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KATIA MARIA ROSA VIEIRA SUBNOTIFICAÇÃO DE ACIDENTES DE TRABALHO COM MATERIAL BIOLÓGICO DE TÉCNICOS DE ENFERMAGEM EM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de Mestra em Saúde, Interdisciplinaridade e Reabilitação, área de concentração Interdisciplinaridade e Reabilitação. ORIENTADORA: Profa. Dra. Zélia Zilda Lourenço de Camargo Bittencourt ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE A VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELA ALUNA KATIA MARIA ROSA VIEIRA E ORIENTADA PELA PROFa. DRa. ZÉLIA ZILDA LOURENÇO DE CAMARGO BITTENCOURT CAMPINAS 2019 BANCA EXAMINADORA DA DEFESA DE MESTRADO KATIA MARIA ROSA VIEIRA ORIENTADORA PROFa. DRa. ZÉLIA ZILDA LOURENÇO DE CAMARGO BITTENCOURT MEMBROS: 1. PROFa. DRa. ZÉLIA ZILDA LOURENÇO DE CAMARGO BITTENCOURT 2. PROFa. DRa. ROSELY MORALEZ DE FIGUEIREDO 3. PROFa. DRa. ARIANE POLIDORO DINI Programa de Pós-Graduação em Saúde, Interdisciplinaridade e Reabilitação da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas A ata de defesa com as respectivas assinaturas dos membros da banca examinadora encontra- se no SIGA/Sistema de Fluxo de Dissertação/Tese e na Secretaria do Programa da Unidade. Data: 15/05/ 2019 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a todos os técnicos de enfermagem do Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de Campinas. Que os resultados aqui expostos possam de alguma forma contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores. AGRADECIMENTOS À Profª Drª Zélia Zilda Lourenço de Camargo Bittencourt, pela confiança depositada, acolhimento, auxílio nas diversas situações, pelos conhecimentos e experiências compartilhadas. Com sapiência e equilíbrio, permitiu que eu desenvolvesse novas habilidades ao longo dessa trajetória. À Profª Drª Adriana Lia Friszman de Laplane, pela confiança depositada e apoio nos momentos difíceis. À Profª Drª Helenice Yemi Nakamura, pela recepção e ensinamentos iniciais. Àos professores do Programa de Pós-Graduação em Saúde, Interdisciplinaridade e Reabilitação da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, pelos conhecimentos e ensinamentos transmitidos. Àos funcionários da Secretaria do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, pelo auxílio e paciência. Ào Sr Oscar Cardoso, funcionário da Diretoria de Apoio Didático da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, pelo auxílio e sugestões na elaboração do questionário. Aos bibliotecários da Biblioteca da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, pela receptividade e por não medirem esforços em ajudar sempre. Ao Departamento de Enfermagem do Hospital de Clínicas da Unicamp pelo apoio, receptividade e oportunidade pela realização desse estudo. Á toda equipe de enfermagem do Hospital de Clínicas da Unicamp, pela valiosa contribuição. Aos colegas da Pós-Graduação, pelo companheirismo, oportunidade de novos aprendizados e apoio em diversas situações. À amiga Gleise Cristina Prudenciano, pela amizade, parceria e incentivo em vários momentos dessa trajetória. À amiga Ana Maria Moreira, pelo apoio incondicional durante o percurso e principalmente nos momentos de decisão. À amiga Sibele Campos Martins, pelo carinho, acolhimento e pelas palavras certas nos momentos difíceis. À família, pelo apoio incondicional, carinho e compreensão pelos inúmeros momentos de ausências do convívio familiar. Ao meu esposo Ubaldo, melhor amigo e companheiro de todas as horas. Por estar sempre ao meu lado e ser uma fonte constante e incondicional de apoio e inspiração para concretização dos meus sonhos e realizações de vida. À todos os trabalhadores invisíveis e incansáveis, aqueles que começam a árdua labuta ao romper da aurora e só terminam quando declina o dia, aos que empregam bem estas horas e aqueles que não esquecem jamais que esses são momentos fugidios na imensidão do tempo. RESUMO Introdução: As instituições de saúde possuem ambientes complexos com vários riscos para a saúde dos trabalhadores e o acidente de trabalho com material biológico merece destaque, devido a possibilidade de transmissão de diversas doenças. A exposição ocupacional pode ocorrer via percutânea (picadas de agulhas ou materiais perfurocortantes) ou contato com sangue ou fluídos orgânicos em mucosa e/ou pele não íntegra. A enfermagem é considerada categoria de vulnerabilidade, pois realiza o cuidado direto e contínuo dos pacientes. A notificação do acidente de trabalho é obrigatória para o empregador, tanto para o trabalhador celetista quanto o estatutário. É imprescindível a notificação dos acidentes de trabalho, pois assegura direitos trabalhistas e previdenciários, porém o número de acidentes notificados não reflete a realidade e diversos estudos apontam para um alto índice de subnotificação. Objetivo: identificar a subnotificação dos acidentes de trabalho com exposição a material biológico de técnicos de enfermagem em um hospital escola. Materiais e Métodos: trata-se de pesquisa de corte transversal de natureza quantitativa realizada em hospital público de nível terciário. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa. Foram sorteados aleatoriamente 275 profissionais que foram convidados a responder um questionário elaborado pela pesquisadora sobre a prática profissional. Foi utilizado proporção amostral de 25% e os resultados estatísticos foram calculados com auxílio do programa BioEstat 5,3. Resultados: participaram profissionais de 9 unidades que declararam ter sofrido 747 acidentes de trabalho, sendo 29% notificados e 71% não notificados. As variáveis regime de trabalho, unidades, turnos de trabalho e tipos de exposição mostraram significância estatística (p<0,05). A maior proporção de não notificação ocorreu com servidor estatutário e embora o noturno tenha maior proporção de acidentes, a média de distribuição nos turnos de trabalho não demonstrou diferença estatística (p>0,05). As maiores proporções de não notificação ocorreram nas unidades de Terapia Intensiva Pediátrica e Adulto e na exposição mucocutânea. O aumento do número de treinamentos não foi estatisticamente significante para os acidentes totais (p>0,09). Os principais motivos apontados para o não registro dos acidentes de trabalho foram demora no atendimento pós acidente e falta de tempo para sair da unidade. Dos participantes, 93,8% declararam que o trabalho é estressante as vezes ou sempre e 76,2% têm satisfação na função exercida. A capacitação foi considerada por 29,4 % dos profissionais como principal medida a ser adotada para diminuição dos acidentes. Conclusão: as proporções de subnotificações de exposição mucocutânea foram cinco vezes maiores que as notificações. Os resultados apontam para a necessidade de sensibilização dos técnicos de enfermagem sobre o risco ocupacional. A educação pode se configurar como um dos importantes pilares para aumento da notificação e redução dos acidentes, sendo oportuna a revisão do modelo de ensino-aprendizagem e conteúdo programático de capacitação, sendo sugerido o uso de metodologias ativas que valorizem os saberes dos trabalhadores e aproximem o processo educativo da prática profissional. Há necessidade de práticas gerenciais com acolhimento ao acidentado, bem como revisão institucional do fluxo de atendimento e notificação dos acidentes, com participação de representantes da categoria de técnicos de enfermagem. Descritores: Exposição ocupacional; Risco; Acidente de trabalho; Notificação; Enfermagem.ABSTRACT Introduçtion: Health institutions have complex environments with several risks to the workers’ healthcare and the work accidents with biological material deserve to be highlighted, due to the possibility of transmission of several diseases. Occupational exposure may occur percutaneously (needle-stick injuries) or with blood or body fluids in contact with mucous membrane or non-intact skin. The nursing category is considered vulnerable, as they are involved in the direct and continuous care of the patients. Reporting work accidents is compulsory for the employer, for both contractual and statutory workers. The reporting of work accidents is essential, as it ensures labor and social security rights, however the number of accidents reported does not reflect the reality and several studies point to a high rate of under- reporting. Objective: to identify the under-reporting of occupational accidents with exposure to biological material from nurse technicians in a hospital school. Materials and Methods: this is a cross-sectional quantitative research carried out in a public tertiary referral hospital. The project was approved by the Research Ethics Committee. 