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Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 1 de 32 Filosofia – Caderno 2 SEMANA 6 – Platão e o Dualismo PLATÃO Discípulo de Sócrates e fundador da Academia. Viveu entre os anos de 427 e 347 a.C. Escreveu importantes obras (entre elas Fédon, A República, O Banquete, Mênon, Apologia de Sócrates), estruturadas na forma de diálogos. Platão produz uma teoria para explicar o mundo e as nossas possibilidades de conhecê-lo, que ficou conhecida como Dualismo. Nesta teoria, o filósofo busca sintetizar os pensamentos de Heráclito e Parmênides, mostrando que ambos propunham teses com sentido, mas olhavam para aspectos diferentes da realidade. Para Platão, há um fluxo interminável de coisas que sempre mudam, mas que são apenas o reflexo de um mundo verdadeiramente real em que nada muda. Plano Sensível Plano Inteligível Domínio do corpo (paixões) e da matéria, é perecível e imperfeito, está em constante mudança. Corresponde à natureza (mundo físico); é percebido por meio de nossos sentidos, crenças e opiniões superficiais Domínio da alma e das essências imutáveis e eternas (ideias). É captado mediante o exercício da razão, que transcende os aspectos sensíveis da realidade. Representa a essência do Bem, assim como tudo o que é belo e verdadeiro Para explicar a dinâmica entre esses planos, Platão desenvolve uma teoria sobre a reminiscência, na qual apresenta as bases do Inatismo: apesar de sermos seres da natureza, corpos perecíveis no mundo sensível, nós, seres humanos, nascemos com a razão e ela nos conecta ao conhecimento essencial, às ideias verdadeiras, e a filosofia nada mais faz do que relembrar essas ideias. Por isso, o papel do filósofo é explorar sua racionalidade e buscar a verdade intrínseca, inteligível, conectada com nossa capacidade racional. “Conhecer, diz Platão, é recordar a verdade que já existe em nós; é despertar a razão para que ela se exerça por si mesma. Por isso Sócrates fazia perguntas, pois, por meio delas, as pessoas podiam lembrar-se da verdade e do uso da razão. Se não nascêssemos com a razão e com a verdade, indaga Platão, como saberíamos que temos uma ideia verdadeira ao encontrá-la? Como poderíamos distinguir o verdadeiro do falso?” - Marilena Chauí, Convite à Filosofia. Assim, o pressuposto da teoria do conhecimento de Platão é o de que a verdade se encontra no mundo ideal, ou inteligível, acessível somente pelo exercício da razão humana. Nesse muno, há uma ideia referencial imutável e perfeita de tudo o que percebemos no mundo sensível. Para conhecer a verdade, portanto, devemos nos desprender dos aspectos sensíveis e elevar o nosso raciocínio aos níveis inteligíveis, em busca da essência das coisas. O filósofo despreza, portanto, o conhecimento material e imediato, assim como tudo o que remete ao corpo e às nossas crenças e opiniões. O mundo sensível não passa de uma ilusão da matéria e deve ser superado, tal como figura em sua célebre alegoria, presente na obra A República, que ficou conhecida como Mito da Caverna. Nesta alegoria, Platão busca ressaltar o modo como vivemos, em estado de ignorância, assumindo o ilusório como real. Isso acontece porque o conhecimento sensível alcança apenas a mera aparência das coisas. Segundo o filósofo, existem quatro graus de conhecimento pelos quais podemos passar em busca da verdade. Os dois primeiros remetem ao plano sensível, que deve ser superado, e o terceiro marca a transição ao conhecimento inteligível, própria a quem se dedica ao exercício filosófico ou à matemática. O último grau implica em uma aproximação mais concreta com a verdade, um estado semelhante à iluminação. imagem/ crença - opinião - raciocínio - intuição intelectual O método de conhecimento próprio da Filosofia seria a dialética, entendida como o contraste racional às bases superficiais do conhecimento. Por meio desse contraste chegar-se-ia à síntese, elevando o conhecimento a um nível superior. Sócrates, mestre de Platão, exercitava a dialética em sua vida pública, conversando com as pessoas, fazendo perguntas e incentivando o uso da razão. Platão, em seus textos que remetem aos diálogos socráticos, parte da opinião ou crença do interlocutor. A contradição inerente a tal postura revela-se com a antítese. A síntese, por sua vez, Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 2 de 32 tem o papel de apresentar a distinção entre a aparência e a essência, abrindo caminho para a construção do conhecimento verdadeiro. A República Em sua grande obra sobre a justiça, Platão constrói dialeticamente, ao longo de dez livros (equivalentes a capítulos), uma cidade justa que corresponderia ao indivíduo justo. O autor repudia a democracia, que dá poder aos ignorantes, e propõe um modelo aristocrático no qual os governantes devem ser os filósofos. Dotados de uma racionalidade aprimorada e de aptidão para buscar a verdade, somente esses sábios poderiam conduzir a cidade às melhores decisões. Para justificar esse modelo, Platão parte do pressuposto de que os homens são naturalmente desiguais e que apresentam diferentes propensões, portanto, deveriam exercer funções distintas na cidade. Esta tese está demonstrada em outra alegoria apresentada por Platão na obra A República, o mito de Er, em que o filósofo descreve os três tipos de alma e suas correspondentes funções em uma cidade ideal. tipo de alma característica quem a possui função na cidade Alma concupiscente Busca satisfazer as necessidades corporais Artesãos, comerciantes produção e sustento Alma irascível Senso de justiça; defende o corpo das agressões Guerreiros, soldados Proteção da cidade Alma racional Senso crítico; aptidão para buscar a verdade Filósofos Organizar e aplicar a lei; governar a cidade A arte na visão de Platão Além de apresentar sua teoria sobre o conhecimento (dualismo) e mostrar como ela pode ser aplicada na vida da cidade, é também na obra A República que Platão desenvolve uma de suas teses mais famosas sobre a arte. Tomada como “inimiga da filosofia”, por incentivar experiências sensoriais que conduzem às emoções, a arte, segundo o filósofo, ilude e distancia o sujeito da busca pela verdade, devendo, portanto, “ser expulsa da cidade”. Sendo a imitação das coisas sensíveis (mímesis), a arte estaria dois graus apartada da verdade, por isso é tão desprezada por Platão. “A mímesis é representação da aparência. Tal representação fundamenta-se em uma semelhança com aspectos secundários e superficiais da coisa representada. Desse ponto de vista a mímesis teria, como que inscrita em sua própria natureza, a