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Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 1 de 32 Filosofia – Caderno 2 SEMANA 6 – Platão e o Dualismo PLATÃO Discípulo de Sócrates e fundador da Academia. Viveu entre os anos de 427 e 347 a.C. Escreveu importantes obras (entre elas Fédon, A República, O Banquete, Mênon, Apologia de Sócrates), estruturadas na forma de diálogos. Platão produz uma teoria para explicar o mundo e as nossas possibilidades de conhecê-lo, que ficou conhecida como Dualismo. Nesta teoria, o filósofo busca sintetizar os pensamentos de Heráclito e Parmênides, mostrando que ambos propunham teses com sentido, mas olhavam para aspectos diferentes da realidade. Para Platão, há um fluxo interminável de coisas que sempre mudam, mas que são apenas o reflexo de um mundo verdadeiramente real em que nada muda. Plano Sensível Plano Inteligível Domínio do corpo (paixões) e da matéria, é perecível e imperfeito, está em constante mudança. Corresponde à natureza (mundo físico); é percebido por meio de nossos sentidos, crenças e opiniões superficiais Domínio da alma e das essências imutáveis e eternas (ideias). É captado mediante o exercício da razão, que transcende os aspectos sensíveis da realidade. Representa a essência do Bem, assim como tudo o que é belo e verdadeiro Para explicar a dinâmica entre esses planos, Platão desenvolve uma teoria sobre a reminiscência, na qual apresenta as bases do Inatismo: apesar de sermos seres da natureza, corpos perecíveis no mundo sensível, nós, seres humanos, nascemos com a razão e ela nos conecta ao conhecimento essencial, às ideias verdadeiras, e a filosofia nada mais faz do que relembrar essas ideias. Por isso, o papel do filósofo é explorar sua racionalidade e buscar a verdade intrínseca, inteligível, conectada com nossa capacidade racional. “Conhecer, diz Platão, é recordar a verdade que já existe em nós; é despertar a razão para que ela se exerça por si mesma. Por isso Sócrates fazia perguntas, pois, por meio delas, as pessoas podiam lembrar-se da verdade e do uso da razão. Se não nascêssemos com a razão e com a verdade, indaga Platão, como saberíamos que temos uma ideia verdadeira ao encontrá-la? Como poderíamos distinguir o verdadeiro do falso?” - Marilena Chauí, Convite à Filosofia. Assim, o pressuposto da teoria do conhecimento de Platão é o de que a verdade se encontra no mundo ideal, ou inteligível, acessível somente pelo exercício da razão humana. Nesse muno, há uma ideia referencial imutável e perfeita de tudo o que percebemos no mundo sensível. Para conhecer a verdade, portanto, devemos nos desprender dos aspectos sensíveis e elevar o nosso raciocínio aos níveis inteligíveis, em busca da essência das coisas. O filósofo despreza, portanto, o conhecimento material e imediato, assim como tudo o que remete ao corpo e às nossas crenças e opiniões. O mundo sensível não passa de uma ilusão da matéria e deve ser superado, tal como figura em sua célebre alegoria, presente na obra A República, que ficou conhecida como Mito da Caverna. Nesta alegoria, Platão busca ressaltar o modo como vivemos, em estado de ignorância, assumindo o ilusório como real. Isso acontece porque o conhecimento sensível alcança apenas a mera aparência das coisas. Segundo o filósofo, existem quatro graus de conhecimento pelos quais podemos passar em busca da verdade. Os dois primeiros remetem ao plano sensível, que deve ser superado, e o terceiro marca a transição ao conhecimento inteligível, própria a quem se dedica ao exercício filosófico ou à matemática. O último grau implica em uma aproximação mais concreta com a verdade, um estado semelhante à iluminação. imagem/ crença - opinião - raciocínio - intuição intelectual O método de conhecimento próprio da Filosofia seria a dialética, entendida como o contraste racional às bases superficiais do conhecimento. Por meio desse contraste chegar-se-ia à síntese, elevando o conhecimento a um nível superior. Sócrates, mestre de Platão, exercitava a dialética em sua vida pública, conversando com as pessoas, fazendo perguntas e incentivando o uso da razão. Platão, em seus textos que remetem aos diálogos socráticos, parte da opinião ou crença do interlocutor. A contradição inerente a tal postura revela-se com a antítese. A síntese, por sua vez, Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 2 de 32 tem o papel de apresentar a distinção entre a aparência e a essência, abrindo caminho para a construção do conhecimento verdadeiro. A República Em sua grande obra sobre a justiça, Platão constrói dialeticamente, ao longo de dez livros (equivalentes a capítulos), uma cidade justa que corresponderia ao indivíduo justo. O autor repudia a democracia, que dá poder aos ignorantes, e propõe um modelo aristocrático no qual os governantes devem ser os filósofos. Dotados de uma racionalidade aprimorada e de aptidão para buscar a verdade, somente esses sábios poderiam conduzir a cidade às melhores decisões. Para justificar esse modelo, Platão parte do pressuposto de que os homens são naturalmente desiguais e que apresentam diferentes propensões, portanto, deveriam exercer funções distintas na cidade. Esta tese está demonstrada em outra alegoria apresentada por Platão na obra A República, o mito de Er, em que o filósofo descreve os três tipos de alma e suas correspondentes funções em uma cidade ideal. tipo de alma característica quem a possui função na cidade Alma concupiscente Busca satisfazer as necessidades corporais Artesãos, comerciantes produção e sustento Alma irascível Senso de justiça; defende o corpo das agressões Guerreiros, soldados Proteção da cidade Alma racional Senso crítico; aptidão para buscar a verdade Filósofos Organizar e aplicar a lei; governar a cidade A arte na visão de Platão Além de apresentar sua teoria sobre o conhecimento (dualismo) e mostrar como ela pode ser aplicada na vida da cidade, é também na obra A República que Platão desenvolve uma de suas teses mais famosas sobre a arte. Tomada como “inimiga da filosofia”, por incentivar experiências sensoriais que conduzem às emoções, a arte, segundo o filósofo, ilude e distancia o sujeito da busca pela verdade, devendo, portanto, “ser expulsa da cidade”. Sendo a imitação das coisas sensíveis (mímesis), a arte estaria dois graus apartada da verdade, por isso é tão desprezada por Platão. “A mímesis é representação da aparência. Tal representação fundamenta-se em uma semelhança com aspectos secundários e superficiais da coisa representada. Desse ponto de vista a mímesis teria, como que inscrita em sua própria natureza, a impossibilidade de mostrar as coisas como realmente são, limitando-se a mostrar apenas como aparecem. Como representam a aparência das coisas, as artes miméticas mantém com o original uma relação tênue, forjada por uma semelhança superficial. (...) É isto que define o imitador: produtor de imagens, mas imagens afastadas a dois graus da realidade. (...) A arte potencializa a experiência sensível, intensifica as emoções a ponto de impedir a descoberta da natureza do sensível como imagem imperfeita da Forma, ou seja, impedir que a sua deficiência seja exposta. A arte oculta a deficiência do sensível.” Os Filósofos e a Arte; Rafael Haddock-Lobo (org.). Platão contra a arte, Fernando Muniz. TEXTO COMPLEMENTAR: A TEORIA DO CONHECIMENTO NA REPÚBLICA, DE PLATÃO. No livro VI da República, a exposição da teoria do conhecimento é, ao mesmo tempo, a exposição da separação e diferença entre o sensível e o inteligível, cada qual com os seus modos de conhecer hierarquicamente distribuídos. Platão apresenta os modos ou graus de conhecimento distribuídos em um diagrama dividido em duas partes desiguais, isto é, uma delas é maior do que a outra. A parte inferior é chamada de “o visível” (corresponde ao mundo sensível)e é menor do que a parte superior, chamada de “invisível” (corresponde ao mundo inteligível). A primeira parte é o mundo físico e ético percebido por intermédio da aparência sensível das coisas; a segunda parte é o mundo das ideias puras, aprendido exclusivamente pelo pensamento. Platão estabelece, então, distribuídos nesses dois planos, quatro modos de conhecimento: imagem; opinião; raciocínio e intuição intelectual. Platão designa o conhecimento por imagens com o termo eikasía; e por opinião, pístis e dóxa, ambos pertencentes ao plano sensível. Designa o conhecimento por raciocínios dedutivos ou demonstrativos, isto é, o pensamento discursivo, com o termo diaánoia; e a intuição intelectual, nóesis. (...) Para explicar o movimento de passagem de um grau de conhecimento para o outro, no livro VII da República, Platão narra o Mito da Caverna, alegoria da teoria do conhecimento platônica. Uma analogia entre conhecer e ver é o tema dessa alegoria, narrada por Sócrates a Glauco para fazê-lo compreender o sentido da paidéia filosófica, isto é, da dialética do verdadeiro conhecimento. Imaginemos, diz Sócrates, uma caverna subterrânea separada do mundo externo por um alto muro. Entre este e o chão da caverna há uma fresta por onde passa alguma luz exterior, deixando a caverna na obscuridade quase completa. Desde seu nascimento, geração após geração, seres humanos ali estão acorrentados. Os prisioneiros julgam que as sombras de coisas e pessoas (tudo o que percebem do interior da caverna, mas que remete ao mundo exterior) são as próprias coisas externas. Nesse Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 3 de 32 ponto Glauco diz a Sócrates que o quadro descrito por ele lhe parece algo estranho, incomum. Sócrates, porém, lhe diz que os prisioneiros são “semelhantes a nós”. E prossegue. Os prisioneiros se comunicam, dando nome às coisas que julgam ver e imaginam que o que escutam – e que não sabem que são sons vindos de fora – são as vozes das próprias sombras. Qual é, pois, a situação dessas pessoas aprisionadas? Tomam as sombras por realidade, tanto as sombras dos homens exteriores como as sombras dos artefatos fabricados por eles. Essa confusão, porém, não tem como causa a natureza dos prisioneiros, mas as condições adversas em que se encontram. Por isso Sócrates indaga: que aconteceria se fossem libertados dessa condição de miséria e, “retornando à sua natureza, pudessem ver as coisas que de fato existem e ser curados de sua ignorância?”