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2012 AutomAção IndustrIAl Prof. Rafael Martelli Copyright © UNIASSELVI 2012 Elaboração: Prof. Rafael Martelli Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 670 R376a Martelli, Rafael Automação industrial / Rafael Martelli. Indaial : Grupo UNIASSELVI, 2012. 225 p. il. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7830-376-1 1. Automação industrial 2. Engenharia industrial I. Centro Universitário Leonardo da Vinci II. Núcleo de Ensino a Distância III. Título Impresso por: III ApresentAção Prezados(a) Acadêmicos(a) A automação industrial é hoje sem dúvida, um grande nicho de mercado, envolve projetos milionários e cada vez mais ocorrem avanços e melhorias, a cada dia surgem novos produtos e tecnologias. O profissional que se dedica exclusivamente à automação industrial, seja na elaboração de projetos ou na execução destes, deve estar constantemente atualizando-se, visitar eventos e participar de feiras onde ocorrem constantemente a apresentação de novas tecnologias. O profissional da área de automação deve investir constantemente em estudos e compra de equipamentos didáticos que o auxilie na elaboração dos projetos ou na execução. É fundamental também estar atualizado com as novas tecnologias de softwares para a indústria desde os chamados supervisórios (programação de auto nível) aos softwares de controle como o LADER, por exemplo, de baixo nível. O conteúdo deste caderno traz uma abordagem ampla sobre todos os conceitos da automação industrial, desde os componentes básicos de entrada e saída, atuadores e sensores até os softwares de supervisão e gerenciamento de uma planta industrial e conclui com uma abordagem sobre a segurança nas redes industriais. Portanto, você acadêmico, terá um longo trabalho pela frente, pois ademais de concluir esta disciplina, deverá manter-se constantemente atualizado, participar de eventos nesta área e até mesmo frequentar cursos de aperfeiçoamento, se quiser optar por esta área da Engenharia de Produção. Gostaria de aproveitar este espaço para fazer um agradecimento todo especial à minha esposa Daniela, que colaborou arduamente na elaboração deste Caderno de Estudos, pela sua enorme compreensão nos momentos em que estive ausente. Desejo a vocês, acadêmicos, ótimos estudos e sucesso a sua carreira profissional. São os votos do Professor Rafael Martelli. IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA V VI VII UNIDADE 1 – ENGENHARIA DE AUTOMAÇÃO ......................................................................... 1 TÓPICO 1 – ENGENHARIA DE AUTOMAÇÃO ............................................................................. 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 DINÂMICA DE SISTEMAS ............................................................................................................... 4 3 SISTEMAS DINÂMICOS ................................................................................................................... 5 3.1 CLASSES DE SISTEMAS DINÂMICOS .................................................................................... 6 3.2 ELEMENTOS DOS SISTEMAS DINÂMICOS ............................................................................ 7 3.2.1 Elementos Externos ................................................................................................................ 7 3.2.2 Elementos Internos ................................................................................................................. 8 3.3 SISTEMAS DINÂMICOS CONVENCIONAIS .......................................................................... 8 3.4 SISTEMAS DINÂMICOS A EVENTOS DISCRETOS ................................................................. 10 4 LINGUAGENS FORMAIS E AUTÔMATOS .................................................................................. 12 5 MODELAGEM DE SISTEMAS A EVENTOS DISCRETOS ....................................................... 13 6 CONTROLE ........................................................................................................................................... 14 7 CONTROLE DINÂMICO ................................................................................................................. 15 8 CONTROLE DE EVENTOS OU CONTROLE LÓGICO ............................................................ 16 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 19 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 20 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 21 TÓPICO 2 – ARQUITETURA DA AUTOMAÇÃO INDUSTRIAL ............................................... 23 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 23 2 PIRÂMIDE DE AUTOMAÇÃO ........................................................................................................ 25 3 INTRODUÇÃO A ÁREAS DE INFORMÁTICA INDUSTRIAL ............................................... 26 3.1 MES - SISTEMA DE EXECUÇÃO DA MANUFATURA ...................................................... 27 3.2 PIMS – PLANT INFORMATION MANAGEMENT SYSTEM ............................................ 29 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 31 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 33 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 34 TÓPICO 3 – ESTRUTURA DE MÁQUINAS - FERRAMENTAS ................................................ 35 1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................................... 35 2 MÁQUINAS FERRAMENTAS CONVENCIONAIS ......................................................... 36 3 MÁQUINAS CNC .............................................................................................................................. 39 4 HISTÓRIA DO CONTROLE NUMÉRICO .................................................................................. 41 5 DESENVOLVIMENTO DO CNC .................................................................................................. 44 6 FUNDAMENTOS DO CNC .............................................................................................................. 46 7 FUNÇÕES DO CNC ............................................................................................................................. 47 8 VANTAGENS DAS MÁQUINAS CNC ......................................................................................... 49 9 COMPONENTES DO CNC ............................................................................................................. 50 10 PROGRAMA DO CNC .................................................................................................................... 51 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 55 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 56 sumárIo VIII UNIDADE 2 – AUTOMAÇÃO INDUSTRIAL .................................................................................. 57 TÓPICO 1 – AUTOMAÇÃO INDUSTRIAL ...................................................................................... 59 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 59 2 SISTEMAS DE MANUFATURA ........................................................................................................ 59 3 CLASSIFICAÇÃO DOS SISTEMAS DE MANUFATURA.......................................................... 60 4 FLEXIBILIZAÇÃO DA PRODUÇÃO ............................................................................................... 64 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 67 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 68 TÓPICO 2 – AUTOMAÇÃO: HARDWARE E SOFTWARE ............................................................. 69 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 69 2 HISTÓRIA ............................................................................................................................................. 70 3 DIVISÃO DOS CLPS ......................................................................................................................................... 72 4 RAZÕES DA UTILIZAÇÃO DOS CLPS ......................................................................................... 73 5 CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS DOS CLPS ............................................................................... 74 6 PRINCÍPIOS DE FUNCIONAMENTO – DIAGRAMA EM BLOCOS ...................................... 75 7 ARQUITETURA DOS CLPS .............................................................................................................. 76 8 ESPECIFICAÇÕES DE CONTROLADORES PROGRAMÁVEIS .............................................. 86 9 CLASSIFICAÇÃO DOS CLPS ........................................................................................................... 87 10 INTRODUÇÃO A LINGUAGENS DE PROGRAMAÇÃO ..................................................... 88 10.1 TABULARES/TABELAS DE DECISÃO ...................................................................................... 89 10.2 TEXTUAIS ....................................................................................................................................... 