escrito. 
Referiu-se à história de Jonas e o peixe (Mt 12.40), à criação de Adão e 
·Eva pelas mãos de Deus (Me 10.6), à arca de Noé (Mt 24.38) e à mulher 
de Ló (Lc 17.32). Em todos os evangelhos e em muitas outras passagens, 
Jesus sempre nos é apresentado como um indivíduo que cria de maneira 
plena e coerente no Antigo Testamento. Hoje em dia, até mesmo os estu-
diosos mais incrédulos admitem que Cristo realmente cria no Antigo Tes-
tamento. Eles é que não têm fé em Jesus. Todavia, para os cristãos, basta 
o testemunho do Mestre. 
A APROVAÇÃO DOS APÓSTOLOS 
Podemos encontrar mais uma confirmação através da atitude dos 
apóstolos, que foram instruídos por Cristo. Um exemplo magnífico está na 
segunda epístola de Paulo a Timóteo. Essa foi a última carta do apóstolo e 
contém muitas advertências sérias. Paulo incumbiu Timóteo de realizar 
uma tarefa solene: "Prega a palavra" (2Tm 4.2). Para frisar essa ordem, ele 
relembra a Timóteo que "toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para 
o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça" 
(2Tm 3.16). 
POR QUE OS CRISTÃOS crセem@ NA BÍBLIA? - O ANTIGO TESTAMENTO 
Alguns têm questionado o significado desse versículo, mas não há 
justificativa para tanto. A palavra inspirada não significa "soprada", mas 
literalmente "soprada por Deus", ou seja, declarada pelo Senhor. Isso cancela 
qualquer dúvida com relação ao propósito das Escrituras. O apóstolo fazia 
alusão ao Antigo Testamento como um todo, a respeito do qual Timóteo 
fora instruído por sua mãe, uma senhora judia. 
A segunda epístola de Pedro é igualmente clara. Prevendo sua morte 
iminente (2Pe 1.14), ele ansiava por deixar um legado valioso. Para manter 
seus amigos firmes na fé, o apóstolo lhes recomenda a revelação profética 
das Escrituras, que jamais "foi dada por vontade humana; entretanto, homens 
santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo" (2Pe 1.21). 
Os demais apóstolos citaram o Antigo Testamento da mesma maneira 
que Jesus. Ele declarou que foi Davi quem escreveu o texto de Salmos 110, 
inspirado pelo Espírito Santo (Me 12.36). Pedro afirmou que Davi era um 
profeta e, portanto, previu o advento de Cristo em Salmos 16 (At 2.30, 31). 
Paulo citou o texto de Isaías 6 e confirmou que o Espírito Santo falara através 
do profeta (At 28.25). O autor de Hebreus afirma o mesmo: "Havendo 
Deus [ ... ] falado [ ... ] pelos profetas" (Hb 1.1). 
A prova é cabal e satisfatória. Cristo e os apóstolos, a quem ele ensinou, 
aceitavam o Antigo Testamento como a Palavra de Deus, verdadeira e confiável. 
Notemos que os estudiosos da Bíblia não se valem do chamado 
"raciocínio circular", ou seja, não provam a veracidadedas Escrituras a partir 
das próprias Escrituras. Primeiramente, aceitam o Novo Testamento como 
um relato histórico coerente da vida e dos ensinamentos de Cristo, o que 
esses escritos claramente são. Em seguida, analisam os ensinamentos de 
Cristo, examinando a forma como provou ser ele próprio a verdade e a 
fonte da vida eterna. Todavia, Cristo ensinou ainda que os 39 livros do 
Antigo Testamento, conhecidos como "a Lei e os Profetas", eram a Palavra 
de Deus revelada, verdadeira e inerrante em seus mínimos detalhes. 
A essa doutrina, transmitida pelo próprio Jesus, chamamos inspiração 
verbal. E, a partir de sua autoridade, nós a aceitamos. Os primeiros cristãos 
também defendiam esse ensinamento, ao se referirem à Bíblia como infa-
lível ou ao falar sobre a inspiração plenária (completa, total) das Escrituras. 
Esse conceito tem sido acatado pelos cristãos de todas as épocas. E o 
argumento que lhe serve como base é o melhor de todos: o testemunho 
do próprio Cristo. 
A CONFIRMAÇÃO ATRAVÉS DOS FATOS 
Há muitos outros fatores que confirmam a inspiração divina do Antigo 
Testamento. Qyalquer pessoa que estude a Bíblia com dedicação deve estar 
atenta a essas confirmações e ser capaz de avaliá-las. 
. ....._ セ@ INTRODUÇÃO À BÍBLIA 
セMMMMMMMMMMMMGMMMMM
A confirmação pelos milagres 
Os milagres realizados pelos profetas de Deus, e relatados nas Escritu-
ras, indicam que aqueles homens transmitiram mensagens vindas do Senhor. 
A confirmação pelas profecias 
A Palavra de Deus contém centenas de profecias. Muitas delas já 
se cumpriram, tais como a dispersão do povo judeu e a pregação do evan-
gelho por todo o mundo. Outras, como a segunda vinda de Cristo, ainda 
irão acontecer. 