. Essa é a pergunta grave. De fato, para os prisioneiros o único mundo real é a caverna. A obscuridade é, portanto, experimentada como realidade verdadeira. E a caverna é para eles todo o mundo real, pois não sabem que o que veem na parede do fundo são as sombras de um outro mundo, exterior à caverna. Um dos prisioneiros escapa e, com muita dificuldade, sai da caverna. No primeiro instante, enche-se de dor por conta dos movimentos que seu corpo realiza pela primeira vez e pelo ofuscamento de seus olhos sob a ação da luz externa. Sente-se dividido entre a incredulidade e o deslumbramento. Seu primeiro impulso é retornar à caverna para livrar-se da dor e do espanto, pois lá tudo é familiar e conhecido. A descrição platônica é dramática: o caminho em direção ao mundo exterior é íngreme e rude; o prisioneiro liberto sofre; a luz do sol o cega; ele se sente arrancado, puxado para fora por uma força incompreensível. Platão narra um parto: o parto da alma que nasce para a verdade e é dada à luz. Sentindo-se sem disposição para regressar à caverna por conta da rudeza do caminho, o prisioneiro permanece no exterior. Aos poucos, habitua-se à luz do e começa a ver o mundo. Encanta-se, tem a felicidade de finalmente ver as próprias coisas, descobrindo que via apenas sombras. Doravante, desejará ficar longe da caverna para sempre e lutará com todas as suas forças para jamais regressas a ela. No entanto, não pode evitar lastimar a sorte dos outros prisioneiros e, por fim, toma a difícil decisão de regressar ao subterrâneo sombrio para contar aos demais o que viu e convencê-los a se libertarem também. De volta à caverna, o prisioneiro fica cego novamente, mas agora pela ausência de luz. Ali dentro é desajeitado, inábil, não sabe mover-se entre as sombras e é desajeitado para falar com os outros, não sendo acreditado por eles. Torna-se objeto de zombaria e riso, e correrá o risco de ser morto pelos que jamais se disporão a abandonar a caverna. Impossível para o leitor não identificar a figura de Sócrates na do prisioneiro que se liberta, retorna e é morto pelos homens das sombras. A caverna, explica Sócrates a Glauco, é o mundo sensível onde vivemos. O fogo que projeta as sombras na parede é um reflexo da luz verdadeira (do Bem e das ideias) sobre o mundo sensível. Somos os prisioneiros. As sombras são as coisas sensíveis, que tomamos pelas verdadeiras. Os grilhões são os nossos preconceitos, nossa confiança em nossos sentidos, nossas paixões e opiniões. O instrumento que quebra grilhões e permite a escalada do muro é a dialética. O prisioneiro curioso que escapa é o filósofo. A luz que ele vê é a luz plena do ser, o Bem, que ilumina o mundo inteligível como o sol ilumina o mundo sensível. O retorno à caverna para convidar os outros a sair dela é o diálogo filosófico. Conhecer é, pois, um ato de libertação e de iluminação. A educação filosófica é uma conversão da alma, voltando-se do sensível para o inteligível. Essa educação não nos ensina as coisas nem nos dá a visão, mas orienta o olhar, pois a alma, por sua natureza, possui em si mesma a capacidade para ver. O Mito da Caverna apresenta a dialética como movimento ascendente de libertação do olhar intelectual que nos livra da cegueira para vermos a luz das ideias. Mas descreve também o retorno do prisioneiro para tentar libertar seus companheiros. Há, assim, dois movimentos: o de ascensão que vai da imagem à crença ou opinião, destas para a matemática e destas para a intuição intelectual e a ciência; e o do descenso, que consiste em praticar com os outros o trabalho para subir até as ideias. Os olhos foram feitos para ver, a alma foi feita para conhecer. O relato da subida e da descida expõe a Paidéia como dupla violência necessária para a liberdade e para a realização da verdadeira natureza da alma: a ascensão é difícil, dolorosa, quase insuportável; o retorno à caverna, uma imposição terrível à alma libertada, agora forçada a abandonar a luz da felicidade. A dialética, como toda a técnica, é uma atividade exercida contra a passividade, forçando um ser a realizar sua própria natureza. No Mito, a dialética leva a alma a ver sua própria essência para descobrir seu parentesco com elas, pois a alma é parte da ideia como os olhos são parte da luz. Fonte: Marilena Chauí. Introdução à História da Filosofia (vol. 1) – adaptado. EXERCÍCIOS 1. (ENEM 2014) No centro da imagem, o filósofo Platão é retratado apontando para o alto. Esse gesto significa que o http://2.bp.blogspot.com/-RJF1ZdvsykU/VF-8CgMUJvI/AAAAAAAAA0c/OCgKRLBCsto/s1600/QO.jpg Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 4 de 32 conhecimento se encontra em uma instância na qual o homem descobre a: a) suspensão do juízo como reveladora da verdade. b) realidade inteligível por meio do método dialético. c) Salvação da condição mortal pelo poder de Deus. d) essência das coisas sensíveis no intelecto divino. e) ordem intrínseca ao mundo por meio da sensibilidade. 2. (ENEM 2012) Para Platão, o que havia de verdadeiro em Parmênides era que o objeto de conhecimento é um objeto de razão e não de sensação, e era preciso estabelecer uma relação entre objeto racional e objeto sensível ou material que privilegiasse o primeiro em detrimento do segundo. Lenta, mas irresistivelmente, a Doutrina das Ideias formava- se em sua mente. ZINGANO, M. Platão e Aristóteles: o fascínio dafilosofia. São Paulo: Odysseus, 2012 (adaptado). O texto faz referência à relação entre razão e sensação, um aspecto essencial da Doutrina das Ideias de Platão (427 a.C.-346 a.C.). De acordo com o texto, como Platão se situa diante dessa relação? a) Estabelecendo um abismo intransponível entre as duas. b) Privilegiando os sentidos e subordinando o conhecimento a eles. c) Atendo-se à posição de Parmênides de que razão e sensação são inseparáveis. d) Afirmando que a razão é capaz de gerar conhecimento, mas a sensação não. e) Rejeitando a posição de Parmênides de que a sensação é superior à razão. 3. (Uff 2011) Segundo Platão, as opiniões dos seres humanos sobre a realidade são quase sempre equivocadas, ilusórias e, sobretudo, passageiras, já que eles mudam de opinião de acordo com as circunstâncias. Como agem baseados em opiniões, sua conduta resulta quase sempre em injustiça, desordem e insatisfação, ou seja, na imperfeição da sociedade. Em seu livro A República, ele, então, idealizou uma sociedade capaz de alcançar a perfeição, desde que seu governo coubesse exclusivamente a) aos guerreiros, porque somente eles teriam força para obrigar todos a agirem corretamente. b) aos tiranos, porque somente eles unificariam a sociedade sob a mesma vontade. c) aos mais ricos, porque somente eles saberiam aplicar bem os recursos da sociedade. d) aos demagogos, porque somente eles convenceriam a maioria a agir de modo organizado. e) aos filósofos, porque somente eles disporiam de conhecimento verdadeiro e imutável. 4. (UEL 2017) Leia a tirinha e o texto II a seguir e responda: (Disponível em: <http://xicosa.blogfolha.uol.com.br/ files/2014/02/AngeliIdeologia.gif>. Acesso em: 20 abr. 2016.) Texto II Exercita-te primeiro, caro amigo, e aprende o que é preciso conhecer para te iniciares na política; antes, não. Então, primeiro precisarás adquirir virtude, tu ou quem quer que se disponha a governar ou a administrar não só a sua pessoa e seus interesses particulares, como a cidade e as coisas a ela pertinentes. Assim, o que precisas alcançar não é o poder absoluto para fazeres o que bem entenderes contigo ou com a cidade, porém justiça e sabedoria. (PLATÃO, O primeiro Alcebíades. Trad. Carlos Alberto Nunes. Belém: EDUFPA, 2004. p.281-285.) Com base na tirinha, no texto II e nos conhecimentos sobre a ética e a política em Platão, assinale a alternativa correta. a) A virtude individual terá fraca influência sobre o governo da cidade, já que a administração da cidade independe da qualidade de seus cidadãos. b) Justiça, sabedoria e virtude resultam da opinião do legislador sobre o que seria melhor para a cidade e para o indivíduo. c) O indivíduo deve possuir a virtude antes de dirigir a cidade, pois assim saberá bem governar e ser justo, já que se autogoverna. d) Para se iniciar em política, primeiro é necessário o poder absoluto para fazer o bem para a cidade e a si próprio. e) Todo conflito desaparece em uma cidade se a virtude fizer parte da administração, mesmo que o dirigente não a possua. 5. (IFSP 2011) “– Mas escuta, a ver se eu digo bem. O princípio que de entrada estabelecemos que devia Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 5 de 32 observar-se em todas as circunstâncias, quando fundamos a cidade, esse princípio é, segundo me parece, ou ele ou uma das suas formas, a justiça. Ora nós estabelecemos, segundo suponho, e repetimo-lo muitas vezes, se bem te lembras, que cada um deve ocupar-se de uma função na cidade, aquela para qual a sua natureza é mais adequada.” (PLATÃO. A República. Trad. de Maria Helena da Rocha Pereira. 