275 nurse technicians were randomly selected and asked to answer a questionnaire prepared by the researcher regarding the professional practice. A sample proportion of 25% was used and the statistical data analysis was done using BioEstat 5,3 software. Results: nurse technicians from 9 units participated and reported 747 work accidents, from which 29% were reported and 71% were unreported. The variables work regimen, departments, work shifts, and types of exposure showed statistical significance (p <0.05). The highest proportion of under-reporting occurred with statutory employees, and although the night-shift had a higher rate of accidents, the average of work accidents throughout work shifts did not show any statistical difference (p> 0.05). The highest rate of under-reporting occurred in the Adult and Pediatric Intensive Care units and the mucocutaneous exposure. Increase of training was not statiscally significant for total accidents (p> 0.09). The main reasons for not reporting work accidents were the delay in post-accident care and lack of time to leave the unit. From the participants, 93.8% stated that work is sometimes or always stressful and 76.2% always have job satisfaction. Training was considered by 29.4% of nurse technicians as the main solution to reduce work accidents. Conclusion: the proportions of under-reporting of mucocutaneous exposure were five times higher than the reporting. The results point to the need to sensitize nurse technicians to occupational risk. Education can be one of the important pillars for increasing the reporting and reducing accidents, being an opportunity to review the teaching and learning model and content for training program, being suggested the use of active methodologies that value the knowledge of the workers and integrate the educational process in the professional practice. There is a need for managing practices with care of the injured, as well as institutional review of the flow of care and reporting of accidents, with participation of the representatives of the category of nurse technicians. Keywords: Occupational exposure; Risk; Occupational accidents; Reporting; Nursing. LISTA DE TABELAS E QUADROS Tabela 1 – Distribuição do quadro de técnicos de enfermagem total e participantes da pesquisa segundo unidades e turnos de trabalho............................................................... 36 Tabela 2- Caracterização dos participantes...................................................................... 37 Tabela 3- Caracterização funcional dos participantes...................................................... 87 Tabela 4 - Distribuição dos participantes segundo idade, tempo de instituição, sexo e unidade de trabalho. Dados mostrados como média ± desvio padrão.............................. 39 Tabela 5- Distribuição do número de acidentes de trabalho notificados e não notificados segundo variáveis........................................................................................... 40 Tabela 6- Distribuição dos acidentes de trabalho totais relatados pelos participantes e médias segundo turnos de trabalho................................................................................... 48 Tabela 7- Distribuição da quantidade de pessoas acidentadas e respectivos AT totais segundo número de treinamentos..................................................................................... 48 Quadro 1- Distribuição de respostas relacionadas aos motivos para não registros dos AT..................................................................................................................................... 50 Quadro 2 - Distribuição e frequência das respostas sobre Organização do trabalho....... 53 Tabela 8- Distribuição das respostas sobre medidas para diminuição dos AT com material biológico............................................................................................................. 56 Figura 1- Atendimento de Acidentes com Risco Biológico Cecom............................... 79 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AD: Administrativo AIDS: Síndrome da Imunodeficiência Adquirida Anti-HCV: anticorpos para hepatite C AT: Acidente de Trabalho CAT: Comunicação de Acidente de Trabalho CBO: Classificação Brasileira de Ocupações CC: Centro Cirúrgico CDC: Centers for Disease and Control and Prevention CECOM: Centro de Saúde da Comunidade CEP: Comitê de Ética em Pesquisa CEREST: Centro de Referência em Saúde do Trabalhador CLT: Consolidação das Leis Trabalhistas CME: Central de Material Esterilizado CNS: Comitê Nacional de Saúde COFEN: Conselho Federal de Enfermagem COREN: Conselho Regional de Enfermagem CV: Carga viral DENF: Departamento de Enfermagem DIEESE: Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos DPME: Departamento de Perícias Médicas do Estado DRT: Doença relacionada ao trabalho DTG: Dolutegravir ENADE: Exame Nacional de Desempenho de Estudantes EPI: Equipamento de proteção individual EPC: Equipamento de proteção coletiva FUNCAMP: Fundação de Desenvolvimento da Universidade Estadual de Campinas GR: Gabinete da reitoria HBV: Vírus da Hepatite B HC: Hospital de Clínicas HCV: Vírus da Hepatite C HIV: Vírus da Imunodeficiência Humana IGHAHV: Imunoglobulina humana anti-hepatite B IMA: Imaginologia LOS: Lei Orgânica da Saúde M: Matutino MS: Ministério da Saúde N: Noturno NR 32: Norma Regulamentadora nº 32 OIT: Organização Internacional do Trabalho OSHA: Occupational Safety and Health Administration PED: Pediatria P15: Formulário para acidente de trabalho para servidor estatutário da Universidade Estadual de Campinas QT: Quantidade RENAST: Rede Nacional de Atenção à Saúde do Trabalhador SEAMPE: Serviço de Ambulatórios e Procedimentos Especializados SINAN: Sistema de Informação de Agravos de Notificação SUS: Sistema Único de Saúde 3TC: Lamivudina TDF Tenfovir TCLE: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido UER: Unidade de Emergência Referenciada UIA: Unidade de Internação de adultos UNICAMP: Universidade Estadual de Campinas UTI-ADU: Unidade de Terapia intensiva adulto UTI-PED: Unidade de Terapia intensiva pediátrica V: Vespertino “A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original” Albert Einstein SUMÁRIO INTRODUÇÃO.......................................................................................................................17 OBJETIVOS........................................................................................................................... 30 MATERIAIS E MÉTODOS................................................................................................... 31 RESULTADOS E DISCUSSÕES.......................................................................................... 36 CONCLUSÃO......................................................................................................................... 59 REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 61 APÊNDICE 1 .......................................................................................................................... 72 APÊNDICE 2 ........................................................................................................................... 74 ANEXO 1 ................................................................................................................................ 78 17 1. Introdução A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que há 317 milhões de acidentes de trabalho (AT) no mundo a cada ano, 160 milhões de indivíduos sofrem de doenças relacionados ao trabalho com 321 mil mortes a cada ano, decorrentes desses acidentes. Estima- se que a cada 15 segundos, 115 trabalhadores sofrem um acidente laboral (1). A área da saúde, por sua complexidade, requer a atuação de diversas categorias de profissionais com especificidades de conhecimentos e práticas para o atendimento das necessidades de assistência à população. As instituições de saúde, dado a natureza de suas atividades, são consideradas ambientes insalubres, com vários riscos para os trabalhadores que nela atuam, sendo que o biológico merece especial destaque (2). Em 2011, os hospitais dos Estados Unidos registraram 253.700 lesões e doenças relacionadas ao trabalho, com taxa de 6,8 para cada 100 trabalhadores que atuavam com jornada integral, sendo estes percentuais superiores aos das indústrias de construção e manufatura, consideradas potencialmente perigosas (3). Os profissionais da saúde estão expostos ao risco de infecção após exposição ocupacional acidental ao sangue ou fluídos corporais quando do contato com vírus, bactérias, parasitas ou leveduras. Foram documentados mais de 60 patógenos com risco de transmissão de infecções, porém os de maior relevância são o vírus da imunodeficiência humana (HIV), vírus da hepatite B (HBV) e C (HCV), tendo em vista sua prevalência na população (4). Tal fato é uma preocupação de magnitude mundial. A exposição ocupacional a material biológico pode ocorrer via percutânea (picadas de agulhas ou objetos perfurocortantes) ou quando há contato direto com sangue e/ou fluídos orgânicos em mucosa ou pele não íntegra (5). De acordo com estudos já realizados, há cerca de 3 milhões de exposições percutâneas a cada ano dentre os 35 milhões de profissionais da área da saúde em todo o mundo, com estimativa de 16 mil infecções causadas por HCV, 66 mil por HBV e 1.000 por HIV, decorrentes de acidentes com perfurocortantes contaminados (6). Na construção e consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS), os hospitais universitários brasileiros têm desempenhado um papel relevante e apesar da exiguidade de recursos, têm atuado no desenvolvimento de ações como prestadores de assistência de alta 18 complexidade, promoção do ensino, formação de profissionais de saúde em vários níveis de especialização, bem como na integração de novas tecnologias em sua prática cotidiana (7). O contexto do trabalho em instituições hospitalares, onde predominam novas tecnologias, requer equipe de enfermagem qualificada e dimensionamento de pessoal adequado as necessidades, com dedicação ininterrupta, alto conhecimento técnico e científico para a prestação de assistência com qualidade e segurança aos usuários do serviço (8). Além disso, o sistema de saúde na atualidade tem sido permeado pela ampliação do uso de novos medicamentos, equipamentos e tecnologias com incremento de procedimentos médicos, sendo que essa nova demanda pode gerar impacto nos recursos humanos das instituições de saúde (9). Dentre os