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Curso Vida Nova
de Teologia Básica
INTRODUÇÃO À BÍBLIA
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Harris, R. Laird
Introdução à Bíblia I R. Laird Harris ;
tradução Bruno G. Destefani. -- São Paulo :
Vida Nova, 2005. -- (Curso vida nova de teologia
básica ; v. 1)
Título original: Exploring tha basics of the
Bible.
ISBN 978-85-275-0331-0
1. Bíblia - Introduções 2. Teologia - Estudo e
ensino I. Título. II. Série.
05-1682 CDD-220.61
Índices para catálogo sistemático:
1. Bíblia : Introdução 220.61
2. Introdução à Bíblia 220.21
Curso Vida Nova
de Teologia Básica
INTRODUÇÃO À BÍBLIA
R. LAIRD HARRIS
Traducão
.>
Bruno G. Destefani
011
VlDANOVA
Copyright© 2002 Evangelical Training Association
Título do original: Exploring tha Basics of the Bible
Traduzido da edição publicada em 2002 pela Crossway Books, uma
divisão da Good News Publishers (Wheaton, Illinois, EUA)
1: edição: 2005
Reimpressão: 2007
2: edição: 2008
Reimpressão: 2010
Publicado no Brasil com a devida autorização
e com todos os direitos reservados por
SOCIEDADE RELIGIOSA EDIÇÕES VIDA NOVA,
Caixa Postal 21266, São Paulo, SP, CEP 04602-970
www.vidanova.com.br
Proibida a reprodução por quaisquer meios (mecânicos,
eletrônicos, xerográficos, fotográficos, gravação, estocagem em
banco de dados, etc.), a não ser em citações breves
· com indicação de fonte.
ISBN 978-85-275-0331-0
Impresso no Brasil/ Printed in Brazil
COORDENAÇÃO EDITORIAL
Robinson Malkomes
CONSULTORIA
Aldo Menezes
REVISÃO
Marisa K. Alvarenga de S. Lopes
COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO
Sérgio Siqueira Moura
DIAGRAMAÇÃO
Sk editoração
CAPA
Julio Carvalho
Conteúdo
Apresentação . . .. . ... . .. . .. . .. . ... . .. . . .. . .. . ... . .. . .. . . .. . . .. . .. . .. . .. . ... ... . .. . . .. . .... .. 7
1. Revelação e inspiração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
2. Por que os cristãos crêem na Bíblia?
- O Antigo Testamento..................................................... 23
3. Por que os cristãos crêem na Bíblia?
- O Novo Testamento ....................................................... 33
4. Qyem escreveu o Antigo Testamento?.................................... 43
5. Qyem escreveu o Novo Testamento?....................................... 55
6. Como a Bíblia foi preservada
- O Novo Testamento........................................................ 6 7
7. Como a Bíblia foi preservada
- O Antigo Testamento ..................................................... 7 5
8. Controvérsias em torno da Bíblia .... .. .. .. ....... .... .. .. .. .. .. .. .. .. .... ... 8 5
9. A alta crítica e a Bíblia............................................................. 99
10. A arqueologia e o Antigo Testamento ..................................... 107
11. Ferramentas para o estudo bíblico ........................................... 117
12. Métodos de estudo bíblico ...................................................... 129
Enriqueça sua biblioteca............................................................... 13 9
Apresentação
Curso Vida Nova de
Teologia Básica
T odos os cristãos precisam de teologia Durante muito tempo a teologia esteve confinada nos círculos acadê-micos. Sua linguagem técnica e seu rigor científico impediam que o
público leigo, não-especializado, saboreasse a boa erudição bíblica. A parte
que lhe cabia era ouvir longos sermões, que nem sempre atingiam o coração
dos ouvintes, muito menos sua mente.
A distinção entre clérigos e leigos, sem dúvida, contribuiu para o
surgimento desse abismo entre a teologia e os não-iniciados no saber teoló-
gico. O estudo sobre Deus e sua relação com seu povo foi se tornando cada
vez mais propriedade de uma elite intelectual.
As Escrituras, no entanto, apontam outro caminho. O povo de Deus,
e não apenas uma parcela desse povo (os mestres), é chamado de "sacerdócio
real". Esse povo deve anunciar "as grandezas daquele que [o] chamou das
trevas para sua maravilhosa luz" (lPe 2.9). Todos estão obrigados a cumprir
a Grande Comissão: fazer discípulos para o Mestre, ensinando-os a obede-
cer todas as coisas que ele ordenou (Mt 28.19-20). Todos devem renovar a
mente, para experimentar a "boa, agradável e perfeita vontade de Deus"
(Rm 12.2). Todos devem estar preparados para "responder a todo aquele
que [ ... ] pedir a razão da esperança" que há neles (lPe 3.15). Todos são
instados a crescer não apenas na "graça'', mas também "no conhecimento de
nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo" (2Pe 3.18).
A retomada do ensino bíblico do sacerdócio de todos os crentes, no
entanto, não significa que Deus não tenha capacitado especialmente alguns
para exercer determinados dons na igreja. O apóstolo Paulo afirma que
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Deus "designou uns como apóstolos, outros como profetas, e outros como
evangelistas, e ainda outros como pastores e mestres" (Ef 4.11). Esses espe-
cialmente capacitados, porém, não deviam guardar para si o depósito do
conteúdo da fé. Eles tinham uma missão a cumprir:
... o aperfeiçoamento dos santos para a obra do ministério e para a edificação do
corpo de Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento
do Filho de Deus, ao estado de homem feito, à medida da estatura da plenitude
de Cristo; para que não sejamos mais como crianças, inconstantes, levados ao
redor por todo vento de doutrina, pela mentira dos homens, pela sua astúcia na
invenção do erro; pelo contrário; seguindo a verdade em amor, cresçamos em
tudo naquele que é a cabeça, Cristo.
Nele o corpo inteiro, bem ajustado e ligado pelo auxílio de todas as juntas,
segundo a correta atuação de cada parte, efetua o seu crescimento para edificação
de si mesmo em amor (Ef 4.12-16).
Essas passagens bíblicas mostram claramente que a teologia deve estar a
serviço de todo o povo de Deus. Mais ainda: que todo o povo de Deus deve se
beneficiar de todos os campos do labor teológico. Vejamos alguns exemplos:
1. Anunciar as grandezas de Deus (1Pe 2.9) requer preparo no falar. A
parte da teologia que cuida da boa transmissão oral da Palavra de Deus
é a homilética, cujos princípios não se aplicam somente à preparação
de sermão, mas à comunicação da Palavra de Deus como um todo.
2. Não basta fazer discípulos, é preciso ensiná-los (Mt 28.19-20). Isso
requer conhecimento das coisas de Deus (e esta é uma definição básica
de teologia= estudo sobre Deus).
3. Estar preparado para "responder a todo aquele que [ ... ] pedir a razão
da esperançà' que há em nós (1Pe 3.15) requer conhecimento bíblico
e o exercício da "apologética" (um discurso de defesa da fé cristã bem
embasado nas Escrituras).
4. Qyando Pedro disse que os cristãos devem crescer "no conhecimento
de [ ... ] Jesus Cristo" (2Pe 3.18), ele estava, segundo o contexto,
alertando-os a não se deixar levar pelos que "deturpam'' as Escrituras
(2Pe 3.14-17). Pedro também reconheceu que há passagens de difícil
interpretação (v. 16). A hermenêutica é a parte da teologia que se en-
carrega de avaliar o sentido preciso de uma passagem bíblica, lidando
com as "coisas difíceis". Bem preparados, não seremos "levados [ ... ]
por todo vento de doutrina, pela mentira dos homens, pela sua astú-
cia na invenção do erro" (Ef 4.14).
É evidente, portanto, que todos nós, povo de Deus, precisamos de
teologia. Todos nós precisamos aprimorar diariamente nosso conhecimento
das Escrituras. Devemos ser realmente estudiosos da Palavra de Deus. E o
labor teológico nos conduz a esses fins.
APRESENTAÇÃO セ@ .--·
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A importância e as vantagens do Curso
Vida Nova de Teologia Básica
Edições Vida Nova reconhece o valor e a força da comunidade leiga
de nossas igrejas. Nossa missão é levar conhecimento e preparo teológico a
todo o povo de Deus. Pensando nessa parcela significativade cristãos e com
pleno conhecimento da necessidade do saber teológico para todos, temos o
prazer de apresentar o Curso Vida Nova de Teologia Básica. Trata-se de
um curso básico de teologia para leigos. Isso quer dizer que esse curso está
desprovido do jargão teológico tradicional e de tecnicismos dessa área. É
um curso perfeito para leitores que desejam conhecer um pouco de teologia
numa linguagem informal, instrumental e não-acadêmica.
O material é altamente didático e informativo. É de fácil assimila-
ção. Os autores também se valem de perguntas para debate, que funcionam
como questões de recapitulação, a fim de fixar na mente do leitor os pontos
principais apresentados ao longo de cada lição. Como se diz em homilética:
''A repetição é a mãe da retenção". C2lianto mais recapitulamos, mais fixa-
mos o que aprendemos. Além disso, há uma bibliografia ao mesmo tempo
concisa e precisa, conduzindo o leitor a obras que poderão auxiliá-lo em
seu crescimento espiritual.
Todos os cristãos desejosos de crescer no "conhecimento de nosso
Senhor e Salvador Jesus Cristo" se beneficiarão desse curso. Crentes bem
preparados e conhecedores da Palavra de Deus farão das escolas dominicais,
dos centros de treinamento de líderes e de outros ministérios voltados para
o aperfeiçoamento do corpo de Cristo um espaço agradável de estudo e
reflexão das Escrituras.
O currículo básico do curso inclui os seguintes assuntos:
1. Introdução à Bíblia
2. Panorama do Antigo Testamento
3. Panorama do Novo Testamento
4. Panorama da história da igreja
5. Homilética
6. Apologética cristã
7. Teologia sistemática
8. Educação cristã
9. Filosofia
10. Aconselhamento
Os próximos volumes previstos para lançamento são: Interpretação
da Bíblia, Missões, Evangelismo, Louvor e adoração, Ética cristã e
Administração eclesiástica.
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Introdução à Bíblia
Como não se pode fazer teologia sem a Palavra de Deus, esse é o tema
deste primeiro volume do Curso Vida Nova de Teologia Básica.
Este volume pretende fornecer respostas às seguintes questões:
1. Deus realmente se revelou à humanidade? Há objetividade nessa
revelação?
2. Se a Bíblia foi escrita por homens, como ela pode ser definida como
a Palavra de Deus? De que modo Deus se comunicou com os ho-
mens a fim de produzir a Bíblia?
3. Por que os cristãos crêem na Bíblia? Há evidências racionais para
essa crença?
4. Qyem escreveu o Antigo Testamento?
5. A Bíblia é um livro antigo, mas é realmente confiável? Como ter
certeza de que o conteúdo não foi alterado com o passar do tempo?
6. Existem realmente milagres e profecias?
7. O que é alta crítica? Conseguiu a Bíblia sobreviver a seus ataques?
8. O que a arqueologia tem a dizer sobre a confiabilidade das Escrituras?
Além de analisar essas questões altamente relevantes, o estudante da
Bíblia também será equipado com ferramentas para o estudo das Escrituras.
São publicações que devem compor sua biblioteca particular: diversas versões
das Escrituras, bíblias de estudo, obras de consulta, livros de teologia siste-
mática, comentários bíblicos, introdução bíblica, história da igreja e da teolo-
gia e livros de teologia prática.
Mas nem só de ferramentas vive um estudante das Escrituras. Ele
precisa de um método de pesquisa a fim de facilitar e conduzir seu traba-
lho de pesquisa da Bíblia. Há um capítulo destinado exclusivamente a isso.
Aproveite o Curso Vida Nova de Teologia Básica. Prove por si mesmo
como é bom e agradável conhecer profundamente a Palavra de Deus. Tome
para si as palavras de Paulo a Timóteo: "Procura apresentar-te aprovado diante
de Deus, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a
palavra da verdade" (2Tm 2.15).
Os Editores
Março de 2005
Revelação e inspiração
O livro de Génesis conta como Deus criou a humanidade à sua ima-gem e semelhança. Um dos propósitos do Senhor era que Adão tivesse contato e comunhão com ele. A partir desse relato, fica claro
que Deus cuidava do homem, conversava com ele e lhe dava ordens. Pois, o
fato de o Deus altíssimo dialogar com pessoas dessa maneira representa
uma maravilhosa revelação de sua Palavra, de seu ser e de sua vontade.
Depois que Adão e Eva pecaram, Deus poderia muito bem ter
desistido deles. O primeiro casal o desobedecera por livre e espontânea
vontade; a conseqüência disso era a morte. Entretanto, Deus, em sua infinita
misericórdia, desenvolveu o plano da salvação. Assim sendo o Senhor
procurou Adão no jardim e o responsabilizou por seu pecado. Essa foi a
primeira revelação de Deus para o ser humano pecador.
REVELAÇÃO ESPECIAL E REVELAÇÃO GERAL
Deus deu continuidade a essa prática falando com Adão, Eva, a
serpente, Caim, Noé e muitos outros. A essa comunicação direta da parte
de Deus chamamos revelação especial.
Podemos aprender muito sobre Deus a partir do universo que ele
criou. Uma criação tão vasta dá testemunho da existência de um Deus Todo-
poderoso. As maravilhas de nosso mundo dão prova da sabedoria infinita
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de Deus. Nossa própria consciência aponta para a existência de um Deus
santo e benevolente. A essas provas de sua presença através da criação cha-
mamos revelação geral.
Entretanto, essa revelação geral tem sido negada por muitos.
Segundo alegam, aquilo que nos parece complexo na natureza é pura obra
do acaso, e essa "ética interior'', a que chamamos consciência, é fruto de
nosso convívio social, de um aprendizado recebido desde o nascimento,
de uma ilusão que nós mesmos criamos, etc. No entanto, em Romanos
1.19-23 o apóstolo Paulo afirma claramente que podemos perceber Deus
na natureza, e ele se refere expressamente à consciência no texto de Ro-
manos 2.15. Todavia, é impressionante percebermos que a grande maio-
ria das pessoas sempre acreditou em algum tipo de divindade. Além disso,
embora alguns neguem a existência da consciência, todas as culturas
conhecidas possuem alguma espécie de código moral. Isso nos leva a con-
cluir que a revelação natural já está bem fundamentada. Paulo diz que o
fato de isso não levar algumas pessoas a adorar o Deus verdadeiro se deve
à iniqüidade delas (Rm 1.18).
INSPIRAÇÃO
Qgando Deus falou ao ser humano na Antigüidade, isso se deu atra-
vés de uma revelação oral especial. Até onde sabemos, o homem só foi desen-
volver um sistema de escrita depois do dilúvio. Talvez as pessoas daquela
época utilizassem algum método para registrar quantidades de objetos, mas
ao que parece a escrita como hoje a conhecemos teve início na Mesopotâmia
e no Egito, pouco antes de 3000 a.C. Porém, a revelação oral de Deus era
algo tão especial, verdadeiro e inspirado quanto sua palavra escrita, que
surgiria mais tarde. Qyando falou a Caim, Deus não o fez através da voz de
sua consciência, e Caim respondeu-lhe com ira. Essa passagem retrata uma
comunicação direta e objetiva da parte de Deus.
Ninguém sabe o nome de muitas das pessoas com quem Deus con-
versou nos primeiros tempos. Embora o Antigo Testamento afirme que
Enoque "andou com Deus'', esse termo provavelmente se refere a um con-
vívio habitual e constante, e não à ação de caminhar junto com alguém.
De qualquer maneira, isso indica harmonia e comunhão, o que implica
em diálogo. Tal conceito concorda com a referência no Novo Testamen-
to de que Enoque foi um profeta (Jd 14). Noé recebeu revelações ex-
plícitas e meticulosas da parte de Deus. Não foi a sua própria imaginação
bem desenvolvida que lhe deu as instruções a respeito da arca. Ao contrá-
rio, o Senhor lhe disse quais deveriam ser as dimensões da embarcação,
que animais reunir, etc. Sem essa mensagem específica, Noé também te-
ria perecido.
REVELAÇÃO E INSPIRAÇÃO セ@ .----
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Outra lição que podemos aprender com Noé é que ele ministrava a
Palavra de Deus para sua geração. O relato de Gênesis, e de forma mais
direta uma passagem de 2Pedro, mostram que Noé avisou seus contem-
porâneos a respeitodo julgamento iminente que sobreviria ao mundo. Essa
é a função do profeta. Após ter recebido uma mensagem de Deus, ele deve
transmiti-la ao povo.
Embora a Bíblia não conte muito a respeito da revelação divina
durante o longo período entre Noé e Abraão, ela traz muitas informações
sobre as épocas subseqüentes. Deus falou muitas vezes a Abraão. Deu-lhe
ordenanças específicas e promessas que seriam cumpridas de maneiras
que ele jamais poderia ter imaginado. Ele era considerado um príncipe
pelos seus contemporâneos (Gn 23.6) e um adorador do Deus verdadeiro
(Gn 14.22). Através de sua vida e de suas mensagens, ele ministrava à sua
geração, e por meio dos registros feitos por Moisés, continua falando
também a nós.
Moisés foi o primeiro profeta a preservar as palavras de Deus da
forma escrita. O Senhor lhe falou face a face (Nm 12.8). Além disso,
ordenou-lhe que escrevesse seus mandamentos (Êx 24.4-8). A maior parte
do Pentateuco, depois do relato do chamado de Moisés, em Êxodo 2, traz
expressões como "o Senhor disse a Moisés". No final de Deuteronômio,
lemos que Moisés escreveu a lei de Deus e instruiu o povo a obedecer
aquelas ordenanças, bem como a lê-las publicamente durante a Festa dos
Tabernáculos, realizada a cada sete anos (Dt 31.9-13).
Veremos mais a respeito dos profetas e de sua atuação no quarto
capítulo. No momento, estudaremos algumas conseqüências decorrentes
dessa visão dos profetas do Antigo Testamento como instrumentos da
revelação de Deus, ou como seus porta-vozes para o povo (Êx 7.1, 2).
Lembremos que um profeta em Israel não era considerado apenas um
homem profundamente espiritual. Na verdade, era visto como um indivíduo
chamado por Deus para dele receber revelações (Nm 12.2-8). A palavra do
profeta era reconhecida como a palavra de Deus, de tal maneira que era
como se ele tivesse ingerido um rolo de pergaminho vindo do céu e depois
o transmitisse oralmente para o povo (Ez 2.7-3.3). A mensagem por eles
transmitida era a palavra de Deus.
O mesmo podemos dizer a respeito daquilo que os profetas
escreveram. Nem todas as mensagens proféticas eram registradas por escrito.
Urias profetizou em nome do Senhor, assim como o fizera Jeremias. No
entanto, foi morto pelo rei Jeoaquim e suas palavras não foram registradas
(Jr 26.20, 21). Todavia, quando o Senhor falou através dos profetas em
Israel, na Antigüidade, as palavras deles eram genuinamente vindas de Deus.
O fato de terem sido transmitidas apenas oralmente ou também na forma
escrita não importava. Josué, por exemplo, acrescentou seu relato ao Livro
da Lei de Deus (Js 24.26). Sabemos, porém, que boa parte, senão a quase
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totalidade do Antigo Testamento, foi transmitida primeiramente de forma
oral e mais tarde registrada através da linguagem escrita.
Alguns defendem uma diferença entre o discurso profético e os es-
critos proféticos, afirmando que apenas estes últimos foram inspirados.
Todavia, o Antigo Testamento não faz tal distinção.
Esses exemplos ilustram o que queremos dizer com o termo "inspiração
das Escrituras". Uma boa definição desse termo seria afirmarmos que a
inspiração é "obra do Espírito Santo em indivíduos escolhidos por Deus,
através do qual a pessoa é levada a falar ou escrever, em seu próprio idioma,
exatamente as palavras de Deus, sem que cometa erro algum com respeito a
fatos, doutrinas e juízos". No segundo e terceiro capítulos iremos oferecer a
base bíblica desse conceito.
INSPIRAÇÃO VERBAL
Esse conceito de inspiração defende que as próprias palavras
transmitidas são de fato prescritas por Deus, inspiradas pelo Espírito Santo.
Isso às vezes é apresentado de maneira caricatural como sendo a "teoria do
ditado". Entretanto, a maioria dos teólogos conservadores atuais não acredita
que Deus simplesmente tenha ditado sua Palavra para escribas, como se
eles fizessem as vezes de uma secretária ou de um robô. Deus usava os
profetas e os controlava, porém sem violar o estilo de redação ou a perso-
nalidade deles. A doutrina que mais se aproxima da "teoria do ditado" foi
aquela desenvolvida em 1545, no Concílio católico de Trento. Ela expressa,
em latim, que as Escrituras são Spiritu Sancto dictante. Todavia, nessa
expressão o vocábulo dictante não significa "ditadas", segundo entendemos
hoje, mas sim "ditas" ou "transmitidas" pelo Espírito Santo.
INFALIBILIDADE E INERRÂNCIA
Historicamente, a Bíblia tem sido considerada um texto inspirado, o
que quer dizer, em outras palavras, que ela é tida como a autêntica Palavra
de Deus. Tradicionalmente também tem sido considerada infalível. Isso é o
mesmo que dizer que nas Escrituras não há erros. Em épocas mais recentes,
teólogos da linha conservadora têm considerado a crença na Bíblia como "a
única regra infalível de fé e prática". Com isso querem dizer claramente
que a Palavra de Deus é uma regra perfeita de fé e de conduta. Entretanto,
com o surgimento do liberalismo, essa doutrina tem comumente sido
reinterpretada para transmitir o significado de que a Bíblia é infalível apenas
em questões de fé e moral. Dessa maneira o termo infalível foi "diluído",
permitindo a identificação de equívocos no texto bíblico com relação a
fatos científicos e históricos. Essa postura é amplamente defendida entre os
REVELAÇÃO E INSPIRAÇÃO セ@ __...
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liberais da atualidade. Para combater essa postura "secularizada" com rela-
ção às Escrituras, teólogos conservadores consideraram necessário adotar o
uso do adjetivo inerrante, para afirmar que a Bíblia não possui erros.
Dizer que a Palavra de Deus é infalível deveria ser suficiente.
Entretanto, diante da situação mencionada acima, percebemos ser necessário
dizer também que ela é inerrante, uma vez que se pretenda declarar que a
Bíblia é a perfeita verdade em tudo o que afirma,. Assim, a Bíblia é
verbalmente inspirada, infalível e inerrante, no sentido de que seus
manuscritos originais não contêm erros. A declaração de fé da Evangelical
Theological Society expressa esse pensamento de maneira sucinta, porém
precisa: "Apenas a Bíblia, em sua totalidade, é a Palavra de Deus em forma
escrita e, portanto, inerrante em seus autógrafos [textos originais]".
Muitos consideram essa visão das Escrituras muito restritiva. Dizem
que estamos vivendo no século XXI, e que não deveríamos acreditar mais em
tais doutrinas. Afirmam que os fatos contrariam essa visão e que os conceitos
científicos presentes na Bíblia já caíram em desuso. Não podemos mais
acreditar na existência de uma terra plana, com o céu "lá no alto", segundo
dizem eles. Afirmam que a crença na existência real de Adão ou em histórias
como a de Jonas deve ser negada. Na verdade, declaram que as Escrituras
possuem contradições. Essas pessoas defendem que há um elemento humano
na Bíblia que não pode ser isento de erro. E chegam à conclusão de que, se
insistirmos na questão da inerrância da Palavra de Deus, jamais iremos
convencer os indivíduos da era moderna.
Apresentaremos algumas respostas breves contra essas críticas e as
trataremos com mais detalhes no oitavo capítulo. Primeiramente, temos
que dizer que é necessário sermos cautelosos ao refutar qualquer doutrina
antiga - principalmente uma que esteja fundamentada no ensino de Cristo
e de seus apóstolos - pela simples finalidade de supostamente conven-
cermos nossos contemporâneos. Os profetas da Antigüidade receberam a
instrução de pregar a Palavra de Deus, quer as pessoas lhes dessem ouvidos
ou não (cf. Is 6.9, 10; Jr 20.9 e Ez 2.5-7).
Em segundo lugar, é bastante duvidoso que a Bíblia retrate uma terra
plana, com o céu "lá no alto". Alguns afirmam que perceberemos essa descrição
apenas se interpretarmos as Escrituras literalmente. Entretanto, ninguém,
nem mesmo o teólogo conservador mais zeloso que existe, lê a Bíblia tomando-
ª em sentido literal. O texto sagrado está repleto de metáforas, parábolas e
poesia, que devem ser interpretadas da mesma maneira queas presentes em
qualquer outra obra literária. Ninguém levaria ao pé da letra expressões comuns
como "morrer de dar risada'' ou "ele tem um coração de ouro'', ou ainda "faz
uma eternidade desde que a vi pela última vez". Portanto, a objeção levantada
pelos liberais baseia-se numa interpretação literal e errônea de várias passagens
poéticas, para daí afirmar que a Bíblia contradiz o senso comum. Todavia,
chegaríamos à mesma conclusão se aplicássemos essa sistemática a poesias
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que descrevam a lua, as árvores, as montanhas ou qualquer outro cenário
maravilhoso e belo.
Muitos se esquecem de que os astrônomos da época neotestamentária
já afirmavam que a Terra era redonda. Até mesmo antes, no ano 250 a.C,
Eratóstenes mediu a circunferência de nosso planeta com bastante precisão.
É curioso o fato de que teólogos mais recentes, que se opõem à idéia de que
o céu esttja "lá no alto'', falem sobre a "intervenção" do reino do céu na
história. E tão esquisito retratar o céu dessa maneira, como algo à parte da
história, quanto é imaginá-lo como algo "lá no alto". Entretanto, como
afirmou C. S. Lewis com muita pertinência em seu livro Miracles1, "toda
descrição a respeito de coisas que não podemos perceber por meio dos sentidos
deve ser considerada metafórica. Não há outra maneira para descrever o que
não conseguimos vislumbrar".
Portanto, a linguagem bíblica não implica o fato de que o céu, em
termos espirituais, esteja "lá no alto" (embora no hebraico, como em nosso
idioma, usa-se a mesma palavra para significar o céu no qual estão as
estrelas, as nuvens, e o espaço onde os pássaros voam, o qual de fato encon-
tra-se "lá no alto"). De maneira semelhante, não se pode dizer que "os
confins da terra" sejam o extremo do planeta além do qual caímos no
espaço. O vocábulo hebraico traduzido por "terra" também é muito usado
com o significado de "território ou região". Os "confins da terra" geralmente
representam lugares distantes e "quatro cantos da terra" descreve vastas
áreas em qualquer direção (cf. Ez 7.2).
Em terceiro lugar, se as pessoas não conseguem crer em uma criação no
sentido literal, devem ser suficientemente capazes de provar que o acaso é o
responsável pela incrível riqueza e complexidade da vida, ou pela criação desse
ser tão singular e dotado de inteligência, propósito e consciência moral a que
chamamos de ser humano.
Por último, fazer objeção quanto à inerrância das Escrituras com base
em supostas contradições é um ato de negligência para com os vastos estudos
sobre esses assuntos, realizados desde os dias de Justino, que foi martirizado
por sua fé, no ano 148 de nossa era. Ele escreveu em sua obra Diálogo com o
judeu Trifõ: "Estou plenamente convicto de que nenhum trecho das Escrituras
contradiz outro".
É óbvio que a Bíblia contém algumas aparentes complicações e certos
conceitos difíceis de compreender. Com toda certeza, podemos esperar algo
assim de um documento proveniente de outra cultura que remonta aos
tempos antigos. Se o choque cultural é algo previsível quando viajamos
para outros países, maior ainda é a possibilidade de encontrarmos aspectos
1 C. S. Lewis,Miracles (Nova York: Macmillan, 1947; publicado no Brasil sob o título
Milagres), p. 74.
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surpreendentes na Bíblia. Entretanto, muitas dessas dificuldades já foram
solucionadas por intermédio de descobertas a respeito de costumes e idiomas
antigos. Assim, um cristão bem informado pode atribuir as dificuldades
que ainda restam ao mero desconhecimento sobre detalhes do cotidiano e
da história da Antigüidade. Problemas de ordem factual continuam a ser
elucidados, para satisfação de muitos dos estudiosos atuais.
Os cristãos da linha conservadora não aceitam a idéia de que as
Escrituras contenham verdadeiras contradições. Assim como os pais da igreja
primitiva, eles acreditam que essas supostas contradições devem-se à falta
de conhecimento ou a erros de cópia de menor importância.
INTERPRETAÇÃO BÍBLICA (HERMENÊUTICA)
A Reforma Protestante foi um movimento que incentivou o retorno
à Bíblia. Sua ênfase estava em disponibilizar as Escrituras para os leigos.
Wycliffe defendera esse princípio anteriormente, mas foram Lutero, Tyndale
e outros que realmente levaram adiante o trabalho de traduzir a Bíblia para
o idioma das massas. O corolário era que a Palavra de Deus é um livro
simples que pode ser lido e compreendido por pessoas comuns.
Obviamente a própria história comprovou essa visão. Isso não significa,
porém, que qualquer um possa compreender plenamente todas as passagens
bíblicas. No entanto, ao lê-las, podemos aprender de Deus e a respeito do
seu plano da salvação, e pela fé aceitá-lo. Os juízos do Senhor, porém, são
insondáveis e "inescrutáveis, os seus caminhos" (Rm 11.33). Até mesmo
referências a incidentes históricos e práticas comuns na Antigüidade são
complicadas de entender. Para isso precisamos de informações sobre o
cotidiano do mundo daquela época.
Portanto uma interpretação detalhada da Bíblia requer o estudo de
idiomas, da cultura, da história, etc. Todavia, existe uma nova vertente da
hermenêutica que afirma que a Bíblia não é relevante para nós, hoje em dia.
Defensores dessa postura dizem que os judeus antigos viviam de maneira
muito diferente da nossa, que não se interessavam por exatidão numérica,
relações cronológicas, ou precisão histórica. Esses críticos dizem que a Bíblia
não apresenta erros sob a ótica dos padrões da época em que foi escrita, mas
que revela incorreções se estudada à luz dos padrões científicos atuais.
Podemos mencionar muitos fatos para refutar essas afirmações.
Primeiro, os antigos não eram tão relapsos assim como alguns pensam. As
pirâmides, construídas 500 anos antes de Abraão, são orientadas com base
na Estrela Polar, com um desvio de apenas cinco graus! No ano 732 a.C,
em Jerusalém, os engenheiros comandados por Ezequias cavaram um túnel
sinuoso através de mais de 600 metros de rocha sólida. Começaram o trabalho
a partir dos dois extremos e as duas equipes de escavação se encontraram no
. ......_ _b INTRODUÇÃO À BÍBLIA
セNMMMMMMMMMMMMMMMMMMM
meio do caminho. Os dois braços do túnel ficaram desalinhados por pouco
mais de meio metro.
Em segundo lugar, ninguém é totalmente exato. Fazer cálculos
aproximados não é o mesmo que cometer erros. Muitos já afirmaram que a
Bíblia continha equívocos históricos, mas em diversas ocasiões, descobertas
arqueológicas vieram a demonstrar que as Escrituras estavam corretas.
Outros defendem o argumento - já bastante desgastado - de que a
Bíblia é irrelevante para nossa época, por ser produto do mundo antigo.
Todavia milhões de pessoas, que encontraram conforto, respostas e salvação
através das Escrituras, afirmam justamente o contrário. Embora a cultura
da Antigüidade seja bastante distinta da nossa, as diferenças não ofuscam
as semelhanças. Os seres humanos naquela época viviam, amavam, alimen-
tavam-se, ficavam doentes, lutavam, pensavam, pecavam e morriam da
mesma maneira que nós hoje. Não é correta a afirmação de que a mente
do homem antigo era muito diferente da nossa. E. D. Hirsch chama isso
de "falácia do passado inescrutável"2• Ele comenta que há menos diferenças
entre os indivíduos da era moderna e os da época antiga, do que entre
vários indivíduos que vivem no mundo de hoje. Portanto, a Bíblia é
compreensível e também relevante.
Ainda há outros, que se denominam evangélicos, que dizem que a
Bíblia contém erros. Eles afirmam, porém, que essas incorreções podem ser
desconsideradas e que não afetam a mensagem divina. Dizem ainda que a
inerrância anularia o fator humano necessário para o registro das Escrituras.