89 10.3 GRÁFICAS ...................................................................................................................................... 90 11 ATUADORES PNEUMÁTICOS ................................................................................................... 92 11.1 DEFINICÃO .................................................................................................................................... 93 11.2 CLASSIFICAÇÃO DOS ATUADORES PNEUMÁTICOS ........................................... 94 11.2.1 Atuadores Lineares .............................................................................................................. 94 11.2.2 Atuadores Rotativos ............................................................................................................. 97 12 VÁLVULAS ELETROPNEUMÁTICAS .......................................................................................... 99 12.1 DEFINICÃO ..................................................................................................................................100 12.2 CLASSIFICAÇÃO DAS VÁLVULAS ELETROPNEUMÁTICAS ....................................101 12.2.1 Válvula Eletropneumática Direcional..............................................................................101 12.2.2 Válvula Eletropneumática Proporcional .........................................................................106 13 SENSORES .......................................................................................................................................108 13.1 CLASSIFICAÇÃO DOS SENSORES .........................................................................................109 13.1.1 Sensores Discretos ..............................................................................................................112 13.1.1.1 Sensores de Contato ...................................................................................................112 13.1.1.2 Sensores de proximidade ...........................................................................................115 13.2 ARQUITETURA ...........................................................................................................................126 13.3 INTERFACEAMENTO DOS SENSORES DISCRETOS COMO CLPs .................................129 13.4 CONSIDERAÇÕES PARA INSTALAÇÃO DE SENSORES ..................................................130 13.5 APLICAÇÃO DOS SENSORES ..............................................................................................130 13.6 CARACTERÍSTICAS DOS SENSORES ...................................................................................132 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................134 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................135 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................136 TÓPICO 3 – MODELAGEM E CONTROLE DE SISTEMAS INDUSTRIAIS ..........................137 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................137 2 MODELAMENTO E CONTROLE DE MANUFATURAS ...................................................137 IX 2.1 SISTEMAS DE MANUFATURAS 138 2.2 ARQUITETURAS DE CONTROLE DE SISTEMAS DE MANUFATURAS ...........................139 2.2.1 Estrutura de Controle Centralizada ...................................................................................1412.2.2 Estrutura de Controle Hierárquico ...................................................................................141 2.2.3 Estrutura do Controle Heterárquico ..................................................................................145 2.2.4 Padrões de Comunicação .....................................................................................................146 2.3 DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARE DE CONTROLE .......................................................148 2.3.1 O desenvolvimento orientado a objetos ............................................................................149 2.3.2 Modelos Formais no Desenvolvimento de Software de Controle ..................................153 2.4 NECESSIDADES CORRENTES ...................................................................................................155 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................158 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................161 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................162 UNIDADE 3 – PROJETO DE AUTOMAÇÃO .............................................................................163 TÓPICO 1 – IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO DE AUTOMAÇÃO .......................................165 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................165 2 DESCRIÇÃO DAS PLANTAS INDUSTRIAIS ........................................................................166 2.1 FLUXOGRAMA E DIAGRAMAS DE PROCESSO .................................................................166 2.1.1 Diagrama de blocos ..............................................................................................................166 2.1.1.1 Classificação dos diagramas de blocos ........................................................................168 2.1.1.2 Simplificação dos diagramas de blocos .......................................................................172 2.1.2 Diagramas de fluxos de processo .......................................................................................175 2.1.3 Diagramas de tubulação e instrumentação P&ID (Piping & Instrument Diagram) ......177 2.2 DOCUMENTOS NECESSÁRIOS NO PROJETO DE AUTOMAÇÃO .............................180 2.2.1 Listas de instrumentos e de entrada/saída ........................................................................180 2.2.2 Especificação da operação automática ..............................................................................180 2.2.3 Diagrama de controle lógico ...............................................................................................181 2.2.4 Diagrama de causa e efeito ..................................................................................................182 2.2.5 Lista de entradas e saídas no CLP ......................................................................................183 2.2.6 Diagrama de controle dinâmico .........................................................................................184 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................189 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................190 TÓPICO 2 – SEGURANÇA DA AUTOMAÇÃO .............................................................................191 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................191 2 SEGURANÇA NA AUTOMAÇÃO INDUSTRIAL ......................................................................192 2.1 AMEAÇAS AO AMBIENTE DE AUTOMAÇÃO INDUSTRIAL ............................................193 2.2 SEGURANÇA EM REDES DE AUTOMAÇÃO ........................................................................194 2.2.1 Sinalizações e falhas .............................................................................................................194 2.2.2 Proteção e sinalização ..........................................................................................................197 2.2.3 Falhas e redundâncias ..........................................................................................................199 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................203 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................204 TÓPICO 3 – GESTÃO DE AUTOMAÇÃO .......................................................................................205 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................205 2 GESTÃO DA ENGENHARIA ..........................................................................................................206 2.1 FASES DO PROJETO DE AUTOMAÇÃO ..................................................................................206 2.2 ESTIMANDO O ESFORÇO DE ENGENHARIA ......................................................................209 X 2.2.1 Metodos empíricos para estimativa de esforço e prazo .............................................210 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................215 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................218 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................219 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................221 1 UNIDADE 1 ENGENHARIA DE AUTOMAÇÃO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade, você será capaz de: • diferenciar um sistema dinâmico de um sistema estático; • inserir conceitos introdutórios de sistemas dinâmicos com auxilio de exemplos que ilustrem cada caso; • conhecer as formas de modelagem e procedimentos de controle dos SEDs; • identificar os principais níveis da pirâmide de automação industrial; • explicar os sistemas de gerência de informação industrial; • aprender sobre o avanço das máquinas