impossibilidade de mostrar as coisas como realmente são, limitando-se a mostrar apenas como aparecem. Como representam a aparência das coisas, as artes miméticas mantém com o original uma relação tênue, forjada por uma semelhança superficial. (...) É isto que define o imitador: produtor de imagens, mas imagens afastadas a dois graus da realidade. (...) A arte potencializa a experiência sensível, intensifica as emoções a ponto de impedir a descoberta da natureza do sensível como imagem imperfeita da Forma, ou seja, impedir que a sua deficiência seja exposta. A arte oculta a deficiência do sensível.” Os Filósofos e a Arte; Rafael Haddock-Lobo (org.). Platão contra a arte, Fernando Muniz. TEXTO COMPLEMENTAR: A TEORIA DO CONHECIMENTO NA REPÚBLICA, DE PLATÃO. No livro VI da República, a exposição da teoria do conhecimento é, ao mesmo tempo, a exposição da separação e diferença entre o sensível e o inteligível, cada qual com os seus modos de conhecer hierarquicamente distribuídos. Platão apresenta os modos ou graus de conhecimento distribuídos em um diagrama dividido em duas partes desiguais, isto é, uma delas é maior do que a outra. A parte inferior é chamada de “o visível” (corresponde ao mundo sensível)e é menor do que a parte superior, chamada de “invisível” (corresponde ao mundo inteligível). A primeira parte é o mundo físico e ético percebido por intermédio da aparência sensível das coisas; a segunda parte é o mundo das ideias puras, aprendido exclusivamente pelo pensamento. Platão estabelece, então, distribuídos nesses dois planos, quatro modos de conhecimento: imagem; opinião; raciocínio e intuição intelectual. Platão designa o conhecimento por imagens com o termo eikasía; e por opinião, pístis e dóxa, ambos pertencentes ao plano sensível. Designa o conhecimento por raciocínios dedutivos ou demonstrativos, isto é, o pensamento discursivo, com o termo diaánoia; e a intuição intelectual, nóesis. (...) Para explicar o movimento de passagem de um grau de conhecimento para o outro, no livro VII da República, Platão narra o Mito da Caverna, alegoria da teoria do conhecimento platônica. Uma analogia entre conhecer e ver é o tema dessa alegoria, narrada por Sócrates a Glauco para fazê-lo compreender o sentido da paidéia filosófica, isto é, da dialética do verdadeiro conhecimento. Imaginemos, diz Sócrates, uma caverna subterrânea separada do mundo externo por um alto muro. Entre este e o chão da caverna há uma fresta por onde passa alguma luz exterior, deixando a caverna na obscuridade quase completa. Desde seu nascimento, geração após geração, seres humanos ali estão acorrentados. Os prisioneiros julgam que as sombras de coisas e pessoas (tudo o que percebem do interior da caverna, mas que remete ao mundo exterior) são as próprias coisas externas. Nesse Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 3 de 32 ponto Glauco diz a Sócrates que o quadro descrito por ele lhe parece algo estranho, incomum. Sócrates, porém, lhe diz que os prisioneiros são “semelhantes a nós”. E prossegue. Os prisioneiros se comunicam, dando nome às coisas que julgam ver e imaginam que o que escutam – e que não sabem que são sons vindos de fora – são as vozes das próprias sombras. Qual é, pois, a situação dessas pessoas aprisionadas? Tomam as sombras por realidade, tanto as sombras dos homens exteriores como as sombras dos artefatos fabricados por eles. Essa confusão, porém, não tem como causa a natureza dos prisioneiros, mas as condições adversas em que se encontram. Por isso Sócrates indaga: que aconteceria se fossem libertados dessa condição de miséria e, “retornando à sua natureza, pudessem ver as coisas que de fato existem e ser curados de sua ignorância?”. Essa é a pergunta grave. De fato, para os prisioneiros o único mundo real é a caverna. A obscuridade é, portanto, experimentada como realidade verdadeira. E a caverna é para eles todo o mundo real, pois não sabem que o que veem na parede do fundo são as sombras de um outro mundo, exterior à caverna. Um dos prisioneiros escapa e, com muita dificuldade, sai da caverna. No primeiro instante, enche-se de dor por conta dos movimentos que seu corpo realiza pela primeira vez e pelo ofuscamento de seus olhos sob a ação da luz externa. Sente-se dividido entre a incredulidade e o deslumbramento. Seu primeiro impulso é retornar à caverna para livrar-se da dor e do espanto, pois lá tudo é familiar e conhecido. A descrição platônica é dramática: o caminho em direção ao mundo exterior é íngreme e rude; o prisioneiro liberto sofre; a luz do sol o cega; ele se sente arrancado, puxado para fora por uma força incompreensível. Platão narra um parto: o parto da alma que nasce para a verdade e é dada à luz. Sentindo-se sem disposição para regressar à caverna por conta da rudeza do caminho, o prisioneiro permanece no exterior. Aos poucos, habitua-se à luz do e começa a ver o mundo. Encanta-se, tem a felicidade de finalmente ver as próprias coisas, descobrindo que via apenas sombras. Doravante, desejará ficar longe da caverna para sempre e lutará com todas as suas forças para jamais regressas a ela. No entanto, não pode evitar lastimar a sorte dos outros prisioneiros e, por fim, toma a difícil decisão de regressar ao subterrâneo sombrio para contar aos demais o que viu e convencê-los a se libertarem também. De volta à caverna, o prisioneiro fica cego novamente, mas agora pela ausência de luz. Ali dentro é desajeitado, inábil, não sabe mover-se entre as sombras e é desajeitado para falar com os outros, não sendo acreditado por eles. Torna-se objeto de zombaria e riso, e correrá o risco de ser morto pelos que jamais se disporão a abandonar a caverna. Impossível para o leitor não identificar a figura de Sócrates na do prisioneiro que se liberta, retorna e é morto pelos homens das sombras. A caverna, explica Sócrates a Glauco, é o mundo sensível onde vivemos. O fogo que projeta as sombras na parede é um reflexo da luz verdadeira (do Bem e das ideias) sobre o mundo sensível. Somos os prisioneiros. As sombras são as coisas sensíveis, que tomamos pelas verdadeiras. Os grilhões são os nossos preconceitos, nossa confiança em nossos sentidos, nossas paixões e opiniões. O instrumento que quebra grilhões e permite a escalada do muro é a dialética. O prisioneiro curioso que escapa é o filósofo. A luz que ele vê é a luz plena do ser, o Bem, que ilumina o mundo inteligível como o sol ilumina o mundo sensível. O retorno à caverna para convidar os outros a sair dela é o diálogo filosófico. Conhecer é, pois, um ato de libertação e de iluminação. A educação filosófica é uma