Desenvolveremos esse assunto com mais detalhes no oitavo capítulo. 
Entretanto, agora desejamos chamar a atenção do leitor para o fato de 
que as profecias são provas do caráter sobrenatural da Bíblia. A razão de 
sua existência é mostrar que Deus realmente falou à humanidade. O cum-
primento de uma profecia era uma das maneiras de confirmar que um 
profeta realmente falara da parte de Deus, como vemos em Deuteronômio 
18.20-22. Micaías profetizou a morte de Acabe em Ramote-Gileade e 
provou essa revelação pelo cumprimento de suas palavras (lRs 22.28.) 
Um exemplo de profecia com cumprimento de "longo prazo" foi dado 
por Isaías (Is 44.26-28), que profetizou que Ciro reconstruiria o templo 
em Jerusalém. Em geral, essas previsões são espantosamente minuciosas. 
Outros livros religiosos que não têm relação com a Bíblia não trazem 
profecias desse tipo. O Alcorão, os livros sagrados do Oriente, os escritos 
dos filósofos gregos - nenhum deles faz o que a Bíblia faz, através das 
centenas de profecias nela encontradas. Os céticos buscam explicações 
para esse fenômeno. Todavia, não há resposta satisfatória, a não ser que as 
profecias bíblicas são mensagens divinas, que não nos fornecem simples-
mente meras impressões e sentimentos, mas sim informações e revelações 
claras da parte de Deus. 
A realidade das verdades espirituais 
A Bíblia lida com realidades celestiais e espirituais tais como conversão, 
vitória em Cristo, a eficácia da oração e a comunhão cristã. Estas e um sem-
número de outras realidades divinas dão testemunho de que a Bíblia é a 
Palavra de Deus. 
O testemunho da história 
Outro argumento é que, por séculos, muitos indivíduos têm dado 
testemunho coerente do único Deus verdadeiro, mesmo quando outras culturas 
antigas estavam profundamente envolvidas com o politeísmo ou perdidas na 
iniqüidade. Se julgarmos por seus frutos, com certeza a Bíblia vem de Deus. 
POR QUE OS CRISTÃOS CRÊEM NA BÍBLIA? - O ANTIGO TESTAMENTO 
A CONFIRMAÇÃO DA FÉ 
No início deste capítulo afirmamos que algumas pessoas crêem na 
Bíblia pela razão. Isso, por si só, não é suficiente. A verdade é que nem 
mesmo os melhores argumentos são capazes de convencer um incrédulo. 
Não obstante, a fé proveniente de Deus é prova cabal de que a Bíblia é 
verdadeiramente a Palavra do Senhor. 
Isso não significa que os argumentos apresentados anteriormente 
sejam fracos ou inadequados, mas simplesmente que quem não está salvo 
encontra-se cego para o evangelho. "Coisas espirituais [ ... ] se discernem 
espiritualmente" (1Co 2.13, 14). Um daltônico não consegue diferenciar 
o verde do vermelho. Um cego não é capaz de enxergar a luz do sol. 
Apenas quando o Espírito de Deus age em nosso coração não-rege-
nerado é que nos tornamos capazes de crer plenamente na Bíblia. Aqueles 
que não são salvos podem crer que as Escrituras trazem relatos confiáveis 
ou conselhos salutares. Podem até se sentir impressionados pelo valor moral 
de seus escritos. Entretanto, apenas a operação do Espírito Santo em seu 
interior pode levá-los a enxergar a Bíblia exatamente como ela é-a revelação 
de Deus para a humanidade. 
Isso é o que chamamos de testemunho interior do Espírito Santo no 
homem. Entretanto, devemos ser cautelosos e compreender essa doutrina 
corretamente. Os cristãos não ouvem uma voz que diz: "Esse livro de 
capa preta foi inspirado por Deus". O Espírito não dá testemunho e não 
nos revela nada que vá além do que está escrito na Bíblia. Em vez disso, 
traz confirmação através da Palavra que acolhemos em nosso coração. 
Como disse Abraham Kuyper, o Espírito testemunha ao "âmago" do ser 
humano, falando dos fatos básicos de nossa salvação. A Bíblia nos mostra 
o caminho da salvação. O Espírito nos concede olhos para que a vejamos, 
aceitemos e valorizemos. 
O Espírito Santo faz nascer em nós uma fé genuína através da 
pregação e do ensino do evangelho. Ouvimos as boas novas - a vida, a 
morte e a ressurreição de Jesus. Somos convencidos do pecado pelo Espírito 
de Deus e persuadidos a crer que Cristo é o único Salvador. "Aquele que 
crê no Filho de Deus tem, em si, o testemunho. [ ... ] E o testemunho é 
este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está no seu Filho. Aquele 
que tem o Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de Deus não tem 
a vida" (1Jo 5.10-12). Assim nos convertemos e somos capacitados a 
confiar em Cristo e a crer em seus ensinamentos. Um deles é que a Bíblia 
é verdadeiramente a Palavra de Deus. Assim, quem crê se torna filho de 
Deus, um cristão. 