ferramentas e o controle através de microprocessadores. Esta unidade está dividida em três tópicos. No final de cada um deles, você encontrara atividades que reforçarão o seu aprendizado. TÓPICO 1 – ENGENHARIA DE AUTOMAÇÃO TÓPICO 2 – ARQUITETURA DA AUTOMAÇÃO INDUSTRIAL TÓPICO 3 – ESTRUTURA DE MÁQUINAS – FERRAMENTA 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 ENGENHARIA DE AUTOMAÇÃO 1 INTRODUÇÃO A Engenharia de Controle e Automação baseia-se na modelagem matemática de sistemas de diversas naturezas, analisando o seu comportamento dinâmico, e usando a teoria de controle para calcular os parâmetros de um controlador que faça o sistema evoluir da forma desejada, e adaptativa às mudanças dos principais elementos de controle. (WIKIPÉDIA, 2010) A Engenharia de Controle e Automação se concentra, acima de tudo, na automação de uma planta, que é fazer um processo manual tornar-se semiautomático ou totalmente automático. A automação é completa quando toda uma linha de produção funciona do começo ao fim sem a intervenção humana, agindo apenas pelo controle das próprias máquinas e controladores. Para obter a automação de um sistema é necessário conseguir umavisão global do processo produtivo, o que faz o profissional da área usar informações que relacionem áreas de conhecimento distintas, como é o caso da mecânica, da elétrica e da ciência da computação. (WIKIPÉDIA, 2010) A engenharia de controle e automação tem sua aplicação na indústria em geral, e como exemplo, na indústria química, petroquímica, alimentícia e têxtil. Também em empresas de saneamento há aplicações frequentes, uma vez que nos processos químicos que decorrem ao longo do percurso produtivo numa planta industrial, é necessário controlar o comportamento das variáveis que interferem na qualidade dos produtos de acordo com padrões pré-estabelecidos. Este ramo da engenharia está intimamente relacionado com a engenharia de produção, uma vez que os circuitos eletrônicos podem ser facilmente descritos utilizando métodos da teoria de controle. Várias outras áreas da engenharia estão também relacionadas com a Engenharia de controle e automação, pois suas técnicas e métodos podem ser aplicados em qualquer sistema. O desenvolvimento dos estudos de engenharia de automação requer o estabelecimento de alguns conceitos pertinentes a modelos matemáticos de sistemas de processos industriais. (MORAES; CASTRUCCI, 2007) UNIDADE 1 | ENGENHARIA DE AUTOMAÇÃO 4 2 DINÂMICA DE SISTEMAS A Dinâmica de Sistemas trata da modelagem matemática e da análise da resposta de um sistema dinâmico, visando entender a natureza dinâmica e melhorar a performance deste sistema. O conceito de sistema é usado em fenômenos físicos, tais como, mecânicos, elétricos, pneumáticos, térmicos e hidráulicos, bem como em processos não físicos, como por exemplo, o estudo de sistemas econômicos e biológicos. O termo sistema apresenta diversas definições e pode ser aplicado a diferentes áreas do conhecimento. De forma geral, este termo descreve o conceito de agregação de diversos componentes com o objetivo de realizar determinadas funções que não poderiam ser executadas pelos componentes isolados. Conforme definido em Ferreira (1999), “[...] sistema é a disposição das partes ou dos elementos de um todo, coordenados entre si, e que funcionam como estrutura organizada”. Um sistema é uma combinação de componentes atuando juntos para atingir um objetivo específico. Uma componente é qualquer variável envolvida no sistema. Matematicamente, uma variável é um símbolo que pode assumir qualquer valor real ou complexo. No estudo de sistemas, as variáveis independentes são chamadas de entrada (input) ou excitação, enquanto as variáveis dependentes são conhecidas como saída (output) ou resposta, dependendo da área do conhecimento considerada. Um sistema é dito dinâmico se a resposta presente depender de uma excitação passada. Se a resposta presente depender apenas de uma excitação presente, então o sistema é dito estático. Em um sistema estático, a resposta permanecerá constante enquanto a excitação não variar. Em um sistema dinâmico, a resposta varia com o tempo até atingir seu estado de equilíbrio. Em um sistema dinâmico, as componentes são funções do tempo e são conhecidas como sinais. No contexto deste Caderno, o estudo tem por objetivo a representação dos sistemas através de modelos formais que permitam descrever de forma satisfatória seu comportamento. Uma vez que este comportamento pode violar determinadas especificações comportamentais, deseja-se sintetizar e implementar leis de controle que atuem sobre o sistema de forma que seu comportamento sob a ação de controle seja o mais próximo possível do comportamento desejado, ou seja, daquele comportamento que satisfaça as especificações de processo. Pelo emprego de fundamentos teóricos e ferramentas computacionais, busca-se, ainda, analisar o comportamento do sistema de forma a verificar a satisfação de determinadas propriedades. TÓPICO 1 | ENGENHARIA DE AUTOMAÇÃO 5 Em Cassandras e Lafortune (1999), é realizada a classificação dos sistemas em diversas categorias. Os próprios autores tornam explícito que esta classificação não é excludente, pois depende basicamente da perspectiva empregada para interpretar e compreender o sistema. Os sistemas denominados “sistemas dinâmicos a variáveis contínuas”, ou, simplesmente “sistemas contínuos”, caracterizam-se basicamente por dois fatores: o espaço de estados é contínuo, isto é, as variáveis do sistema podem assumir qualquer valor dentro de um determinado intervalo de variação contínuo; o comportamento das variáveis do sistema é regido pelo tempo. Em contraposição aos “sistemas contínuos” os sistemas denominados “sistemas dinâmicos a eventos discretos” ou da forma mais usual “sistemas a eventos discretos” (SEDs) apresentam as seguintes características: • o espaço de estados é discreto, ou seja, as variáveis do sistema podem assumir valores preestabelecidos pertencentes a um conjunto discreto; • o comportamento das variáveis é independe do tempo e é dirigido por eventos. 3 SISTEMAS DINÂMICOS Em automação, nosso interesse focaliza-se em sistemas que são dinâmicos em um sentido essencial. A palavra “dinâmico” é entendida em geral como relativa a “forças e energias produzindo movimento (MORAES; CASTRUCCI, 2007). Portanto, o termo refere-se originalmente à mecânica newtoniana: forças aplicadas às massas geram acelerações que definem os movimentos dos corpos e espaço; tais fenômenos são regidos por equações diferenciais, em que o tempo é a variável independente. Por analogia, estende-se o termo dinâmico” a todos os fenômenos térmicos, químicos, fisiológicos, ecológicos etc. que também sejam regidos por equações daquele tipo. São sistemas intrinsecamente dinâmicos, como que “acionados pelo tempo” (time-driven). (MORAES; CASTRUCCI, 2007) No entanto, um segundo significado tornou-se essencial nas últimas décadas, devido a inúmeros e importantíssimos outros tipos de sistemas, tais como os de chaveamento manual ou automático, as manufaturas, as filas de serviços, os computadores etc. Sua estrutura impõe principalmente regras lógicas, de causa e efeito, para eventos; seus sinais são números naturais representando estados lógicos (on - off, sim - não) ou quantidade de recursos ou de entidades. Tais sistemas não são descritos por equações diferencias. São sistemas mecânicos em um sentido especial, dinâmicos latu sensu, “acionados por eventos” (event- driven). (MORAES; CASTRUCCI, 2007) UNIDADE 1 | ENGENHARIA DE AUTOMAÇÃO 6 Um sistema dinâmico é um sistema definido por um sistema de equações diferenciais ou mapas iterativos, onde o estado do sistema evolui com o tempo. Usualmente, usa-se um conjunto de variáveis de estado x, y, z, ..., ou x1, x2, x3, ..., reais (ou inteiras) para definir o estado do sistema. Um sistema dinâmico pode ser caracterizado de maneira bastante geral que varia, por exemplo, de um volume de gás a uma sociedade, até um sistema de estrelas. Um sistema dinâmico é composto por muitos componentes que interagem de modos diversos. Estas interações ocorrem no tempo real e pode produzir padrões de comportamento que formam as manifestações do sistema. Estes padrões chamam-se na teoria dos sistemas dinâmicos: parâmetros de ordem. O parâmetro de ordem exerce uma influência causal no comportamento dos componentes, subjugando-os. Um teórico importante da teoria de sistemas dinâmicos, Hermann Haken, afirma que o parâmetro de ordem escraviza os componentes, isto é: ele força os componentes a tomarem parte no padrão global. Falamos de uma causalidade circular. A interação dos componentes causa uma ordem global, no plano mais geral, e o padrão global subjuga os componentes no plano mais específico. 