Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Curso Vida Nova de Teologia Básica INTRODUÇÃO À BÍBLIA Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Harris, R. Laird Introdução à Bíblia I R. Laird Harris ; tradução Bruno G. Destefani. -- São Paulo : Vida Nova, 2005. -- (Curso vida nova de teologia básica ; v. 1) Título original: Exploring tha basics of the Bible. ISBN 978-85-275-0331-0 1. Bíblia - Introduções 2. Teologia - Estudo e ensino I. Título. II. Série. 05-1682 CDD-220.61 Índices para catálogo sistemático: 1. Bíblia : Introdução 220.61 2. Introdução à Bíblia 220.21 Curso Vida Nova de Teologia Básica INTRODUÇÃO À BÍBLIA R. LAIRD HARRIS Traducão .> Bruno G. Destefani 011 VlDANOVA Copyright© 2002 Evangelical Training Association Título do original: Exploring tha Basics of the Bible Traduzido da edição publicada em 2002 pela Crossway Books, uma divisão da Good News Publishers (Wheaton, Illinois, EUA) 1: edição: 2005 Reimpressão: 2007 2: edição: 2008 Reimpressão: 2010 Publicado no Brasil com a devida autorização e com todos os direitos reservados por SOCIEDADE RELIGIOSA EDIÇÕES VIDA NOVA, Caixa Postal 21266, São Paulo, SP, CEP 04602-970 www.vidanova.com.br Proibida a reprodução por quaisquer meios (mecânicos, eletrônicos, xerográficos, fotográficos, gravação, estocagem em banco de dados, etc.), a não ser em citações breves · com indicação de fonte. ISBN 978-85-275-0331-0 Impresso no Brasil/ Printed in Brazil COORDENAÇÃO EDITORIAL Robinson Malkomes CONSULTORIA Aldo Menezes REVISÃO Marisa K. Alvarenga de S. Lopes COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO Sérgio Siqueira Moura DIAGRAMAÇÃO Sk editoração CAPA Julio Carvalho Conteúdo Apresentação . . .. . ... . .. . .. . .. . ... . .. . . .. . .. . ... . .. . .. . . .. . . .. . .. . .. . .. . ... ... . .. . . .. . .... .. 7 1. Revelação e inspiração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 2. Por que os cristãos crêem na Bíblia? - O Antigo Testamento..................................................... 23 3. Por que os cristãos crêem na Bíblia? - O Novo Testamento ....................................................... 33 4. Qyem escreveu o Antigo Testamento?.................................... 43 5. Qyem escreveu o Novo Testamento?....................................... 55 6. Como a Bíblia foi preservada - O Novo Testamento........................................................ 6 7 7. Como a Bíblia foi preservada - O Antigo Testamento ..................................................... 7 5 8. Controvérsias em torno da Bíblia .... .. .. .. ....... .... .. .. .. .. .. .. .. .. .... ... 8 5 9. A alta crítica e a Bíblia............................................................. 99 10. A arqueologia e o Antigo Testamento ..................................... 107 11. Ferramentas para o estudo bíblico ........................................... 117 12. Métodos de estudo bíblico ...................................................... 129 Enriqueça sua biblioteca............................................................... 13 9 Apresentação Curso Vida Nova de Teologia Básica T odos os cristãos precisam de teologia Durante muito tempo a teologia esteve confinada nos círculos acadê-micos. Sua linguagem técnica e seu rigor científico impediam que o público leigo, não-especializado, saboreasse a boa erudição bíblica. A parte que lhe cabia era ouvir longos sermões, que nem sempre atingiam o coração dos ouvintes, muito menos sua mente. A distinção entre clérigos e leigos, sem dúvida, contribuiu para o surgimento desse abismo entre a teologia e os não-iniciados no saber teoló- gico. O estudo sobre Deus e sua relação com seu povo foi se tornando cada vez mais propriedade de uma elite intelectual. As Escrituras, no entanto, apontam outro caminho. O povo de Deus, e não apenas uma parcela desse povo (os mestres), é chamado de "sacerdócio real". Esse povo deve anunciar "as grandezas daquele que [o] chamou das trevas para sua maravilhosa luz" (lPe 2.9). Todos estão obrigados a cumprir a Grande Comissão: fazer discípulos para o Mestre, ensinando-os a obede- cer todas as coisas que ele ordenou (Mt 28.19-20). Todos devem renovar a mente, para experimentar a "boa, agradável e perfeita vontade de Deus" (Rm 12.2). Todos devem estar preparados para "responder a todo aquele que [ ... ] pedir a razão da esperança" que há neles (lPe 3.15). Todos são instados a crescer não apenas na "graça'', mas também "no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo" (2Pe 3.18). A retomada do ensino bíblico do sacerdócio de todos os crentes, no entanto, não significa que Deus não tenha capacitado especialmente alguns para exercer determinados dons na igreja. O apóstolo Paulo afirma que . ....._ セ@ INTRODUÇÃO À BÍBLIA セMMMMセ@ Deus "designou uns como apóstolos, outros como profetas, e outros como evangelistas, e ainda outros como pastores e mestres" (Ef 4.11). Esses espe- cialmente capacitados, porém, não deviam guardar para si o depósito do conteúdo da fé. Eles tinham uma missão a cumprir: ... o aperfeiçoamento dos santos para a obra do ministério e para a edificação do corpo de Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, ao estado de homem feito, à medida da estatura da plenitude de Cristo; para que não sejamos mais como crianças, inconstantes, levados ao redor por todo vento de doutrina, pela mentira dos homens, pela sua astúcia na invenção do erro; pelo contrário; seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo. Nele o corpo inteiro, bem ajustado e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a correta atuação de cada parte, efetua o seu crescimento para edificação de si mesmo em amor (Ef 4.12-16). Essas passagens bíblicas mostram claramente que a teologia deve estar a serviço de todo o povo de Deus. Mais ainda: que todo o povo de Deus deve se beneficiar de todos os campos do labor teológico. Vejamos alguns exemplos: 1. Anunciar as grandezas de Deus (1Pe 2.9) requer preparo no falar. A parte da teologia que cuida da boa transmissão oral da Palavra de Deus é a homilética, cujos princípios não se aplicam somente à preparação de sermão, mas à comunicação da Palavra de Deus como um todo. 2. Não basta fazer discípulos, é preciso ensiná-los (Mt 28.19-20). Isso requer conhecimento das coisas de Deus (e esta é uma definição básica de teologia= estudo sobre Deus). 3. Estar preparado para "responder a todo aquele que [ ... ] pedir a razão da esperançà' que há em nós (1Pe 3.15) requer conhecimento bíblico e o exercício da "apologética" (um discurso de defesa da fé cristã bem embasado nas Escrituras). 4. Qyando Pedro disse que os cristãos devem crescer "no conhecimento de [ ... ] Jesus Cristo" (2Pe 3.18), ele estava, segundo o contexto, alertando-os a não se deixar levar pelos que "deturpam'' as Escrituras (2Pe 3.14-17). Pedro também reconheceu que há passagens de difícil interpretação (v. 16). A hermenêutica é a parte da teologia que se en- carrega de avaliar o sentido preciso de uma passagem bíblica, lidando com as "coisas difíceis". Bem preparados, não seremos "levados [ ... ] por todo vento de doutrina, pela mentira dos homens, pela sua astú- cia na invenção do erro" (Ef 4.14). É evidente, portanto, que todos nós, povo de Deus, precisamos de teologia. Todos nós precisamos aprimorar diariamente nosso conhecimento das Escrituras. Devemos ser realmente estudiosos da Palavra de Deus. E o labor teológico nos conduz a esses fins. APRESENTAÇÃO セ@ .--· セMMMセセ@ A importância e as vantagens do Curso Vida Nova de Teologia Básica Edições Vida Nova reconhece o valor e a força da comunidade leiga de nossas igrejas. Nossa missão é levar conhecimento e preparo teológico a todo o povo de Deus. Pensando nessa parcela significativade cristãos e com pleno conhecimento da necessidade do saber teológico para todos, temos o prazer de apresentar o Curso Vida Nova de Teologia Básica. Trata-se de um curso básico de teologia para leigos. Isso quer dizer que esse curso está desprovido do jargão teológico tradicional e de tecnicismos dessa área. É um curso perfeito para leitores que desejam conhecer um pouco de teologia numa linguagem informal, instrumental e não-acadêmica. O material é altamente didático e informativo. É de fácil assimila- ção. Os autores também se valem de perguntas para debate, que funcionam como questões de recapitulação, a fim de fixar na mente do leitor os pontos principais apresentados ao longo de cada lição. Como se diz em homilética: ''A repetição é a mãe da retenção". C2lianto mais recapitulamos, mais fixa- mos o que aprendemos. Além disso, há uma bibliografia ao mesmo tempo concisa e precisa, conduzindo o leitor a obras que poderão auxiliá-lo em seu crescimento espiritual. Todos os cristãos desejosos de crescer no "conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo" se beneficiarão desse curso. Crentes bem preparados e conhecedores da Palavra de Deus farão das escolas dominicais, dos centros de treinamento de líderes e de outros ministérios voltados para o aperfeiçoamento do corpo de Cristo um espaço agradável de estudo e reflexão das Escrituras. O currículo básico do curso inclui os seguintes assuntos: 1. Introdução à Bíblia 2. Panorama do Antigo Testamento 3. Panorama do Novo Testamento 4. Panorama da história da igreja 5. Homilética 6. Apologética cristã 7. Teologia sistemática 8. Educação cristã 9. Filosofia 10. Aconselhamento Os próximos volumes previstos para lançamento são: Interpretação da Bíblia, Missões, Evangelismo, Louvor e adoração, Ética cristã e Administração eclesiástica. ....._ セ@ INTRODUÇÃO À BÍBLIA セMMMMMMMMMMMM]MMM Introdução à Bíblia Como não se pode fazer teologia sem a Palavra de Deus, esse é o tema deste primeiro volume do Curso Vida Nova de Teologia Básica. Este volume pretende fornecer respostas às seguintes questões: 1. Deus realmente se revelou à humanidade? Há objetividade nessa revelação? 