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Exercícios – Fernando Pessoa 
 
Profº Mari Neto 
 
 
Página 1 de 9 
 TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: 
Leia o ensaio de Eduardo Giannetti a seguir. 
 
A maçã da consciência de si. – O labrador dourado saltando com a 
criança na grama; o balé acrobático do sagui; a liberdade alada da 
arara-azul cortando o céu sem nuvens – quem nunca sentiu inveja 
dos animais que não sabem para que vivem nem sabem que não o 
sabem? Inveja dos seres que não sentem continuamente a falta do 
que não existe; que não se exaurem e gemem sobre a sua condição; 
que não se deitam insones e choram pelos seus desacertos; que não 
se perdem nos labirintos da culpa e do desejo; que não castigam seus 
corpos nem negam os seus desejos; que não matam os seus 
semelhantes movidos por miragens; que não se deixam enlouquecer 
pela mania de possuir coisas? O ônus da vida consciente de si 
desperta no animal humano a nostalgia do simples existir: o desejo 
intermitente de retornar a uma condição anterior à conquista da 
consciência. – A empresa, contudo, padece de uma contradição fatal. 
A intenção de se livrar da autoconsciência visando a completa 
imersão no fluxo espontâneo e irrefletido da vida pressupõe uma 
aguda consciência de si por parte de quem a alimenta. Ela é como o 
fruto tardio sonhando em retornar à semente da qual veio ao galho. 
[...] O desejo de saltar para aquém do cárcere do pensar se pode 
compreender – e até cultivar – em certa medida, mas o lado de fora 
não há. A consciência é irreparável; dela, como do tempo, ninguém 
torna atrás ou se desfaz. Desmorder a maçã não existe como opção. 
 
(Trópicos utópicos, 2016.) 
 
 
 
1. (Unesp 2020) 
a) No ensaio, o que o autor entende por “simples existir”? 
 
b) Considere os seguintes trechos de poemas de Fernando Pessoa: 
 
1. De resto, nada em mim é certo e está 
De acordo comigo próprio. As horas belas 
São as dos outros ou as que não há. 
 
2. O essencial é saber ver, 
Saber ver sem estar a pensar, 
Saber ver quando se vê, 
E nem pensar quando se vê 
Nem ver quando se pensa. 
 
3. O meu misticismo é não querer saber. 
É viver e não pensar nisso. 
Não sei o que é a Natureza: canto-a. 
 
4. Venho de longe e trago no perfil, 
Em forma nevoenta e afastada, 
O perfil de outro ser que desagrada 
Ao meu atual recorte humano e vil. 
 
Em quais trechos se observa “a intenção de se livrar da 
autoconsciência visando a completa imersão no fluxo espontâneo e 
irrefletido da vida”? Justifique sua resposta. 
 
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: 
Texto para a(s) questão(ões) a seguir. 
 
Sonetilho do falso Fernando Pessoa 
 
Onde nasci, morri. 
Onde morri, existo. 
E das peles que visto 
muitas há que não vi. 
 
Sem mim como sem ti 
posso durar. Desisto 
de tudo quanto é misto 
e que odiei ou senti. 
 
Nem Fausto nem Mefisto, 
à deusa que se ri 
deste nosso oaristo*, 
 
eis‐me a dizer: assisto 
além, nenhum, aqui, 
mas não sou eu, nem isto. 
 
Carlos Drummond de Andrade. Claro Enigma. 
 
*conversa íntima entre casais. 
 
 
Ulisses 
 
O mito é o nada que é tudo. 
O mesmo sol que abre os céus 
É um mito brilhante e mudo ‐ 
O corpo morto de Deus, 
Vivo e desnudo. 
 
Este, que aqui aportou, 
Foi por não ser existindo. 
Sem existir nos bastou. 
Por não ter vindo foi vindo 
E nos criou. 
 
Assim a lenda se escorre 
A entrar na realidade, 
E a fecundá‐la decorre. 
Em baixo, a vida, metade 
De nada, morre. 
 
Fernando Pessoa. Mensagem. 
 
 
2. (Fuvest 2019) Considerando os poemas, assinale a alternativa 
correta. 
a) As noções de que a identidade do poeta independe de sua 
existência biográfica, no “Sonetilho”, e de que o mito se perpetua para 
além da vida, em “Ulisses”, produzem uma analogia entre os poemas. 
b) As referências a Mefisto (“diabo”, na lenda alemã de Fausto) e a 
Deus no “Sonetilho” e em “Ulisses”, respectivamente, associadas ao 
polo de opostos “morte” e “vida”, revelam uma perspectiva cristã 
comum aos poemas. 
c) O resgate da forma clássica, no “Sonetilho”, e a referência à 
primeira pessoa do plural, em “Ulisses”, denotam um mesmo espírito 
agregador e comunitário. 
d) O eu lírico de cada poema se identifica, respectivamente, com seus 
títulos. No poema de Drummond, trata‐se de alguém referido como 
 
 
 
 
Página 2 de 9 
“falso Fernando Pessoa”, já no poema de Pessoa, o eu lírico é 
“Ulisses”. 
e) Os versos “As coisas tangíveis / tornam‐se insensíveis / à palma 
da mão. // Mas as coisas findas, / muito mais que lindas, / essas 
ficarão”, de outro poema de Claro Enigma, sugerem uma relação de 
contraste com os poemas citados. 
 