7 ed. Lisboa: Calouste-Gulbenkian, 2001, p. 185.) Com base no texto e nos conhecimentos sobre a concepção platônica de justiça, na cidade ideal, assinale a alternativa correta. a) Para Platão, a cidade ideal é a cidade justa, ou seja, a que respeita o princípio de igualdade natural entre todos os seres humanos, concedendo a todos os indivíduos os mesmos direitos perante a lei. b) Platão defende que a democracia é fundamento essencial para a justiça, uma vez que permite a todos os cidadãos o exercício direto do poder. c) Na cidade ideal platônica, a justiça é o resultado natural das ações de cada indivíduo na perseguição de seus interesses pessoais, desde que esses interesses também contribuam para o bem comum. d) Para Platão, a formação de uma cidade justa só é possível se cada cidadão executar, da melhor maneira possível, a sua função própria, ou seja, se cada um fizer bem aquilo que lhe compete, segundo suas aptidões. e) Platão acredita que a cidade só é justa se cada membro do organismo social tiver condições de perseguir seus ideais, exercendo funções que promovam sua ascensão econômica e social. 6. (UFU 2011) No pórtico da Academia de Platão, havia a seguinte frase: “não entre quem não souber geometria”. Essa frase reflete sua concepção de conhecimento: quanto menos dependemos da realidade empírica, mais puro e verdadeiro é o conhecimento tal como vemos descrito em sua Alegoria da Caverna. “A ideia de círculo, por exemplo, preexiste a toda a realização imperfeita do círculo na areia ou na tábula recoberta de cera. Se traço um círculo na areia, a ideia que guia a minha mão é a do círculo perfeito. Isso não impede que essa ideia também esteja presente no círculo imperfeito que eu tracei. É assim que aparece a ideia ou a forma.” (JEANNIÈRE, Abel. Platão. Tradução de Lucy Magalhães. Rio de Janeiro: Zahar, 1995. 170 p.). Com base nas informações acima, assinale a alternativa que interpreta corretamente o pensamento de Platão. a) A Alegoria da Caverna demonstra, claramente, que o verdadeiro conhecimento não deriva do “mundo inteligível”, mas do “mundo sensível”. b) Todo conhecimento verdadeiro começa pela percepção, pois somente pelos sentidos podemos conhecer as coisas tais quais são. c) Quando traçamos um círculo imperfeito, isto demonstra que as ideias do “mundo inteligível” não são perfeitas, tal qual o “mundo sensível”. d) As ideias são as verdadeiras causas e princípio de identificação dos seres; o “mundo inteligível” é onde se obtêm os conhecimentos verdadeiros. 7. (UEL 2009) Leia o texto a seguir e responda à questão. - Considera pois – continuei – o que aconteceria se eles fossem soltos das cadeias e curados da sua ignorância, a ver se, regressados à sua natureza, as coisas se passavam deste modo. Logo que alguém soltasse um deles, e o forçasse a endireitar-se de repente, a voltar o pescoço, a andar e a olhar para a luz, a fazer tudo isso, sentiria dor, e o deslumbramento impedi-lo-ia de fixar os objetos cujas sombras via outrora. Que julgas tu que ele diria, se alguém lhe afirmasse que até então ele só vira coisas vãs, ao passo que agora estava mais perto da realidade e via de verdade, voltado para objetos mais reais? E se ainda, mostrando-lhe cada um desses objetos que passavam, o forçassem com perguntas a dizer o que era? Não te parece que ele se veria em dificuldade e suporia que os objetos vistos outrora eram mais reais do que os que agora lhe mostravam? (PLATÃO. A República 7. ed. Lisboa: Caiouste &Ibenkian, I993. p. 3I8-3I9.) O texto é parte do livro VII da República, obra na qual Platão desenvolve o célebre Mito da Caverna. Sobre o Mito da Caverna, é correto afirmar. I. A caverna iluminada pelo Sol, cuja luz se projeta dentro dela, corresponde ao mundo inteligível, o do conhecimento do verdadeiro ser. II. Explicita como Platão concebe e estrutura o conhecimento. III. Manifesta a forma como Platão pensa a política, na medida em que, ao voltar à caverna, aquele que contemplou o bem quer libertar da contemplação das sombras os antigos companheiros. IV. Apresenta uma concepção de conhecimento estruturada unicamente em fatores circunstanciais e relativistas. Assinalea alternativa correta. a) Somente as afirmativas I e IV são corretas. b) Somente as afirmativas II e III são corretas. c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. e) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas. 8. (UEL 2007) Considere a citação abaixo: “Sócrates: Tomemos como princípio que todos os poetas, a começar por Homero, são simples imitadores das aparências da virtude e dos outros assuntos de que tratam, mas que não atingem a verdade. São semelhantes nisso ao pintor de que falávamos há instantes, que desenhará uma aparência de sapateiro, sem nada entender de sapataria, Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 6 de 32 para pessoas que, não percebendo mais do que ele, julgam as coisas segundo a aparência?” Glauco – “Sim”. Fonte: PLATÃO. A República. Tradução de Enrico Corvisieri. São Paulo: Nova Cultural, 1997. p.328. Com base no texto acima e nos conhecimentos sobre a mímesis em Platão, assinale a alternativa correta. a) Platão critica a pintura e a poesia porque ambas são apenas imitações diretas da realidade. b) Para Platão, os poetas e pintores têm um conhecimento válido dos objetos que representam. c) Tanto os poetas quanto os pintores estão, segundo a teoria de Platão, afastados dois graus da verdade. d) Platão critica os poetas e pintores porque estes, à medida que conhecem apenas as aparências, não têm nenhum conhecimento válido do que imitam ou representam. e) A poesia e a pintura são criticadas por Platão porque são cópias imperfeitas do mundo das ideias. 9. (UEL 2007) Em A República, Platão analisa cinco formas de governo a fim de determinar qual delas é a melhor e mais justa, isto é, qual delas corresponde ao modelo de constituição idealizado por ele. Segundo Platão, o Estado é a imagem amplificada do homem justo. Considere o seguinte diálogo entre Sócrates e Adimanto, apresentado em A República, Livro VIII. Sócrates – Sendo assim, diz: não é o desejo insaciável daquilo que a democracia considera o seu bem supremo que a perde? Adimanto – E que bem é esse? Sócrates – A liberdade. [...] Adimanto – Sim, é isso o que se ouve muitas vezes. Sócrates – O que eu ia dizer há pouco é: não é o desejo insaciável desse bem, e a indiferença por todo o resto, que muda este governo e o obriga a recorrer à tirania? Adimanto – Como? Sócrates – Quando um Estado democrático, sedento de liberdade, passa a ser dominado por maus chefes, que fazem com que ele se embriague com esse vinho puro para além de toda a decência, então, se os seus magistrados não se mostram inteiramente dóceis e não lhe concedem um alto grau de liberdade, ele castiga-os, acusando-os de serem criminosos e oligarcas. [...] E ridiculariza os que obedecem aos magistrados e trata-os de homens servis e sem valor. Por outro lado, louva e honra, em particular e em público, os governantes que parecem ser governados e os governados que parecem ser governantes. Não é inevitável que, num Estado assim, o espírito de liberdade se estenda a tudo? Fonte: PLATÃO. A República. Tradução de Enrico Corvisieri. São Paulo: Nova Cultural, 1997, p. 280-281. Com base no diálogo anterior e nos conhecimentos sobre as formas de governo analisadas por Platão, considere as seguintes afirmativas: I. A democracia é a negação da justiça, pois ela rejeita o princípio da escolha de governantes pelo critério da capacidade específica. II. A democracia é uma forma de governo que, ao dar livre curso aos desejos supérfluos e perniciosos dos indivíduos, se degenera em tirania. III. A democracia é a mais bela forma de governo, pois privilegia a liberdade que é o mais belo de todos os bens. IV. Na democracia, cada indivíduo assume a sua função própria dentro da polis. Estão corretas apenas as afirmativas: a) I e II. b) II e III. c) III e IV. d) I, II e IV. e) I, III e IV. 10. (UEL 2006) “Quando é, pois, que a alma atinge a verdade? Temos de um lado que, quando ela deseja investigar com a ajuda do corpo qualquer questão que seja, o corpo, é claro, a engana radicalmente. - Dizes uma verdade. - Não é, por conseguinte, no ato de raciocinar, e não de outro modo, que a alma apreende, em parte, a realidade de um ser? - Sim. [...] - E é este então o pensamento que nos guia: durante todo o tempo em que tivermos o corpo, e nossa alma estiver misturada com essa coisa má, jamais possuiremos completamente o objeto de nossos desejos! Ora, esse objeto é, como dizíamos, a verdade.” (PLATÃO. Fédon. Trad. Jorge Paleikat e João Cruz Costa. São Paulo: Nova Cultural, 1987. p. 66-67.) Com base no texto e nos conhecimentos sobre a concepção de verdade em Platão, é correto afirmar: a) O conhecimento inteligível, compreendido como verdade, está contido nas ideias que a alma possui. b) A verdade reside na contemplação das sombras, refletidas pela luz exterior e projetadas no mundo sensível. c) A verdade consiste na fidelidade, e como Deus é o único verdadeiramente fiel, então a verdade reside em Deus. d) A principal tarefa da filosofia está em aproximar o máximo possível a alma do corpo para, dessa forma, obter a verdade. e) A verdade encontra-se na correspondência entre um enunciado e os fatos que ele aponta no mundo sensível. 