2. Se a Bíblia foi escrita por homens, como ela pode ser definida como a Palavra de Deus? De que modo Deus se comunicou com os ho- mens a fim de produzir a Bíblia? 3. Por que os cristãos crêem na Bíblia? Há evidências racionais para essa crença? 4. Qyem escreveu o Antigo Testamento? 5. A Bíblia é um livro antigo, mas é realmente confiável? Como ter certeza de que o conteúdo não foi alterado com o passar do tempo? 6. Existem realmente milagres e profecias? 7. O que é alta crítica? Conseguiu a Bíblia sobreviver a seus ataques? 8. O que a arqueologia tem a dizer sobre a confiabilidade das Escrituras? Além de analisar essas questões altamente relevantes, o estudante da Bíblia também será equipado com ferramentas para o estudo das Escrituras. São publicações que devem compor sua biblioteca particular: diversas versões das Escrituras, bíblias de estudo, obras de consulta, livros de teologia siste- mática, comentários bíblicos, introdução bíblica, história da igreja e da teolo- gia e livros de teologia prática. Mas nem só de ferramentas vive um estudante das Escrituras. Ele precisa de um método de pesquisa a fim de facilitar e conduzir seu traba- lho de pesquisa da Bíblia. Há um capítulo destinado exclusivamente a isso. Aproveite o Curso Vida Nova de Teologia Básica. Prove por si mesmo como é bom e agradável conhecer profundamente a Palavra de Deus. Tome para si as palavras de Paulo a Timóteo: "Procura apresentar-te aprovado diante de Deus, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade" (2Tm 2.15). Os Editores Março de 2005 Revelação e inspiração O livro de Génesis conta como Deus criou a humanidade à sua ima-gem e semelhança. Um dos propósitos do Senhor era que Adão tivesse contato e comunhão com ele. A partir desse relato, fica claro que Deus cuidava do homem, conversava com ele e lhe dava ordens. Pois, o fato de o Deus altíssimo dialogar com pessoas dessa maneira representa uma maravilhosa revelação de sua Palavra, de seu ser e de sua vontade. Depois que Adão e Eva pecaram, Deus poderia muito bem ter desistido deles. O primeiro casal o desobedecera por livre e espontânea vontade; a conseqüência disso era a morte. Entretanto, Deus, em sua infinita misericórdia, desenvolveu o plano da salvação. Assim sendo o Senhor procurou Adão no jardim e o responsabilizou por seu pecado. Essa foi a primeira revelação de Deus para o ser humano pecador. REVELAÇÃO ESPECIAL E REVELAÇÃO GERAL Deus deu continuidade a essa prática falando com Adão, Eva, a serpente, Caim, Noé e muitos outros. A essa comunicação direta da parte de Deus chamamos revelação especial. Podemos aprender muito sobre Deus a partir do universo que ele criou. Uma criação tão vasta dá testemunho da existência de um Deus Todo- poderoso. As maravilhas de nosso mundo dão prova da sabedoria infinita . ....._ セ@ INTRODUÇÃO À BÍBLIA セMMMMMMMMMMMM de Deus. Nossa própria consciência aponta para a existência de um Deus santo e benevolente. A essas provas de sua presença através da criação cha- mamos revelação geral. Entretanto, essa revelação geral tem sido negada por muitos. Segundo alegam, aquilo que nos parece complexo na natureza é pura obra do acaso, e essa "ética interior'', a que chamamos consciência, é fruto de nosso convívio social, de um aprendizado recebido desde o nascimento, de uma ilusão que nós mesmos criamos, etc. No entanto, em Romanos 1.19-23 o apóstolo Paulo afirma claramente que podemos perceber Deus na natureza, e ele se refere expressamente à consciência no texto de Ro- manos 2.15. Todavia, é impressionante percebermos que a grande maio- ria das pessoas sempre acreditou em algum tipo de divindade. Além disso, embora alguns neguem a existência da consciência, todas as culturas conhecidas possuem alguma espécie de código moral. Isso nos leva a con- cluir que a revelação natural já está bem fundamentada. Paulo diz que o fato de isso não levar algumas pessoas a adorar o Deus verdadeiro se deve à iniqüidade delas (Rm 1.18). INSPIRAÇÃO Qgando Deus falou ao ser humano na Antigüidade, isso se deu atra- vés de uma revelação oral especial. Até onde sabemos, o homem só foi desen- volver um sistema de escrita depois do dilúvio. Talvez as pessoas daquela época utilizassem algum método para registrar quantidades de objetos, mas ao que parece a escrita como hoje a conhecemos teve início na Mesopotâmia e no Egito, pouco antes de 3000 a.C. Porém, a revelação oral de Deus era algo tão especial, verdadeiro e inspirado quanto sua palavra escrita, que surgiria mais tarde. Qyando falou a Caim, Deus não o fez através da voz de sua consciência, e Caim respondeu-lhe com ira. Essa passagem retrata uma comunicação direta e objetiva da parte de Deus. Ninguém sabe o nome de muitas das pessoas com quem Deus con- versou nos primeiros tempos. Embora o Antigo Testamento afirme que Enoque "andou com Deus'', esse termo provavelmente se refere a um con- vívio habitual e constante, e não à ação de caminhar junto com alguém. De qualquer maneira, isso indica harmonia e comunhão, o que implica em diálogo. Tal conceito concorda com a referência no Novo Testamen- to de que Enoque foi um profeta (Jd 14). Noé recebeu revelações ex- plícitas e meticulosas da parte de Deus. Não foi a sua própria imaginação bem desenvolvida que lhe deu as instruções a respeito da arca. Ao contrá- rio, o Senhor lhe disse quais deveriam ser as dimensões da embarcação, que animais reunir, etc. Sem essa mensagem específica, Noé também te- ria perecido. REVELAÇÃO E INSPIRAÇÃO セ@ .---- MセセMMMMMMMMMセ@ Outra lição que podemos aprender com Noé é que ele ministrava a Palavra de Deus para sua geração. O relato de Gênesis, e de forma mais direta uma passagem de 2Pedro, mostram que Noé avisou seus contem- porâneos a respeitodo julgamento iminente que sobreviria ao mundo. Essa é a função do profeta. Após ter recebido uma mensagem de Deus, ele deve transmiti-la ao povo. Embora a Bíblia não conte muito a respeito da revelação divina durante o longo período entre Noé e Abraão, ela traz muitas informações sobre as épocas subseqüentes. Deus falou muitas vezes a Abraão. Deu-lhe ordenanças específicas e promessas que seriam cumpridas de maneiras que ele jamais poderia ter imaginado. Ele era considerado um príncipe pelos seus contemporâneos (Gn 23.6) e um adorador do Deus verdadeiro (Gn 14.22). Através de sua vida e de suas mensagens, ele ministrava à sua geração, e por meio dos registros feitos por Moisés, continua falando também a nós. Moisés foi o primeiro profeta a preservar as palavras de Deus da forma escrita. O Senhor lhe falou face a face (Nm 12.8). Além disso, ordenou-lhe que escrevesse seus mandamentos (Êx 24.4-8). A maior parte do Pentateuco, depois do relato do chamado de Moisés, em Êxodo 2, traz expressões como "o Senhor disse a Moisés". No final de Deuteronômio, lemos que Moisés escreveu a lei de Deus e instruiu o povo a obedecer aquelas ordenanças, bem como a lê-las publicamente durante a Festa dos Tabernáculos, realizada a cada sete anos (Dt 31.9-13). Veremos mais a respeito dos profetas e de sua atuação no quarto capítulo. No momento, estudaremos algumas conseqüências decorrentes dessa visão dos profetas do Antigo Testamento como instrumentos da revelação de Deus, ou como seus porta-vozes para o povo (Êx 7.1, 2). Lembremos que um profeta em Israel não era considerado apenas um homem profundamente espiritual. Na verdade, era visto como um indivíduo chamado por Deus para dele receber revelações (Nm 12.2-8). A palavra do profeta era reconhecida como a palavra de Deus, de tal maneira que era como se ele tivesse ingerido um rolo de pergaminho vindo do céu e depois o transmitisse oralmente para o povo (Ez 2.7-3.3). A mensagem por eles transmitida era a palavra de Deus. O mesmo podemos dizer a respeito daquilo que os profetas escreveram. Nem todas as mensagens proféticas eram registradas por escrito. Urias profetizou em nome do Senhor, assim como o fizera Jeremias. No entanto, foi morto pelo rei Jeoaquim e suas palavras não foram registradas (Jr 26.20, 21). Todavia, quando o Senhor falou através dos profetas em Israel, na Antigüidade, as palavras deles eram genuinamente vindas de Deus. O fato de terem sido transmitidas apenas oralmente ou também na forma escrita não importava. Josué, por exemplo, acrescentou seu relato ao Livro da Lei de Deus (Js 24.26). Sabemos, porém, que boa parte, senão a quase ......._ セ@ INTRODUÇÃO À BÍBLIA セMMMMMMMMMMセM totalidade do Antigo Testamento, foi transmitida primeiramente de forma oral e mais tarde registrada através da linguagem escrita. Alguns defendem uma diferença entre o discurso profético e os es- critos proféticos, afirmando que apenas estes últimos foram inspirados. Todavia, o Antigo Testamento não faz tal distinção. Esses exemplos ilustram o que queremos dizer com o termo "inspiração das Escrituras". Uma boa definição desse termo seria afirmarmos que a inspiração é "obra do Espírito Santo em indivíduos escolhidos por Deus, através do qual a pessoa é levada a falar ou escrever, em seu próprio idioma, exatamente as palavras de Deus, sem que cometa erro algum com respeito a fatos, doutrinas e juízos". No segundo e terceiro capítulos iremos oferecer a base bíblica desse conceito. INSPIRAÇÃO VERBAL Esse conceito de inspiração defende que as próprias palavras transmitidas são de fato prescritas por Deus, inspiradas pelo Espírito Santo. Isso às vezes é apresentado de maneira caricatural como sendo a "teoria do ditado". Entretanto, a maioria dos teólogos conservadores atuais não acredita que Deus simplesmente tenha ditado sua Palavra para escribas, como se eles fizessem as vezes de uma secretária ou de um robô. Deus usava os profetas e os controlava, porém sem violar o estilo de