conversão da alma, voltando-se do sensível para o inteligível. Essa educação não nos ensina as coisas nem nos dá a visão, mas orienta o olhar, pois a alma, por sua natureza, possui em si mesma a capacidade para ver. O Mito da Caverna apresenta a dialética como movimento ascendente de libertação do olhar intelectual que nos livra da cegueira para vermos a luz das ideias. Mas descreve também o retorno do prisioneiro para tentar libertar seus companheiros. Há, assim, dois movimentos: o de ascensão que vai da imagem à crença ou opinião, destas para a matemática e destas para a intuição intelectual e a ciência; e o do descenso, que consiste em praticar com os outros o trabalho para subir até as ideias. Os olhos foram feitos para ver, a alma foi feita para conhecer. O relato da subida e da descida expõe a Paidéia como dupla violência necessária para a liberdade e para a realização da verdadeira natureza da alma: a ascensão é difícil, dolorosa, quase insuportável; o retorno à caverna, uma imposição terrível à alma libertada, agora forçada a abandonar a luz da felicidade. A dialética, como toda a técnica, é uma atividade exercida contra a passividade, forçando um ser a realizar sua própria natureza. No Mito, a dialética leva a alma a ver sua própria essência para descobrir seu parentesco com elas, pois a alma é parte da ideia como os olhos são parte da luz. Fonte: Marilena Chauí. Introdução à História da Filosofia (vol. 1) – adaptado. EXERCÍCIOS 1. (ENEM 2014) No centro da imagem, o filósofo Platão é retratado apontando para o alto. Esse gesto significa que o http://2.bp.blogspot.com/-RJF1ZdvsykU/VF-8CgMUJvI/AAAAAAAAA0c/OCgKRLBCsto/s1600/QO.jpg Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 4 de 32 conhecimento se encontra em uma instância na qual o homem descobre a: a) suspensão do juízo como reveladora da verdade. b) realidade inteligível por meio do método dialético. c) Salvação da condição mortal pelo poder de Deus. d) essência das coisas sensíveis no intelecto divino. e) ordem intrínseca ao mundo por meio da sensibilidade. 2. (ENEM 2012) Para Platão, o que havia de verdadeiro em Parmênides era que o objeto de conhecimento é um objeto de razão e não de sensação, e era preciso estabelecer uma relação entre objeto racional e objeto sensível ou material que privilegiasse o primeiro em detrimento do segundo. Lenta, mas irresistivelmente, a Doutrina das Ideias formava- se em sua mente. ZINGANO, M. Platão e Aristóteles: o fascínio dafilosofia. São Paulo: Odysseus, 2012 (adaptado). O texto faz referência à relação entre razão e sensação, um aspecto essencial da Doutrina das Ideias de Platão (427 a.C.-346 a.C.). De acordo com o texto, como Platão se situa diante dessa relação? a) Estabelecendo um abismo intransponível entre as duas. b) Privilegiando os sentidos e subordinando o conhecimento a eles. c) Atendo-se à posição de Parmênides de que razão e sensação são inseparáveis. d) Afirmando que a razão é capaz de gerar conhecimento, mas a sensação não. e) Rejeitando a posição de Parmênides de que a sensação é superior à razão. 3. (Uff 2011) Segundo Platão, as opiniões dos seres humanos sobre a realidade são quase sempre equivocadas, ilusórias e, sobretudo, passageiras, já que eles mudam de opinião de acordo com as circunstâncias. Como agem baseados em opiniões, sua conduta resulta quase sempre em injustiça, desordem e insatisfação, ou seja, na imperfeição da sociedade. Em seu livro A República, ele, então, idealizou uma sociedade capaz de alcançar a perfeição, desde que seu governo coubesse exclusivamente a) aos guerreiros, porque somente eles teriam força para obrigar todos a agirem corretamente. b) aos tiranos, porque somente eles unificariam a sociedade sob a mesma vontade. c) aos mais ricos, porque somente eles saberiam aplicar bem os recursos da sociedade. d) aos demagogos, porque somente eles convenceriam a maioria a agir de modo organizado. e) aos filósofos, porque somente eles disporiam de conhecimento verdadeiro e imutável. 4. (UEL 2017) Leia a tirinha e o texto II a seguir e responda: (Disponível em: <http://xicosa.blogfolha.uol.com.br/ files/2014/02/AngeliIdeologia.gif>. Acesso em: 20 abr. 2016.) Texto II Exercita-te primeiro, caro amigo, e aprende o que é preciso conhecer para te iniciares na política; antes, não. Então, primeiro precisarás adquirir virtude, tu ou quem quer que se disponha a governar ou a administrar não só a sua pessoa e seus interesses particulares, como a cidade e as coisas a ela pertinentes. Assim, o que precisas alcançar não é o poder absoluto para fazeres o que bem entenderes contigo ou com a cidade, porém justiça e sabedoria. (PLATÃO, O primeiro Alcebíades. Trad. Carlos Alberto Nunes. Belém: EDUFPA, 2004. p.281-285.) Com base na tirinha, no texto II e nos conhecimentos sobre a ética e a política em Platão, assinale a alternativa correta. a) A virtude individual terá fraca influência sobre o governo da cidade, já que a administração da cidade independe da qualidade de seus cidadãos. b) Justiça, sabedoria e virtude resultam da opinião do legislador sobre o que seria melhor para a cidade e para o indivíduo. c) O indivíduo deve possuir a virtude antes de dirigir a cidade, pois assim saberá bem governar e ser justo, já que se autogoverna. d) Para se iniciar em política, primeiro é necessário o poder absoluto para fazer o bem para a cidade e a si próprio. e) Todo conflito desaparece em uma cidade se a virtude fizer parte da administração, mesmo que o dirigente não a possua. 5. (IFSP 2011) “– Mas escuta, a ver se eu digo bem. O princípio que de entrada estabelecemos que devia Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 5 de 32 observar-se em todas as circunstâncias, quando fundamos a cidade, esse princípio é, segundo me parece, ou ele ou uma das suas formas, a justiça. Ora nós estabelecemos, segundo suponho, e repetimo-lo muitas vezes, se bem te lembras, que cada um deve ocupar-se de uma função na cidade, aquela para qual a sua natureza é mais adequada.” (PLATÃO. A República. Trad. de Maria Helena da Rocha Pereira. 