3. (Unesp 2018) Ricardo Reis é, assim, o heterônimo clássico, ou 
melhor, neoclássico: sua visão da realidade deriva da Antiguidade 
greco-latina. Seus modelos de vida e de poesia, buscou-os na Grécia 
e em Roma. 
(Massaud Moisés. “Introdução”. In: Fernando Pessoa. 
O guardador de rebanhos e outros poemas, 1997.) 
 
 
Levando-se em consideração esse comentário, pertencem a Ricardo 
Reis, heterônimo de Fernando Pessoa (1888-1935), os versos: 
 
a) Nada perdeu a poesia. E agora há a mais as máquinas 
Com a sua poesia também, e todo o novo gênero de vida 
Comercial, mundana, intelectual, sentimental, 
Que a era das máquinas veio trazer para as almas. 
b) Súbita mão de algum fantasma oculto 
Entre as dobras da noite e do meu sono 
Sacode-me e eu acordo, e no abandono 
Da noite não enxergo gesto ou vulto. 
c) Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio. 
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos 
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas. 
(Enlacemos as mãos.) 
d) À dolorosa luz das grandes lâmpadas elétricas da fábrica 
Tenho febre e escrevo. 
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto, 
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos. 
e) O poeta é um fingidor. 
Finge tão completamente 
Que chega a fingir que é dor 
A dor que deveras sente. 
 
4. (Unifesp 2017) Leia um trecho do “Manifesto do Futurismo” 
publicado por Filippo Tommaso Marinetti (1876-1944) no ano de 
1909. 
 
Nós cantaremos as grandes multidões movimentadas pelo trabalho, 
pelo prazer ou pela revolta; as marés multicoloridas e polifônicas das 
revoluções nas capitais modernas; a vibração noturna dos arsenais e 
dos estaleiros sob suas luas elétricas; as estações glutonas 
comedoras de serpentes que fumam; as usinas suspensas nas 
nuvens pelos barbantes de suas fumaças; os navios aventureiros 
farejando o horizonte; as locomotivas de grande peito, que 
escoucinham os trilhos,como enormes cavalos de aço freados por 
longos tubos, e o voo deslizante dos aeroplanos, cuja hélice tem os 
estalos da bandeira e os aplausos da multidão entusiasta. 
 
(Apud Gilberto Mendonça Teles. Vanguarda europeia e modernismo 
brasileiro, 1992. Adaptado.) 
 
 
Em consonância com este preceito do Futurismo estão os seguintes 
versos, extraídos da produção poética de Fernando Pessoa (1888-
1935): 
a) Nas cidades a vida é mais pequena 
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro. 
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave, 
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o 
céu, 
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos 
podem dar, 
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver. 
 
b) Ontem à tarde um homem das cidades 
Falava à porta da estalagem. 
Falava comigo também. 
Falava da justiça e da luta para haver justiça 
E dos operários que sofrem, 
E do trabalho constante, e dos que têm fome, 
E dos ricos, que só têm costas para isso. 
E, olhando para mim, viu-me lágrimas nos olhos 
E sorriu com agrado, julgando que eu sentia 
O ódio que ele sentia, e a compaixão 
Que ele dizia que sentia. 
 
c) Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos, 
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias, 
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro 
Ouvindo correr o rio e vendo-o. 
Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as 
No colo, e que o seu perfume suavize o momento – 
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada, 
Pagãos inocentes da decadência.d) Levando a bordo El-Rei dom Sebastião, 
E erguendo, como um nome, alto o pendão 
Do Império, 
Foi-se a última nau, ao sol aziago 
Erma, e entre choros de ânsia e de pressago 
Mistério. 
Não voltou mais. A que ilha indescoberta 
Aportou? Voltará da sorte incerta 
Que teve? 
 
e) Amo-vos a todos, a tudo, como uma fera. 
Amo-vos carnivoramente, 
Pervertidamente e enroscando a minha vista 
Em vós, ó coisas grandes, banais, úteis, inúteis, 
Ó coisas todas modernas, 
Ó minhas contemporâneas, forma atual e próxima 
Do sistema imediato do Universo! 
Nova Revelação metálica e dinâmica de Deus! 
 
5. (Unesp 2017) Carpe diem: Esse conhecido lema, extraído das 
Odes do poeta latino Horácio (65 a.C.-8 a.C.), sintetiza 
expressivamente o seguinte motivo: saber aproveitar tudo o que se 
apresente de positivo (mesmo que pouco) e transitório. 
(Renzo Tosi. Dicionário de sentenças latinas e gregas, 2010. 
Adaptado.) 
 
 
Das estrofes extraídas da produção poética de Fernando Pessoa 
(1888-1935), aquela em que tal motivo se manifesta mais 
explicitamente é: 
a) Nem sempre sou igual no que digo e escrevo. 
Mudo, mas não mudo muito. 
A cor das flores não é a mesma ao sol 
De que quando uma nuvem passa 
Ou quando entra a noite 
E as flores são cor da sombra. 
b) Cada um cumpre o destino que lhe cumpre, 
E deseja o destino que deseja; 
 
 
 
 
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Nem cumpre o que deseja, 
Nem deseja o que cumpre. 
c) Como um ruído de chocalhos 
Para além da curva da estrada, 
Os meus pensamentos são contentes. 
Só tenho pena de saber que eles são contentes, 
Porque, se o não soubesse, 
Em vez de serem contentes e tristes, 
Seriam alegres e contentes. 
d) Tão cedo passa tudo quanto passa! 
Morre tão jovem ante os deuses quanto 
Morre! Tudo é tão pouco! 
Nada se sabe, tudo se imagina. 
Circunda-te de rosas, ama, bebe 
E cala. O mais é nada. 
e) Acima da verdade estão os deuses. 
A nossa ciência é uma falhada cópia 
Da certeza com que eles 
Sabem que há o Universo. 
 