profissionais de saúde, os trabalhadores de enfermagem, enquanto prestadores de assistência direta e indireta, realizam atividades de grande proximidade física ao paciente, além do manuseio de vários materiais e equipamentos, o que os torna uma categoria de grande vulnerabilidade à exposição ocupacional a material biológico (10). No Brasil, dentre as 20 ocupações com maiores notificações de AT com exposição a material biológico foram registradas 47.292 ocorrências em 2014, sendo que as categorias mais acometidas foram as de técnicos e auxiliares de enfermagem totalizando 49,6 % dos acidentados (11). Na ocorrência de AT com sangue e outros fluidos potencialmente contaminados, os profissionais necessitam atendimento médico especializado em caráter de emergência, com intervenções adequadas, acompanhamento e terapêutica pós exposição para prevenção de infecções pelo HIV e hepatites B e C (12). A notificação do AT é legalmente exigida e obrigatória para o empregador, que deve realizar o registro no protocolo de Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) para a Previdência Social, quando o trabalhador tem o contrato regido pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Esta prática é fundamental para o trabalhador, pois legitima seus direitos trabalhistas e previdenciários (13). É importante também salientar que o AT com material biológico tem repercussões sobre a vida pessoal e emocional do trabalhador, nas relações familiares e sociais, aliado ao alto custo econômico frente a esta problemática (14-16). A comunicação do AT pelo trabalhador é um ato facultativo e a subnotificação é ainda um desafio a ser vencido nos serviços de saúde, especialmente nas instituições hospitalares. A omissão do registro, seja pela dificuldade de acesso, falta de orientação, medo ou 19 desconhecimento do trabalhador, compromete os dados epidemiológicos para a avaliação do problema e a identificação de intervenções necessárias para sua diminuição. A vivência e atuação profissional como enfermeira em um hospital universitário, seja na esfera assistencial bem como gerencial, propiciou a interação com vários profissionais da área de saúde e a percepção dos AT com trabalhadores de enfermagem e em especial os técnicos de enfermagem, bem como o déficit de notificações, motivou a realização desse estudo. O conhecimento sobre a incidência de subnotificação dos AT com exposição a material biológico dos profissionais de enfermagem é relevante, pois permite conhecer o panorama institucional e analisar os fatores que influenciam na notificação, fornecendo subsídios para o planejamento de ações, adoção de medidas de segurança e prevenção, com vistas à promoção da saúde e qualidade de vida dos trabalhadores. 1.1. A Enfermagem A enfermagem é uma das profissões, dentro da divisão social e técnica de trabalho na área da saúde que tem como essência o cuidado do ser humano, tendo como atribuições, os cuidados assistenciais, tanto individuais, na família ou comunidade, com vistas a prevenção e promoção da saúde. Suas atividades podem ser exercidas privativamente por enfermeiros, parteiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, legalmente habilitados e inscritos no Conselho Regional de Enfermagem (COREN) com jurisdição no local de sua atuação (17). O exercício da Enfermagem (Lei nº. 7.498 de 1986) é regulamentado pelo decreto nº. 94.406/87 (17). O Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) conta com 2.032.143 milhões de registros de profissionais no Brasil e a categoria de técnicos de enfermagem perfaz 1.125.172, sendo a mais numerosa(COFEN, 2018). No estado de São Paulo há 504.749 registros de profissionais de enfermagem, sendo 190.208 de técnicos de enfermagem que totalizam 37,7% (18). O técnico de enfermagem possui diversas atribuições, podendo atuar no desenvolvimento de atividades de nível técnico médio compatível com sua competência, cabendo-lhe “participar da programação da assistência (...), executar ações assistenciais de enfermagem (...), participar da orientação e supervisão do trabalho (...), participar da equipe de saúde”, em instituições de saúde públicas ou privadas sob orientação e supervisão do enfermeiro (17). 20 Segundo a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), os técnicos de enfermagem desenvolvem ações que visam o cuidado aos pacientes, proporcionam conforto, administram medicamentos, atuam na promoção da saúde da família, contribuem na organização dos ambientes, devendo seu exercício profissional estar em conformidade com boas práticas, normas e procedimentos de biossegurança (19). No contexto da sociedade capitalista, o processo de trabalho em uma instituição hospitalar é desenvolvido por diversos profissionais de enfermagem, os quais têm como objetivo a prestação de assistência integral, individualizada e humanizada aos usuários dos serviços de saúde. Para alcançar tal finalidade, utilizam-se de saberes científicos e técnicos, materiais, instalações físicas, equipamentos diversos, sendo as atividades distribuídas entre os elementos da equipe de enfermagem e em conformidade com seu grau de formação (20). Considerando-se que o risco de contaminação com material biológico aumenta em virtude do cuidado direto, optou-se pelo estudo da categoria de técnicos de enfermagem, que diuturnamente prestam assistência de caráter contínuo aos pacientes e frequentemente são expostos ao sangue e/ou outros fluídos orgânicos decorrentes da realização de procedimentos de diferentes graus de complexidades. 1.2. Acidentes de trabalho A saúde como “direito de todos e dever do Estado” foi instituída na Constituição Federal de 1988 e no seu artigo 196 consta que deve ser garantida por “políticas sociais e econômicas que visem a redução do risco das doenças e outros agravos”. No mesmo documento aparece pela primeira vez como direito o “acesso universal e igualitário às ações e serviços” tendo como premissas a “promoção, proteção e recuperação da saúde” (21). A inserção do trabalhador no Sistema Único de Saúde (SUS), ocorreu em 1990 pela promulgação da Lei Orgânica da Saúde (LOS) nº. 8080, que dispôs sobre aspectos relacionados a promoção, proteção e recuperação da saúde, organização e funcionamento dos serviços. Dessa forma, a saúde do trabalhador foi definida como um “conjunto de atividades(...) que “visa a recuperação e reabilitação dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos provenientes das condições de trabalho” (22). Os profissionais da área da saúde nem sempre foram considerados como categoria de risco para AT, porém o aparecimento da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) 21 imprimiu novo olhar sobre a saúde do trabalhador frente a exposição ocupacional, bem como às questões voltadas a sua vulnerabilidade e segurança (23). No Brasil, o primeiro caso noticiado de transmissão de HIV após exposição ocupacional ocorreu em 1994, envolvendo um auxiliar de enfermagem que se acidentou durante a punção venosa de paciente com diagnóstico clínico e laboratorial de AIDS e que posteriormente contraiu a doença (24). Nos Estados Unidos, no período compreendido entre 1985 a 2013, o Centers for Disease and Control and Prevention (CDC) recebeu 58 notificações confirmadas de aquisição de HIV ocasionadas por exposição ocupacional de trabalhadores da saúde e 150 notificações de possíveis casos. Entre os casos confirmados, 41,4% ocorreram com enfermeiros e na maioria das vezes foram decorrentes de acidentes perfurocortantes (25). A praxis da equipe de enfermagem requer assistência aos pacientes durante 24 horas, proximidade física, realização de diversos procedimentos de assistência direta de caráter invasivo ao paciente, com uso de diversos objetos perfurocortantes, fazendo que no seu dia-a- dia ocorram vários momentos de exposição a material biológico com possibilidade de AT (26). As circunstâncias em que o trabalhador pode se acidentar estão relacionadas ao desempenho de várias atividades como: inserção e retirada de agulha do paciente, administração de medicamentos e soroterapia, limpeza e desinfecção de materiais, descarte ou manipulação de objetos perfurocortantes deixados em bancadas, bandejas ou locais inadequados, manuseio dos coletores de lixo, dentre outras (14,26). Em pesquisa realizada em hospital terciário da Argentina com fichas de notificação no período de 2009 a 2013, foi detectado que grande parte dos AT com exposição ocupacional a material biológico ocorreram com médicos e enfermeiros, sendo estas as categorias mais acometidas (27). Dentre os acidentes notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) de 2007 a 2011 na região do sul de Minas Gerais, foram encontradas 460 notificações, sendo a maior parte dos AT relacionados aos profissionais de enfermagem (28). Em investigação realizada em hospital universitário brasileiro de grande porte, verificou-se que 71,2 % dos AT com materiais perfurocortantes ocorreram com a equipe de enfermagem (26). Estudo sobre ocorrência de AT com material biológico no período de 2000 a 2010 em hospital brasileiro de referência para atendimento dos trabalhadores, detectou que profissionais de enfermagem corresponderam a 44,6% dos registros, sendo mais afetados os técnicos de 22 enfermagem (77%) e agulha com lúmen foi relacionada a maioria dos acidentes percutâneos (29). Os AT com materiais perfurantes e cortantes envolvendo profissionais de enfermagem também foram apontados como problema na China, onde 64,9 % dos participantes da pesquisa realizada em hospital universitário referiram acidentes dessa natureza, sendo os profissionais suscetíveis a lesões decorrentes de injeções intramusculares, subcutâneas, intradérmicas e intravenosas (30). Estudo conduzido em seis hospitais privados da Turquia com enfermeiros e técnicos de Centros Cirúrgicos, apontou que cargas de trabalho excessivas, fadiga, ambiente estressante, comunicação deficiente, precauções inadequadas podem contribuir para a ocorrência de altas taxas de acidentes com materiais perfurocortantes entre os profissionais (31). Diante dessas ocorrências, há que se considerar o custo emocional do trabalhador devido ao medo e ansiedade decorrentes da preocupação com as consequências da exposição ocupacional com material biológico potencialmente contaminado e o custo social proveniente da possibilidade de soroconversão (32). Tal fato pode ser observado em estudo conduzido em hospital filantrópico de médio porte no interior do estado de Minas Gerais, onde após aplicação de instrumento qualificado, foi detectado que 19,6% dos trabalhadores da enfermagem que sofreram AT com material biológico apresentaram sinais e sintomas de transtorno do estresse pós-traumático (33). As reações emocionais como medo e insegurança podem gerar impacto no trabalho e em diversas áreas da vida do indivíduo, e este muitas das vezes necessita de apoio psicológico. 