7 ed. Lisboa: Calouste-Gulbenkian, 2001, p. 185.) Com base no texto e nos conhecimentos sobre a concepção platônica de justiça, na cidade ideal, assinale a alternativa correta. a) Para Platão, a cidade ideal é a cidade justa, ou seja, a que respeita o princípio de igualdade natural entre todos os seres humanos, concedendo a todos os indivíduos os mesmos direitos perante a lei. b) Platão defende que a democracia é fundamento essencial para a justiça, uma vez que permite a todos os cidadãos o exercício direto do poder. c) Na cidade ideal platônica, a justiça é o resultado natural das ações de cada indivíduo na perseguição de seus interesses pessoais, desde que esses interesses também contribuam para o bem comum. d) Para Platão, a formação de uma cidade justa só é possível se cada cidadão executar, da melhor maneira possível, a sua função própria, ou seja, se cada um fizer bem aquilo que lhe compete, segundo suas aptidões. e) Platão acredita que a cidade só é justa se cada membro do organismo social tiver condições de perseguir seus ideais, exercendo funções que promovam sua ascensão econômica e social. 6. (UFU 2011) No pórtico da Academia de Platão, havia a seguinte frase: “não entre quem não souber geometria”. Essa frase reflete sua concepção de conhecimento: quanto menos dependemos da realidade empírica, mais puro e verdadeiro é o conhecimento tal como vemos descrito em sua Alegoria da Caverna. “A ideia de círculo, por exemplo, preexiste a toda a realização imperfeita do círculo na areia ou na tábula recoberta de cera. Se traço um círculo na areia, a ideia que guia a minha mão é a do círculo perfeito. Isso não impede que essa ideia também esteja presente no círculo imperfeito que eu tracei. É assim que aparece a ideia ou a forma.” (JEANNIÈRE, Abel. Platão. Tradução de Lucy Magalhães. Rio de Janeiro: Zahar, 1995. 170 p.). Com base nas informações acima, assinale a alternativa que interpreta corretamente o pensamento de Platão. a) A Alegoria da Caverna demonstra, claramente, que o verdadeiro conhecimento não deriva do “mundo inteligível”, mas do “mundo sensível”. b) Todo conhecimento verdadeiro começa pela percepção, pois somente pelos sentidos podemos conhecer as coisas tais quais são. c) Quando traçamos um círculo imperfeito, isto demonstra que as ideias do “mundo inteligível” não são perfeitas, tal qual o “mundo sensível”. d) As ideias são as verdadeiras causas e princípio de identificação dos seres; o “mundo inteligível” é onde se obtêm os conhecimentos verdadeiros. 7. (UEL 2009) Leia o texto a seguir e responda à questão. - Considera pois – continuei – o que aconteceria se eles fossem soltos das cadeias e curados da sua ignorância, a ver se, regressados à sua natureza, as coisas se passavam deste modo. Logo que alguém soltasse um deles, e o forçasse a endireitar-se de repente, a voltar o pescoço, a andar e a olhar para a luz, a fazer tudo isso, sentiria dor, e o deslumbramento impedi-lo-ia de fixar os objetos cujas sombras via outrora. Que julgas tu que ele diria, se alguém lhe afirmasse que até então ele só vira coisas vãs, ao passo que agora estava mais perto da realidade e via de verdade, voltado para objetos mais reais? E se ainda, mostrando-lhe cada um desses objetos que passavam, o forçassem com perguntas a dizer o que era? Não te parece que ele se veria em dificuldade e suporia que os objetos vistos outrora eram mais reais do que os que agora lhe mostravam? (PLATÃO. A República 7. ed. Lisboa: Caiouste &Ibenkian, I993. p. 3I8-3I9.) O texto é parte do livro VII da República, obra na qual Platão desenvolve o célebre Mito da Caverna. Sobre o Mito da Caverna, é correto afirmar. I. A caverna iluminada pelo Sol, cuja luz se projeta dentro dela, corresponde ao mundo inteligível, o do conhecimento do verdadeiro ser. II. Explicita como Platão concebe e estrutura o conhecimento. III. Manifesta a forma como Platão pensa a política, na medida em que, ao voltar à caverna, aquele que contemplou o bem quer libertar da contemplação das sombras os antigos companheiros. IV. Apresenta uma concepção de conhecimento estruturada unicamente em fatores circunstanciais e relativistas. Assinalea alternativa correta. a) Somente as afirmativas I e IV são corretas. b) Somente as afirmativas II e III são corretas. c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. e) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas. 8. (UEL 2007) Considere a citação abaixo: “Sócrates: Tomemos como princípio que todos os poetas, a começar por Homero, são simples imitadores das aparências da virtude e dos outros assuntos de que tratam, mas que não atingem a verdade. São semelhantes nisso ao pintor de que falávamos há instantes, que desenhará uma aparência de sapateiro, sem nada entender de sapataria, Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 6 de 32 para pessoas que, não percebendo mais do que ele, julgam as coisas segundo a aparência?” Glauco – “Sim”. Fonte: PLATÃO. A República. Tradução de Enrico Corvisieri. São Paulo: Nova Cultural, 1997. p.328. Com base no texto acima e nos conhecimentos sobre a mímesis em Platão, assinale a alternativa correta. a) Platão critica a pintura e a poesia porque ambas são apenas imitações diretas da realidade. b) Para Platão, os poetas e pintores têm um conhecimento válido dos objetos que representam. c) Tanto os poetas quanto os pintores estão, segundo a teoria de Platão, afastados dois graus da verdade. d) Platão critica os poetas e pintores porque estes, à medida que conhecem apenas as aparências, não têm nenhum conhecimento válido do que imitam ou representam. e) A poesia e a pintura são criticadas por Platão porque são cópias imperfeitas do mundo das ideias. 9. (UEL 2007) Em A República, Platão analisa cinco formas de governo a fim de determinar qual delas é a melhor e mais justa, isto é, qual delas corresponde ao modelo de constituição idealizado por ele. Segundo Platão, o Estado é a imagem amplificada do homem justo. Considere o seguinte diálogo entre Sócrates e Adimanto, apresentado em A República, Livro VIII. Sócrates – Sendo assim, diz: não é o desejo insaciável daquilo que a democracia considera o seu bem supremo que a perde? Adimanto – E que bem é esse? Sócrates – A liberdade. [...] Adimanto – Sim, é isso o que se ouve muitas vezes. Sócrates – O que eu ia dizer há pouco é: não é o desejo insaciável desse bem, e a indiferença por todo o resto, que muda este governo e o obriga a recorrer à tirania? Adimanto – Como? Sócrates – Quando um Estado democrático, sedento de liberdade, passa a ser dominado por maus chefes, que fazem com que ele se embriague com esse vinho puro para além de toda a decência, então, se os seus magistrados não se mostram inteiramente dóceis e não lhe concedem um alto grau de liberdade, ele castiga-os, acusando-os de serem criminosos e oligarcas. [...] E ridiculariza os que obedecem aos magistrados e trata-os de homens servis e sem valor. Por outro lado, louva e honra, em particular e em público, os governantes que parecem ser governados e os governados que parecem ser governantes. Não é inevitável que, num Estado assim, o espírito de