3.1 CLASSES DE SISTEMAS DINÂMICOS Um sistema dinâmico pode ser classificado com relação a inúmeras características, entre elas: QUADRO 1 – CLASSES DE SISTEMAS DINÂMICOSAcionados por Descritos por Nomes Tempo ("time-driven") Equações diferenciais na variável tempo Contínuos no tempo Equações diferenciais na variável tempo Discretos no tempo Eventos ("event-driven") Algebra de Boole, álgebra dióide, A eventos descretos autômatos finitos, redes de Petri, programas computaionais. FONTE: O Autor. Apresentamos, a seguir, uma classificação dos sistemas dinâmicos de acordo com vários critérios. TÓPICO 1 | ENGENHARIA DE AUTOMAÇÃO 7 FIGURA 1 – CLASSIFICAÇÃO GERAL DOS SISTEMAS modelos estáticos dinâmicos lineares não-lineares estado contínuo estado discreto variantes no tempo invariantes no tempo dirigidos pelo tempo dirigidos por eventos tempo contínuotempo discreto determinísticos estocásticos Si ste m as D in âm ico s a Ev en to s D isc re to s FONTE: SANTOS, 2010. 3.2 ELEMENTOS DOS SISTEMAS DINÂMICOS Modelar um sistema dinâmico de um processo físico é uma tarefa um pouco parecida como montar um brinquedo usando blocos de Lego®, quanto mais e melhores os blocos, em geral mais interessante e divertido fica o brinquedo Lego®. Com um sistema dinâmico, a ideia é igual, pois é necessário realizar uma montagem de elementos com características diferentes que montados representam um sistema físico. Os elementos de um modelo de sistema dinâmico compreendem elementos externos e internos. (AGUIRRE, 2004) 3.2.1 Elementos Externos Os elementos externos são divididos em fontes, ruído e carga. Fontes têm como função alterar de maneira planejada o desempenho do processo. Nos sistemas dinâmicos estas variáveis são chamadas de entrada e funcionam como fontes excitadoras do sistema. Já os ruídos estão presentes de UNIDADE 1 | ENGENHARIA DE AUTOMAÇÃO 8 forma aleatória e independente do desejo do analista e devem ser considerados nas variáveis que usam a energia entregue na entrada e que é processada pelo sistema dinâmico. Nos sistemas dinâmicos, estas variáveis são as saídas do sistema. 3.2.2 Elementos Internos Os elementos internos são divididos em armazenadores, dissipadores e conversores. Os elementos armazenadores são aqueles com capacidade de armazenar energia. Por exemplo, em sistemas elétricos os indutores são elementos que são capazes de armazenar energia na forma de corrente, assim como capacitores são elementos que armazenam energia na forma de tensão elétrica. Já os sistemas mecânicos são capazes de armazenar energia cinética em parâmetros inerciais, por exemplo, elementos de massa, e armazenar energia potência em elementos de rigidez, por exemplo, em molas. Um ponto interessante é verificar que, em termos matemáticos, é indiferente a natureza do sistema dinâmico em questão. Já os elementos dissipadores são aqueles que não armazenam e nem aproveitam energia e simplesmente a dissipam, a maior parte na forma de calor. Em um sistema elétrico, os resistores são elementos dissipadores. De maneira similar, os amortecedores são elementos que dissipam energia vibratória. Por fim, os conversores são elementos capazes de converter energia de uma forma para outra. Há muitos mecanismos de conversão de formas de energias diversas em energia elétrica, por exemplo: fotocélulas convertem luz em eletricidade, termopares convertem calor em eletricidade, e os geradores eletromagnéticos convertem energia mecânica em eletricidade. Pesquisas recentes apontam para a possibilidade de se adquirir energia elétrica a partir de uma grande variedade de fontes (térmica, solar, deformação, inércia, vibração, corpo humano etc.). 3.3 SISTEMAS DINÂMICOS CONVENCIONAIS Um critério importante para classificar esses sistemas decorre da observação dos seus sinais. Um sinal x(t) pode ser de amplitude contínua (x ε R, x percorre os números reais) ou de amplitude discreta (x ε E, x percorre um subconjunto enumerável de R, por exemplo, o conjunto I dos números inteiros). Analogamente, a variável independente t pode ser contínua (t ε R) ou discreta (t ε E ou I). Note que, nesse contexto, a palavra “contínua” nem sempre significa função contínua no sentido de Análise Matemática. (MORAES; CASTRUCCI, 2007) Algumas das possibilidades de sinais estão indicadas na Figura a seguir. TÓPICO 1 | ENGENHARIA DE AUTOMAÇÃO 9 FIGURA 2 – CLASSIFICAÇÃO GERAL DOS SISTEMAS FONTE: O Autor. Outro importante divisor de classes nos sistemas é a linearidade. Para constatar sua presença não basta observar sinais isolados. É necessário estudar as relações de causa/efeito entre entradas e saídas. São lineares aqueles sistemas em que a resposta à soma de dois sinais de entrada é igual à soma das respostas aos dois sinais isoladamente, isto é, quando vale a superposição de entradas e saídas. No caso de sistemas lineares, uma abordagem para identificação é construir uma função de transferência representando o comportamento do processo, em tempo discreto ou contínuo, usando o “Princípio da Superposição” descrito a seguir, sendo que o estado inicial é suposto ser zero. As funções de transferência são funções que modelam o comportamento dinâmico de um par entrada-saída de um sistema, ou seja, descrevem como uma determinada entrada é dinamicamente “transferida” para a saída do sistema. (AGUIRRE, 2000) Princípio da Superposição: considere um sistema que ao ser excitado pela entrada u1(t) produz a saída u1 ⋅ y(t) e quando excitado por u2(t) produz y2(t) . Se tal sistema satisfizer o princípio da superposição então, quando excitado por. [(a1m(t)) ⋅ (b2m(t))], sua saída será a1 ⋅ y(t) + b2 ⋅ y(t) , sendo a e b constantes reais. Por definição, um sistema é linear se ele satisfaz o princípio da superposição. (OGATA, 1999) A identificação de sistemas não lineares é difícil, pois o princípio da superposição não pode ser usado e a relação entrada-saída pode depender do estado atual e/ou histórico do sistema. Além disso, o sistema pode ter muitos estados para os quais a saída é constante ou zero. Para que haja comportamento não linear basta que, por exemplo, a saída seja igual à soma da variável de entrada com uma constante (verifique, aplicando a definição) ou, então, que a saída seja igual ao produto de duas variáveis ou igual a uma função de amplitude limitada (saturação). (MORAES; CASTRUCCI, 2007) UNIDADE 1 | ENGENHARIA DE AUTOMAÇÃO 10 y(t) = x(t) + 5 y(t) = sen(x(t)) y(t) = x1(t) ⋅ x2(t) A maioria dos sistemas físicos reais é não linear, embora muitos deles admitam aproximações lineares geralmente quando os sinais de interesse são pequenas flutuações em torno de dados níveis de operação. Como veremos adiante, os sistemas a eventos discretos são essencialmente não lineares, isto é, não admitem aproximação linear. (MORAES; CASTRUCCI, 2007) Outra classificação importante dos sistemas é em determinísticos e estocásticos; estes últimos são caracterizados pela presença de alguma variável ou de algum parâmetro cuja definição se faz por meios estáticos. (MORAES; CASTRUCCI, 2007). Por exemplo: • sinal de entrada, contínuo no tempo, de origem atmosférica; • sinal de entrada, discreto no tempo, em que os intervalos entre pulsos ou impulsos sucessivos são aleatórios, como a chegada de clientes a uma fila de serviço. Alguma transmissão interna ao sistema se altera em função de probabilidades, como a parada da produção por falha de máquina e o retorno após o tempo de reparo. O processo de modelagem de um determinado sistema dinâmico pode resultar num modelo de estrutura complexa. Em tais casos, métodos de redução de modelos podem ser utilizados para se obter uma representação mais simplesdo processo. Os sistemas híbridos inteligentes representam um direcionamento alternativo para a solução de problemas em sistemas de controle e identificação, principalmente aqueles que envolvem não linearidades. 3.4 SISTEMAS DINÂMICOS A EVENTOS DISCRETOS Sistemas dinâmicos a eventos discretos – SEDs – são sistemas cuja evolução decorre unicamente de eventos instantâneos, repetitivos ou esporádicos. (MORAES; CASTRUCCI, 2007) São sistemas em que: a) os sinais assumem valores num conjunto enumerável, com {on, off} {verde, amarelo, vermelho} {1,2,3,........}; b) as alterações de valor, quando ocorrem, são tão rápidas que se podem modelar como instantâneas, em qualquer instante t ε R; TÓPICO 1 | ENGENHARIA DE AUTOMAÇÃO 11 c) eventos instantâneos externos constituem sinais de entrada que causam eventos discretos internos e de saída. Sistemas a eventos discretos são sistemas que respondem aos eventos discretos externos e internos como sinais também discretos, de acordo com rígidas regras de causa e efeito ou, então, com regras estatísticas. No primeiro caso, as regras traduzem-se perfeitamente por meio da teoria matemática dos conjuntos; quando os sinais são todos binários (1 ou 0, ON ou OFF etc.), são sistemas lógicos. No segundo caso, os sistemas incluem-se entre os chamados sistemas estocásticos. (MORAES; CASTRUCCI, 2007) De modo geral, um Sistema a Eventos Discretos (SED) é um sistema dinâmico cujas variações de estado são estritamente condicionadas pela ocorrência de eventos. O conceito de evento é fundamental, caracterizado como algo sem duração e única causa possível para as mudanças de estado. Portanto, num SED, as mudanças de estado ocorrem estritamente num conjunto enumerável de instantes de tempo. Diz-se também que um SED tem sua dinâmica dirigida pela ocorrência de eventos. Outro aspecto importante a respeito dos SED é o fato de seu espaço de estados ser normalmente discreto (e em muitas aplicações finito). Essas