Nós, cristãos, "crescemos na graça" ao ler e estudar a Bíblia. Cada vez 
mais percebemos que as Escrituras são divinas. Pela fé e pela razão aceitamos 
. ....._ セ@ INTRODUÇÃO À BÍBLIA 
セMMMMMMMMMMMM
as verdades bíblicas a respeito de Deus, da humanidade, do pecado e do 
Salvador. O Espírito Santo usa dessas provas infalíveis para levar pecadores 
a Cristo e abrir seus olhos para "crer tudo o que os profetas disseram". 
"Estas coisas vos escrevi, a fim de saberdes que tendes a vida eterna, a 
vós outros que credes em o nome do Filho de Deus" (1Jo 5.13). 
1 ENRIQUECENDO O VOCABULÁRIO 1 
Inspiração plenária, inspiração verbal. 
1 PERGUNTAS DE RECAPITULAÇÃO 1 
1. Usando uma concordância bíblica, localize todas as ocorrências no 
Novo Testamento da expressão "Moisés e os Profetas" ou "a Lei e os 
Profetas". 
2. セ。ャ。@ prova de que Jesus transmitiu o mesmo ensinamento a respeito 
do Antigo Testamento antes e depois de sua ressurreição? 
3. Decore dois ou três textos que demonstram que Jesus cria nas Escri-
turas. 
POR QUE OS CRISTÃOS CRÊEM NA BÍBLIA? - O ANTIGO TESTAMENTO 
4. Qyais as suas razões para crer que o Antigo Testamento é a Palavra 
de Deus? 
5. O que Jesus quis dizer com a afirmação de Mateus 5.17? 
6. Prepare um debate imaginando uma situação em que um cético 
desafia um cristão com a pergunta: "Por que eu deveria crer na Bíblia''? 
. ....._ セ@ INTRODUÇÃO À BÍBLIA 
セセMMMMMMMBMMGセ@
1 ANOTAÇÕES 
Por que os cristãos 
crêem na Bíblia? 
O Novo Testamento 
O 
s cristãos que acreditam no Antigo Testamento geralmente não têm 
dificuldade em crer no Novo. Isso é perfeitamente compreensível. O 
Novo Testamento traz o relato do evangelho de Cristo e muitos deta-
lhes sobre a fundação e o desenvolvimento da igreja primitiva. Como ele foiescrito em épocas mais recentes do que o Antigo Testamento, há testemunho 
abundante por parte de indivíduos contemporâneos dos autores ou de outras 
pessoas que viveram pouco depois deles. 
Todos os que tiveram os olhos abertos pelo Espírito Santo para 
perceber as verdades do Antigo Testamento também irão acolher pron-
tamente o Novo. Entretanto, é importante apresentar provas explícitas de 
nossa crença e estudar as evidências que apontam para as verdades presentes 
no Novo Testamento. Ademais, a compreensão de seu conteúdo e de sua 
origem irá se somar ao nosso conhecimento sobre a formação do Antigo 
Testamento. 
No caso deste último, é possível encontrar citações de Cristo 
mostrando que a primeira parte da Bíblia é perfeita e completa. Entretanto, 
o mesmo não se dá com o Novo Testamento, pois foi inteiramente escrito 
após a ascensão de Jesus. Portanto, devemos estabelecer os princípios que 
sustentam nossa crença no Novo Testamento a partir do que Cristo disse 
previamente e também através do que os apóstolos registraram sobre os 
ensinamentos do Mestre. 
. ......._ セ@ INTRODUÇÃO À BÍBLIA 
セMMMMMMMMMMセM
O TESTEMUNHO DOS APÓSTOLOS 
A defesa dos apóstolos com relação a esses assuntos é bastante explícita. 
Alguns céticos afirmam que eles não tinham idéia de que seus escritos 
seriam recebidos, compilados e estimados como Palavra de Deus. Na opinião 
dessas pessoas, Paulo escreveu suas cartas com uma disposição muito seme-
lhante à de qualquer um de nós, e foi apenas em épocas posteriores que elas 
foram reconhecidas como verdade divina e reunidas em um único volume. 
Essa visão nega que os apóstolos tenham recebido dons espirituais. Nega 
também que seus escritos tenham sido inspirados por Deus. Tal ceticismo 
faz oposição às afirmações decorrentes dos próprios apóstolos de que estavam 
escrevendo intencionalmente, para que seus leitores cressem neles e 
obedecessem. Por último, os críticos negam fatos históricos claros que pro-
vam que essas epístolas e livros foram recebidos e estimados não apenas 
centenas de anos mais tarde, mas já durante a era apostólica - como demons-
tram as provas que temos atualmente. 
Todavia, é necessário observar as afirmações dos apóstolos com 
atenção. Seus argumentos dizem respeito basicamente a problemas que 
haviam surgido quando igrejas desobedientes se rebelaram contra seus 
mestres. É bem sabido que isso aconteceu, principalmente em Corinto. 