1.3. Exposição ocupacional e Profilaxia A exposição ocupacional a material biológico caracteriza-se pelo contato com fluídos potencialmente contaminados, podendo ocorrer via percutânea, quando causadas por lesões com instrumentos perfurantes e/ou cortantes tais como: agulhas, porta-agulhas, bisturi entre outros; mucosa com respingos acidentais em boca, nariz, olhos; cutânea quando do contato em pele-não-íntegra com dermatite ou feridas abertas e áreas de mordeduras quando envolverem a presença de sangue (34). A notificaçãodo AT se faz necessário quando o trabalhador se expõe ao contato com sangue ou fluídos orgânicos potencialmente infectantes a saber: sêmen, secreção vaginal, líquor, líquido sinovial, líquidos de serosas (pleural, peritoneal, pericárdico), líquido amniótico 23 e fluídos orgânicos não-infectantes (suor, lágrimas, fezes, urina e saliva) quando contaminados com sangue (5,34). O AT dos profissionais de saúde expostos a material biológico é considerado um grave problema devido ao risco de transmissão de doenças causadas por vírus, principalmente o HIV, HBV e HCV. Estima-se que a possibilidade de infecção pelo HIV com material biológico contaminado seja de aproximadamente 0,3% para a exposição percutânea, 0,09% após a exposição de mucosas, enquanto para HBV é 33% e HCV é 3% (35,1). É oportuno esclarecer que as exposições ocupacionais consideradas de maior gravidade são aquelas que envolvem maior volume de sangue; lesões profundas ocasionadas por instrumentos cortantes; presença de sangue visível nos objetos perfurocortantes, acidentes com agulhas em veia ou artéria do paciente; acidentes com agulhas de grosso calibre ou lúmen (5). O risco de transmissão do HIV para o profissional de saúde após a exposição percutânea depende do tipo de acidente, bem como da gravidade, extensão da lesão, presença e volume de sangue envolvido, lesão com dispositivo contaminado com sangue, condição clínica do paciente-fonte e uso de profilaxia pós-exposição (36). Em caso de exposição ocupacional percutânea ou cutânea deve ser feita a lavagem do local lesionado com água e sabão e na exposição de mucosa deve ser realizada a lavagem do local com água ou solução salina fisiológica (5). No Brasil existe um protocolo para subsidiar os profissionais de saúde na profilaxia, sendo que a avaliação do risco deve sempre levar em conta o material biológico relacionado ao acidente, o tipo de exposição ocupacional e o tempo transcorrido (34). É preconizado o atendimento médico especializado em caráter de emergência, acolhimento do acidentado no serviço de saúde, coletas de sangue e uso de teste rápido para avaliação do status sorológico do paciente-fonte e acidentado em 30 minutos. O acompanhamento de saúde do profissional que sofreu AT se faz necessário durante 6 meses para avaliação de soroconversão no caso de paciente fonte positivo ou desconhecido (5). O trabalhador com exposição ao HIV e resultado de sorologia negativa deve receber atendimento em caráter de urgência. A profilaxia pós exposição deve ser iniciada o mais breve possível, não devendo ser ultrapassado o prazo de 72 horas para tratamento preferencial com antirretrovirais, com uso de Tenfovir (TDF), Lamivudina (3TC) e Dolutegravir (DTG), durante período de 28 dias sem interrupção (34). No caso do paciente-fonte ser desconhecido e na ocorrência de acidentes com materiais provenientes de coletores para descarte de perfurocortantes ou agulhas deixadas em locais 24 inapropriados ou no caso do paciente-fonte ser conhecido, porém apresentar sorologia desconhecida pode ser indicada a profilaxia pós exposição, devendo a conduta ser pautada na avaliação de profissionais médicos capacitados (34). No caso de terapia com antirretrovirais, é recomendado o acompanhamento médico após duas semanas devido a possibilidade do aparecimento de efeitos adversos, com realização de reforço positivo para adesão ao tratamento na sua totalidade e solicitação de exames laboratoriais. A adesão à profilaxia com antirretrovirais é fundamental para o sucesso da terapêutica, porém devido aos efeitos adversos como vômitos, náuseas, diarreia, cansaço, dor de cabeça, muita das vezes ocorre a interrupção do tratamento, podendo haver comprometimento da saúde do indivíduo (37). O teste rápido apresenta alta sensibilidade e o resultado negativo evita o uso desnecessário de antirretrovirais pelo acidentado. No caso de exposição ocupacional, com risco conhecido ou provável pelo HBV, o trabalhador pode necessitar de imunoglobulina hiperimune contra a hepatite B (IGHAHB), sendo sua utilização de maior eficácia nas primeiras 48 horas pós-acidente. É fundamental a avaliação vacinal e nos casos de não vacinação contra hepatite B, esquema incompleto ou ausência de resposta vacinal do acidentado faz-se necessário a imunização (34). Para investigação do HCV é recomendada a testagem do paciente-fonte e acidentado com uso de teste rápido ou laboratorial para pesquisa de anticorpos (anti-HCV). Caso o teste apresente resultado reagente, este não permite a diferenciação entre infecção ativa ou resolvida naturalmente. Para confirmar a presença de infecção ativa é necessário a realização de testes moleculares para detectar o HCV-RNA circulante. Os testes moleculares quantitativos são conhecidos como testes de carga viral (CV) (12,34,38). Não existe nenhuma medida específica eficaz para redução do risco de transmissão do HCV após exposição ocupacional. Estudos não comprovaram benefício profilático com o uso de imunoglobulinas e dados disponíveis sugerem que o uso de interferon somente é efetivo quando a infecção está estabelecida (34). O risco de transmissão do HIV após exposição cutânea em pele não íntegra, embora tenha sido documentado, ainda não foi quantificado e estima-se que seja menor em relação a exposição de mucosas (39). Embora os casos de infecções pelo HIV, HBV e HCV decorrentes de exposição ocupacional sejam raros, estes são considerados graves e geram custos diretos e indiretos. O custo direto está relacionado aos testes laboratoriais, uso de terapia antirretroviral e tratamento 25 dos possíveis efeitos colaterais. O custo indireto incluí cuidados necessários pós-exposição do trabalhador, litígio, ausência do acidentado no trabalho e tempo dispendido para tratamento (32). Em revisão de 14 trabalhos sobre gerenciamento de acidentes perfurocortantes durante 20 anos, oriundos de diferentes países e continentes, o total estimado dos custos diretos e indiretos variou entre 199 a 1691 dólares, com média de 861 dólares para um único acidente (40). Portanto, representa um alto custo tanto social quanto para a área da saúde. 1.4. Prevenção e Proteção da saúde do trabalhador Para controlar e minimizar a exposição ocupacional dos profissionais de saúde no tocante a contenção de sangue e fluídos corporais contendo sangue visível e prevenir a transmissão de patógenos, principalmente HIV e HBV, foram formuladas medidas denominadas “Precauções Universais” pelo Centers for Disease Control and Prevention (41). Em 1987, essas medidas foram adotadas internacionalmente e salientado a importância do uso em todo paciente, independente do status sorológico ou diagnóstico. Barreiras protetoras como luvas, capotes, máscaras e óculos de proteção ou protetores faciais foram indicadas para proteção de mucosas e pele dos profissionais de saúde à materiais potencialmente infectantes nos seus ambientes ocupacionais. Foi também recomendada a imunização contra o HBV como complemento das Precauções Universais; manipulação cuidadosa de objetos perfurantes ou cortantes; banir o ato de reencapar, entortar ou manipular agulhas e usar recipientes resistentes a perfurações para descarte desse tipo de material (41). Em 1996, essa diretriz passou a ser denominada Precauções Padrão, e manteve as mesmas principais características das Precauções Universais, porém foram aplicadas ao sangue, todos fluídos corporais, secreções e excreções independente da presença visível ou não de sangue, exceto o suor, com objetivo de reduzir o risco de transmissão de patógenos de fontes conhecidas ou não de infecções em ambiente nosocomial (42). No Brasil, em 2005, houve avanço significativo na promoção, proteção e segurança dos trabalhadores de estabelecimentos de saúde com a criação da Portaria nº. 485 do Ministério do Trabalho eaprovação da Norma Regulamentadora nº. 32, denominada NR 32 (43): (...) disponibilização de equipamentos de proteção individual (EPI) e coletiva (EPC); (...) vestimenta no trabalho e uso de calçados adequados; (...) higienização das mãos e ambiente de trabalho, capacitação em serviço; (...) gratuidade de imunização; uso de dispositivos para descarte de objetos perfurocortantes (...). 