6. (Unesp 2017) Leia o poema “Sonetilho do falso Fernando Pessoa”, 
de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), que integra o livro 
Claro enigma, publicado em 1951. 
 
Onde nasci, morri. 
Onde morri, existo. 
E das peles que visto 
muitas há que não vi. 
 
Sem mim como sem ti 
posso durar. Desisto 
de tudo quanto é misto 
e que odiei ou senti. 
 
Nem 1Fausto nem 2Mefisto, 
à deusa que se ri 
deste nosso 3oaristo, 
 
eis-me a dizer: assisto 
além, nenhum, aqui, 
mas não sou eu, nem isto. 
 
Claro enigma, 2012. 
 
 
1Fausto: personagem alemão que fez um pacto com o diabo. 
2Mefisto: personagem alemão considerado a personificação do 
diabo. 
3oaristo: conversa carinhosa e familiar. 
 
Carlos Drummond de Andrade intitulou seu poema de “Sonetilho do 
falso Fernando Pessoa”. Por que razão o poeta refere-se a seu 
poema como “sonetilho”? 
 
Transcreva um verso em que a referência aos heterônimos do escritor 
português Fernando Pessoa se mostra evidente. 
Justifique sua resposta. 
 
7. (Ufrgs 2016) Assinale a alternativa correta a respeito da vida e da 
obra do poeta português Fernando Pessoa. 
a) Pessoa foi um dos líderes da revista de literatura Orpheu, 
juntamente com Mário de Sá-Carneiro e Eça de Queiroz. 
b) A criação da revista de literatura Orpheu identifica Pessoa como 
um dos fundadores do Modernismo português. 
c) Pessoa foi responsável pelo espírito derrotista, em que Portugal 
estava mergulhado no final do século XIX. 
d) Os heterônimos de Pessoa, tais como Álvaro de Campos e Ricardo 
Reis, podem ser vistos como pseudônimos, utilizados pelo poeta para 
burlar a censura. 
e) A criação de heterônimos é uma prática comum aos poetas 
colaboradores da revista Orpheu. 
 
8. (Ufrgs 2015) Leia o poema abaixo, presente em O guardador de 
rebanhos, de Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa. 
 
Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo... 
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer, 
Porque eu sou do tamanho do que vejo 
E não do tamanho da minha altura... 
 
Nas cidades a vida é mais pequena 
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro. 
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave, 
Escondem o horizonte, empurram nosso olhar para longe de todo o 
céu, 
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos 
podem dar, 
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver. 
 
Considere as seguintes afirmações sobre o poema. 
 
I. Há uma oposição entre a aldeia e a cidade, e o sujeito lírico prefere 
a primeira. 
II. Há, na cidade, a riqueza, as grandes construções que ampliam a 
visão de horizonte do sujeito lírico. 
III. Há desarmonia entre o poema e o conjunto de O guardador de 
rebanhos, pois o livro tematiza a euforia modernizadora. 
 
Quais estão corretas? 
a) Apenas I. 
b) Apenas II. 
c) Apenas I e II. 
d) Apenas II e III. 
e) I, II e III. 
 
9. (Unifesp 2015) Leia o poema de Ricardo Reis, heterônimo de 
Fernando Pessoa. 
 
Coroai-me de rosas, 
Coroai-me em verdade 
De rosas – 
Rosas que se apagam 
Em fronte a apagar-se 
Tão cedo! 
Coroai-me de rosas 
E de folhas breves. 
E basta. 
 
(As múltiplas faces de Fernando Pessoa, 1995.) 
 
 
O tema tratado no poema é a 
a) necessidade de se buscar a verdadeira razão para uma vida plena. 
b) fugacidade do tempo, remetendo à ideia de brevidade da vida. 
c) busca pela simplicidade da vida, representada pela natureza. 
d) brevidade com que o verdadeiro amor perpassa a vida das 
pessoas. 
e) rapidez com que as relações verdadeiras começam e terminam. 
 
 
 
 
 
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TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: 
A(s) próxima(s) questão(ões) focaliza(m) um excerto de um 
comentário de Fernando Pessoa (1888-1935) e um poema de 
Olegário Mariano (1889-1958). 
 
Nota preliminar 
 
 1 – Em todo o momento de atividade mental acontece em nós 
um duplo fenômeno de percepção: ao mesmo tempo que temos 
consciência dum estado de alma, temos diante de nós, 
impressionando-nos os sentidos que estão virados para o exterior, 
uma paisagem qualquer, entendendo por paisagem, para 
conveniência de frases, tudo o que forma o mundo exterior num 
determinado momento da nossa percepção. 
 2 – Todo o estado de alma é uma paisagem. Isto é, todo o 
estado de alma é não só representável por uma paisagem, mas 
verdadeiramente uma paisagem. Há em nós um espaço interior onde 
a matéria da nossa vida física se agita. Assim uma tristeza é um lago 
morto dentro de nós, uma alegria um dia de sol no nosso espírito. E 
— mesmo que se não queira admitir que todo o estado de alma é uma 
paisagem — pode ao menos admitir-se que todo o estado de alma se 
pode representar por uma paisagem. Se eu disser “Há sol nos meus 
pensamentos”, ninguém compreenderá que os meus pensamentos 
estão tristes. 
 3 – Assim tendo nós, ao mesmo tempo, consciência do exterior 
e do nosso espírito, e sendo o nosso espírito uma paisagem, temos 
ao mesmo tempo consciência de duas paisagens. Ora essas 
paisagens fundem-se, interpenetram- se, de modo que o nosso 
estado de alma, seja ele qual for, sofre um pouco da paisagem que 
estamos vendo – num dia de sol uma alma triste não pode estar tão 
triste como num dia de chuva – e, também, a paisagem exterior sofre 
do nosso estado de alma – é de todos os tempos dizer-se, sobretudo 
em verso, coisas como que “na ausência da amada o sol não brilha”, 
e outras coisas assim. 
 