características distinguem os SED dos sistemas que têm sua dinâmica dirigida pelo tempo e seu espaço de estado contínuo, cuja modelagem é tradicionalmente feita através das equações diferenciais. Esses sistemas serão chamados de sistemas contínuos (mesmo no caso em que o tempo for discreto). (MAIA, 2005) Em um SED, os eventos podem ser de vários tipos e programados de maneiras diversas. Podem ocorrer autonomamente ou programados pela ocorrência prévia de algum outro evento e a definição do instante de ocorrência pode ser determinística ou não determinística (inclusive aleatória). Exemplos típicos de SED são os sistemas de manufatura, o hardware de um computador, e em outro nível de abstração, as redes de comunicação. Dois aspectos são de grande importância no estudo da dinâmica de SED: os problemas de conflito e os problemas de sincronização. Os sistemas de manufatura oferecem exemplos desses dois aspectos. Um conflito ocorre num sistema de manufatura quando, por exemplo, duas peças devem ser processadas na mesma máquina, devendo haver uma decisão sobre qual delas será processada em primeiro lugar. O aspecto de sincronização fica evidente, por exemplo, quando a montagem de uma peça depende de duas ou mais partes, cujo processamento por sua vez pode obedecer às mesmas restrições. Nesse caso, obviamente a parte com processamento mais tardio determinará o início da montagem da peça final. Neste texto, a atenção será concentrada nos sistemas sem conflito, onde predominam os problemas de sincronização. (MAIA, 2005) Há pouco mais de duas décadas, os SEDs eram tratados predominantemente através de técnicas de simulação (Banks et al., 2000), ou de otimização estática, sendo que os resultados analíticos provinham da Teoria de Filas (Kleinrock,1975) e da Teoria de Redes de Petri (Murata, 1989). Em particular, esta última abordagem UNIDADE 1 | ENGENHARIA DE AUTOMAÇÃO 12 teve grande desenvolvimento durante as décadas de 60 e 70, até o início dos anos 80. A partir desse momento, certamente impulsionadas pelos desafios e exigências do mundo da automação industrial, diversas novas abordagens para o problema de análise e síntese de controladores para SED foram iniciadas, envolvendo as áreas de Teoria de Sistemas, Pesquisa Operacional e Teoria da Computação. São exemplos dessas abordagens entre outras, a Teoria de Controle Supervisório (Ramadge e Wonham, 1989), a Análise de Perturbações (Cassandras e Lafortune, 1999), as técnicas baseadas em Lógica Temporal (Ostroff, 1989) e aquelas baseadas na Álgebra Maxplus (Baccelli et al., 1992). Além disso, significativos desenvolvimentos ocorreram na já existente Teoria de Redes de Petri e na Teoria de Sistemas Híbridos (Antsaklis, 2000), isto é, sistemas que combinam as características de sistemas contínuos e a eventos discretos. (MAIA, 2005) Segundo Vieira (2010), os sistemas denominados “sistemas dinâmicos a eventos discretos” ou da forma mais usual “sistemas a eventos discretos” (SEDs) apresentam as seguintes características: • o espaço de estados é discreto, ou seja, as variáveis do sistema podem assumir valores preestabelecidos pertencentes a um conjunto discreto; • o comportamento das variáveis independe do tempo e é dirigido por eventos. O termo “evento” é empregado para descrever a ocorrência, abrupta e sem duração no tempo, de um fenômeno no sistema em estudo ou no ambiente em que está inserido e que pode afetar o comportamento deste sistema. A cada ocorrência de um evento o sistema pode assumir um novo comportamento ou executar uma nova função, ou seja, o sistema pode assumir um novo estado. Assume-se que a cada instante de tempo só pode ocorrer um único evento. De forma geral, para um SED são válidas as seguintes observações: • a ocorrência de eventos é assíncrona no tempo; • o estado do sistema permanece imutável até que ocorra um evento; • para um dado estado do sistema, a ocorrência de um determinado evento não implica necessariamente a mudança de estado. 4 LINGUAGENS FORMAIS E AUTÔMATOS Uma possível forma de representar o comportamento de um SED é através de uma tabela de transição de estados. Tal tabela informa qual estado é alcançado quando o sistema está em um determinado estado e ocorre certo evento. Contudo, este não é o procedimento usualmente empregado, pois não confere ao projetista efetuar procedimentos formais para composição de modelos de sistemas formados pela interação de múltiplos subsistemas; para análise do TÓPICO 1 | ENGENHARIA DE AUTOMAÇÃO 13 comportamento do sistema; para síntese de controladores, dentre outros. Visto que, conhecido o estado inicial, o comportamento lógico de um SED pode ser descrito através da sequência de eventos gerada, e se considerarmos que eventos representam elementos de um alfabeto e que sequências de eventos representam palavras sobre este alfabeto, pode-se descrever o comportamento do sistema através de uma determinada linguagem. Conforme apresentado em Cassandras e Lafortune, (1999) “... a abordagem empregando a teoria de linguagens é atrativa para apresentar aspectos da modelagem e para discutir propriedades de SEDs”. Entretanto, ela não é conveniente para realizar a verificação de propriedades ou a síntese do controlador. O que também é necessário é uma forma conveniente de representá-la. (SOUZA, 2010) 5 MODELAGEM DE SISTEMAS A EVENTOS DISCRETOS Os sistemas a eventos discretos, diferentemente dos sistemas dinâmicos a variáveis contínuas, não possuem uma representação matemática universal dependendo de características específicas como reinicialização, sincronização e concorrência, para serem modelados. (COSTA, 2004) Neste sentido, estudos foram realizados e algumas representações merecem destaque na modelagem de sistemas a eventos discretos, tais como Cadeias de Markov, Teoria das Filas, Álgebra de Processos,Teorias de Autômatos e Linguagens Formais e Redes de Petri. (BARROSO, 1996) Dentre as técnicas de modelagem para SED, citadas anteriormente, as Redes de Petri apresentam várias vantagens; a destacar: simulação a partir do modelo; possibilidade de testar aspectos indesejáveis do sistema, como conflito; excelente visualização de dependência entre sistemas e informação do estado atual do sistema que permite monitoração em tempo real. (BARROSO, 1996) Um conceito muito importante para compreender o comportamento de um sistema dinâmico é o conceito de parâmetro de controle. O parâmetro de controle é uma variável que produz comportamentos diferentes de parâmetro de ordem. É muito importante compreender que o parâmetro de controle não exerce sua influência causal através de prescrições. É uma força não específica, que não se baseia nas argumentações ou nos comportamentos dos indivíduos. Muitas vezes é uma força escondida. Além disso, os sistemas complexos podem ter muitos parâmetros de controle. UNIDADE 1 | ENGENHARIA DE AUTOMAÇÃO 14 6 CONTROLE Um sistema de controle dinâmico envolve sempre o controle de um processo cujas variáveis evoluem de acordo com um conjunto de equações diferenciais especificadas pelas leis físicas que as governam. Os objetivos do controle, neste caso, são disciplinares à evolução destas variáveis de acordo com certos critérios de engenharia: estabilizá-las ou impor trajetórias nominais ou de referência. (JOHNSON, 1995) A figura, a seguir, apresenta de forma genérica de um sistema de controle dinâmico. A entrada do sistema são os sinais que o processo recebe do meio externo. A saída é a sua resposta, que é comparada com uma trajetória de referência. Na medida em que é diferente desta, produz um erro, utilizado pelo controlador para determinar uma ação de controle, ou seja, eliminar este erro. FIGURA 3 – SISTEMA DE CONTROLE Entrada Saída Real Erro Referência Sistema ou Processo Controlador da Planta + - - + FONTE: JOHNSON, 1995. O projeto de um controlador depende diretamente da descrição matemática do processo, ou seja, de sua modelagem. Não é possível projetar um controlador sem ter alguma informação sobre a dinâmica do processo. Este requisito aparentemente trivial pode não estar satisfeito a priori em uma classe ampla de problemas de interesse prático. Para estes casos colocam-se os problemas de identificação de sistemas. TÓPICO 1 | ENGENHARIA DE AUTOMAÇÃO 15 7 CONTROLE DINÂMICO O controle dinâmico tem por objetivo estabelecer o comportamento estático e dinâmico dos sistemas físicos, tornando-o mais obediente aos operadores e mais imune às perturbações dentro de certos limites. Utiliza sempre medidas de variáveis internas e/ou de saída do sistema, num esquema de realimentação ou feedback em torno do sistema original. Este é um conceito de incalculável poder tecnológico para o aperfeiçoamento de inúmeros processos, seja em velocidade e precisão, seja em custo. (MORAES; CASTRUCCI, 2007) Chama-se realimentação negativa aquela em que, pelo menos numa faixa de frequências, o erro da saída do processo em relação ao seu valor ideal passa por uma inversão intencional de sinal algébrico, antes de ser aplicada a entrada. É sob essa forma que a realimentação serve para controle. Quando o valor ideal é fixo, o controle é dito regulador; quando é um sinal qualquer fornecido ao sistema, tem-se