26 Dado a gravidade dos acidentes percutâneos e relevância da temática, vários países como Estados Unidos da América, Canadá, Brasil, Taiwan, Reino Unido e União Europeia promulgaram legislação sobre uso de dispositivos de segurança, a fim de minimizar as possíveis consequências dos acidentes entre os profissionais de saúde (44). Em 2011, a NR32 foi alterada e instituído o Plano de Prevenção de Riscos de Acidentes com Materiais Perfurocortantes com probabilidade de exposição a agentes biológicos, devendo o empregador implementá-lo nas instituições. Preconizou-se a criação de Comissão Gestora multidisciplinar para análise dos AT e situações de risco, com adoção de medidas a saber: substituição de agulhas e perfurocortantes sempre que possível; adoção de controles de engenharia; seleção e qualificação de materiais com dispositivos de segurança; mudanças nas organizações e práticas de trabalho; capacitação continuada dos trabalhadores e avaliação periódica do plano (45). Embora a exposição ocupacional seja um fator preocupante para o profissional de saúde, há vários estudos na literatura sobre motivos para não uso dos EPI, tais como: ausência e/ou inadequação de equipamentos para o trabalhador , falta de condições de trabalho nas instituições de saúde, carência de recursos financeiros, falhas nas organizações, pressa no trabalho, crença do trabalhador que não irá adquirir doenças, resistência e/ou inabilidade no uso, desconhecimento sobre a finalidade e esquecimento do uso durante a prática profissional (46,47). Achados sobre não uso de EPI também foram relatados em pesquisa desenvolvida em hospitais da Turquia, onde 94% das enfermeiras tiveram contato com sangue e fluídos corporais e somente 75,8% faziam uso de precauções adequadas (48). Estudo semelhante realizado em 7 hospitais dos Estados Unidos mostrou que em 80 % dos casos, a exposição ocupacional ao sangue ou fluídos corporais ocorreu em área desprotegida do corpo, indicando que na maioria das ocorrências, os profissionais não estavam usando EPI no momento dos acidentes (49). A literatura evidencia que os motivos de baixa ou não adesão às Precauções Padrão podem estar relacionados a precariedade de investimentos das instituições nas condições de trabalho, expondo profissionais e pacientes a riscos que interferem na sua segurança, além de provocar um clima de insatisfação e desmotivação no trabalho (50). Estudo de revisão da literatura identificou que condições de trabalho, estrutura organizacional e aspectos relacionados ao próprio trabalhador de enfermagem podem influenciar na adesão às Precauções Padrão e apontou que instituições de saúde devem 27 proporcionar materiais e EPI adequados, educação permanente e divulgação de normas e rotinas como estratégias para redução dos acidentes e doenças relacionadas ao trabalho (51). Para prevenção de infecção pela hepatite B é fundamental a imunização pré-exposição com tomada de três doses de vacina que assegura títulos de anticorpos (anti-Hbs maior ou igual a 10 UI/ml) que oferecem proteção contra a doença em mais de 90% dos adultos (34), sendo a mesma disponível no Programa Nacional de Imunização. Cabe ainda ressaltar a importância da imunização quando do período admissional do profissional em instituições de saúde caso não tenha sido previamente vacinado (12). Estudo realizado no Brasil com 948 discentes de graduação em Medicina de diferentes períodos, detectou que a cobertura vacinal para hepatite B era insuficiente, pois 5,5 % dos entrevistados informaram não ter completado o esquema vacinal e 3,6% não souberam informar o status vacinal, porém 84% dos participantes consideravam-se expostos ao HBV, sendo essa situação considerada de gravidade devida maior participação dos alunos na prática médica nos últimos anos do curso, com possibilidade de acidentes (52). Há variações na imunização contra hepatite B e estudo realizado em hospital universitário de Camarões, identificou que somente 36,6 % dos participantes haviam recebido cobertura vacinal para HBV, contudo 88,67 % dos entrevistados consideravam a imunização importante para sua proteção (53). Investigação sobre o status de vacinação contra a hepatite B com 784 enfermeiros de 17 hospitais públicos da Grécia, identificou que 25,6 % dos profissionais não eram vacinados e 11,2 % vacinados parcialmente (54). Cabe as instituições de saúde sensibilizar os trabalhadores sobre a importância da imunização contra a hepatite B, que é um diferencial para prevenção, proteção e segurança dos profissionais. 1.5. Notificação e Subnotificação O acidente de trabalho é definido como: “(...) aquele que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa, provocando alguma lesão corporal ou perturbação funcional (...) de caráter temporário ou permanente (...)” (13). São considerados como acidentes de trabalho: o típico, que constituí naquele evento inesperado e indesejável que ocorre durante o exercício da atividade laboral; o de trajeto, que ocorre no percurso da residência do trabalhador para o trabalho e vice-versa; a doença 28 relacionada ao trabalho (DRT), produzida ou desencadeada pelo exercício da atividade; a adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione e a doença proveniente de contaminação acidental do empregado no exercício de sua atividade (13). Conforme determinação da lei nº. 8.231/91 do Regime Geral da Previdência Social, é obrigatória a abertura da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT), em caso de trabalhador celetista, devendo ser preferencialmente realizada pelo empregador, ou mesmo pelo próprio indivíduo acidentado ou seus familiares, entidades sindicais, profissional médico que tenha realizado o atendimento, bem como qualquer autoridade pública (13). Para AT com servidor público estatutário, a instituição empregadora deve gerar processo constando o laudo ou atestado médico do acidentado, dados de qualificação e emissão de documentos circunstanciados com elementos da ocorrência, que devem ser posteriormente encaminhados ao Departamento de Perícias Médicas do Estado (DPME) (55). Dados da Previdência Social de 2015 registraram 612.632 AT, dentre os quais 69.245 foram referentes a trabalhadores dos serviços de saúde e assistência social (56). Os acidentes, as doenças relacionadas ao desenvolvimento do trabalho e os AT com exposição a material biológico são considerados agravos à saúde do trabalhador e a Portaria nº. 777/MS de 2004, regulamentou a notificação compulsória no SINAN - Sistema de Informação de Agravos de Notificação (57). A notificação no SINAN deve compreender a ocorrência de AT com material biológico para todos os trabalhadores sejam aqueles com vínculos empregatícios como celetistas, estatutários ou informais. É imprescindível a notificação dos AT, pois o trabalhador acidentado fica resguardado no âmbito legal e previdenciário, acrescido do aspecto que o conhecimento das instituições sobre as causas e situações que culminaram na ocorrência dos acidentes pode permitir um avanço na implementação de ações de cunho preventivo e corretivo (58,59). O SINAN é importante ferramenta do sistema de vigilância epidemiológica, onde os dados de trabalhadores acidentados são coletados no nível municipal, transferidos para secretarias estaduais de saúde e posteriormente encaminhadas para o nível federal do SUS. Partes integrantes da Rede Nacionalde Atenção à Saúde do Trabalhador (RENAST), tais como as unidades sentinela ou Centros de Referência em Saúde do trabalhador (CEREST) podem ter acesso ao sistema denominado SINAN-NET que conta com pessoal qualificado para digitação dos dados (60). Estudos mostraram que há sub-registros no SINAN, sendo necessário esforços para maior qualificação dos dados (61). 29 Contudo o número de AT registrados pelos profissionais de saúde não reflete a realidade e vários estudos apontam para um alto índice de subnotificação, o que significa que é ainda subestimada a incidência desses eventos (16,58, 62). Em investigação realizada em hospital público brasileiro destinado ao atendimento de vítimas de acidentes por material biológico, foram encontrados 1.217 registros, sendo mais acometida a categoria de técnicos de enfermagem (51%), com apontamento de provável subnotificação e registro somente dos casos mais graves (63). Pesquisa conduzida em hospital do Paraná, durante entrevistas realizadas com gerentes de enfermagem de unidades que apresentaram maior frequência de AT, foram identificadas subnotificações, sendo destacado que a correta notificação pode permitir a visualização do panorama desse agravo e auxiliar na criação de políticas públicas para proteção dos trabalhadores (64). Considerando a possiblidade de exposição ocupacional ao sangue, secreções e fluídos corporais potencialmente contaminado a que são submetidos os técnicos de enfermagem no seu cotidiano e as consequências sobre sua saúde, aliado a hipótese de subnotificação, torna-se fundamental a investigação dos AT e prováveis subnotificações. Além disso, a pesquisa poderá contribuir com informações, possibilidades de reflexões sobre a organização do trabalho, conhecimento dos motivos relacionados a não notificação na instituição e agregar um novo olhar sobre a saúde do trabalhador. 