Entretanto, essa idéia baseia-se num erro de interpretação. O con-
ceito histórico de inspiração verbal e de inerrância defende que Deus, por
seu Espírito, age de maneira poderosa nos seres humanos, embora seu
trabalho se dê "nosbastidores". O processo de inspiração não vem totalmente
de Deus, excluindo assim a participação do homem, pois isso seria uma
espécie de ditado espiritual. Em contrapartida, também não é totalmente
humano, desconsiderando por sua vez a intervenção de Deus, uma vez que
isso seria humanismo. Tampouco podemos dizer que foi realizado metade
por Deus e metade pelo homem. Dessa forma graves erros seriam inevitáveis.
A resposta correta é que Deus valeu-se de indivíduos, que lançaram
mão de toda sua capacidade humana, e agiu através deles de maneira poderosa,
embora tenha permanecido totalmente no controle de todo processo.
Concluímos então que a inspiração verbal somente é possível porque o
Espírito de Deus é perfeitamente capaz de agir dessa maneira. O resultado
foi que os autores da Bíblia não escreveram como as pessoas comumente o
fazem, mas foram "movidos pelo Espírito Santo" (2Pe 1.21). Como acontece
2 E. D. Hirsch, The Aims of Interpretation (Chigago: University of Chicago, 1976),
p. 41.
REVELAÇÃO E INSPIRAÇÃO セ@ セᆳ
MセセMMMMMMMMMセ@
com a maioria das verdades espirituais, essa doutrina também está envolta
em mistério. Entretanto, é um mistério maravilhoso, pois colocou em nossas
mãos uma Bíblia inerrante.
A IMPORTÂNCIA DAS ESCRITURAS INSPIRADAS
O conceito de inspiração verbal ou de inerrância tem sido adotado
pelos líderes da igreja desde seu início3• Uma postura tão difundida com
certeza é fundamental. Uma das principais ênfases da Reforma era o lema
sola scriptura, ou seja, somente a Bíblia. Esse enfoque foi vital para dar
vazão àquele grande avivamento espiritual.
Devido à influência dos liberais, a doutrina da inerrância praticamente
desapareceu da Alemanha, no século XIX, e em muitas partes dos Estados
Unidos, no início do século XX. Uma renovação da plena confiança e da
crença na Bíblia fomentou o fortalecimento dos evangélicos e da pregação
das boas novas no final do século passado. É muito fácil perceber a ligação
entre as duas coisas.
Sem que haja uma mensagem real e verdadeira vinda do céu, ficamos
perdidos num oceano de opiniões humanas e de fraqueza moral. O ensino
dos Dez Mandamentos foi eliminado das escolas públicas americanas. Sua
autoridade tem sido negada em algumas denominações mais antigas. O resul-
tado é desastroso. Entretanto, o discípulo amado há muito deixou a advertência:
"Eu, a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro, testifico: Se
alguém lhes fizer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os flagelos escritos
neste livro; e, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta profecia,
Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa e das coisas que se
acham escritas neste livro" (Ap 22.18, 19).
A Bíblia é a Palavra de Deus transmitida a nós. Devemos lê-la,
estudá-la, meditar nela, e principalmente, colocá-la em prática. Em seguida,
é preciso que nos juntemos a outros que partilham dessa fé preciosa, a
fim de garantir que as Escrituras sejam respeitadas e ensinadas até os con-
fins da terra.
3 Norman L. Geisler, ed., Inerrancy (Grand Rapids: Zondervan Publishing, 1980),
caps. 12 e 13.
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セMMMMMMMMMMセM
1 ENRIQUECENDO O VOCABULÁRIO 1
revelação geral, revelação especial, infalível,
inerrante, hermenêutica
1 PERGUNTAS DE RECAPITULAÇÃO 1
1. O que o texto de Romanos 1.18-32 nos ensina com relação à
possibilidade de as pessoas conhecerem o Deus verdadeiro por meio
de sua revelação na natureza?
2. Se todo ser humano possui uma consciência e, por conseguinte,
padrões morais, por que motivo não tem uma vida boa e perfeita?
3. O que o texto de Êxodo 7.1 ensina com relação aos profetas serem
porta-vozes de Deus?
REVELAÇÃO E INSPIRAÇÃO .....___ __...
GM]MMMMGMMMMMMセMMMセ@
4. Os profetas de Baal, sustentados por Jezabel, realmente falaram em
nome de seu deus, ou apenas disseram aquilo que o povo queria
ouvir (1Rs 22.6)?
5. Compare os textos de Jó 26.7 e 9.6. Como podemos explicar a
aparente contradição entre eles?
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1 ANOTAÇÕES
Por que os cristãos
crêem na Bíblia?
O Antigo Testamento
P or que os cristãos crêem na Bíblia? Podemos elucidar essa questão de várias maneiras. Algumas respostas são mais importantes do que outras. Uma parte delas baseia-se bastante na razão. Já outra parte
fundamenta-se na fé. Todas essas respostas são fundamentais e estudaremos
esses dois grupos separadamente. Neste capítulo, apresentaremos as respostas
relacionadas ao Antigo Testamento. No capítulo seguinte, trataremos das
razões pelas quais os cristãos podem crer no Novo Testamento.
A APROVAÇÃO DE CRISTO
A resposta mais direta e mais clara do porquê de os cristãos crerem
no Antigo Testamento é o fato de que Cristo também cria. Confiamos em
seus ensinamentos. Para nós, cristãos, o Senhor Jesus é a autoridade máxima
em todas as questões. Por meio de milagres, maravilhas e sinais, ele provou,
sem deixar dúvidas, que viera de Deus. Através de seu poder, ao ressuscitar
dos mortos, demonstrou ser o Filho unigênito de Deus. Paulo resumiu essa
doutrina em Romanos 1.4: "E foi designado Filho de Deus com poder,
segundo o espírito de santidade pela ressurreição dos mortos". Se duvidarmos
dos ensinamentos de Cristo, estaremos questionando tudo o que há de
mais precioso e fundamental na fé cristã. Jesus cria no Antigo Testamento
e ensinava as verdades que ali se encontram. Isso, por si, já é suficiente.
·--.... セ@ INTRODUÇÃO À BÍBLIA
セセMMMセ@
Através do relato bíblico, fica claro que Cristo realmente cria e ensinava
que o Antigo Testamento é a Palavra de Deus. Muitos versículos em par-
ticular mostram seus ensinamentos com relação a isso, e várias outras passa-
gens nos evangelhos revelam, de maneira geral, sua atitude para com as
Escrituras Sagradas.
A conversa de Cristo com os dois discípulos, na estrada para Emaús
depois de sua ressurreição, é de importância fundamental. Leia Lucas
24.13-31. Nesse relato, percebemos claramente que aqueles indivíduos
não haviam· acolhido plenamente o testemunho das mulheres, que afirmavam
que Cristo havia ressuscitado. A eles Jesus disse: "Ó néscios e tardos de
coração para crer tudo o que os profetas disseram!" (v. 25). E então passou
a citar muitas passagens do Antigo Testamento, mostrando como as
Escrituras traziam a previsão daqueles acontecimentos. O texto diz ainda:
"E, começando por Moisés, discorrendo por todos os Profetas, expunha-
lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras" (v. 27). Notemos
como Cristo baseou seus argumentos no livro conhecido como "as Escrituras"
e também como "Moisés e os Profetas". Este último é um designativo do
Antigo Testamento comumente encontrado nos manuscritos do mar Morto
e também no Novo Testamento. Esse termo ou "a Lei e os Profetas" aparece
várias vezes no Novo Testamento, com pequenas variações. Jesus estava
declarando que os discípulos deveriam ter crido naqueles escritos.
O texto de Lucas 16.29-31 apresenta esse ensinamento de maneira
veemente. Na parábola sobre o homem rico e Lázaro, Jesus dá grande ênfase
à necessidade de crermos na Palavra de Deus. O homem rico foi condenado
ao tormento eterno, do qual não havia escapatória nem alívio. Lázaro, o
mendigo, por sua vez, encontrava-se em um lugar de bênção eterna. O
homem rico rogou que Abraão enviasse Lázaro de volta, para alertar seus
cinco irmãos. Cristo cita a resposta do patriarca demonstrando sua óbvia
aprovação: "Eles têm Moisés e os Profetas", isto é, o Antigo Testamento. O
homem condenado ao tormento eterno implorou novamente que seus irmãos
recebessem um testemunho especial e miraculoso. Abraão respondeu: "Se
não ouvem a Moisés e aos Profetas, tampouco se deixarão persuadir, ainda
que ressuscite alguém dentre os mortos" (v. 31.).
Notemos a força e a pertinência desse argumento. O testemunho do
Antigo Testamento é mais valioso do que o de um indivíduo vindo do
além. Os líderes judeus, através de suatradição, haviam anulado a palavra
do Senhor. Vemos também como essa verdade transparece em outros fatos
posteriores. Nem as ressurreições de Lázaro, de Betânia, e a do próprio
Cristo foram suficientes para convencer os líderes judeus. O testemunho
da Lei e dos Profetas é definitivo, exatamente como Jesus afirmara.
Outras passagens bíblicas confirmam isso. Em João 10.33-39, Jesus
cita o texto de Salmos 82.6, chamando esse versículo de "vossa lei". Ele
prossegue argumentando que, como "a Escritura não pode falhar", ela servia
POR QUE OS CRISTÃOS crセem@ NA BÍBLIA? - O ANTIGO TESTAMENTO
para justificar o que ele dizia. Não pretendemos aqui considerar a clara
afirmação de Cristo quanto à sua divindade. Desejamos, porém, chamar
atenção para o fato de que Jesus baseou seus argumentos nas Escrituras,
que não podem falhar. Ele fundamentou sua defesa na palavra deuses. Essa
única palavra, por constar nas Escrituras, era algo tão certo que Jesus pôde
usá-la como base para sua afirmação.
"Porque, se, de fato, crêsseis em Moisés, também creríeis em mim;
porquanto ele escreveu a meu respeito. Se, porém, não credes nos seus escritos,
como crereis nas minhas palavras?" (Jo 5.46, 47). Nessa passagem, Cristo
refere-se a Moisés como o autor dos primeiros cinco livros do Antigo
Testamento - também chamados Pentateuco-, e afirma que devemos
crer nesses escritos. Na verdade, Jesus faz uma estreita ligação entre o fato
de crermos nos escritos de Moisés e a necessidade de crermos em suas palavras.
Dessa forma, duvidar do Antigo Testamento é o mesmo que duvidar de
Jesus. Se cremos nele, também devemos crer no Antigo Testamento. Essas
passagens ensinam sobre a importância de crermos no Antigo Testamento,
bem como acerca do perigo de negá-lo.
Há outras provas disso em Mateus 5.17-19 e Lucas 16.16, 17.
Pedimos ao leitor que confira essas passagens. Elas demonstram claramente
que Cristo referia-se ao Antigo Testamento ou à "Lei e os profetas". Esse
termo era usado para designar, de maneira específica, os 39 livros do Antigo
Testamento presentes no cânon que usamos hoje. Esse compêndio, ou "a
Lei", é reconhecido como perfeito em todo o seu registro. A declaração
mais estupenda em relação ao Antigo Testamento é a seguinte: "E é mais
fácil passar o céu e a terra do que cair um til sequer da Lei" (Lc 16.17).
Mateus foi ainda mais explícito, afirmando que ela é perfeita até a "menor
letra ou o menor traço" (NVI). É interessante comparar essas passagens com
o que Jesus disse a respeito de suas próprias palavras. Disse ele: "Passará o
céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão" (Mt 24.35; Lc 21.33).
Notemos que Jesus não se referia à preservação do meio em ·que seriam
registradas, pois muitos dos documentos originais já se deterioraram. Ele
falava da verdade e do poder eternos presentes na Palavra.
Algumas pessoas fazem objeção à afirmação presente em Mateus
5 .17, dizendo que Jesus, na seqüência do texto, contradiz as Escrituras. A
respeito disso é suficiente afirmar que tal fato não ocorreu. Cristo não estava
contradizendo o Antigo Testamento, mas sim negando a interpretação
tradicional, transmitida pelos escribas. No versículo 43, por exemplo, lemos:
"Ouvistes que foi dito" [e não "o que está escrito"]: "Amarás o teu próximo
e odiarás o teu inimigo". Apenas a primeira parte dessa citação (Lv 19.18)
consta do Antigo Testamento. O trecho seguinte não está presente nas
Escrituras.Jesus contradisse esse acréscimo feito pelos fariseus. Em versículos
semelhantes, podemos demonstrar que Jesus não contrariou o Antigo
Testamento em si. Ele criticava os acréscimos, os erros de tradução e as
·-.... セ@ INTRODUÇÃO À BÍBLIA
セセセセセセセセセセセセ@
deturpações feitas pelos escribas.Jesus honrava o Antigo Testamento como
a genuína Palavra de Deus.
A atitude de Jesus com relação ao Antigo Testamento também é
clara em muitas referências genéricas. Ele citou as Escrituras para expulsar
Satanás (Mt 4.4, 7, 10). Deu início ao seu ministério em Cafarnaum, ao ler
Isaías na sinagoga (Lc 4.16-19). Ele declarou à congregação reunida: "Hoje,
se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir" (Lc 4.21). Disse aos saduceus
que estes erravam "não conhecendo as Escrituras" {Mt 22.29). Apelou
para o Antigo Testamento com o intuito de justificar suas ações no sábado
(Mt 12.5), sua atitude ao expulsar os cambistas do templo (Mt 21.13) e o
fato de ter aceitado o louvor do povo em sua entrada triunfal em Jerusalém
(Mt 21.16). Declarou que deveria sofrer, como estava previsto nas profecias
{Lc 18.31-34). Afirmou também que a ação de Judas havia sido profe-
tizada {Me 14.21; Jo 13.18; 15.25). Jesus recusou-se até mesmo a recor-
rer à ajuda dos anjos, pois do contrário não "se cumpririam as Escrituras"
(Mt 26.54). Suas atitudes como um todo demonstravam que ele era submisso
à Palavra. Isso fica claro em um versículo notável: "Para que se cumpram
as Escrituras" (Me 14.49). Logo, se Jesus aceitava o Antigo Testamento,
quem somos nós para questioná-lo ou negá-lo? Os cristãos devem crer na
Palavra de Deus e prestar-lhe obediência.
Podemos apresentar várias outras provas. Jesus aceitava os ensinos
do Antigo Testamento bem como sua aplicação; a história nele relatada e
também as doutrinas ali contidas. Acreditava em tudo o que ali está escrito.
Referiu-se à história de Jonas e o peixe (Mt 12.40), à criação de Adão e
·Eva pelas mãos de Deus (Me 10.6), à arca de Noé (Mt 24.38) e à mulher
de Ló (Lc 17.32). Em todos os evangelhos e em muitas outras passagens,
Jesus sempre nos é apresentado como um indivíduo que cria de maneira
plena e coerente no Antigo Testamento. Hoje em dia, até mesmo os estu-
diosos mais incrédulos admitem que Cristo realmente cria no Antigo Tes-
tamento. Eles é que não têm fé em Jesus. Todavia, para os cristãos, basta
o testemunho do Mestre.
A APROVAÇÃO DOS APÓSTOLOS
Podemos encontrar mais uma confirmação através da atitude dos
apóstolos, que foram instruídos por Cristo. Um exemplo magnífico está na
segunda epístola de Paulo a Timóteo. Essa foi a última carta do apóstolo e
contém muitas advertências sérias. Paulo incumbiu Timóteo de realizar
uma tarefa solene: "Prega a palavra" (2Tm 4.2). Para frisar essa ordem, ele
relembra a Timóteo que "toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para
o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça"
(2Tm 3.16).
POR QUE OS CRISTÃOS crセem@ NA BÍBLIA? - O ANTIGO TESTAMENTO
Alguns têm questionado o significado desse versículo, mas não há
justificativa para tanto. A palavra inspirada não significa "soprada", mas
literalmente "soprada por Deus", ou seja, declarada pelo Senhor. Isso cancela
qualquer dúvida com relação ao propósito das Escrituras. O apóstolo fazia
alusão ao Antigo Testamento como um todo, a respeito do qual Timóteo
fora instruído por sua mãe, uma senhora judia.
A segunda epístola de Pedro é igualmente clara. Prevendo sua morte
iminente (2Pe 1.14), ele ansiava por deixar um legado valioso. Para manter
seus amigos firmes na fé, o apóstolo lhes recomenda a revelação profética
das Escrituras, que jamais "foi dada por vontade humana; entretanto, homens
santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo" (2Pe 1.21).
Os demais apóstolos citaram o Antigo Testamento da mesma maneira
que Jesus. Ele declarou que foi Davi quem escreveu o texto de Salmos 110,
inspirado pelo Espírito Santo (Me 12.36). Pedro afirmou que Davi era um
profeta e, portanto, previu o advento de Cristo em Salmos 16 (At 2.30, 31).
Paulo citou o texto de Isaías 6 e confirmou que o Espírito Santo falara através
do profeta (At 28.25). O autor de Hebreus afirma o mesmo: "Havendo
Deus [ ... ] falado [ ... ] pelos profetas" (Hb 1.1).
A prova é cabal e satisfatória. Cristo e os apóstolos, a quem ele ensinou,
aceitavam o Antigo Testamento como a Palavra de Deus, verdadeira e confiável.
Notemos que os estudiosos da Bíblia não se valem do chamado
"raciocínio circular", ou seja, não provam a veracidadedas Escrituras a partir
das próprias Escrituras. Primeiramente, aceitam o Novo Testamento como
um relato histórico coerente da vida e dos ensinamentos de Cristo, o que
esses escritos claramente são. Em seguida, analisam os ensinamentos de
Cristo, examinando a forma como provou ser ele próprio a verdade e a
fonte da vida eterna. Todavia, Cristo ensinou ainda que os 39 livros do
Antigo Testamento, conhecidos como "a Lei e os Profetas", eram a Palavra
de Deus revelada, verdadeira e inerrante em seus mínimos detalhes.
A essa doutrina, transmitida pelo próprio Jesus, chamamos inspiração
verbal. E, a partir de sua autoridade, nós a aceitamos. Os primeiros cristãos
também defendiam esse ensinamento, ao se referirem à Bíblia como infa-
lível ou ao falar sobre a inspiração plenária (completa, total) das Escrituras.
Esse conceito tem sido acatado pelos cristãos de todas as épocas. E o
argumento que lhe serve como base é o melhor de todos: o testemunho
do próprio Cristo.
A CONFIRMAÇÃO ATRAVÉS DOS FATOS
Há muitos outros fatores que confirmam a inspiração divina do Antigo
Testamento. Qyalquer pessoa que estude a Bíblia com dedicação deve estar
atenta a essas confirmações e ser capaz de avaliá-las.
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A confirmação pelos milagres
Os milagres realizados pelos profetas de Deus, e relatados nas Escritu-
ras, indicam que aqueles homens transmitiram mensagens vindas do Senhor.
A confirmação pelas profecias
A Palavra de Deus contém centenas de profecias. Muitas delas já
se cumpriram, tais como a dispersão do povo judeu e a pregação do evan-
gelho por todo o mundo. Outras, como a segunda vinda de Cristo, ainda
irão acontecer.
Desenvolveremos esse assunto com mais detalhes no oitavo capítulo.
Entretanto, agora desejamos chamar a atenção do leitor para o fato de
que as profecias são provas do caráter sobrenatural da Bíblia. A razão de
sua existência é mostrar que Deus realmente falou à humanidade. O cum-
primento de uma profecia era uma das maneiras de confirmar que um
profeta realmente falara da parte de Deus, como vemos em Deuteronômio
18.20-22. Micaías profetizou a morte de Acabe em Ramote-Gileade e
provou essa revelação pelo cumprimento de suas palavras (lRs 22.28.)
Um exemplo de profecia com cumprimento de "longo prazo" foi dado
por Isaías (Is 44.26-28), que profetizou que Ciro reconstruiria o templo
em Jerusalém. Em geral, essas previsões são espantosamente minuciosas.
Outros livros religiosos que não têm relação com a Bíblia não trazem
profecias desse tipo. O Alcorão, os livros sagrados do Oriente, os escritos
dos filósofos gregos - nenhum deles faz o que a Bíblia faz, através das
centenas de profecias nela encontradas. Os céticos buscam explicações
para esse fenômeno. Todavia, não há resposta satisfatória, a não ser que as
profecias bíblicas são mensagens divinas, que não nos fornecem simples-
mente meras impressões e sentimentos, mas sim informações e revelações
claras da parte de Deus.
A realidade das verdades espirituais
A Bíblia lida com realidades celestiais e espirituais tais como conversão,
vitória em Cristo, a eficácia da oração e a comunhão cristã. Estas e um sem-
número de outras realidades divinas dão testemunho de que a Bíblia é a
Palavra de Deus.
O testemunho da história
Outro argumento é que, por séculos, muitos indivíduos têm dado
testemunho coerente do único Deus verdadeiro, mesmo quando outras culturas
antigas estavam profundamente envolvidas com o politeísmo ou perdidas na
iniqüidade. Se julgarmos por seus frutos, com certeza a Bíblia vem de Deus.
POR QUE OS CRISTÃOS CRÊEM NA BÍBLIA? - O ANTIGO TESTAMENTO
A CONFIRMAÇÃO DA FÉ
No início deste capítulo afirmamos que algumas pessoas crêem na
Bíblia pela razão. Isso, por si só, não é suficiente. A verdade é que nem
mesmo os melhores argumentos são capazes de convencer um incrédulo.
Não obstante, a fé proveniente de Deus é prova cabal de que a Bíblia é
verdadeiramente a Palavra do Senhor.
Isso não significa que os argumentos apresentados anteriormente
sejam fracos ou inadequados, mas simplesmente que quem não está salvo
encontra-se cego para o evangelho. "Coisas espirituais [ ... ] se discernem
espiritualmente" (1Co 2.13, 14). Um daltônico não consegue diferenciar
o verde do vermelho. Um cego não é capaz de enxergar a luz do sol.
Apenas quando o Espírito de Deus age em nosso coração não-rege-
nerado é que nos tornamos capazes de crer plenamente na Bíblia. Aqueles
que não são salvos podem crer que as Escrituras trazem relatos confiáveis
ou conselhos salutares. Podem até se sentir impressionados pelo valor moral
de seus escritos. Entretanto, apenas a operação do Espírito Santo em seu
interior pode levá-los a enxergar a Bíblia exatamente como ela é-a revelação
de Deus para a humanidade.
Isso é o que chamamos de testemunho interior do Espírito Santo no
homem. Entretanto, devemos ser cautelosos e compreender essa doutrina
corretamente. Os cristãos não ouvem uma voz que diz: "Esse livro de
capa preta foi inspirado por Deus". O Espírito não dá testemunho e não
nos revela nada que vá além do que está escrito na Bíblia. Em vez disso,
traz confirmação através da Palavra que acolhemos em nosso coração.
Como disse Abraham Kuyper, o Espírito testemunha ao "âmago" do ser
humano, falando dos fatos básicos de nossa salvação. A Bíblia nos mostra
o caminho da salvação. O Espírito nos concede olhos para que a vejamos,
aceitemos e valorizemos.
O Espírito Santo faz nascer em nós uma fé genuína através da
pregação e do ensino do evangelho. Ouvimos as boas novas - a vida, a
morte e a ressurreição de Jesus. Somos convencidos do pecado pelo Espírito
de Deus e persuadidos a crer que Cristo é o único Salvador. "Aquele que
crê no Filho de Deus tem, em si, o testemunho. [ ... ] E o testemunho é
este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está no seu Filho. Aquele
que tem o Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de Deus não tem
a vida" (1Jo 5.10-12). Assim nos convertemos e somos capacitados a
confiar em Cristo e a crer em seus ensinamentos. Um deles é que a Bíblia
é verdadeiramente a Palavra de Deus. Assim, quem crê se torna filho de
Deus, um cristão.
Nós, cristãos, "crescemos na graça" ao ler e estudar a Bíblia. Cada vez
mais percebemos que as Escrituras são divinas. Pela fé e pela razão aceitamos
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セMMMMMMMMMMMM
as verdades bíblicas a respeito de Deus, da humanidade, do pecado e do
Salvador. O Espírito Santo usa dessas provas infalíveis para levar pecadores
a Cristo e abrir seus olhos para "crer tudo o que os profetas disseram".
"Estas coisas vos escrevi, a fim de saberdes que tendes a vida eterna, a
vós outros que credes em o nome do Filho de Deus" (1Jo 5.13).
1 ENRIQUECENDO O VOCABULÁRIO 1
Inspiração plenária, inspiração verbal.
1 PERGUNTAS DE RECAPITULAÇÃO 1
1. Usando uma concordância bíblica, localize todas as ocorrências no
Novo Testamento da expressão "Moisés e os Profetas" ou "a Lei e os
Profetas".
2. セ。ャ。@ prova de que Jesus transmitiu o mesmo ensinamento a respeito
do Antigo Testamento antes e depois de sua ressurreição?
3. Decore dois ou três textos que demonstram que Jesus cria nas Escri-
turas.
POR QUE OS CRISTÃOS CRÊEM NA BÍBLIA? - O ANTIGO TESTAMENTO
4. Qyais as suas razões para crer que o Antigo Testamento é a Palavra
de Deus?
5. O que Jesus quis dizer com a afirmação de Mateus 5.17?
6. Prepare um debate imaginando uma situação em que um cético
desafia um cristão com a pergunta: "Por que eu deveria crer na Bíblia''?
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セセMMMMMMMBMMGセ@
1 ANOTAÇÕES
Por que os cristãos
crêem na Bíblia?
O Novo Testamento
O
s cristãos que acreditam no Antigo Testamento geralmente não têm
dificuldade em crer no Novo. Isso é perfeitamente compreensível. O
Novo Testamento traz o relato do evangelho de Cristo e muitos deta-
lhes sobre a fundação e o desenvolvimento da igreja primitiva. Como ele foiescrito em épocas mais recentes do que o Antigo Testamento, há testemunho
abundante por parte de indivíduos contemporâneos dos autores ou de outras
pessoas que viveram pouco depois deles.
Todos os que tiveram os olhos abertos pelo Espírito Santo para
perceber as verdades do Antigo Testamento também irão acolher pron-
tamente o Novo. Entretanto, é importante apresentar provas explícitas de
nossa crença e estudar as evidências que apontam para as verdades presentes
no Novo Testamento. Ademais, a compreensão de seu conteúdo e de sua
origem irá se somar ao nosso conhecimento sobre a formação do Antigo
Testamento.
No caso deste último, é possível encontrar citações de Cristo
mostrando que a primeira parte da Bíblia é perfeita e completa. Entretanto,
o mesmo não se dá com o Novo Testamento, pois foi inteiramente escrito
após a ascensão de Jesus. Portanto, devemos estabelecer os princípios que
sustentam nossa crença no Novo Testamento a partir do que Cristo disse
previamente e também através do que os apóstolos registraram sobre os
ensinamentos do Mestre.
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セMMMMMMMMMMセM
O TESTEMUNHO DOS APÓSTOLOS
A defesa dos apóstolos com relação a esses assuntos é bastante explícita.
Alguns céticos afirmam que eles não tinham idéia de que seus escritos
seriam recebidos, compilados e estimados como Palavra de Deus. Na opinião
dessas pessoas, Paulo escreveu suas cartas com uma disposição muito seme-
lhante à de qualquer um de nós, e foi apenas em épocas posteriores que elas
foram reconhecidas como verdade divina e reunidas em um único volume.
Essa visão nega que os apóstolos tenham recebido dons espirituais. Nega
também que seus escritos tenham sido inspirados por Deus. Tal ceticismo
faz oposição às afirmações decorrentes dos próprios apóstolos de que estavam
escrevendo intencionalmente, para que seus leitores cressem neles e
obedecessem. Por último, os críticos negam fatos históricos claros que pro-
vam que essas epístolas e livros foram recebidos e estimados não apenas
centenas de anos mais tarde, mas já durante a era apostólica - como demons-
tram as provas que temos atualmente.
Todavia, é necessário observar as afirmações dos apóstolos com
atenção. Seus argumentos dizem respeito basicamente a problemas que
haviam surgido quando igrejas desobedientes se rebelaram contra seus
mestres. É bem sabido que isso aconteceu, principalmente em Corinto.
Qyais as alegações de Paulo em defesa de sua autoridade dirigidas aos
habitantes daquela cidade?
Paulo
De maneira sucinta, porém enfática, Paulo afirmou estar falando e
escrevendo a Palavra de Deus. A epístola de 1 Coríntios foi especialmente
escrita para uma igreja dividida, pecaminosa e rebelde. Alguns de seus
membros afirmavam ter dons espirituais, mas não demonstravam isso em
suas atitudes. Nos capítulos 12 a 14, Paulo apresenta diretrizes para o uso
dos dons espirituais. Ele conclui com um lembrete bastante incisivo:
"Porventura, a palavra de Deus se originou no meio de vós ou veio ela
exclusivamente para vós outros? Se alguém se considera profeta ou espiritual,
reconheça ser mandamento do Senhor o que vos escrevo" (1Co 14.36, 37).
Nessa passagem, o apóstolo afirma claramente ter recebido autoridade de
Deus para escrever suas cartas.
Em 1 Tessalonicenses, sua primeira epístola, Paulo escreve de maneira
semelhante. Ele elogia os cristãos de Tessalônica por sua fidelidade e declara
terem recebido suas instruções como Palavra de Deus, o que realmente
eram, e não palavras de homens. Pouco depois, escreveu a segunda epístola
aos tessalonicenses porque os membros daquela igreja haviam interpretado
erroneamente a doutrina da segunda vinda de Cristo. Naquela carta, Paulo
fala desta maneira: "Caso alguém não preste obediência à nossa palavra
POR QUE OS CRISTÃOS CRÊEM NA BÍBLIA? - O NOVO TESTAMENTO
dada por epístola, notai-o; nem vos associeis com ele, para que fique
envergonhado" (2Ts 3.14). O apóstolo trazia a Palavra de Deus às igrejas e
esperava que os cristãos cressem nela e obedecessem a ela como tal. O
segundo capítulo de 1Coríntios também é uma passagem de grande
impacto. Em defesa de seu ministério, Paulo declara que falou "em demons-
tração do Espírito" (v.4), apresentando "a sabedoria de Deus" (v.7), que lhe
fora transmitida "pelo Espírito" (v.10). Ele conhecia as revelações de Deus
(v.12), e as apresentava não através de ensino humano, mas em palavras
"ensinadas pelo Espírito" (v.13).
É possível que isso passe despercebido, porque Paulo usa o pronome
"nós" em algumas partes da carta. Esse pronome possivelmente referia-se a
Paulo e aos outros apóstolos, como em 1Coríntios 4.9. Entretanto, o mais
certo é que ele tenha-se valido do plural de modéstia para falar de si mesmo.
Em 2Coríntios 10.8, ele afirma que aquele grupo detinha a mesma
autoridade ("nossa autoridade") que ele alegava possuir ("a autoridade que o
Senhor me conferiu"), como mencionou em 2Coríntios 13.10.
Pedro
Pedro também acreditava estar escrevendo sob a inspiração de Deus.
Em 2Pedro, sua última carta, ele enfatiza a credibilidade do Antigo
Testamento. O apóstolo afirma também que o dom da inspiração, concedido
a ele e aos demais apóstolos, era idêntico ao dom que os autores do Antigo
Testamento receberam: "Para que vos recordeis das palavras que, anteriormente,
foram ditas pelos santos profetas, bem como do mandamento do Senhor e
Salvador, ensinado pelos vossos apóstolos" (2Pe 3.2; veja também 2Pe 1.16).
Essas afirmações comprovam que devemos aceitar e crer nas Escrituras.
Pedro aceitou os escritos de Paulo
Ainda mais diretas são as referências que Pedro faz ao apóstolo Paulo:
"Como igualmente o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a
sabedoria que lhe foi dada, ao falar acerca destes assuntos, como, de fato,
costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis
de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como também
deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles" (2Pe 3.15,
16). Nesse trecho, Pedro confirma que Paulo redigiu Escrituras que, à
semelhança do Antigo Testamento, também eram passíveis de ser deturpadas,
mas apenas para prejuízo dos leitores. Ele fez menção específica de certas
"epístolas" de Paulo.
Essa passagem na qual Pedro refere-se aos escritos de seu colega
apóstolo é notável, e essa foi, provavelmente, a primeira vez que se usou o
termo "Escrituras" ao mencionar um texto neotestamentário. Outra
-... セ@ INTRODUÇÃO À BÍBLIA
セLMMMMMMMセMMセ@
ocorrência desse uso parece estar presente em 1Timóteo 5.18, onde lemos:
"Pois a Escritura declara: Não amordaces o boi, quando pisa o trigo. E
ainda: O trabalhador é digno do seu salário". Essa citação consiste de duas
partes. A primeira vem de Deuteronômio 25.4. A segunda é idêntica (no
original grego) à passagem de Lucas 10.7. Parece bastante natural acreditar
que Paulo está citando o Antigo Testamento e também o terceiro evangelho,
referindo-se a ambos como "Escrituras".