Obra poética, 1965. 
 
 
Paisagem holandesa 
 
Não me sais da memória. És tu, querida amiga, 
Uma imagem que eu vi numa 1aguarela antiga. 
Era na Holanda. Um fim de tarde. Um céu lavado. 
Frondes abrindo no ar um pálio recortado... 
Um moinho à beira d’água e imensa e desconforme 
A pincelada verde-azul de um barco enorme. 
A casaria além... Perto o cais refletindo 
Uma barra de sombra entre as águas bulindo... 
E, debruçada ao cais, olhando a tarde imensa, 
Uma rapariguinha olha as águas e pensa... 
É loira e triste. Nos seus olhos claros anda 
A mesma paz que envolve a paisagem da Holanda. 
Paira o silêncio...Uma ave passa, 2arminho e 3gaza, 
À flor d’água, acenando adeus com o lenço da asa... 
 
É a saudade de Alguém que anda extasiado, a esmo, 
Com a paisagem da Holanda escondida em si mesmo, 
Com aquela rapariga a sofrer e a cismar 
Num pôr de sol que dá vontade de chorar... 
Ai não ser eu um moinho isolado e tristonho 
Para viver como na paz de um grande sonho, 
A refletir a minha vida singular 
Na água dormente, na água azul do teu olhar... 
 
Toda uma vida de poesia, 1957. 
 
1. aguarela: aquarela. 
2. arminho: pele ou pelo do arminho; muito alvo, muito branco, alvura 
(sentido figurado). 
3. gaza: tecido fino, transparente, feito de seda ou algodão. 
 
 
10. (Unesp 2015) Considerando o que teoriza Fernando Pessoa em 
sua “Nota preliminar” sobre paisagem interna e paisagem externa, a 
que conclusão se chega sobre o modo como o eu lírico se expressa 
no poema “Paisagem holandesa”? 
 
11. (Unicamp 2009) No poema a seguir, Alberto Caeiro compara o 
trabalho do poeta com o do carpinteiro: 
 
 XXXVI 
 
E há poetas que são artistas 
E trabalham nos seus versos 
Como um carpinteiro nas tábuas! ... 
 
Que triste não saber florir! 
Ter que pôr verso sobre verso, como quem constrói um 
muro 
E ver se está bem, e tirar se não está! ... 
Quando a única casa artística é a Terra toda 
Que varia e está sempre bem e é sempre a mesma. 
 
Penso nisto, não como quem pensa, mas como 
quem respira, 
E olho para as flores e sorrio... 
Não sei se elas me compreendem 
Nem se eu as compreendo a elas, 
Mas sei que a verdade está nelas e em mim 
E na nossa comum divindade 
De nos deixarmos ir e viver pela Terra 
E levar ao colo pelas Estações contentes 
E deixar que o vento cante para adormecermos 
E não termos sonhos no nosso sono. 
 ("Poemas completos de Alberto Caeiro", em Fernando Pessoa. 
"Obra poética". Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983, p. 156.) 
a) Por que tal comparação é feita? Por que ela é rejeitada pelo eu 
lírico na segunda estrofe do poema? 
b) Identifique duas características próprias da visão de mundo de 
Alberto Caeiro presentes na terceira estrofe. Justifique sua resposta. 
 
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: 
Vestindo água, só saído o cimo do pescoço, o burrinho tinha de se 
enqueixar para o alto, a salvar também de fora o focinho. Uma 
peitada. Outro tacar de patas. Chu-áa! Chu-áa... – ruge o rio, como 
chuva deitada no chão. Nenhuma pressa! Outra remada, vagarosa. 
No fim de tudo, tem o pátio, com os cochos, muito milho, na Fazenda; 
e depois o pasto: sombra, capim e sossego... Nenhuma pressa. Aqui, 
por ora, este poço doido, que barulha como um fogo, e faz medo, não 
é novo: tudo é ruim e uma só coisa, no caminho: como os homens e 
os seus modos, costumeira confusão. É só fechar os olhos. Como 
sempre. Outra passada, na massa fria. E ir sem afã, à voga surda, 
amigo da água, bem com o escuro, filho do fundo, poupando forças 
para o fim. Nada mais, nada de graça; nem um arranco, fora de hora. 
Assim. 
 
João Guimarães Rosa. “O burrinho pedrês”, Sagarana. 
 