um servomecanismo, ou servo controle. (MORAES; CASTRUCCI, 2007) Realimentação positiva também é muito útil para realizar osciladores, não para fins de controle dinâmico. Outro princípio fundamental da técnica do controle dinâmico é a pré- alimentação, alimentação avante, feedfoward ou controle por antecipação: consiste em injetar na entrada do processo um sinal proporcional a alguma perturbação externa relevante, com polaridade tal que ajude a reduzir os efeitos da perturbação. A ação da alimentação avante se antecipa e reduz os efeitos da perturbação. O ponto forte do controle por realimentação é que não se necessita conhecê- lo antecipadamente nem medir as perturbações que afetam o processo. A figura, a seguir, mostra um processo simples, de uma só variável C de saída, sobre a qual age um sistema de controle dinâmico completo, composto de realimentação e de alimentação avante; R é o valor desejado para a variável C; P é uma perturbação relevante, que merece ser objeto de uma pré-alimentação; N representa um ruído aditivo na medida da variável C. (MORAES; CASTRUCCI, 2007) Por norma, essas variáveis têm nomes específicos: C: variável controlada, de qualquer natureza física (vazão, nível, pressão, temperatura, velocidade, posição, corrente elétrica etc.), associada a um nível significativo de energia ou potência; P: perturbação, significativa no processo que leva a C; R: variável de referência (set point), geralmente um sinal elétrico, analógico ou digital; M: variável manipulada, de natureza em geral diferente da de C, mas influenciando-a fortemente (por exemplo, a tensão elétrica de alimentação de um motor, a abertura da válvula que injeta combustível em um forno a óleo); E: erro atuante, a diferença entre C e R que a malha de realimentação procura reduzir; N: ruído na medida da variável de saída C. UNIDADE 1 | ENGENHARIA DE AUTOMAÇÃO 16 FIGURA 4 – PROCESSO SIMPLES DE CONTROLE DINÂMICO Controlador Controlador Pré- Controlador Processo ProcessoAmpliador Transdutor Transdutor Realimentação Pré-alimentação M N ER P C + + ++ - - FONTE: O Autor. 8 CONTROLE DE EVENTOS OU CONTROLE LÓGICO O controle lógico tem por objetivo complementar sistemas lógicos de maneira que eles respondam a eventos externos ou internos de acordo com novas regras que são desejáveis de um ponto de vista utilitário. O engenheiro projetista de sistemas de controle de eventos discretos precisa, antes de tudo, garantir sequências bem definidas, seguras, em presença de eventos externos, sejam eles raros ou frequentes; somente depois de garantidas essas consequências é que ele pode desejar analisar desempenhos de confiabilidade por meio da Estatística e de simulações. (MORAES; CASTRUCCI, 2007) O controle lógico é um meio de automação que surgiu no início do século XX por necessidade prática, quando contadores, disjuntores, reles de proteção, chaves manuais, etc. tinham que ser interligados de maneira a dar partida, proteger componentes e vigiar dia e noite a segurança nos processos cuja eletrificação se implementava. O controle lógico realiza-se por meio de circuitos (elétricos, hidráulicos, pneumáticos etc.) em que as variáveis são binárias (valor 0 ou 1); esses circuitos são chamados, geralmente de redes lógicas. (MORAES; CASTRUCCI, 2007) Redes lógicas combinatórias são redes sem memórias nem temporizações. Ao projetá-las, basta a álgebra booleana para descrever, analisar e simplificar as redes, e com algumas técnicas de “organização do raciocínio” ou de “registro padronizado e compacto”, tais como a Tabela de Verdade e o Diagrama de Reles. TÓPICO 1 | ENGENHARIA DE AUTOMAÇÃO 17 Redes lógicas sequenciais são as redes com memórias, temporizações e entradas em instantes aleatórios. Exemplo 1: Considere o controle lógico que realiza a partida automática do processo de trocador de calor, de acordo com a seguinte especificação da engenharia de processo. Quando o operador aperta o botão Start, o controlador lógico deve: por razões de segurança, verificar se existe pressão de vapor Pv > Pmim, no gerador de vapor, e se existe nível no reservatório de líquido frio Hf > Hmim; em caso afirmativo, energizar a bomba Bf que movimenta o líquido frio: confirmada vazão de líquido Vf > Vmim, fechar o circuito elétrico C da válvula FIC que comanda o vapor; em qualquer momento da operação,ocorrendo Pv < Pmim ou Hf < Hmim ou Vf < Vmim ou To > Tmáx, caracteriza-se uma emergência E: o sinal de comando da válvula FIC de vapor deve ser zerado ou chaveado para interromper o fluxo de vapor, e a bomba B deve ser desenergizada. Esse controle lógico pode ser representado por equações em álgebra de Boole, desde que definamos variáveis booleanas associadas às diversas condições da especificação: P = 1 se Pv > Pmim; P= 0 se Pv < Pmim; H= 1 se Hf > Hmim; H= 0 se Hf < Hmim; V= 1 se Vf > Vmim; V= 0 se Vf < Vmim; T= 1 se To > Tmáx;.... B= 1 se Bf energizada;..... As equações seriam: B = Start ⋅ P ⋅ H + B ⋅ E C = B ⋅ V ⋅ C ⋅ E E = P + H + V + T Onde são introduzidas variáveis booleanas de negociação, como P (P = 1 se e apenas se P = O). O sistema é uma rede combinatória; se tivesse temporizadores, por exemplo, seria sequencial. Ao projetar controladores de eventos discretos são, geralmente, bastante úteis as representações por redes de Petri (1962), dada a sua grande adequação ao modelamento, à simulação é à busca de algumas propriedades relevantes. Já as representações por autômatos finitos têm maiores possibilidades teóricas. (MORAES; CASTRUCCI, 2007) Entretanto, os marcos teóricos são muito recentes e estão, geralmente, imersos no imenso tema do software dos computadores (que são redes lógicas sequenciais). Eles ainda estão longe do nível de resultados existentes em controle dinâmico: o problema de controle dos sistemas só veio a ser conceituado com rigor por W. M. Wonham em 1989. UNIDADE 1 | ENGENHARIA DE AUTOMAÇÃO 18 Quando os eventos de entrada têm definição estatística, o desempenho dos sistemas em termos econômicos ou de confiabilidade tem sido analisado pelas cadeias de Markow e por simulação em computador. (MORAES; CASTRUCCI, 2007) As teorias do controle dinâmico e de controle lógico têm-se desenvolvido de forma totalmente independente entre si, por força de suas próprias naturezas. Alias, é interessante observar que enquanto o controle dinâmico objetiva evitar a instabilidade - geralmente associada ao crescimento ilimitado de sinais-, em controle lógico o objetivo é evitar o conflito, o deadlock, a parada total da evolução dos sinais. (MORAES; CASTRUCCI, 2007) TÓPICO 1 | ENGENHARIA DE AUTOMAÇÃO 19 OS DEZ MAIORES DESAFIOS DA AUTOMAÇÃO INDUSTRIAL: AS PERSPECTIVAS PARA O FUTURO Cleonor Neves Leonardo Duarte Nairon Viana Vicente Ferreira de Lucena Jr. RESUMO Nos últimos anos, o papel da automação vem sendo modificado fortemente na medida em que novos problemas surgem cada vez mais complexos. Os componentes de um sistema de automação evoluíram constantemente com os anos, desde os primeiros sistemas baseados em controle automático, mecanizado (como as primeiras linhas de montagem do século XX) até os sistemas baseados nas tecnologias atuais como a microeletrônica. O campo de atuação da automação foi expandido, rompendo os limites do ambiente de chão de fábrica, na medida em que novos tipos de processos foram surgindo e hoje se nota aplicações da automação em sistemas desde gerência de informação e negócios em tempo real até sistemas críticos no campo médico, por exemplo. Com o crescente avanço da tecnologia, e a atual necessidade de informação em todos os campos, sistemas de automação modernos passam de simples automações de processos e equipamentos para automação de negócios, lidando com grandes quantidades de informação relevante. Questões como confiabilidade e segurança são fundamentais nesse sentido, e constituem um dos muitos desafios enfrentados pela automação moderna. O presente trabalho busca fazer um apanhado geral sobre os principais problemas enfrentados pela automação em suas diversas áreas de aplicação. Faz-se um estudo sobre os campos em que os sistemas de controle atuam e as tecnologias envolvidas, os custos e os impactos que cada um determina na sociedade e no meio ambiente. FONTE: Extraído de: II Congresso de Pesquisa e Inovação da Rede Norte Nordeste de Educação Tecnológica - João Pessoa - PB – 2007. Disponível em: <http://www.redenet.edu.br/ publicacoes/arquivos/20080109_085035_INDU-068.pdf>. Acesso em: 9 mar. 2011. LEITURA COMPLEMENTAR 20 Neste tópico, tratamos especificamente os sistemas flexíveis de manufatura, a seguir resumimos o que vimos para facilitar a fixação da unidade: • Os sistemas dinâmicos podem ser classificados em sistemas dinâmicos a variáveis contínuas e sistemas dinâmicos a eventos discretos. • Um sistema a eventos discretos (SED) é um sistema dinâmico cujas variações de estado são estritamente condicionadas pela ocorrência de eventos. • Os sistemas de modelagens a eventos discretos podem ser as Cadeias de Markov, Teoria das Filas, Álgebra de Processos, Teorias de Autômatos e Linguagens Formais e Redes de Petri. RESUMO DO TÓPICO 1 21 Ao final deste tópico, caro(a) acadêmico(a), você vai aprofundar seus conhecimentos adquiridos, respondendo às questões a seguir: 1 Quais são os elementos de um modelo de sistema dinâmico? 