liberdade se estenda a tudo? Fonte: PLATÃO. A República. Tradução de Enrico Corvisieri. São Paulo: Nova Cultural, 1997, p. 280-281. Com base no diálogo anterior e nos conhecimentos sobre as formas de governo analisadas por Platão, considere as seguintes afirmativas: I. A democracia é a negação da justiça, pois ela rejeita o princípio da escolha de governantes pelo critério da capacidade específica. II. A democracia é uma forma de governo que, ao dar livre curso aos desejos supérfluos e perniciosos dos indivíduos, se degenera em tirania. III. A democracia é a mais bela forma de governo, pois privilegia a liberdade que é o mais belo de todos os bens. IV. Na democracia, cada indivíduo assume a sua função própria dentro da polis. Estão corretas apenas as afirmativas: a) I e II. b) II e III. c) III e IV. d) I, II e IV. e) I, III e IV. 10. (UEL 2006) “Quando é, pois, que a alma atinge a verdade? Temos de um lado que, quando ela deseja investigar com a ajuda do corpo qualquer questão que seja, o corpo, é claro, a engana radicalmente. - Dizes uma verdade. - Não é, por conseguinte, no ato de raciocinar, e não de outro modo, que a alma apreende, em parte, a realidade de um ser? - Sim. [...] - E é este então o pensamento que nos guia: durante todo o tempo em que tivermos o corpo, e nossa alma estiver misturada com essa coisa má, jamais possuiremos completamente o objeto de nossos desejos! Ora, esse objeto é, como dizíamos, a verdade.” (PLATÃO. Fédon. Trad. Jorge Paleikat e João Cruz Costa. São Paulo: Nova Cultural, 1987. p. 66-67.) Com base no texto e nos conhecimentos sobre a concepção de verdade em Platão, é correto afirmar: a) O conhecimento inteligível, compreendido como verdade, está contido nas ideias que a alma possui. b) A verdade reside na contemplação das sombras, refletidas pela luz exterior e projetadas no mundo sensível. c) A verdade consiste na fidelidade, e como Deus é o único verdadeiramente fiel, então a verdade reside em Deus. d) A principal tarefa da filosofia está em aproximar o máximo possível a alma do corpo para, dessa forma, obter a verdade. e) A verdade encontra-se na correspondência entre um enunciado e os fatos que ele aponta no mundo sensível. 11. (UEL 2011) Leia o texto a seguir. Para esclarecer o que seja a imitação, na relação entre poesia e o Ser, no Livro X de A República, Platão parte da hipótese das ideias, as quais designam a unidade na pluralidade, operada pelo pensamento. Ele toma como exemplo o carpinteiro que, por sua arte, cria uma mesa, tendo presente a ideia de mesa, como modelo. Entretanto, o que ele produz é a mesa e não a sua ideia. O poeta Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 7 de 32 pertence à mesma categoria: cria um mundo de mera aparência. Com base no texto e nos conhecimentos sobre a teoria das ideias de Platão, é correto afirmar: a) Deus é o criador último da ideia, e o artífice, enquanto co-participante da criação divina, alcança a verdadeira causa das coisas a partir do reflexo da ideia ou do simulacro que produz. b) A participação das coisas às ideias permite admitir as realidades sensíveis como as causas verdadeiras acessíveis à razão. c) Os poetas são imitadores de simulacros e por intermédio da imitação não alcançam o conhecimento das ideias como verdadeiras causas de todas as coisas. d) As coisas belas se explicam por seus elementos físicos, como a cor e a figura, e na materialidade deles encontram sua verdade: a beleza em si e por si. e) A alma humana possui a mesma natureza das coisas sensíveis, razão pela qual se torna capaz de conhecê-las como tais na percepção de sua aparência. 12. (UFPR 2011) Platão inicia o capítulo 5 do Livro X de A República afirmando que a imitação está “a dois graus de afastamento da verdade”. Que razões ele alega para sustentar essa afirmação? 13. (UNESP 2013) Do lado oposto da caverna, Platão situa uma fogueira fonte da luz de onde se projetam as sombras – e alguns homens que carregam objetos por cima de um muro, como num teatro de fantoches, e são desses objetos as sombras que se projetam no fundo da caverna e as vozes desses homens que os prisioneiros atribuem às sombras. Temos um efeito como num cinema em que olhamos para a tela e não prestamos atenção ao projetor nem às caixas de som, mas percebemos o som como proveniente das figuras na tela. (Danilo Marcondes. Iniciação à história da filosofia, 2001.) Explique o significado filosófico da Alegoria da Caverna de Platão, comentando sua importância para a distinção entre aparência e essência. Gabarito: 1. B 2. D 3. E 4. C 5. D 6. D 7. B 8. C 9. A 10. A 11. C SEMANA 7 – Marx, Engels e o Materialismo Histórico Dialético Karl Marx (1818 – 1883) Pensador alemão, consideradoum dos autores clássicos da Sociologia. Não se definia propriamente como sociólogo e nem se alinha aos modelos teóricos e metodológicos do Positivismo. Marx desenvolve uma profunda crítica à sociedade moderna (século XIX), o que permite a construção de uma reflexão sobre as relações de produção e sua consequência na organização das sociedades. Dessa crítica deriva o lugar de destaque que ocupa entre os pensadores que fundamentam a Sociologia enquanto disciplina. Boa parte de sua obra se deu em parceria com Friedrich Engels, filósofo alemão. Principais obras: - Manuscritos Econômico-filosóficos (1844); - A Ideologia Alemã (1845-46), em parceria com Engels; - Manifesto Comunista (1848), em parceria com Engels; - O Capital (1867-1883); Possui uma concepção dialética da realidade, em que a luta de classes é apresentada como motor da história. Por meio das tensões entre clássicas antagônicas, a história se transforma, alternando-se os distintos modos de produção. Apesar de perceber essa lógica em outros momentos da história, Marx dedica-se particularmente ao estudo do capitalismo, atendo-se às possibilidades desse sistema ser superado. Para Marx e Engels, a burguesia é a classe revolucionária que transforma as bases de produção feudal e implementa o capitalismo. Contudo, no capitalismo agravam-se as discrepâncias sociais, agora protegidas pela ideia amplamente difundida de que se trata de uma sociedade mais livre e igualitária. A análise das características e contradições do capitalismo está no cerne das críticas marxistas. Capitalismo: - separação entre trabalhadores e meios de produção (acumulação primitiva); Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 8 de 32 - aumento da riqueza e diminuição da distribuição da riqueza - sustenta-se na desigualdade entre as classes sociais. Os meios de produção encontram-se nas mãos de uma única classe social, a