redação ou a perso- nalidade deles. A doutrina que mais se aproxima da "teoria do ditado" foi aquela desenvolvida em 1545, no Concílio católico de Trento. Ela expressa, em latim, que as Escrituras são Spiritu Sancto dictante. Todavia, nessa expressão o vocábulo dictante não significa "ditadas", segundo entendemos hoje, mas sim "ditas" ou "transmitidas" pelo Espírito Santo. INFALIBILIDADE E INERRÂNCIA Historicamente, a Bíblia tem sido considerada um texto inspirado, o que quer dizer, em outras palavras, que ela é tida como a autêntica Palavra de Deus. Tradicionalmente também tem sido considerada infalível. Isso é o mesmo que dizer que nas Escrituras não há erros. Em épocas mais recentes, teólogos da linha conservadora têm considerado a crença na Bíblia como "a única regra infalível de fé e prática". Com isso querem dizer claramente que a Palavra de Deus é uma regra perfeita de fé e de conduta. Entretanto, com o surgimento do liberalismo, essa doutrina tem comumente sido reinterpretada para transmitir o significado de que a Bíblia é infalível apenas em questões de fé e moral. Dessa maneira o termo infalível foi "diluído", permitindo a identificação de equívocos no texto bíblico com relação a fatos científicos e históricos. Essa postura é amplamente defendida entre os REVELAÇÃO E INSPIRAÇÃO セ@ __... セMMMMMGMGMMMMMMMMMMセ@ liberais da atualidade. Para combater essa postura "secularizada" com rela- ção às Escrituras, teólogos conservadores consideraram necessário adotar o uso do adjetivo inerrante, para afirmar que a Bíblia não possui erros. Dizer que a Palavra de Deus é infalível deveria ser suficiente. Entretanto, diante da situação mencionada acima, percebemos ser necessário dizer também que ela é inerrante, uma vez que se pretenda declarar que a Bíblia é a perfeita verdade em tudo o que afirma,. Assim, a Bíblia é verbalmente inspirada, infalível e inerrante, no sentido de que seus manuscritos originais não contêm erros. A declaração de fé da Evangelical Theological Society expressa esse pensamento de maneira sucinta, porém precisa: "Apenas a Bíblia, em sua totalidade, é a Palavra de Deus em forma escrita e, portanto, inerrante em seus autógrafos [textos originais]". Muitos consideram essa visão das Escrituras muito restritiva. Dizem que estamos vivendo no século XXI, e que não deveríamos acreditar mais em tais doutrinas. Afirmam que os fatos contrariam essa visão e que os conceitos científicos presentes na Bíblia já caíram em desuso. Não podemos mais acreditar na existência de uma terra plana, com o céu "lá no alto", segundo dizem eles. Afirmam que a crença na existência real de Adão ou em histórias como a de Jonas deve ser negada. Na verdade, declaram que as Escrituras possuem contradições. Essas pessoas defendem que há um elemento humano na Bíblia que não pode ser isento de erro. E chegam à conclusão de que, se insistirmos na questão da inerrância da Palavra de Deus, jamais iremos convencer os indivíduos da era moderna. Apresentaremos algumas respostas breves contra essas críticas e as trataremos com mais detalhes no oitavo capítulo. Primeiramente, temos que dizer que é necessário sermos cautelosos ao refutar qualquer doutrina antiga - principalmente uma que esteja fundamentada no ensino de Cristo e de seus apóstolos - pela simples finalidade de supostamente conven- cermos nossos contemporâneos. Os profetas da Antigüidade receberam a instrução de pregar a Palavra de Deus, quer as pessoas lhes dessem ouvidos ou não (cf. Is 6.9, 10; Jr 20.9 e Ez 2.5-7). Em segundo lugar, é bastante duvidoso que a Bíblia retrate uma terra plana, com o céu "lá no alto". Alguns afirmam que perceberemos essa descrição apenas se interpretarmos as Escrituras literalmente. Entretanto, ninguém, nem mesmo o teólogo conservador mais zeloso que existe, lê a Bíblia tomando- ª em sentido literal. O texto sagrado está repleto de metáforas, parábolas e poesia, que devem ser interpretadas da mesma maneira queas presentes em qualquer outra obra literária. Ninguém levaria ao pé da letra expressões comuns como "morrer de dar risada'' ou "ele tem um coração de ouro'', ou ainda "faz uma eternidade desde que a vi pela última vez". Portanto, a objeção levantada pelos liberais baseia-se numa interpretação literal e errônea de várias passagens poéticas, para daí afirmar que a Bíblia contradiz o senso comum. Todavia, chegaríamos à mesma conclusão se aplicássemos essa sistemática a poesias -..... セ@ INTRODUÇÃO À BÍBLIA セMMMMMMMMMMセM que descrevam a lua, as árvores, as montanhas ou qualquer outro cenário maravilhoso e belo. Muitos se esquecem de que os astrônomos da época neotestamentária já afirmavam que a Terra era redonda. Até mesmo antes, no ano 250 a.C, Eratóstenes mediu a circunferência de nosso planeta com bastante precisão. É curioso o fato de que teólogos mais recentes, que se opõem à idéia de que o céu esttja "lá no alto'', falem sobre a "intervenção" do reino do céu na história. E tão esquisito retratar o céu dessa maneira, como algo à parte da história, quanto é imaginá-lo como algo "lá no alto". Entretanto, como afirmou C. S. Lewis com muita pertinência em seu livro Miracles1, "toda descrição a respeito de coisas que não podemos perceber por meio dos sentidos deve ser considerada metafórica. Não há outra maneira para descrever o que não conseguimos vislumbrar". Portanto, a linguagem bíblica não implica o fato de que o céu, em termos espirituais, esteja "lá no alto" (embora no hebraico, como em nosso idioma, usa-se a mesma palavra para significar o céu no qual estão as estrelas, as nuvens, e o espaço onde os pássaros voam, o qual de fato encon- tra-se "lá no alto"). De maneira semelhante, não se pode dizer que "os confins da terra" sejam o extremo do planeta além do qual caímos no espaço. O vocábulo hebraico traduzido por "terra" também é muito usado com o significado de "território ou região". Os "confins da terra" geralmente representam lugares distantes e "quatro cantos da terra" descreve vastas áreas em qualquer direção (cf. Ez 7.2). Em terceiro lugar, se as pessoas não conseguem crer em uma criação no sentido literal, devem ser suficientemente capazes de provar que o acaso é o responsável pela incrível riqueza e complexidade da vida, ou pela criação desse ser tão singular e dotado de inteligência, propósito e consciência moral a que chamamos de ser humano. Por último, fazer objeção quanto à inerrância das Escrituras com base em supostas contradições é um ato de negligência para com os vastos estudos sobre esses assuntos, realizados desde os dias de Justino, que foi martirizado por sua fé, no ano 148 de nossa era. Ele escreveu em sua obra Diálogo com o judeu Trifõ: "Estou plenamente convicto de que nenhum trecho das Escrituras contradiz outro". É óbvio que a Bíblia contém algumas aparentes complicações e certos conceitos difíceis de compreender. Com toda certeza, podemos esperar algo assim de um documento proveniente de outra cultura que remonta aos tempos antigos. Se o choque cultural é algo previsível quando viajamos para outros países, maior ainda é a possibilidade de encontrarmos aspectos 1 C. S. Lewis,Miracles (Nova York: Macmillan, 1947; publicado no Brasil sob o título Milagres), p. 74. REVELAÇÃO E INSPIRAÇÃO ....___ _... セセMMMMセ@ surpreendentes na Bíblia. Entretanto, muitas dessas dificuldades já foram solucionadas por intermédio de descobertas a respeito de costumes e idiomas antigos. Assim, um cristão bem informado pode atribuir as dificuldades que ainda restam ao mero desconhecimento sobre detalhes do cotidiano e da história da Antigüidade. Problemas de ordem factual continuam a ser elucidados, para satisfação de muitos dos estudiosos atuais. Os cristãos da linha conservadora não aceitam a idéia de que as Escrituras contenham verdadeiras contradições. Assim como os pais da igreja primitiva, eles acreditam que essas supostas contradições devem-se à falta de conhecimento ou a erros de cópia de menor importância. INTERPRETAÇÃO BÍBLICA (HERMENÊUTICA) A Reforma Protestante foi um movimento que incentivou o retorno à Bíblia. Sua ênfase estava em disponibilizar as Escrituras para os leigos. Wycliffe defendera esse princípio anteriormente, mas foram Lutero, Tyndale e outros que realmente levaram adiante o trabalho de traduzir a Bíblia para o idioma das massas. O corolário era que a Palavra de Deus é um livro simples que pode ser lido e compreendido por pessoas comuns. Obviamente a própria história comprovou essa visão. Isso não significa, porém, que qualquer um possa compreender plenamente todas as passagens bíblicas. No entanto, ao lê-las, podemos aprender de Deus e a respeito do seu plano da salvação, e pela fé aceitá-lo. Os juízos do Senhor, porém, são insondáveis e "inescrutáveis, os seus caminhos" (Rm 11.33). Até mesmo referências a incidentes históricos e práticas comuns na Antigüidade são complicadas de entender. Para isso precisamos de informações sobre o cotidiano do mundo daquela época. Portanto uma interpretação detalhada da Bíblia requer o estudo de idiomas, da cultura, da história, etc. Todavia, existe uma nova vertente da hermenêutica que afirma que a Bíblia não é relevante para nós, hoje em dia. Defensores dessa postura dizem que os judeus antigos viviam de maneira muito diferente da nossa, que não se interessavam por exatidão numérica, relações cronológicas, ou precisão histórica. Esses críticos dizem que a Bíblia não apresenta erros sob a ótica dos padrões da época em que foi escrita, mas que revela incorreções se estudada à luz dos padrões científicos atuais. Podemos mencionar muitos fatos para refutar essas afirmações. Primeiro, os antigos não eram tão relapsos assim como alguns pensam. As pirâmides, construídas 500 anos antes de Abraão, são orientadas com base na Estrela Polar, com um desvio de apenas cinco graus! No ano 732 a.C, em Jerusalém, os engenheiros comandados por Ezequias cavaram um túnel sinuoso através de mais de 600 metros de rocha sólida. Começaram o trabalho a partir dos dois extremos e as duas equipes de escavação se encontraram no . ......