11. (UEL 2011) Leia o texto a seguir. Para esclarecer o que seja a imitação, na relação entre poesia e o Ser, no Livro X de A República, Platão parte da hipótese das ideias, as quais designam a unidade na pluralidade, operada pelo pensamento. Ele toma como exemplo o carpinteiro que, por sua arte, cria uma mesa, tendo presente a ideia de mesa, como modelo. Entretanto, o que ele produz é a mesa e não a sua ideia. O poeta Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 7 de 32 pertence à mesma categoria: cria um mundo de mera aparência. Com base no texto e nos conhecimentos sobre a teoria das ideias de Platão, é correto afirmar: a) Deus é o criador último da ideia, e o artífice, enquanto co-participante da criação divina, alcança a verdadeira causa das coisas a partir do reflexo da ideia ou do simulacro que produz. b) A participação das coisas às ideias permite admitir as realidades sensíveis como as causas verdadeiras acessíveis à razão. c) Os poetas são imitadores de simulacros e por intermédio da imitação não alcançam o conhecimento das ideias como verdadeiras causas de todas as coisas. d) As coisas belas se explicam por seus elementos físicos, como a cor e a figura, e na materialidade deles encontram sua verdade: a beleza em si e por si. e) A alma humana possui a mesma natureza das coisas sensíveis, razão pela qual se torna capaz de conhecê-las como tais na percepção de sua aparência. 12. (UFPR 2011) Platão inicia o capítulo 5 do Livro X de A República afirmando que a imitação está “a dois graus de afastamento da verdade”. Que razões ele alega para sustentar essa afirmação? 13. (UNESP 2013) Do lado oposto da caverna, Platão situa uma fogueira fonte da luz de onde se projetam as sombras – e alguns homens que carregam objetos por cima de um muro, como num teatro de fantoches, e são desses objetos as sombras que se projetam no fundo da caverna e as vozes desses homens que os prisioneiros atribuem às sombras. Temos um efeito como num cinema em que olhamos para a tela e não prestamos atenção ao projetor nem às caixas de som, mas percebemos o som como proveniente das figuras na tela. (Danilo Marcondes. Iniciação à história da filosofia, 2001.) Explique o significado filosófico da Alegoria da Caverna de Platão, comentando sua importância para a distinção entre aparência e essência. Gabarito: 1. B 2. D 3. E 4. C 5. D 6. D 7. B 8. C 9. A 10. A 11. C SEMANA 7 – Marx, Engels e o Materialismo Histórico Dialético Karl Marx (1818 – 1883) Pensador alemão, consideradoum dos autores clássicos da Sociologia. Não se definia propriamente como sociólogo e nem se alinha aos modelos teóricos e metodológicos do Positivismo. Marx desenvolve uma profunda crítica à sociedade moderna (século XIX), o que permite a construção de uma reflexão sobre as relações de produção e sua consequência na organização das sociedades. Dessa crítica deriva o lugar de destaque que ocupa entre os pensadores que fundamentam a Sociologia enquanto disciplina. Boa parte de sua obra se deu em parceria com Friedrich Engels, filósofo alemão. Principais obras: - Manuscritos Econômico-filosóficos (1844); - A Ideologia Alemã (1845-46), em parceria com Engels; - Manifesto Comunista (1848), em parceria com Engels; - O Capital (1867-1883); Possui uma concepção dialética da realidade, em que a luta de classes é apresentada como motor da história. Por meio das tensões entre clássicas antagônicas, a história se transforma, alternando-se os distintos modos de produção. Apesar de perceber essa lógica em outros momentos da história, Marx dedica-se particularmente ao estudo do capitalismo, atendo-se às possibilidades desse sistema ser superado. Para Marx e Engels, a burguesia é a classe revolucionária que transforma as bases de produção feudal e implementa o capitalismo. Contudo, no capitalismo agravam-se as discrepâncias sociais, agora protegidas pela ideia amplamente difundida de que se trata de uma sociedade mais livre e igualitária. A análise das características e contradições do capitalismo está no cerne das críticas marxistas. Capitalismo: - separação entre trabalhadores e meios de produção (acumulação primitiva); Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 8 de 32 - aumento da riqueza e diminuição da distribuição da riqueza - sustenta-se na desigualdade entre as classes sociais. Os meios de produção encontram-se nas mãos de uma única classe social, a burguesia. - o trabalho humano transforma-se em uma mercadoria. O trabalho e alienado. Há uma “fetichização” da mercadoria, ao mesmo tempo em que acontece uma desumanização das relações pessoais. Principais conceitos presentes na obra de Marx: O TRABALHO é entendido como plataforma da história: atividade produtiva e criativa que simultaneamente proporciona os meios de subsistência e atribui sentido para a existência do indivíduo. O modo como as pessoas trabalham, ou seja, produzem economicamente a sua subsistência (MODO DE PRODUÇÃO MATERIAL) molda a sociedade e as relações sociais. ↓ - conjunto de técnicas, saberes e objetos empregados pelo homem na produção; - divisão do trabalho e dos meios de produção; - Exemplos: asiático, escravista, servil e capitalista. MATERIALISMO HISTÓRICO DIALÉTICO O modo de produção material condiciona a vida dos indivíduos, ou seja, a produção é a base de toda ordem social. Nosso pensamento é fruto das condições materiais de nosso período histórico. A consciência, portanto, não é autônoma diante da existência, mas formada a partir da história. → “[...] na produção social da sua existência, os homens estabelecem relações determinadas, necessárias, independentes da sua vontade, relações de produção... O conjunto destas relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, a base concreta sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e política e à qual correspondem determinadas formas de consciência social”. (MARX, K. Contribuição à crítica da economia política. Tradução de Florestan Fernandes. São Paulo, Ed. Mandacaru, 1989, p. 28.) IDEOLOGIA: falsa consciência histórica que emana das relações de produção, impondo a visão da classe dominante. Opacidade da história. Para Karl Marx, a história não se revela de modo transparente. Há uma falsa consciência que emana das próprias relações de produção. Tal consciência, que tem como papel justamente disseminar certas ideias que garantam a manutenção de valores fundamentais à classe dominante, é chamada ideologia. O papel da ideologia é mascarar o que ocorre de fato na sociedade, representando uma forma de dominação social e política. O modo de produção material condiciona a vida dos indivíduos, ou seja, a produção é a base de toda ordem social. Nosso pensamento é fruto das condições materiais de nosso período histórico. A consciência, portanto, não é autônoma diante da existência, mas formada a partir da história. Um exemplo de ideologia burguesa, na visão de Marx, seria a ideia de que as diferenças entre os indivíduos são resultados da concorrência natural: se trabalharmos, todos obteremos sucesso! Assim como Platão, que apresenta uma hipótese para explicar a nossa condição de alienação em relação à verdade, Marx a também não crê que a verdade seja assimilada pelo homem. Contudo, na visão do filósofo moderno, o processo de criação e manutenção da ideologia está vinculado ao processo de produção e ao papel das classes dominantes. “Se, na concepção do decurso da história, separarmos as ideais da classe dominante da própria classe dominante e se as concebermos como autônomas, sem nos preocuparmos com as condições de produção e com os produtores dessas ideias, então podemos afirmar que, por exemplo, na época em que a aristocracia dominou, os conceitos de honra, fidelidade etc. dominaram, ao passo que na época da dominação da burguesia dominaram os conceitos de liberdade, igualdade etc. É o que, em média, imagina a própria classe dominante. Tal concepção da história, comum a todos historiadores, especificamente desde o século XIII, defrontar-se-á necessariamente com o fenômeno de que as ideias cada vez mais abstratas dominam, isto é, ideias que tomam cada vez mais a forma de universalidade. Com efeito, a cada nova classe que toma o lugar da que dominava antes dela é obrigada, para alcançar os fins a que se propões, a apresentar seus interesses como sendo o interesse comum de todos os membros da sociedade, isto é, para expressar isso mesmo em termos ideais: é obrigada a emprestar às suas ideias a forma de universalidade, a apresentá-las como sendo as únicas racionais, as únicas universalmente válidas”. (MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. São Paulo: Hucitec, 1984.) ALIENAÇÃO: o objeto do trabalho não pertence mais ao trabalhador; o processo de trabalho perde o sentido (crítica à especialização) e a vida social, aos poucos, torna-se também desprovida de sentido, uma vez que o trabalho atribui sentido à vida do indivíduo. Esses seriam os três níveis da alienação descritos por Marx na obra O Capital. INFRAESTRUTURA: relações de produção; modos de produção SUPERESTRUTURA: instituições políticas e culturais; valores e pensamentos Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 9 de 32 MAIS-VALIA: diferença entre o valor produzido pelo trabalho e o salário pago ao trabalhador. Estratégias para a obtenção de mais-valia: trabalho pago por hora ou turno; jornada de trabalho estendida; inserção de novas tecnologias; aceleração do ritmo de produção. TEXTOS COMPLEMENTARES A história de toda sociedade existente até hoje tem sido a história das lutas de classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor e servo, mestre de corporação e companheiro, numa palavra, o opressor e o oprimido permaneceram em constante oposição um ao outro, levada a efeito numa guerra ininterrupta, ora disfarçada, ora aberta, que terminou, cada vez, ou pela reconstituição revolucionária de toda a sociedade ou pela destruição das classes em conflito. Desde épocas mais remotas da história, encontramos, em praticamente toda parte, uma complexa divisão da sociedade em classes diferentes, uma gradação múltipla das condições sociais. Na Roma Antiga, temos os patrícios, os guerreiros, os plebeus, os escravos; Na Idade Média, os senhores, os vassalos, os mestres, os companheiros,os aprendizes, os servos; e, em quase todas as classes, outras camadas subordinadas. A