30 2. Objetivos 2.1. Objetivo Geral Identificar a subnotificação dos acidentes de trabalho com exposição a material biológico de técnicos de enfermagem em um hospital escola. 2.2. Objetivos Específicos • Caracterizar a vida funcional e sócio econômica dos técnicos de enfermagem. • Identificar os tipos de exposição ocupacional referidos. • Quantificar os acidentes de trabalho referidos. • Identificar os motivos relacionados a não notificação de acidentes de trabalho desse grupo. 31 3. Materiais e métodos 3.1. Delineamento Trata-se de uma pesquisa de corte transversal de natureza quantitativa. 3.1.2. Local do Estudo O estudo foi realizado no Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de Campinas (HC/Unicamp), situado no campus da universidade, na cidade de Campinas, interior do estado de São Paulo. É considerado um hospital público de grande porte e alta complexidade e realiza atendimentos exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Possuí perfil terciário e quaternário com assistência clínica e cirúrgica nas especialidades de Cardiologia, Oncologia, Obesidade Mórbida, Neurologia, dentre outras. Realiza Implantes Cocleares, Transplantes (fígado, rim, coração, córnea, medula óssea) e conta com diversidade de áreas de apoio e diagnóstico especializado como: Medicina Nuclear, Ressonância Magnética, Cateterismo Cardíaco e outros serviços afins. A instituição presta atendimento qualificado em 44 especialidades ambulatoriais, que se dividem em 580 subespecialidades. Tem capacidade para 1.000 atendimentos ambulatoriais e de emergência por dia, realiza em média 40 cirurgias/dia e possuí 405 leitos ativos, sendo 65 de terapia intensiva. É composto por 38 enfermarias, 17 departamentos médicos, 22 unidades de procedimentos especializados, 15 salas cirúrgicas gerais, 8 salas cirúrgicas ambulatoriais, 8 serviços de laboratório e cinco de diagnóstico (65). Devido ao seu caráter regional, o HC/Unicamp presta atendimento a pacientes provenientes do município, regiões circunvizinhas e outros estados brasileiros. A história do HC está vinculada a Faculdade de Ciências Médicas (FCM), que funciona desde 1963, com atividades realizadas inicialmente na Maternidade de Campinas e posteriormente transferidas para a Santa Casa de Misericórdia de Campinas. Com o propósito de firmar uma universidade como polo de pesquisa, em 1975 foi lançada a pedra fundamental do hospital no campus e iniciada sua construção, sendo inaugurado em 1985. Ao longo dos anos, houve expansão do hospital para atendimento das necessidades da população, bem como para suprir a demanda crescente de atividades de ensino e pesquisa da Faculdade. Atualmente, o HC possuí uma área aproximada de 56 mil m² distribuídos em seis andares e em seis blocos interligados, contando com aproximadamente 3.100 funcionários. É 32 considerado um dos maiores hospitais gerais do interior do estado de São Paulo, sendo um centro de referência e excelência nacional, com prestação de assistência médico-hospitalar integrada ao sistema de saúde da comunidade e atendimento aproximado de 500 mil pacientes por ano. Seus objetivos estão alicerçados na promoção do ensino, pesquisa e assistência à saúde e proporciona campo de ensino, estágio e treinamento para alunos de graduação, residentes e pós-graduação em medicina, enfermagem e outras áreas correlatas da saúde. 3.2. Seleção dos participantes 3.2.1. Amostra Inicialmente foi levantada junto a Divisão de Recursos Humanos da instituição, a relação nominal de profissionais pertencentes ao quadro do Departamento de Enfermagem (DENF), bem como seus respectivos turnos e unidades de trabalho, totalizando 1.022 técnicos de enfermagem. No momento da investigação o quadro de pessoal de enfermagem no HC era composto por 1.022 funcionários. Foram convidados a participar da pesquisa os técnicos de enfermagem lotados no HC/Unicamp e que atuavam nas unidades de: Unidades de Internação Adulto (UIA) e Pediátrica (PED), Unidade de Emergência Referenciada (UER), Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI-ADU) e Pediátrica (UTI-PED), Imaginologia (IMA), Serviço de Ambulatórios e Procedimentos Especializados (SEAMPE), Centro Cirúrgico (CC), Central de Material Esterilizado (CME) nos turnos de trabalho matutino (M), vespertino (V), noturno (N) e administrativo (AD). A unidade do SEAMPE compreendia colaboradores em horário administrativo. 3.2.2. Cálculo amostral Para se calcular o tamanho da amostra foi utilizada a fórmula abaixo (66): Equação 1 n - Número de indivíduos na amostra. Zα/2 - Valor crítico que corresponde ao grau de confiança desejado. P - Proporção populacional de indivíduos que pertence a categoria. q - Proporção populacional de indivíduos que não pertence a categoria. E - Margem de erro ou erro máximo de estimativa. 33 Foi utilizada uma proporção amostral de 0,25 (67,68) e nível de confiança de 95% e erro de 5%. Mediante o cálculo foi estimada amostra de aproximadamente 275 técnicos de enfermagem. A amostragem utilizada foi do tipo probabilística aleatória simples e distribuída proporcionalmente nas unidades e turnos de trabalho matutino, vespertino, noturno e horário administrativo. Para atender a esta finalidade foi utilizado o site gratuito www.sorteandoja.com.br, para sorteio das amostras aleatórias e posteriormente procedeu-se a marcação colorida dos nomes sorteados na planilha. Foram impressas as relações nominais individualizadas por unidades e turnos de trabalho dos mesmos. 3.2.3. Critério de Inclusão Foram incluídos na pesquisa, os técnicos de enfermagem que se encontravam atuando no hospital no período da coleta de dados, de ambos os sexos, que realizavam assistência direta ou indireta aos pacientes nos turnos de trabalho matutino, vespertino, noturno e horário administrativo.3.2.4. Critério de Exclusão Foram excluídos na pesquisa os técnicos de enfermagem que estavam de férias, licença médica, licença gestante, afastados devido a problemas de saúde ou usufruindo folga durante o período de coleta e aqueles que somente realizavam atividades de transportes de pacientes. 3.3. Instrumento de coleta de dados Foi desenvolvido um questionário especialmente para esta investigação pautado na literatura, sendo composto por 29 perguntas objetivas e uma pergunta aberta com resposta livre (Apêndice 1). As perguntas objetivas abordaram dados para a caracterização sócio econômica e situação funcional, organização do trabalho, treinamento institucional, ocorrência de AT com material biológico notificada e subnotificada, com abertura de CAT ou P15 (formulário para servidor público estatutário no HC/Unicamp). O tempo médio para preenchimento total do questionário foi de 10 minutos. Antes da utilização extensiva do instrumento de pesquisa, foi realizado um pré-teste com 20 sujeitos, trabalhadores do hospital. Mediante as dúvidas apresentadas, o conteúdo do questionário foi readequado na semântica para melhor compreensão das questões. Dos participantes, cinco técnicos de enfermagem (dois do CC, um da UTI-PED e dois do SEAMPE) recusaram-se a participar do estudo e procedeu-se novo sorteio para completar a 34 proporção amostral das unidades. 3.3.1. Coleta dos dados Foi realizada divulgação prévia da pesquisa para a Diretora do Departamento de Enfermagem do HC/Unicamp e posteriormente para diretores de serviço e supervisores das unidades. A coleta de dados teve duração de três meses, compreendidos entre 11 de setembro e 11 de dezembro de 2017 nos serviços pré-definidos e nos três turnos de trabalho (matutino, vespertino e noturno) e horário administrativo. Conforme a conveniência de tempo e disponibilidade dos participantes, os questionários preenchidos foram recolhidos diretamente com os profissionais ou posteriormente com diretores e supervisores de enfermagem. 3.3.2. Análise estatística Os dados obtidos foram inseridos em planilha do programa Excel 2016 (Microsoft). A análise estatística foi realizada com auxílio do programa BioEstat 5.3 e foram utilizados: ANOVA (Kruskall-Wallis) para comparação entre médias; Teste Qui-quadrado para análise das tabelas de contingência; Teste de Regressão Linear Simples para verificar o grau de associação entre duas variáveis quantitativas. A comparação entre duas proporções foi realizada pelo Teste Binomial e para comparação entre mais de duas proporções foi utilizada a Meta Análise (Pw combinado). Para todos os testes foi considerado p < 0,05 como estatisticamente significante. 3.3.3. Aspectos Éticos O projeto de pesquisa foi previamente apresentado ao Coordenador de Assistência do HC/Unicamp e obtida sua anuência por escrito. Tendo em vista as exigências da resolução de nº. 466 de 2012 do Comitê Nacional de Saúde (CNS) do Ministério da Saúde (MS), o projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Unicamp e teve o parecer consubstanciado emitido sob nº. 2.242.789/2017. Para a coleta dos dados, a pesquisadora apresentou-se e fez a leitura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido –TCLE (Apêndice 2) para os participantes selecionados de cada unidade. Dessa maneira, houve esclarecimento prévio sobre a natureza e objetivos da 35 pesquisa, métodos, benefícios previstos, sigilo, privacidade e potenciais riscos. Somente após a anuência dos participantes e assinatura dos TCLE, os questionários foram entregues e fornecidos envelopes para guarda dos mesmos após o preenchimento. Os TCLE foram apresentados em 2 vias, sendo uma delas entregue para os participantes da pesquisa e a outra ficou sob a guarda da pesquisadora. Os participantes tiveram o sigilo e privacidade assegurados e foram informados que os resultados serão utilizados para estudos, publicações em periódicos indexados e divulgados oportunamente em jornal informativo do DENF da instituição, mantendo-se o anonimato dos profissionais. 