_ _b INTRODUÇÃO À BÍBLIA セNMMMMMMMMMMMMMMMMMMM meio do caminho. Os dois braços do túnel ficaram desalinhados por pouco mais de meio metro. Em segundo lugar, ninguém é totalmente exato. Fazer cálculos aproximados não é o mesmo que cometer erros. Muitos já afirmaram que a Bíblia continha equívocos históricos, mas em diversas ocasiões, descobertas arqueológicas vieram a demonstrar que as Escrituras estavam corretas. Outros defendem o argumento - já bastante desgastado - de que a Bíblia é irrelevante para nossa época, por ser produto do mundo antigo. Todavia milhões de pessoas, que encontraram conforto, respostas e salvação através das Escrituras, afirmam justamente o contrário. Embora a cultura da Antigüidade seja bastante distinta da nossa, as diferenças não ofuscam as semelhanças. Os seres humanos naquela época viviam, amavam, alimen- tavam-se, ficavam doentes, lutavam, pensavam, pecavam e morriam da mesma maneira que nós hoje. Não é correta a afirmação de que a mente do homem antigo era muito diferente da nossa. E. D. Hirsch chama isso de "falácia do passado inescrutável"2• Ele comenta que há menos diferenças entre os indivíduos da era moderna e os da época antiga, do que entre vários indivíduos que vivem no mundo de hoje. Portanto, a Bíblia é compreensível e também relevante. Ainda há outros, que se denominam evangélicos, que dizem que a Bíblia contém erros. Eles afirmam, porém, que essas incorreções podem ser desconsideradas e que não afetam a mensagem divina. Dizem ainda que a inerrância anularia o fator humano necessário para o registro das Escrituras. Entretanto, essa idéia baseia-se num erro de interpretação. O con- ceito histórico de inspiração verbal e de inerrância defende que Deus, por seu Espírito, age de maneira poderosa nos seres humanos, embora seu trabalho se dê "nosbastidores". O processo de inspiração não vem totalmente de Deus, excluindo assim a participação do homem, pois isso seria uma espécie de ditado espiritual. Em contrapartida, também não é totalmente humano, desconsiderando por sua vez a intervenção de Deus, uma vez que isso seria humanismo. Tampouco podemos dizer que foi realizado metade por Deus e metade pelo homem. Dessa forma graves erros seriam inevitáveis. A resposta correta é que Deus valeu-se de indivíduos, que lançaram mão de toda sua capacidade humana, e agiu através deles de maneira poderosa, embora tenha permanecido totalmente no controle de todo processo. Concluímos então que a inspiração verbal somente é possível porque o Espírito de Deus é perfeitamente capaz de agir dessa maneira. O resultado foi que os autores da Bíblia não escreveram como as pessoas comumente o fazem, mas foram "movidos pelo Espírito Santo" (2Pe 1.21). Como acontece 2 E. D. Hirsch, The Aims of Interpretation (Chigago: University of Chicago, 1976), p. 41. REVELAÇÃO E INSPIRAÇÃO セ@ セᆳ MセセMMMMMMMMMセ@ com a maioria das verdades espirituais, essa doutrina também está envolta em mistério. Entretanto, é um mistério maravilhoso, pois colocou em nossas mãos uma Bíblia inerrante. A IMPORTÂNCIA DAS ESCRITURAS INSPIRADAS O conceito de inspiração verbal ou de inerrância tem sido adotado pelos líderes da igreja desde seu início3• Uma postura tão difundida com certeza é fundamental. Uma das principais ênfases da Reforma era o lema sola scriptura, ou seja, somente a Bíblia. Esse enfoque foi vital para dar vazão àquele grande avivamento espiritual. Devido à influência dos liberais, a doutrina da inerrância praticamente desapareceu da Alemanha, no século XIX, e em muitas partes dos Estados Unidos, no início do século XX. Uma renovação da plena confiança e da crença na Bíblia fomentou o fortalecimento dos evangélicos e da pregação das boas novas no final do século passado. É muito fácil perceber a ligação entre as duas coisas. Sem que haja uma mensagem real e verdadeira vinda do céu, ficamos perdidos num oceano de opiniões humanas e de fraqueza moral. O ensino dos Dez Mandamentos foi eliminado das escolas públicas americanas. Sua autoridade tem sido negada em algumas denominações mais antigas. O resul- tado é desastroso. Entretanto, o discípulo amado há muito deixou a advertência: "Eu, a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro, testifico: Se alguém lhes fizer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os flagelos escritos neste livro; e, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa e das coisas que se acham escritas neste livro" (Ap 22.18, 19). A Bíblia é a Palavra de Deus transmitida a nós. Devemos lê-la, estudá-la, meditar nela, e principalmente, colocá-la em prática. Em seguida, é preciso que nos juntemos a outros que partilham dessa fé preciosa, a fim de garantir que as Escrituras sejam respeitadas e ensinadas até os con- fins da terra. 3 Norman L. Geisler, ed., Inerrancy (Grand Rapids: Zondervan Publishing, 1980), caps. 12 e 13. ......_ セ@ INTRODUÇÃO À BÍBLIA セMMMMMMMMMMセM 1 ENRIQUECENDO O VOCABULÁRIO 1 revelação geral, revelação especial, infalível, inerrante, hermenêutica 1 PERGUNTAS DE RECAPITULAÇÃO 1 1. O que o texto de Romanos 1.18-32 nos ensina com relação à possibilidade de as pessoas conhecerem o Deus verdadeiro por meio de sua revelação na natureza? 2. Se todo ser humano possui uma consciência e, por conseguinte, padrões morais, por que motivo não tem uma vida boa e perfeita? 3. O que o texto de Êxodo 7.1 ensina com relação aos profetas serem porta-vozes de Deus? REVELAÇÃO E INSPIRAÇÃO .....___ __... GM]MMMMGMMMMMMセMMMセ@ 4. Os profetas de Baal, sustentados por Jezabel, realmente falaram em nome de seu deus, ou apenas disseram aquilo que o povo queria ouvir (1Rs 22.6)? 5. Compare os textos de Jó 26.7 e 9.6. Como podemos explicar a aparente contradição entre eles? . ....._ セ@ INTRODUÇÃO À BÍBLIA セNMMMMMMMMMMMMMMM 1 ANOTAÇÕES Por que os cristãos crêem na Bíblia? O Antigo Testamento P or que os cristãos crêem na Bíblia? Podemos elucidar essa questão de várias maneiras. Algumas respostas são mais importantes do que outras. Uma parte delas baseia-se bastante na razão. Já outra parte fundamenta-se na fé. Todas essas respostas são fundamentais e estudaremos esses dois grupos separadamente. Neste capítulo, apresentaremos as respostas relacionadas ao Antigo Testamento. No capítulo seguinte, trataremos das razões pelas quais os cristãos podem crer no Novo Testamento. A APROVAÇÃO DE CRISTO A resposta mais direta e mais clara do porquê de os cristãos crerem no Antigo Testamento é o fato de que Cristo também cria. Confiamos em seus ensinamentos. Para nós, cristãos, o Senhor Jesus é a autoridade máxima em todas as questões. Por meio de milagres, maravilhas e sinais, ele provou, sem deixar dúvidas, que viera de Deus. Através de seu poder, ao ressuscitar dos mortos, demonstrou ser o Filho unigênito de Deus. Paulo resumiu essa doutrina em Romanos 1.4: "E foi designado Filho de Deus com poder, segundo o espírito de santidade pela ressurreição dos mortos". Se duvidarmos dos ensinamentos de Cristo, estaremos questionando tudo o que há de mais precioso e fundamental na fé cristã. Jesus cria no Antigo Testamento e ensinava as verdades que ali se encontram. Isso, por si, já é suficiente. ·--.... セ@ INTRODUÇÃO À BÍBLIA セセMMMセ@ Através do relato bíblico, fica claro que Cristo realmente cria e ensinava que o Antigo Testamento é a Palavra de Deus. Muitos versículos em par- ticular mostram seus ensinamentos com relação a isso, e várias outras passa- gens nos evangelhos revelam, de maneira geral, sua atitude para com as Escrituras Sagradas. A conversa de Cristo com os dois discípulos, na estrada para Emaús depois de sua ressurreição, é de importância fundamental. Leia Lucas 24.13-31. Nesse relato, percebemos claramente que aqueles indivíduos não haviam· acolhido plenamente o testemunho das mulheres, que afirmavam que Cristo havia ressuscitado. A eles Jesus disse: "Ó néscios e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram!" (v. 25). E então passou a citar muitas passagens do Antigo Testamento, mostrando como as Escrituras traziam a previsão daqueles acontecimentos. O texto diz ainda: "E, começando por Moisés, discorrendo por todos os Profetas, expunha- lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras" (v. 27). Notemos como Cristo baseou seus argumentos no livro conhecido como "as Escrituras" e também como "Moisés e os Profetas". Este último é um designativo do Antigo Testamento comumente encontrado nos manuscritos do mar Morto e também no Novo Testamento. Esse termo ou "a Lei e os Profetas" aparece várias vezes no Novo Testamento, com pequenas variações. Jesus estava declarando que os discípulos deveriam ter crido naqueles escritos. O texto de Lucas 16.29-31 apresenta esse ensinamento de maneira veemente. Na parábola sobre o homem rico e Lázaro, Jesus dá grande ênfase à necessidade de crermos na Palavra de Deus. O homem rico foi condenado ao tormento eterno, do qual não havia escapatória nem alívio. Lázaro, o mendigo, por sua vez, encontrava-se em um lugar de bênção eterna. O homem rico rogou que Abraão enviasse Lázaro de volta, para alertar seus cinco irmãos. Cristo cita a resposta do patriarca demonstrando sua óbvia aprovação: "Eles têm Moisés e os Profetas", isto é, o Antigo Testamento. O homem condenado ao tormento eterno implorou novamente que seus irmãos recebessem um testemunho especial e miraculoso. Abraão respondeu: "Se não ouvem a Moisés e aos Profetas, tampouco se deixarão persuadir, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos" (v. 31.). Notemos a força e a pertinência desse argumento. O testemunho do Antigo