 
 
 
 
 
Página 5 de 9 
12. (Fuvest 2009) No conto de Guimarães Rosa a que pertence o 
excerto, a presença de um animal que é "sábio" e forma juízos supõe 
uma concepção da natureza: 
a) contrária àquela que é expressa pelo Anjo, no "Auto da barca do 
inferno". 
b) idêntica à de Jacinto ("A cidade e as serras"), que se converte ao 
culto da natureza virgem e intocável, quando escolhe a vida rural. 
c) contrária à que, predominantemente, se afirma na poesia de 
Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa. 
d) idêntica àquela que é exposta pelo autor de "Vidas secas", no 
prefácio que escreveu para o livro. 
e) semelhante à que se manifesta, sobretudo, nos capítulos finais de 
"Memórias de um sargento de milícias". 
 
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: 
Texto I 
 
Epitáfio à mesma beleza sepultada 
 
Vemos a luz (ó caminhante espera) 
De todas, quantas brilham, mais pomposa, 
Vemos a mais florida Primavera, 
Vemos a madrugada mais formosa: 
Vemos a gala da luzente esfera, 
Vemos a flor das flores mais lustrosa 
Em terra, em pó, em cinza reduzida: 
Quem te teme, ou te estima, ó morte, olvida. 
 
Matos, Gregório de. Crônica do viver baiano seiscentista. In: Obras 
completas de Gregório de Matos e Guerra. Salvador: Janaína, 1969,7 
volumes, tomo III, p. 528. Adaptado. 
 
 
Texto II 
 
Cristãos, pagãos, maometanos, 
A qual de vós fará o Mistério a vontade? 
A incerteza do que é a morte é o que nos vale na vida. 
O desconhecimento do que é a morte é o sentido da vida. 
O desconhecermos a morte é que faz a beleza da vida. 
 
Quem sabe o valor exato de uma vida? 
Sei que há uma vida, e que apagam essa vida – não sei é quem apaga 
Mas sei que de cada vida que passa há um universo em mim. 
 
Pessoa, Fernando. Poesia/Álvaro de Campos. São Paulo: 
Companhia das 
Letras, 2002. p. 258. Adaptado. 
 
 
13. (Ufjf-pism 3 2015) No texto II, Álvaro de Campos atribui o sentido 
e a beleza da vida ao desconhecimento da morte. Seu poema 
apresenta, também, um desconhecimento de outra ordem, com o qual 
o eu lírico parece estar à vontade. Assinale a alternativa que 
apresenta tal desconhecimento. 
a) Os meios pelos quais cada cristão pode chegar ao paraíso. 
b) A natureza da fé de muçulmanos e judeus. 
c) O sentido e a beleza da vida, especialmente quando está próxima 
do fim. 
d) A existência ou identidade do ser que presida à morte. 
e) As diferenças que motivam a guerra santa entre cristãos, pagãos 
e maometanos. 
 
14. (Espm 2011) POEMA EM LINHA RETA 
 
Nunca conheci quem tivesse levado porrada. 
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. 
 
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil, 
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita, 
Indesculpavelmente sujo, 
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar 
banho, 
Eu que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo, 
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das 
etiquetas, 
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante, 
Que tenho sofrido enxovalhos e calado, 
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo 
ainda; 
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel, 
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes, 
Eu que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado 
sem pagar, 
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado, 
Para fora da possibilidade do soco; 
Eu que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas 
ridículas, 
Eu que verifico que não tenho par nisto neste mundo. 
 
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo, 
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu um enxovalho, 
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida... 
(...) 
 
(in: “Poemas”, Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa) 
 
Assinale a afirmação que não condiz: 
a) Poema desabafo em que o “eu” poético alude ironicamente ao fato 
de que só ele confessa seus “delitos”. 
b) Há uma oposição inicial entre o poeta, associado a qualidades 
negativas, e os campeões, associados a virtudes. 
c) A metáfora do “soco” é uma referência à própria falta de coragem, 
à própria covardia. 
d) Depreende-se do poema que o que vigora na sociedade é a 
hipocrisia, e que o “eu” poético é julgado e marginalizado em função 
disso. 
e) Devido a sua “sujeira”, o “eu” poético se sente um plebeu ante o 
caráter principesco dos outros. 
 
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: 
Leia o poema de Ricardo Reis, heterônimo de Fernando Pessoa, para 
responder à(s) questão(ões) a seguir. 
 
As rosas amo dos jardins de Adônis, 
Essas 1volucres amo, Lídia, rosas, 
Que em o dia em que nascem, 
Em esse dia morrem. 
A luz para elas é eterna, porque 
Nascem nascido já o sol, e acabam 
Antes que Apolo deixe 
O seu curso visível. 
Assim façamos nossa vida um dia, 
Inscientes, Lídia, voluntariamente 
Que há noite antes e após 
O pouco que duramos. 
 
O guardador de rebanhos e outros poemas, 1997. 
 
 
 
 
 
 
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1volucre: que tem vida curta. 
 
 
15. (Famerp 2017) No poema, está presente a seguintecaracterística 
do heterônimo Ricardo Reis: 
a) elogio da noite e das facetas noturnas do ser humano. 
b) valorização de relações interpessoais que criticam as normas da 
sociedade. 
c) tematização das relações amorosas em uma abordagem 
ultrarromântica. 
d) entendimento da vida como algo que ultrapassa a morte física. 
e) alusões positivas ao mundo clássico. 
 
16. (Uerj 2013) Mestre 
 
Mestre, são 1plácidas 
Todas as horas 
Que nós perdemos, 
Se no perdê-las, 
Qual numa jarra, 
Nós pomos flores. 
 
