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2 CAPÍTULO Campo elétrico O modelo de campos é utilizado para a explicação das forças de interação entre dois ou mais corpos e de como essas forças podem ser transmitidas a distância. Os campos podem ter origens diversas, como gravitacional, quando são gerados por mas- sas, magnética, quando são gerados por imãs ou cargas elétricas em movimento, ou elétrica, quando gerados por cargas elétricas. O campo elétrico permite explicar, por exemplo, por que ocorrem os relâmpagos ou outras descargas elétricas. Esse será o nosso objeto de estudo ao longo deste capítulo. FRENTE 2 R o s s E ll e t/ S h u tt e rs to c k .c o m FÍSICA Capítulo 2 Campo elétrico162 Conceito de campo elétrico Introdução Na natureza, um dos tipos mais comuns de força são as forças de campo. O efeito dessas forças pode ser sentido mesmo a distância, ainda que não haja contato entre os cor- pos. Um modelo que se mostrou extremamente eficiente para explicar a ação de tais forças é o modelo de campos. Nesse modelo, assume-se que um corpo gera ao seu redor um cam- po, o qual é expresso matematicamente por um vetor que em cada ponto do espaço possui um módulo, uma direção e um sentido. Os campos podem ter origens diversas, tais como gravitacional, quando gerados por massas, magnética ou elétrica, quando gerados por ímãs e/ou cargas elétricas. Neste capítulo será estudado o campo elétrico, uma im- portante grandeza física cuja correta compreensão permitiu todos os avanços na área de comunicação sem fio, visto que o campo elétrico é parte fundamental do modelo de ondas eletromagnéticas, uma das bases mais importantes dos avanços tecnológicos da sociedade moderna. Para facilitar a compreensão do campo elétrico, será utilizada uma analogia com o campo gravitacional. Terra Fig. 1 A Terra é atraída pelo Sol para manter a órbita. A Terra orbita o Sol devido à força de atração gravita- cional que existe entre eles. A força que um exerce sobre o outro é “sentida” mesmo não havendo contato entre es- ses corpos. No modelo de campos, isso é possível devido à ação do campo gravitacional que transmite a força de atração gravitacional de um corpo ao outro. Todos os corpos, por terem massa, criam em torno de si um campo gravitacional, cuja função é transmitir uns aos outros a força gravitacional. Daí a explicação da força exis- tente entre, por exemplo, a Terra e o Sol. Analogamente, as cargas elétricas também são capazes de exercer forças a distância. Dessa forma, pode-se modelar a ação dessas forças, assumindo a existência de um campo em torno das cargas, nesse caso o elétrico, que é capaz de transmitir tais forças. q Q F F –+ Fig. 2 Interação entre duas cargas colocadas no vácuo. Prótons e elétrons se atraem, mesmo a distância, devido à existência de um campo elétrico gerado por essas car- gas. Generalizando, se há ação de uma força a distância, a transmissão dessa força é modelada pela existência de um campo relacionado. Atenção É muito importante ressaltar que a teoria de campos, conforme apresentada, é apenas um conjunto de princípios, não sendo de forma alguma a verdade definitiva a respeito da ação de forças a distância. Atualmente, novas teorias vêm sendo formuladas, indican- do a presença de partículas capazes de transmitir essas forças a distância, como veremos nos tópicos de Física Moderna. Um detalhe importante é que, ao contrário do que Newton pensava, a transmissão de forças a distância não é instantânea, ou seja, leva um tempo para que um cor- po sinta a presença do outro. A teoria da relatividade de Einstein mostra que a velocidade máxima para que isso ocorra é a velocidade da luz. Definição de campo elétrico Considere que a Terra causa, em um ponto A de suas imediações, um campo gravitacional de intensidade g. Se uma massam for colocada nesse ponto, ficará sujeita a uma força gravitacional de intensidade P (peso). mA g Fig. 3 Massa sob a ação do campo gravitacional da Terra. Sabemos que o campo gravitacional g pode ser dado por: Na equação anterior, é importante ressaltar que