36 4. Resultados e Discussões O quadro de pessoal foi inicialmente separado por unidades e turnos de trabalho a saber: matutino (M) das 6h55 às 13h10min, vespertino (V) das 13h às 19h15min e noturno (N) das 19h05min às 7h05min, com exceção do SEAMPE, cujo horário de trabalho compreendia das 7h às 18h30min. Essa unidade foi tratada de forma diferenciada das demais e denominada AD (administrativo). A Tabela 1 mostra a distribuição do quadro de técnicos de enfermagem distribuídos nas unidades do HC/Unicamp, bem como dos participantes da pesquisa nos diferentes turnos de trabalho. Tabela 1 – Distribuição do quadro de técnicos de enfermagem total e participantes da pesquisa segundo unidades e turnos de trabalho (N=275), Campinas, SP, Brasil, 2017. Legenda: Central de Material Esterilizado (CME), Imaginologia (IMA), Centro Cirúrgico (CC), Serviço de Ambulatórios e Procedimentos Especializados (SEAMPE), Pediatria (PED), Unidade de Emergência Referenciada (UER), Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTI-PED) e Adulto (UTI- ADU), Unidade de Internação Adulto (UIA). Turnos de trabalho: matutino (M), vespertino (V), noturno (N) e horário administrativo (AD). Para cada amostra foi considerada a proporção de 25 % de participantes de cada unidade. A comparação entre as proporções das amostras entre as unidades não apresentou diferença estatística (p>0,98). Quadro pessoal Sujeitos da pesquisa Unidades AD M V N AD M V N CME 30 30 25 8 8 8 IMA 16 15 6 5 5 2 CC 56 50 23 13 14 7 SEAMPE 63 17 PED 13 14 26 4 4 7 UER 23 23 43 6 6 10 UTI-PED 9 7 16 3 3 5 UTI-ADU 38 37 76 11 10 21 UIA 109 113 161 28 29 41 Subtotal 63 294 289 376 17 78 79 101 Total geral 1022 275 37 As amostras foram divididas proporcionalmente entre as unidades e nos respectivos turnos. A Tabela 2 mostra a distribuição dos dados referentes a idade, sexo, estado civil, grau de escolaridade e renda mensal dos participantes da pesquisa. Tabela 2- Caracterização dos participantes (N=275), Campinas, SP, Brasil, 2017. Idade N. % 20 | ― 30 25 9,2 30 | ― 40 110 40,0 40 | ― 50 84 30,5 50 | ― 60 47 17,1 60 | ― 70 9 3,2 Sexo Masculino 45 16,4 Feminino 230 83,6 Estado civil Solteiro 56 20,4 Casado 157 57,1 Divorciado 32 11,6 Comunhão estável 23 8,4 Viúvo 4 1,5 Não responderam 3 1,1 Grau de escolaridade Fundamental Completo 1 0,4 Médio incompleto 2 0,7 Médio completo 146 53,1 Superior incompleto 33 12,0 Superior completo 93 33,8 Renda mensal até 3 salários mínimos 106 39,7 até 4 salários mínimos 109 40,8 até 5 salários mínimos 26 9,7 até 6 salários mínimos 18 6,7 A idade dos participantes variou de 22 a 66 anos, sendo a maior parte do sexo feminino (83,6%), casados (57,1%), ensino médio completo (53,1%), superior completo (33,8%) e com renda mensal aproximada de três a quatro salários mínimos (80,5%). 38 A predominância do sexo feminino, assemelha-se a resultados de outros estudos e embora a enfermagem tenha atualmente um amplo campo de atuação, historicamente a profissão é constituída por grande contingente de profissionais do sexo feminino (16, 28, 69). A Tabela 3 apresenta a distribuição dos dados referentes a data de admissão e tempo de trabalho na instituição, turnos de trabalho, jornada semanal, regime de trabalho e número de emprego dos participantes. Tabela 3- Caracterização Funcional dos participantes (N=275), Campinas, SP, Brasil, 2017. Data de admissão N. % Turno de trabalho N. % 1982 | ― 1986 2 0,7 Matutino 78 28,4 1986 | ― 1990 6 2,2 Vespertino 78 28,4 1990 | ― 1994 9 3,3 Noturno 102 37,1 1994 | ― 1998 29 10,5 H. Administrativo17 6,2 1998 | ― 2002 22 8,0 Jornada semanal (h) 2002 | ― 2006 22 8,0 30 h 214 77,8 2006 | ― 2010 45 16,4 40 h 6 2,2 2010 | ― 2014 80 29,1 40-50 h 4 1,5 2014 | ― 2018 60 21,8 50-60 h 33 12,0 Tempo de Instituição (anos) 60-70 h 12 4,4 0 | ― 05 66 24,0 70-80 h 6 2,2 5 | ― 10 94 34,2 mais que 80 h 0 0,0 10 | ― 15 30 10,9 Regime de trabalho 15 | ― 20 43 15,7 Estatutário 75 27,3 20 | ― 25 32 11,6 CLT-UNICAMP 129 46,9 25 | ― 30 8 2,9 CLT-FUNCAMP 71 25,8 30 | ― 35 2 0,7 Número de empregos 1 emprego 216 78,5 2 empregos 57 20,7 3 empregos 2 0,7 4 ou mais 0 0,0 Legenda: Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), Horário (H). A data de admissão na instituição variou de 1982 a 2017, sendo que as contratações ocorridas no período de 2010 a 2013 foram as mais exuberantes (29,1%), seguindo-se as de 39 2014 a 2018 (21,8%), podendo estar relacionado a admissão de servidores na universidade, mediante concursos públicos regidos pelo regime estatutário a partir de 2013 (70). O tempo de trabalho na instituição variou de um a 34 anos, com predomínio entre cinco e 9 anos (34,2%). A maioria dos técnicos de enfermagem referiu ter somente um emprego (78,5%) com jornada de trabalho semanal de 30 horas (77,8%), sendo maioria (46,9%) com vínculo trabalhista regido pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT)/Unicamp. A Tabela 4 mostra os dados relacionados a idade, tempo de trabalho na instituição, sexo segundo as unidades de trabalho na instituição. Tabela 4 - Distribuição dos participantes segundo idade, tempo de instituição, sexo e unidade de trabalho. Dados mostrados como Média ±Desvio Padrão (N=275), Campinas, SP, Brasil, 2017. Legenda: Central de Material Esterilizado (CME), Imaginologia (IMA), Centro Cirúrgico (CC), Serviço de Ambulatórios e Procedimentos Especializados (SEAMPE), Pediatria (PED), Unidade de Emergência Referenciada (UER), Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTI-PED) e Adulto (UTI-ADU), Unidade de Internação Adulto (UIA), Masculino (M), Feminino (F). A Tabela 4 mostra que o tempo médio de trabalho na instituição do técnico de enfermagem foi de 10,4 anos, variou de 9 a 13,8 anos com predominância do sexo feminino em todas as unidades. A média de idade foi de 41 anos e não houve diferença estatística das idades nas unidades (p>0,05). Já o tempo de instituição foi estatisticamente significante entre as unidades (p<0,0002). Em estudos realizados em instituições hospitalares com trabalhadores de enfermagem de diversas categorias, também foi encontrada média de idade semelhante (71,72). Unidades Idade (anos) Tempo de instituição (anos) Sexo (M/F) N CME 44,0 ± 8,5 10,8 ± 6,8 0/24 24 IMA 40,3 ± 7,3 11,6 ± 5,0 4/8 12 CC 41,8 ± 9,0 13,9 ± 7,1 5/29 34 SEAMPE 44,6 ± 6,9 13,8 ± 5,8 0/17 17 PED 42,5 ± 10,1 12,2 ± 8,3 1/14 15 UER 39,9 ± 10,0 7,1 ± 7,1 4/18 22 UTI-PED 37,2 ± 9,8 7,5 ± 5,7 0/11 11 UTI-ADU 37,8 ± 8,1 10,2 ± 7,3 10/32 42 UIA 40,9 ± 9,7 9,0 ± 7,6 21/77 98 TOTAL 41,0 ± 9,2 10,4 ± 7,4 45/230 275 40 A Tabela 5 mostra a distribuição dos AT notificados e não notificados segundo sexo, número de empregos, regime de trabalho, grau de escolaridade, unidades do HC/Unicamp, número de treinamentos sobre Prevenção e Proteção ocupacional, turnos de trabalho, tipos de exposição ocupacional e faixa etária. Tabela 5 – Distribuição do número de acidentes de trabalho notificados e não notificados segundo variáveis investigadas (N=747), Campinas, SP, Brasil, 2017. Notificação AT Variável Sim (217) Não (530) N % N % p* Sexo Feminino 170 28,2 432 71,8 0,37 Masculino 47 32,4 98 67,6 Faixa etária 19 a 29 anos 17 23,6 55 76,4 0,15 30 a 39 anos 56 25,0 168 75,0 40 a 49 anos 81 32,9 165 67,1 50 a 59 anos 60 32,1 127 67,9 > 60 anos 3 16,7 15 83,3 Escolaridade Fundamental completo 2 50,0 2 50,0 0,17 Médio incompleto. 2 66,7 1 33,3 Médio completo 111 31,7 239 68,3 Superior incompleto 31 29,5 74 70,5 Superior completo 71 24,9 214 75,1 N. Empregos 1 174 29,8 410 70,2 0,45 >1 43 26,4 120 73,6 Regime de trabalho Estatutário 29 24,4 90 75,6 0,04 CLT/Unicamp 123 27,5 325 72,5 CLT/Funcamp 65 36,1 115 63,9 Unidades CME 25 47,2 28 52,8 0,0001 IMA 21 70,0 9 30,0 CC 60 43,8 77 56,2 SEAMPE 18 48,6 19 51,4 PED 10 16,9 49 83,1 UER 16 36,4 28 63,6 UTI-PED 1 4,3 22 95,7 UTI-ADU 13 10,2 114 89,8 41 UIA 53 22,4 184 77,6 Turno de trabalho Matutino 83 33,6 164 66,4 0,0011 Vespertino 59 29,4 142 70,6 Noturno 57 21,8 205 78,2 Administrativo 18 48,6 19 51,4 Treinamento Sim 195 29,4 468 70,6 0,63 Não 22 26,2 62 73,8 Tipos de exposição Percutânea com sangue 90 65,7 47 34,3 0,0001 Percutânea sem sangue 75 28,7 186 71,3 Muco cutânea 52 14,9 297 85,1 Legenda: *Teste Qui-Quadrado, Central de Material Esterilizado (CME), Imaginologia (IMA), Centro Cirúrgico (CC), Serviço de Ambulatórios e Procedimentos Especializados (SEAMPE), Pediatria (PED), Unidade de Emergência Referenciada (UER), Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTI-PED) e Adulto (UTI-ADU),Unidade de Internação Adulto (UIA), Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Conforme a Tabela 5, os técnicos de enfermagem relataram ter sofrido 747 AT com exposição a material biológico, sendo 217 notificados com abertura de CAT ou P15 (29%) e 530 não notificados (71%). A comparação entre as proporções revelou diferenças estatísticas significantes (p<0,0001). Dentre os participantes da investigação, 76% declararam ter sofrido pelo menos um AT durante o tempo de vida laboral na instituição e 61% declararam que tiveram pelo menos um AT não notificado. Não foi determinado tempo de corte na pesquisa, pois um acidente sofrido há mais tempo poderia ser significante para o trabalhador e revelar aspectos importantes sobre a não notificação na instituição. Conforme demonstrado na Tabela 5, na análise univariada, houve associação estatisticamente significante e positiva para a ocorrência de notificação e não notificação em relação as variáveis regime de trabalho, unidades de trabalho, turnos de trabalho, tipos de exposição ocupacional. Verificou-se que as variáveis sexo, número de empregos, grau de escolaridade, número de treinamentos e faixa etária não foram estatisticamente significantes para a associação com notificação e não notificação dos AT com material biológico (p>0,05). O regime de trabalho influenciou na notificação e não notificação dos AT (p=0,04). A maior proporção de não notificação ocorreu com servidor estatutário e a maior proporção de notificação foi com trabalhador com regime CLT/Funcamp. 