Não há tristezas 
Nem alegrias 
Na nossa vida. 
Assim saibamos, 
Sábios 2incautos, 
Não a viver, 
 
Mas decorrê-la, 
Tranquilos, plácidos, 
Tendo as crianças 
Por nossas mestras, 
E os olhos cheios 
De Natureza... 
 
À beira-rio, 
À beira-estrada, 
3Conforme calha, 
Sempre no mesmo 
Leve descanso 
De estar vivendo. 
 O tempo passa, 
Não nos diz nada. 
Envelhecemos. 
Saibamos, quase 
Maliciosos, 
Sentir-nos ir. 
 
Não vale a pena 
Fazer um gesto. 
Não se resiste 
Ao deus atroz 
Que os próprios filhos 
Devora sempre. 
 
Colhamos flores. 
Molhemos leves 
As nossas mãos 
Nos rios calmos, 
Para aprendermos 
Calma também. 
 
Girassóis sempre 
Fitando o sol, 
Da vida iremos 
Tranquilos, tendo 
Nem o remorso 
De ter vivido. 
 
 
RICARDO REIS 
Pessoa, Fernando. Obra poética. Rio de Janeiro: Aguilar, 1999. 
 
(1) plácidas - calmas 
(2) incautos - desprevenidos 
(3) conforme calha - conforme seja 
 
Na 1ª estrofe do poema, para construir o sentido geral do texto, o 
poeta faz uma referência à expressão perder tempo, dando-lhe, 
entretanto, outro sentido, diferente do usual. 
Explique o sentido usual da expressão perder tempo e apresente, 
também, o sentido que essa mesma expressão assume no poema. 
 
17. (Interbits 2012) Leia. 
 
Poema em linha recta 
 
Nunca conheci quem tivesse levado porrada. 
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. 
[...] 
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo 
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho, 
Nunca foi senão príncipe – todos eles príncipes – na vida... 
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana 
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia; 
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia! 
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam. 
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil? 
Ó príncipes, meus irmãos, 
 
Arre, estou farto de semideuses! 
Onde é que há gente no mundo? 
 
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra? 
 
Poderão as mulheres não os terem amado, 
Podem ter sido traídos – mas ridículos nunca! 
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído, 
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear? 
Eu, que venho sido vil, literalmente vil, 
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza. 
 
Fernando Pessoa 
(Álvaro de Campos) 
 
O poema acima corresponde a uma adaptação de Poema em Linha 
Recta, escrito por Álvaro de Campos (heterônomo de Fernando 
Pessoa). Para além de toda a sua beleza estética, há, nesse poema, 
um dissabor em relação à postura das pessoas na 
contemporaneidade. Podemos associar essa postura com qual ética 
ideológica? 
a) A ética burguesa do sucesso. 
b) O ideal de cidadania da Grécia Clássica. 
c) A ascese medieval. 
d) A consciência de classe proletária. 
e) A fé religiosa. 
 
 
 
 
 
 
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18.(Unesp 2021) Futurismo. O Manifesto Futurista, de autoria do 
poeta italiano Filippo Tommaso Marinetti (1876-1944), foi publicado 
em Paris em 1909. Nesse manifesto, Marinetti declara a raiz italiana 
da nova estética: “queremos libertar esse país (a Itália) de sua fétida 
gangrena de professores, arqueólogos, cicerones e antiquários”. 
Falando da Itália para o mundo, o Futurismo coloca-se contra o 
“passadismo” burguês e o tradicionalismo cultural. A exaltação da 
máquina e da “beleza da velocidade”, associada ao elogio da técnica 
e da ciência, torna-se emblemática da nova atitude estética e política. 
 
(https://enciclopedia.itaucultural.org.br. Adaptado.) 
 
 
Verifica-se a influência dessa vanguarda artística nos seguintes 
versos do poeta português Fernando Pessoa: 
 
a) Mas, ah outra vez a raiva mecânica constante! 
Outra vez a obsessão movimentada dos ônibus. 
E outra vez a fúria de estar indo ao mesmo tempo 
[dentro de todos os comboios 
De todas as partes do mundo, 
De estar dizendo adeus de bordo de todos os navios, 
Que a estas horas estão levantando ferro ou 
[afastando-se das docas. 
 
b) O sonho é ver as formas invisíveis 
Da distância imprecisa, e, com sensíveis 
Movimentos da esprança e da vontade, 
Buscar na linha fria do horizonte 
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte – 
Os beijos merecidos da Verdade. 
 
c) O teu silêncio é uma nau com todas as velas pandas... 
Brandas, as brisas brincam nas flâmulas, teu sorriso... 
E o teu sorriso no teu silêncio é as escadas e as andas 
Com que me finjo mais alto e ao pé de qualquer paraíso... 
 
d) Não me compreendo nem no que, compreendendo, faço. 
Não atinjo o fim ao que faço pensando num fim. 
É diferente do que é o prazer ou a dor que abraço. 
Passo, mas comigo não passa um eu que há em mim. 
 
e) Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena 
[cansarmo-nos. 
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como 
[o rio. 
Mais vale saber passar silenciosamente 
E sem desassossegos grandes. 
Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam 
[a voz, 
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos, 
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre 
[correria, 
E sempre iria ter ao mar. 
 