A terceira passagem dessa mesma natureza encontra-se em Judas
17, 18. Ali o autor relembra seus leitores "das palavras anteriormente
proferidas pelos apóstolos de nosso Senhor Jesus Cristo". Ele cita quase
literalmente 2Pedro 3.3. Esse trecho reforça a autoria apostólica da carta
e sua composição em data anterior, demonstrando também o grande apreço
que as pessoas daquela época tinham pelos apóstolos.
João
O testemunho derradeiro é do apóstolo João. Ao escrever seu
evangelho, ele se identifica como o discípulo que se reclinou sobre o peito
de Jesus durante a última ceia.João afirma que seus escritos e seu testemunho
são verdadeiros (Jo 21.20-24).
Em sua primeira epístola, João também apresenta uma argumentação
detalhada do que testemunhara e afirma estar escrevendo uma mensagem
recebida do próprio Deus (1Jo 1.1-5). Ele adverte seus leitores para a
existência de falsos profetas e insta aos cristãos que usem de discernimento
(4.1). Sem hesitação, escreve:"Nós somos de Deus; aquele que conhece a
Deus nos ouve; aquele que não é da parte de Deus não nos ouve" (1Jo 4.6).
Em seu comentário bíblico, Meyer declara que essa passagem ensina que
João e os demais apóstolos falavam da parte de Deus.
O TESTEMUNHO DE APOCALIPSE
Provavelmente os argumentos mais enfáticos a respeito do Novo
Testamento sejam os que João apresenta em Apocalipse. Muitos cristãos
aplicam esses versículos à Bíblia como um todo, mas sua referência primordial
é ao livro de Apocalipse. Todavia, podemos interpretar esses princípios de
maneira que englobem todo o conjunto das Escrituras. O livro que se inicia
com as palavras "revelação de Jesus Cristo [ ... ] ao seu servo João" traz uma
saudação (1.4, 5), assim como vemos nos escritos paulinos. O autor garante
bênçãos a todos os que lerem, ouvirem e obedecerem ao que ali fora registrado
(1.3). Profere também uma pesada maldição sobre os que ousarem fazer
"qualquer acréscimo" ou "tirar qualquer coisa das palavras do livro desta
profecia" (22.18, 19). É um anjo que esclarece a razão disso: "Estas palavras
POR QUE OS CRISTÃOS CRÊEM NA BÍBLIA? - O NOVO TESTAMENTO
são fiéis e verdadeiras. O Senhor, o Deus dos espíritos dos profetas, enviou
seu anjo para mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer
( ... )Bem-aventurado aquele que guarda as palavras da profecia deste livro"
(22.6, 7). Mais adiante (v. 10), o Senhor ordena a João que não sele esses
escritos proféticos. Notemos o contraste entre essa afirmação e aquela regis-
trada em Daniel 12.9. Ali, Deus diz ao profeta que "estas palavras estão
encerradas e seladas até ao tempo do fim". Na verdade, o livro de Apocalipse
é colocado em pé de igualdade com o Antigo Testamento. Essa era a
interpretação dos apóstolos e deve ser também a nossa atitude com relação
ao Novo Testamento como um todo.
O OFÍCIO APOSTÓLICO
Como era possível que os apóstolos fizessem referência a seus próprios
escritos como a Palavra de Deus? Encontramos a resposta na atitude de
Cristo ao escolher pessoalmente os Doze e no fato de ter prometido que
receberiam o Espírito Santo, para que pudessem realizar sua obra especial
como mestres da Palavra de Deus.
Consideremos a grandeza do ofício apostólico. O próprio Cristo
selecionou os Doze, após uma noite de intercessão (Lc 6.12, 13). Mais
tarde, disse-lhes: "Assentareis em doze tronos para julgar as doze tribos de
Israel" (Mt 19.28). Os nomes dos apóstolos estarão gravados nas doze pedras
que compõem o alicerce da Nova Jerusalém (Ap 21.14). A igreja foi edificada
"sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo
Jesus, a pedra angular" (Ef 2.20). Os apóstolos são os primeiros na hierarquia
eclesiástica {lCo 12.28). Estes, juntamente com os profetas vete-
rotestamentários, foram ordenados para desfrutar tal privilégio. Os apóstolos
testemunharam a ressurreição de Cristo (At 1.22), e Jesus prometeu que
seu Espírito revelaria a Palavra de Deus a eles.
No registro de João sobre a última ceia, bem como sobre fatos
posteriores, o apóstolo apresenta muitas promessas preciosas (Jo 13-17)
Em alguns casos, vemos uma clara distinção entre os apóstolos e os demais
cristãos. Em João 17.20, Jesus orou, dizendo: "Não rogo somente por estes,
mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua
palavra". Os relatos de João 14.26 e 16.13 são passagens igualmente
marcantes. Na primeira, Jesus prometeu o Espírito Santo aos apóstolos.
Embora o Espírito habite em todos os cristãos, aquele versículo garante
especificamente que o Consolador viria sobre os apóstolos para que se
lembrassem das palavras que Jesus ensinara.
É perfeitamente possível que tivessem tomado nota das mensagens
de Jesus. Naquela época, já havia uma técnica de escrita simplificada. Pode
ser que os apóstolos a tenham utilizado. Qyer isso tenha acontecido, quer
--.... セ@ INTRODUÇÃO À BÍBLIA
セセMMMMMMMMMMM
não, Jesus prometeu o Espírito Santo especificamente para trazer à
lembrança de seus seguidores os fatos do evangelho. Ele os guiaria a toda
a verdade (Jo 16.13). Alguns cristãos defendem que essa é uma promessa
que se estende à igreja como um todo. Entretanto, o contexto limita clara-
mente aos apóstolos a promessa da inspiração e revelação do Espírito Santo.
O Espírito de Deus lhes fora prometido e, como disse Jesus, "vos anun-
ciará as coisas que hão de vir". Essa não é uma revelação geral, que o
Espírito de Deus traz a todos os cristãos, mas uma promessa específica
feita aos Doze.
Isso corrobora a autenticidade do Novo Testamento. Nunca deixemos
de nos maravilhar diante da maneira como ele foi escrito. Deus, que falara
através dos profetas, enviou seu Filho para nossa salvação. Após a ascensão
de Cristo, a igreja neotestamentária foi estabelecida milagrosamente no dia
de Pentecostes. Foi o próprio Cristo quem escolheu os fundadores e líderes
dessa igreja. Eles eram os apóstolos, que receberam o dom da inspiração e a
capacidade de realizar milagres que confirmariam seu ofício. Eles afirmavam
falar e escrever a Palavra de Deus da mesma maneira que os profetas do
Antigo Testamento. Referiam-se aos escritos uns dos outros com o termo
"as Escrituras". Insistiam que esses registros deveriam ser lidos e obedecidos.
Falavam em nome de Cristo e ensinavam com a autoridade do Mestre.
Historicamente, todos os segmentos da igreja têm sustentado que
devemos acatar as palavras dos apóstolos e de seus colaboradores (entre eles
Marcos e Lucas) como Palavra de Deus. Dessa maneira, podemos justificar
plenamente nossa declaração de que o Novo Testamento, exatamente como
o Antigo, foi escrito por homens de Deus, movidos pelo Espírito Santo.
O TESTEMUNHO DOS PAIS DA IGREJA
O grande apreço pelos apóstolos era compartilhado também pelos
chamados pais da igreja, que escreveram pouco depois da era apostólica.
Clemente, bispo de Roma
Em 95 d.C, Clemente, bispo da igreja em Roma, escreveu uma
carta aos cristãos de Corinto. Nela, menciona os "ilustres apóstolos" Pedro
e Paulo. Clemente diz que pregavam o evangelho de Cristo e foram
confirmados na palavra com total garantia por parte do Espírito Santo.
Defendia que ambos detinham perfeito conhecimento dos assuntos da
igreja. Por último, acrescenta que "o bendito apóstolo Paulo" escreveu aos
coríntios "sob a inspiração do Espírito", a respeito da oposição de certas
facções contra eles (isto é, Pedro e Paulo) e contra "um homem que eles
haviam aprovado" (Apolo). Fica óbvio que Clemente respeitava os apóstolos
e cria em seus escritos.
POR QUE OS CRISTÃOS CRÊEM NA BÍBLIA? - O NOVO TESTAMENTO
Inácio de Antioquia
Inácio foi contemporâneo de Clemente e bispo da igreja de Antioquia.
Morreu como mártir entre 107 e 117 d.C. Em sua viagem para Roma,
onde seria executado, escreveu セ・エ・@ epístolas sucintas para diferentes igrejas
e pessoas. Em várias ocasiões, diferenciou-se dos apóstolos, considerando-os
em maior estima. Em sua carta aos efésios, por exemplo, refere-se a Paulo,
que também lhes havia escrito uma epístola, chamando-o "o santo, o mar-
tirizado, o que é merecidamente mais feliz". Aos romanos, Inácio escreveu:
"Não vos entrego mandamentos, como fizeram Pedro e Paulo. Eles eram
apóstolos; eu, porém, não passo de um condenado".
Policarpo
Policarpo também foi um famoso mártir que deu a vida pela causa
de Cristo, já em idade avançada. Ele morreu aproximadamente em 155
d.C., tendo sido cristão (como ele mesmo disse) por oitenta e seis anos. Em
sua juventude, conheceu o apóstolo João. Inácio destinou uma de suas
epístolas a Policarpo. A epístola de Policarpo aos filipenses, escrita por volta
de 118 d.C., contém citações de cerca de metade dos livros do Novo
Testamento. Ele diz que os apóstolos são semelhantes aos profetas do Antigo
Testamento. Declara também que não conseguia "alcançar a sabedoria do
bendito e glorioso Paulo", que também havia escrito aos cristãos de Éfeso.
Ele fez referência ao martírio de Inácio, mas reservoua categoria de apóstolo
apenas a Paulo e a outros como ele.
Outros pais da igreja
Outros autores, entre eles Papias, Ireneu e Tertuliano, deixaram
referências mais específicas sobre esses assuntos, de maneira que temos um
testemunho bastante amplo dos homens da geração pós-apostólica.
Cronologia de alguns pais da igreja e de escritos importantes
95 d.C.
117 d.C.
117 d.C.
130 d.C.
145 d.C.
145 d.C.
160 d.C.
160 d.C.
170 d.C.
200 d.C.
Clemente de Roma
Inácio
Epístola de Policarpo
Epístola de Barnabé
Papias
Justino Mártir; Barnabé; Hermas
Pastor de Hermas
Didaquê ou Ensino dos Doze Apóstolos
Ireneu, Cânon Muratoriano
Tertuliano, Clemente de Alexandria
·--. _k INTRODUÇÃO À BÍBLIA
セNMMMMMMMMMセ@
1 enriquZZZLセdo@ O VOCABULÁRIO l
Apóstolo, Clemente, pais da igreja,
Inácio, Policarpo, Apocalipse.
1 pergセセュAZGュA@ DE RECAPITULAÇÃO l
1. Compare a lista de apóstolos registrada em Mateus 10.2-4, Lucas
6.14-16 e Atos 1.13, 26.
2. Olie argumento Paulo apresenta em lCoríntios 2.13 e lTessalo-
nicenses 2.13 para afirmar que seus escritos são verdadeiros? O que
ele diz com respeito à inspiração de seus ensinamentos públicos?
3. Oliais as duas passagens do Novo Testamento que fazem referência a
outros livros neotestamentários como "Escrituras"?
4. Para ser considerado apóstolo um indivíduo devia ter sido testemu-
nha da ressurreição de Jesus. Como foi possível a Paulo receber esse
título (lCo 15.8, 9)?
POR QUE OS CRISTÃOS CRÊEM NA BÍBLIA? - O NOVO TESTAMENTO
5. Hoje em dia, alguém pode ser chamado apóstolo? セ・@ razões o lei-
tor pode apresentar para defender sua resposta (At 1.22)?
6. セ・@ maldições sobrevirão a quem alterar o texto das Escrituras,
segundo o livro de Apocalipse? O que está prometido aos que lerem
esse livro e guardarem seus ensinamentos?
7. セ・@ razões há para crermos que o Novo Testamento foi inspirado
por Deus, à semelhança do Antigo?
8. Estude a cronologia apresentada acima.
1 ANOTAÇÕES
Quem escreveu o
Antigo Testamento?
D
eus poderia ter comunicado sua vontade e suas obras a nós de inú-
meras maneiras. Ele escolheu usar o relato bíblico para nos revelar
sua sabedoria e verdade. Como sabemos, antes dos dias de Moisés,
Deus falou a Adão, Caim, Enoque, Noé, Abraão e vários outros. Esses
homens comunicaram a Palavra de Deus aos seus semelhantes através da
linguagem oral. Suas mensagens aparentemente não foram registradas por
escrito. Na verdade, alguns deles proferiram seus discursos em épocas em
que ainda nenhuma forma de escrita havia sido inventada. Mais tarde, porém,
Deus comissionou alguns indivíduos para que escrevessem a mensagem
que lhes entregara.
Estudando a doutrina da inspiração, percebemos que Deus registrou
as Escrituras sagradas por intermédio de seu Espírito. A Bíblia é uma
biblioteca divina compilada por vários autores humanos. Nosso propósito é
estudá-los, mas devemos sempre nos lembrar de que a Palavra de Deus é
um livro único, escrito por um único autor, o Espírito Santo. Ela apresenta
um tema principal (a redenção da humanidade) e uma grandiosa seqüência
de acontecimentos (as obras de Deus para a salvação do ser humano pecador).
MOISÉS
O primeiro autor das Escrituras foi Moisés, sobre quem Deus afirmou:
"Boca a boca falo com ele, claramente e não por enigmas" (Nm 12.8). Ele
. ......_ セ@ INTRODUÇÃO À BÍBLIA
セセMMMセ@
escreveu os cinco primeiros livros aos quais chamamos Pentateuco ou Lei
de Moisés. O termo hebraico para designar esses livros é Torá (Lei). Moisés
também foi o autor do salmo 90.
Nunca devemos menosprezar nem minimizar a ação do Espírito Santo,
quando mencionamos a genialidade de Moisés, porque foi o Senhor quem
lhe conferiu inteligência e instruções. Qiiando Deus deseja realizar algum
propósito, escolhe o homem certo para fazê-lo. E Moisés foi um desses
homens, pois foi colocado por Deus no limiar de uma nova era. Até então,
Deus havia lidado com indivíduos e famílias. Agora, de acordo com o que
prometera a Abraão, faria de Israel uma nação. Através da providência divina,
Moisés, que nasceu sob um regime de escravidão, "foi educado em toda a
ciência dos egípcios" (At 7.22). Ele aprendera com sua mãe a respeito do
Deus dos israelitas, pois ela cuidou de seu próprio filho como ama contratada
pela filha do faraó.
Na corte real, Moisés aprendeu a ler e a escrever e foi instruído na
cultura egípcia. Falava a língua do Egito e o acadiano (da Babilônia), além
do hebraico, sua língua materna. Ele provavelmente estudou os clássicos
babilônios, administração pública e ciência militar. Mais tarde, ele se valeria
de todo seu preparo e de sua capacidade nata, quando Deus faria dele o
líder da nação, o juiz de Israel, o capitão do exército, o arquiteto do taber-
náculo, o poeta do povo e o profeta e legislador divino. Moisés foi real-
mente um vaso escolhido, um homem de Deus!
Moisés nasceu provavelmente em 1520 a.C., durante um dos períodos
mais prósperos da história egípcia. Seus escritos são conhecidos e admirados
em todo o mundo. Foi ele quem deu início à extensa linhagem dos profetas
do Antigo Testamento, que revelaram a vontade de Deus a Israel por mais
de mil anos.
A LINHAGEM PROFÉTICA
Deus providenciou certos critérios pelos quais os profetas deveriam
ser provados. (Dt 13 e 18.) Os falsos profetas eram aqueles cuja mensagem
não estava de acordo com a verdadeira revelação já entregue, cujas predições
não se cumpriam. O texto de Êxodo 4.1-5 demonstra que os milagres
também serviam para dar crédito à mensagem do profeta. Através desses
parâmetros, o povo de Israel podia saber quem eram os genuínos arautos de
Deus e quais eram os falsos. Todos os verdadeiros profetas representavam
Jesus Cristo, o grande Profeta que havia de vir.
Não sabemos os nomes de todos eles, mas muitos nos são conhecidos.
Samuel escreveu pelo menos um livro a respeito do reino, na época em que
Saul fui ungido rei (lSm 10.25). Ele registrou a história do reinado davídico
(1Cr29.29) e fez muitas profecias. Davi, excelente cantor e rei extraordinário,
também foi profeta (At 2.30). Escreveu cerca de metade do livro de Salmos.
QUEM ESCREVEU O ANTIGO TESTAMENTO? セ@ __.-·
セセMGMMMMMMMセ@
Entre os dias de Davi e os de Malaquias houve dezenas de outros profetas.
Nesse grupo encontram-se Elias e Eliseu, por volta de 850 a.C.; Isaías,
Oséias e Joel, por volta de 725 a.C.; Jeremias, Naum, Habacuque e
Sofonias, por volta de 600 a.C.; Ezequiel, Daniel e outros, durante e
após o cativeiro, em cerca de 400 a.C.
Houve ainda uma sucessão de outros profetas menos conhecidos,
que registraram a história da época. Seus nomes figuram em vários versículos
nos livros de 1e2Crônicas. Durante o reinado de Davi (1Cr 29.29), lemos
sobre Samuel, Natã e Gade. No tempo de Salomão (2Cr 9.29), há referência
a Aías e Ido. Em 2Crônicas 12.15, aparece Semaías em meio ao relato
sobre Roboão. Entre outros profetas encontram-se Jeú, filho de Hanani,
que escreveu sobre o rei Josafá (2Cr 20.34), e Isaías, que registrou os fatos
do reinado de Uzias e Ezequias (2Cr 26.22 e 32.32). Além desses, muitos
outros profetas também são citados.
A maioria dos livros do Antigo Testamento foi escrita por profetas
cujos nomes conhecemos. Os outros estão incluídos na "palavra profética"
confirmada (2Pel.19) e nos "profetas que se lêem todos os sábados" (At
13.27). Mediante o exame do Antigo Testamento revelam-se muitos
detalhes dos escritos desses indivíduos.
A história de Israel que vai do período do Pentateuco até a era davídica
está relatada nos livros deJosué,Juízes, Rute e possivelmenteJó. Não sabemos
com certeza quem escreveu o livro de Josué, mas provavelmente ele é o
autor de todo o livro ou de pelo menos parte dele. Ele era cheio do Espírito
(Dt 34.9), o povo o respeitava, à semelhança de Moisés (Js 4.14), e ele
escreveu as palavras da aliança no Livro da Lei de Deus (Js 24.26). Ele se
valia do "jargão" profético: "Assim diz o SENHOR" (Js 24.2). Um dos livros
apócrifos,escrito durante o período intertestamentário, refere-se a Josué
como "o sucessor de Moisés na transmissão de profecias" (Eclesiástico 46.1).
Juízes e Rute relatam os fatos ocorridos desde Josué até Sansão. O
primeiro livro demonstra a maldade daqueles dias (Jz 17-21). Rute traz
um belo relato sobre pessoas que temiam a Deus e preservaram a fé durante
uma era de trevas. Ela foi a bisavó de Davi. Os livros de Juízes e Rute
formam um único volume nas Escrituras hebraicas e provavelmente foram
escritos ao final do período histórico que relatam.
O livro de Jó merece considerações especiais. Teólogos mais
conservadores acreditam que ele seja bastante antigo, provavelmente escrito
antes de Moisés. A base para essa afirmação é o fato de que o livro não faz
menção ao culto no tabernáculo. Lemos que Jó oferecia sacrifícios na casa
de seus filhos, prática semelhante ao culto privativo que Abraão prestava.
Outros estudiosos ligam o livro de J ó a um período muito posterior. Baseiam
seus argumentos no estilo do livro e na teologia apresentada. Esses são os
mesmos argumentos comumente usados para defender a datação mais recente
de outros livros que a Bíblia afirma especificamente terem sido escritos em
·-... _b INTRODUÇÃO À BÍBLIA
セNMMMMMMMMMMM
épocas mais antigas. Não podemos aceitar esses argumentos, porque atribuem
aos livros uma data de composição recente demais.
Davi, que viveu por volta de 1000 a.C., é o principal autor do livro
de Salmos. Hemã, Asafe e outros são mencionados como profetas de Deus
(1Cr 25.5; 2Cr 29.30). Dezoito salmos não têm título, mas a Septuaginta
relaciona a autoria de alguns deles a Ageu, Zacarias e outros.
Salomão escreveu Eclesiastes, Cântico dos Cânticos (Cantares de
Salomão) e a maior parte de Provérbios. Hoje é possível situar o reino de
Salomão entre 960 e 920 a.C. Descobertas arqueológicas demonstram que
seu reinado coincide com o período de maior prosperidade em Israel. Salomão
instituiu e incentivou a adoração a Deus no novo templo. Ele foi o autor
adequado para os livros que os judeus chamam de Literatura de Sabedoria. A
importância do livro de Provérbios está no fato de que "o temor do SENHOR é
o princípio da sabedoria" (Pv 9 .10). Ele não é meramente um livro de máximas
resultantes da experiência de vida. Ele contrasta o bem e o mal e demonstra a
necessidade de confiarmos no Senhor (Pv 22.19). Em Provérbios, o "sábio" é
o homem temente a Deus, e o "tolo" é o pecador. É possível que os últimos
capítulos, chamados "profecias'', escritos por indivíduos que desconhecemos
(Pv 30.1; 31.1), tenham sido acrescentados mais tarde.
Eclesiastes, livro bastante filosófico, propõe a seguinte questão: "(hial
é o principal propósito do homem?" Seu autor apresenta várias respostas pouco
satisfatórias e as examina. A conclusão do "Pregador, filho de Davi, rei de
Jerusalém" é: "Teme a Deus e guarda os seus mandamentos" (Ec 12.13).
Cântico dos Cânticos de Salomão é um poema sobre o amor genuíno,
que simboliza o amor de Deus por seu povo. Podemos resumi-lo com as
palavras "o amor é forte como a morte, e duro como a sepultura, o ciúme
[ ... ] As muitas águas não poderiam apagar o amor" (Ct 8.6, 7).
Os escritos de Salomão, compostos em sua juventude, foram incluídos
nas Escrituras sobre as quais se afirma terem sido dadas por "seus profetas"
(Rm 1.2). Há uma citação do livro de Provérbios nos manuscritos do mar
Morto, datados do segundo século antes de Cristo, que é introduzida pela
expressão "está escrito", reservada apenas aos textos bíblicos.
Três grandes ciclos de atividade profética completam o Antigo
Testamento. Por volta de 700 a.C., Deus levantou homens notáveis para
advertir e consolar Israel durante o domínio assírio. Entre eles estão Isaías,
o profeta evangélico, e vários profetas menores. Joel, Amós e Jonas talvez
tenham sido os mais antigos. Isaías, Oséias e Miquéias vieram logo em
seguida. Obadias não informa expressamente uma data, mas pode ser
incluído nesse período por causa de sua localização tradicional entre Amós
e Jonas. Desses, Oséias e Amós profetizaram no reino do norte, que sucumbiu
definitivamente em 721 a.C., após seguidas invasões pelos assírios.
Durante um século, começando por volta de 625 a.C., Jeremias
ministrou ao reino de Judá já em declínio. Esse período também marcou a
QUEM ESCREVEU O ANTIGO TESTAMENTO? セ@ セᄋ@
MMMMセセ@
presença de três profetas menores: Naum, Habacuque e Sofonias. Todos
eles previram a queda de Nínive, capital do império assírio, que se deu em
612 a.C. Pouco tempo depois, Nabucodonosor levou a Babilônia ao auge
do poder. Ao expandir suas conquistas para o oeste, derrotou o Egito e
finalmente destruiu Judá em uma série de ataques (604, 597 e 586 a.C.).
Um grupo insignificante de judeus foi levado para o cativeiro na Babilônia,
fato que marcou o fim da independência da nação judaica, até o ano de
1948 de nossa era.
Durante o exílio, Ezequiel e Daniel profetizaram ao remanescente
que seguiu para a Babilônia. Esses homens empenharam-se bastante para
manter viva a fé genuína do povo naquela época de trevas. Suas profecias
que falavam do Messias como a esperança de Israel trouxeram novamente à
luz as grandes revelações messiânicas de Davi, Isaías, Miquéias e outros.
Após o exi1io, os judeus retornaram à Palestina em três estágios. Em
538 a.C., Ciro permitiu que os israelitas voltassem, sob a liderança de
Zorobabel. Nessa época, Ageu e Zacarias profetizaram ao povo em Jerusalém,
incentivando-o a construir o segundo templo, em 516 a.C. Nesse mesmo
período, o livro de Ester foi escrito na Mesopotâmia. Seu propósito principal
era demonstrar a providência de Deus e seu cuidado para com os cativos
que haviam permanecido no exílio, bem como enfatizar os perigos aos quais
os judeus estavam expostos enquanto viviam sob o domínio dos reis pagãos
da Pérsia. O massacre de Hamã provavelmente preparou muitos judeus
para os estágios seguintes do retorno à Terra Prometida. Estes aconteceram
em 456 e 444 a.C.
Esdras e Neemias retornaram para reconstruir a cidade e os muros.
Os primeiros capítulos de Esdras mencionam o retorno anterior de
Zorobabel, ocorrido em 538 a.C. O restante do livro, bem como o livro de
Neemias, contam a história de Israel até cerca de 400 a.C. Malaquias, o
último dos profetas menores, concluiu o registro do Antigo Testamento
também por volta desse ano. Após esse período, a voz profética silenciou.
De acordo com a tradição e a história judaica, não houve nenhum profeta
até que João Batista apareceu anunciando a chegada de uma nova era.
Portanto, o Antigo Testamento foi escrito de 1400 a.C. até 400 a.C.
por mais de vinte autores conhecidos e alguns desconhecidos. O Antigo
Testamento que possuímos foi convenientemente dividido em cinco grupos
de livros. Essa divisão é uma modificação da Bíblia em latim a partir da
Septuaginta. Os cinco grupos perfazem um total de 39 livros:
5 Livros da Lei
12 Livros Históricos
5 Livros Poéticos
5 Profetas Maiores
12 Profetas Menores
·-.... _... INTRODUÇÃO A BÍBLIA
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Datas de composição dos livros do Antigo Testamento
a.e.
1400
1400
1350
1050
1000
1000 - 575
950
750 - 700
625 - 575
600 - 539
539 - 515
475
456 - 400
Gênesis, Êxodo, Levítico, Números,
Deuteronômio
Jó (?)
Josué
Juízes, Rute
Salmos (a maioria)
1 e 2Samuel; 1 e 2Reis
Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos
Isaías, Oséias, Joel(?), Atnós, Obadias (?)
Jonas, Miquéias
Jeremias, Naum, Habacuque, Sofonias
Ezequiel, Daniel
Ageu, Zacarias
Ester
1 e 2Crônicas, Esdras, Neemias, Malaquias
O Antigo Testamento hebraico tem atualmente três divisões - a Lei,
os Profetas e os Escritos. Há cinco livros da Lei, quatro livros de profetas
anteriores, quatro livros de profetas posteriores (os doze profetas menores são
contados como um único livro) e onze livros de Escritos. O total de vinte e
quatro livros inclui, em várias disposições, exatamente os 39 livros do Antigo
Testamento que conhecemos.A atual divisão tripartite deve-se provavelmente ao uso litúrgico e
talvez remonte ao ano 200 d.C. Antes disso também havia uma divisão em
três partes Quntamente com uma divisão dupla - a "Lei e os Profetas"), mas
o conjunto de livros que as formavam era diferente. Dois dos livros mais
curtos foram combinados com outros. Josefa (veja mais adiante) relaciona
cinco livros da Lei, treze Profetas e outros quatro livros na terceira divisão.
Nos manuscritos do mar Morto há uma referência ao conjunto inteiro
de livros como a "obra de Moisés e os Profetas". Jesus fez menção a esse
livro após sua ressurreição, quando desafiou os apóstolos a "crer tudo o que
os profetas disseram" (Lc 24.25).
OS LIVROS APÓCRIFOS
Outros sete livros completos e alguns acréscimos constam da Bíblia
católica. A esses livros chamamos apócrifos. Se estudarmos sua origem
entenderemos por que não foram incluídos no cânon protestante.
QUEM ESCREVEU O ANTIGO TESTAMENTO? セ@ .--·
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Os nomes dos livros apócrifos
Os livros apócrifos foram obviamente escritos durante o período
intertestamentário. Apenas um deles é datado. Dois livros, a saber Judite e
Tobias, relatam as invasões assíria e babilônia. Outros dois, 1 e 2Macabeus,
relatam a guerra da independência dos judeus, por volta de 165 a.C. Ainda
outros dois são livros de sabedoria - Eclesiástico e Sabedoria de Salomão.
Um deles é um adendo ao texto de Jeremias. Há também acréscimos curtos
ao livro de Ester e de Daniel.
Os outros livros escritos nesse período não são aceitos pelos católicos
nem pelos os protestantes. Eles relatam a história e o pensamento do período
intertestamentário. Entre eles estão Enoque, Jubileu e o Testamento dos
Doze Patriarcas. Havia fragmentos deles entre os manuscritos do mar Morto.
Esses livros não foram aceitos como parte das Escrituras. Têm seu valor,
mas não constam do cânon.
Josefo, o historiador judeu
Como podemos ter certeza de que esses livros não deveriam ter sido
incluídos no cânon do Antigo Testamento? É certo que não constavam das
Escrituras aceitas e usadas por Cristo e pelos apóstolos. O historiador judeu
Josefo, que escreveu por volta de 90 d.C., viveu durante a época da queda
de Jerusalém, no ano 70 de nossa era. Ele relata em sua autobiografia que o
imperador Tito lhe entregou os rolos sagrados, que haviam sido retirados
do templo em Jerusalém, quando este foi pilhado pelos soldados romanos.
Josefo era um indivíduo qualificado para conhecer o cânon vigente nos dias
de Jesus. Em um de seus escritos mais importantes, ele afirma:
Não temos um sem-número de livros que discordam e contradizem
um ao outro, mas sim apenas vinte e dois livros que contêm todo o registro dos
tempos passados, os quais são corretamente considerados divinos. Destes,
cinco são da autoria de Moisés e trazem as leis e as tradições a respeito da
origem da humanidade até a morte desse patriarca. Esse intervalo de tempo
corresponde a pouco menos que três mil anos. Da morte de Moisés até o
reinado de Artaxerxes, rei da Pérsia, sucessor de Xerxes, os prqfetas, que vieram
depois de Moisés, escreveram, em treze livros, o que ocorreu naquela época.
Os quatro livros restantes contêm hinos a Deus e preceitos para a conduta
humana. É verdade que nossa história tem sido minuciosamente registrada
desde Artaxerxes, porém não se considera que possua a mesma autoridade
atribuída aos escritos anteriores de nossos antepassados. Isso se deve ao fato de
que não houve uma sucessão exata de prqfetas desde aquela época. Nossa
atitude para com esses registros demonstra claramente a forma como contamos
esses livros de nossa nação em alta estima. Durante todas as épocas passadas,
ninguém teve a ousadia de acrescentar nem de retirar algo deles, muito
..__ _..b INTRODUÇÃO À BÍBLIA
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menos de introduzir qualquer mudança nesses livros. É algo natural para
todo judeu, desde seu nascimento, apreciar esses livros por conterem doutrinas
divinas, segui-los fielmente e, se necessário, estar disposto a morrer por eles.
Essa citação revela várias verdades. Primeira, que os judeus acre-
ditavam na inspiração verbal. Segunda, que receberam os livros canônicos
porque foram escritos pelos profetas. Terceira, que era sabido que os livros
apócrifos e outros documentos não eram de autoria dos profetas. Qiiarta,
que o cânon judaico incluía apenas os 39 livros do Antigo Testamento
que temos hoje. Qiiinta, e muito importante, que Josefa apresenta a pri-
meira e única lista dos livros do Antigo Testamento de que se tem notícia
antes de 170 d.C. Eles eram divididos em três grupos, diferentes das
divisões adotadas pelos judeus em períodos posteriores e encontradas nas
Bíblias hebraicas atuais.Josefa relacionou o Pentateuco em primeiro lugar,
depois todos os livros proféticos e históricos, e em seguida os quatro livros
poéticos e de instrução (provavelmente Salmos, Provérbios, Cântico dos
Cânticos e Eclesiastes). Em sexto lugar, vemos ainda que Josefa dava
proeminência à autoria profética dos livros bíblicos.