Qyais as alegações de Paulo em defesa de sua autoridade dirigidas aos 
habitantes daquela cidade? 
Paulo 
De maneira sucinta, porém enfática, Paulo afirmou estar falando e 
escrevendo a Palavra de Deus. A epístola de 1 Coríntios foi especialmente 
escrita para uma igreja dividida, pecaminosa e rebelde. Alguns de seus 
membros afirmavam ter dons espirituais, mas não demonstravam isso em 
suas atitudes. Nos capítulos 12 a 14, Paulo apresenta diretrizes para o uso 
dos dons espirituais. Ele conclui com um lembrete bastante incisivo: 
"Porventura, a palavra de Deus se originou no meio de vós ou veio ela 
exclusivamente para vós outros? Se alguém se considera profeta ou espiritual, 
reconheça ser mandamento do Senhor o que vos escrevo" (1Co 14.36, 37). 
Nessa passagem, o apóstolo afirma claramente ter recebido autoridade de 
Deus para escrever suas cartas. 
Em 1 Tessalonicenses, sua primeira epístola, Paulo escreve de maneira 
semelhante. Ele elogia os cristãos de Tessalônica por sua fidelidade e declara 
terem recebido suas instruções como Palavra de Deus, o que realmente 
eram, e não palavras de homens. Pouco depois, escreveu a segunda epístola 
aos tessalonicenses porque os membros daquela igreja haviam interpretado 
erroneamente a doutrina da segunda vinda de Cristo. Naquela carta, Paulo 
fala desta maneira: "Caso alguém não preste obediência à nossa palavra 
POR QUE OS CRISTÃOS CRÊEM NA BÍBLIA? - O NOVO TESTAMENTO 
dada por epístola, notai-o; nem vos associeis com ele, para que fique 
envergonhado" (2Ts 3.14). O apóstolo trazia a Palavra de Deus às igrejas e 
esperava que os cristãos cressem nela e obedecessem a ela como tal. O 
segundo capítulo de 1Coríntios também é uma passagem de grande 
impacto. Em defesa de seu ministério, Paulo declara que falou "em demons-
tração do Espírito" (v.4), apresentando "a sabedoria de Deus" (v.7), que lhe 
fora transmitida "pelo Espírito" (v.10). Ele conhecia as revelações de Deus 
(v.12), e as apresentava não através de ensino humano, mas em palavras 
"ensinadas pelo Espírito" (v.13). 
É possível que isso passe despercebido, porque Paulo usa o pronome 
"nós" em algumas partes da carta. Esse pronome possivelmente referia-se a 
Paulo e aos outros apóstolos, como em 1Coríntios 4.9. Entretanto, o mais 
certo é que ele tenha-se valido do plural de modéstia para falar de si mesmo. 
Em 2Coríntios 10.8, ele afirma que aquele grupo detinha a mesma 
autoridade ("nossa autoridade") que ele alegava possuir ("a autoridade que o 
Senhor me conferiu"), como mencionou em 2Coríntios 13.10. 
Pedro 
Pedro também acreditava estar escrevendo sob a inspiração de Deus. 
Em 2Pedro, sua última carta, ele enfatiza a credibilidade do Antigo 
Testamento. O apóstolo afirma também que o dom da inspiração, concedido 
a ele e aos demais apóstolos, era idêntico ao dom que os autores do Antigo 
Testamento receberam: "Para que vos recordeis das palavras que, anteriormente, 
foram ditas pelos santos profetas, bem como do mandamento do Senhor e 
Salvador, ensinado pelos vossos apóstolos" (2Pe 3.2; veja também 2Pe 1.16). 
Essas afirmações comprovam que devemos aceitar e crer nas Escrituras. 
Pedro aceitou os escritos de Paulo 
Ainda mais diretas são as referências que Pedro faz ao apóstolo Paulo: 
"Como igualmente o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a 
sabedoria que lhe foi dada, ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, 
costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis 
de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como também 
deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles" (2Pe 3.15, 
16). Nesse trecho, Pedro confirma que Paulo redigiu Escrituras que, à 
semelhança do Antigo Testamento, também eram passíveis de ser deturpadas, 
mas apenas para prejuízo dos leitores. Ele fez menção específica de certas 
"epístolas" de Paulo. 
Essa passagem na qual Pedro refere-se aos escritos de seu colega 
apóstolo é notável, e essa foi, provavelmente, a primeira vez que se usou o 
termo "Escrituras" ao mencionar um texto neotestamentário. Outra 
-... セ@ INTRODUÇÃO À BÍBLIA 
セLMMMMMMMセMMセ@
ocorrência desse uso parece estar presente em 1Timóteo 5.18, onde lemos: 
"Pois a Escritura declara: Não amordaces o boi, quando pisa o trigo. E 
ainda: O trabalhador é digno do seu salário". Essa citação consiste de duas 
partes. A primeira vem de Deuteronômio 25.4. A segunda é idêntica (no 
original grego) à passagem de Lucas 10.7. Parece bastante natural acreditar 
que Paulo está citando o Antigo Testamento e também o terceiro evangelho, 
referindo-se a ambos como "Escrituras". 