Gabarito: 
 
Resposta da questão 1: 
 a) Segundo o autor, o “simples existir” remete à condição do animal 
humano anterior à conquista da sua própria consciência, condição 
semelhante à dos personagens Adão e Eva na narrativa bíblica nos 
capítulos iniciais do Gênesis, mencionada no começo do excerto: “A 
maçã da consciência de si”. Simbolicamente, este episódio 
representa o momento em que o homem abandona o seu estado 
natural de equilíbrio com a natureza, diferente do que acontece com 
outros animais, como o labrador o sagui ou a arara-azul, para, 
definitiva e irremediavelmente, ganhar autoconsciência e, com ela, 
perder a capacidade de um ser espontâneo e natural: “Desmorder a 
maçã não existe como opção”. 
 
b) Nos versos “O essencial é saber ver/Saber ver sem estar a pensar” 
e “O meu misticismo é não querer saber/É viver e não pensar nisso”, 
o eu lírico valoriza a aquisição do conhecimento através das 
sensações não intelectualizadas. Heterônimo de Fernando Pessoa, 
Alberto Caeiro é o poeta ligado à natureza que despreza o 
pensamento filosófico para, paradoxalmente, defender uma não-
filosofia como a sua própria forma de entender a existência e dessa 
forma, livrar-se da autoconsciência para imergir “no fluxo espontâneo 
e irrefletido da vida”. 
 
Resposta da questão 2: 
 [A] 
 
Em “Sonetilho do falso Fernando Pessoa”, os versos “E das peles que 
visto/muitas há que não vi” e “eis‐me a dizer: assisto/além, nenhum, 
aqui,/mas não sou eu, nem isto” revelam que Drummond dissocia o 
fazer poético das suas vivências ou experiências pessoais. Em 
“Ulisses”, Fernando Pessoa atribui a perpetuidade de Ulisses, herói 
mitológico da fundação de Portugal, à sua inexistência real: “O mito é 
o nada que é tudo”, “Este, que aqui aportou,/Foi por não ser 
existindo./Sem existir nos bastou”. Assim, produz-se uma analogia 
entre os poemas: no primeiro”, as noções de que a identidade do 
poeta independe de sua existência biográfica e, no segundo, de que 
o mito se perpetua para além da vida, como se afirma em [A]. 
 
Resposta da questão 3: 
 [C] 
 
Os excertos das opções [A] e [D] pertencem ao heterônimo Álvaro de 
Campos, pois expressam a exaltação pelo triunfo da máquina e o 
progresso técnico, símbolos da vida moderna. Em [B] e [E], é 
Fernando Pessoa ele-mesmo que oscila por descrições de ambientes 
sombrios que atormentam o eu lírico ou, no Cancioneiro, na produção 
de uma poesia musical e subjetiva, voltada essencialmente para a 
metalinguagem. Apenas em [C], a visão da realidade baseada na 
fruiçãodos prazeres simples da vida, sem preocupações com o futuro 
e sem excessos (carpe diem), pertence à poesia de Ricardo Reis. 
 
Resposta da questão 4: 
 [E] 
 
Apenas a opção [E] reproduz excerto de poema de Álvaro de 
Campos, heterônimo de Fernando Pessoa com aproximações 
estéticas ao Futurismo. Neste excerto, estão presentes a exaltação 
da vida moderna (“Ó coisas todas modernas,/Ó minhas 
contemporâneas, forma atual e próxima/Do sistema imediato do 
Universo!”), o elogio à mecanização (“Nova Revelação metálica”)e as 
imagens extravagantes ou inverossímeis (“como uma fera./Amo-vos 
carnivoramente”) enunciadas também no “Manifesto do Futurismo” 
publicado por Filippo Tommaso Marinetti. As opções [A], e [B] 
apresentam excertos de poemas do heterônimo Alberto Caeiro, a [C], 
de Ricardo Reis e a [D] faz parte da poesia ortônima de Fernando 
Pessoa. 
 
Resposta da questão 5: 
 [D] 
 
No trecho presente na alternativa [D], pode-se constatar de maneira 
mais explícita a noção de carpe diem. Isso fica evidente no convite ao 
 
 
 
 
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amor e à bebida – ou seja, para aproveitar tudo que é positivo –, uma 
vez que tudo é passageiro. 
 
Resposta da questão 6: 
 O poema de Drummond é composto por quatorze versos 
hexassílabos (de seis sílabas). Um soneto apresenta, normalmente, 
versos decassílabos (de dez sílabas). Dessa forma, ao chamar seu 
poema de “sonetilho”, o poeta brinca com a ideia de que é um 
pequeno soneto, já que seus versos são mais curtos. 
O verso “E das peles que visto” deixa evidente a referência aos 
heterônimos de Fernando Pessoa, uma vez que dele se entende que 
as peles vestidas são associadas aos heterônimos do poeta 
português: o eu lírico constrói-se nessa indefinição, como se sempre 
trocasse de pele, de personalidade. 
 
Resposta da questão 7: 
 [B] 
 
A alternativa [B] está incorreta, haja vista que Eça de Queirós não 
participou da Orpheu (o escritor faleceu em 1900 e a revista circulou 
em 1915). 
Do mesmo modo está incorreta a alternativa [C], pois Fernando 
Pessoa não foi responsável pelo espírito derrotista em Portugal no 
final do século XIX, até porque iniciou sua carreira por volta da 
segunda década do século XX. 
Também está incorreta a alternativa [D], uma vez que Álvaro de 
Campos e Ricardo Reis são heterônimos de Fernando Pessoa e não 
pseudônimos. 
Por fim, é falsa a alternativa [E], porque apenas Fernando Pessoa 
utilizou heterônimos. 
 