O Novo Testamento contém citações de praticamente todos os 39
livros canônicos, mas nenhuma dos apócrifos. Jesus se referiu ao Antigo
Testamento como a "Lei de Moisés'', os "Profetas" e os "Salmos" (Lc 24.44).
Muitas passagens do Novo Testamento trazem citações do Antigo dividido
em duas partes - a Lei e os Profetas ou Moisés e os Profetas. (Mt 5.17;
Lc 16.29; 24.27.) Entretanto, não há uma única menção dos livros apócrifos.
Os manuscritos do mar Morto
Os manuscritos do mar Morto apresentam mais uma confirmação
desses fatos. Neles há indicação de que as Escrituras são as palavras de Moisés
e dos Profetas. Embora tragam citações de muitos livros do Antigo
Testamento, os quais consideram Escrituras Sagradas, neles também não
há uma única referência aos apócrifos.
A Septuaginta
Poderíamos considerar essa discussão encerrada, exceto por um
problema. As cópias da Septuaginta que chegaram até nós contêm os livros
apócrifos. Uma vez que no Novo Testamento há várias citações de passagens
da Septuaginta, muitos estudiosos da Bíblia argumentam que o Novo
Testamento sanciona os apócrifos. Todavia, é importante saber que as cópias
da Septuaginta que temos hoje foram feitas em um período muito posterior,
por volta de 325 d.C. Não há provas de que a Septuaginta original contivesse
os livros apócrifos. Na verdade, há evidências em contrário.
QUEM ESCREVEU O ANTIGO TESTAMENTO? セ@ .--·
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Os primeiros pais da igreja
A maioria dos primeiros pais da igreja não inclui os apócrifos no
cânon bíblico. Melito, bispo de Sardes em 170 d.C., apresenta uma lista
dos livros do Antigo Testamento numa divisão semelhante à nossa, que
excluiu os apócrifos. Orígenes do Egito, homem extremamente culto, em
250 d.C., também os excluiu. Jerônimo, que traduziu os livros apócrifos
para o latim, disse explicitamente não serem eles canônicos. Apenas dois
concílios da Antigüidade, cuja autoridade não era muito reconhecida,
aprovaram os livros apócrifos. Outro concílio, de uma época posterior, foi
o de Trento, realizado em 1545. Nele, os católicos, ao fazerem oposição
aos protestantes, defenderam que os livros apócrifos eram inspirados por
Deus. É provável que seja esse um dos grandes pontos fracos da teologia
católica romana.
Cremos que os 39 livros do cânon do Antigo Testamento são a
Palavra de Deus inspirada. Os apócrifos não o são. Eles foram aprovados
por Jesus e pelos apóstolos, mas o mesmo não se deu com os demais livros.
A maioria dos 39 livros é de autoria dos profetas. Se 1 e 2Samuel e 1 e
2Reis foram trabalho de uma sucessão de profetas como mencionado em
Crônicas (1Cr 29.29; 2Cr 9.29; 12.15; 20.34; 26.22; 32.32), e se
Salomão recebeu visões como profeta de Deus, então pelo menos 30 livros
do Antigo Testamento foram escritos por profetas. Os outros nove podem
muito bem ter sido escritos por eles também. No Novo Testamento, foram
incluídos ao lado dos outros 30. Foram consideradosobras de profetas
também nos manuscritos do mar Morto e por Josefo. Os apócrifos e outros
livros não recebem aval semelhante e, portanto, não são considerados
revelação de Deus. Podemos lê-los como fonte de informação e de
conhecimento sobre a história e a cultura do período intertestamentário,
ou sobre o cotidiano na época de Cristo, mas reservamos nossa fé e
confiança aos livros aceitos por Jesus. "Eles têm Moisés e os Profetas;
ouçam-nos" (Lc 16.29).
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1 ENRIQUECENDO O VOCABULÁRIO 1
Livros apócrifos, Pentateuco,
Septuaginta, Torá.
1 PERGUNTAS DE RECAPITULAÇÃO 1
1. Decore a ordem dos livros do Antigo Testamento.
2. Um profeta também podia ser rei (At 2.30) ou sacerdote (Ez 1.3)?
3. Qyando os escritos do Antigo Testamento foram completados, que
profeta ainda estava por vir? (Ml 4.5; Mt 17.12, 13; Lc 1.17)
4. Compare a divisão do Antigo Testamento em cinco partes que temos
hoje com a divisão hebraica em três partes.
QUEM ESCREVEU O ANTIGO TESTAMENTO? .....__ __...
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5. Como é possível que as Escrituras hebraicas, que contêm apenas 24
livros, incluam os 39 livros do cânon do Antigo Testamento
protestante?
6. O que são livros apócrifos?
7. Por que os livros apócrifos não foram incluídos no cânon?
8. Estude a tabela "Datas de Composição dos Livros do Antigo Testa-
mento" apresentada neste capítulo. Divida os livros de acordo com o
período em que foram escritos nos seguintes grupos: da criação à pere-
grinação no deserto, na terra prometida, no exílio, volta do exílio.
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1 ANOTAÇÕES
Quem escreveu o
Novo Testamento?
P edro faz referência à Bíblia como um todo quando nos exorta: " ... que vos recordeis das palavras que, anteriormente, foram di-tas pelos santos profetas, bem como do mandamento do Senhor
e Salvador" (2Pe 3.2).
Olialquer estudo dos escritos neotestamentários deve enfatizar a
importância do ofício apostólico. Tem que considerar os detalhes dos vários
livros, as datas em que foram escritos e seus autores. Além disso, tal estudo
estaria incompleto sem um exame da literatura cristã publicada logo após a
era apostólica. Esses escritos apresentam evidências externas da autoria dos
livros canônicos e também de sua aceitação e reconhecimento como parte
da Palavra de Deus.
OS PAIS DA IGREJA
Nos capítulos anteriores, já mencionamos alguns pais da igreja ou
"pais apostólicos", como são comumente chamados. Entre eles destacam-se
Clemente de Roma, Inácio de Antioquia e Policarpo. Falamos desses
indivíduos ao abordar o assunto da autoridade divina dos escritos do Novo
Testamento. Eles são importantes também para determinar a autoria desses
livros. Veremos adiante como esses homens, através de seus escritos, apóiam
a autenticidade das cartas de Paulo e de outros apóstolos.
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Papias
Um importante elo nesse estudo é Papias, que viveu por volta de 140
d.C., e nos conta como buscou diligentemente conhecer as tradições dos
apóstolos a partir das pessoas que haviam convivido com eles. Nesse contexto,
ele menciona sete dos doze apóstolos. É sabido que ele escreveu uma obra
de cinco volumes a respeito dos evangelhos. Esse livro infelizmente se perdeu,
mas algumas citações dele nos contam como os evangelhos foram registrados.
Tais fragmentos estão preservados na História Eclesiástica, de Eusébio, escrito
aproximadamente em 300 d.C.
Justino
Pouco depois de Papias, aproximadamente em 145 d.C., apareceu
Justino. Antes de ser martirizado por sua fé, escreveu vários livros, sete dos
quais ainda permanecem. Mais adiante neste capítulo, veremos seu teste-
munho a respeito dos evangelhos.
Escritos gerais dos pais da igreja
Várias outras publicações daquela mesma época são conhecidas, mas
sua autoria é incerta. Entre elas estão a Epístola de Barnabé, o Ensino dos
Doze Apóstolos (conhecido como Didaquê) e a alegoria intitulada O Pastor de
Hermas. Vários outros livros mais antigos se perderam. O Evangelho da
Verdade, escrito por volta de 140 d.C. e perdido durante muito tempo, foi
encontrado recentemente. Em si ele não é valioso, mas apresenta um tes-
temunho excelente sobre o uso de muitos livros do Novo Testamento no
primeiro século.
A lista acima engloba a literatura produzida até cerca de 145 d.C.,
cinqüenta anos após a morte do último apóstolo. Os escritos que perma-
neceram são interessantes e valiosos. Eles exalam a fragrância da genuína
devoção cristã.
Depois do ano 170 de nossa era, os registros bibliográficos que
sobreviveram até os nossos dias são muito mais numerosos. Um trabalho de
Ireneu, daquele mesmo ano, consta de mais de 250 páginas de tamanho
grande. Seus escritos têm importância especial porque ele foi pupilo de
Policarpo e, portanto, diretamente associado com o apóstolo João.
Há uma lista valiosa dos livros do Novo Testamento, do ano 170
d.C., chamada Cânon Muratoriano. Infelizmente parte dela foi destruída.
Datando de aproximadamente 200 d.C., temos os trabalhos de
Tertuliano, que viveu no norte da .África, imediatamente abaixo do litoral
da Espanha. Clemente de Alexandria, no Egito, foi outro que também
publicou seus escritos por volta dessa época (veja quadro cronológico no
final do capítulo 3).
QUEM ESCREVEU O NOVO TESTAMENTO? セ@ .--·
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Essas testemunhas da Antigüidade nos contam muito a respeito da
formação do Novo Testamento. Entretanto, a tarefa do estudante da Bíblia
é aliar o testemunho cristão antigo às evidências internas que o Novo
Testamento apresenta sobre as pessoas que o escreveram e compilaram.
Portanto, passemos a analisar os documentos que compõem o Novo Tes-
tamento, combinando suas evidências internas com o testemunho dos pais
da igreja, acima introduzido.
OS ESCRITOS DE PAULO
Os escritos de Paulo são de importância fundamental porque muitas
de suas epístolas nos informam quando foram escritas. Treze cartas, de
Romanos a Filemon, começam com uma apresentação que traz o nome de
Paulo. Hoje em dia, até mesmo os estudiosos mais críticos admitem que a
maioria dessas epístolas são da autoria do apóstolo. Não há nenhuma prova
concreta que contrarie a autoria paulina.
Em Gálatas, o apóstolo revela alguns detalhes a respeito de sua vida.
Três anos após sua conversão, encontrou Pedro em Jerusalém (Gl 1.8).
Catorze anos depois, visitou novamente essa cidade, dessa vez acompanhado
por Barnabé e Tito (Gl 2.1).
Essa informação e outros dados das epístolas aos coríntios e do livro
de Atos indicam que Paulo se converteu no início da década de 30 d.C., e
esteve com Pedro em Jerusalém por volta de 37 ou 38 d.C. O testemunho
de Paulo a respeito dos fatos da vida de Cristo, portanto, remonta aos
primeiros dias da comunidade apostólica em Jerusalém. Isso é de extrema
importância, uma vez que valida o testemunho detalhado de Paulo sobre a
ressurreição de Jesus (lCo 15.1-20). Através desse registro o leitor pode
imaginar-se diante da tumba vazia em Jerusalém, pouco mais de cinco anos
após Cristo ter ressurgido dos mortos.
O livro de Atos relata os acontecimentos das três jornadas missionárias
de Paulo e sua prisão na Palestina por dois anos, e depois em Roma, por
mais dois anos. Várias indicações deixam claro que ele não escreveu nenhuma
carta em sua primeira viagem ao sul da Ásia Menor. Durante sua segunda
jornada, que o levou à Grécia, Paulo permaneceu em Corinto por apro-
ximadamente dois anos e escreveu duas epístolas, a saber, 1 e 2Tessalo-
nicenses. Devemos estudá-las à luz de Atos 18. Elas são cartas sucintas,
enviadas depois que o apóstolo havia recebido boas notícias da igreja recém-
fundada em Tessalônica. Esses escritos reforçam a doutrina da salvação em
Cristo (lTs 1.9, 10) e demonstram claramente a autoridade do apóstolo
(lTs 2.13; 2Ts 3.14-17).
Em seguida, Paulo escreveu suas cartas mais importantes. Gálatas
provavelmente foi escrita no início de sua terceira viagem. Nessaépoca, ele
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permaneceu em Éfeso por cerca de três anos e escreveu três epístolas -
Romanos, 1 e 2Coríntios (veja At 19). É aconselhável estudar Romanos e
Gálatas juntos porque possuem uma semelhança na estrutura, no assunto e
no estilo de redação.
Ao final de sua terceira viagem missionária, Paulo foi preso em Jerusalém.
Há um detalhe interessante no livro de Atos. Em algumas passagens, tais
como em Atos 16.10, o autor diz que "nós" realizamos algumas jornadas. Em
outras (At 20.13, 14), esse mesmo pronome refere-se a um grupo de mis-
sionários que seguiram viagem, enquanto Paulo tomou um caminho diferente.
A conclusão lógica é que Atos foi escrito por um indivíduo que costumava
acompanhar o apóstolo em suas viagens. As partes do livro em que o pronome
aparece no plural mostram que o autor acompanhou Paulo em sua última
viagem a Jerusalém. Certamente esse homem permaneceu livre na Palestina
por dois anos, enquanto Paulo estava preso. Mais tarde, acompanharia o apóstolo
em sua viagem a Roma, que terminou em um naufrágio (At 27.2), e
permaneceu livre em Roma por dois anos, enquanto Paulo estava na prisão.
O Cânon Muratoriano, os escritos de lreneu e outros testemunhos antigos
afirmam que Lucas era o auxiliar do apóstolo.
Enquanto Paulo estava no cárcere em Roma, escreveu as quatro
importantes epístolas da prisão - Efésios, Filipenses, Colossenses e
Filemom. Colossenses e Efésios são bastante semelhantes e, por esse motivo,
devemos estudá-las em conjunto.
Filipenses 1.12-25 mostra que Paulo aguardava seu julgamento e
tinha esperança de ser posto em liberdade. Isso realmente aconteceu, por-
que em uma de suas viagens ele deixou uma capa e alguns livros em Troas
(2Tm 4.13). Durante esse período, Paulo escreveu as epístolas pastorais
- Tito e 1 e 2Timóteo. 1Timóteo e Tito são bastante semelhantes e
podemos usá-las para explicar uma à outra. Ambas oferecem detalhes a
respeito da organização das igrejas na época e as características dos vários
ofícios eclesiásticos.
2Timóteo foi a última epístola escrita por Paulo. Ele foi preso
novamente e executado (2Tm 4.7, 8). No ano 95 d.C., Clemente de Roma
disse que Paulo pregou "até o limite do extremo oeste", satisfazendo seu
desejo de visitar a Espanha (Rm 15.24), após sua primeira prisão em Roma.
Todas as epístolas paulinas foram usadas por autores que escreveram
antes de 120 d.C., trinta anos após a morte do último apóstolo. Há vários
documentos que fazem menção específica de algumas delas.
Clemente, por exemplo, escrevendo aos coríntios, em 95 d.C.,
menciona o fato de Paulo ter escrito àqueles cristãos. Em 117 d.C., Inácio,
em uma carta aos efésios, menciona especificamente a epístola que Paulo
lhes escreveu ou as epístolas paulinas de modo geral. Policarpo, em carta
destinada aos filipenses em 118 d.C., cita a epístola que Paulo lhes enviara
e acrescenta citações de seis outras cartas de autoria do apóstolo.
QUEM ESCREVEU O NOVO TESTAMENTO? セ@ __.-·
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Tabela das Epístolas Paulinas
Viagens
Primeira viagem missionária
(apenas na Asia Menor)
Segunda viagem missionária
(através da Asia Menor e Grécia;
dois anos em Corinto)
Terceira viagem missionária
(mesmo território da segunda;
três anos em Éfeso)
Prisão na Palestina
por dois anos
Primeira prisão em Roma
por dois anos
Período de liberdade
Viagem para Troas e Espanha (?)
Segunda prisão em Roma
e martírio
Epístolas
Nenhuma epístola
1 Tessalonicenses
2Tessalonicenses
Romanos
!Coríntios
2Coríntios
Galátas (nessa época ou antes)
Nenhuma epístola
Epístolas da Prisão
Efésios
Filipenses
Colossenses
Filemon
!Timóteo
Tito
Hebreus (?)
2Timóteo
O EVANGELHO DE LUCAS
Lucas era bastante próximo de Paulo. Atos 1.1 explica que esse li-
vro, destinado a Teófilo, era a segunda obra do autor. Obviamente, a partir
de Lucas 1.1-3, percebemos que o evangelho foi o primeiro livro escrito
por Lucas. O Novo Testamento não afirma explicitamente que a autoria do
terceiro evangelho e do livro de Atos seja de Lucas. Todavia, a partir dos
trechos desse último livro em que o pronome pessoal aparece na primeira
pessoa do plural (nós), fica claro que algum companheiro de Paulo realizou
aquele registro. Além disso, as pesquisas de William Ramsey1 e outros têm
comprovado, nos mínimos detalhes, os eventos do livro de Atos. O nome e
título de Gálio (At 18.12), o título de Sérgio Paulo (At 13.7) e de outros
oficiais e também alguns detalhes históricos são tão precisos que a conclusão
1 Citado e defendido por Donald Guthrie, New Testament Introduction, vol. 3 (Downers
Grove, Ili: InterVarsity Press, 1965), p. 321, 322.
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natural é que esse livro é de autoria de um indivíduo que viveu na época em
que os fatos ocorreram. Obviamente o Evangelho de Lucas foi redigido
antes de Atos (At 1.1).
Tanto Inácio como Policarpo fizeram uso do Evangelho de Lucas e
de Atos. Justino Mártir citou passagens dos três evangelhos sinóticos e
provavelmente também de João, chamando esses quatro livros de ''As
Memórias dos Apóstolos". Ele faz uma descrição interessante de um culto
de domingo, no qual foi lido ''As Memórias dos Apóstolos ou os Escritos
dos Profetas", seguido de um sermão. Ele se referiu aos evangelhos como "as
memórias que eu digo terem sido reunidas pelos apóstolos de Cristo e pelos
seguidores destes". Nessa citação ele demonstra que os evangelhos de Lucas
e de Marcos não são da autoria de apóstolos, embora em outras de suas
obras ele chame esses livros de "a obra dos apóstolos".
O Cânon Muratoriano e os escritos de Ireneu (170 d.C.) afirmam
que Lucas escreveu um evangelho, mas o fez em uma espécie de associação
com Paulo. Tertuliano, por volta de 200 d.C., corrobora a autoria de
Lucas, acrescentando o fato de esse evangelho ter sido escrito sob a
supervisão de Paulo. Ele dá a entender que podemos considerar o
Evangelho de Lucas uma obra paulina. Os fatos parecem confirmar a
participação do apóstolo. Em 1Timóteo 5.18, ao mencionar o salário dos
líderes, Paulo cita trechos curtos de Deuteronômio e Lucas 10.7. Em
1Coríntios 9.7-18, ele defende a mesma coisa, citando extensivamente o
Antigo Testamento, mas não se vale do Evangelho de Lucas. A "Tabela
dos Escritos Paulinos", apresentada anteriormente, demonstra que, no
período entre a composição de 1Coríntios e 1 Timóteo, Paulo foi
aprisionado na Palestina. Nesse ínterim Lucas permaneceu livre. Essas e
outras provas nos levam a crer que Lucas reuniu o material necessário e
escreveu o terceiro evangelho naquela época. O livro de Atos teria sido
redigido pouco tempo depois, provavelmente durante a prisão de Paulo
em Roma. Ambos os livros podem perfeitamente ser da autoria de Lucas,
sob a supervisão do apóstolo.
A EPÍSTOLA AOS HEBREUS
A Epístola aos Hebreus é da autoria de Paulo? Se a resposta for
afirmativa, quando foi escrita e como? Os estudiosos mais dedicados não
chegaram a um consenso nessas questões. Alguns crêem que essa epístola
foi escrita de maneira semelhante ao Evangelho de Lucas e Atos, ou seja,
por um dos auxiliares de Paulo, sob sua supervisão.
A Epístola aos Hebreus era conhecida e utilizada desde os dias de
Clemente de Roma (95 d.C.). Primeiramente foi aceita por todos. Um
tempo depois, seus ensinos foram questionados no Ocidente, sendo
QUEM ESCREVEU O NOVO TESTAMENTO? セ@ セM
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finalmente acolhida por toda a igreja. Há pouquíssimo debate a respeito da
canonicidade dessa obra. O principal problema tem sido a dúvida com
relação ao autor. Em todos os lugares em que se acreditava ser de autoria
paulina, a epístola foi aceita sem questionamento. No Egito, a tradição da
autoria paulina chega aos dias de Clemente de Alexandria (200 d.C.), e até
mesmo antes dele, com Panteno. À semelhança de Policarpo, Panteno alcan-
çou idade avançada e serviu de elo entrea igreja em Alexandria e a comu-
nidade cristã primitiva.
Se consideramos a epístola como de autoria de Paulo, todos os fatos
parecem se harmonizar. Entretanto pode ter sido escrita ou até mesmo
traduzida por Lucas, Barnabé ou outra pessoa. Não há dúvidas quanto ao
fato de Paulo ter-se valido de escribas, como demonstra Romanos 16.22.
É famosa a frase bastante citada de Orígenes (250 d.C.): "Apenas Deus
sabe ao certo quem escreveu essa epístola".2 Entretanto, se analisarmos o
contexto, perceberemos claramente que ele se referia ao escriba e defendia
que foi Paulo quem ditara a epístola. Em sua obra De Principiis [Dos
princípios], Orígenes faz mais de seis referências à Epístola aos Hebreus
como de autoria do apóstolo3, e em seu livro Ad Africanus ele diz ser
possível provar que o autor daquela carta é realmente Paulo.4 O papiro
Chester Beatty das epístolas paulinas é datado por volta do ano 200 d.C.,
e inclui o livro de Hebreus, situando-o entre Romanos e Coríntios. De
qualquer maneira, provavelmente a epístola foi escrita durante o período
final da vida de Paulo.
O EVANGELHO DE MATEUS
Esse é o evangelho sobre o qual temos evidências externas mais
antigas. Ele foi usado por Clemente, Inácio, Policarpo e outros. Barnabé
cita-o juntamente com a expressão "está escrito". Sua autoria nunca foi
questionada na Antigüidade. Papias afirma que Mateus foi escrito em
aramaico e que o evangelho foi posteriormente traduzido para o grego. Se
isso for verdade, o original em aramaico se perdeu. É possível que o próprio
Mateus tenha feito sua obra em aramaico e também em grego. Isso era
prática comum porque na época usavam-se ambas as línguas na Palestina.
Todavia um fato é claro: Mateus escreveu seu evangelho diretamente para
os judeus, que eram maioria na igreja cristã primitiva.
2 Citado por Eusébio em História Eclesiástica, vi, 25.
3 Alexander Roberts e James Donaldson, eds., Early Church Fathers, The Ante-Nicene
Fathers, vol. 4 (Henderson, Mass.: 1994), p. 310, 333, 361ff.
4 Ibid., p. 388.
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セセMMMMMMMMMセM
O EVANGELHO DE MARCOS
De acordo com o testemunho de Papias, Marcos escreveu o segundo
evangelho como auxiliar de Pedro (isto é, seu tradutor), em Roma. Justino
Mártir fez uso desse livro. Ireneu e Clemente de Alexandria concordavam
quanto à autoria de Marcos. As opiniões divergem sobre o fato de Marcos
ter escrito enquanto Pedro ainda estava vivo. Tanto Papias como Clemente
acreditam que ele escreveu seu evangelho sob a direção de Pedro. Essa é a
conclusão mais óbvia, já que Justino inclui Marcos nas "Memórias dos
Apóstolos". É muito difícil identificar o uso desse evangelho pelos pais da
igreja, uma vez que a quase totalidade de Marcos também se encontra em
Mateus ou Lucas. Muitas citações do evangelho são idênticas a trechos
encontrados nos evangelhos de Mateus e de Lucas. Todavia o testemunho
de Papias é positivo e bem antigo. Obviamente Marcos destinava-se aos
gentios, provavelmente aos romanos a quem Pedro pregou.
OS ESCRITOS JOANINO$
Os escritos de João constituem a maior parte do restante do Novo
Testamento. O discípulo amado mudou-se para Éfeso e lá viveu até idade
bastante avançada. Foi naquela cidade 9ue Policarpo o conheceu. Patmos, a
ilha onde foi exilado, ficava próxima a Efeso. Ireneu, discípulo de Policarpo,
conta-nos que João viveu até os dias de Trajano (98-117 d.C.). Os cristãos
sempre gostaram dos escritos joaninos porque apresentam Cristo de maneira
muito amorosa. A afirmação é que são de autoria do "discípulo amado".
O estilo semelhante das epístolas reforça a defesa da mesma autoria
de cada uma. Tanto Clemente de Roma como Inácio fazem referências ao
Evangelho de João. Policarpo fez uso de 1João. Papias provavelmente
conhecia esse evangelho, lJoão e Apocalipse. Justino deu testemunho da
relação entre o Evangelho de João e Apocalipse. O Cânon Muratoriano,
que está incompleto, cita pelo nome o Evangelho de João, Apocalipse e
duas epístolas, provavelmente 2 e 3João. Traz ainda a citação de lJoão 1.1.
O testemunho é mais do que suficiente.
Todavia, temos ainda uma prova adicional. Um fragmento de papiro
foi descoberto no Egito, em 1917, e publicado em 1931. Peritos em caligrafia
dataram o Papiro Rylands como de aproximadamente 125 d.C., apenas trinta
anos após a morte de João. Esse papiro contém porções de cinco versículos
de João 18. Talvez Justino ou Policarpo tenham visto esse documento.
Em 1957, um papiro maior que continha o Evangelho de João foi
publicado. É conhecido como Papiro Bodmer II e foi datado como de 200
d.C. Ele contém a maior parte do Evangelho de João. Tinha o formato de
livro e não de rolo, e há apenas algumas páginas faltando. Essa é a porção
QUEM ESCREVEU O NOVO TESTAMENTO? セ@ __..
M]]MMMMMMMMMMMMMMMMMMMLセ@
mais extensa do Novo Testamento já encontrada. Mais tarde outro papiro
semelhante foi publicado. Trata-se do Bodmer XIV-XV, que contém
praticamente todo o Evangelho de Lucas e dois terços do Evangelho de
João em um só volume. Provavelmente ele é um pouco anterior ao Papiro
Bodmer II. Também foi confeccionado no formato de livro e fornece um
testemunho precioso do texto dos evangelhos e de seu uso na Antigüidade.
PEDRO, TIAGO E JUDAS
As epístolas de Pedro, Tiago e Judas receberam menção de apenas
alguns teológos da Antigüidade. Entretanto, seu testemunho é positivo.
Clemente mencionou Tiago, Policarpo fez alusão a 1 e 2Pedro, e Papias
falou a respeito de lPedro. O Cânon Muratoriano menciona a epístola de
Judas. Tertuliano nos assegura que Judas foi escrito por um apóstolo. O
texto de 2Pedro traz fortes evidências internas. Nele lemos que essa é a
segunda epístola de Pedro, o apóstolo que presenciou a transfiguração de
Cristo (1.1, 18; 3.1, 2). É de igual interesse o fato de Judas citar a epístola
de Pedro (vv. 17, 18), afirmando ser obra de um apóstolo (2Pe 3.3). Outro
Papiro Bodmer (v11-1x), datado como anterior a 300 d.C., está agora
disponível e traz os textos de 1 e 2Pedro e Judas.
A identidade de Tiago e Judas, que eram irmãos (Jd 1), tem sido
objeto de grande discussão. Aparentemente, havia dois irmãos com aqueles
nomes entre os doze (Lc 6.16), e mais dois outros que eram meio-irmãos
do Senhor (Mt 13.55). Alguns teólogos afirmam que esses meio-irmãos na
verdade eram primos de Cristo e que são os mesmos Tiago e Judas que
integravam o grupo de discípulos. Essas provas são provavelmente
inconclusivas, e não se sabe exatamente qual dos pares, se é que houve duas
duplas de irmãos, escreveu as epístolas.
Não sabemos as datas em que essas epístolas menores foram escritas.
Como todos os outros livros do Novo Testamento, elas foram escritas pelos
apóstolos e seus auxiliares "sob inspiração do Espírito", como afirma
Clemente de Roma, a respeito da carta de Paulo aos coríntios. Missionários,
líderes e mestres cristãos devem aprender mais a respeito da época, da autoria
e das circunstâncias relacionadas a todas essas epístolas. Podemos vir a
conhecer muito sobre esse assunto através de um estudo diligente dos próprios
livros. Os autores antigos confirmam sua fé nesses escritos como a Palavra
de Deus, verdadeira, inspirada pelo Espírito e pregada pelos apóstolos.
Nenhum outro grupo de livros têm sido tão estudado, e não há
nenhuma prova da existência de outros escritos de autoria dos apóstolos.
Os pais da igreja concordam que alguns textos falsos realmente circularam
(2Ts 2.2; 3.17). Entretanto, foram prontamente combatidos e apenas
algumas pessoas foram enganadas. Embora Cristo nunca tenha apresentado
. ....._ ------""' INTRODUÇÃO À BÍBLIA
セNMMMMMMMMMセ@
uma lista dos livros do Novo Testamento, ele escolheu os doze apóstolos, e
também Paulo, para que lançassem o fundamento da igreja. Esses homens,
divinamente indicados e capacitados pelo Espírito, escreveram o Novo Tes-
tamento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Os cristãos que acreditam
na Bíblia se regozijam por terem acesso à Palavra escritade Deus.
1 ENRIQUECENDO O VOCABULÁRIO 1
Cânon Muratoriano, Didaquê.
1 PERGUNTAS DE RECAPITULAÇÃO 1
1. Faça uma tabela mostrando os autores do Novo Testamento e seus
livros.
2. Faça uma revisão deste capítulo e verifique a afirmação de que "trinta
anos após a morte de João, apenas os livros de Judas e 2 e 3João não
tinham sua canonicidade confirmada através dos escritos dos pais
da igreja".
3. Qyem foi Inácio e quais de suas obras chegaram até nós?
QUEM ESCREVEU O NOVO TESTAMENTO? セ@ セM
MMMMセセ@
4. Qyal o primeiro pai da igreja cujas obras permanecem até hoje?
5. A partir de 2Pedro 3.15, 16 e Judas 17, 18, explique a atitude de
respeito que os apóstolos demonstravam em relação os escritos uns
dos outros.
6. Qyal a prova de que os apóstolos consideravam seus escritos como
inspirados por Deus?
7. Marque o trajeto das viagens missionárias de Paulo num mapa bíblico
e faça uma lista mostrando a ordem em que ele escreveu suas epístolas.
8. Por que o cânon do Novo Testamento tem apenas vinte e sete livros?
...._ ____b INTRODUÇÃO À BÍBLIA
セMMMMMMMMMMMM
1 ANOTAÇÕES
Como a Bíblia
foi preservada
O Novo Testamento
A maioria dos cristãos não procura saber como os escritos neotes-tamentários foram preservados até os dias de hoje. Por ser fácil conseguir um exemplar da Bíblia, supõem que as Escrituras sem-
pre estiveram disponíveis. Como todas as outras bênçãos que recebemos,
essa também não deve ser menosprezada. Homens e mulheres morreram
para que a Bíblia pudesse ser preservada, traduzida e publicada. Mesmo
em nossos dias, em alguns países, exemplares da Palavra de Deus ainda
são escassos.
Podemos dividir a história da preservação do Novo Testamento em
duas partes - antes e depois da invenção da imprensa. No século XV, três
eventos trouxeram benefícios inestimáveis para a era moderna. Em 1492,
Colombo descobriu o Novo Mundo. Em 1456, Johann Gutenberg
inventou a imprensa. Em 1493, nasceu Martinho Lutero, o líder da Reforma
Protestante. Esses acontecimentos marcaram profundamente a abrangência
e a influência do cristianismo nos tempos modernos.
A IMPRESSÃO DA BÍBLIA
O primeiro livro a sair da impressora de Gutenberg foi a Bíblia em
latim. Ainda existem exemplares dessa primeira edição. Depois, imprimiu-se
--....._ セ@ INTRODUÇÃO À BÍBLIA
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o Novo Testamento em grego e também o Antigo Testamento em hebraico.
Após isso, a preservação das Escrituras tornou-se uma tarefa relativamente
simples, visto que era possível produzir exemplares da Bíblia aos milhares.
Depois que Tyndale traduziu as Escrituras para o inglês, estas passaram a
ser impressas na Holanda e contrabandeadas para a Inglaterra. Por um curto
período, os bispos ingleses tentaram queimar todos os exemplares, mas não
obtiveram sucesso. Depois de poucos anos, a Bíblia de Tyndale e de seus
sucessores podia ser facilmente adquirida em toda a Inglaterra.
Os primeiros versículos de Gênesis da Bíblia de Gutenberg, cuja primeira edição foi
impressa em 1456. O tipo móvel de Gutenberg abriu caminho para a ampla distribuição da
Bíblia em outros idiomas além do latim.
As primeiras palavras de Gênesis da tradução de Tyndale, em sua primeira edição do
Pentateuco, publicada em 1530.