burguesia. - o trabalho humano transforma-se em uma mercadoria. O trabalho e alienado. Há uma “fetichização” da mercadoria, ao mesmo tempo em que acontece uma desumanização das relações pessoais. Principais conceitos presentes na obra de Marx: O TRABALHO é entendido como plataforma da história: atividade produtiva e criativa que simultaneamente proporciona os meios de subsistência e atribui sentido para a existência do indivíduo. O modo como as pessoas trabalham, ou seja, produzem economicamente a sua subsistência (MODO DE PRODUÇÃO MATERIAL) molda a sociedade e as relações sociais. ↓ - conjunto de técnicas, saberes e objetos empregados pelo homem na produção; - divisão do trabalho e dos meios de produção; - Exemplos: asiático, escravista, servil e capitalista. MATERIALISMO HISTÓRICO DIALÉTICO O modo de produção material condiciona a vida dos indivíduos, ou seja, a produção é a base de toda ordem social. Nosso pensamento é fruto das condições materiais de nosso período histórico. A consciência, portanto, não é autônoma diante da existência, mas formada a partir da história. → “[...] na produção social da sua existência, os homens estabelecem relações determinadas, necessárias, independentes da sua vontade, relações de produção... O conjunto destas relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, a base concreta sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e política e à qual correspondem determinadas formas de consciência social”. (MARX, K. Contribuição à crítica da economia política. Tradução de Florestan Fernandes. São Paulo, Ed. Mandacaru, 1989, p. 28.) IDEOLOGIA: falsa consciência histórica que emana das relações de produção, impondo a visão da classe dominante. Opacidade da história. Para Karl Marx, a história não se revela de modo transparente. Há uma falsa consciência que emana das próprias relações de produção. Tal consciência, que tem como papel justamente disseminar certas ideias que garantam a manutenção de valores fundamentais à classe dominante, é chamada ideologia. O papel da ideologia é mascarar o que ocorre de fato na sociedade, representando uma forma de dominação social e política. O modo de produção material condiciona a vida dos indivíduos, ou seja, a produção é a base de toda ordem social. Nosso pensamento é fruto das condições materiais de nosso período histórico. A consciência, portanto, não é autônoma diante da existência, mas formada a partir da história. Um exemplo de ideologia burguesa, na visão de Marx, seria a ideia de que as diferenças entre os indivíduos são resultados da concorrência natural: se trabalharmos, todos obteremos sucesso! Assim como Platão, que apresenta uma hipótese para explicar a nossa condição de alienação em relação à verdade, Marx a também não crê que a verdade seja assimilada pelo homem. Contudo, na visão do filósofo moderno, o processo de criação e manutenção da ideologia está vinculado ao processo de produção e ao papel das classes dominantes. “Se, na concepção do decurso da história, separarmos as ideais da classe dominante da própria classe dominante e se as concebermos como autônomas, sem nos preocuparmos com as condições de produção e com os produtores dessas ideias, então podemos afirmar que, por exemplo, na época em que a aristocracia dominou, os conceitos de honra, fidelidade etc. dominaram, ao passo que na época da dominação da burguesia dominaram os conceitos de liberdade, igualdade etc. É o que, em média, imagina a própria classe dominante. Tal concepção da história, comum a todos historiadores, especificamente desde o século XIII, defrontar-se-á necessariamente com o fenômeno de que as ideias cada vez mais abstratas dominam, isto é, ideias que tomam cada vez mais a forma de universalidade. Com efeito, a cada nova classe que toma o lugar da que dominava antes dela é obrigada, para alcançar os fins a que se propões, a apresentar seus interesses como sendo o interesse comum de todos os membros da sociedade, isto é, para expressar isso mesmo em termos ideais: é obrigada a emprestar às suas ideias a forma de universalidade, a apresentá-las como sendo as únicas racionais, as únicas universalmente válidas”. (MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. São Paulo: Hucitec, 1984.) ALIENAÇÃO: o objeto do trabalho não pertence mais ao trabalhador; o processo de trabalho perde o sentido (crítica à especialização) e a vida social, aos poucos, torna-se também desprovida de sentido, uma vez que o trabalho atribui sentido à vida do indivíduo. Esses seriam os três níveis da alienação descritos por Marx na obra O Capital. INFRAESTRUTURA: relações de produção; modos de produção SUPERESTRUTURA: instituições políticas e culturais; valores e pensamentos Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 9 de 32 MAIS-VALIA: diferença entre o valor produzido pelo trabalho e o salário pago ao trabalhador. Estratégias para a obtenção de mais-valia: trabalho pago por hora ou turno; jornada de trabalho estendida; inserção de novas tecnologias; aceleração do ritmo de produção. TEXTOS COMPLEMENTARES A história de toda sociedade existente até hoje tem sido a história das lutas de classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor e servo, mestre de corporação e companheiro, numa palavra, o opressor e o oprimido permaneceram em constante oposição um ao outro, levada a efeito numa guerra ininterrupta, ora disfarçada, ora aberta, que terminou, cada vez, ou pela reconstituição revolucionária de toda a sociedade ou pela destruição das classes em conflito. Desde épocas mais remotas da história, encontramos, em praticamente toda parte, uma complexa divisão da sociedade em classes diferentes, uma gradação múltipla das condições sociais. Na Roma Antiga, temos os patrícios, os guerreiros, os plebeus, os escravos; Na Idade Média, os senhores, os vassalos, os mestres, os companheiros,os aprendizes, os servos; e, em quase todas as classes, outras camadas subordinadas. A sociedade moderna burguesa, surgida das ruínas da sociedade feudal, não aboliu os antagonismos de classes. Apenas estabeleceu novas classes, novas condições de opressão, novas formas de luta em lugar das velhas. No entanto, a nossa época, a época da burguesia, possui uma característica: simplificou os antagonismos de classes. A sociedade global divide-se cada vez mais em dois campos hostis, em duas grandes classes que se defrontam – a burguesia e o proletariado. (...) Na mesma proporção em que a burguesia, ou seja, o capital, se desenvolve, desenvolve-se também o proletariado, a classe dos trabalhadores modernos, que só podem viver se