A terceira passagem dessa mesma natureza encontra-se em Judas 
17, 18. Ali o autor relembra seus leitores "das palavras anteriormente 
proferidas pelos apóstolos de nosso Senhor Jesus Cristo". Ele cita quase 
literalmente 2Pedro 3.3. Esse trecho reforça a autoria apostólica da carta 
e sua composição em data anterior, demonstrando também o grande apreço 
que as pessoas daquela época tinham pelos apóstolos. 
João 
O testemunho derradeiro é do apóstolo João. Ao escrever seu 
evangelho, ele se identifica como o discípulo que se reclinou sobre o peito 
de Jesus durante a última ceia.João afirma que seus escritos e seu testemunho 
são verdadeiros (Jo 21.20-24). 
Em sua primeira epístola, João também apresenta uma argumentação 
detalhada do que testemunhara e afirma estar escrevendo uma mensagem 
recebida do próprio Deus (1Jo 1.1-5). Ele adverte seus leitores para a 
existência de falsos profetas e insta aos cristãos que usem de discernimento 
(4.1). Sem hesitação, escreve:"Nós somos de Deus; aquele que conhece a 
Deus nos ouve; aquele que não é da parte de Deus não nos ouve" (1Jo 4.6). 
Em seu comentário bíblico, Meyer declara que essa passagem ensina que 
João e os demais apóstolos falavam da parte de Deus. 
O TESTEMUNHO DE APOCALIPSE 
Provavelmente os argumentos mais enfáticos a respeito do Novo 
Testamento sejam os que João apresenta em Apocalipse. Muitos cristãos 
aplicam esses versículos à Bíblia como um todo, mas sua referência primordial 
é ao livro de Apocalipse. Todavia, podemos interpretar esses princípios de 
maneira que englobem todo o conjunto das Escrituras. O livro que se inicia 
com as palavras "revelação de Jesus Cristo [ ... ] ao seu servo João" traz uma 
saudação (1.4, 5), assim como vemos nos escritos paulinos. O autor garante 
bênçãos a todos os que lerem, ouvirem e obedecerem ao que ali fora registrado 
(1.3). Profere também uma pesada maldição sobre os que ousarem fazer 
"qualquer acréscimo" ou "tirar qualquer coisa das palavras do livro desta 
profecia" (22.18, 19). É um anjo que esclarece a razão disso: "Estas palavras 
POR QUE OS CRISTÃOS CRÊEM NA BÍBLIA? - O NOVO TESTAMENTO 
são fiéis e verdadeiras. O Senhor, o Deus dos espíritos dos profetas, enviou 
seu anjo para mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer 
( ... )Bem-aventurado aquele que guarda as palavras da profecia deste livro" 
(22.6, 7). Mais adiante (v. 10), o Senhor ordena a João que não sele esses 
escritos proféticos. Notemos o contraste entre essa afirmação e aquela regis-
trada em Daniel 12.9. Ali, Deus diz ao profeta que "estas palavras estão 
encerradas e seladas até ao tempo do fim". Na verdade, o livro de Apocalipse 
é colocado em pé de igualdade com o Antigo Testamento. Essa era a 
interpretação dos apóstolos e deve ser também a nossa atitude com relação 
ao Novo Testamento como um todo. 
O OFÍCIO APOSTÓLICO 
Como era possível que os apóstolos fizessem referência a seus próprios 
escritos como a Palavra de Deus? Encontramos a resposta na atitude de 
Cristo ao escolher pessoalmente os Doze e no fato de ter prometido que 
receberiam o Espírito Santo, para que pudessem realizar sua obra especial 
como mestres da Palavra de Deus. 
Consideremos a grandeza do ofício apostólico. O próprio Cristo 
selecionou os Doze, após uma noite de intercessão (Lc 6.12, 13). Mais 
tarde, disse-lhes: "Assentareis em doze tronos para julgar as doze tribos de 
Israel" (Mt 19.28). Os nomes dos apóstolos estarão gravados nas doze pedras 
que compõem o alicerce da Nova Jerusalém (Ap 21.14). A igreja foi edificada 
"sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo 
Jesus, a pedra angular" (Ef 2.20). Os apóstolos são os primeiros na hierarquia 
eclesiástica {lCo 12.28). Estes, juntamente com os profetas vete-
rotestamentários, foram ordenados para desfrutar tal privilégio. Os apóstolos 
testemunharam a ressurreição de Cristo (At 1.22), e Jesus prometeu que 
seu Espírito revelaria a Palavra de Deus a eles. 
No registro de João sobre a última ceia, bem como sobre fatos 
posteriores, o apóstolo apresenta muitas promessas preciosas (Jo 13-17) 
Em alguns casos, vemos uma clara distinção entre os apóstolos e os demais 
cristãos. Em João 17.20, Jesus orou, dizendo: "Não rogo somente por estes, 
mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua 
palavra". Os relatos de João 14.26 e 16.13 são passagens igualmente 
marcantes. Na primeira, Jesus prometeu o Espírito Santo aos apóstolos. 