Desde a invenção da imprensa, tornou-se relativamente fácil reproduzir
a Bíblia sem erros. Antes disso, alguém copiava o texto à mão e podia facilmente
COMO A BÍBLIA FOI PRESERVADA - O NOVO TESTAMENTO
cometer alguns erros. Se a pessoa descartasse o trabalho e recomeçasse, prova-
velmente evitaria os erros anteriores, mas cometeria outros. Hoje em dia, ao
imprimir um livro, basta corrigir os erros sem alterar o restante. Através de
uma revisão cuidadosa, pode-se imprimir a Bíblia sem nenhum erro. Ao se
prepararem os originais para impressão, são feitas várias leituras de provas. Os
revisores podem trabalhar em pares, um deles lendo a partir de uma exemplar
perfeito e o outro verificando as provas. Ou então o revisor pode ler a prova,
enquanto ouve uma versão do texto bíblico. Em edições mais baratas, pode
haver erros de impressão porque o texto não é verificado tão cuidadosamente.
A maioria dos livros comuns não recebe uma revisão minuciosa e é passível de
apresentar erros tipográficos.
Algumas vezes o problema não estava nos erros de cópia, mas sim no
estilo da língua vigente na época. Durante o século posterior à tradução da
versão King James de 1611, a pessoa que fazia as impressões tinha de ser
um gramático, pois precisava saber que palavras teriam sua grafia alterada
nas edições subseqüentes.
Por esse motivo, uma cópia antiga da Bíblia difere das edições mais
recentes. Essas distinções não são erros de tradução nem de impressão, mas
ajustes introduzidos devido à transformação do idioma.
AS PRIMEIRAS CÓPIAS DO TEXTO
DO NOVO TESTAMENTO
Para compreender como o Novo Testamento foi preservado, o estu-
dante precisa conhecer a história do império romano. No período apostólico,
o império havia-se expandido por toda a região do Mediterrâneo - Espanha,
França, Itália, Grécia, Turquia, Síria, Palestina, Egito e norte da África.
Estendeu-se também até a Grã-Bretanha e partes da Alemanha. A língua
falada pelos governantes era o latim, mas o povo em geral usava o grego para
se comunicar.
O cristianismo tinha presença marcante, principalmente no Egito,
na Palestina, na Ásia Menor, em Roma e no norte da África. Entretanto,
era uma religião proibida, e os cristãos foram vítimas de pelo menos dez
cruéis perseguições. Seus livros eram constantemente queimados. Muitos
morreram por se recusarem a lançá-los nas fogueiras.
Por fim, em 313 d.C., o imperador Constantino, o Grande, con-
verteu-se ao cristianismo. Ele promulgou o famoso edito de Milão,
garantindo liberdade de culto aos cidadãos. Nas décadas seguintes, o império
romano se enfraqueceu devido aos ataques dos bárbaros godos, e também
pela invasão de outros povos, que vieram para a Europa através da Ásia. Em
410 d.C., Roma sucumbiu. Essa foi a época em que Jerônimo viveu. Ele
ficou conhecido por sua tradução da Bíblia para o latim, chamada Vulgata.
-.... セ@ INTRODUÇÃO À BÍBLIA
セMMMMセ@
Agostinho, outro líder desse período, também ficou famoso. Pouco depois
da queda de Roma, o império se dividiu. Constantinopla foi escolhida como
capital do império romano do Oriente, e Roma, do império romano do
Ocidente. A língua falada na porção oriental era o grego, preservada durante
toda a Idade Média. Na porção ocidental falava-se o latim.
O estudioso que queira pesquisar a cópia do Novo Testamento que
mais se aproxime do original, redigido pelos apóstolos, preferirá os exemplares
em grego aos escritos em latim. Algumas das cópias mais antigas dos originais
gregos datam de um período anterior a Jerônimo.
Pela providência divina, o estudante do Novo Testamento tem o
privilégio de ter acesso a muitas cópias antigas. Os manuscritos originais,
chamados "autógrafos", foram registrados provavelmente em papiros ou
pergaminhos. Todavia, por volta de 125 d.C., era costumeiro usar uma
espécie de livro chamado códice,em vez de rolos. Assim ficava mais fácil
reunir vários escritos em um único volume. Fizeram-se várias cópias desses
livros no idioma grego. Pouco tempo depois, provavelmente em 200 d.C., a
igreja em Antioquia e os povos da Mesopotâmia, no Oriente, queriam ter a
Palavra de Deus no idioma siríaco, predominante na época. Essa língua era
bastante semelhante ao hebraico. Naquele mesmo período, as igrejas no
norte da África queriam ter acesso aos evangelhos em latim. Daí produziu-
se uma tradução em latim antigo. Mais tarde essa tradução foi substituída
pela Vulgata de Jerônimo. No entanto, até o ano 400 d.C., o grego
permaneceu como o principal idioma bíblico.
As cópias mais antigas do Novo Testamento eram feitas com letras
minúsculas. Os manuscritos medievais em grego também eram escritos dessa
maneira. Essas cópias são chamadas "cursivas". Por volta do ano 300 d.C.,excelentes cópias em pergaminho tornaram-se comuns, escritas
cuidadosamente com letras maiúsculas. Esses manuscritos receberam o nome
de "unciais" (maiúsculas).
Muitos desses excelentes manuscritos unciais ainda existem. Eles
ficaram armazenados por várias gerações em bibliotecas de antigos
mosteiros, e apenas alguns exemplares dentre centenas sobreviveram ao
desgaste e às ondas de perseguição. As perseguições eram a maior ameaça
a esses manuscritos. Qyando os muçulmanos invadiram o Egito, no sétimo
século, incendiaram a biblioteca de Alexandria, que possuía um acervo
de cem mil volumes, incluindo muitos tesouros bibliográficos da
Antigüidade. Por volta da mesma época, atearam fogo à biblioteca de
Eusébio, localizada em Cesaréia da Palestina, que guardava muitos
documentos de valor inestimável do ínicio da era cristã. Entretanto, pela
providência de Deus, muitas cópias escaparam às chamas. Afirma-se que
existem cerca de três mil cópias integrais do Novo Testamento em grego
ou de partes dele. Destas, uma dúzia ou mais superam mil e quinhentos
anos de idade.
COMO A BÍBLIA FOI PRESERVADA - O NOVO TESTAMENTO
OS MANUSCRITOS ANTIGOS
Qgais são os manuscritos mais antigos que temos? Como são eles?
Nos últimos dois séculos, muitos manuscritos antigos foram encontra-
dos. Eles nos fornecem informações adicionais a respeito do texto bí-
blico original.
O Texto Alexandrino
Em 1859, Constantino Tischendorf encontrou um manuscrito de
valor inestimável entre outros documentos antigos, no mosteiro de Santa
Catarina, situado na encosta do monte Sinai. Esse manuscrito recebeu o
nome de Códice Álef ou Códice Sinaítico e data do quarto século de nossa
era. Códice significa "livro" e álef é a primeira letra do alfabeto hebraico.
Em 1868, a biblioteca do Vaticano publicou outro manuscrito anti-
go, também do quarto século, chamado Códice B (conhecido também como
Códice Vaticano, por ter sido encontrado na biblioteca do Vaticano). Esses
dois manuscritos, o Códice Álef e o Códice B, têm um texto bastante
semelhante. Parece claro que foram copiados da mesma fonte ou então de
cópias semelhantes. Eles pertencem à mesma família de manuscritos desig-
nada como Texto Neutro, mais tarde chamado Texto Alexandrino.
O Coinê
Muitas cópias que datam da Idade Média formam outra família de
manuscritos que se diferenciam apenas por alguns detalhes de estilo. A
esse grupo chamamos Coinê, vocábulo grego que significa "comum". Essas
cópias também receberam o nome de Textus Receptus. Essa família de ma-
nuscritos foi usada pelos tradutores da versão King James e por João Ferreira
de Almeida. A versão Corrigida de Almeida está baseada no Textus Receptus.
As demais versões bíblicas em português baseiam-se no Texto Alexandrino.
Entre elas estão a versão Revista e Atualizada, a versão Revisada de Acor-
do com os Melhores Textos, a Bíblia na Linguagem de Hoje, a Nova Tra-
dução na Linguagem de Hoje, a Nova Versão Internacional e a versão Al-
meida Século 21. É fácil comparar esses dois grupos de manuscritos ao
confrontar a versão Corrigida de Almeida com as outras versões mais re-
centes do Novo Testamento.
Outros manuscritos
Em épocas posteriores, encontraram-se cópias ainda mais antigas entre
papiros no Egito. Os papiros Chester Beatty contêm grande parte do texto
do Novo Testamento e datam de cerca do ano 200 d.C.
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セセセMMM
O papiro Rylands, de aproximadamente 125 d.C., é valioso, embora
contenha apenas uma pequena parte do texto do Novo Testamento. Ele é
praticamente idêntico ao Texto Alexandrino.
Os papiros Bodmer de João, que mencionamos no quinto capítulo,
confirmam o Texto Alexandrino. A maioria das traduções mais recentes
baseia-se nesses manuscritos.
Crítica textual
Ao estudo dos manuscritos antigos chamamos crítica textual, ou baixa
crítica, para distingui-lo da alta crítica, que é bastante destrutiva. A crítica
textual é uma ciência antiga e bastante valiosa. Tem sido praticada por
teólogos cristãos desde a época de Orígenes (250 d.C.). Entretanto, ela
exige um conhecimento profundo das línguas originais. A base da crítica
textual do Novo Testamento vem sendo reforçada desde que se publicaram
as obras de Tischendorf, Westcott, Hort e outros.
A crítica textual pode ser de grande allX11io para os cristãos por dois
motivos. Em primeiro lugar, pode nos ajudar a recuperar as palavras originais
escritas pelos apóstolos, em muitas passagens duvidosas. As cópias disponíveis
atualmente foram feitas muitas gerações depois de os originais terem sido
escritos. Ao compará-las às famílias antigas de manuscritos, o estudioso
geralmente pode determinar que palavras constavam dos primeiros
documentos. Em segundo lugar, em alguns trechos, é difícil identificar o
texto original. O texto falava em "Simão" ou "Pedro", em "Jesus" ou ''Jesus
Cristo"? Talvez não seja muito simples chegar a essa conclusão, mas quando
famílias completas de manuscritos concordam entre si, qualquer que seja a
leitura, não há grandes diferenças.
Normalmente se defende, com base em provas substanciais, que o
texto da família dos manuscritos alexandrinos é o mais próximo do original,
embora tenhamos sempre de compará-lo com outros registros. E a família
Coinê, que muitos pensam conter alguns poucos erros, ainda é tão confiável
quanto os melhores documentos bíblicos. As diferenças restringem-se apenas
a detalhes eventuais. As maiores discrepâncias entre as traduções modernas,
realizadas por estudiosos cristãos que se esmeraram para traduzir o texto
com precisão, não são diferenças provenientes dos manuscritos. O que há
são divergências de interpretação e de estilo. Com relação a esse assunto vale
a pena citarmos o comentário de Westcott e Hort, em 1881:
Se deixarmos de lado superficialidades comparativas, em nossa
opinião, as palavras nos manuscritos bíblicos que ainda levantam dúvidas
chegam a menos de um milésimo de todo o texto do Novo Testamento.
Descobertas mais recentes têm confirmado e reforçado a conclusão
de Westcott e Hort.
COMO A BÍBLIA FOI PRESERVADA- O NOVO TESTAMENTO
O Novo Testamento que temos atualmente foi preservado por mon-
ges e estudiosos, por mártires e missionários, através de um trabalho de
cópia laborioso, à mão livre, e também por meio de impressões cuidadosas.
Em comentários críticos e em inúmeras traduções, a Palavra de Deus trans-
mitida pelos apóstolos tem sido preservada com fidelidade e distribuída
diligentemente por todo o mundo. Os cristãos podem ler e estudar a Bíblia
com confiança, sabendo ser ela a genuína Palavra de Deus.
"Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão"
(Mt 24.35).
1 ENRIQUECENDO O VOCABULÁRIO 1
Autógrafos, manuscritos cursivos, crítica textual,
manuscritos unciais, Coinê, Textus Receptus.
1 PERGUNTAS DE recapセZセlaᅦᅢo@ 1
l. Olial o lapso de tempo entre a época da confecção do manuscrito
mais antigo do Novo Testamento ainda preservado e os dias em que
viveu João, seu autor?
2. Oliais são as três cópias de maior importância do Novo Testamento,
feitas antes do ano 400 d.C., cuja maior parte ainda está preservada?
3. Compare a narrativa da ressurreição (Jo 20) nas versões Almeida
Corrigida e Almeida Século 21.
4. Podemos confiar até no mais "precário" texto do Novo Testamento?
Por quê?
·-...... __b INTRODUÇÃO À BÍBLIA
セセMMMMMMMGMMM
1 ANOTAÇÕES
Como a Bíblia
foi preservada
O Antigo Testamento
O Antigo Testamento data de uma época muito anterior aos escritos do Novo Testamento. Malaquias, o último livro do Antigo Testa-mento, provavelmente foi escrito por volta de 400 a.e. Até recen-
temente, não tínhamos muita informação para o estudo dos textos
hebraicos originais. Todavia, com a descoberta dos manuscritos do mar
Morto, no ano de 1947, conseguiu-se um grande tesouro em novo material
de estudo.
A PRESERVAÇÃO NA ANTIGÜIDADE
Moisés e os demais profetas escreveram o Antigo Testamento ao longo
de mil anos - de 1400 a 400 a.e.Durante esse período, uma parte das
cópias das Escrituras ficavam em poder dos sacerdotes do templo, outra
parte de posse do rei e ainda outra sob o cuidado dos profetas, a quem Deus
concedeu seu Espírito a fim de que revelassem sua vontade. Durante certos
períodos, as profecias eram escassas em Israel, como aconteceu nos dias de
Eli: "Naqueles dias, a palavra do SENHOR era mui rara; as visões não eram
freqüentes" (1Sm 3.1). Era comum os povos envolverem-se intensamente
com a idolatria, como no reinado de Acabe. Em todos esses períodos, Deus
levantava profetas fiéis, inspirados pelo Espírito Santo. Esses homens amavam
e valorizavam a Palavra de Deus, e a transmitiam com intrepidez.
·--.._ _b INTRODUÇÃO À BÍBLIA
セNMMMMMMMMMMMM M MMMMGMMMMMMMMMM
Há poucas evidências da história desses períodos da Palestina
provenientes de fontes outras que não o texto bíblico. Entretanto, a Bíblia
contém evidências "internas" a respeito de seus processos de composição e
preservação. Obviamente naquele período da história também havia a
literatura secular, tanto sob a forma de documentos como de livros, mas
esses registros se perderam. Um grande número de relatos, contos e poemas
foi preservado em placas de argila, feitas pelos povos da Mesopotâmia. No
Egito escrevia-se em papiros, que, embora frágeis, resistiram devido ao clima
bastante seco da região. Mercadores vindos da Palestina compravam papiro
egípcio em troca de madeira de cedro e azeite de oliva. O papiro era bastante
conveniente, mas todos os manuscritos registrados nesse material se per-
deram, por causa das estações chuvosas da Palestina. Apenas na área seca e
quente do mar Morto é que os papiros e os pergaminhos conseguiram
resistir. Assim, a literatura secular da Palestina se perdeu e os manuscritos
bíblicos ficaram muito desgastados.
A medida que os pergaminhos antigos se estragavam ou eram
destruídos, tinham de ser copiados novamente. O que aconteceu com as
cópias dos textos bíblicos, depois que o ofício profético cessou, por volta de
400 a.C.? Iniciando nesse ponto da história, iremos retroceder quase 2400
anos, até a época antiga.
Rolo com texto hebraico do liv ro de Ester.
A Idade Média
Durante a Idade Média, os judeus se incumbiram de preservar o
Antigo Testamento hebraico. Naquele período, a ciência na Europa
praticamente não se desenvolveu. A igreja latina usava a Vulgata de Jerônimo,
pois nenhum dos estudiosos de seu corpo eclesiástico sabia o hebraico. A
igreja ortodoxa grega, no leste do Mediterrâneo, usava a Septuaginta, escrita
em grego, e nenhum dos teólogos daquele lugar parecia importar-se com o
idioma original hebraico. Os judeus, por sua vez, apesar das perseguições
COMO A BÍBLIA FOI PRESERVADA - O ANTIGO TESTAMENTO
cruéis que sofriam, espalharam-se por toda parte, continuaram zelando pelas
Escrituras e preservaram seus costumes e suas tradições.
A tradição judaica ensina que os rabinos da época medieval copiavam
as Escrituras com grande cuidado. Chegavam ao ponto de contar os ver-
sículos de cada livro e assinalar o versículo central. O resultado disso foi
uma fidelidade incrível na transmissão do texto bíblico.
Além do mais, quando comparamos a Bíblia hebraica com a tradução
em latim (a Vulgata), feita por Jerônimo por volta de 400 d.C., fica evidente
que Jerônimo trabalhou com uma cópia das Escrituras hebraicas muito
semelhante à que temos hoje em dia. Na verdade, vários estudiosos judeus
fizeram algumas traduções para o grego, por volta do ano 200 de nossa era.
(Não devemos confundi-las com a Septuaginta, que é anterior a elas.) Isso
prova que a Bíblia hebraica daquela época era quase igual à que temos
atualmente. Essas traduções menos importantes para o idioma grego não
foram preservadas em sua totalidade. No entanto, ainda assim nos ajudam
a traçar a história da preservação do texto hebraico.
Até pouco tempo, não se conhecia nenhuma cópia em hebraico que
datasse de antes de 200 d.C. Além disso, nenhuma outra tradução importante
foi feita antes da Septuaginta, em 200 a.C. Havia os targuns siríaco, sama-
ritano e aramaico, mas as datas desses documentos são incertas e eles não
tinham muita importância. Portanto, havia poucas evidências sobre a meti-
culosa preservação do texto hebraico, ao menos no que se referisse a textos
que pertencessem ao período anterior a 200 d.C.
OS MANUSCRITOS DO MAR MORTO
No ano de 1947, um pastor árabe atirou uma pedra para dentro de
uma caverna próxima ao mar Morto e ouviu o som de um vaso quebrando.
Agora todo o mundo conhece a história do beduíno que retirou sete
manuscritos daquela caverna, deixando centenas de fragmentos. Desde
então, foram encontrados mais pergaminhos do Antigo Testamento e
escritos judaicos em outras cavernas. Milhares de fragmentos ainda estão
sendo pacientemente organizados e estudados. Os manuscritos do mar
Morto, guardados por muitos séculos pelos escribas da comunidade de
Qymran, trouxeram novas e valiosas provas da preservação do texto
hebraico na Antigüidade.
Os manuscritos não-bíblicos
O tesouro encontrado abrange dois tipos de documentos, sendo o
primeiro deles composto por manuscritos não-bíblicos. Esses escritos
mostram que o grupo que habitava em Qymran considerava os livros do
Antigo Testamento uma obra escrita pelo próprio Deus através de seu
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セセセMMセ@
Espírito, por intermédio dos profetas. Repetidas vezes, fazem referência à
"Lei de Moisés e os Profetas" ou "o que Deus falou através de Moisés e
todos os Profetas". Sua postura diante do Antigo Testamento e da termi-
nologia que empregavam são semelhantes à de Cristo e dos apóstolos.
Os manuscritos bíblicos
O segundo grupo de manuscritos encontrados na região do mar Morto
é composto por manuscritos bíblicos. Essas cópias antigas foram comparadas
diretamente com a Bíblia hebraica que temos hoje em dia. Elas demonstram
o quanto os escribas da Antigüidade foram precisos em seu trabalho.
Todos os livros do Antigo Testamento, com exceção de um, foram
encontrados naquelas cavernas. O livro de Ester ainda não foi identificado.
De alguns livros, tais como Salmos, Deuteronômio e Isaías, há várias cópias.
Já de outros, como Crônicas, restaram apenas fragmentos. O pergaminho
mais extenso é o de Isaías, preservado em sua totalidade e em boas condições.
Aparentemente remonta ao ano 125 a.C. Alguns documentos são ainda
mais antigos. Calcula-se que trechos de Jó, Jeremias, Samuel e Salmos são
do ano 200 a.C. ou até de antes. Uma parte do livro de Salmos recebeu
uma datação não-oficial de 300 a.C. Uma cópia de Edesiastes, que data do
ano 150 a.C., desperta um interesse especial, porque alguns críticos mais
extremados insistem que esse livro foi escrito numa data muito posterior.
Cópias do livro de Daniel do segundo século a.C. são muito importantes,
porque se aproximam bastante da data crucial de 165 a.C. A alta crítica
afirma ter sido esse o ano em que o livro foi escrito.
Conclusão
Os manuscritos do mar Morto são extremamente semelhantes à Bíblia
hebraica da atualidade. Eles provam que os indivíduos que copiaram os
textos em hebraico, desde o segundo século antes de Cristo, realizaram um
trabalho extremamente cuidadoso. É comprovado que a Bíblia hebraica
que temos hoje é praticamente a mesma que os judeus usavam 200 anos
antes de Cristo, uma vez que alguns dos manuscritos do mar Morto são
mais antigos que o rolo de Isaías. Podemos afirmar com confiança que não
se tem notícia de evento algum na história de Israel que tenha introduzido
mudanças na técnica de cópia de manuscritos usada pelos judeus entre os
dias de Esdras e o ano 200 a.C. Portanto, concluímos que o Antigo Testa-
mento atual é, tanto na sua essência quanto em seus pormenores, muito
semelhante às Escrituras que Esdras ordenou que fossem lidas aos israelitas
em Jerusalém, após o retorno do cativeiro babilônico.
Tais provas são suficientes para fins de estudo. Todavia, os pes-
quisadores bíblicos hodiernosjá conseguem remeter a história do Antigo
COMO A BÍBLIA FOI PRESERVADA - O ANTIGO TESTAMENTO
Testamento a uma data ainda mais remota. Ainda existem várias cópias da
Septuaginta, traduzida por volta de 200 a.C., feitas por escribas cristãos.
Isso é de grande valia, mas levanta algumas questões. Há algumas citações
no Novo Testamento retiradas da Septuaginta que divergem do texto
hebraico. Nesses casos, será a Septuaginta melhor que o texto original? Será
que essa tradução para o grego foi realizada de forma meticulosa?
Hoje em dia, há provas concretas para solucionar essas questões.
Alguns manuscritos do mar Morto datam de cerca de 200 a.C. Eles são tão
semelhantes ao texto da Septuaginta, que certamente foram esses os textos
nos quais os tradutores daquela versão se basearam. As diferenças entre a
Septuaginta e o texto hebraico que temos hoje devem-se provavelmente ao
fato de que já havia dois ou mais textos hebraicos sendo usados conco-
mitantemente, por volta do ano 200 a.C. Essa nova evidência ajudou a
solucionar várias dúvidas sobre citações do Novo Testamento, pois demonstrou
que, nesses casos especificamente, a Septuaginta realmente estava correta. É
impressionante perceber que, mesmo após muitos séculos, dois textos foram
preservados - o original hebraico e a Septuaginta em grego.
Qiial a importância de conhecermos as diferentes "famílias" de textos
do Antigo Testamento? Primeiramente, através de uma comparação cui-
dadosa entre eles, é possível determinar o texto original. Em segundo lugar,
podemos perceber o evidente cuidado com que os copistas lidavam com os
textos na Antigüidade. Terceiro, ao comparar as duas famílias como um
todo, podemos chegar à conclusão de que nenhum dos textos diverge muito
das primeiras cópias que geraram todas as demais.
COMPARAÇÃO TEXTUAL
Dois outros argumentos reforçam a crença de que o Antigo Testa-
mento foi copiado com grande exatidão desde épocas muito remotas. Pri-
meiro, as passagens de livros que trazem citações de outros livros bíblicos
geralmente se aproximam bastante. Em segundo lugar, os nomes que
aparecem no Antigo Testamento e em inscrições feitas por povos da Anti-
güidade são muito semelhantes. Alguns exemplos serão suficientes para
esclarecer isso.
A concordância entre passagens paralelas
Há mais passagens paralelas no Antigo Testamento do que a maioria
dos leitores percebe. O texto de Salmos 18 é idêntico ao de 2Samuel 22;
Salmos 14 tem o mesmo texto de Salmos 53; Salmos 108 consiste de partes
de Salmos 57 e 60. O texto de Isaías 36-39 é igual ao texto de 2Reis
18.13-20.19. Longos trechos de 2Samuel e do livro de Reis aparecem
também em Crônicas.
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セセMMMMMMMMMMM
A Concordância entre Nomes
Nomes de indivíduos importantes oferecem uma maneira interes-
sante de fazer comparações. A Bíblia traz muitos nomes estranhos como
Sisaque, Q9edorlaomer, Azarias, Tiglate-Pileser e J eoaquim. Robert Dick
Wilson afirma que, das 184 letras que aparecem em quarenta nomes cita-
dos nas cópias em hebraico, praticamente todas estão registradas
corretamente. Placas de argila encontradas depois da época em que Wil-
son realizou suas pesquisas acrescentaram outros exemplos desse fato.
Um exemplo notável é o texto de Jeremias 39.3. Por vários séculos,
os indivíduos ali mencionados permaneceram desconhecidos para nós.
Recentemente, encontraram-se registros arqueológicos dos nomes dos
oficiais de Nabucodonosor. Assim, os estudiosos puderam compará-los
com a grafia apresentada no versículo. Os tradutores confundiram os nomes
dos indivíduos com seus títulos, mas cada letra foi minuciosamente
preservada. A tradução correta é "Nergal-Sarezer de Sangar;1 Nebo-
Sarsequim, o Rabe-Saris; Nergal-Sarezer, o Rabe-Mague". Tal precisão
nas cópias prova que o Antigo Testamento nos foi transmitido com incrível
fidelidade. Para todos os fins, o estudante da Bíblia pode afirmar que os
escritos proféticos foram preservados sem nenhum erro que possa afetar a
mensagem da Palavra de Deus. O texto é confiável, e podemos usá-lo
com a mesma convicção demonstrada por Cristo e os apóstolos.
1 Ver o artigo "Nergal-Sarezer" de E. M. Yamauchi em Wyclijfe Bible Encyclopedia, ed.
Charles F. Pfeiffer, H. F. Vos eJ. Rea (Chicago: Moody Press, 1975).
COMO A BÍBLIA FOI PRESERVADA - O ANTIGO TESTAMENTO
1 ENRIQUECENDO O VOCABULÁRIO 1
Manuscritos do mar Morto, evidências bíblicas externas,
evidências bíblicas internas, passagens paralelas,comparação
textual, transmissão, Vulgata.
1 PERGUNTAS DE RECAPITULAÇÃO 1
1. Como podemos saber se o Antigo Testamento que temos hoje em
dia foi preservado, sem grandes mudanças, desde 400 d.C.? E desde
200 d.C.?
2. O que é a Septuaginta e quando foi composta?
3. Qyais os dois tipos de manuscritos encontrados nas cavernas da região
de Qymran?
4. Qyantos livros do Antigo Testamento estão presentes entre os
manuscritos do mar Morto?
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5.
6.
7.
8.
9.
Qyais as datas aproximadas de alguns rolos do Antigo Testamento e
de seus fragmentos?
Como os manuscritos do mar Morto comprovam que o Antigo
Testamento foi meticulosamente copiado nos séculos anteriores ao
advento de Cristo?
O que a crítica textual conclui a respeito do Antigo Testamento?
Leia com atenção 2Samuel 22 e Salmos 18, procurando observar as
diferenças entre os dois textos. Explique como pequenas alterações
no texto hebraico produziram essas variações.
Prepare uma apresentação com gravuras, artigos e livros que mostrem
como o Antigo Testamento foi transmitido e preservado. Enciclopédias
atualizadas, tanto seculares como religiosas, contêm artigos e fotografias
sobre descobertas arqueológicas recentes. Coloque esse material à
disposição de todas as classes da escola dominical e da igreja.
COMO A BÍBLIA FOI PRESERVADA - O ANTIGO TESTAMENTO
1 ANOTAÇÕES
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1 ANOTAÇÕES
Controvérsias em torno
da Bíblia
A Bíblia é o livro mais importante de todas as épocas. Ela é mais extensa do que a maioria dos leitores imagina. Se impressa em tipo de tama-nho comum, sem muitos comentários, ocupa aproximadamente 1300
páginas. Não é de surpreender que céticos e descrentes encontrem problemas
ao lidar com uma obra tão volumosa.
A Bíblia é um livro estranho também - diferente de todos os outros
que existem. Ela lida com assuntos de ordem espiritual, que não podemos
compreender naturalmente. As coisas do espírito "se discernem espiri-
tualmente" (1Co 2.14-16). Críticos oposicionistas encontram problemas
mesmo onde eles não existem. Nicodemos disse a Jesus: "Como pode suceder
isto" (Jo 3.9)? Os que não estão dispostos a aceitar a mensagem espiritual
da Bíblia não conseguem entendê-la.
Ademais, a Bíblia é um livro antigo. Foi escrita por profetas, reis,
coletores de impostos e estudiosos em hebraico, aramaico e grego. Seu con-
texto histórico abrange desde a idade do bronze até os tempos do império
romano, passando pela idade do ferro. Os eventos nela relatados ocorreram
em Canaã, no Egito, na Grécia e na Ásia Menor. Não é de admirar que
tenha causado perplexidade em alguns leitores.
Essas supostas dificuldades são resultado da ignorância com relação
às regiões, aos costumes e aos idiomas mencionados na Bíblia. Se a estudamos
de maneira aprofundada, com dedicação e apoiados pela oração, podemos
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solucionar a maioria desses problemas. O estudante cristão dedicado deve
exercitar sua fé e seu discernimento espiritual.
Se levarmos em conta o tamanho da Bíblia e os contextos em que foi
escrita, que são pouco comuns, ela apresenta pouquíssimos problemas de
interpretação. A maravilhosa harmonia que encontramos nesse livro é um
fato já consolidado. Foi escrita ao longo de dezesseis séculos por cerca de
trinta e cinco autores. As Escrituras contam uma única história e apresentam
uma mensagem coerente. A própria harmoniaque nela encontramos já foi
citada como prova de sua inspiração divina.
Alguns assuntos mais problemáticos, no entanto, têm sido debatidos.
Vários deles estão relacionados aos milagres, às profecias e a supostas
contradições presentes nas Escrituras. Ao examiná-los, o estudante encontrará
respostas para outras questões e dúvidas paralelas.
OS MILAGRES
A Bíblia relata muitos milagres. Alguns afetaram uma região mui-
to grande e envolveram um grande número de pessoas, como a travessia
do mar Vermelho, por exemplo (Êx 14). Outros são mais simples e me-
nos "visíveis", como na ocasião em que Eliseu fez um machado flutuar
(2Rs 6.1-7). Alguns tratam de curas, como na ocasião em que Jesus res-
tituiu a visão ao cego (Jo 9).Já outros envolvem coisas do mundo natural,
como no milagre da multiplicação, quando Jesus alimentou cinco mil
homens com alguns pães e peixes (Me 6.34-44).
Como podemos definir a importância desses milagres? O que
aprendemos com eles? É possível para nós, cristãos do século XXI, crer nesses
acontecimentos? Como? Por que? Para responder a essas questões, precisamos
definir o que são milagres bíblicos.
Todos os milagres bíblicos têm um ponto em comum: estão relacionados
ao mundo natural, ao mundo em que vivemos: um pedaço de ferro que
flutua, água transformada em sangue, a cura de lepra ou de surdez, um
coxo que volta a andar, uma tempestade acalmada.
Os milagres bíblicos também foram fatos singulares, contrários à
experiência comum. Foram feitos inacreditáveis, algo que nenhum ser
humano poderia realizar. Pessoas não andam sobre a água. Ferro não flutua.
Fogo não cai do céu e consome um sacrifício sobre o altar - água, pedras
e tudo o mais. Os milagres são resultado de uma interferência direta de
poderes sobrenaturais em nosso mundo natural. É um acontecimento fora
do comum que se manifesta no mundo físico e vai além de nossa capa-
cidade humana.
Hoje em dia, é comum ver pessoas negarem a possibilidade da
existência de milagres. David Hume argumentou que nunca conseguiríamos
CONTROVÉRSIAS EM TORNO DA BÍBLIA ..__ __.-·
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provas suficientes para garantir que eles existem. Os cientistas insistem que
o universo é governado por leis fixas e que não há exceções possíveis. Defendem
que os indivíduos da Antigüidade eram ignorantes e ingênuos. Segundo eles,
aquelas pessoas acreditavam que Deus controlava o universo por intervenção
direta e, assim, podia facilmente mudar o que desejasse. Alguns cientistas
afirmam: "Sabemos que Deus - se é que ele existe - age através das leis
físicas deste mundo, que não podem ser violadas".