42 A instituição possuí dois regimes de contrato de trabalho, o estatutário e o celetista e a enfermagem trabalha em turnos fixos, cuja jornada de trabalho semanal é de 30 horas. O servidor pode ser contratado pela Unicamp ou pela Fundação de Desenvolvimento da Unicamp (Funcamp), entidade essa de caráter privativo, sem fins lucrativos, que atua como gerenciadora de convênios firmados entre a universidade e instituições públicas e privadas. Os servidores estatutários tiveram maiores proporções de subnotificação e apresentaram média de tempo de trabalho na instituição de 5,7±6,0 anos, enquanto celetistas apresentaram 11,9±7,0 anos. No período de 2013 a 2017, houve incremento na contratação de estatutários em virtude da Resolução GR-051/2013 (70) e há que se considerar que servidores, com menor tempo de vida laboral na instituição, podem ter apresentado menor familiaridade com o processo de notificação e receio de serem penalizados pela chefia. Portanto é oportuno salientar a importância do treinamento admissional institucional com conteúdo sobre o fluxo de atendimento após acidente com material biológico e biossegurança. Outro aspecto é oacolhimento gerencial dos trabalhadores na ocorrência de exposições ocupacionais, com estímulo para notificação dos AT. A variável turno de trabalho influenciou na notificação e não notificação dos AT (p=0,0011), sendo que a maior proporção de subnotificação ocorreu no turno noturno. Este resultado pode estar relacionado a demora no atendimento após o acidente, pois foi apontado como principal motivo para não registro dos AT pelos técnicos de enfermagem (15,4%), conforme mostrado no Quadro 1. A Figura 1 (Anexo 1) ilustra o fluxograma utilizado pelo HC/Unicamp para atendimento do profissional que sofreu AT com material biológico. Conforme análise do fluxograma, o trabalhador acidentado do turno noturno deverá ser atendido na UER. Somente no dia útil subsequente ao acidente, deverá buscar o serviço médico no Centro de Saúde da Comunidade (CECOM) para notificação do AT. Esta condição, aliada ao cansaço e estresse do trabalhador do período noturno pode se configurar em barreira importante e ter afetado a notificação dos AT. No presente estudo, a variável unidade de trabalho apresentou diferenças na notificação dos AT e a proporção entre as unidades foi estatisticamente significante (p=0,0001). As maiores proporções de subnotificação foram encontradas nas unidades UTI-PED (95,6%) e UTI-ADU (89,7%). Este achado pode estar relacionado a organização do trabalho, pois 93,8% dos respondentes (Quadro 2) referiram que o ritmo de trabalho é estressante as vezes ou sempre. 43 No cotidiano, os trabalhadores de enfermagem das unidades de terapia intensiva, dedicam-se ao cuidado de inúmeros pacientes com procedimentos invasivos, sendo muitos deles agressivos e agitados, o que pode dificultar a sua prática, bem como a realização segura dos procedimentos, predispondo os profissionais aos AT (30,73-75). Em investigação anterior realizada em 2004, na mesma UTI-ADU do HC/Unicamp (76), foi encontrado 83% de subnotificação de AT totais. No presente estudo foi detectado 89,7% de subnotificação de AT com material biológico na mesma unidade. Apesar de estudos realizados em momentos distintos no mesmo local, observou-se que houve um aumento da subnotificação, sendo indicativo de que ações institucionais podem não estar sendo efetivas para assegurar a notificação. É importante o investimento educacional mais amiúde nesses locais, com ênfase na notificação, visando assegurar maior proteção aos trabalhadores. O clima organizacional vem sendo estudado no mundo do trabalho contemporâneo. É assunto ainda controverso e de difícil análise comparativa, pois traçar correlações entre as diversas variáveis com uso de escalas psicométricas e construtos validados é tarefa que requer esforço e envolve desafios (77,78). O comportamento dos profissionais pode ser afetado pela cultura organizacional, que é representada por crenças que se refletem nas tradições e hábitos das organizações (79), já o clima organizacional consiste na percepção do ambiente de trabalho pelos trabalhadores no cotidiano e está vinculada ao comportamento e ações dos gestores (80). Pesquisas sobre a temática apontam que trabalhadores podem ser afetados por condições laborais desfavoráveis como relações de distanciamento entre supervisores e equipes, estilo de liderança onde prevalece o medo de punição (81), sendo que acidentes percutâneos foram mais comuns em profissionais, cujas unidades apresentavam déficit do quadro de pessoal e clima organizacional negativo (82). Outrossim, há estudos (50,51) indicando que condições de trabalho inadequadas interferem na adesão às Precauções Padrão, o que pode predispor o trabalhador ao AT. Portanto, esforços gerenciais devem ser sempre direcionados na busca pelo dimensionamento adequado do quadro de pessoal de enfermagem que assegure ritmo de trabalho menos extenuante, com impacto positivo na vida do trabalhador e segurança do paciente. Convém destacar a importância do papel dos enfermeiros e gerentes de enfermagem na revisão dos processos de trabalho e práticas gerenciais que valorizem as necessidades dos trabalhadores, com acolhimento do acidentado e encorajamento para notificação dos AT. 44 Investigação sobre fatores que interferem no atendimento do acidentado com AT com material biológico detectou que a falta de apoio gerencial dificultou o atendimento e potencializou o sofrimento do trabalhador (83). Portanto cabe as instituições de saúde e aos gerentes a responsabilidade pela desconstrução de barreiras e dificuldades que afetam a notificação e prover condições para que profissionais possam notificar seus acidentes e receber tratamento de saúde caso necessário. No presente estudo, as maiores proporções de notificação foram encontradas na IMA e SEAMPE, podendo ser indicativo de clima organizacional positivo. Na IMA também pode estar relacionada ao desconhecimento do status sorológicos dos pacientes que são atendidos no local, mobilizando assim trabalhadores para notificação quando ocorrem AT. No SEAMPE, há o aspecto do acidente e atendimento coexistirem na maioria das vezes dentro da própria jornada de trabalho, ou seja, no horário administrativo, sendo este um fator facilitador para a notificação do trabalhador. O tipo de exposição ocupacional influenciou na notificação e não notificação dos AT (p=0,0001). No levantamento das ocorrências dos AT, evidenciou-se que a maior proporção de não notificação declarada foi a mucocutânea (56,0%) com sangue ou fluídos corporais seguida por percutânea sem sangue (35,1 %). As subnotificações dos AT com exposição mucocutânea com respingos de sangue e outros fluídos corporais (297) foram 5 vezes maiores que as notificações (52). Esse resultado pode estar relacionado a crença dos profissionais de que a exposição mucocutânea é de menor relevância e oferece baixo risco para aquisição de doenças. O resultado pode estar relacionado a tendência do trabalhador de naturalizar as agressões existentes no trabalho (84), ou seja, a baixa percepção da possibilidade de aquisição de patógenos frente a exposição ocupacional ao sangue e fluídos corporais pode estar relacionada a naturalização do risco pelo profissional de enfermagem, sendo considerada desnecessária a notificação da exposição mucocutânea. Embora as Precauções Padrão possam oferecer proteção ao profissional, vários fatores podem afetar a sua adesão, com destaque para o clima de segurança, que constitui a percepção do trabalhador sobre o valor atribuído a segurança do trabalho na organização, sendo afetado pelo envolvimento da chefia com a temática (74). Portanto frente a necessidade de assegurar a qualidade de vida, com menores riscos para o trabalhador, torna-se premente a articulação de práticas educativas voltadas a segurança no 45 ambiente laboral com sensibilização dos profissionais sobre risco potencial de aquisição de patógenos decorrentes de quaisquer tipos de exposições ocupacionais e relevância da notificação dos AT. Em hospital universitário de Camarões, realizou-se levantamento de ocorrências de AT com material biológico, com 60,3 % de exposições ocasionadas por respingos e as mesmas não foram notificadas (53), sendo enfatizado a importância das ações de vigilância relativas ao registro dos acidentes aos órgãos competentes e gerenciamento das exposições ocupacionais. No presente estudo, a maior proporção de notificação relatada foi a percutânea com sangue (41,5%). Dentre os diferentes tipos de exposição ocupacional, apenas a percutânea com sangue teve notificação superior a subnotificação, podendo estar relacionada ao medo de contaminação dos trabalhadores. Na Grécia, estudo realizado em 17 hospitais públicos observou que lesões por picadas de agulha obtiveram alto percentual de notificação e salientou que acidentes percutâneos são mais notificados pelos profissionais devido causarem
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