Testamento é mais valioso do que o de um indivíduo vindo do além. Os líderes judeus, através de suatradição, haviam anulado a palavra do Senhor. Vemos também como essa verdade transparece em outros fatos posteriores. Nem as ressurreições de Lázaro, de Betânia, e a do próprio Cristo foram suficientes para convencer os líderes judeus. O testemunho da Lei e dos Profetas é definitivo, exatamente como Jesus afirmara. Outras passagens bíblicas confirmam isso. Em João 10.33-39, Jesus cita o texto de Salmos 82.6, chamando esse versículo de "vossa lei". Ele prossegue argumentando que, como "a Escritura não pode falhar", ela servia POR QUE OS CRISTÃOS crセem@ NA BÍBLIA? - O ANTIGO TESTAMENTO para justificar o que ele dizia. Não pretendemos aqui considerar a clara afirmação de Cristo quanto à sua divindade. Desejamos, porém, chamar atenção para o fato de que Jesus baseou seus argumentos nas Escrituras, que não podem falhar. Ele fundamentou sua defesa na palavra deuses. Essa única palavra, por constar nas Escrituras, era algo tão certo que Jesus pôde usá-la como base para sua afirmação. "Porque, se, de fato, crêsseis em Moisés, também creríeis em mim; porquanto ele escreveu a meu respeito. Se, porém, não credes nos seus escritos, como crereis nas minhas palavras?" (Jo 5.46, 47). Nessa passagem, Cristo refere-se a Moisés como o autor dos primeiros cinco livros do Antigo Testamento - também chamados Pentateuco-, e afirma que devemos crer nesses escritos. Na verdade, Jesus faz uma estreita ligação entre o fato de crermos nos escritos de Moisés e a necessidade de crermos em suas palavras. Dessa forma, duvidar do Antigo Testamento é o mesmo que duvidar de Jesus. Se cremos nele, também devemos crer no Antigo Testamento. Essas passagens ensinam sobre a importância de crermos no Antigo Testamento, bem como acerca do perigo de negá-lo. Há outras provas disso em Mateus 5.17-19 e Lucas 16.16, 17. Pedimos ao leitor que confira essas passagens. Elas demonstram claramente que Cristo referia-se ao Antigo Testamento ou à "Lei e os profetas". Esse termo era usado para designar, de maneira específica, os 39 livros do Antigo Testamento presentes no cânon que usamos hoje. Esse compêndio, ou "a Lei", é reconhecido como perfeito em todo o seu registro. A declaração mais estupenda em relação ao Antigo Testamento é a seguinte: "E é mais fácil passar o céu e a terra do que cair um til sequer da Lei" (Lc 16.17). Mateus foi ainda mais explícito, afirmando que ela é perfeita até a "menor letra ou o menor traço" (NVI). É interessante comparar essas passagens com o que Jesus disse a respeito de suas próprias palavras. Disse ele: "Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão" (Mt 24.35; Lc 21.33). Notemos que Jesus não se referia à preservação do meio em ·que seriam registradas, pois muitos dos documentos originais já se deterioraram. Ele falava da verdade e do poder eternos presentes na Palavra. Algumas pessoas fazem objeção à afirmação presente em Mateus 5 .17, dizendo que Jesus, na seqüência do texto, contradiz as Escrituras. A respeito disso é suficiente afirmar que tal fato não ocorreu. Cristo não estava contradizendo o Antigo Testamento, mas sim negando a interpretação tradicional, transmitida pelos escribas. No versículo 43, por exemplo, lemos: "Ouvistes que foi dito" [e não "o que está escrito"]: "Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo". Apenas a primeira parte dessa citação (Lv 19.18) consta do Antigo Testamento. O trecho seguinte não está presente nas Escrituras.Jesus contradisse esse acréscimo feito pelos fariseus. Em versículos semelhantes, podemos demonstrar que Jesus não contrariou o Antigo Testamento em si. Ele criticava os acréscimos, os erros de tradução e as ·-.... セ@ INTRODUÇÃO À BÍBLIA セセセセセセセセセセセセ@ deturpações feitas pelos escribas.Jesus honrava o Antigo Testamento como a genuína Palavra de Deus. A atitude de Jesus com relação ao Antigo Testamento também é clara em muitas referências genéricas. Ele citou as Escrituras para expulsar Satanás (Mt 4.4, 7, 10). Deu início ao seu ministério em Cafarnaum, ao ler Isaías na sinagoga (Lc 4.16-19). Ele declarou à congregação reunida: "Hoje, se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir" (Lc 4.21). Disse aos saduceus que estes erravam "não conhecendo as Escrituras" {Mt 22.29). Apelou para o Antigo Testamento com o intuito de justificar suas ações no sábado (Mt 12.5), sua atitude ao expulsar os cambistas do templo (Mt 21.13) e o fato de ter aceitado o louvor do povo em sua entrada triunfal em Jerusalém (Mt 21.16). Declarou que deveria sofrer, como estava previsto nas profecias {Lc 18.31-34). Afirmou também que a ação de Judas havia sido profe- tizada {Me 14.21; Jo 13.18; 15.25). Jesus recusou-se até mesmo a recor- rer à ajuda dos anjos, pois do contrário não "se cumpririam as Escrituras" (Mt 26.54). Suas atitudes como um todo demonstravam que ele era submisso à Palavra. Isso fica claro em um versículo notável: "Para que se cumpram as Escrituras" (Me 14.49). Logo, se Jesus aceitava o Antigo Testamento, quem somos nós para questioná-lo ou negá-lo? Os cristãos devem crer na Palavra de Deus e prestar-lhe obediência. Podemos apresentar várias outras provas. Jesus aceitava os ensinos do Antigo Testamento bem como sua aplicação; a história nele relatada e também as doutrinas ali contidas. Acreditava em tudo o que ali está escrito. Referiu-se à história de Jonas e o peixe (Mt 12.40), à criação de Adão e ·Eva pelas mãos de Deus (Me 10.6), à arca de Noé (Mt 24.38) e à mulher de Ló (Lc 17.32). Em todos os evangelhos e em muitas outras passagens, Jesus sempre nos é apresentado como um indivíduo que cria de maneira plena e coerente no Antigo Testamento. Hoje em dia, até mesmo os estu- diosos mais incrédulos admitem que Cristo realmente cria no Antigo Tes- tamento. Eles é que não têm fé em Jesus. Todavia, para os cristãos, basta o testemunho do Mestre. A APROVAÇÃO DOS APÓSTOLOS Podemos encontrar mais uma confirmação através da atitude dos apóstolos, que foram instruídos por Cristo. Um exemplo magnífico está na segunda epístola de Paulo a Timóteo. Essa foi a última carta do apóstolo e contém muitas advertências sérias. Paulo incumbiu Timóteo de realizar uma tarefa solene: "Prega a palavra" (2Tm 4.2). Para frisar essa ordem, ele relembra a Timóteo que "toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça" (2Tm 3.16). POR QUE OS CRISTÃOS crセem@ NA BÍBLIA? - O ANTIGO TESTAMENTO Alguns têm questionado o significado desse versículo, mas não há justificativa para tanto. A palavra inspirada não significa "soprada", mas literalmente "soprada por Deus", ou seja, declarada pelo Senhor. Isso cancela qualquer dúvida com relação ao propósito das Escrituras. O apóstolo fazia alusão ao Antigo Testamento como um todo, a respeito do qual Timóteo fora instruído por sua mãe, uma senhora judia. A segunda epístola de Pedro é igualmente clara. Prevendo sua morte iminente (2Pe 1.14), ele ansiava por deixar um legado valioso. Para manter seus amigos firmes na fé, o apóstolo lhes recomenda a revelação profética das Escrituras, que jamais "foi dada por vontade humana; entretanto, homens santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo" (2Pe 1.21). Os demais apóstolos citaram o Antigo Testamento da mesma maneira que Jesus. Ele declarou que foi Davi quem escreveu o texto de Salmos 110, inspirado pelo Espírito Santo (Me 12.36). Pedro afirmou que Davi era um profeta e, portanto, previu o advento de Cristo em Salmos 16 (At 2.30, 31). Paulo citou o texto de Isaías 6 e confirmou que o Espírito Santo falara através do profeta (At 28.25). O autor de Hebreus afirma o mesmo: "Havendo Deus [ ... ] falado [ ... ] pelos profetas" (Hb 1.1). A prova é cabal e satisfatória. Cristo e os apóstolos, a quem ele ensinou, aceitavam o Antigo Testamento como a Palavra de Deus, verdadeira e confiável. Notemos que os estudiosos da Bíblia não se valem do chamado "raciocínio circular", ou seja, não provam a veracidadedas Escrituras a partir das próprias Escrituras. Primeiramente, aceitam o Novo Testamento como um relato histórico coerente da vida e dos ensinamentos de Cristo, o que esses escritos claramente são. Em seguida, analisam os ensinamentos de Cristo, examinando a forma como provou ser ele próprio a verdade e a fonte da vida eterna. Todavia, Cristo ensinou ainda que os 39 livros do Antigo Testamento, conhecidos como "a Lei e os Profetas", eram a Palavra de Deus revelada, verdadeira e inerrante em seus mínimos detalhes. A essa doutrina, transmitida pelo próprio Jesus, chamamos inspiração verbal. E, a partir de sua autoridade, nós a aceitamos. Os primeiros cristãos também defendiam esse ensinamento, ao se referirem à Bíblia como infa- lível ou ao falar sobre a inspiração plenária (completa, total) das Escrituras. Esse conceito tem sido acatado pelos cristãos de todas as épocas. E o argumento que lhe serve como base é o melhor de todos: o testemunho do próprio Cristo. A CONFIRMAÇÃO ATRAVÉS DOS FATOS Há muitos outros fatores que confirmam a inspiração divina do Antigo Testamento. Qyalquer pessoa que estude a Bíblia com dedicação deve estar atenta a essas confirmações e ser capaz de avaliá-las. . ....._ セ@ INTRODUÇÃO À BÍBLIA セMMMMMMMMMMMMGMMMMM A confirmação pelos milagres Os milagres realizados pelos profetas de Deus, e relatados nas Escritu- ras, indicam que aqueles homens transmitiram mensagens vindas do Senhor. A confirmação pelas profecias A Palavra de Deus contém centenas de profecias. Muitas delas já se cumpriram, tais como a dispersão do povo judeu e a pregação do evan- gelho por todo o mundo. Outras, como a segunda vinda de Cristo, ainda irão acontecer. Desenvolveremos esse assunto com mais detalhes no oitavo capítulo. Entretanto, agora desejamos chamar a atenção do leitor para o fato de