Embora o Espírito habite em todos os cristãos, aquele versículo garante 
especificamente que o Consolador viria sobre os apóstolos para que se 
lembrassem das palavras que Jesus ensinara. 
É perfeitamente possível que tivessem tomado nota das mensagens 
de Jesus. Naquela época, já havia uma técnica de escrita simplificada. Pode 
ser que os apóstolos a tenham utilizado. Qyer isso tenha acontecido, quer 
--.... セ@ INTRODUÇÃO À BÍBLIA 
セセMMMMMMMMMMM
não, Jesus prometeu o Espírito Santo especificamente para trazer à 
lembrança de seus seguidores os fatos do evangelho. Ele os guiaria a toda 
a verdade (Jo 16.13). Alguns cristãos defendem que essa é uma promessa 
que se estende à igreja como um todo. Entretanto, o contexto limita clara-
mente aos apóstolos a promessa da inspiração e revelação do Espírito Santo. 
O Espírito de Deus lhes fora prometido e, como disse Jesus, "vos anun-
ciará as coisas que hão de vir". Essa não é uma revelação geral, que o 
Espírito de Deus traz a todos os cristãos, mas uma promessa específica 
feita aos Doze. 
Isso corrobora a autenticidade do Novo Testamento. Nunca deixemos 
de nos maravilhar diante da maneira como ele foi escrito. Deus, que falara 
através dos profetas, enviou seu Filho para nossa salvação. Após a ascensão 
de Cristo, a igreja neotestamentária foi estabelecida milagrosamente no dia 
de Pentecostes. Foi o próprio Cristo quem escolheu os fundadores e líderes 
dessa igreja. Eles eram os apóstolos, que receberam o dom da inspiração e a 
capacidade de realizar milagres que confirmariam seu ofício. Eles afirmavam 
falar e escrever a Palavra de Deus da mesma maneira que os profetas do 
Antigo Testamento. Referiam-se aos escritos uns dos outros com o termo 
"as Escrituras". Insistiam que esses registros deveriam ser lidos e obedecidos. 
Falavam em nome de Cristo e ensinavam com a autoridade do Mestre. 
Historicamente, todos os segmentos da igreja têm sustentado que 
devemos acatar as palavras dos apóstolos e de seus colaboradores (entre eles 
Marcos e Lucas) como Palavra de Deus. Dessa maneira, podemos justificar 
plenamente nossa declaração de que o Novo Testamento, exatamente como 
o Antigo, foi escrito por homens de Deus, movidos pelo Espírito Santo. 
O TESTEMUNHO DOS PAIS DA IGREJA 
O grande apreço pelos apóstolos era compartilhado também pelos 
chamados pais da igreja, que escreveram pouco depois da era apostólica. 
Clemente, bispo de Roma 
Em 95 d.C, Clemente, bispo da igreja em Roma, escreveu uma 
carta aos cristãos de Corinto. Nela, menciona os "ilustres apóstolos" Pedro 
e Paulo. Clemente diz que pregavam o evangelho de Cristo e foram 
confirmados na palavra com total garantia por parte do Espírito Santo. 
Defendia que ambos detinham perfeito conhecimento dos assuntos da 
igreja. Por último, acrescenta que "o bendito apóstolo Paulo" escreveu aos 
coríntios "sob a inspiração do Espírito", a respeito da oposição de certas 
facções contra eles (isto é, Pedro e Paulo) e contra "um homem que eles 
haviam aprovado" (Apolo). Fica óbvio que Clemente respeitava os apóstolos 
e cria em seus escritos. 
POR QUE OS CRISTÃOS CRÊEM NA BÍBLIA? - O NOVO TESTAMENTO 
Inácio de Antioquia 
Inácio foi contemporâneo de Clemente e bispo da igreja de Antioquia. 
Morreu como mártir entre 107 e 117 d.C. Em sua viagem para Roma, 
onde seria executado, escreveu セ・エ・@ epístolas sucintas para diferentes igrejas 
e pessoas. Em várias ocasiões, diferenciou-se dos apóstolos, considerando-os 
em maior estima. Em sua carta aos efésios, por exemplo, refere-se a Paulo, 
que também lhes havia escrito uma epístola, chamando-o "o santo, o mar-
tirizado, o que é merecidamente mais feliz". Aos romanos, Inácio escreveu: 
"Não vos entrego mandamentos, como fizeram Pedro e Paulo. Eles eram 
apóstolos; eu, porém, não passo de um condenado". 
Policarpo 
Policarpo também foi um famoso mártir que deu a vida pela causa 
de Cristo, já em idade avançada. Ele morreu aproximadamente em 155 
d.C., tendo sido cristão (como ele mesmo disse) por oitenta e seis anos. Em 
sua juventude, conheceu o apóstolo João. Inácio destinou uma de suas 
epístolas a Policarpo. A epístola de Policarpo aos filipenses, escrita por volta 
de 118 d.C., contém citações de cerca de metade dos livros do Novo 
Testamento. Ele diz que os apóstolos são semelhantes aos profetas do Antigo 
Testamento. Declara também que não conseguia "alcançar a sabedoria do 
bendito e glorioso Paulo", que também havia escrito aos cristãos de Éfeso. 