2 Qual é o objetivo do controle dinâmico? 3 Quais são os princípios fundamentais da técnica do controle dinâmico? 4 Quais os campos onde se pode aplicar a Teoria de Controle? 5 Defina rede lógica. AUTOATIVIDADE 22 23 TÓPICO 2 ARQUITETURA DA AUTOMAÇÃO INDUSTRIAL UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO O termo Arquitetura da Informação foi empregado inicialmente por Wurman, na década de 1960. (WURMAN, 1991). Com o crescimento da internet e sua transformação numa mídia fundamental, o termo foi empurrado para o centro das atenções. Sendo arquiteto por formação, Wurman, estava inicialmente preocupado com a reunião, a organização e a apresentação de informações, com objetivos definidos. Para Wurman (1991), o arquiteto da informação é definido como o “indivíduo que organiza padrões inerentes aos dados, transformando o que é complexo em algo claro”. Pode ser também uma pessoa que “cria a estrutura ou o mapa de determinada informação, de modo a possibilitar a outras que criem o seu caminho pessoal, em direção ao conhecimento”. Uma terceira definição é apresentada pelo autor da seguinte forma: “A.I. (Automação Industrial) é a profissão emergente do século XXI, cujo escopo é formado por necessidades atuais, focalizadas na clareza, na compreensão humana e na ciência da organização da informação”. A automação industrial vem revolucionando a produção industrial e trazendo, sobretudo melhorias na cadeia produtiva, aumento da produtividade, a redução do erro humano, a redução dos acidentes de trabalho e melhorias na logística da produção, desde a estocagem até a distribuição do produto final. As tecnologias das redes de computadores estão presentes também no “chão de fábrica”, nas máquinas responsáveis pela produção. Com sensores e controles apropriados, é possível verificar e controlar todas as fases da produção de um determinado produto através da internet, inclusive ao ser acionado algum alarme ou sensor de monitoramento, é possível enviar uma mensagem ao e-mail ou ao celular do responsável técnico deste setor. O primeiro passo ao se conceber uma solução qualquer de automação é desenhar a arquitetura do sistema, organizado seus elementos vitais: remotas de aquisição de dados, PLCs, instrumentos, sistema de supervisão etc. em torno de redes de comunicação de dados apropriadas. A escolha da arquitetura irá determinar o sucesso de um sistema em termos de alcançar os seus objetivos de UNIDADE 1 | ENGENHARIA DE AUTOMAÇÃO 24 desempenho, modularidade, expansibilidade etc. As soluções irão depender das limitações de cada projeto em particular. Uma das arquiteturas mais praticadas é a que define duas hierarquias de redes: uma rede de informação e uma rede de controle. (CONSTANTINO, 2010) • Rede de informação:O nível mais alto dentro de uma arquitetura é representado pela rede de informação. Em grandes corporações, é natural a escolha de um backbone de grande capacidade para interligação dos sistemas de ERP (Enterprise Resource Planning), Supply Chain (gerenciamento da cadeia de suprimentos), e EPS (Enterprise Production Systems). Este backbone pode ser representado pela rede ATM ou Gigaethernet ou mesmo por uma Ethernet 100Base-T, utilizando como meio de transmissão cabo par trançado nível 5. Esta última rede vem assegurando uma conquista de espaço crescente no segmento industrial, devido à sua simplicidade e baixo custo. • Rede de controle: Interliga os sistemas industriais de nível 2 ou sistemas SCADA aos sistemas de nível 1 representados por CLPs e remotas de aquisição de dados. Também alguns equipamentos de nível 3 como sistemas PIMS e MES podem estar ligados a este barramento. Até dois anos atrás o padrão mais utilizado era o Ethernet 10Base-T. Hoje o padrão mais recomendado é o Ethernet 100Base-T. Quase todos os grandes fabricantes de equipamentos de automação já possuem este padrão implementado. FIGURA 5 – ARQUITETURA DE UMA REDE DE DUAS CAMADAS – UNIFILAR FONTE: CONSTANTINO, 2010. TÓPICO 2 | ARQUITETURA DA AUTOMAÇÃO INDUSTRIAL 25 As estações clientes se comunicam com seus servidores através da rede de informação e as estações servidores se comunicam com os CLPs através da rede de controle. Do ponto de vista de segurança, é interessante isolar o tráfego de controle do tráfego de informação através de equipamentos de rede. Hoje o equipamento mais utilizado para este fim é o switch Ethernet e o padrão mais utilizado é o 100 Base-T. Além de evitar os problemas de divisão de banda, típico da arquitetura barramento, o switch segmenta a rede. O switch assegura a criação de uma rede Ethernet livre de colisões, esta nova concepção de rede é denominada de rede Ethernet Industrial. (CONSTANTINO, 2010) 2 PIRÂMIDE DE AUTOMAÇÃO Segundo Seixas Filho e Finkel (2003), a automação industrial exige a realização de muitas funções, segundo uma maneira simples e didática de visualizar toda essa estrutura descrita anteriormente, pode ser expressa na Figura a seguir: FIGURA 6 – PIRÂMIDE HIERÁRQUICA DETALHADA FONTE: SEIXAS FILHO; FINKEL, 2003. Este modelo hierárquico estratifica os sistemas de manufatura em níveis: • Nível 0 – Instrumentação: Dispositivos de campo, sensores e atuadores; • Nível 1 - Controladores: PLCs, Remotas de sistemas digitais de controle distribuídos (SDCDs); • Nível 2 – Supervisão: Sistemas de supervisão e aquisição de dados (SCADA), interface homem maquina (IHM) e otimizadores de processo dentro do conceito de APC (Advanced Process Control); UNIDADE 1 | ENGENHARIA DE AUTOMAÇÃO 26 • Nível 3 – Gestão da produção: Sistemas MÊS (Manufacturing Execution System), PIMS (Process Information Management System), APS (Advanced Planning and Scheduling), LIMS (Lab Information System), sistemas de manutenção (Maintenance Management System), Sistema de Gestão de Ativos (Asset Management System) etc.; • Nível 4 – Sistemas Integrados de Gestão Empresarial (ERP - Enterprise Resource Planning); • Nível 5 – Data Warehousing corporativos, um sistema de computação utilizado para armazenar informações relativas às atividades de uma organização em bancos de dados e sistemas EIS (Executive Information Systems), que tem como objetivo principal dar suporte à tomada de decisão. Para compreender o modelo proposto pela figura anterior basta compreender que no nível 3 ou acima é onde são utilizados os softwares gerenciais e corporativos, interligados usando Intranet e acesso à Internet, permitindo a comunicação entre todos os departamentos da empresa envolvidos no gerenciamento industrial. Já no nível 2, é necessário interligar as estações de operação às estações de cálculo, banco de dados para que seja possível realizar funções de supervisão, armazenamento e tratamento das informações do processo. O nível 1 tem por função conectar os CLPs e as estações de controle e o nível 0 faz a interface entre os controladores e aos dados dos equipamentos e componentes do processo. Cada um dos níveis tem requisitos diferentes para a instalação da rede e por isso existe uma infinidade de redes que podem atuar em cada uma das camadas da pirâmide. Por isso é necessário conhecer o tipo de aplicação que o usuário final está procurando para assim utilizar uma tecnologia que seja compatível e que possa oferecer um melhor desempenho e consequentemente menos falhas no sistema. (FORTE, 2004) 3 INTRODUÇÃO A ÁREAS DE INFORMÁTICA INDUSTRIAL O desenvolvimento de software para automação industrial foi grandemente impulsionado pela adoção dos protocolos digitais, tanto sob a forma de software embarcado dado a necessidade de drives de comunicação para os dispositivos, quanto de ferramentas de software para supervisão, controle, calibração e configuração remota de instrumentos de campo. Surgiu também a oportunidade de criação de programas para tratamento da grande quantidade de dados que passou a ser transmitida do campo para a sala de controle, bem como para geração de informações úteis para outros setores da empresa. (GUTIERREZ; PAN, 2010). TÓPICO 2 | ARQUITETURA DA AUTOMAÇÃO INDUSTRIAL 27 Os sistemas de gerência de informação industrial, que são englobados com o termo geral de Enterprise Production Systems (EPS), onde estão incluídos os Plant Information Management System (PIMS) e os Manufacturing Execution Systems (MES) atuam como um “intermediário” entre o chão de fábrica e os sistemas corporativos de gestão da planta, Enterprise Resource Planning (ERP), responsáveis pela transformação desses dados em informações de negócio. Apesar de serem responsáveis em suma pela coleta e disponibilização de dados do chão de fábrica, eles são diferentes, isto é, desempenham diferentes papéis nesse contexto, embora, segundo Carvalho (2010), alguns sistemas comerciais de PIMS e MES hoje disponíveis no mercado apresentem, de forma “errônea”, algumas sobreposições funcionais, o que cria dificuldades adicionais posteriores de integração e mesmo de compreensão dos conceitos. 