que as profecias são provas do caráter sobrenatural da Bíblia. A razão de sua existência é mostrar que Deus realmente falou à humanidade. O cum- primento de uma profecia era uma das maneiras de confirmar que um profeta realmente falara da parte de Deus, como vemos em Deuteronômio 18.20-22. Micaías profetizou a morte de Acabe em Ramote-Gileade e provou essa revelação pelo cumprimento de suas palavras (lRs 22.28.) Um exemplo de profecia com cumprimento de "longo prazo" foi dado por Isaías (Is 44.26-28), que profetizou que Ciro reconstruiria o templo em Jerusalém. Em geral, essas previsões são espantosamente minuciosas. Outros livros religiosos que não têm relação com a Bíblia não trazem profecias desse tipo. O Alcorão, os livros sagrados do Oriente, os escritos dos filósofos gregos - nenhum deles faz o que a Bíblia faz, através das centenas de profecias nela encontradas. Os céticos buscam explicações para esse fenômeno. Todavia, não há resposta satisfatória, a não ser que as profecias bíblicas são mensagens divinas, que não nos fornecem simples- mente meras impressões e sentimentos, mas sim informações e revelações claras da parte de Deus. A realidade das verdades espirituais A Bíblia lida com realidades celestiais e espirituais tais como conversão, vitória em Cristo, a eficácia da oração e a comunhão cristã. Estas e um sem- número de outras realidades divinas dão testemunho de que a Bíblia é a Palavra de Deus. O testemunho da história Outro argumento é que, por séculos, muitos indivíduos têm dado testemunho coerente do único Deus verdadeiro, mesmo quando outras culturas antigas estavam profundamente envolvidas com o politeísmo ou perdidas na iniqüidade. Se julgarmos por seus frutos, com certeza a Bíblia vem de Deus. POR QUE OS CRISTÃOS CRÊEM NA BÍBLIA? - O ANTIGO TESTAMENTO A CONFIRMAÇÃO DA FÉ No início deste capítulo afirmamos que algumas pessoas crêem na Bíblia pela razão. Isso, por si só, não é suficiente. A verdade é que nem mesmo os melhores argumentos são capazes de convencer um incrédulo. Não obstante, a fé proveniente de Deus é prova cabal de que a Bíblia é verdadeiramente a Palavra do Senhor. Isso não significa que os argumentos apresentados anteriormente sejam fracos ou inadequados, mas simplesmente que quem não está salvo encontra-se cego para o evangelho. "Coisas espirituais [ ... ] se discernem espiritualmente" (1Co 2.13, 14). Um daltônico não consegue diferenciar o verde do vermelho. Um cego não é capaz de enxergar a luz do sol. Apenas quando o Espírito de Deus age em nosso coração não-rege- nerado é que nos tornamos capazes de crer plenamente na Bíblia. Aqueles que não são salvos podem crer que as Escrituras trazem relatos confiáveis ou conselhos salutares. Podem até se sentir impressionados pelo valor moral de seus escritos. Entretanto, apenas a operação do Espírito Santo em seu interior pode levá-los a enxergar a Bíblia exatamente como ela é-a revelação de Deus para a humanidade. Isso é o que chamamos de testemunho interior do Espírito Santo no homem. Entretanto, devemos ser cautelosos e compreender essa doutrina corretamente. Os cristãos não ouvem uma voz que diz: "Esse livro de capa preta foi inspirado por Deus". O Espírito não dá testemunho e não nos revela nada que vá além do que está escrito na Bíblia. Em vez disso, traz confirmação através da Palavra que acolhemos em nosso coração. Como disse Abraham Kuyper, o Espírito testemunha ao "âmago" do ser humano, falando dos fatos básicos de nossa salvação. A Bíblia nos mostra o caminho da salvação. O Espírito nos concede olhos para que a vejamos, aceitemos e valorizemos. O Espírito Santo faz nascer em nós uma fé genuína através da pregação e do ensino do evangelho. Ouvimos as boas novas - a vida, a morte e a ressurreição de Jesus. Somos convencidos do pecado pelo Espírito de Deus e persuadidos a crer que Cristo é o único Salvador. "Aquele que crê no Filho de Deus tem, em si, o testemunho. [ ... ] E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está no seu Filho. Aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de Deus não tem a vida" (1Jo 5.10-12). Assim nos convertemos e somos capacitados a confiar em Cristo e a crer em seus ensinamentos. Um deles é que a Bíblia é verdadeiramente a Palavra de Deus. Assim, quem crê se torna filho de Deus, um cristão. Nós, cristãos, "crescemos na graça" ao ler e estudar a Bíblia. Cada vez mais percebemos que as Escrituras são divinas. Pela fé e pela razão aceitamos . ....._ セ@ INTRODUÇÃO À BÍBLIA セMMMMMMMMMMMM as verdades bíblicas a respeito de Deus, da humanidade, do pecado e do Salvador. O Espírito Santo usa dessas provas infalíveis para levar pecadores a Cristo e abrir seus olhos para "crer tudo o que os profetas disseram". "Estas coisas vos escrevi, a fim de saberdes que tendes a vida eterna, a vós outros que credes em o nome do Filho de Deus" (1Jo 5.13). 1 ENRIQUECENDO O VOCABULÁRIO 1 Inspiração plenária, inspiração verbal. 1 PERGUNTAS DE RECAPITULAÇÃO 1 1. Usando uma concordância bíblica, localize todas as ocorrências no Novo Testamento da expressão "Moisés e os Profetas" ou "a Lei e os Profetas". 2. セ。ャ。@ prova de que Jesus transmitiu o mesmo ensinamento a respeito do Antigo Testamento antes e depois de sua ressurreição? 3. Decore dois ou três textos que demonstram que Jesus cria nas Escri- turas. POR QUE OS CRISTÃOS CRÊEM NA BÍBLIA? - O ANTIGO TESTAMENTO 4. Qyais as suas razões para crer que o Antigo Testamento é a Palavra de Deus? 5. O que Jesus quis dizer com a afirmação de Mateus 5.17? 6. Prepare um debate imaginando uma situação em que um cético desafia um cristão com a pergunta: "Por que eu deveria crer na Bíblia''? . ....._ セ@ INTRODUÇÃO À BÍBLIA セセMMMMMMMBMMGセ@ 1 ANOTAÇÕES Por que os cristãos crêem na Bíblia? O Novo Testamento O s cristãos que acreditam no Antigo Testamento geralmente não têm dificuldade em crer no Novo. Isso é perfeitamente compreensível. O Novo Testamento traz o relato do evangelho de Cristo e muitos deta- lhes sobre a fundação e o desenvolvimento da igreja primitiva. Como ele foiescrito em épocas mais recentes do que o Antigo Testamento, há testemunho abundante por parte de indivíduos contemporâneos dos autores ou de outras pessoas que viveram pouco depois deles. Todos os que tiveram os olhos abertos pelo Espírito Santo para perceber as verdades do Antigo Testamento também irão acolher pron- tamente o Novo. Entretanto, é importante apresentar provas explícitas de nossa crença e estudar as evidências que apontam para as verdades presentes no Novo Testamento. Ademais, a compreensão de seu conteúdo e de sua origem irá se somar ao nosso conhecimento sobre a formação do Antigo Testamento. No caso deste último, é possível encontrar citações de Cristo mostrando que a primeira parte da Bíblia é perfeita e completa. Entretanto, o mesmo não se dá com o Novo Testamento, pois foi inteiramente escrito após a ascensão de Jesus. Portanto, devemos estabelecer os princípios que sustentam nossa crença no Novo Testamento a partir do que Cristo disse previamente e também através do que os apóstolos registraram sobre os ensinamentos do Mestre. . ......._ セ@ INTRODUÇÃO À BÍBLIA セMMMMMMMMMMセM O TESTEMUNHO DOS APÓSTOLOS A defesa dos apóstolos com relação a esses assuntos é bastante explícita. Alguns céticos afirmam que eles não tinham idéia de que seus escritos seriam recebidos, compilados e estimados como Palavra de Deus. Na opinião dessas pessoas, Paulo escreveu suas cartas com uma disposição muito seme- lhante à de qualquer um de nós, e foi apenas em épocas posteriores que elas foram reconhecidas como verdade divina e reunidas em um único volume. Essa visão nega que os apóstolos tenham recebido dons espirituais. Nega também que seus escritos tenham sido inspirados por Deus. Tal ceticismo faz oposição às afirmações decorrentes dos próprios apóstolos de que estavam escrevendo intencionalmente, para que seus leitores cressem neles e obedecessem. Por último, os críticos negam fatos históricos claros que pro- vam que essas epístolas e livros foram recebidos e estimados não apenas centenas de anos mais tarde, mas já durante a era apostólica - como demons- tram as provas que temos atualmente. Todavia, é necessário observar as afirmações dos apóstolos com atenção. Seus argumentos dizem respeito basicamente a problemas que haviam surgido quando igrejas desobedientes se rebelaram contra seus mestres. É bem sabido que isso aconteceu, principalmente em Corinto. Qyais as alegações de Paulo em defesa de sua autoridade dirigidas aos habitantes daquela cidade? Paulo De maneira sucinta, porém enfática, Paulo afirmou estar falando e escrevendo a Palavra de Deus. A epístola de 1 Coríntios foi especialmente escrita para uma igreja dividida, pecaminosa e rebelde. Alguns de seus membros afirmavam ter dons espirituais, mas não demonstravam isso em suas atitudes. Nos capítulos 12 a 14, Paulo apresenta diretrizes para o uso dos dons espirituais. Ele conclui com um lembrete bastante incisivo: "Porventura, a palavra de Deus se originou no meio de vós ou veio ela exclusivamente para vós outros? Se alguém se considera profeta ou espiritual, reconheça ser mandamento do Senhor o que vos escrevo" (1Co 14.36, 37). Nessa passagem, o apóstolo afirma claramente ter recebido autoridade de Deus para escrever suas cartas. Em 1 Tessalonicenses, sua primeira epístola, Paulo escreve de maneira semelhante. Ele elogia os cristãos de Tessalônica por sua fidelidade e declara terem recebido suas instruções como Palavra de Deus, o que realmente eram, e não palavras de homens. Pouco depois, escreveu a segunda epístola aos tessalonicenses porque os membros daquela igreja haviam interpretado erroneamente a doutrina da segunda vinda de Cristo. Naquela carta, Paulo fala desta maneira: "Caso alguém não preste obediência à nossa