Ele fez referência ao martírio de Inácio, mas reservoua categoria de apóstolo 
apenas a Paulo e a outros como ele. 
Outros pais da igreja 
Outros autores, entre eles Papias, Ireneu e Tertuliano, deixaram 
referências mais específicas sobre esses assuntos, de maneira que temos um 
testemunho bastante amplo dos homens da geração pós-apostólica. 
Cronologia de alguns pais da igreja e de escritos importantes 
95 d.C. 
117 d.C. 
117 d.C. 
130 d.C. 
145 d.C. 
145 d.C. 
160 d.C. 
160 d.C. 
170 d.C. 
200 d.C. 
Clemente de Roma 
Inácio 
Epístola de Policarpo 
Epístola de Barnabé 
Papias 
Justino Mártir; Barnabé; Hermas 
Pastor de Hermas 
Didaquê ou Ensino dos Doze Apóstolos 
Ireneu, Cânon Muratoriano 
Tertuliano, Clemente de Alexandria 
·--. _k INTRODUÇÃO À BÍBLIA 
セNMMMMMMMMMセ@
1 enriquZZZLセdo@ O VOCABULÁRIO l 
Apóstolo, Clemente, pais da igreja, 
Inácio, Policarpo, Apocalipse. 
1 pergセセュAZGュA@ DE RECAPITULAÇÃO l 
1. Compare a lista de apóstolos registrada em Mateus 10.2-4, Lucas 
6.14-16 e Atos 1.13, 26. 
2. Olie argumento Paulo apresenta em lCoríntios 2.13 e lTessalo-
nicenses 2.13 para afirmar que seus escritos são verdadeiros? O que 
ele diz com respeito à inspiração de seus ensinamentos públicos? 
3. Oliais as duas passagens do Novo Testamento que fazem referência a 
outros livros neotestamentários como "Escrituras"? 
4. Para ser considerado apóstolo um indivíduo devia ter sido testemu-
nha da ressurreição de Jesus. Como foi possível a Paulo receber esse 
título (lCo 15.8, 9)? 
POR QUE OS CRISTÃOS CRÊEM NA BÍBLIA? - O NOVO TESTAMENTO 
5. Hoje em dia, alguém pode ser chamado apóstolo? セ・@ razões o lei-
tor pode apresentar para defender sua resposta (At 1.22)? 
6. セ・@ maldições sobrevirão a quem alterar o texto das Escrituras, 
segundo o livro de Apocalipse? O que está prometido aos que lerem 
esse livro e guardarem seus ensinamentos? 
7. セ・@ razões há para crermos que o Novo Testamento foi inspirado 
por Deus, à semelhança do Antigo? 
8. Estude a cronologia apresentada acima. 
1 ANOTAÇÕES 
Quem escreveu o 
Antigo Testamento? 
D 
eus poderia ter comunicado sua vontade e suas obras a nós de inú-
meras maneiras. Ele escolheu usar o relato bíblico para nos revelar 
sua sabedoria e verdade. Como sabemos, antes dos dias de Moisés, 
Deus falou a Adão, Caim, Enoque, Noé, Abraão e vários outros. Esses 
homens comunicaram a Palavra de Deus aos seus semelhantes através da 
linguagem oral. Suas mensagens aparentemente não foram registradas por 
escrito. Na verdade, alguns deles proferiram seus discursos em épocas em 
que ainda nenhuma forma de escrita havia sido inventada. Mais tarde, porém, 
Deus comissionou alguns indivíduos para que escrevessem a mensagem 
que lhes entregara. 
Estudando a doutrina da inspiração, percebemos que Deus registrou 
as Escrituras sagradas por intermédio de seu Espírito. A Bíblia é uma 
biblioteca divina compilada por vários autores humanos. Nosso propósito é 
estudá-los, mas devemos sempre nos lembrar de que a Palavra de Deus é 
um livro único, escrito por um único autor, o Espírito Santo. Ela apresenta 
um tema principal (a redenção da humanidade) e uma grandiosa seqüência 
de acontecimentos (as obras de Deus para a salvação do ser humano pecador). 
MOISÉS 
O primeiro autor das Escrituras foi Moisés, sobre quem Deus afirmou: 
"Boca a boca falo com ele, claramente e não por enigmas" (Nm 12.8). Ele 
. ......_ セ@ INTRODUÇÃO À BÍBLIA 
セセMMMセ@
escreveu os cinco primeiros livros aos quais chamamos Pentateuco ou Lei 
de Moisés. O termo hebraico para designar esses livros é Torá (Lei). Moisés 
também foi o autor do salmo 90. 