Entretanto, a Bíblia mostra claramente que os povos antigos não
eram ingênuos. É verdade que não tinham conhecimento de dados cien-
tíficos, mas sabiam não ser possível para um ser humano andar sobre a água
(Mt 14.25; Me 6.49; Jo 6.19). Qyando viram Cristo fazendo isso, ficaram
aterrorizados e pensaram quer ele era um fantasma. Qyando Paulo curou o
homem coxo (At 14), os habitantes de Listra acharam que os deuses haviam
assumido a forma humana. Portanto, eles sabiam que seres humanos não
tinham poder para fazer aquilo. O cego curado por Jesus disse: "Desde que
há mundo, jamais se ouviu que alguém tenha aberto os olhos a um cego de
nascença" (Jo 9.32). Ele tinha conhecimento de que Cristo havia realizado
algo impossível ao homem.
A ciência daquela época era bastante rudimentar, mas as pessoas
acreditavam na regularidade das leis da natureza e na lei da causa e efeito.
Criam em milagres não porque fossem ingênuas, mas porque as provas
captadas por seus sentidos eram fatos inegáveis. Tinham certeza de que o
Deus dos milagres visitara este mundo pecaminoso, manifestando seu poder.
Alguns críticos esforçam-se bastante para desacreditar os milagres.
Levantam hipóteses de que Jesus pode ter curado através da psicologia.
Afirmam que os discípulos não o viram andando sobre as águas, mas de pé
sobre os juncos, próximos à praia. Apresentam muitos detalhes para justificar
a multiplicação dos pães para cinco mil pessoas. Supõem que o povo havia
trazido alimento e que o exemplo de altruísmo do rapazinho é que os teria
constrangido, levando-os a compartilhar sua refeição. Essas teorias tolas,
que não se apóiam em fatos científicos, encontradas em muitos livros publi-
cados hoje em dia, não lidam com as evidências claras em cada caso.
O maior milagre de todos, a ressurreição de Cristo, não pode ser expli-
cado através de meios naturais (Mt 28; Me 16; Lc 24; Jo 20). O argumento
mais forte a favor da ressurreição de Jesus é a transformação que ele operou
nos discípulos. Aqueles que o haviam abandonado e fugido (Me 14.50)
tornaram-se testemunhas destemidas, dispostas a morrer por sua fé.
Os que tentam explicar milagres nos mínimos detalhes, incluindo a
ressurreição de Cristo, possuem nada mais do que uma religião vazia, sem
poder, alegria ou salvação; cultivam uma filosofia vã, destituída da revelação
abençoada de Deus. Esses indivíduos estão em densas trevas, sem a luz da
vida. Cristãos genuínos não têm dificuldade para lidar com os milagres.
Eles se encontram no cerne de nossa fé. Sua veracidade está relatada na
......._ _b INTRODUÇÃO À BÍBLIA
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Palavra de Deus como a prova cabal e exclusiva da validade da nossa fé e de
nossa confiança.
Paulo teve uma resposta contundente contra todo ceticismo. セ。ョ、ッ@
compareceu diante de Festo e Agripa, o governador se recusou a acreditar nas
doutrinas que o apóstolo apresentara. Ele declarou que Paulo estava louco
(At 26.24). Sua resposta a Agripa foi muito sensata. Disse ele: "Por que se
julga incrível entre vós que Deus ressuscite os mortos" (At 26.8)? セ。ャアオ・イ@
um que acredite em Deus não terá dificuldade em aceitar milagres. Os sinais
miraculosos, consistentes e sensatos, apresentados no Novo Testamento, são
prova de que o Deus misericordioso realmente se pronunciou. Os milagres
são um testemunho essencial de nossa fé e uma prova dela.
AS PROFECIAS
Os argumentos derivados das profecias são igualmente marcantes.
As profecias bíblicas trazem previsões explícitas, precisas e geralmente de
longo prazo. Ninguém poderia imaginar que fossem acontecer, não importa
o quão sábia fosse essa pessoa. Obviamente, indivíduos sagazes e observadores
conseguem prever determinados acontecimentos. Os meteorologistas arris-
cam-se a oferecer uma previsão de curto período para o clima de uma região.
As pesquisas de opinião usadas durante campanhas políticas procuram
descobrir o resultado da votação, com várias semanas de antecedência. Uma
profecia genuína, porém, é algo sobrenatural.
O cumprimento de profecias no Antigo Testamento
As profecias bíblicas não são previsões que possam dar origem a
dupla interpretação, como as fornecidas pelos oráculos gregos. Estes diziam
que se determinado rei saísse para a batalha, ele arrasaria um poderoso
império. Ele assim o fazia. No entanto, o império que ele destruía era o
seu próprio. Em contraste com isso, os profetas hebreus revelavam fatos
futuros oferecendo detalhes precisos, geralmente enunciando as datas e
os nomes das pessoas envolvidas. Os profetas assim falavam porque Deus
lhes dava uma visão sobrenatural e informações minuciosas sobre fatos
futuros. Essa é uma das provas vitais da autenticidade da Bíblia como um
todo. セ。ャアオ・イ@ cristão evangélico crê nessa verdade.
Como os céticos tratam essas profecias? De maneira muito astuta.
セ。ョ、ッ@ encontram uma previsão no capítulo de Isaías sobre o reinado de
Ciro, por exemplo, dizem: "Esse capítulo foi escrito depois da coroação do
monarca". Se uma previsão do livro de Reis cita o nome de Josias, eles
afirmam que essa informação foi acrescentada ao versículo numa época
posterior à ascensão de Josias ao trono. Se Daniel prevê os dias de Antíoco
Epifânio, consideram isso uma prova positiva de que o livro foi escrito
CONTROVÉRSIAS EM TORNO DA BÍBLIA セ@ __.-·
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depois de 165 a.C. A postura dos teólogos liberais diante das profeciasque
contêm previsões faz com que insistam que o Antigo Testamento foi escrito
num período posterior, por autores diferentes daqueles reconhecidos nos
próprios livros bíblicos.
Qyal é a resposta para essas objeções? Primeiro, devemos destacar a
tendência de muitos estudiosos em negar o fator sobrenatural. Em seguida,
podemos demonstrar que há evidências bíblicas internas e externas que com-
provam que o Antigo Testamento foi redigido em um período bem antigo.
Entre os manuscritos do mar Morto estão cópias de Daniel feitas por volta
de 110 a.C. Isso comprova que esse livro não pode ter sido escrito por um
falso Daniel, através de uma farsa, próximo ao ano de 165 a.C. Seria muito
difícil produzir muitas cópias do texto e manter sua origem falsa em segredo,
e ainda assim ter sua autoridade canônica reconhecida, tudo isso em um
período de cinqüenta e cinco anos. Os documentos encontrados na região do
mar Morto trazem fortes evidências em prol de uma data mais antiga para o
livro de Daniel, o que o caracteriza como uma profecia com previsões.
Em segundo lugar, muitas profecias bíblicas fazem referência à
primeira vinda de Cristo ou a fatos ocorridos durante nossa época, que
vieram a acontecer vários séculos depois. O lapso de tempo era tamanho
que seria simplesmente impossível que os profetas acertassem as datas com
precisão. Podemos dar muitos exemplos. A profecia do nascimento virginal
de Cristo é um dos casos (Is 7.14). Os críticos afirmam que o vocábulo
traduzido como "virgem" nessa passagem significa na verdade ''jovem mulher".
O bebê seria o filho de Isaías, que nasceria em breve, ou um descendente de
Acabe. No contexto, a criança, Emanuel, também é chamada "Maravilhoso'',
e recebe a promessa de vir da linhagem davídica (Is 9.6, 7). Isaías já tinha
um filho, Searjasube; portanto, a passagem não pode se referir a ele.
Tampouco podemos aplicá-la ao herdeiro de Acabe, Ezequias, que nessa
época já tinha mais de nove anos de idade. Ezequias tinha vinte e cinco
anos quando sucedeu Acabe, que reinou por dezesseis anos. Como prova
adicional, a palavra virgem, usada outras seis vezes no Antigo Testamento,
nunca diz respeito a uma mulher casada. Em pelo menos três das ocorrências,
significa claramente uma virgem. Além disso, esse versículo na Septuaginta
traz um termo que claramente significa uma donzela virgem. Muito antes
do nascimento de Cristo, os judeus já acreditavam nessa profecia clara da
concepção virginal de Jesus. A atitude tendenciosa dos críticos os impede
de aceitar essa maravilhosa previsão.
Consideremos também a profecia de Daniel sobre as setenta semanas
(Dn 9.24). Ela diz claramente que, a contar da época em que fosse dada a
ordem para a reconstrução de Jerusalém até a vinda do Messias, o Príncipe,
passariam-se sete semanas e sessenta e duas semanas. Depois da 62.ª semana,
o Messias seria morto, e a cidade, destruída. Os estudiosos mais críticos já
tentaram, sem sucesso, oferecer uma tradução diferente para essa passagem
. ......_ _.b INTRODUÇÃO À BÍBLIA
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e diluíram seu significado ao afirmar que os períodos de tempo menciona-
dos na profecia são apenas simbólicos.
Podemos destacar duas explicações. Primeiro, de acordo com o costume
judaico, a palavra semanas diz respeito a um período de sete anos. Os hebreus
contavam o tempo em grupos de sete e de cinqüenta - semanas e jubileus.
Após sete anos, as dívidas deviam ser perdoadas, e a cada jubileu, que ocorria
de cinqüenta em cinqüenta anos, todos recebiam de volta as terras que
porventura tivessem perdido. Essa prática era tão antiga quanto as leis e preceitos
levíticos. O Livro do jubileu, escrito no período intertestamentário, data eventos
em Gênesis a partir de critérios como o jubileu, a semana, o ano, o mês e o dia
de cada acontecimento. Obviamente, as "semanas" naquela cronologia repre-
sentam períodos de sete anos. Assim, sete semanas e sessenta e duas semanas
são, portanto, sessenta e nove "semanas" de anos, ou seja, sessenta e nove mul-
tiplicado por sete, o que resulta em 483 anos. Uma semana adicional, men-
cionada no versículo 27, completa as setenta semanas.
Em segundo lugar, houve várias ordens para restaurar e reconstruir
Jerusalém. A primeira delas partiu de Ciro, por volta de 539 a.C. Essa foi
posteriormente revogada e apenas o templo foi reedificado. Os próximos
decretos desse tipo ocorreram no período de Esdras e Neemias, entre 456 e
444 a.C. O texto de Esdras 9.9 dá a entender que o edito incluía também
a reconstrução de Jerusalém. Assim, o profeta reergueu a cidade, e seu amigo
Neemias terminou os muros. Por esse motivo alguns estudiosos contam a
partir da data mencionada por Neemias, usando anos mais curtos do que o
normal (porque Apocalipse 11.2, se comparado com 12.6, refere-se a anos
de 360 dias). Parece mais lógico usar anos "normais", iguais aos que os
judeus empregavam em seus cálculos, e contar a partir da data de Esdras.
Portanto, 456 a.C. menos 483 anos é igual a 26 d.C. (Não existe "ano
zero", portanto a resposta correta não é 27 d.C.). Esse é precisamente o ano
em que Cristo foi anunciado por João Batista como o Messias de Israel.
Pouco tempo depois, Jesus foi morto. Qyarenta anos mais tarde, a cidade
foi destruída em um cerco cruel realizado pelos romanos. Em qualquer
teoria sobre a data de Daniel, a profecia, desde que interpretada com rigor,
refere-se a fatos que aconteceriam muito depois da época daquele profeta.
Portanto, o argumento a favor da profecia é bastante forte.
No entanto, as opiniões podem divergir com relação ao cumprimento
da 70. ª semana. Os premilenistas (dentre os quais o autor se inclui) acreditam
que ela ainda está para se cumprir, de acordo com indicações fornecidas por
Cristo em Mateus 24.15.
O cumprimento de profecias no Novo Testamento
Muitas profecias registradas no Novo Testamento estão se cumprindo
nos dias de hoje. Jesus fez uma profecia ousada, quando disse a alguns
CONTROVÉRSIAS EM TORNO DA BÍBLIA セ@ __.-·
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pescadores: "Mas é necessário que primeiro o evangelho seja pregado a to-
das as nações" (Me 13.10). Contudo, sabemos que a partir de uma origem
humilde, a igreja cristã se expandiu a ponto de chegar a todas as principais
regiões do mundo. Jesus também previu: "Em verdade vos digo que não
passará esta geração sem que tudo isto aconteça" (Mt 24.34). Os judeus
resistiram, mesmo depois de serem dispersados, perseguidos, expulsos e
massacrados. O retorno dos judeus a Israel, que vem acontecendo em nossa
época, é um cumprimento adicional muito importante das profecias da
Antigüidade (Zc 12.1).
Essas previsões não representam um problema nem causam cons-
trangimento algum à fé cristã. As muitas profecias que já se cumpriram são
uma prova sobrenatural de que Deus se pronunciou.
AS SUPOSTAS CONTRADIÇÕES
Os críticos liberais dizem ter encontrado várias contradições na
Bíblia. Estas, porém, não são tão graves como eles alegam. Neste estudo,
infelizmente é impossível responder a todas essas questões. John Haley
pesquisou as publicações dos críticos modernos e fez uma revisão de to-
das as dificuldades que eles afirmam ter descoberto. As respostas de Haley,
cuidadosamente preparadas, têm sido aceitas por causa de sua fidelidade
aos fatos. Elas são dignas de consideração. Outros estudiosos evangélicos
contribuíram com mais sugestões.
Uma dessas supostas contradições é o suicídio de Judas. Mateus 27.5
relata que "Judas ( ... ) retirou-se e foi enforcar-se". Em Atos 1.18. lemos:
"E, precipitando-se, rompeu-se pelo meio". A palavra no original de Mateus,
traduzida como "enforcar'', não se refere necessariamente a enforcamento,
mas ao ato de suicídio em geral ou ao estrangulamento. Ela é usada em
2Samuel 17.23, para traduzir o vocábulo hebraico hanaq. Essa raiz, usada
apenas em Naum 2.12 e emJó 7.15, significa não o enforcamento especifica-
mente, mas sim qualquer tipo de estrangulamento. A morte na forca não
era comumno período veterotestamentário. É claro que, caso o corpo de
Judas não fosse encontrado, iria inchar e romper. A suposta contradição
pode se dever a uma tradução demasiadamente precisa.
Marcos 14.30 e 72 relatam a tríplice negação de Pedro antes que o
galo cantasse duas vezes. Os outros evangelhos mencionam apenas o cantar
do galo. Alguns dos manuscritos mais antigos de Marcos não incluem a
expressão duas vezes. Portanto, concordam com o texto de Mateus e de
Lucas. Em alguns manuscritos lemos no texto de 2Crônicas 36.9 que Joa-
quim tinha oito anos quando foi levado cativo, mas 2Reis 24.8 menciona
que ele tinha dezoito. Alguns dos textos em hebraico e a Septuaginta tra-
zem a segunda opção. Esse é, obviamente, o texto original em ambos os
livros. Assim, a crítica textual soluciona esse problema.
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Outro exemplo é o do cego que foi curado, quando Jesus deixava
Jericó (Me 10.46-52). Os relatos paralelos parecem discordar. Mateus
20.30 traz: "E eis que dois cegos, assentados à beira do caminho ... ". Lucas
18.35 menciona "um cego" que foi curado, quando Jesus se aproximava de
Jericó, dando a entender que o homem teve sua vista restaurada nos arre-
dores daquele lugar. Naquela época, havia duas cidades com o nome de
Jericó - uma antiga e outra, onde ficava o palácio de inverno de Herodes.
Logo, o grupo de discípulos poderia estar saindo de uma das cidades e
passando pelas imediações da outra. Esses relatos não são contraditórios;
simplesmente um deles traz mais detalhes do que o outro.
Muitas outras supostas contradições não são narrativas conflitantes,
mas sim relatos que se complementam. A inscrição colocada no topo da cruz
é um exemplo disso. Ela é apresentada com algumas variações nos quatro
evangelhos. A placa trazia o título de Jesus em grego, latim e hebraico.
Outras inscrições trilíngües daquela época não eram idênticas em todos os
idiomas. A variação indica que um dos evangelhos traz parte do título e os
demais acrescentam outras partes.
A maioria dessas possíveis contradições não trata de questões sérias.
Uma boa Bíblia de estudo geralmente traz algumas respostas. Normalmente,
o problema decorre de nosso conhecimento limitado ou de interpretações
errôneas de cada caso.
Os céticos dão muita ênfase aos problemas encontrados na Bíblia.
Apesar de seus ataques, o texto bíblico permanece e multidões de cristãos e
estudiosos fiéis encontram nele a luz da vida e a verdade de Deus. Devemos
lembrar a confissão de fé feita por Pedro: "Senhor, para quem iremos? Tu
tens as palavras da vida eterna" (Jo 6.68). Muitos rejeitam a Palavra por
causa de alguns discursos de Jesus, difíceis de entender, mas "nós temos
crido e conhecido que tu és o Santo de Deus" (Jo 6.69).
A BÍBLIA E A CIÊNCIA
Tem-se divulgado amplamente a idéia de que os avanços da ciência
tornam impossível acreditarmos na Bíblia. Isso não é verdade para o cristão
que realmente estuda a Palavra de Deus. As Escrituras são inspiradas e
verdadeiras não apenas em questões de ordem espiritual, mas também
naquelas passagens em que dizem respeito à ciência e à história. No entanto,
a Bíblia não é uma publicação científica e raramente faz menções de aspectos
da física, química, matemática ou eletricidade. Os principais conflitos entre
a Bíblia e a ciência estão nos primeiros capítulos de Gênesis, e geralmente
nas questões relacionadas à evolução. Essa controvérsia se dá geralmente em
torno de três assuntos: a idade da terra, a rígida delimitação das espécies e a
origem do homem.
CONTROVÉRSIAS EM TORNO DA BÍBLIA セ@ .--
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A idade da Terra
A geologia afirma que nosso planeta tem de quatro a cinco bilhões
de anos. Será que isso está de acordo com o relato bíblico? É possível apre-
sentarmos aqui apenas a resposta mais sucinta. Alguns estudiosos das Escri-
turas sugerem que os seis dias da criação são na verdade longos períodos de
tempo, e não devem ser tomados literalmente como dias de vinte e quatro
horas. Os primeiros três "dias" ocorreram antes que o Sol fosse criado e
utilizado como referência para a contagem do tempo.
Aqueles que defendem essa doutrina também sugerem que os dias
da criação não tiveram necessariamente a mesma duração. O primeiro deles
pode ter se estendido por muito mais tempo. A criação da vida vegetal, as
fases finais da formação do Sol, da Lua e o início da vida animal podem ter
ocorrido em épocas bastante próximas, seguidas de um longo período de
crescimento com mais criações posteriores.
Em contrapartida, outros teólogos, que defendem a ocorrência de
dias com vinte e quatro horas de duração, argumentam que Deus pode ter
criado o mundo dando-lhe, desde o início, o aspecto de algo mais velho do
que realmente era. No entanto, devemos deixar claro que o relato bíblico é
verdadeiro no que diz respeito à idade da terra.
A rígida delimitação das espécies
Esse problema depende muito do significado que se atribua à palavra
espécie. Não há uma definição capaz de englobar todas as acepções da palavra.
Na biologia, a palavra espécie é definida como plantas ou animais que
apresentam características semelhantes. Segundo essa definição, a palavra
espécie não recebe uma rígida delimitação. O repolho, a couve-flor e a couve-
de-bruxelas, por exemplo, embora tenham aparências bem distintas, podem
sofrer cruzamentos entre si sem problema algum. Em contrapartida, se
definirmos espécie como organismos que admitem cruzamentos entre si, mas
não com outras espécies, então estaremos delimitando rigorosamente o
significado da palavra, restando apenas raros exemplos que fogem à regra.
A idade do homem
Não há uma data precisa que indique há quanto tempo os seres
humanos habitam o planeta. As teorias mais antigas sobre a evolução
defendiam que o homem primitivo surgiu durante o período glacial, também
chamado Pleistoceno, cerca de quinhentos mil anos atrás. Foi sucedido pelo
Homem de Neanderthal, por volta de sessenta mil anos atrás e, em seguida,
pelo Homem de Cro-Magnon, há vinte e cinco mil anos. Essas teorias
foram alteradas devido a descobertas recentes. Descobriu-se que o Homem
de Carmelo apresenta características do homem moderno, embora estime-se
......._ __.b INTRODUÇÃO À BÍBLIA
セLMMMMMMMMMMMMMMMMセ@
que tenha vivido há cento e vinte e cinco mil anos, a partir de comparações
com o período glacial. Essa data foi alterada mais recentemente para trinta e
cinco mil anos com o auxílio do método do carbono 14, que, em si mesmo,
também apresenta variações consideráveis. Descobriu-se ainda que o Homem
de Swanscombe e o Homem de Kanjera também tinham muitas características
do ser humano moderno, embora calcula-se que tivessem vivido há trezentos
mil anos. A datação, também baseada em fenômenos glaciais, é bastante
questionável. Os cientistas agora concordam que os Neanderthais não eram
tão primitivos como se acreditava. Todo esse processo de datação científica
não é confiável e está sendo constantemente estudado e revisto.
Novas descobertas nessas áreas têm acontecido rapidamente com os
achados de Louis Leakey na garganta Olduvai, na África, e também nas
escavações de seu filho, Richard Leakey, mais ao norte, além de Donald
Johanson e outros. Embora as supostas épocas em que esses hominídeos
viveram sejam muito antigas (dois ou três milhões de anos), os espécimes
mais recentes encontrados por Richard Leakey apresentam estatura ereta,
arcada dentária semelhante à do homem moderno e habilidade na fabricação
de ferramentas. Isso pode significar a existência de variações dentro da raça
humana, mas não a evolução desta.
A própria Bíblia, embora seja clara a respeito dos fatos da criação,
não fornece uma data específica. Não obstante, a maioria dos estudiosos da
Bíblia acredita que o universo seja bem mais recente, com apenas dez ou
quinze mil anos de idade.
Uma crescente intimidade com as Escrituras e uma fé sincera em sua
origem divina levarão o estudante da Bíblia a ter uma confiançaprofunda
na noção de que, quando conhecermos todos os fatos, perceberemos que a
verdadeira ciência estará em perfeita harmonia com uma interpretação bíblica
precisa, sensata e minuciosa.
CONTROVÉRSIAS EM TORNO DA BÍBLIA セ@ セM
MMMMMMMMMMMセセ@
1 ENRIQUECENDO O VOCABULÁRIO 1
Supostas contradições, postura tendenciosa da crítica,
teoria da evolução, milagre, ciência.
1 PERGUNTAS DE RECAPITULAÇÃO 1
1. Localize os oito milagres relatados nos evangelhos que não estão
relacionados com cura.
2. Como é possível que o diabo e os demônios realizem milagres (cf.
Êx 7.22; Ap 13.14)?
. ....._ セ@ INTRODUÇÃO À BÍBLIA
セMMMMMMMMMセM
3.
4.
5.
Leia os sermões de Pedro (At 2) e os de Paulo (At 13) e faça uma
lista das profecias que se cumpriram em Cristo.
À luz da ciência moderna, apresente as razões pelas quais os cristãos
podem continuar acreditando na Bíblia.
Apresente contradições bíblicas que não mencionamos neste capítulo,
que o leitor tenha encontrado. Como podemos responder a essas
questões?
CONTROVÉRSIAS EM TORNO DA BÍBLIA セ@ .--·
MMMMMMセ@
1 ANOTAÇÕES
INTRODUÇÃO À BÍBLIA
1 ANOTAÇÕES
T
A alta crítica
e a Bíblia
odos os estudantes da Bíblia devem se inteirar dos ataques que têm
sido lançados contra as Escrituras. Ao fazê-lo, estarão preparados
para provar os espíritos. Assim se tornarão capazes de permanecer
firmes no caminho e não receber influência de indivíduos instáveis que
distorcem a Palavra de Deus, sofrendo eles mesmos a punição por seu erro
(2Pe 3.16). O mesmo acontece com um estudante de medicina, que aprende
sobre as doenças para saber como preservar a saúde de seus pacientes.
Sempre houve pessoas que não acreditam na Bíblia. Em nossos dias,
existe um tipo particular de descrença que é expressa sob a forma da alta
crítica. Não iremos estudar todos os detalhes dessa linha de argumentação,
mas é prudente que estejamos cientes da sua existência.
DEFINIÇÃO
A alta crítica examina, entre outros assuntos, a data de composição
dos livros da Bíblia e sua autoria. Muitos dos adeptos da alta crítica defendem
que alguns livros da Bíblia, senão todos, na realidade não foram escritos
pelos homens mencionados nos próprios livros como seus autores. Afirmam
também que esses livros não foram escritos na data estimada e que muitos
deles não constituíam um volume único, mas compõem-se de vários docu-
mentos, que foram reunidos através dos séculos.
--..... セ@ INTRODUÇÃO À BÍBLIA
セセMMMセ@
Hoje em dia, alguns teólogos ortodoxos empregam o termo alta
crítica de uma maneira um pouco diferente. Admitem haver lugar para o
tipo certo de alta crítica, algo totalmente distinto da atitude maldosa e
descrente demonstrada pelos liberais. Os críticos ortodoxos estudam a
autoria dos livros da Bíblia e o contexto histórico a eles relacionado. Usam
as técnicas da alta crítica, porém de maneira reverente. A alta crítica orto-
doxa é simplesmente outra designação para aquilo a que chamamos
"introdução à Bíblia".
A expressão "alta crítica" geralmente refere-se à postura ideológica
descrente mencionada acima. Sempre foi e ainda é nociva para a fé e fatal
para o esforço cristão. Se a Bíblia é um grande apanhado de mentiras (como
dizem os críticos liberais), por que devemos lê-la ou pregar sua mensagem
pelo mundo? De que valeria ensinar nossos filhos a guardar os Dez Man-
damentos, se os próprios mandamentos transmitissem um testemunho falso
da experiência de Moisés com Deus no monte Sinai?
Para que possamos compreender essa teoria errônea, é necessário que
recordemos alguns detalhes históricos. Em 1753, o médico francês Jean
Astruc notou que o nome divino, no livro de Gênesis, às vezes aparece
como "Deus" (Elohim em hebraico) e outras vezes como "Javé" ou YHWH
(SENHOR, em algumas de nossas versões). Astruc sugeriu que essa variação
devia-se ao fato de Moisés ter usado duas fontes diferentes quando compôs
o livro de Gênesis, a "fonte E" e a "fonte J". Astruc não negou que Moisés
fosse o autor de Gênesis, mas concluiu que a combinação dessas duas fontes
resultou no primeiro livro da Bíblia.
MMセMMMMMMMMMMMMMM ===========
A CRÍTICA DO ANTIGO TESTAMENTO
Escritores racionalistas franceses e alemães empenharam-se para
ampliar a teoria de Astruc e disseram que o Pentateuco na verdade fora
obra de alguém que viveu muito depois de Moisés. Eles alegam que a "fonte
E" foi o documento mais antigo usado e que a "fonte J" teria sido consultada
mais tarde.
Em 1853, o alemão Hupfeld mudou completamente o rumo dessa
pesquisa. Ele declarou que o próprio documento "E" era composto de duas
partes, sendo que uma delas havia sido acrescentada posteriormente. Críticos
alemães de um período posterior, principalmente Wellhausen (1878), foram
além e afirmaram terem sido capazes de identificar quatro documentos na
formação do Pentateuco. Seus nomes e datas são os seguintes:
Documento J, de 850 a.C. (agora datado como um pouco ante-
rior - recebeu esse nome por causa do uso da palavra "Javé",
traduzida por SENHOR)
A ALTA CRÍTICA E A BÍBLIA セ@ .--·
MMMMMMMMMMMMMセセ@
Documento E, de 750 a.C. (assim designado por causa do uso de
"Elohim" para se referir a Deus)
Documento D, 625 a.C. (composto em grande parte pelo texto
de Deuteronômio)
Documento P, 450 a.C. (com maior ênfase sacerdotal)
Wellhausen afirmou que nenhum dos textos do Pentateuco foi
escrito por Moisés e estimou que todo o registro relativo aos sistema sacer-
dotal ou às leis sacrificiais foi compilado por homens que viveram mil
anos depois de Moisés.
A autoria mosaica do Pentateuco
A alta crítica não se limita a negar a autoria mosaica. Rejeita também
a verdade e o valor doutrinário inerentes ao Pentateuco. Declara-se, por
exemplo, que nunca houve tabernáculo no deserto. Defendem que esses
relatos foram inventados por sacerdotes do período pós-exílico.
Alguns dos críticos mais antigos chegaram a ponto de afirmar que
Moisés não sabia escrever, isto é, aqueles que acreditam que Moisés realmente
existiu. Chamaram os relatos sobre os patriarcas de "um punhado de lendas
inventadas posteriormente". Eles duvidam totalmente do episódio do êxodo
do Egito (Êx 12). Chamam de espúrias as leis transmitidas no Sinai (Êx 20).
O milagre das dez pragas (Êx 7.9), da travessia do mar Vermelho (Êx 14.21),
do maná (Êx 16.14) e outros foram todos descartados. Ainda mais grave é a
afirmação dos adeptos da alta crítica de que Deus não se revelou ao povo da
Antigüidade como o Deus único, santo e verdadeiro. Eles insistem que os
patriarcas da época de Abraão eram animistas simplórios (adoradores de pedras
e árvores). Já nos tempos de Moisés teriam sido politeístas (adoradores de
muitos deuses). Afirmaram também que Davi foi henoteísta (alguém que crê
que toda nação tinha seu deus particular). Segundo eles, o monoteísmo (crença
em um único Deus) teria sido uma descoberta dos profetas do oitavo século
antes de Cristo. Essa reconstrução diabólica da religião e da história primitiva
do povo de Israel foi o "resultado plenamente comprovado" a que chegaram
os críticos racionalistas alemães, no início do século XX. Qyem negava essa
visão era considerado retrógrado e ignorante. Graças a Deus, muitos milhares
de cristãos fiéis à Bíblia nunca se renderam aos ataques sutis dos liberais
adeptos da alta crítica.
Davi, Isaías e Daniel
A alta crítica foi bem além do Pentateuco. Era praticamente inevitável
que aqueles teólogos tentassem refutar toda a Palavra de Deus. Se Davi não
. ......_ __. INTRODUÇÃO À BÍBLIA
セセMMMMMMMMMセM
era monoteísta, não poderia ter escrito os salmos, porque esses textos falam
de um único Deus, santo, vivo e verdadeiro. Por essas e outras razões, os
críticos determinaram que o registro da maioria dos livros do Antigo
Testamento deu-se num período muito posterior. Segundo eles, Isaías teria
sido supostamente escrito por um, dois, três ou mais indivíduos. Eles dizem
que o livro não previu a chegada de Ciro com 175 anos de antecedência.
Isso teriasido registrado por Dêutero-lsaías, ou um segundo Isaías, que
viveu durante o reinado daquele monarca. Afirmam ainda que Daniel não
previu a sucessão dos poderosos impérios da Babilônia, Medo-Pérsia e Grécia,
até o reinado de Antíoco Epifânio, em 165 a.C. Presumem que o livro
tenha sido escrito num período posterior, durante a guerra entre os exércitos
de Antíoco e os macabeus. Logo, dizem que na verdade eram apenas
registros da história antiga e não uma profecia. Portanto, os defensores da
alta crítica não se limitaram a combater os detalhes ligados à estrutura do
texto bíblico. Atacaram também as verdades fundamentais e o valor teológico
de praticamente todos os livros do Antigo Testamento.
Cristo aprovou o Antigo Testamento
A alta crítica afeta nossa visão tanto do Antigo Testamento como do
Novo. No segundo capítulo, mostramos de maneira clara que Cristo e os
apóstolos criam plenamente no Antigo Testamento. Jesus ensinou que "é
mais fácil passar o céu e a terra do que cair um til sequer da Lei" (Lc 16.17).
Ele declarou ainda que o testemunho do Antigo Testamento era mais
convincente do que o de alguém que ressuscitasse dos mortos (Lc 16.29-31).
Jesus acreditava na existência real de Adão e Eva, de Jonas e o grande peixe,
no maná que caiu do céu e em todos os demais fatos registrados no Antigo
testamento. Cristo não era um adepto da alta crítica. Todavia, a alta crítica
moderna retrata-o como um indivíduo semelhante a outros de sua época,
sujeito aos ensinamentos ingênuos, errôneos e acríticos de seu tempo. Os
críticos liberais ensinam que Jesus tomou consciência gradual de que era o
Messias. Afirmam que se enganou a respeito de sua segunda vinda e que não
morreu como um substituto divino em nosso lugar (lPe 2.24, 25), mas como
um mártir humano. A alta crítica destitui o Antigo Testamento de seu valor
e priva o Novo Testamento de seu Senhor.