palavra POR QUE OS CRISTÃOS CRÊEM NA BÍBLIA? - O NOVO TESTAMENTO dada por epístola, notai-o; nem vos associeis com ele, para que fique envergonhado" (2Ts 3.14). O apóstolo trazia a Palavra de Deus às igrejas e esperava que os cristãos cressem nela e obedecessem a ela como tal. O segundo capítulo de 1Coríntios também é uma passagem de grande impacto. Em defesa de seu ministério, Paulo declara que falou "em demons- tração do Espírito" (v.4), apresentando "a sabedoria de Deus" (v.7), que lhe fora transmitida "pelo Espírito" (v.10). Ele conhecia as revelações de Deus (v.12), e as apresentava não através de ensino humano, mas em palavras "ensinadas pelo Espírito" (v.13). É possível que isso passe despercebido, porque Paulo usa o pronome "nós" em algumas partes da carta. Esse pronome possivelmente referia-se a Paulo e aos outros apóstolos, como em 1Coríntios 4.9. Entretanto, o mais certo é que ele tenha-se valido do plural de modéstia para falar de si mesmo. Em 2Coríntios 10.8, ele afirma que aquele grupo detinha a mesma autoridade ("nossa autoridade") que ele alegava possuir ("a autoridade que o Senhor me conferiu"), como mencionou em 2Coríntios 13.10. Pedro Pedro também acreditava estar escrevendo sob a inspiração de Deus. Em 2Pedro, sua última carta, ele enfatiza a credibilidade do Antigo Testamento. O apóstolo afirma também que o dom da inspiração, concedido a ele e aos demais apóstolos, era idêntico ao dom que os autores do Antigo Testamento receberam: "Para que vos recordeis das palavras que, anteriormente, foram ditas pelos santos profetas, bem como do mandamento do Senhor e Salvador, ensinado pelos vossos apóstolos" (2Pe 3.2; veja também 2Pe 1.16). Essas afirmações comprovam que devemos aceitar e crer nas Escrituras. Pedro aceitou os escritos de Paulo Ainda mais diretas são as referências que Pedro faz ao apóstolo Paulo: "Como igualmente o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles" (2Pe 3.15, 16). Nesse trecho, Pedro confirma que Paulo redigiu Escrituras que, à semelhança do Antigo Testamento, também eram passíveis de ser deturpadas, mas apenas para prejuízo dos leitores. Ele fez menção específica de certas "epístolas" de Paulo. Essa passagem na qual Pedro refere-se aos escritos de seu colega apóstolo é notável, e essa foi, provavelmente, a primeira vez que se usou o termo "Escrituras" ao mencionar um texto neotestamentário. Outra -... セ@ INTRODUÇÃO À BÍBLIA セLMMMMMMMセMMセ@ ocorrência desse uso parece estar presente em 1Timóteo 5.18, onde lemos: "Pois a Escritura declara: Não amordaces o boi, quando pisa o trigo. E ainda: O trabalhador é digno do seu salário". Essa citação consiste de duas partes. A primeira vem de Deuteronômio 25.4. A segunda é idêntica (no original grego) à passagem de Lucas 10.7. Parece bastante natural acreditar que Paulo está citando o Antigo Testamento e também o terceiro evangelho, referindo-se a ambos como "Escrituras". A terceira passagem dessa mesma natureza encontra-se em Judas 17, 18. Ali o autor relembra seus leitores "das palavras anteriormente proferidas pelos apóstolos de nosso Senhor Jesus Cristo". Ele cita quase literalmente 2Pedro 3.3. Esse trecho reforça a autoria apostólica da carta e sua composição em data anterior, demonstrando também o grande apreço que as pessoas daquela época tinham pelos apóstolos. João O testemunho derradeiro é do apóstolo João. Ao escrever seu evangelho, ele se identifica como o discípulo que se reclinou sobre o peito de Jesus durante a última ceia.João afirma que seus escritos e seu testemunho são verdadeiros (Jo 21.20-24). Em sua primeira epístola, João também apresenta uma argumentação detalhada do que testemunhara e afirma estar escrevendo uma mensagem recebida do próprio Deus (1Jo 1.1-5). Ele adverte seus leitores para a existência de falsos profetas e insta aos cristãos que usem de discernimento (4.1). Sem hesitação, escreve:"Nós somos de Deus; aquele que conhece a Deus nos ouve; aquele que não é da parte de Deus não nos ouve" (1Jo 4.6). Em seu comentário bíblico, Meyer declara que essa passagem ensina que João e os demais apóstolos falavam da parte de Deus. O TESTEMUNHO DE APOCALIPSE Provavelmente os argumentos mais enfáticos a respeito do Novo Testamento sejam os que João apresenta em Apocalipse. Muitos cristãos aplicam esses versículos à Bíblia como um todo, mas sua referência primordial é ao livro de Apocalipse. Todavia, podemos interpretar esses princípios de maneira que englobem todo o conjunto das Escrituras. O livro que se inicia com as palavras "revelação de Jesus Cristo [ ... ] ao seu servo João" traz uma saudação (1.4, 5), assim como vemos nos escritos paulinos. O autor garante bênçãos a todos os que lerem, ouvirem e obedecerem ao que ali fora registrado (1.3). Profere também uma pesada maldição sobre os que ousarem fazer "qualquer acréscimo" ou "tirar qualquer coisa das palavras do livro desta profecia" (22.18, 19). É um anjo que esclarece a razão disso: "Estas palavras POR QUE OS CRISTÃOS CRÊEM NA BÍBLIA? - O NOVO TESTAMENTO são fiéis e verdadeiras. O Senhor, o Deus dos espíritos dos profetas, enviou seu anjo para mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer ( ... )Bem-aventurado aquele que guarda as palavras da profecia deste livro" (22.6, 7). Mais adiante (v. 10), o Senhor ordena a João que não sele esses escritos proféticos. Notemos o contraste entre essa afirmação e aquela regis- trada em Daniel 12.9. Ali, Deus diz ao profeta que "estas palavras estão encerradas e seladas até ao tempo do fim". Na verdade, o livro de Apocalipse é colocado em pé de igualdade com o Antigo Testamento. Essa era a interpretação dos apóstolos e deve ser também a nossa atitude com relação ao Novo Testamento como um todo. O OFÍCIO APOSTÓLICO Como era possível que os apóstolos fizessem referência a seus próprios escritos como a Palavra de Deus? Encontramos a resposta na atitude de Cristo ao escolher pessoalmente os Doze e no fato de ter prometido que receberiam o Espírito Santo, para que pudessem realizar sua obra especial como mestres da Palavra de Deus. Consideremos a grandeza do ofício apostólico. O próprio Cristo selecionou os Doze, após uma noite de intercessão (Lc 6.12, 13). Mais tarde, disse-lhes: "Assentareis em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel" (Mt 19.28). Os nomes dos apóstolos estarão gravados nas doze pedras que compõem o alicerce da Nova Jerusalém (Ap 21.14). A igreja foi edificada "sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular" (Ef 2.20). Os apóstolos são os primeiros na hierarquia eclesiástica {lCo 12.28). Estes, juntamente com os profetas vete- rotestamentários, foram ordenados para desfrutar tal privilégio. Os apóstolos testemunharam a ressurreição de Cristo (At 1.22), e Jesus prometeu que seu Espírito revelaria a Palavra de Deus a eles. No registro de João sobre a última ceia, bem como sobre fatos posteriores, o apóstolo apresenta muitas promessas preciosas (Jo 13-17) Em alguns casos, vemos uma clara distinção entre os apóstolos e os demais cristãos. Em João 17.20, Jesus orou, dizendo: "Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra". Os relatos de João 14.26 e 16.13 são passagens igualmente marcantes. Na primeira, Jesus prometeu o Espírito Santo aos apóstolos. Embora o Espírito habite em todos os cristãos, aquele versículo garante especificamente que o Consolador viria sobre os apóstolos para que se lembrassem das palavras que Jesus ensinara. É perfeitamente possível que tivessem tomado nota das mensagens de Jesus. Naquela época, já havia uma técnica de escrita simplificada. Pode ser que os apóstolos a tenham utilizado. Qyer isso tenha acontecido, quer --.... セ@ INTRODUÇÃO À BÍBLIA セセMMMMMMMMMMM não, Jesus prometeu o Espírito Santo especificamente para trazer à lembrança de seus seguidores os fatos do evangelho. Ele os guiaria a toda a verdade (Jo 16.13). Alguns cristãos defendem que essa é uma promessa que se estende à igreja como um todo. Entretanto, o contexto limita clara- mente aos apóstolos a promessa da inspiração e revelação do Espírito Santo. O Espírito de Deus lhes fora prometido e, como disse Jesus, "vos anun- ciará as coisas que hão de vir". Essa não é uma revelação geral, que o Espírito de Deus traz a todos os cristãos, mas uma promessa específica feita aos Doze. Isso corrobora a autenticidade do Novo Testamento. Nunca deixemos de nos maravilhar diante da maneira como ele foi escrito. Deus, que falara através dos profetas, enviou seu Filho para nossa salvação. Após a ascensão de Cristo, a igreja neotestamentária foi estabelecida milagrosamente no dia de Pentecostes. Foi o próprio Cristo quem escolheu os fundadores e líderes dessa igreja. Eles eram os apóstolos, que receberam o dom da inspiração e a capacidade de realizar milagres que confirmariam seu ofício. Eles afirmavam falar e escrever a Palavra de Deus da mesma maneira que os profetas do Antigo Testamento. Referiam-se aos escritos uns dos outros com o termo "as Escrituras". Insistiam que esses registros deveriam ser lidos e obedecidos. Falavam em nome de Cristo e ensinavam com a autoridade do Mestre. Historicamente, todos os segmentos da igreja têm sustentado que devemos acatar as palavras dos apóstolos e de seus colaboradores (entre eles Marcos e Lucas) como Palavra de Deus. Dessa maneira, podemos justificar plenamente nossa declaração de que o Novo Testamento, exatamente como o Antigo, foi escrito por homens de Deus, movidos pelo Espírito Santo. O TESTEMUNHO DOS PAIS DA IGREJA O grande apreço pelos apóstolos era compartilhado também pelos chamados pais da igreja, que escreveram pouco depois da era apostólica. Clemente, bispo de Roma Em 95 d.C, Clemente, bispo da igreja em Roma, escreveu uma carta aos cristãos de Corinto. Nela, menciona os "ilustres apóstolos" Pedro e Paulo. Clemente diz