encontrarem trabalho, e só encontram trabalho na medida em que este aumenta o capital. Esses trabalhadores que são obrigados a vender-se diariamente, são uma mercadoria, são um artigo de comércio, sujeitos, portanto, às vicissitudes da concorrência, às flutuações do mercado. (...) Qual a posição dos comunistas em relação aos proletários em geral? Os comunistas não formam um partido à parte, oposto aos outros partidos operários. Não tem interesses diferentes daqueles do proletariado em geral. Não formulam quaisquer princípios particulares a fim de modelar o movimento proletário. O fim imediato dos comunistas é o mesmo que o de todos os outros partidos proletários: constituição dos proletários em classe, derrubada da supremacia burguesa. Marx e Engels – O Manifesto Comunista Que faz a ideologia? Oferece a uma sociedade dividida em classes sociais antagônicas, e que vive na forma de luta de classes, uma imagem que permite a unificação e a identificação social – uma língua, uma religião, uma raça, uma nação, uma pátria, um estado, uma humanidade, mesmos costumes. Assim, a função primordial da ideologia é ocultar a origem da sociedade(relações de forças produtivas sob a divisão do trabalho social), dissimular a presença da luta de classes, negar as desigualdades sociais (como se fossem consequência de talentos diferentes, da preguiça ou da disciplina laboriosa) e oferecer a imagem da comunidade (o Estado) originada como contrato social entre homens livres e iguais. A ideologia é a lógica da dominação social e política. Marilena Chauí – Convite à Filosofia Texto 3: CHINESES, ROBÔS E A ‘UBERIZAÇÃO’ DAS RELAÇÕES DE TRABALHO Alexandre Andrada - 9 de Abril de 2019, 0h02 UMA DAS GRANDES maravilhas do capitalismo é a inovação. Inovar significa, de maneira simples, criar Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 10 de 32 algo novo ou fazer algo velho de uma nova maneira. E nisso o capitalismo é craque. Talvez dois mais importantes economistas políticos que analisaram o fenômeno da inovação foram o alemão Karl Marx (escudado por vezes por seu amigo Friedrich Engels) e o austríaco Joseph Schumpeter. No Manifesto de 1848, numa das passagens mais famosas do texto, Marx e Engels afirmam: “A burguesia não pode existir sem revolucionar permanentemente os instrumentos de produção, portanto as relações de produção, portanto as relações sociais todas”. Enquanto as sociedades baseadas em outros modos de produção se caracterizavam pela estabilidade das relações econômicas e sociais, o capitalismo é marcado pela revolução permanente. E é essa instabilidade que permitiu que a burguesia realizasse em poucos séculos de domínio maravilhas maiores que “as pirâmides egípcias, dos aquedutos romanos e das catedrais góticas”. N’O Capital de 1867, Marx volta a mostrar seu alumbramento com as inovações, no capítulo 13, intitulado “Maquinaria e Grande Indústria”. Mas o tema perpassa todo seu sistema. No modelo de Marx, o capitalista busca aumentar a massa de mais-valor que extrai de seus trabalhadores. Se estamos em um mundo de produtos idênticos – camisas brancas, por exemplo –, o capitalista pode aumentar seus lucros fazendo seus operários trabalharem por mais horas que a concorrência (mais-valor absoluto), ou fazer com que seus trabalhadores produzam mais mercadorias em menos tempo (mais-valor relativo). Para Marx, a dificuldade estava no mais-valor relativo. Para produzir mais em menos tempo, são necessárias novas máquinas e equipamentos, novas formas de comunicação, de transporte, de organização da produção, novos sistemas de logística etc. O capitalista que conseguir criar ou fazer uso dessas inovações terá uma maior taxa e uma maior massa de lucro, conquistando cada vez mais participação no mercado. Caminhará para se tornar um dos gigantes do setor. Quem não for capaz – ou não tiver recursos para inovar – será engolido. Aliás, mesmo a empresa líder do mercado – como contam as histórias da Kodak e da Nokia – mostra que a bancarrota está sempre na esquina. Em 1911, na sua obra Teoria do Desenvolvimento Econômico, Schumpeter fez bom uso das teorias de Marx, a partir de uma ótica liberal. Para Schumpeter, a mudança não nasce a partir de modificações nos gostos dos consumidores. Na verdade, são os empresários inovadores que criam novos produtos e “educam” (esse é o termo usado pelo autor) os consumidores sobre sua necessidade. Toda criação está carregada de destruição. Um exemplo pessoal. Nos meus tempos de faculdade, a viagem de ônibus era embalada por música ouvida através de um CD player e, principalmente, um walkman. Eu andava com três ou quatro fitas na mochila, e o mundo parecia bom. Jamais imaginei que um dia, poucos anos mais tarde, haveria uma coisa chamada Ipod – ou o MP3 da feira, seu primo pobre ao qual tive acesso –, no qual cabiam as músicas de todos os CD’s que eu tinha na minha casa (sobrando espaço, aliás). Nós jamais demandamos um telefone celular que fosse também um computador, uma televisão e um Ipod (aliás, o smartphone matou o Ipod de modo lento e cruel). Mas como fica evidente nesses dois exemplos, toda criação está carregada de destruição. O Ipod destruiu o discman, o smartphone destruiu o Ipod. Isso é parte do fenômeno que Schumpeter chamou de “destruição criativa”. O novo produto ou o novo processo destrói o que era velho. Mês passado foi divulgado que, com o fechamento de uma loja na Austrália, há hoje apenas uma única Blockbuster no mundo. Há uma década, eram 9 mil lojas, com pés nos quatro cantos do mundo, no Brasil inclusive. Uma rede literalmente global foi morta por uma inovação: Netflix. Outro exemplo: há poucos anos atrás ter frota de táxis era um ótimo investimento. Para obter uma licença de taxista, o sujeito precisava desembolsar uma pequena fortuna. Hoje qualquer um pode se cadastrar no Uber e operar como táxi. Mas nem tudo são rosas. Muitos são os trabalhadores ao longo da história que sofreram (e sofrerão) com o desemprego derivado de alguma inovação poupadora de mão de obra. No início do século 19, os chamados ludistas destruíram as máquinas que lhes roubavam os empregos. O drama dos trabalhadores instigou os economistas: seria a inovação boa também para os trabalhadores? As condições médias de trabalho no mundo todo têm piorado. Para os marxistas, a resposta seria negativa. Essas inovações, num sistema capitalista, forçariam os salários para baixo, reduzindo o poder de barganha dos trabalhadores, jogando alguns na miséria, outros no subemprego e muitos em empregos precários. Os liberais, via de regra, respondem essa pergunta afirmativamente. Ainda