sociedade moderna burguesa, surgida das ruínas da sociedade feudal, não aboliu os antagonismos de classes. Apenas estabeleceu novas classes, novas condições de opressão, novas formas de luta em lugar das velhas. No entanto, a nossa época, a época da burguesia, possui uma característica: simplificou os antagonismos de classes. A sociedade global divide-se cada vez mais em dois campos hostis, em duas grandes classes que se defrontam – a burguesia e o proletariado. (...) Na mesma proporção em que a burguesia, ou seja, o capital, se desenvolve, desenvolve-se também o proletariado, a classe dos trabalhadores modernos, que só podem viver se encontrarem trabalho, e só encontram trabalho na medida em que este aumenta o capital. Esses trabalhadores que são obrigados a vender-se diariamente, são uma mercadoria, são um artigo de comércio, sujeitos, portanto, às vicissitudes da concorrência, às flutuações do mercado. (...) Qual a posição dos comunistas em relação aos proletários em geral? Os comunistas não formam um partido à parte, oposto aos outros partidos operários. Não tem interesses diferentes daqueles do proletariado em geral. Não formulam quaisquer princípios particulares a fim de modelar o movimento proletário. O fim imediato dos comunistas é o mesmo que o de todos os outros partidos proletários: constituição dos proletários em classe, derrubada da supremacia burguesa. Marx e Engels – O Manifesto Comunista Que faz a ideologia? Oferece a uma sociedade dividida em classes sociais antagônicas, e que vive na forma de luta de classes, uma imagem que permite a unificação e a identificação social – uma língua, uma religião, uma raça, uma nação, uma pátria, um estado, uma humanidade, mesmos costumes. Assim, a função primordial da ideologia é ocultar a origem da sociedade(relações de forças produtivas sob a divisão do trabalho social), dissimular a presença da luta de classes, negar as desigualdades sociais (como se fossem consequência de talentos diferentes, da preguiça ou da disciplina laboriosa) e oferecer a imagem da comunidade (o Estado) originada como contrato social entre homens livres e iguais. A ideologia é a lógica da dominação social e política. Marilena Chauí – Convite à Filosofia Texto 3: CHINESES, ROBÔS E A ‘UBERIZAÇÃO’ DAS RELAÇÕES DE TRABALHO Alexandre Andrada - 9 de Abril de 2019, 0h02 UMA DAS GRANDES maravilhas do capitalismo é a inovação. Inovar significa, de maneira simples, criar Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 10 de 32 algo novo ou fazer algo velho de uma nova maneira. E nisso o capitalismo é craque. Talvez dois mais importantes economistas políticos que analisaram o fenômeno da inovação foram o alemão Karl Marx (escudado por vezes por seu amigo Friedrich Engels) e o austríaco Joseph Schumpeter. No Manifesto de 1848, numa das passagens mais famosas do texto, Marx e Engels afirmam: “A burguesia não pode existir sem revolucionar permanentemente os instrumentos de produção, portanto as relações de produção, portanto as relações sociais todas”. Enquanto as sociedades baseadas em outros modos de produção se caracterizavam pela estabilidade das relações econômicas e sociais, o capitalismo é marcado pela revolução permanente. E é essa instabilidade que permitiu que a burguesia realizasse em poucos séculos de domínio maravilhas maiores que “as pirâmides egípcias, dos aquedutos romanos e das catedrais góticas”. N’O Capital de 1867, Marx volta a mostrar seu alumbramento com as inovações, no capítulo 13, intitulado “Maquinaria e Grande Indústria”. Mas o tema perpassa todo seu sistema. No modelo de Marx, o capitalista busca aumentar a massa de mais-valor que extrai de seus trabalhadores. Se estamos em um mundo de produtos idênticos – camisas brancas, por exemplo –, o capitalista pode aumentar seus lucros fazendo seus operários trabalharem por mais horas que a concorrência (mais-valor absoluto), ou fazer com que seus trabalhadores produzam mais mercadorias em menos tempo (mais-valor relativo). Para Marx, a dificuldade estava no mais-valor relativo. Para produzir mais em menos tempo, são necessárias novas máquinas e equipamentos, novas formas de comunicação, de transporte, de organização da produção, novos sistemas de logística etc. O capitalista que conseguir criar ou fazer uso dessas inovações terá uma maior taxa e uma maior massa de lucro, conquistando cada vez mais participação no mercado. Caminhará para se tornar um dos gigantes do setor. Quem não for capaz – ou não tiver recursos para inovar – será engolido. Aliás, mesmo a empresa líder do mercado – como contam as histórias da Kodak e da Nokia – mostra que a bancarrota está sempre na esquina. Em 1911, na sua obra Teoria do Desenvolvimento Econômico, Schumpeter fez bom uso das teorias de Marx, a partir de uma ótica liberal. Para Schumpeter, a mudança não nasce a partir de modificações nos gostos dos consumidores. Na verdade, são os empresários inovadores que criam novos produtos e “educam” (esse é o termo usado pelo autor) os consumidores sobre sua necessidade. Toda criação está carregada de destruição. Um exemplo pessoal. Nos meus tempos de faculdade, a viagem de ônibus era embalada por música ouvida através de um CD player e, principalmente, um walkman. Eu andava com três ou quatro fitas na mochila, e o mundo parecia bom. Jamais imaginei que um dia, poucos anos mais tarde, haveria uma coisa chamada Ipod – ou o MP3 da feira, seu primo pobre ao qual tive acesso –, no qual cabiam as músicas de todos os CD’s que eu tinha na minha casa (sobrando espaço, aliás). Nós jamais demandamos um telefone celular que fosse também um computador, uma televisão e um Ipod (aliás, o smartphone matou o Ipod de modo lento e cruel). Mas como fica evidente nesses dois exemplos, toda criação está carregada de destruição. O Ipod destruiu o discman, o smartphone destruiu o Ipod. Isso é parte do fenômeno que Schumpeter chamou de “destruição criativa”. O novo produto ou o novo processo destrói o que era velho. Mês passado foi divulgado que, com o fechamento de uma loja na Austrália, há hoje apenas uma única Blockbuster no mundo. Há uma década, eram 9 mil lojas, com pés nos quatro cantos do mundo, no Brasil inclusive. Uma rede literalmente global foi morta por uma inovação: Netflix. Outro exemplo: há poucos anos atrás ter frota de táxis era um ótimo investimento. Para obter uma licença de taxista, o sujeito precisava desembolsar uma pequena fortuna. Hoje qualquer um pode se cadastrar no Uber e operar como táxi. Mas nem tudo são rosas. Muitos são os trabalhadores ao longo da história que sofreram (e sofrerão) com o desemprego derivado de alguma inovação poupadora de mão de obra. No início do século 19, os chamados ludistas destruíram as máquinas que lhes roubavam os empregos. O drama dos trabalhadores instigou os economistas: seria a inovação boa também para os trabalhadores? As condições médias de trabalho no mundo todo têm piorado. Para os marxistas, a resposta seria negativa. Essas inovações, num sistema capitalista, forçariam os salários para baixo, reduzindo o poder de barganha dos trabalhadores, jogando alguns na miséria, outros no subemprego e muitos em empregos precários. Os liberais, via de regra, respondem essa pergunta afirmativamente. Ainda que a inovação destrua alguns empregos, ela cria fundos que permitem investimentos e aumento da produção que farão com que a região inovadora seja capaz de criar mais vagas de trabalho, que pagam salários maiores. Depois de um começo vacilante, as evidências pareciam corroborar a visão liberal. Os países mais inovadores são os que oferecem mais e melhores empregos. Enquanto países atrasados tecnologicamente têm menos vagas e piores salários. Mas há algumas décadas, desde o início da hiperglobalização apóso fim da Guerra Fria, um movimento contraditório vem acontecendo. Com a entrada de mais de Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 11 de 32 1 bilhão de chineses no mercado de trabalho capitalista – sem contar os de outros lugares –, multidões de trabalhadores de países subdesenvolvidos têm escapado da miséria. Porém, as condições médias de trabalho no mundo todo têm piorado. Nos países centrais, por exemplo, os ganhos de produtividade não parecem se materializar em aumentos de salários (ainda que esse dado seja controverso). Além disso, tem crescido, desde os anos 1970, o número de horas trabalhadas pelos americanos, bem como a proporção daqueles que trabalham mais de 40 horas semanais. Quarenta horas semanais foram uma conquista de trabalhadores ingleses (uma pequena porção, é verdade) ainda em 1889. Um cenário melancólico, se pensarmos no otimismo de um J. M. Keynes que, em 1930, acreditava que os netos de seus contemporâneos poderiam viver em abundância trabalhando três horas por dia. Hoje o fantasma dos robôs e da chamada “uberização” das relações trabalhistas é um espectro que ronda todo o mundo. Um número crescente de profissões pode facilmente ser substituída por algoritmos, robôs e outras tecnologias digitais (como a minha, de professor universitário). O Uber, que tem sido a tábua de salvação de milhões de pessoas em países como o Brasil, tem um modelo de negócio em que seu funcionário sequer é seu funcionário. Há a liberdade aparente de trabalhar quando e quanto quiser, que se materializa em jornadas intermináveis – há casos de motoristas que vivem literalmente em seus carros nos EUA – e em uma virtual ausência absoluta de direitos trabalhistas em caso de acidentes, doenças, incapacidades etc. Estamos caminhando para o mundo do “freela”, das relações pautadas pela uberização. A reforma trabalhista de Temer e a carteira de trabalho verde-amarela de Bolsonaro são passos nessa direção. Enquanto gerações passadas podiam sonhar em construir uma carreira de 30 anos numa mesma empresa, é provável que as novas tenham que se acostumar com a instabilidade do desenho “uber” de trabalho. Como já se disse uma vez: tudo o que era sólido se desmancha no ar. FONTE: theintercept.com/2019/04/08/uberizacao-das-relacoes-de- trabalho/ EXERCÍCIOS 1. (ENEM 2013) “Na produção social que os homens realizam, eles entram em determinadas relações indispensáveis e independentes de sua vontade; tais relações de produção correspondem a um estágio definido de desenvolvimento das suas forças materiais de produção. A totalidade dessas relações constitui a estrutura econômica da sociedade — fundamento real, sobre o qual se erguem as superestruturas política e jurídica, e ao qual correspondem determinadas formas de consciência social.” MARX, K. “Prefácio à Crítica da economia política.” In: MARX, K.; ENGELS, F. Textos 3. São Paulo: Edições Sociais, 1977 (adaptado). Para o autor, a relação entre economia e política estabelecida no sistema capitalista faz com que a) o proletariado seja contemplado pelo processo de mais- valia. b) o trabalho se constitua como o fundamento real da produção material. c) a consolidação das forças produtivas seja compatível com o progresso humano. d) a autonomia da sociedade civil seja proporcional ao desenvolvimento econômico. e) a burguesia revolucione o processo social de formação da consciência de classe. 