que pregavam o evangelho de Cristo e foram confirmados na palavra com total garantia por parte do Espírito Santo. Defendia que ambos detinham perfeito conhecimento dos assuntos da igreja. Por último, acrescenta que "o bendito apóstolo Paulo" escreveu aos coríntios "sob a inspiração do Espírito", a respeito da oposição de certas facções contra eles (isto é, Pedro e Paulo) e contra "um homem que eles haviam aprovado" (Apolo). Fica óbvio que Clemente respeitava os apóstolos e cria em seus escritos. POR QUE OS CRISTÃOS CRÊEM NA BÍBLIA? - O NOVO TESTAMENTO Inácio de Antioquia Inácio foi contemporâneo de Clemente e bispo da igreja de Antioquia. Morreu como mártir entre 107 e 117 d.C. Em sua viagem para Roma, onde seria executado, escreveu セ・エ・@ epístolas sucintas para diferentes igrejas e pessoas. Em várias ocasiões, diferenciou-se dos apóstolos, considerando-os em maior estima. Em sua carta aos efésios, por exemplo, refere-se a Paulo, que também lhes havia escrito uma epístola, chamando-o "o santo, o mar- tirizado, o que é merecidamente mais feliz". Aos romanos, Inácio escreveu: "Não vos entrego mandamentos, como fizeram Pedro e Paulo. Eles eram apóstolos; eu, porém, não passo de um condenado". Policarpo Policarpo também foi um famoso mártir que deu a vida pela causa de Cristo, já em idade avançada. Ele morreu aproximadamente em 155 d.C., tendo sido cristão (como ele mesmo disse) por oitenta e seis anos. Em sua juventude, conheceu o apóstolo João. Inácio destinou uma de suas epístolas a Policarpo. A epístola de Policarpo aos filipenses, escrita por volta de 118 d.C., contém citações de cerca de metade dos livros do Novo Testamento. Ele diz que os apóstolos são semelhantes aos profetas do Antigo Testamento. Declara também que não conseguia "alcançar a sabedoria do bendito e glorioso Paulo", que também havia escrito aos cristãos de Éfeso. Ele fez referência ao martírio de Inácio, mas reservoua categoria de apóstolo apenas a Paulo e a outros como ele. Outros pais da igreja Outros autores, entre eles Papias, Ireneu e Tertuliano, deixaram referências mais específicas sobre esses assuntos, de maneira que temos um testemunho bastante amplo dos homens da geração pós-apostólica. Cronologia de alguns pais da igreja e de escritos importantes 95 d.C. 117 d.C. 117 d.C. 130 d.C. 145 d.C. 145 d.C. 160 d.C. 160 d.C. 170 d.C. 200 d.C. Clemente de Roma Inácio Epístola de Policarpo Epístola de Barnabé Papias Justino Mártir; Barnabé; Hermas Pastor de Hermas Didaquê ou Ensino dos Doze Apóstolos Ireneu, Cânon Muratoriano Tertuliano, Clemente de Alexandria ·--. _k INTRODUÇÃO À BÍBLIA セNMMMMMMMMMセ@ 1 enriquZZZLセdo@ O VOCABULÁRIO l Apóstolo, Clemente, pais da igreja, Inácio, Policarpo, Apocalipse. 1 pergセセュAZGュA@ DE RECAPITULAÇÃO l 1. Compare a lista de apóstolos registrada em Mateus 10.2-4, Lucas 6.14-16 e Atos 1.13, 26. 2. Olie argumento Paulo apresenta em lCoríntios 2.13 e lTessalo- nicenses 2.13 para afirmar que seus escritos são verdadeiros? O que ele diz com respeito à inspiração de seus ensinamentos públicos? 3. Oliais as duas passagens do Novo Testamento que fazem referência a outros livros neotestamentários como "Escrituras"? 4. Para ser considerado apóstolo um indivíduo devia ter sido testemu- nha da ressurreição de Jesus. Como foi possível a Paulo receber esse título (lCo 15.8, 9)? POR QUE OS CRISTÃOS CRÊEM NA BÍBLIA? - O NOVO TESTAMENTO 5. Hoje em dia, alguém pode ser chamado apóstolo? セ・@ razões o lei- tor pode apresentar para defender sua resposta (At 1.22)? 6. セ・@ maldições sobrevirão a quem alterar o texto das Escrituras, segundo o livro de Apocalipse? O que está prometido aos que lerem esse livro e guardarem seus ensinamentos? 7. セ・@ razões há para crermos que o Novo Testamento foi inspirado por Deus, à semelhança do Antigo? 8. Estude a cronologia apresentada acima. 1 ANOTAÇÕES Quem escreveu o Antigo Testamento? D eus poderia ter comunicado sua vontade e suas obras a nós de inú- meras maneiras. Ele escolheu usar o relato bíblico para nos revelar sua sabedoria e verdade. Como sabemos, antes dos dias de Moisés, Deus falou a Adão, Caim, Enoque, Noé, Abraão e vários outros. Esses homens comunicaram a Palavra de Deus aos seus semelhantes através da linguagem oral. Suas mensagens aparentemente não foram registradas por escrito. Na verdade, alguns deles proferiram seus discursos em épocas em que ainda nenhuma forma de escrita havia sido inventada. Mais tarde, porém, Deus comissionou alguns indivíduos para que escrevessem a mensagem que lhes entregara. Estudando a doutrina da inspiração, percebemos que Deus registrou as Escrituras sagradas por intermédio de seu Espírito. A Bíblia é uma biblioteca divina compilada por vários autores humanos. Nosso propósito é estudá-los, mas devemos sempre nos lembrar de que a Palavra de Deus é um livro único, escrito por um único autor, o Espírito Santo. Ela apresenta um tema principal (a redenção da humanidade) e uma grandiosa seqüência de acontecimentos (as obras de Deus para a salvação do ser humano pecador). MOISÉS O primeiro autor das Escrituras foi Moisés, sobre quem Deus afirmou: "Boca a boca falo com ele, claramente e não por enigmas" (Nm 12.8). Ele . ......_ セ@ INTRODUÇÃO À BÍBLIA セセMMMセ@ escreveu os cinco primeiros livros aos quais chamamos Pentateuco ou Lei de Moisés. O termo hebraico para designar esses livros é Torá (Lei). Moisés também foi o autor do salmo 90. Nunca devemos menosprezar nem minimizar a ação do Espírito Santo, quando mencionamos a genialidade de Moisés, porque foi o Senhor quem lhe conferiu inteligência e instruções. Qiiando Deus deseja realizar algum propósito, escolhe o homem certo para fazê-lo. E Moisés foi um desses homens, pois foi colocado por Deus no limiar de uma nova era. Até então, Deus havia lidado com indivíduos e famílias. Agora, de acordo com o que prometera a Abraão, faria de Israel uma nação. Através da providência divina, Moisés, que nasceu sob um regime de escravidão, "foi educado em toda a ciência dos egípcios" (At 7.22). Ele aprendera com sua mãe a respeito do Deus dos israelitas, pois ela cuidou de seu próprio filho como ama contratada pela filha do faraó. Na corte real, Moisés aprendeu a ler e a escrever e foi instruído na cultura egípcia. Falava a língua do Egito e o acadiano (da Babilônia), além do hebraico, sua língua materna. Ele provavelmente estudou os clássicos babilônios, administração pública e ciência militar. Mais tarde, ele se valeria de todo seu preparo e de sua capacidade nata, quando Deus faria dele o líder da nação, o juiz de Israel, o capitão do exército, o arquiteto do taber- náculo, o poeta do povo e o profeta e legislador divino. Moisés foi real- mente um vaso escolhido, um homem de Deus! Moisés nasceu provavelmente em 1520 a.C., durante um dos períodos mais prósperos da história egípcia. Seus escritos são conhecidos e admirados em todo o mundo. Foi ele quem deu início à extensa linhagem dos profetas do Antigo Testamento, que revelaram a vontade de Deus a Israel por mais de mil anos. A LINHAGEM PROFÉTICA Deus providenciou certos critérios pelos quais os profetas deveriam ser provados. (Dt 13 e 18.) Os falsos profetas eram aqueles cuja mensagem não estava de acordo com a verdadeira revelação já entregue, cujas predições não se cumpriam. O texto de Êxodo 4.1-5 demonstra que os milagres também serviam para dar crédito à mensagem do profeta. Através desses parâmetros, o povo de Israel podia saber quem eram os genuínos arautos de Deus e quais eram os falsos. Todos os verdadeiros profetas representavam Jesus Cristo, o grande Profeta que havia de vir. Não sabemos os nomes de todos eles, mas muitos nos são conhecidos. Samuel escreveu pelo menos um livro a respeito do reino, na época em que Saul fui ungido rei (lSm 10.25). Ele registrou a história do reinado davídico (1Cr29.29) e fez muitas profecias. Davi, excelente cantor e rei extraordinário, também foi profeta (At 2.30). Escreveu cerca de metade do livro de Salmos. QUEM ESCREVEU O ANTIGO TESTAMENTO? セ@ __.-· セセMGMMMMMMMセ@ Entre os dias de Davi e os de Malaquias houve dezenas de outros profetas. Nesse grupo encontram-se Elias e Eliseu, por volta de 850 a.C.; Isaías, Oséias e Joel, por volta de 725 a.C.; Jeremias, Naum, Habacuque e Sofonias, por volta de 600 a.C.; Ezequiel, Daniel e outros, durante e após o cativeiro, em cerca de 400 a.C. Houve ainda uma sucessão de outros profetas menos conhecidos, que registraram a história da época. Seus nomes figuram em vários versículos nos livros de 1e2Crônicas. Durante o reinado de Davi (1Cr 29.29), lemos sobre Samuel, Natã e Gade. No tempo de Salomão (2Cr 9.29), há referência a Aías e Ido. Em 2Crônicas 12.15, aparece Semaías em meio ao relato sobre Roboão. Entre outros profetas encontram-se Jeú, filho de Hanani, que escreveu sobre o rei Josafá (2Cr 20.34), e Isaías, que registrou os fatos do reinado de Uzias e Ezequias (2Cr 26.22 e 32.32). Além desses, muitos outros profetas também são citados. A maioria dos livros do Antigo Testamento foi escrita por profetas cujos nomes conhecemos. Os outros estão incluídos na "palavra profética" confirmada (2Pel.19) e nos "profetas que se lêem todos os sábados" (At 13.27). Mediante o exame do Antigo Testamento revelam-se muitos detalhes dos escritos desses indivíduos. A história de Israel que vai do período do Pentateuco até a era davídica está relatada nos livros deJosué,Juízes, Rute e possivelmenteJó. Não sabemos com certeza quem escreveu o livro de Josué, mas provavelmente ele é o autor de todo o livro ou de pelo menos parte dele. Ele era cheio do Espírito (Dt 34.9), o povo o respeitava, à semelhança de Moisés (Js 4.14), e ele escreveu as palavras da aliança no Livro da Lei de Deus (Js 24.26). Ele se valia do "jargão" profético: "Assim diz o SENHOR" (Js 24.2). Um dos livros apócrifos,
Compartilhar