sendo a massa sempre um número positivo, a força peso tem sem- pre a mesma direção e sentido da aceleração da gravidade. De forma análoga, pode-se afirmar que uma carga elétrica fonte, Q, cria em torno de si um campo elétrico, de tal forma que, se uma carga de prova q (isto é, uma partícula carregada usada como teste) for colocada nas proximidades da carga fonte, ela experimenta uma força F. Supondo que as cargas tenham sinais opostos, a ação do campo criado pela carga fonte sob a carga de prova pode ser observada na figura 4. F R E N T E 2 163 d P Carga de provaCarga fonte Q q F e Fig. 4 Força sobre q devido ao campo gerado por Q. Assim, seja um ponto P desse campo elétrico colo- cado a uma distância d da carga fonte Q, se uma carga de prova é colocada no ponto P, conforme observado na figura anterior, ela fica sujeita a uma força de intensida- de Fe. Dessa forma, assim como na definição do campo gravitacional, pode-se definir o campo elétrico como: Observa-se que a equação acima tem um formato muito similar àquele do campo gravitacional, porém com uma diferença muito importante. Enquanto a massa é sem- pre positiva, a carga pode ser positiva ou negativa. Assim, podemos afirmar que, quando a carga de prova é posi- tiva, campo elétrico e força elétrica têm mesma direção e mesmo sentido. No caso em que a carga de prova é negativa, os sentidos da força elétrica e do campo elétrico são opostos. Dessa forma, percebe-se que: y uma massa m, quando imersa em um campo gravita- cional de intensidade g, fica sujeita a uma força peso, cujo módulo é dado por P = mg. y uma carga de módulo q, quando imersa em um campo elétrico de intensidade E, fica sujeita a uma força elé- trica Fe, cujo módulo é dado por Fe = qE. Logo, verificamos que, exceto os sinais das cargas e da massa, há uma grande analogia nas definições dos campos gravitacional e elétrico e as respectivas forças; mostrada no quadro a seguir. Força de campo Agente que sofre a ação do campo Campo de força P = m · g Fe = q · E Tab. 1 Comparação entre o campo elétrico e o campo gravitacional. Orientação do vetor campo elétrico devido a cargas puntiformes A orientação do vetor campo elétrico depende única e exclusivamente da carga fonte que o gera. Nesse ponto do estudo, serão determinados a direção e o sentido do campo elétrico gerado por cargas puntiformes positivas e nega- tivas. O sentido obtido para cargas puntiformes pode ser aplicado a quaisquer outras distribuições de carga, obser- vando-se os seus sinais e como essas cargas se distribuem. Campo elétrico gerado por cargas fontes positivas Na figura, tem-se uma carga fonte positiva Q. Carga de prova q Carga fonte Q Q + + Carga fonte Q F e E Carga de prova −q F e E – + Fig. 5 Carga fonte positiva próxima a cargas de prova de sinais diferentes. Ao se aproximar dessa carga fonte uma carga de prova também positiva +q, observa-se uma força repulsiva. Ora, como a carga de prova é positiva, o campo elétrico tem a mesma direção e sentido da força elétrica, ou seja, apon- tando para fora da carga. No caso de se aproximar uma carga de prova negativa -q, a força passa a ser atrativa e o sentido do campo elétrico torna-se contrário ao da força elétrica, ou seja, ele aponta para fora da carga. Assim, conclui-se que o campo elétrico causado por cargas fontes positivas +Q diverge delas, isto é, o campo E aponta para fora dessas cargas. Campo elétrico gerado por cargas fontes negativas Na figura abaixo tem-se uma carga fonte negativa -Q. Carga de prova q Carga fonte Q Q Carga fonte Q F e Carga de prova −q – – F e E E – + Fig. 6 Carga fonte negativa próxima a cargas de prova de sinais diferentes. Ao se aproximar dessa carga fonte uma carga de pro- va positiva +q, observa-se uma força atrativa. Ora, como a carga de prova é positiva, ocampo elétrico tem a mesma direção e sentido da força elétrica, ou seja, apontando para a carga fonte. No caso de se aproximar uma carga de prova negativa -q, a força passa a ser repulsiva e o sentido do campo elétrico torna-se contrário ao da força elétrica, ou seja, ele aponta