2. (UEL 2008) “No capitalismo, os trabalhadores produzem todos os objetos existentes no mercado, isto é, todas as mercadorias; após havê-las produzido, entregam-nas aos proprietários dos meios de produção, mediante um salário; os proprietários dos meios de produção vendem as mercadorias aos comerciantes, que as colocam no mercado de consumo; e os trabalhadores ou produtores dessas mercadorias, quando vão ao mercado de consumo, não conseguem comprá-las. [...] Embora os diferentes trabalhadores saibam que produziram as diferentes mercadorias, não percebem que, como classe social, produziram todas elas, isto é, que os produtores de tecidos, roupas, alimentos [...] são membros da mesma classe social. Os trabalhadores se veem como indivíduos isolados [...], não se reconhecem como produtores da riqueza e das coisas.“ (CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. 13 ed. São Paulo: Ática, 2004. p. 387.) Com base no texto e nos conhecimentos sobre alienação e ideologia, considere as afirmativas a seguir: a) A consciência de classe para os trabalhadores resulta da vontade de cada trabalhador em superar a situação de exploração em que se encontra sob o capitalismo. b) É no mercado que a exploração do trabalhador torna-se explícita, favorecendo a formação da ideologia de classe. c) A ideologia da produção capitalista constitui-se de imagens e ideias que levam os indivíduos a compreenderem a essência das relações sociais de produção. d) As mercadorias apresentam-se de forma a explicitar as relações de classe e o vínculo entre o trabalhador e o produto realizado. e) O processo de não identificação do trabalhador com o produto de seu trabalho é o que se chama alienação. A ideologia liga-se a este processo, ocultando as relações sociais que estruturam a sociedade. 3. (UEM – Inverno 2008) Em termos sociológicos, assinale o que for correto sobre o conceito de classes sociais: 01) Sua utilização visa explicar as formas pelas quais as desigualdades se estruturam e se reproduzem nas sociedades. https://theintercept.com/2019/04/08/uberizacao-das-relacoes-de-trabalho/ https://theintercept.com/2019/04/08/uberizacao-das-relacoes-de-trabalho/ Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 12 de 32 02) De acordo com Karl Marx, as relações entre as classes sociais transformam-se ao longo da história conforme a dinâmica dos modos de produção. 04) As classes sociais, para Marx, definem-se, sobretudo, pelas relações de cooperação que se desenvolvem entre os diversos grupos envolvidos no sistema produtivo. 08) A formação de uma classe social, como os proletários, só se realiza na sua relação com a classe opositora, no caso do exemplo, a burguesia. 16) A afirmação “a história da humanidade é a história das lutas de classes” expressa a ideia de que as transformações sociais estão profundamente associadas às contradições existentes entre as classes. 4. (FGV) Leia com atenção as proposições abaixo: I. "A história de qualquer sociedade até aos nossos dias foi apenas a história da luta de classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestre e companheiro, numa palavra opressores e oprimidos em oposição constante, desenvolveram uma guerra que acabava sempre ou por uma transformação revolucionária da sociedade inteira, ou pela destruição das duas classes em luta." II. II. "Se me pedissem para responder à pergunta - 'O que é a escravidão?' e eu respondesse numa só palavra: 'Assassinato!', todos entenderiam imediatamente o significado da minha resposta. Não seria necessário utilizar nenhum outro argumento para demonstrar que o poder de roubar um homem de suas idéias, de sua vontade e sua personalidade é um poder de vida ou morte e que escravizar um homem é o mesmo que matá-lo. Por que, então, não posso responder da mesma forma a essa outra pergunta: 'O que é a propriedade?' com uma palavra só: 'Roubo'." Assinale a alternativa CORRETA: a) A primeira proposição reproduz um trecho de uma das mais importantes obras do filósofo alemão Karl Marx, que serviu de base para a ideologia liberal desenvolvida no século XIX. b) A segunda proposição refere-se ao manifesto cristão proposto por bispos da Igreja, indignados com a miséria que assolava as classes trabalhadoras européias no século XIX. c) A "luta de classes" é um dos principais aspectos da doutrina marxista e a definição da "propriedade como um roubo" tornou-se um dos principais lemas do anarquismo desde o século XIX. d) A segundaproposição é de Joseph Proudhon, teórico liberal francês, indignado com a escravidão ainda praticada em determinados continentes no século XIX. e) A segunda proposição refere-se à região da Palestina na perspectiva sionista, desenvolvida na Europa ao final do século XIX. 5. (Mackenzie) No século XIX, o mundo do trabalho fez surgir novas perspectivas para a compreensão da sociedade contemporânea. O Manifesto Comunista (1848), de Marx e Engels, indica a mudança de concepções abstratas e utópicas sobre a sociedade, para outras mais concretas e combativas. (Carlos Guilherme Mota) Sobre Karl Marx e Friedrich Engels é INCORRETO afirmar: a) A obra que sintetizou as suas teorias econômicas, sociais, políticas e culturais foi O Capital, que retomava a tradição do pensamento dialético, aprofundando-o na linha do Materialismo Histórico. b) A sociedade capitalista é contraditória, uma vez que produz um trabalho excedente que jamais retorna ao trabalhador, isto é, a mais valia. c) Formularam um socialismo de um novo tipo, baseado na concepção de que o capitalismo deve progressiva e pacificamente evoluir para o socialismo. d) Criticavam os socialistas Saint-Simon, Charles Fourier e Robert Owen, que não se baseavam, como eles, num estudo científico da história para aprender as leis da sociedade e da economia. e) As lutas de classes entre proprietários e trabalhadores eram percebidas por eles como uma contradição fundamental do sistema capitalista e que levariam à abolição da ordem burguesa e do Estado que sobre ela se sustentava. 6. (UFRRJ) "A criação de um proletariado despossuído, (...) cultivadores vítimas de expropriações violentas repetidas, foi necessariamente mais rápida que sua absorção pela nascentes manufaturas. (...) Forma-se uma massa de mendigos, ladrões e vagabundos. Desde o final do século XV e durante todo o século XVI na Europa Ocidental foi criada uma legislação sanguinária contra o ócio. Os pais da atual classe operária foram castigados por terem sido reduzidos à situação de vagabundos e pobres. A legislação os tratava como criminosos voluntários; ela pressupunha que dependia de seu livre arbítrio continuar a trabalhar como antes." (MARX, Karl. "O Capital". Paris, Garnier-Flamarion, 1969.) As transformações econômicas e sociais costumam gerar profundas alterações no chamado "mundo do trabalho". A situação apontada por Marx refere-se ao processo histórico a) das revoluções anti-capitalistas, ocorridas na Europa, contra as quais a burguesia determinou severa repressão. b) das revoltas operárias, como o ludismo, voltadas à destruição das máquinas e à exploração por elas causada. c) da Revolução Francesa, na qual os trabalhadores foram transformados em massa de manobra dos interesses burgueses. d) de cercamentos dos campos, com o deslocamento de um grande contingente de despossuídos da sua área rural de origem. e) da Revolução Industrial, quando os criminosos eram expulsos das fábricas e proibidos de trabalhar em outra ocupação, pela legislação vigente. Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 13 de 32 7. (UEL 2011) Observe a charge. Com base na charge e nos conhecimentos sobre a teoria de Marx, é correto afirmar: a) A produção mercantil e a apropriação privada são justas, tendo em vista que os patrões detêm mais capital do que os trabalhadores assalariados. b) Um dos elementos constitutivos da acumulação capitalista é a mais-valia, que consiste em pagar ao trabalhador menos do que ele produziu em uma jornada de trabalho. c) A mercadoria, para poder existir, depende da existência do capitalismo e da substituição dos valores de troca pelos valores de uso. d) As relações sociais de exploração surgiram com o nascimento do capitalismo, cuja faceta negativa está em pagar salários baixos aos trabalhadores. e) Sob o capitalismo, os trabalhadores se transformaram em escravos, fato acentuado por ter se tornado impossível, com a individualização do trabalho e dos salários, a consciência de classe entre eles. 8. (UEL 2010) Ao separar completamente o patrão e o empregado, a grande indústria modificou as relações de trabalho e apartou os membros das famílias, antes que os interesses em conflito conseguissem estabelecer um novo equilíbrio. Se a função da divisão do trabalho falha, a anomia e o perigo da desintegração ameaça todo o corpo social e quando o indivíduo, absorvido por sua tarefa se isola em sua atividade especial, já não percebe os colaboradores que trabalham ao seu lado e na mesma obra, nem sequer tem ideia dessa obra comum. (DURKHEIM, E. A Divisão Social do Trabalho. Apud QUINTEIRO, T.; BARBOSA, M. L. O.; OLIVEIRA, M. G. M. Toque de Clássicos. Vol 1. Durkheim, Marx e Weber. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007. p. 91.) De acordo com K. Marx, uma situação semelhante à descrita no texto, em que trabalhadores isolados em suas tarefas no processo produtivo “não percebem seus colaboradores na mesma obra, nem tem ideia dessa obra comum”, é explicada pelo conceito de: a) Alienação. b) Ideologia. c) Estratificação. d) Anomia social. e) Identidade social. 9. (UEM 2008) Ao discorrer sobre ideologia, Marilena Chauí afirma que “(...) a coerência ideológica não é obtida malgrado as lacunas, mas, pelo contrário, graças a elas. Porque jamais poderá dizer tudo até o fim, a ideologia é aquele discurso no qual os termos ausentes garantem a suposta veracidade daquilo que está explicitamente afirmado”. (O que é ideologia. São Paulo: Brasiliense, 1981, p. 04). Considerando o texto acima e o conceito de ideologia para Karl Marx, assinale o que for correto. 01) Na maioria das sociedades capitalistas, as desigualdades são ocultadas pelos princípios ideológicos que afirmam a importância dos seguintes elementos: o progresso, o “vencer na vida”, o individualismo, a mínima presença do Estado na economia e a soberania popular por meio da representação. 02) Ideologia corresponde às ideias que predominam em uma determinada sociedade, portanto expressa a realidade tal qual ela é na sua objetividade. 04) Uma pessoa pode elaborar uma ideologia, construir uma “questão” individual sem interferências anteriores e influências comunitárias para a sua sustentação. Assim, com base em sua própria ideologia, ela poderá refletir e agir em sua sociedade. 08) Na sociedade brasileira, a ideologia da democracia racial afirma que índios, negros e brancos vivem em harmonia, com igualdade de condições. Essa formulação omite as desigualdades étnicas existentes no país. 16) Ideologia consiste em ideias que predominam na sociedade e que, por isso, são internalizadas por todos os indivíduos. Portanto não existem possibilidades de se romper com seus pressupostos. 10. (UEL 2008) Sobre a exploração do trabalho no capitalismo, segundo a teoria de Karl Marx (1818-1883), é correto afirmar: Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 14 de 32 a) A lei da hora-extra explica como os proprietários dos meios de produção se apropriam das horas não pagas ao trabalhador, obtendo maior excedente no processo de produção das mercadorias. b) A lei da mais valia consiste nas horas extras trabalhadas após o horário contratado, que não são pagas ao trabalhador pelos proprietários dos meios de produção. c) A lei da mais-valia explica como o proprietário dos meios de produção extrai e se apropria do excedente produzido pelo trabalhador, pagando-lhe apenas por uma parte das horas trabalhadas. d) A lei da mais valia é a garantia de que o trabalhador receberá o valor real do que produziu durante a jornada de trabalho. e) As horas extras trabalhadas após o expediente constituem-se na essência do processo de produção de excedentes e da apropriação das mercadorias pelo proprietário dos meios de produção. 11. (UEL 2007) Karl Marx exerceu grande influênciana teoria sociológica. Segundo o autor: “[...] na produção social da sua existência, os homens estabelecem relações determinadas, necessárias, independentes da sua vontade, relações de produção... O conjunto destas relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, a base concreta sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e política e à qual correspondem determinadas formas de consciência social”. (MARX, K. Contribuição à crítica da economia política. Tradução de Florestan Fernandes. São Paulo, Ed. Mandacaru, 1989, p. 28). De acordo com o texto e os conhecimentos sobre o autor, é correto afirmar que: a) A superestrutura jurídica e política é o resultado do modo como as pessoas se organizam para produzir a subsistência material em determinada sociedade. b) A superestrutura jurídica e política é o resultado da consciência social dos líderes políticos e independe do modo de produção em dada sociedade. c) A superestrutura política é o resultado do modo como as pessoas se organizam para produzir a subsistência material em determinada sociedade, mas a esfera jurídica depende da consciência social. d) A superestrutura jurídica é o resultado do modo como as pessoas se organizam para produzir a subsistência material em determinada sociedade, mas a esfera política depende da razão humana, uma vez que a ideia de justiça é inata. e) A superestrutura jurídica e política é o resultado da consciência social dos homens. 12. (UEL 2006) “[...] uma grande marca enaltece - acrescenta um maior sentido de propósito à experiência, seja o desafio de dar o melhor de si nos esportes e nos exercícios físicos ou a afirmação de que a xícara de café que você bebe realmente importa [...] Segundo o velho paradigma, tudo o que o marketing vendia era um produto. De acordo com o novo modelo, contudo, o produto sempre é secundário ao verdadeiro produto, a marca, e a venda de uma marca adquire um componente adicional que só pode ser descrito como espiritual”. O efeito desse processo pode ser observado na fala de um empresário da Internet comentando sua decisão de tatuar o logo da Nike em seu umbigo: “Acordo toda manhã, pulo para o chuveiro, olho para o símbolo e ele me sacode para o dia. É para me lembrar a cada dia como tenho de agir, isto é, ‘just do it’.” (KLEIN, Naomi. Sem logo: a tirania das marcas em um planeta vendido. Rio de Janeiro: Record, 2002, p. 45-76.) Com base no texto e nos conhecimentos sobre ideologia, é correto afirmar: a) A atual tendência do capitalismo globalizado é produzir marcas que estimulam a conscientização em detrimento dos processos de alienação. b) O capitalismo globalizado, ao tornar o ser humano desideologizado, aproximou-se dos ideais marxistas quanto ao ideal humano. c) Graças às marcas e à influência da mídia, em sua atuação educativa, as pessoas tornaram-se menos sujeitas ao consumo. d) O trabalho ideológico em torno das marcas solucionou as crises vividas desde a década de 1970 pelo capital oligopólico. e) Por meio da ideologia associada à mundialização do capital, ampliou-se o fetichismo das mercadorias, o qual se reflete na resposta social às marcas. 13. (UFU 2000) De acordo com a teoria de Marx, a desigualdade social se explica a) pela distribuição da riqueza de acordo com o esforço de cada um no desempenho de seu trabalho. b) pela divisão da sociedade em classes sociais, decorrente da separação entre proprietários e não proprietários dos meios de produção. c) pelas diferenças de inteligência e habilidades inatas dos indivíduos, determinadas biologicamente. d) pela apropriação das condições de trabalho pelos homens mais capazes em contextos históricos, marcados pela igualdade de oportunidades. 14. (UFU 1998) A ideia de alienação, segundo Marx, refere-se I. à identidade entre os produtores e seus produtos. II. à separação entre o trabalhador e o produto de seu trabalho, devido à divisão social do trabalho e à propriedade privada dos meios de produção. III. à separação do Estado como um poder autônomo, imparcial, acima da coletividade e que a domina. IV. ao fato de o trabalhador não se reconhecer no produto da sua atividade. a) I, III e IV estão corretas. b) I, II e III estão corretas. c) II, III e IV estão corretas. d) II e IV estão corretas. e) Todas as afirmativas estão corretas. 15. (UNESP 2012) Leia os textos. Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 15 de 32 Texto 1 Ora, a propriedade privada atual, a propriedade burguesa, é a última e mais perfeita expressão do modo de produção e de apropriação baseado nos antagonismos de classes, na exploração de uns pelos outros. Neste sentido, os comunistas podem resumir sua teoria nesta fórmula única: a abolição da propriedade privada. (…) A ação comum do proletariado, pelo menos nos países civilizados, é uma das primeiras condições para sua emancipação. Suprimi a exploração do homem pelo homem e tereis suprimido a exploração de uma nação por outra. Quando os antagonismos de classes, no interior das nações, tiverem desaparecido, desaparecerá a hostilidade entre as próprias nações. (Marx e Engels. Manifesto comunista, 1848.) Texto 2 Os comunistas acreditam ter descoberto o caminho para nos livrar de nossos males. Segundo eles, o homem é inteiramente bom e bem disposto para com seu próximo, mas a instituição da propriedade privada corrompeu-lhe a natureza. (…) Se a propriedade privada fosse abolida, possuída em comum toda a riqueza e permitida a todos a partilha de sua fruição, a má vontade e a hostilidade desapareceriam entre os homens. (…) Mas sou capaz de reconhecer que as premissas psicológicas em que o sistema se baseia são uma ilusão insustentável. (…) A agressividade não foi criada pela propriedade. (…) Certamente (…) existirá uma objeção muito óbvia a ser feita: a de que a natureza, por dotar os indivíduos com atributos físicos e capacidades mentais extremamente desiguais, introduziu injustiças contra as quais não há remédio. (Sigmund Freud. Mal-estar na civilização, 1930. Adaptado.) Qual a diferença que os dois textos estabelecem sobre a relação entre a propriedade privada e as tendências de hostilidade e agressividade entre os homens e as nações? Explicite, também, a diferença entre os métodos ou pontos de vista empregados pelos autores dos textos para analisar a realidade. 