Resposta da questão 8: 
 [A] 
 
 
[I] Verdadeira. O eu lírico valoriza a vida aldeã, pois o horizonte 
permite que ele frua melhor a experiência alcançada pelo sentido da 
visão; por esse motivo, afirma que “Porque eu sou do tamanho do que 
vejo / E não do tamanho da minha altura...”. Já na cidade, por não 
haver tal amplitude (“Escondem o horizonte, empurram nosso olhar 
para longe de todo o céu”), a vida é pior (“E tornam-nos pobres porque 
a nossa única riqueza é ver”). 
[II] Falsa. O verso “Escondem o horizonte, empurram nosso olhar 
para longe de todo o céu” indica que grandes construções tolhem a 
visão de horizonte. 
[III] Falsa. O guardador de rebanhos é obra de Alberto Caeiro, 
heterônimo de Fernando Pessoa marcado por valorizar apenas o que 
pode ser experimentado por meio dos cinco sentidos. É considerado 
“mestre” pelos demais heterônimos justamente por defender tal modo 
de vida, simples e significativo; o poema em questão, portanto, está 
em harmonia com o conjunto de tal obra. 
 
Resposta da questão 9: 
 [B] 
 
Quando o eu lírico refere-se à coroa de rosas, remete à morte, ao 
efêmero: Rosas que se apagam / Em fronte a apagar-se / Tão cedo! 
O verbo apagar também remete ao fim da vida, o corpo que apagou, 
como também remete à brevidade da vida em tão cedo, de folhas 
breves. 
 
Resposta da questão 10: 
 No poema “Paisagem holandesa”, o eu lírico menciona “(...) É a 
saudade de Alguém que anda extasiado, a esmo, / Com a paisagem 
da Holanda escondida em si mesmo”: há nítida 
correspondência entre o estado de alma maravilhado, “extasiado”, e 
a paisagem, a qual lhe está internalizada. 
 
A conclusão a que se chega é que o eu lírico de “Paisagem 
holandesa” corresponde à teoria de Fernando Pessoa a respeito de 
que “Todo o estado de alma é uma paisagem” ou, ao menos, pode 
ser representado por uma delas. 
 
Resposta da questão 11: 
 a) Para mostrar que existem poetas que compõem seus versos 
valendo-se da razão e do cálculo, tal como o trabalho de um 
carpinteiro. A segunda estrofe não rejeita propriamente a comparação 
feita na primeira, pois o que se rejeita nela é o trabalho poético, ou 
seja, o autor rejeita a poesia que se pode comparar à carpintaria - a 
poesia premeditada, "trabalhada", que não é expressão direta e 
simples da realidade. 
 
b) Caeiro mostra, em sua poesia, um pensamento contra o 
pensamento, uma filosofia antifilosófica, que rejeita o "vício" de 
interpor o pensamento entre as coisas e a sua pura percepção: "O 
essencial é saber ver, / Saber ver sem estar a pensar". Para o poeta, 
só pelos sentidos é que se entra em contato com a verdade. 
 
Resposta da questão 12: 
 [C] 
 
Resposta da questão 13: 
 [D] 
 
Quando o eu lírico coloca que “sei que há uma vida, e que apagam 
essa vida – não sei é/ quem apaga”, ele expressa um 
desconhecimento da existência ou identidade do ser que preside a 
morte. 
 
Resposta da questão 14: 
 [E] 
 
O eu lírico usa, ironicamente, o termo “príncipes” para referir-se 
àqueles que aparentam ser superiores aos outros, mostrando apenas 
virtudes e sucessos e ocultando as atitudes que poderiam merecer 
críticas ou revelar fraquezas (“Toda a gente que eu conheço e que 
fala comigo,/Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu um 
enxovalho,/Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida”). 
Assim, é inadequada a afirmativa em [E] que associa antiteticamente 
o termo “plebeu” do eu lírico ao “caráter principesco dos outros”. 
 
Resposta da questão 15: 
 [E] 
 
Ricardo Reis é o heterônimo de Fernando Pessoa que resgata 
valores greco-romanos – além da condução argumentativa relativa à 
mulher amada, é o caso da menção ao carpe diem. Desse modo, o 
eu lírico indica alusões ao mundo clássico. 
 
Resposta da questão 16: 
 Na linguagem usual, a expressão “perder tempo” tem sentido 
negativo, sugerindo ações inúteis, ou seja, desenvolver atividades 
sem proveito algum. No poema, a mesma expressão é vista de 
maneira positiva, no sentido de vivenciar melhor o tempo que se tem 
ou aceitar a passagem natural do tempo. 
 
Resposta da questão 17: 
 [A] 
 
 
 
 
 
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O poema pode ser relacionado à ética burguesa de sucesso. 
Aproximar-se do ideal de ser campeão em tudo é um desejo 
contemporâneo, muito presente na sociedade capitalista que valoriza 
o individualismo, o empreendedorismo e deprecia o fracasso. 
 
 
Resposta da questão 18 
[A] 
 
É correta a opção [A], pois, no excerto de Álvaro de Campos, 
expressões como “raiva mecânica constante”, “obsessão 
movimentada dos ônibus” e “a fúria de estar indo ao mesmo 
tempo/dentro de todos os comboios” celebram a dinâmica da 
máquina e da velocidade e consequente valorização do homem de 
ação, em forte contestação ao sentimentalismo burguês e ao 
tradicionalismo cultural.

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