para a carga fonte. Assim, conclui-se que o campo elétrico causado por cargas fontes negativas converge para elas, ou seja, apon- ta para elas. O vetor campo elétrico O que foi exposto anteriormente permite concluir que o vetor campo elétrico é tal que: y o seu módulo é dado por E F q = , em que F é a intensidade da força que age sobre uma carga de prova de módulo |q| colocada em um ponto do campo elétrico. A unidade do campo elétrico no SI é N/C (newton/coulomb) ou V/m (volt/metro). FÍSICA Capítulo 2 Campo elétrico164 y sua direção é a mesma da força F que age sobre a carga de prova q. y seu sentido é o mesmo da força F no caso em que a carga de prova é positiva, e oposto à força no caso em que a carga de prova é negativa. +q -q E E F e F e Fig. 7 Ação do campo elétrico sobre cargas de prova positiva e negativa. Exercício resolvido 1 Em um ponto de um campo elétrico, o vetor campo elétrico tem direção horizontal, sentido da direita para a esquerda e intensidade 10 5 N/C. Coloca-se, nesse ponto, uma carga puntiforme de -3 mC. Determine a intensidade, a direção e o sentido da força que atua na carga. q < 0 FE Resolução: A força F que atua na carga tem: Intensidade: F = |q| · E F = 3 · 10-6 · 10 5 F = 0,3 N Direção: horizontal (mesma de E) Sentido: da esquerda para a direita (oposto ao de E, pois q < 0) Portanto, a força elétrica que atua em q tem intensi- dade 0,3 N, direção horizontal e sentido da esquerda para a direita. Campo elétrico gerado por cargas elétricas puntiformes As cargas puntiformes são as estruturas mais simples capazes de gerar campos elétricos. Dessa forma, é muito simples determinar-se o módulo, a direção e o sentido do campo elétrico gerado por elas. A figura a seguir ilustra o vetor campo elétrico gerado por tais cargas. d d P P Q Q E E –+ Fig. 8 Campo gerado por cargas puntiformes positiva e negativa em um ponto P. A figura ilustra o que já é sabido a respeito da dire- ção e sentido do campo elétrico gerado em um ponto P distante da carga por uma distância d. Uma observação importante é que a força elétrica surge quando existem, em uma certa região do espaço, pelo menos duas cargas elétricas. Já o campo elétrico existe quando uma única carga elétrica é colocada nessa região. Para a determinação do módulo do campo elétrico, será utilizada a lei de Coulomb. Imagine uma carga de prova q colocada no ponto P da figura anterior. A lei de Coulomb afirma que: F K Q q d = 2 Da definição do campo elétrico, tem-se que: E F q = Substituindo-se a equação (I) em (II), tem-se que: E K Q d 2 = A equação anterior mostra matematicamente que o campo elétrico gerado por uma carga puntiforme positiva de módulo |Q| depende única e exclusivamente do meio, com propriedades definidas pela constante eletrostáti- ca K, da distância d da carga ao ponto e do módulo da carga elétrica |Q|, responsável pela geração do campo. Novamente, é importante ressaltar que este campo não depende das cargas de prova que são colocadas em sua presença. A representação gráfica do módulo do campo elétrico gerado por uma carga puntiforme em função da distância é mostrada na figura 9. d E 0 |Q| E = K d2 Fig. 9 Gráfico do campo elétrico gerado por carga puntiforme em função da distância. Observa-se o decaimento do campo com o inverso do quadrado da distância, assim como na lei de Coulomb, e que o campo elétrico no ponto onde a carga se encon- tra (d = 0) tende a infinito. Na verdade, o valor do campo elétrico não está definido para d = 0. Pode-se dizer que a carga não sofre a ação do campo elétrico que ela mesma cria, caso contrário ela poderia acelerar-se sob a ação de uma força elétrica gerada por ela própria, o que viola a lei da inércia, que afirma que um corpo não pode, por si só, alterar a sua velocidade. Essa afirmativa leva à conclusão de que uma carga de prova, ao ser colocada em um ponto qualquer de um campo elétrico, não altera o campo existente nesse ponto. Assim, o vetor campo elétrico em um ponto independe da carga de prova que possa existir ali. (I) (II)
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