16. (UEL 2016) Leia o texto a seguir. O homem faz a religião, a religião não faz o homem. E a religião é de fato a autoconsciência e o sentimento de si do homem, que ou não se encontrou ou voltou a se perder. Mas o homem não é um ser abstrato, acocorado fora do mundo. O homem é o mundo do homem, o Estado, a sociedade. Este Estado e esta sociedade produzem a religião, uma consciência invertida do mundo, porque eles são um mundo invertido. (MARX, K. Crítica à Filosofia do Direito de Hegel. São Paulo: Boitempo, 2005. p.145.) Na teoria do pensador Karl Marx, há um conceito que explica essa inversão da realidade (por conseguinte, da consciência) e, em razão dela, da relação do sujeito (seres humanos) com aquilo que, objetiva e subjetivamente, ele produz. Com referência às ideias de Marx, responda aos itens a seguir. a) Qual é esse conceito? b) O que significa inverter a relação sujeito-objeto? Explique como isso se manifesta na religião. Gabarito: 1. B 2. E 3. (27) 4. C 5. C 6. D 7. B 8. A 9. (25) 10. C 11. A 12. E 13. B 14. D SEMANA 8 – Aristóteles e a teleologia ARISTÓTELES (384 – 322 a.C.) Nasce em Estagira, na Macedônia, e aos dezoito anos muda-se para Atenas para estudar na Academia fundada por Platão. Torna-se tutor de Alexandre, o Grande, e funda sua própria instituição de ensino, chamada de Liceu. Assim como Platão, Aristóteles valoriza a razão como atributo fundamental do homem, mas sua filosofia distingue-seem muitos aspectos da de seu professor. O principal ponto contraditório entre ambos diz respeito ao fato de Aristóteles não apresentar uma concepção dualista sobre a realidade. Para Aristóteles, o mundo das coisas sensíveis, ou a natureza, não é um mundo aparente ou Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 16 de 32 ilusório. Por isso propõe uma nova metafísica, na qual rejeita o plano inteligível. Ou seja, as essências estão nas próprias coisas, nos homens, nas ações e é tarefa da filosofia conhecê-las. Aristóteles desenvolve, então, um pensamento sistemático sobre a realidade, abrangendo os mais diversos campos de estudo: Metafísica, Ética, Política, Arte, Física, Astronomia e Lógica. METAFÍSICA ARISTOTÉLICA Como conhecer a verdade, interpretar de modo seguro a realidade? Uma vez que as essências – conhecimentos verdadeiros sobre o Ser – não se encontram em uma dimensão superior tal qual o plano inteligível de Platão, Aristóteles empreende uma tarefa filosófica de tentar conhecer as essências no mundo físico, considerando que este mundo está em constante mudanças. Conciliar as essências (sentido pleno do ser) com o movimento (transformações do mundo sensível) é grande missão filosófica de Aristóteles. Ao fazê- la, o filósofo abre precedentes para uma compreensão mais empírica do mundo e deixará um imenso legado na história do pensamento ocidental. Seu raciocínio para compreender o mundo de modo mais pleno estrutura-se a partir de alguns pilares importantes: 1. Deve-se partir da sensação até alcançar a intelecção, buscando captar as propriedades essenciais dos seres, sem as quais eles não seriam o que são. Graus de conhecimento: sensação – memória – experiência – arte/técnica – teoria Mesmo o conhecimento sensorial sendo básico e superficial, ele é a base para que possamos conhecer o mundo de modo mais complexo. 2. É importante podermos distinguir os atributos essenciais dos atributos acidentais: Essência é o que faz uma substância ser o que é; sua matéria (aquilo de que o ser é constituído) e sua forma (aquilo que o define). A essência revela-se, segundo o filósofo, por meio do conhecimento das causas fundamentais de uma substância; por isso, além da forma e da matéria, conecta-se também à origem e ao propósito daquele ser. Já os acidentes seriam as propriedades da substância que poderiam ser diferentes sem alterar quem ou o que ela é; particularidades de cada ser, tais como quantidade, qualidade, relação, tempo, posição, lugar, estado, paixão e hábito. Uma das formas de se distinguir os atributos essenciais dos acidentais se dá por meio do Silogismo, base do raciocínio que fundamenta a lógica aristotélica: Todo homem é mortal. Sócrates é homem. Logo, Sócrates é mortal. A conclusão é verdadeira se a lógica for mantida e se as premissas iniciais forem confirmadas. Para isso, não se pode partir de atributos acidentais. 3. Distinguir ato de potência: Aristóteles não exclui o movimento da essência do ser. Os seres da natureza são seres em devir. Todos os seres que existem em ato (instante, forma atual) carregam uma virtualidade contida neles mesmos, um conjunto de mudanças previstas em sua própria natureza substancial. Aristóteles chama essa forma necessária, mas ainda não manifesta, de potência, mostrando que as mudanças acontecem dentro de um processo ordenado, que não descaracteriza a essência do ser. Devir é o movimento de atualização da matéria, a realização de sua potência: a matéria recebe a forma e muda de forma. Esse movimento é sempre impulsionado por uma força anterior, que Aristóteles chama de causa. Existem, segundo o filósofo, quatro causas fundamentais que explicam as substâncias em seus aspectos essenciais: Causa formal – o que é? Causa material – do que é feito? Causa eficiente – quem o criou? Causa final – qual é seu propósito? Para concluir suas reflexões metafísicas, Aristóteles busca entender e explicar o porquê das coisas se movimentarem incessantemente, ou seja, o sentido mais profundo do devir. A partir disso conclui que o devir, sendo uma condição essencial de tudo o que existe na natureza, também tem uma origem e uma causa. Para Aristóteles, a hipótese mais provável é a de que exista um ser pleno e imóvel, que impulsiona o movimento de toda a realidade. Este ser, o primeiro motor, seria a causa final (ou o propósito) de tudo o que existe. Assim, os seres vivos estariam em devir justamente porque desejam encontrar sua essência total e perfeita. Mas como as coisas naturais nunca poderão alcançar a perfeição imutável, uma vez que são de matéria perecível, tudo constantemente se renova, num fluxo sem fim. As mudanças do mundo, portanto, remetem à concepção teleológica que o filósofo assume para interpretá-lo. Tudo tende à realização de seu propósito (telos), por isso o devir se encaminha. Para Aristóteles, é como se tudo na natureza buscasse à sua realização mais plena. ÉTICA E POLÍTICA Para Aristóteles há uma relação direta entre ética e política. O ser humano necessariamente experimenta a vida coletivamente, o que leva o filósofo a definir o homem como Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 17 de 32 “um animal político”. Política é a arte de governar a Polis, ou seja, organizar a vida pública, coletiva. A política é a busca pelo bem comum, por isso seria o propósito maior da vida prática dos seres humanos. Assim como é a forma de poder que modera e organiza todos os outros poderes, próprios da esfera privada. A ética, por sua vez, é a conduta consciente do indivíduo, apto a controlar seus impulsos e desejos e agir de forma orientada para o bem. Segundo o filósofo, a tarefa da ética é educar nosso desejo para que este não se torne vício e colabore com o desenvolvimento da virtude. A felicidade (eudaimonia), finalidade única da existência humana, só pode ser alcançada por meio da conduta virtuosa. Todos os homens orientam sua vida para alcançar um estado de menos sofrimento e perturbação. Para Aristóteles, porém, esse estado não é consequência de um acúmulo de sensações de prazer, mas do desenvolvimento de uma vida virtuosa. As virtudes não são inatas, mas aprendidas ao longo da vida, dependem, portanto, do fortalecimento da consciência ética, o que é uma habilidade racional. “O sujeito ético ou moral não se submete aos acasos da sorte, nem à vontade e aos desejos de um outro, nem à tirania das paixões (ou sentimentos e desejos incontroláveis), mas obedece apenas à sua consciência – que conhece o bem e as virtudes – e à sua vontade racional – que conhece os meios adequados para chegar aos fins morais. A busca do bem e da felicidade são a essência da vida ética.” (Marilena Chauí. Convite à Filosofia). As virtudes não estão nos excessos, mas no equilíbrio entre as qualidades. Elas requerem uma conduta racional, orientada por premissas éticas e caracterizadas pela moderação. Além disso, as virtudes humanas podem ser morais (éticas) ou intelectuais (dianoéticas). As primeiras, que o filósofo denomina de areté, possuem um caráter mais prático e determinam aptidão para a convivência e para o reconhecimento do bem comum. As segundas voltam-se para a vida contemplativa e para o exercício da filosofia. A liderança política, para Aristóteles, não requer necessariamente as virtudes dianoéticas, pois prescinde das habilidades morais, vinculadas à convivência na Polis. Com isso, Aristóteles confronta a perspectiva de Platão de que o filósofo deve administrar a cidade por ser dotado de uma alma racional. Aristóteles: formas de governo Em sua Política, Aristóteles defende que o governo, independente da forma, é bom se puder alcançar seu propósito, que é o bem comum, por isso o filósofo apresenta as formas de governo organizadas em relação à sua finalidade. As formas puras são justas e as corrompidas
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