Nunca devemos menosprezar nem minimizar a ação do Espírito Santo, 
quando mencionamos a genialidade de Moisés, porque foi o Senhor quem 
lhe conferiu inteligência e instruções. Qiiando Deus deseja realizar algum 
propósito, escolhe o homem certo para fazê-lo. E Moisés foi um desses 
homens, pois foi colocado por Deus no limiar de uma nova era. Até então, 
Deus havia lidado com indivíduos e famílias. Agora, de acordo com o que 
prometera a Abraão, faria de Israel uma nação. Através da providência divina, 
Moisés, que nasceu sob um regime de escravidão, "foi educado em toda a 
ciência dos egípcios" (At 7.22). Ele aprendera com sua mãe a respeito do 
Deus dos israelitas, pois ela cuidou de seu próprio filho como ama contratada 
pela filha do faraó. 
Na corte real, Moisés aprendeu a ler e a escrever e foi instruído na 
cultura egípcia. Falava a língua do Egito e o acadiano (da Babilônia), além 
do hebraico, sua língua materna. Ele provavelmente estudou os clássicos 
babilônios, administração pública e ciência militar. Mais tarde, ele se valeria 
de todo seu preparo e de sua capacidade nata, quando Deus faria dele o 
líder da nação, o juiz de Israel, o capitão do exército, o arquiteto do taber-
náculo, o poeta do povo e o profeta e legislador divino. Moisés foi real-
mente um vaso escolhido, um homem de Deus! 
Moisés nasceu provavelmente em 1520 a.C., durante um dos períodos 
mais prósperos da história egípcia. Seus escritos são conhecidos e admirados 
em todo o mundo. Foi ele quem deu início à extensa linhagem dos profetas 
do Antigo Testamento, que revelaram a vontade de Deus a Israel por mais 
de mil anos. 
A LINHAGEM PROFÉTICA 
Deus providenciou certos critérios pelos quais os profetas deveriam 
ser provados. (Dt 13 e 18.) Os falsos profetas eram aqueles cuja mensagem 
não estava de acordo com a verdadeira revelação já entregue, cujas predições 
não se cumpriam. O texto de Êxodo 4.1-5 demonstra que os milagres 
também serviam para dar crédito à mensagem do profeta. Através desses 
parâmetros, o povo de Israel podia saber quem eram os genuínos arautos de 
Deus e quais eram os falsos. Todos os verdadeiros profetas representavam 
Jesus Cristo, o grande Profeta que havia de vir. 
Não sabemos os nomes de todos eles, mas muitos nos são conhecidos. 
Samuel escreveu pelo menos um livro a respeito do reino, na época em que 
Saul fui ungido rei (lSm 10.25). Ele registrou a história do reinado davídico 
(1Cr29.29) e fez muitas profecias. Davi, excelente cantor e rei extraordinário, 
também foi profeta (At 2.30). Escreveu cerca de metade do livro de Salmos. 
QUEM ESCREVEU O ANTIGO TESTAMENTO? セ@ __.-· 
セセMGMMMMMMMセ@
Entre os dias de Davi e os de Malaquias houve dezenas de outros profetas. 
Nesse grupo encontram-se Elias e Eliseu, por volta de 850 a.C.; Isaías, 
Oséias e Joel, por volta de 725 a.C.; Jeremias, Naum, Habacuque e 
Sofonias, por volta de 600 a.C.; Ezequiel, Daniel e outros, durante e 
após o cativeiro, em cerca de 400 a.C. 
Houve ainda uma sucessão de outros profetas menos conhecidos, 
que registraram a história da época. Seus nomes figuram em vários versículos 
nos livros de 1e2Crônicas. Durante o reinado de Davi (1Cr 29.29), lemos 
sobre Samuel, Natã e Gade. No tempo de Salomão (2Cr 9.29), há referência 
a Aías e Ido. Em 2Crônicas 12.15, aparece Semaías em meio ao relato 
sobre Roboão. Entre outros profetas encontram-se Jeú, filho de Hanani, 
que escreveu sobre o rei Josafá (2Cr 20.34), e Isaías, que registrou os fatos 
do reinado de Uzias e Ezequias (2Cr 26.22 e 32.32). Além desses, muitos 
outros profetas também são citados. 
A maioria dos livros do Antigo Testamento foi escrita por profetas 
cujos nomes conhecemos. Os outros estão incluídos na "palavra profética" 
confirmada (2Pel.19) e nos "profetas que se lêem todos os sábados" (At 
13.27). Mediante o exame do Antigo Testamento revelam-se muitos 
detalhes dos escritos desses indivíduos. 
A história de Israel que vai do período do Pentateuco até a era davídica 
está relatada nos livros deJosué,Juízes, Rute e possivelmenteJó. Não sabemos 
com certeza quem escreveu o livro de Josué, mas provavelmente ele é o 
autor de todo o livro ou de pelo menos parte dele. Ele era cheio do Espírito 
(Dt 34.9), o povo o respeitava, à semelhança de Moisés (Js 4.14), e ele 
escreveu as palavras da aliança no Livro da Lei de Deus (Js 24.26). Ele se 
valia do "jargão" profético: "Assim diz o SENHOR" (Js 24.2). Um dos livros 
apócrifos,

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