Infelizmente, temos que admitir que essa visão tem-se difundido e
arraigado profundamente na teologia. Ela é a base do chamado "moder-
nismo". No início do século xx, jovens e promissores teólogos iam para a
Europa estudar e geralmente retomavam infectados pelos ensinos moder-
nistas da escola alemã. A maioria das grandes e mais tradicionais escolas
teológicas aceitou esse liberalismo como base de seu ensinamento teológico,
e seus formandos pregaram tais conceitos por vários anos. Muitos líderes
cristãos de igrejas locais nem sequer imaginam a extensão dessa influência.
Ela tem sido combatida por muitas instituições e faculdades cristãs e por
um contingente bem grande de universidades e seminários evangélicos or-
todoxos, principalmente aqueles fundados após 1920. Entretanto, a alta
crítica afetou uma grande porcentagem dos pregadores protestantes de nossa
geração. Todos os cristãos envolvidos no ministério, bem como os professo-
res de escola dominical devem procurar compreender plenamente os efeitos
da alta crítica.
A CRÍTICA ANTIGA
Os ícones da alta crítica liberal antiga são as referências aos documentos
J, E, D e P, a negação da unidade de Isaías, a defesa de uma data posterior
(pós-exílica) para a maioria dos salmos, uma datação para o livro de Daniel no
período dos macabeus (165 a.C.), a tese da evolução da religião de Israel (em
vez de sua revelação divina), a descoberta do monoteísmo pelos profetas do
oitavo século antes de Cristo e várias outras negações das verdades bíblicas.
Através da lógica humana, um indivíduo que acredite em alguns dos pontos
defendidos pela alta crítica acreditará nos outros também. Qyem crê na
existência de "dois ou três Isaías", dificilmente concordará que Daniel foi
escrito em 550 a.C. Aquele que acredita que Moisés não escreveu nenhum
livro também se recusará a crer que Davi foi o autor dos salmos que lhe são
atribuídos. A alta crítica é um sistema doutrinário e opõe-se ao cristianismo
ortodoxo em todos os conceitos básicos.
Felizmente, a própria alta crítica vem sofrendo ataques hoje em dia.
Por providência de Deus, desde 1920, arqueólogos têm feito descobertas
notáveis. Elas têm convencido estudiosos, até mesmo os não-ortodoxos, de
que os relatos em Gênesis são verdadeiros. Moisés pode muito bem ter sido
monoteísta, muitos dos salmos foram registrados em períodos tão antigos
quanto a época de Davi, etc. De acordo com W. F. Albright, um estudioso
bastante proeminente, a antiga teoria de Wellhausen sofreu um "colapso
total". As posturas antigas têm sido intensamente modificadas. As novas
descobertas arqueológicas realmente comprovam os conceitos ortodoxos.
Todavia, não são muitos os que estão retornando à ortodoxia. Em vez disso,
propõem novos tipos de crítica que não têm sido acolhidas por todos os
teólogos. Na verdade, revelam-se tão erradas como as idéias anteriores.
A NOVA CRÍTICA
A nova crítica não é tão unificada como as posturas antigas do início
do século xx, e não é possível acompanhá-la em detalhes. Há uma teoria
sobre a tradição oral que defende que nenhum documento bíblico foi
registrado até o período em que Israel seguiu para o exílio. Segundo essa
. ......_ ___b INTRODUÇÃO À BÍBLIA
セMMMMMMMMMMセM
teoria, as tradições hebraicas foram passadas adiante de forma oral. Uma
perspectiva mais comum defende a teoria das fontes J, E, D e P, mas tenta
identificar a tradição oral subentendida nesses documentos. Outra linha
estabelece subdivisões para essas fontes,J1,J2, PA, pB, etc. Outra teoria comum
agora admite ser possível identificar sinais dos documentos J, E e P apenas
em Gênesis, Êxodo, Levítico e Números (o chamado Tetrateuco) e que o
autor, editor ou escola que compilou o livro de Deuteronômio foi o mesmo
que escreveu Josué, Juízes, 1e2Samuel e 1 e 2Reis, em um período próximo
ao exílio. Obviamente, de acordo com esses teólogos, o trabalho do
"deuteronomista" não configura uma unidade. Ele supostamente se valeu de
vários registros antigos, e muitas passagens foram inseridas no documento em
épocas posteriores.
Os argumentos para essas idéias são bastante subjetivos e por isso muito
diversificados. Eles partem das afirmações antigas defendidas por Wellhausen,
a respeito de passagens paralelas, afirmações contraditórias ou ainda sobre
estilos e conceitos característicos, e a seguir dividem os textos segundo esses
aspectos que lhes chamam a atenção. É interessante perceber que a extensão
do documento P em Gênesis, por exemplo, como afirmou Driver quase um
século atrás, é muito parecida com a posição defendida hoje em dia por Martin
Noth1• A principal diferença entre ambos está no fato de que Noth não
identifica a presença de trechos do documento P nos capítulos 14 e 24 de
Gênesis. Os críticos mais antigos afirmavam que o texto de Gênesis 14 foi
acrescentado bem depois, possivelmente no período dos macabeus (ou seja,
aproximadamente em 165 a.C.).
Estudos arqueológicos hodiernos demonstram que aqueles trechos
enquadram-se perfeitamente na época dos patriarcas, e não em um período
posterior. Surpreende-nos que a crença nos documentos J, E, D e P ainda
esteja em voga, com bem poucas alterações, pois não há nenhuma descoberta
arqueológica que comprove a existência de tais documentos. Ao contrário,
muitos achados apóiam a veracidade histórica dos textos bíblicos em questões
de maior e menor importância. Para um estudo mais aprofundado acerca
dos detalhes complexos resultantes dessas análises críticas, aconselhamos
que o leitor consulte a obra de Archer, Merece Confiança o Antigo Testamento?,
publicada por Edições Vida Nova.
1 Martin Noth, A History of Pentateuchal Traditions, tr. B. W. Anderson (Chico,
Calif.: Scholars Press, 1981), p. 17, 18.
A ALTA CRÍTICA E A BÍBLIA セ@ .--
GMGMGMMMBMMMMMMMGMMMMMMMMMMMMMセセ@
1 ENRIQUECENDO O VOCABULÁRIO 1
Animista, evangélico, henoteísta, alta crítica,
liberalismo, monoteísta, ortodoxo, politeísta.
1 PERGUNTAS DE RECAPITULAÇÃO 1
1. Mencione vários conceitos inter-relacionados, defendidos pela alta
crítica, que dizem respeito aos livros do Antigo Testamento.2. Apresente várias razões por que a alta crítica é nociva à fé cristã.
3. Explique o que a alta crítica diz sobre as profecias que contêm
previsões e sobre a realidade dos milagres.
4. Em nossa época, quais fatores têm contribuído para derrubar os
antigos pensamentos defendidos pela alta crítica?
. ...._ セ@ INTRODUÇÃO À BÍBLIA
セセMMMMMMMMMセM
1 ANOTAÇÕES
A arqueologia e o
Antigo Testamento
J á se publicaram muitos livros que tratam da relação entre a arqueologia e o Antigo Testamento. Neste capítulo, podemos apenas definir o conceito de arqueologia, mencionar a abrangência desse
estudo e demonstrar a ligação entre a arqueologia e o Antigo Testamento.
DEFINIÇÃO
Arqueologia é o "estudo dos costumes e culturas dos povos antigos".
Em termos práticos, limita-se a analisar fatos históricos da Antigüidade,
trazidos à luz através da escavação de cidades, túmulos e da descoberta de
relíquias. A arqueologia bíblica está voltada principalmente para os objetos
encontrados na região da Palestina, do Egito e da Mesopotâmia.
Os arqueólogos trabalham escavando cuidadosamente ruínas antigas.
Em seguida, fotografam e registram tudo exatamente como encontraram,
interpretando os resultados. Eles também traduzem e estudam os
documentos encontrados.
HISTÓRIA
Na Idade Média, pensava-se que as pinturas e escritos presentes nos
templos egípcios tivessem poderes mágicos. Por volta do ano 1700, alguns
. ......_ セ@ INTRODUÇÃO À BÍBLIA
セセMMMMMMMMBMMMMM
arqueólogos descobriram a Pedra de Roseta, que trazia um texto em três
línguas, dentre elas o grego. Esse achado forneceu aos estudiosos a chave
para decifrar o idioma egípcio.
Em meados de 1800, um arqueólogo decifrou a inscrição de Behis-
tune, de Dario, o Grande. Ela também era trilíngüe e possibilitou aos estu-
diosos desvendar o idioma assírio-babilônico. Pesquisadores agora chamam
essa língua acadiano, em homenagem à cidade de Acade, mencionada em
Gênesis 10.10. O acadiano era escrito com uma cunha, com o qual se faziam
várias combinações de marcas em placas de argila ainda mole, que eram
geralmente do tamanho e do formato de uma pedra de sabão. Essas placas
eram colocadas para secar ao sol. Os objetos que chegaram aos nossos dias
ainda estão muito bem preservados. Aquele tipo de escrita é chamado
cuneiforme (em forma de cunha).
A maioria dos escritos na Palestina e no Egito era feita em papiro,
material semelhante ao papel, confeccionado a partir de uma planta que
tinha o mesmo nome. O papiro apodrecia facilmente nas estações chuvosas
e úmidas da Palestina durante o inverno. Portanto, apenas uns poucos docu-
mentos armazenados naquela região resistiram até nossos dias. Uma exceção
foi a descoberta recente de muitos fragmentos e pergaminhos guardados
em cavernas do deserto próximo ao mar Morto, um local quente e seco.
Esses manuscritos datam desde 200 a.C. até 50 d.C. Com exceção desses,
os documentos palestinos restringem-se a algumas poucas inscrições, selos
e textos gravados em cerâmica.
Os primeiros arqueólogos não contavam com técnicas muito precisas
e adotavam métodos não-científicos para lidar com seus achados. Escavavam
as ruínas antigas aleatoriamente, na esperança de encontrar algum material
escrito, estátuas bem preservadas ou algum tesouro. Por fim, descobriram
que as cidades antigas da Palestina e da Mesopotâmia eram dispostas em
níveis de ocupação, uma sobre a outra. Os primeiros moradores abandonavam
as cidades em períodos de guerra, fome ou pestilência. As casas feitas de
tijolos de barro e seus muros ruíam. Mais tarde, novos grupos se mudavam
para aquele lugar, nivelavam o terreno sobre as ruínas antigas e construíam
um novo nível bem em cima do anterior. Descobriram-se até vinte e três
cidades sobrepostas no mesmo local. Arqueólogos de épocas mais recentes
encontraram esses estratos, através de suas escavações, um após o outro. Assim,
puderam estudar a relação entre os grupos de habitantes de cada local.
A arqueologia desenvolveu-se muito pouco até a Primeira Guerra
Mundial. Naquela época, os arqueólogos chegaram à conclusão de que os
estratos de cidades pertencentes a cada período eram caracterizados pelas
peças de cerâmica produzidas por aqueles povos. Um estudo cuidadoso dos
tipos de objetos, principalmente a cerâmica local, tomou possível comparar
as ruínas de uma cidade com os vestígios de povoados antigos de locais
diferentes. Outras comparações com eventuais inscrições permitiram a
A ARQUEOLOGIA E O ANTIGO TESTAMENTO
datação desses estratos, muitas vezes com bastante precisão. Por isso se afirma
que a arqueologia tornou-se em ciência por volta de 1920. Trabalhos arqueo-
lógicos mais antigos podem ter revelado fatos valiosos, mas tiveram de ser
reestudados com o uso de procedimentos e métodos mais precisos da
arqueologia de períodos recentes.
No entanto, os avanços da arqueologia nos últimos 65 anos foram
tremendos. Pouco mais de cem anos atrás, não se conhecia bem a história
do Egito, da Mesopotâmia ou da Palestina, em épocas anteriores a 800 a.C.
Agora possuímos achados brilhantes que remontam a 3000 a.C. ou até
antes disso. Os cientistas descobriram os nomes dos antigos reis da Babilônia,
da Síria e do Egito. Esses reis também são mencionados na Bíblia, e
encontraram-se até mesmo pinturas de alguns deles. Antigas batalhas, leis,
línguas e culturas ressurgiram sob a investigação paciente desses estudiosos.
Qyal a influência disso para a Bíblia em si? Obviamente, muito
grande. As descobertas recentes revelam e confirmam fatos relacionados às
Escrituras, e em vários casos oferecem resposta satisfatória para os ataques
dos críticos.
CONFIRMAÇÃO
Muitos trechos do Antigo Testamento não podem ser confirmados.
Nenhum arqueólogo pode provar que "o SENHOR é o meu pastor; nada me
faltará". A arqueologia interessa-se pela história bíblica. Assim, podemos
usá-la para confirmar fatos relatados nos livros históricos e proféticos.
Contudo, ela não traz discernimento espiritual.
Descobertas arqueológicas confirmam a batalha de Sisaque contra
Roboão (1Rs 14.25, 26), o reinado de Onri e o poderio de Acabe (1Rs
16.22), a revolta de Mesa de Moabe (2Rs 3.5), a queda de Samaria (2Rs
18.10), a escavação do aqueduto de Ezequias (2Rs 20.20), a invasão liderada
pelo faraó Neco (2Rs 23.29), a queda de Jerusalém e a deportação de Joaquim
(2Rs 24.10-15).
É impressionante quando algum detalhe, há muito esquecido por
todos, exceto pelos autores bíblicos, é confirmado por descobertas arqueo-
lógicas. Tais comprovações corroboram que os livros da Bíblia foram escritos
por testemunhas oculares dos fatos nela relatados, ou por outros indivíduos
que os conheciam intimamente e que viveram nas épocas ali mencionadas.
Dois exemplos são suficientes para ilustrar isso.
O selo de Baruque
Baruque, escriba de Jeremias, foi sem dúvida uma personagem de
importância secundária. Ninguém, a não ser seus contemporâneos, saberia
de sua existência. Há menção de seu nome apenas no livro de Jeremias. Ele
........_ セ@ INTRODUÇÃO À BÍBLIA
セNMMMMMMMMMMMMMMM
aparece 23 vezes nos capítulos 32, 36, 43 e 45. Todavia, descobriu-se em
Jerusalém um selo com a seguinte inscrição: "Pertencente a Baruque, filho
de Nerias, o escrivão". No mesmo grupo de objetos desenterrados, encon-
trou-se outro selo com os dizeres: "Pertencente a Jerameel, filho do rei"
(cf. Jr 36.26, 32). A conclusão mais lógica é que Jeremias foi escrito por
alguém da época ali retratada.
Os ferreiros
Um tipo diferente de ilustração encontra-se em lSamuel 13.19-21.
Nessa passagem, lemos que os filisteus não permitiam que os israelitas
tivessem ferreiros, para que não fossem capazes de forjar espadas para
seus exércitos. Por muito tempo, os tradutores tiveram dificuldade ao
interpretar esses versículos. Parecia estranho .não haver nenhum ferreiro
entre os hebreus, pois o trabalho com metal já era conhecido havia séculos,
em toda a região do Oriente Próximo. Informações recebidas posterior-mente provam que esses versículos retratam exatamente a situação do povo
de Israel na época. Os filisteus introduziram a Idade do Ferro na Palestina
e, a princípio, mantiveram o monopólio do trabalho com esse material.
Não havia ferreiros em Israel porque os filisteus fizeram do manuseio do
ferro um segredo militar.
A frase "tinham, porém, limas adentadas para os seus sachos"
(lSm 13.21, ARC) agora foi esclarecida através da descoberta de uma peça
de metal que continha uma gravação de um termo hebraico derivado da
palavra traduzida como "sacho". Obviamente esse termo não tinha o mes-
mo significado da palavra original, mas era uma referência ao preço cobrado
dos israelitas para afiar ferramentas que, como o "sacho'', eram utilizadas na
agricultura. O conhecimento de um detalhe como esse é uma prova clara de
que o autor de lSamuel estava plenamente ciente da história de sua época.
Copistas posteriores, que não sabiam de todos os detalhes, interpretaram
mal o versículo. Agora percebemos o que o autor do livro quis dizer. Somente
assim foi possível traduzir o vocábulo hebraico corretamente.
ILUMINANDO O TEXTO
Podemos fornecer outros exemplos sobre o uso da arqueologia para
ilustrar e iluminar o Antigo Testamento. Eles confirmam o texto bíblico
e revelam o contexto histórico subjacente ao texto. Essa capacidade de
lançar luz sobre os textos é em si mesma importante, porque não podere-
mos valorizar devidamente a Bíblia se não a compreendermos. Um conhe-
cimento adequado das Escrituras poupará o estudante de cometer muitos
erros graves de interpretação. Novamente iremos apresentar apenas al-
guns exemplos.
A ARQUEOLOGIA E O ANTIGO TESTAMENTO セ@ __..
MMMMMMMMMMMMMMMセ@
Os horeus
Em Gênesis, Números e Deuteronômio, encontramos menções do
povo horeu. Aparentemente esse povo tinha ligação com Edom. Os horeus
podem ter tido alguma relação com os jebuseus, que habitavam Jerusalém.
A palavra hor, em hebraico, quer dizer "buraco". Por esse motivo, um dos
léxicos mais antigos (isto é, um livro que contém as palavras de uma língua,
dispostas em ordem alfabética e acompanhadas de sua definição em outra
língua), tal como o que foi escrito por Brown, Driver e Briggs, traz que o
termo horeu "provavelmente significa "escavadores de cavernas". Isso implica
a existência de um grupo de indivíduos que habitavam em cavernas na
Palestina, na época dos patriarcas. Mais recentemente, a arqueologia descobriu
outros detalhes sobre os horeus. Eles não eram escavadores de cavernas, mas
sim um povo tão avançado como qualquer outro da Antigüidade. Hoje já
se sabe também que Abraão viveu numa cultura que já contava com mil
anos de desenvolvimento. Os horeus agora são chamados hurritas. Escavações
na cidade de Nuzi, na Mesopotâmia (1929), revelaram costumes relativos
às leis e à vida em família desse povo. Atualmente, ensina-se a língua hurrita
em algumas universidades.
Salomão
Salomão é famoso por sua sabedoria. No entanto, a história antiga
fala tão pouco sobre ele que alguns estudiosos se perguntam se sua riqueza
e sabedoria não foram na realidade exageradas nos relatos bíblicos. Todavia,
várias descobertas revelaram e confirmaram o que a Bíblia diz sobre esse rei,
apesar de os arqueólogos não terem descoberto nenhuma placa de argila ou
outro tipo de inscrição sobre Salomão. Primeiramente, foram feitas escavações
na cidade de Megido (1925-1939). Os edifícios do lugar comprovam o
conhecimento arquitetônico de Salomão e seu interesse nessa arte. Os achados
corroboram o costume do monarca de fundar várias cidades que se desti-
navam a abrigar carruagens militares (lRs 10.26). É interessante notar
que havia uma estrela de seis pontas entalhada em um dos edifícios,
construído pouco tempo depois. Esta é a estrela de Davi, também conhe-
cida como "escudo de Davi", símbolo que hoje figura na bandeira de
Israel. Escavações posteriores em Hazor da Galiléia (1955-1959) mos-
tram indícios de uma riqueza semelhante no nível de ocupação da era
salomônica. Estima-se que o portão principal de Hazor seja quase idên-
tico ao portão construído por Salomão em Megido.
Pesquisas realizadas ao sul do mar Morto, por Nelson Glueck, acres-
centam provas à existência da era salomônica. Glueck descobriu várias
minas de cobre com fornalhas rudimentares, usadas para derreter o metal,
no vale ao sul do mar Morto. Peças de cerâmica demonstram que as minas
foram escavadas no tempo de Salomão. Obviamente o cobre seguia para
-..... _.b INTRODUÇÃO À BÍBLIA
セMMMMMMMMMMセM
Eziom-Geber (atual Elate), na margem oriental do mar Vermelho. Em
1938, Glueck encontrou em suas escavações uma notável cidade claramente
planejada e construída para funcionar como um centro destinado ao refino
e fundição do cobre e também ao comércio. A Bíblia afirma que os barcos
de Salomão partiam de Eziom-Geber em direção a portos distantes, e
traziam de volta carregamentos valiosos (1Rs 9.26-28). As descobertas
arqueológicas confirmam as verdades bíblicas. Os barcos de Salomão expor-
tavam cobre e garantiam uma grande renda a Israel. Esse rei foi um mag-
nata do cobre da Antigüidade.
RESPONDENDO À ALTA CRÍTICA
A alta crítica praticada pelos teólogos liberais têm sempre sido
embuída de ceticismo. Embora seja essencialmente uma análise da autoria
dos livros da Bíblia e da data em que foram escritos, essa linha de argu-
mentação tem trazido resultados lamentáveis para o ensino cristão.
A alta crítica surgiu num período de grande ignorância a respeito do
contexto histórico da Bíblia. Ensinava-se que a Palestina e a Mesopotâmia
eram tão atrasadas como a Grécia em 1500 a.C., e que Moisés não sabia
escrever. Os relatos sobre os patriarcas eram supostamente mitos folclóricos
dos hebreus que viveram entre 900 e 700 a.C. Dizia-se serem apenas contos
explicativos, à semelhança de lendas do folclore de um povo. Os críticos liberais
afirmavam que os relatos de Gênesis apenas tentaram fornecer hipóteses para
a formação das famílias, a razão por que mulheres detestam cobras, etc.
Era difícil combater tais falácias numa época em que a história antiga
do Oriente Próximo era praticamente desconhecida. Hoje em dia, tal ceti-
cismo é mera tolice. Já está provado que nos dias de Moisés um homem
culto sabia escrever em três ou quatro idiomas. Os patriarcas habitavam um
mundo repleto de indivíduos poderosos e culturas avançadas.
As descobertas arqueológicas a respeito dos tempos dos patriarcas e
da língua hebraica são de especial importância. Em 1929, encontrou-se a
antiga cidade de Nuzi, ao norte da Mesopotâmia. Essa localidade revelou
um grande tesouro em placas de argila, que em sua maioria datavam de
cerca do ano 1500 a.C. Esses objetos esclarecem fatos sobre o cotidiano e
sobre os as leis dos hurritas e demais povos que habitavam o trecho norte
do Crescente Fértil. Arqueólogos notáveis como E. A. Speiser e W. F.
Albright, entre outros, demonstraram como esses achados comprovam e
explicam detalhadamente muitos costumes típicos dos patriarcas a res-
peito da vida em família.
Os acordos nupciais do povo de Nuzi especificavam que, se a esposa
fosse estéril, devia-se oferecer uma escrava ao marido, para que esta lhe
desse um herdeiro. A criança nascida receberia o direito de primogenitura.
A ARQUEOLOGIA E O ANTIGO TESTAMENTO
Entretanto, se mais tarde a esposa desse à luz um filho, o primeiro herdeiro
deveria ceder lugar ao segundo. Esses e muitos outros costumes estão per-
feitamente de acordo com os costumes dos patriarcas. Em contrapartida,
não são similares aos costumes dos israelitas, no período de 900 a 700 a.C.
A partir de evidências assim alguns estudiosos se convenceram da veracidade
histórica das narrativas de Gênesis.
É bastante animador perceber que muitos dos ícones do liberalismo
estão sendo derrubados. Hoje em dia, até mesmo os novos liberais encon-
tram-se na defensiva. No entanto, nem todos os arqueólogos acreditam
na inspiração verbal. Muitos fatos a respeito do Antigo Testamentonão
podem ser comprovados através da arqueologia. Os cristãos os aceitam
pela fé, confiando na aprovação dada por Jesus Cristo. Ao mesmo tempo,
não há nenhuma descoberta arqueológica que tenha obrigado os teólogos
ortodoxos a rever profundamente suas doutrinas com relação à autenticidade
da Bíblia. Pode-se pressupor que os estudos arqueológicos do futuro for-
necerão outros dados que confirmarão as verdades nas quais cremos.
1 ENRIQUECENDO O VOCABULÁRIO 1
Arqueologia, cuneiforme, hurritas, léxico,
placas de argila, níveis de ocupação.
1 PERGUNTAS DE RECAPITULAÇÃO 1
1. Faça um resumo da história da arqueologia bíblica.
2. Dê dois exemplos de como a arqueologia confirma a Bíblia.
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セセMMMMMMMMMMMBMMMMM
3.
4.
5.
6.
O que veio primeiro: a alta crítica ou a arqueologia científica? O que
podemos aprender com a ordem em que esses estudos surgiram?
Dê um exemplo da maneira como a arqueologia têm confundido a
alta crítica.
Usando uma concordância bíblica, liste as referências a respeito
dos horeus.
Descreva as descobertas arqueológicas relacionadas a Salomão.
A ARQUEOLOGIA E O ANTIGO TESTAMENTO
1 ANOTAÇÕES
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セセMMMMMMMMMセM
1 ANOTAÇÕES
Ferramentas para o
estudo bíblico
T
odo cristão deve crescer "na graça e no conhecimento de nosso Senhor
e Salvador Jesus Cristo" (2Pe 3.18). Qyando Pedro deu esse conselho,
de acordo com o contexto, ele estava alertando seus irmãos a não se
deixarem levar pelos "ignorantes e instáveis" que "deturpam" as Escri-
turas para a própria destruição deles e ainda arrastam outros para esse mau
caminho (2Pe 3.14-17).
Mas queremos chamar sua atenção para outra coisa importante que
Pedro destacou. Ele disse que essa deturpação também ocorre porque nas
Escrituras "há coisas difíceis de entender" (v. 16). Por não saberem lidar com
essas "coisas difíceis", muitos cristãos relegam o estudo da Bíblia ao segundo
plano, ou resolvem aplicar o "achódromo" como meio de interpretá-la. Outros,
por sua vez, vivem na dependência de algum "assessor para assuntos bíblicos",
sem ao menos abrir as Escrituras para se certificar de que aquilo que estão
aprendendo corresponde realmente à "sã doutrina" (2Tm 4.3).
Como cristãos, precisamos aprimorar diariamente nosso conhecimento
das Escrituras. Devemos ser realmente estudiosos da Palavra de Deus. Os
"livros" e os "pergaminhos" ainda são indispensáveis. E o mundo editorial
evangélico está repleto de excelentes ferramentas para nos ajudar nesse pro-
cesso de crescimento bíblico e espiritual. Evidentemente, nenhuma dessas
publicações substitui a Bíblia. Elas são apenas recursos adicionais para
melhorar nossa compreensão do texto bíblico. A Bíblia é, e sempre será, a
única regra de fé e prática do povo de Deus.
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セイMMMMMMMMMMMMセM
Apresentamos a seguir algumas das ferramentas que devem compor
o arsenal literário de um cristão, que o ajudarão a se alimentar cada vez
mais da Palavra viva de Deus. Por isso, é importante que cada um procure
montar sua biblioteca.
BIBLIOTECA PESSOAL
"Biblioteca não é luxo; é uma das necessidades da vida." Essa frase é
do escritor e editor americano Henry Ward Beecher (1813-1887). E ele
estava certo. Concorda?
Para montar nossa biblioteca, Deus nos presenteou de uma tacada
com 66 livros, que foram chamados apropriadamente de "biblioteca divina"
(expressão cunhada no quarto século por Jerônimo, tradutor da Vulgata - a
primeira Bíblia traduzida das línguas originais para o latim).
É bom lembrar que o apóstolo Paulo também tinha uma biblioteca
pessoal. Qgando esteve encarcerado em Roma, ele pediu a Timóteo que lhe
trouxesse seus "livros, especialmente os pergaminhos" (2Tm 4.13). Os livros
eram feitos de papiro, em forma de rolos; os pergaminhos eram confeccio-
nados com pele de animal, principalmente de cabra ou de ovelha. A difi-
culdade se encontra em determinar o conteúdo desse material solicitado
pelo apóstolo. É provável que Paulo estivesse se referindo ao Antigo Testa-
mento. Outra hipótese é que se tratasse de livros de outra espécie. Indepen-
dentemente do conteúdo, o que nos importa saber é que ele reconhecia a
importância de ter uma biblioteca. E foi esse homem estudioso e desejoso
de conhecer as coisas divinas que Deus usou para compor quase metade do
Novo Testamento.
Estabelecida a importância de uma biblioteca pessoal, surge agora
uma pergunta: Qge livros escolher para compor nossa coleção?
Escolhendo os livros para sua biblioteca
O mundo nunca mais foi o mesmo desde Johann Gutemberg
(c. 1400-1468), o inventor da imprensa. Devido a essa brilhante invenção,
o mundo está saturado de literatura as mais diversas. Aqui cabem as palavras
de um sábio: " ... não há limite para fazer livros" (Ec 12.12). E isso foi dito
quase 2 500 anos antes de Gutemberg!
O fato é que temos de tudo no mercado editorial, tanto do bom e
do melhor, quanto do ruim ao pior. Precisamos, portanto, ser seletivos
quanto ao que vamos escolher para compor nossa biblioteca. Isso diz
respeito não só aos livros que nos servirão de auxílio em nossa pesquisa,
mas também à escolha da versão bíblica que adotaremos. Comecemos
então por este tópico.
FERRAMENTAS PARA O ESTUDO BÍBLICO セ@ .--·
セセGMMGMMMBMGMMGMセM]M]MM]]M]]M]MMMMMMMMMMセ@
QUE VERSÃO DA BÍBLIA ESCOLHER?
É interessante observar que antes da invenção da imprensa não havia
bíblias disponíveis para todo o povo de Deus. Aliás, durante um bom tempo
o povo foi privado das Escrituras, que passou a ser monopolizada por uma
elite que falava latim. Os que se opunham a isso e tentavam verter as Escrituras
para o vernáculo eram severamente punidos, muitos até com a perda da
própria vida.
O cenário mudou. Com o advento da Reforma protestante, ocorrida
em 31 de outubro de 1517, os esforços para tornar a Bíblia disponível no
idioma nativo foram intensificados. Em conseqüência desses incansáveis
esforços, hoje podemos ter quantas bíblias quisermos, em diversos idiomas,
cores e tamanhos. Há bíblias muito práticas, como as que trazem dedeiras
(recurso que permite abrir um livro da Bíblia à altura exata por meio de
marcadores na lombada). Enfim, Bíblia é o que não falta. Não há como
desacelerar o avanço da "biblioteca divina".
Assim, já temos o primeiro item para a composição de nossa biblioteca.
A questão é: entre as várias versões existentes em português, qual delas
devemos adotar como texto-padrão?
Essa não é uma pergunta fácil de ser respondida. Na verdade, o
ideal é que tenhamos todas as versões disponíveis em nosso idioma. Não
se pode dizer que existe a versão definitiva das Escrituras, a fiel das fiéis,
a versão das versões. Todas têm contribuições importantes no campo do
estudo das Escrituras.
Apresentamos a seguir as principais versões em português da comu-
nidade evangélica:
João Ferreira de Almeida
Esse é o nome mais conhecido das versões protestantes da Bíblia. Ao
16 anos, o português João Ferreira de Almeida entraria para sempre na
história das traduções das Escrituras. Com essa idade, ele empreendeu a
árdua tarefa de traduzir a Bíblia diretamente das línguas originais, dedicando
toda a vida a esse empreendimento. Infelizmente, morreu antes de concluir
seu intento. Outros terminaram o que ele começou.
Sob esse nome há diversas versões:
1. Almeida Revista e Corrigida (ARC ou RC) - publicada pela
Sociedade Bíblica do Brasil (SBB), fundada em 1948. Foi publicada
originariamente em 1898 pela Sociedade Bíblica Britânica e
Estrangeira. Em 1995, a SBB elaborou uma revisão nesse texto, dando
origem à Almeida Revista e Corrigida, 2. ª edição.
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セMMMMセ@
2.
3.
4.
5.
6.
Almeida Revista e Atualizada (ARA ou RA) - texto que começou a
ser produzido pela SBB em 1948 e publicado em 1956. Trata-se de
uma atualização teológica e lingüística da ARC. O trabalho foi
elaborado por uma equipe de tradutores brasileiros. Em 1993, a SBBfez uma revisão no texto, que ficou conhecido como Almeida Revista
e Atualizada, 2.ª edição.
Almeida Corrigida e Fiel (ACF) - publicada pela Sociedade Bíblica
Trinitariana do Brasil, fundada em 1969.
Versão Revisada de Acordo com os Melhores Textos em Hebraico e Grego
(VR) - publicada em 1967 pela Imprensa Bíblica Brasileira (IBB),
órgão da Junta de Educação Religiosa e Publicações (JUERP), ligada
à Convenção Batista Brasileira.