3.1 MES - SISTEMA DE EXECUÇÃO DA MANUFATURA MES (Manufacturing Execution System) ou Sistema de Execução da Manufatura foi criado em 1990 por Bruce Richardson da Advance Manufacturing Research (AMR). Controla todo o fluxo produtivo, incluindo estoques de matérias- primas, produtos em processamento e disponibilidade de máquinas. Através do MES, podem ser calculados os indicadores chave de desempenho (Key Performance Indicators - KPI), que contribuem para a melhoria do desempenho da planta local. (GUTIERREZ; PAN, 2010). Surgiu da necessidade de se constituir um nível intermediário entre os sistemas integrados de gestão empresarial (Enterprise Resource Planning - ERP) e o chão de fábrica. Devido à natureza dos dados, os MES são mais voltados à indústrias de processos discretos, por batelada. Um sistema MES coleta e acumula informações do realizado no chão de fábrica e as realimenta para o sistema de planejamento. O MES cumpre dois papéis: um é o de controlar a produção, ou seja, considera o que foi efetivamente produzido e como foi produzido e permite comparações com o que estava planejado para, em caso de não coincidência, permitir o disparo de ações corretivas. O outro papel é de liberar as ordens de produção, tendo a preocupação de detalhar a decisão de programação da produção definida pelo MRP (manufacturing resources planning), ou seja, garantir que o plano definido pelo MRP seja cumprido. Com isso, é possível saber exatamente a capacidade do chão de fábrica dentro de um determinado horizonte de planejamento. (CORRÊA; GIANESI; CAON, 1997). A necessidade de automatizar os processos para responder commais agilidade e competitividade às exigências do cliente é uma preocupação para as empresas. Neste contexto, a automação focalizada no negócio e nos resultados a serem alcançados, consiste no alicerce para se atingir esta competitividade. A disponibilidade de informações atualizadas e precisas é fundamental para se ter êxito nesta tarefa. (CARVALHO, 2010) UNIDADE 1 | ENGENHARIA DE AUTOMAÇÃO 28 Integrar as informações do chão de fábrica com os sistemas de tomada de decisão não é uma tarefa fácil e instantânea. Os processos devem ser sistematizados antes de serem automatizados. É necessária uma equipe multidisciplinar e também muita discussão para se achar a melhor solução custo benefício. A figura a seguir mostra os componentes da pirâmide de automação com a introdução dos sistemas de gestão empresarial denominado ERP (Enterprise Resource Planning) e MES (Manufacturing Execution System). (CARVALHO, 2010) FIGURA 7 – A PIRÂMIDE DA AUTOMAÇÃO ANTES E DEPOIS DOS SISTEMAS ERP E MES FONTE: CARVALHO, 2010. O grande desafio da automação é em primeiro lugar estabelecer um amplo diálogo com a equipe de produção e a equipe de tomada de decisões para entender bem o processo produtivo e as informações necessárias para depois propor o que precisa ser feito em termos de arquitetura do sistema. O conceito é transformar uma “montanha” de dados aquisitados em informação útil para tomada de decisões. (CARVALHO, 2010) O uso do MES é devido a sua capacidade de ajudar na eficiência do processo industrial. Utilizando estes indicadores chave de desempenho, a performance on- line poderá ser monitorada, acessada e melhorada, além de outras áreas como a análise das eficiências global de equipamentos e da planta, do inglês Overall Equipment Efficiency e Overall Plant Efficiency, respectivamente. Segundo Carvalho (2010), a performance pode ser medida em tempo real com relatórios resumidos que permitem que ações instantâneas ou planejadas sejam tomadas de forma que a qualidade seja mantida ou melhorada, este é o principal objetivo de um sistema MES e os principais motivos para a utilização de um sistema de execução de manufatura são: • redução do tempo de ciclo de produção; • aumentar a qualidade do produto; • otimização dos recursos empregados na produção; • prevenir erros de produção; • simplificar o processo de produção; • diminuir custos de produção. TÓPICO 2 | ARQUITETURA DA AUTOMAÇÃO INDUSTRIAL 29 No âmbito de soluções MES, existe uma organização internacional chamada MESA (Manufacturing Enterprise Solution Association), que tenta criar modelos, guidelines, especificações e métricas para sistemas MES, que contribui com a ISA (Modelo ISA-95). (RABELO, 2010) 3.2 PIMS – PLANT INFORMATION MANAGEMENT SYSTEM Software utilizado para armazenamento de todas as informações relevantes de processo. Coleta informações dos sistemas de supervisão, sistemas de controle e sistemas legados (já existentes) e os armazena em uma base de dados, que se distingue dos bancos de dados convencionais por ter grande capacidade de compactação e alta velocidade de resposta a consulta local. (GUTIERREZ; PAM, 2010) Segundo Seixas Filho (2010), PIMS são sistemas que adquirem dados de processo de diversas fontes, os armazenam num banco de dados históricos e os disponibilizam através de diversas formas de representação. O PIMS nasceu na indústria de processos contínuos, mais propriamente na indústria química e petroquímica para resolver o problema da fragmentação de dados e proporcionar uma visão unificada do processo. A implantação de um PIMS facilita a implantação de outros módulos de software como reconciliador de dados, sistema especialista, MES, Supply Chain Manager e facilita a integração de sistemas ERP com o chão de fábrica (figura a seguir). A principal função de um PIMS é concentrar a massa de dados e permitir transformar dados em informação e esta informação em conhecimento. Para um engenheiro de processo é a ferramenta fundamental que permite tirar conclusões sobre o comportamento atual e passado da planta, que permite confrontar o comportamento recente com o de dias atrás ou com o melhor já observado no sistema. FIGURA 8 – INTEGRAÇÃO PIS E MES Enterprise Resource Planning Manufacturing Execution System Plant Information Management System SCADA + CLP FONTE: SEIXAS FILHO, 2010. UNIDADE 1 | ENGENHARIA DE AUTOMAÇÃO 30 Segundo Carvalho (2010), os benefícios gerados pela implantação de um sistema PIMS são muitos, entre eles destacam-se: • centralização dos dados de processo, já que os sistemas PIMS centralizam toda a informação em uma única base de dados; • democratização da informação, já que o sistema permite que todos os usuários tenham acesso aos dados da planta instantaneamente; • visualização do processo produtivo em tempo real, seja através de gráficos de tendências, relatórios, telas sinóticas, aplicações Web etc.; • maior interatividade com os dados do processo, permitindo realizar cálculos, estudos estatísticos e lógica de eventos utilizando os dados do processo; • histórico de dados, capaz de armazenar até 15 anos de dados de processo graças à eficiência de seu algoritmo de compressão; • receita de processo, que permite identificar e armazenar os dados correspondentes ao melhore resultado obtido na produção, para que estes sirvam como referência para as interações futuras. Na sua forma clássica, os sistemas PIMS acessam as fontes de dados localizadas no nível 1, onde estão os sistemas de supervisão e aquisição de dados (SCADA) e sistema digital de controle distribuído (SDCD). Porém, há algumas implementações que também acessam dados diretamente do Nível 1, por exemplo, dos CLPs. (RABELO, 2010) TÓPICO 2 | ARQUITETURA DA AUTOMAÇÃO INDUSTRIAL 31 LEITURA COMPLEMENTAR ANÁLISE DE CONVERGÊNCIA PARA ARQUITETURAS PARA AUTOMAÇÃO INDUSTRIAL: ABORDAGEM DE INTEGRAÇÃO TA E TI Devido à inerente expansão das plantas industriais, as redes fieldbus constituíram-se em níveis hierárquicos, dentro do contexto corporativo, onde a supervisão dos processos industriais e gestão administrativa ocorrem quase de forma totalmente independente, conforme figura a seguir, definindo uma Pirâmide de Automação. PIRÂMIDE – REDES E PROCESSOS DE AUTOMAÇÃO Nível 02 Nível 01 Nível 03 Nível 04 Nível 05 FONTE: MORAES; CASTRUCCI, 2007. Os níveis administrativos, responsáveis pelo planejamento estratégico, utilizam basicamente padrões de comunicação baseados em Ethernet e protocolos TCP/IP, a tabela a seguir descreve os níveis hierárquicos do processo produtivo, e principais dispositivos utilizados por respectivo nível. UNIDADE 1 | ENGENHARIA DE AUTOMAÇÃO 32 TABELA – NÍVEIS DE ATUAÇÃO X DISPOSITIVOS – PIRÂMIDE DE AUTOMAÇÃO Níveis de Pirâmide Atuação do Nível da Pirâmide Dispositivos Protocolos Nível 05 Gerenciamento corporativo MainFrame Nível 04 Gerenciamento da planta industrial Workstation Nível 03 Supervisão industrial Workstation, PC, IHM Nível 02 Controle industrial CLP, PC, CNC, SDCD Nível 01 Dispositivos, sensores e atuadores de campo Sensores, atuadores analógicos e digitais Ethernet/MAC/TCP/IP Ethernet/MAC/TCP/IP ControlNet/Profibus FMS/Fieldbus FieldbusH1/CAN/Hart/ProfibusDP PA Asi/LonWorks Interbus FONTE: MORAES; CASTRUCCI, 2007. FONTE: Disponível em: <http://www.labsoft.com.br/arquivos/artigos/CT-053_09.pdf>. Acesso em: 22 out. 2010. 33 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, tratamos especificamente os sistemas flexíveis de manufatura, a seguir resumimos o que vimos para facilitar a fixação da unidade: • A arquitetura do sistema pode ser desenhada a partir de redes de informação e redes de controle. • Existem níveis de automação em uma planta industrial que são: instrumentação,
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