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3ª Geração Modernista (Geração de 45) 1945 – 68 Preocupação formal 3ª Geração Modernista Poesia •Retoma-se a preocupação com a forma poética •Retoma-se o olhar vanguardista Há alguns que optaram por uma poesia conservadora, que retoma o Parnasianismo. Prosa •Engajamento social transfigurado •Preocupação metafísica Poesia João Cabral de Melo Neto Poesia concreta Ferreira Gullar João Cabral • Poesia carregada de uma “nova subjetividade” = desejo de representar as coisas da forma mais palpável possível. • Rigor formal (métrica e rima) + poesia racionalista • Uso de metáfora sob metáfora com a finalidade de cada vez mais se aproximar da materialidade do descrito. • Tratamento da substância natural (elemento da paisagem e animais) e humana (social). • Tirando seu primeiro livro “Pedra do sono” (1942), Cabral não fará poesia subjetivista com traços surrealistas. Tecendo a manhã Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos. De um que apanhe esse grito que ele e o lance a outro; de um outro galo que apanhe o grito de um galo antes e o lance a outro; e de outros galos que com muitos outros galos se cruzem os fios de sol de seus gritos de galo, para que a manhã, desde uma teia tênue, se vá tecendo, entre todos os galos. E se encorpando em tela, entre todos, se erguendo tenda, onde entrem todos, se entretendendo para todos, no toldo (a manhã) que plana livre de armação. A manhã, toldo de um tecido tão aéreo que, tecido, se eleva por si: luz balão. Rio e ou poço Quando tu, na vertical, te ergues, de pé em ti mesma, é possível descrever-te com a água da correnteza; tens a alegria infantil, popular, passarinhadeira, de um riacho horizontal (e embora de pé estejas). Mas quando na horizontal, em certas horas, te deixas, que é quando, por fora, mais as águas correntes lembras, mas quando à tua extensão, como se rio, te entregas, quando te deitas em rio que se deita sobre a terra, então, se é da água corrente, por longa, tua aparência, somente a água de um poço expressa tua natureza; só uma água vertical pode, de alguma maneira, ser a imagem do que és quando horizontal e queda. Só uma água vertical, água parada em si mesma, água vertical de poço, água toda em profundeza, água em si mesma, parada, e que ao parar mais se adensa, água densa água, como de alma tua alma está densa. Poesia Concreta • Preciosismo verbal; • Metros tradicionais + inovações visuais e uso do espaço da folha (publicidade); • Discurso de vanguarda; • Auto ironia; • Tratamento de temas eróticos; • Principais nomes: Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Décio Pignatari • Em 1956, pela antologia “Noigandres”, é publicado o “Plano- Piloto para a Poesia Concreta”, a partir de então, será abandonada a sintaxe espacial do verso. • Arte = atividade produtora, técnica Exemplos (esq. Décio; dir. Augusto). Prosa Clarice Lispector Guimarães Rosa Clarice Lispector •Prosa intimista: metáforas insólitas, fluxo de consciência, ruptura do enredo factual em prol do momento interior. • O tema da maldade • Forte e constante autoanálise •Olhar para as coisas pequenas ( rotina de uma dona de casa, por exemplo) que são resignificadas (geralmente após um incidente, que pode ser totalmente banal) e transformam o sujeito epifania • Tema da loucura •A estranheza e o amor •Condição feminina https://www.youtube.com/watch?v=9ad7b6kqyok https://www.youtube.com/watch?v=9ad7b6kqyok Perto do coração selvagem “— Eu ME DISTRAIO muito, disse Joana a Otávio. Assim como o espaço rodeado por quatro paredes tem um valor específico, provocado não tanto pelo fato de ser espaço mas pelo de estar rodeado por paredes. Otávio transformava-a em alguma coisa que não era ela mas ele mesmo e que Joana recebia por piedade de ambos, porque os dois eram incapazes de se libertar pelo amor, porque aceitava sucumbida o próprio medo de sofrer, sua incapacidade de conduzir-se além da fronteira da revolta. E também: como ligar-se a um homem senão permitindo que ele a aprisione? como impedir que ele desenvolva sobre seu corpo e sua alma suas quatro paredes? E havia um meio de ter as coisas sem que as coisas a possuíssem? A tarde era nua e límpida, sem começo nem fim. Pássaros leves e negros voavam nítidos no ar puro, voavam sem que os homens os acompanhassem com um olhar sequer. Bem longe a montanha pairava grossa e fechada. Havia duas maneiras de olhá-la: imaginando que estava longe e era grande, em primeiro lugar; em segundo, que era pequena e estava perto. Mas de qualquer modo, uma montanha estúpida, castanha e dura. Como odiava a natureza às vezes.” Guimarães Rosa •Nova forma de regionalismo = um regionalismo transcendental; • Trabalho extensivo com a linguagem – sintaxe e na criação de palavras. Tais procedimentos reavivam a língua e ativam a sensibilidade (“gavioão, “deslei”, “passarinhos bem-me-viam”) neologismo • Culto X Folclórico – “Grande Sertão: Veredas”. •O mito; a infância; a loucura; a redenção; a psiquê humana; o sentido da existência humana, o amor, a morte. • Proximidade com a poesia. • Enquanto médico que trabalhou no sertão de Minas = atitude afetuosa e contemplativa, reconhecendo beleza e encantamento em tudo. https://www.youtube.com/watch?v=ndsNFE6SP68 https://www.youtube.com/watch?v=ndsNFE6SP68 Grande Vertão: Veredas “Ah, eu sei que não é possível. Não me assente o senhor por beócio. Uma coisa é pôr idéias arranjadas, outra é lidar com país de pessoas, de carne e sangue, de mil- e-tantas misérias... Tanta gente – dá susto de saber – e nenhum se sossega: todos nascendo, crescendo, se casando, querendo colocação de emprego, comida, saúde, riqueza, ser importante, querendo chuva e negócios bons... De sorte que carece de se escolher: ou a gente se tece de viver no safado comum, ou cuida só de religião só. Eu podia ser: padre sacerdote, se não chefe de jagunços; para outras coisas não fui parido. Mas minha velhice já principiou, errei de toda conta. E o reumatismo... Lá como quem diz: nas escorvas. Ahã. [...] Olhe: tem uma preta, Maria Leôncia, longe daqui não mora, as rezas dela afamam muita virtude de poder. Pois a ela pago, todo mês – encomenda de rezar por mim um terço, todo santo dia, e, nos domingos, um rosário. Vale, se vale. Minha mulher não vê mal nisso. E estou, já mandei recado para uma outra, do Vau-Vau, uma Izina Calanga, para vir aqui, ouvi de que reza também com grandes meremerências, vou efetuar com ela trato igual. Quero punhado dessas, me defendendo em Deus, reunidas de mim em volta... Chagas de Cristo! Viver é muito perigoso... Querer o bem com demais força, de incerto jeito, pode já estar sendo se querendo o mal, por principiar. Esses homens! Todos puxavam o mundo para si, para o concertar consertado”