Edição Contemporânea de Almeida (ECA) - tendo como ponto de
partida a ARC, essa versão, publicada em 1990 pela Editora Vida, é
uma revisão estilística da própria ARC. Traz as palavras de Cristo
em vermelho.
Almeida Século 21 - a mais nova versão das Escrituras baseada no
texto de Almeida. Trata-se de um trabalho de tradução e revisão
inspirado pela VR. Prima pela exatidão exegética e pela fluência do
texto sagrado, aliados ao respeito à tradição histórica. Essa versão é
fruto da parceria da Imprensa Bíblica Brasileira/ JUERP e Edições
Vida Nova, em conjunto com Editora Hagnos e Editora Atos.
Nova Versão Internacional (NVI)
Traduzida diretamente das línguas originais por tradutores de diversas
denominações evangélicas, a NVI é uma das mais novas versões das
Escrituras. É publicada pela Editora Vida e pela Sociedade Bíblica
Internacional desde 2001.
Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH)
Lançada em 2000 pela SBB, trata-se de uma revisão da Bíblia na
Linguagem de Hoje (BLH), publicada em 1988 pela mesma entidade.
Bíblia Viva (BV)
Publicada em 1981 pela Editorâ Mundo Cristão, é considerada mais
uma paráfrase das Escrituras que uma tradução, embora empregue o método
idéia por idéia, em vez de palavra por palavra.
FERRAMENTAS PARA O ESTUDO BÍBLICO .....___ __..
GM]MMMMMMMGMMMMMMMMMMMMMMMMMセ@
Uma versão infiel
Há uma versão que deve ser evitada, pois foi feita para se conformar às
doutrinas da seita religiosa Testemunhas de Jeová. Trata-se da Tradução do
Novo Mundo das Escrituras Sagradas, publicada pela Sociedade Torre de Vigia
de Bíblia e Tratados. Uma versão completa dessa versão (alguns a definem
como "perversão") foi publicada em português em 1967. Os adeptos da seita
defendem que essa versão é a única tradução confiável das Escrituras. Por
meio dessa obra, as Escrituras foram adaptadas ao sistema doutrinário da
seita, que nega a divindade absoluta de Cristo (em João 1.1 afirma-se que
Jesus é "um deus"); sua morte na cruz (o termo "cruz" foi substituído pela
expressão "estaca de tortura"); em Filipenses 2.6 afirma-se que Jesus
consideraria ser igual a Deus uma usurpação, quando o texto bíblico diz
justamente o contrário, ou seja, Jesus considerava-se Deus, mas nunca usou
isso como meio de se autopromover; em Hebreus 1.6 afirma-se que os
anjos "prestam homenagem'' a Jesus, em vez de adorá-lo etc.
BÍBLIAS DE ESTUDO
São bíblias com comentários do texto bíblico e notas sobre os mais
diversos tópicos das Escrituras, além de outros recursos igualmente importantes
para o estudo da Bíblia (o leitor só precisa tomar o cuidado de fazer distinção
entre aquilo que a Bíblia diz e aquilo que consta das notas do comentário). O
ideal é ter todas elas em nossa biblioteca. A comparação entre os comentários
de cada uma conduz o estudante a diversos pontos de vista sobre temas bíbli-
cos. Algumas são bem focadas, destinando-se ao público jovem (Bíblia jovem,
da Editora Vida; Bíblia Teen, da Editora Hagnos), às mulheres (Bíblia de
Estudo da Mulher, da Editora Mundo Cristão; Bíblia Devocional da Mulher,
da Editora Vida; Bíblia da Mulher, da Editora Atos), aos líderes (Bíblia do
Executivo, da Editora Vida) etc. As principais são:
1. Bíblia Shedd - Sob a coordenação do eminente teólogo Dr. Russell
Shedd, uma equipe de comentadores produziu milhares de notas
para essa bíblia de estudo altamente respeitada no meio evangélico.
Essas notas foram escritas no Brasil, tendo em vista o leitor brasileiro.
A Bíblia Shedd é publicada por Edições Vida Nova em parceria com
a SBB. Ferramentas de estudo: notas de rodapé (que incluem mini-
esboços de sermão), concordância bíblica, cronologia bíblica, tabela
de pesos, dinheiro e medidas, mapas coloridos e análise e introdução
aos livros da Bíblia. O texto bíblico adotado é o da ARA, 2. ª edição.
2. Bíblia de Estudo Esperança - publicada em 1998 em co-edição por
Edições Vida Nova e SBB, destina-se a responder objetivamente às
questões mais importantes da vida, apresentadas por meio de centenas
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セセMMMMMMMMMセM
de perguntas espalhadas por suas páginas. Ferramentas de estudo:
notas exegéticas, textos paralelos dos evangelhos etc. O texto bíblico
adotado é o da ARA, 2. ª edição.
3. Bíblia de Estudo Almeida - Publicada em 1999 pela SBB.
Ferramentas de estudo: concordância temática, dicionário, guia
sinótico dos evangelhos, cronologia bíblica e tabela de pesos, moedas
e medidas. O texto bíblico adotado é o da ARA, 2. ª edição.
4. Bíblia Anotada - Publicada em 1991 pela Editora Mundo Cristão,
com introdução, esboço, referências laterais e notas. Ferramentas de
estudo: notas de rodapé, harmonia dos evangelhos, resumo da doutrina
bíblica, estudos sobre a Bíblia, cronograma de leitura da Bíblia em
um ano, concordância, mapas etc. O texto bíblico adotado é o da
ARA, 1.ª edição.
5. Bíblia de Estudo Vida - Publicada pela Editora Vida em 1999.
Ferramentas de estudo: notas laterais, dicionário, mapas, tabelas,
concordância e plano de leitura. O texto bíblico adotado é o da
ARA, 2.ª edição.
6. Bíblia de Estudo NVI - Publicada pela Editora Vida em 2003.
Ferramentas de estudo: notas de rodapé (traduzidas da edição americana
da New International Version), cronologia do Antigo e do Novo
Testamento e concordância bíblica. O texto bíblico adotado é a NVI.
7. Bíblia de Estudo de Genebra - Publicada pela Cultura Cristã (editora
confessional da Igreja Presbiteriana do Brasil) e Sociedade Bíblica
do Brasil em 1999. É uma Bíblia voltada para a teologia reformada
(calvinista). Ferramentas de estudo: notas de rodapé, introdução a
cada livro da Bíblia, diversos artigos, além de concordância e mapas.
O texto bíblico adotado é o da ARA, 2. ª edição.
8. Bíblia de Referência Thompson - Publicada pela Editora Vida em
1990. Ferramentas de estudo: palavras de Cristo em vermelho, sistema
Thompson de estudo bíblico original e exaustivo (sistema numérico
de referências em cadeia, análise de livros, estudos esboçados e ilus-
trados, harmonias, mapas, descobertas arqueológicas e concordância).
O texto bíblico adotado é o da ECA.
Outras versões importantes
O leitor também tem à disposição versões interlineares da Bíblia (traz
o texto grego na primeira linha, uma tradução literal para por palavra na
segunda e, opcionalmente, uma versão corrente em língua portuguesa), como
o Novo Testamento interlinear grego-português, da Sociedade Bíblica do Brasil.
Outro excelente recurso é o Antigo Testamento poliglota (Edições Vida
Nova e SBB), que traz em colunas paralelas o texto hebraico (Texto
Massorético), grego (Septuaginta, versão de Ralphs), português (ARA, 2.ª
edição) e inglês (NVI). As duas editoras também lançaram em co-edição o
Novo Testamento trilíngüe, contendo em colunas paralelas o texto em grego
(Nestle-Aland 27.ª edição), português (ARA, 2.ª edição) e inglês (NVI).
OBRAS DE CONSULTA
Também conhecidas como obras de referência, são livros que não
precisam ser lidos do começo ao fim, pois se destinam exclusivamente a
consulta, como dicionários, enciclopédias, atlas, concordância (ferramenta
para localizar versículos com mais rapidez por meio de palavras-chave) etc.
São obras mais técnicas. Dentre essas obras podemos destacar:
1. Dicionários: Novo dicionário da Bíblia, Dicionário bíblico Vida Nova,
Dicionário internacional de teologia do Novo Testamento, Dicionário
internacional de teologia do Antigo Testamento, Dicionário ilustrado
da Bíblia, Manual bíblico Vida Nova (todos publicados por Edições
Vida Nova).
2. Enciclopédias:Enciclopédia histórico-teológica da igreja cristã (Edições
Vida Nova), Enciclopédia de Bíblia, teologia e filosofia (Editora Hagnos),
Enciclopédia de apologética (Editora Vida).
3. Atlas: Atlas Vida Nova da Bíblia e da história do cristianismo (Edições
Vida Nova).
4. Concordância: Concordância bíblica (Sociedade Bíblica do Brasil).
Contém mais de 340 mil referências. Baseada no texto da tradução
de Almeida Revista e Atualizada.
TEOLOGIA SISTEMÁTICA
Nome dado à disposição das principais matérias que compõem o estudo
da teologia em ordem lógica de temas: bibliologia (doutrina das Escrituras),
teologia (doutrina de Deus), cristologia (doutrina de Cristo), pneumatologia
(doutrina do Espírito Santo), antropologia (doutrina do homem), soteriologia
(doutrina da salvação), eclesiologia (doutrina da igreja), escatologia (doutrina
do futuro). As principais teologias sistemáticas do mercado evangélico são:
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セセMMMMMMMMMMセMM
1.
2.
Teologia sistemática, de Wayne Grudem (Edições Vida Nova). Teólogo
batista, Grudem é doutor em teologia. A obra é extremamente
didática e de fácil compreensão. Acompanha CD-ROM.
Teologia sistemática, de Louis Berkhof (Editora Luz Para o Caminho).
Teólogo presbiteriano. É uma obra densa e de alto nível teológico.
Para os que quiserem obras menos volumosas, Edições Vida Nova
publicou a excelente Introdução à teologia sistemática, de Millard Erickson,
escritor de renome internacional, de estilo claro e preciso. A Editora Cultura
Cristã publicou a obra Teologia concisa, do conceituado teólogo J. 1. Packer.
Trata-se de uma síntese dos fundamentos históricos da fé cristã numa
linguagem bem acessível.
COMENTÁRIOS BÍBLICOS
Esses ajudam principalmente o estudante leigo a obter explicação
sobre o sentido do texto bíblico, concentrando-se, sobretudo, nas passagens
de maior dificuldade para o estudo das Escrituras. Ainda não foi escrito o
comentário dos comentários. O ideal é ter todos os comentários bíblicos
disponíveis. Analisar a diferença entre os diversos comentadores é um processo
enriquecedor. Se não puder ter todos, tente adquirir pelo menos dois dos
principais comentários gerais. Um aviso: dê preferência a obras de cristãos
conservadores, evitando a teologia liberal. Uma excelente opção é a "Série
Cultura Bíblica", de Edições Vida Nova, com cerca de 40 volumes.
INTRODUÇÃO BÍBLICA
Esse tipo de literatura destina-se a inteirar o estudante a respeito da
autoria e dos dados históricos dos livros da Bíblia. Qyestões do tipo "Qyando
se completou o cânon do Antigo Testamento?", "Qyal evangelho foi escrito
primeiro?", "Podemos confiar na historicidade do Antigo e do Novo
Testamento" são respondidas de forma mais abrangente e satisfatória em
comparação com os dicionários e enciclopédias bíblicas, que oferecem
informações parciais acerca desses assuntos.
Há introduções ao estudo da Bíblia em geral, como Introdução bíblica,
de Norman Geisler, da Editora Vida. Outras abrangem somente o Antigo
ou o Novo Testamento. Obras mais específicas assim tendem a suprir o
estudante com mais informações detalhadas. As seguintes publicações de
Edições Vida Nova ilustram bem isso: Introdução ao Antigo Testamento, de
LaSor, Hubbard e Bush, e Introdução ao Novo Testamento, de Carson, Moo
e Morris. Algumas obras são mais especializadas ou limitadas. Outras são
FERRAMENTAS PARA O ESTUDO BÍBLICO セ@ __..
セセセBM]GMM]M]M・N⦅⦅]M]MMMMMMMMMMセ@
bastante técnicas. Não importa aqui a natureza abrangente ou limitada da
publicação, o importante é evitar livros doutrinariamente liberais, que tendem
a defender que há erros de diversos tipos nas Escrituras inspiradas por Deus.
Autores como Rodolf Bultmann, Paul Tilich e outros devem ser evitados
ou lidos com muita cautela. Pesquise as credenciais do autor antes de comprar
um livro sobre introdução bíblica.
HISTÓRIA DA IGREJA E DA TEOLOGIA
Estudar o percurso histórico da igreja e da teologia cristã é impor-
tante para entender o panorama religioso atual. Situar também cada
acontecimento no seu contexto histórico (político, econômico, social,
intelectual etc.) leva-nos a não tirar conclusões precipitadas sobre o que
ocorreu no passado. Os heróis da fé de todos os tempos devem ser vistos em
seu ambiente histórico. Livros como Uma história ilustrada do cristianismo
(em dez volumes), de Justo Gonzales, e O cristianismo através dos séculos,
de Earle Cairns, publicados por Edições Vida Nova, são exemplos de
excelentes obras que versam sobre esses tópicos.
LIVROS DE TEOLOGIA PRÁTICA
Há livros teológicos de análise pouco aprofundada, menos técnicos,
mas muito importantes para o estudante da Bíblia, pois tratam da aplicação
de princípios bíblico-teológicos para a vida cristã. Entre esses podemos
citar: Cristianismo básico, do conceituadíssimo comentador bíblico John Stott
(Edições Vida Nova), e Cristianismo puro e simples, de C. S. Lewis (ABU
Editora), entre outros. Outro autor muito importante é Francis Schaeffer.
Seus livros O Deus que intervém, O Deus que se revela e a Morte da razão são
exemplos nessa área. Livros sobre ética e aconselhamento também entram
nessa área. Podemos citar Ética cristã, de Noman Geisler e Aconselhamento
cristão, de Gary Collins, ambos publicados por Edições Vida Nova.
·-... セ@ INTRODUÇÃO À BÍBLIA
セセMMMMMMMMMMM
1 ENRIQUECENDO O VOCABULÁRIO 1
Introdução bíblica, comentários, teologia sistemática,
concordância, bíblia de estudo.
1 PERGUNTAS DE RECAPITULAÇÃO 1
1. Compare as traduções de Hebreus 1 nas versões Almeida Revista e
Corrigida, Almeida Século 21 e Nova Versão Internacional.
2. Faça o mesmo com o salmo 45.
3. Avalie as qualidades e as deficiências das versões acima. Explique
suas respostas.
FERRAMENTAS PARA O ESTUDO BÍBLICO セ@ .--
MMMMGMMMMMMMMMMMMMMMMセセ@
4. Use um dicionário bíblico ou uma enciclopédia para procurar as datas
do reinado de Sargão da Assíria e conte algo sobre esse monarca.
5. Tente encontrar cinco dos livros mencionados neste capítulo. Você
possui algum desses exemplares em sua biblioteca particular? Caso
não tenha, talvez seu pastor permita que você pesquise usando os
livros dele. Sua igreja tem biblioteca? Se não, que tal incentivar a
criação de uma?
·-.... セ@ INTRODUÇÃO À BÍBLIA
セセMMMM
1 ANOTAÇÕES
Métodos de
estudo bíblico
' ' e orno posso aprofundar meu conhecimento da Bíblia? Como
posso estudar e compreender melhor a Palavra de Deus?" Essas
duas perguntas são interligadas e muitos cristãos dedicados as
tazem constantemente. Devemos avaliá-las com atenção, porque o conteúdo
da Bíblia é bastante diversificado, e os aspectos históricos a ele relacionados são
muito diferentes. Através dos séculos, indivíduos de grande capacidade
intelectual têm-se dedicado a estudar a Palavra de Deus. Como podemos
desfrutar desse tesouro?
Para encontrar essa resposta, temos de considerar dois aspectos: como
valorizar e compreender melhor a Bíblia e como extrair o máximo de suas
bênçãos para nossa vida diária. O primeiro aspecto está relacionado com o
estudo bíblico; o segundo diz respeito à prática devocional. Infelizmente é
possível conseguir um independentemente do outro. Um cristão maduro e
bem discipulado compreende a Palavra de Deus e a guarda no coração.
LEITURA DEVOCIONAL
Nada substitui a leitura diária da Bíblia. Deve ser uma leitura devocional
- feita em espírito de oração e meditação, deixando o coração aberto para
ouvir a voz de Deus. Há muitas obras devocionais hoje em dia. E com certeza
todos os cristãos concordam que o Espírito Santo é o mestre supremo.
--.... _b INTRODUÇÃO À BÍBLIA
セMMMMセ@
Ao fazer leituras devocionais, não devemos ler muito de uma só vez.
É preferível nos restringirmos a meio capítulo, sublinharmos os versículos
mais importantes e tomarmos nota das lições que aprendemos com o trecho.
Se lermos apressadamente três ou mais capítulos, não absorveremos quase
nada. Embora exija tempo e disciplina, decorar versículos oucapítulos é
um excelente hábito. Devemos revê-los freqüentemente e compartilhar
nosso aprendizado com os outros.
Algumas passagens da Bíblia combinam muito bem com a leitura
devocional. Outras, como as genealogias e leis sobre impureza, não são tão
adequadas para a prática devocional, embora sejam verdadeiras e importantes.
Os recém-convertidos terão mais facilidade em começar seu estudo
devocional pelos salmos ou pelos evangelhos, principalmente o de João. O
livro de Atos e as epístolas mais curtas também são recomendados. Todavia,
por onde quer que comecemos, devemos manter o coração aberto para receber
as bênçãos de Deus.
Desejamos, no entanto, transmitir um alerta: alguns indivíduos
entendem que introspecção, emocionalismo ou edifícios religiosos constituem
a essência da prática devocional. Se fosse verdade, Paulo teria tido uma vida
devocional medíocre. Um folheto que traga um versículo bíblico fora do
contexto, conte a história de um garoto que entregou toda sua mesada para
o irmão e encerre com uma oração do tipo: "Ó Senhor, ajuda-nos a ajudar-
mos uns aos outros", não traz benefício devocional algum.
Seu guia de leitura devocional exalta o Senhor Jesus Cristo como o
Salvador qúe realizou milagres, levou sobre si nossos pecados e ressuscitou?
Essa publicação o incentiva a se dedicar à oração e a esperar que Deus
responda? Ela fornece a essência da Palavra, interpretada da maneira certa?
Caso isso não aconteça, analise-o novamente. Há muitos livros excelentes
dentre os quais o leitor pode escolher, como Pão Diário, No Cenáculo e
Mananciais no Deserto. Programas de rádio e TV que transmitam doutrinas
bíblicas corretas também são de grande valia.
ESTUDO BÍBLICO
Cristãos que participam de ministérios da igreja precisam mais do
que uma simples leitura devocional da Bíblia. Professores e líderes
principalmente precisam saber dos fatos, conhecer as doutrinas e colocar-se
a par dos aspectos históricos das Escrituras. Sem um conhecimento vasto
não serão capazes de responder aos questionamentos de outras pessoas ou
extrair as riquezas contidas na Palavra de Deus.
Como podemos estudar a Bíblia e conhecer a fundo seu conteúdo?
Qyalquer resposta a essa pergunta implica uma disposição para estudar.
Não é possível aprender matemática, francês ou química sem dedicação. O
mesmo é verdade com respeito à Bíblia.
MÉTODOS DE ESTUDO BÍBLICO セ@ .--·
MMMMMMMMMMMMMMセ@
Para o estudo bíblico utilizamos obras da autoria de teólogos. Por que?
Os cristãos de épocas passadas não discutiam intensamente a respeito do
significado das epístolas. Conheciam a linguagem e os aspectos culturais e
sociais mencionados naqueles documentos. Hoje em dia, muitos cristãos
envolvidos no ministério não sabem grego nem hebraico. Tampouco têm
conhecimento amplo e profundo das épocas antigas. Por esse motivo dependem
do auxílio de indivíduos que dominem essas informações. Assim é importante
que se valham dessas publicações de maneira sábia. No seminário ou em uma
escola bíblica, estudamos as Escrituras de vários "ângulos". A maioria dos
professores, obreiros ou oficiais de uma igreja não tem formação em escolas
teológicas, mas pode estudar a Bíblia de maneira diligente e coerente.
Wilbur Smith, em seu excelente livro Pro.fitable Bible Study [Estudo
bíblico proveitoso], defende vários métodos de abordagem - o estudo de
um livro de cada vez (em geral, pesado demais para o iniciante), o estudo de
capítulos, de parágrafos, de versículos e de palavras. Ele sugere também
estudarmos a vida de personagens bíblicos e as orações contidas na Palavra
de Deus. Todo esse material deve estar relacionado com Cristo e sua obra
redentora. Ele cita ainda as dez perguntas elaboradas por Grace Saxe, que
devemos nos fazer ao final de cada capítulo. São elas:
Qyal o assunto principal?
Qyal a lição principal?
Qyal o melhor versículo?
Qyem é o personagem principal?
O que essa passagem ensina a respeito de Cristo?
Essa passagem traz algum exemplo a seguir?
Essa passagem menciona algum erro que devamos evitar?
Ela apresenta algum dever que devamos cumprir?
Há alguma promessa cujo cumprimento devamos esperar?
Há alguma oração que devamos imitar?
O dr. Smith cita seu colega, Howard A. Kelly, famoso cirurgião,
que afirmou: "O principal segredo para o estudo bíblico é simplesmente
realizá-lo!"
O que um iniciante pensa ser um profundo conhecimento da Bíblia
geralmente nada mais é do que o resultado natural de perseverar no método
mais simples de todos: ler a Bíblia dia após dia, até que todo seu conteúdo
se torne algo extremamente familiar para nós.
O estudo dos livros da Bíblia
O estudo de livros ou trechos chama-se exegese ou interpretação
bíblica. Para obter sucesso nesse estudo, devemos obedecer a algumas etapas.
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セMMMMM
Primeira, ler o livro em questão várias vezes. Em seguida, fazer um resumo
de modo que analisemos a mensagem do livro. É preciso colocar os assuntos
gerais em primeiro plano, demonstrando a relação de cada parte com as
demais. Ao longo desse estudo ajuda muito fazer as seguintes perguntas:
O livro apresenta um tema principal?
Como esse tema é trabalhado?
Se o livro é histórico, qual o ponto de vista do autor?
O que o autor enfatiza?
Em alguns livros, como Salmos, não é tão fácil encontrar uma unidade
temática. Nesses casos, é melhor estudá-los parte por parte.
Divisão em parágrafos
Talvez o leitor deseje estudar um versículo de cada vez ou analisar
um trecho mais longo. Algumas Bíblias trazem os parágrafos bem destacados,
geralmente em blocos de versículos, ou adotam a marcação dos parágrafos
iniciando-os com o número do versículo em negrito. Ao estudar um livro,
devemos prestar atenção nessas divisões.
Introdução à Bíblia
É importante conhecer os aspectos históricos por trás de cada livro,
bem como o motivo de terem sido escritos. Uma boa introdução à Bíblia nos
fornece essas informações. Ao estudar Colossenses, por exemplo, descobriremos
que esse livro é uma das quatro "epístolas da prisão", de autoria de Paulo,
escrito em Roma. Isso explica a harmonia entre Efésios e Colossenses, uma
semelhança tão notável que uma carta serve para explicar a outra. Ambas
foram escritas para combater a heresia do gnosticismo, que estava se espalhando
entre os cristãos da época. Por esse motivo, nessas epístolas Paulo destaca a
singularidade de Cristo. Tais informações enriquecem a interpretação. Um
estudo detalhado de história e dos achados arqueológicos também ajuda a
aprofundar nosso conhecimento bíblico.
O estudo das doutrinas
Esse estudo, mais conhecido como teologia sistemática, só é limitado
pela nossa disponibilidade de tempo e capacidade. O estudo das doutrinas
melhoram a interpretação de passagens bíblicas. Em contrapartida, uma
interpretação correta das Escrituras é fundamental para o estudo doutrinário.
Se fizermos uma análise de "Cristo" no primeiro capítulo de Hebreus,
entenderemos o erro de alguns teólogos liberais, que afirmam que Colossenses
1.15 ensina que Cristo é o primogênito em uma sucessão de indivíduos
semelhantes a ele. Em vez disso, esse trecho declara que Jesus é o Filho
unigênito de Deus, que existia antes de todas as coisas que ele mesmo criou.
A comparação entre passagens das Escrituras é uma prática correta e útil,
porque o Espírito Santo é o autor da Palavra de Deus. Ele nos dirige e nos
instrui, à medida que delineamos cada doutrina através da Bíblia.
O estudo minucioso de "Cristo nas epístolas da prisão" traz à tona
muitas verdades, que às vezes passam despercebidas em um estudo geral. O
estudo das doutrinas ajuda a amadurecer e fortalecer nossa fé.
Pode ser difícil lembrar todos os textos relacionados com a "natureza
do pecado", mas algumas informações doutrinárias sucintas de um credo,
ou de uma obra de teologia sistemática, fornecerão um resumo dos ensinos
bíblicos sobre o assunto. Isso vale tanto para nossa vida cristã como para
fins de estudobíblico.
O estudo histórico
Outro excelente método é estudar a Bíblia a partir dos períodos
históricos. Isso é importante no que tange aos escritos do Antigo Testamento,
pois ali os livros não estão dispostos em ordem cronológica. Livros com
assuntos inter-relacionados devem ser estudados em conjunto. A divisão
abaixo poderá ser de grande benefício ao leitor.
Antigo Testamento
O Pentateuco ( Gênesis a Deuteronômio) é um conjunto de cinco
livros que relatam os primeiros fatos da história bíblica.
Os salmos de Davi acompanham 1 e 2Samuel.
Provérbios, Eclesiastes e Cântico dos Cânticos devem ser estudados
em conjunto com os capítulos iniciais de 1Reis.
Isaías deve ser lido juntamente com os primeiros seis profetas
menores - Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas e Miquéias.
Jeremias, Ezequiel, Daniel e três profetas menores - Naum,
Habacuque e Sofonias - são aproximadamente do mesmo período.
Esdras, Neemias e os três profetas menores restantes - Ageu,
Zacarias e Malaquias - são do período pós-exílico.
As passagens em 2Samuel devem ser lidas e comparadas com o livro
de !Crônicas para verificarmos se são paralelas ou complementares.
De maneira semelhante, devemos ler 2Crônicas comparando-o com
os livros de 1 e 2Reis.
Novo Testamento
O espaço de tempo registrado no Novo Testamento é mais curto,
mas os detalhes históricos são igualmente importantes. É interessante estudar
. ...._ __. INTRODUÇÃO À BÍBLIA
セセMMMセ@
o livro de Atos fazendo uma pausa em cada uma das localidades que Paulo
visitou, e nas quais escreveu uma epístola. Antes de seguir com a leitura,
devemos estudar a epístola correspondente. Esse método une o livro de
Atos e as epístolas paulinas, enriquecendo a interpretação do texto.
O estudo de palavras
O objetivo da exegese é simplesmente descobrir o que a Bíblia diz.
Oliando lemos uma revista ou jornal, não temos que fazer um estudo exegético,
porque estamos perfeitamente familiarizados com a linguagem. Vez por outra
encontramos uma palavra estranha, e então consultamos o dicionário. No
entanto, ao ler textos mais difíceis, temos de empregar mais a exegese.
A Bíblia foi escrita em hebraico, aramaico e grego. Essas são línguas
estranhas para nós, e os costumes da Antigüidade também nos são pouco
familiares ou talvez até desconhecidos. O texto bíblico contém verdades
divinas profundas e maravilhosas. Portanto, devemos buscar com esmero o
sentido de cada passagem. O estudo de palavras geralmente é muito útil
nesse intento. A pesquisa sobre o uso de um vocábulo e de suas variações
envolve a consulta de dicionários e outras obras de referência.
Por exemplo, Jesus afumou: "Eu sou o pão da vida" (Jo 6.35). O que
ele quis dizer com isso? Será que Jesus é um pedaço de pão? Olial a relação
entre as palavras "pão" e "vida" nesse trecho? Essa é uma verdade muito pro-
funda, que poderemos entender apenas se meditarmos na passagem. Para o
estudo de palavras, podemos procurar todas as referências que Jesus fez ao
pão, principalmente o fato de ele próprio ser o Pão. Obviamente Cristo não
estava se referindo à vida física ou ao alimento comum. Notemos que ele
também afirmou oferecer a "luz da vida" (Jo 8.12) e a "água vivà' (Jo 7.38).
Analise as outras metáforas que contêm a expressão "eu sou" - "eu sou a
porta" (Jo 10.9) ; "eu sou o caminho, a verdade e a vidà' (Jo 14.6). O estudo
de palavras revela as verdades mais profundas da Bíblia.
Algumas palavras, porém, nos são um pouco estranhas. Um vocábulo
bastante debatido é o verbo batizar. O estudo de palavras não fornece uma
resposta definitiva. Se isso fosse possível, poria fim às discussões. Entretanto,
devemos procurar todos os usos desse vocábulo. Olialquer que seja nosso
ponto de vista, é bom que se analisem os dados bíblicos. Use dicionários de
grego e descubra de quantas maneiras a palavra grega baptizo foi traduzida.
Confira todas essas referências. A investigação das evidências lhe dará certeza
de que sua opinião está baseada em fatos. O estudo de palavras é uma
ferramenta valiosa na exegese.
Combinação de métodos de estudo bíblico
Todos os métodos de estudo bíblico são inter-relacionados. Não iremos
aprender as doutrinas antes de realizar uma exegese. Tampouco devemos
MÉTODOS DE ESTUDO BÍBLICO セ@ .--·
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estudar um livro inteiro e seus parágrafos antes de nos inteirarmos a
respeito dos aspectos históricos e sociais que formam o contexto da narra-
tiva. O fato é que todos os métodos de estudo devem ser usados o tempo
todo. Ninguém deve se valer do estudo de livros específicos ou do método
de interpretação versículo por versículo sem usar também os demais méto-
dos. Estudantes diligentes, que consultam outras obras de pesquisa, irão
aprimorar sua vida pessoal e seu ministério. Um dos principais objetivos
do Curso Vida Nova de Teologia Básica é oferecer ao leitor um guia, bem
como sugestões para aprofundar seu estudo da Bíblia e realizá-lo de maneira
completa, pois isso é uma bênção.
"Bem-aventurados aqueles que lêem e aqueles que ouvem as pala-
vras da profecia e guardam as coisas nela escritas, porque o tempo está
próximo" (Ap 1.3).
1 ENRIQUECENDO O VOCABULÁRIO 1
Catecismo, cronologia, estudo das doutrinas, exegese,
gnosticismo, estudo histórico, interpretação,
teologia sistemática, estudo de palavras.
1 PERGUNTAS DE RECAPITULAÇÃO 1
1. Apresente duas razões por que a exegese do Novo Testamento é mais
problemática hoje para nós do que para os cristãos da igreja primitiva.
2. Por que os cristãos devem estudar a Bíblia tanto de forma devocional
quanto técnica?
·-...... セ@ INTRODUÇÃO À BÍBLIA
セセMMMセ@
3.
4.
5.
Se estudarmos a epístola de 2Timóteo, por exemplo, que informa-
ções poderemos obter sobre o período da vida de Paulo em que ela
foi escrita e sob que circunstâncias?
Consulte o Breve Catecismo de Westminster e procure a doutrina
sobre a pessoa de Cristo.
Descreva os métodos de estudo bíblico que você tem usado.
MÉíODOS DE ESTUDO BÍBLICO ....___ -
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セMMMMMMMMMMセM
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......_ __. INTRODUÇÃO À BÍBLIA
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Esta obra foi composta por
Sk editoração
usando as fontes Acaslon e Swis721,
capa em cartão 250 g/m2,
miolo em off-set 63 g/m2,
impressa pela Imprensa da Fé
em junho de 2010.
Capa
2ª Capa
Folha de Rosto
Conteúdo
Apresentação
1. Revelação e inspiração
2. Por que os cristãos crêem na Bíblia? (O Antigo Testamento)
3. Por que os cristãos crêem na Bíblia? (O Novo Testamento)
4. Quem escreveu o Antigo Testamento?
5. Quem escreveu o Novo Testamento?
6. Como a Bíblia foi preservada (N.T.)
7. Como a Bíblia foi preservada (A.T.)
8. Controvérsias em torno da Bíblia
9. A alta crítica e a Bíblia
10. A arqueologia e o Antigo Testamento
11. Ferramentas para o estudo bíblico
12. Métodos de estudo bíblico
Enriqueça sua biblioteca