que a inovação destrua alguns empregos, ela cria fundos que permitem investimentos e aumento da produção que farão com que a região inovadora seja capaz de criar mais vagas de trabalho, que pagam salários maiores. Depois de um começo vacilante, as evidências pareciam corroborar a visão liberal. Os países mais inovadores são os que oferecem mais e melhores empregos. Enquanto países atrasados tecnologicamente têm menos vagas e piores salários. Mas há algumas décadas, desde o início da hiperglobalização apóso fim da Guerra Fria, um movimento contraditório vem acontecendo. Com a entrada de mais de Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 11 de 32 1 bilhão de chineses no mercado de trabalho capitalista – sem contar os de outros lugares –, multidões de trabalhadores de países subdesenvolvidos têm escapado da miséria. Porém, as condições médias de trabalho no mundo todo têm piorado. Nos países centrais, por exemplo, os ganhos de produtividade não parecem se materializar em aumentos de salários (ainda que esse dado seja controverso). Além disso, tem crescido, desde os anos 1970, o número de horas trabalhadas pelos americanos, bem como a proporção daqueles que trabalham mais de 40 horas semanais. Quarenta horas semanais foram uma conquista de trabalhadores ingleses (uma pequena porção, é verdade) ainda em 1889. Um cenário melancólico, se pensarmos no otimismo de um J. M. Keynes que, em 1930, acreditava que os netos de seus contemporâneos poderiam viver em abundância trabalhando três horas por dia. Hoje o fantasma dos robôs e da chamada “uberização” das relações trabalhistas é um espectro que ronda todo o mundo. Um número crescente de profissões pode facilmente ser substituída por algoritmos, robôs e outras tecnologias digitais (como a minha, de professor universitário). O Uber, que tem sido a tábua de salvação de milhões de pessoas em países como o Brasil, tem um modelo de negócio em que seu funcionário sequer é seu funcionário. Há a liberdade aparente de trabalhar quando e quanto quiser, que se materializa em jornadas intermináveis – há casos de motoristas que vivem literalmente em seus carros nos EUA – e em uma virtual ausência absoluta de direitos trabalhistas em caso de acidentes, doenças, incapacidades etc. Estamos caminhando para o mundo do “freela”, das relações pautadas pela uberização. A reforma trabalhista de Temer e a carteira de trabalho verde-amarela de Bolsonaro são passos nessa direção. Enquanto gerações passadas podiam sonhar em construir uma carreira de 30 anos numa mesma empresa, é provável que as novas tenham que se acostumar com a instabilidade do desenho “uber” de trabalho. Como já se disse uma vez: tudo o que era sólido se desmancha no ar. FONTE: theintercept.com/2019/04/08/uberizacao-das-relacoes-de- trabalho/ EXERCÍCIOS 1. (ENEM 2013) “Na produção social que os homens realizam, eles entram em determinadas relações indispensáveis e independentes de sua vontade; tais relações de produção correspondem a um estágio definido de desenvolvimento das suas forças materiais de produção. A totalidade dessas relações constitui a estrutura econômica da sociedade — fundamento real, sobre o qual se erguem as superestruturas política e jurídica, e ao qual correspondem determinadas formas de consciência social.” MARX, K. “Prefácio à Crítica da economia política.” In: MARX, K.; ENGELS, F. Textos 3. São Paulo: Edições Sociais, 1977 (adaptado). Para o autor, a relação entre economia e política estabelecida no sistema capitalista faz com que a) o proletariado seja contemplado pelo processo de mais- valia. b) o trabalho se constitua como o fundamento real da produção material. c) a consolidação das forças produtivas seja compatível com o progresso humano. d) a autonomia da sociedade civil seja proporcional ao desenvolvimento econômico. e) a burguesia revolucione o processo social de formação da consciência de classe. 2. (UEL 2008) “No capitalismo, os trabalhadores produzem todos os objetos existentes no mercado, isto é, todas as mercadorias; após havê-las produzido, entregam-nas aos proprietários dos meios de produção, mediante um salário; os proprietários dos meios de produção vendem as mercadorias aos comerciantes, que as colocam no mercado de consumo; e os trabalhadores ou produtores dessas mercadorias, quando vão ao mercado de consumo, não conseguem comprá-las. [...] Embora os diferentes trabalhadores saibam que produziram as diferentes mercadorias, não percebem que, como classe social, produziram todas elas, isto é, que os produtores de tecidos, roupas, alimentos [...] são membros da mesma classe social. Os trabalhadores se veem como indivíduos isolados [...], não se reconhecem como produtores da riqueza e das coisas.“ (CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. 13 ed. São Paulo: Ática, 2004. p. 387.) Com base no texto e nos conhecimentos sobre alienação e ideologia, considere as afirmativas a seguir: a) A consciência de classe para os trabalhadores resulta da vontade de cada trabalhador em superar a situação de exploração em que se encontra sob o capitalismo. b) É no mercado que a exploração do trabalhador torna-se explícita, favorecendo a formação da ideologia de classe. c) A ideologia da produção capitalista constitui-se de imagens e ideias que levam os indivíduos a compreenderem a essência das relações sociais de produção. d) As mercadorias apresentam-se de forma a explicitar as relações de classe e o vínculo entre o trabalhador e o produto realizado. e) O processo de não identificação do trabalhador com o produto de seu trabalho é o que se chama alienação. A ideologia liga-se a este processo, ocultando as relações sociais que estruturam a sociedade. 3. (UEM – Inverno 2008) Em termos sociológicos, assinale o que for correto sobre o conceito de classes sociais: 01) Sua utilização visa explicar as formas pelas quais as desigualdades se estruturam e se reproduzem nas sociedades. https://theintercept.com/2019/04/08/uberizacao-das-relacoes-de-trabalho/ https://theintercept.com/2019/04/08/uberizacao-das-relacoes-de-trabalho/ Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 12 de 32 02) De acordo com Karl Marx, as relações entre as classes sociais transformam-se ao longo da história conforme a dinâmica dos modos de produção. 04) As classes sociais, para Marx, definem-se, sobretudo, pelas relações de cooperação que se desenvolvem entre os diversos grupos envolvidos no sistema produtivo. 08) A formação de uma classe social, como os proletários, só se realiza na sua relação com a classe opositora, no caso do exemplo, a burguesia. 16) A afirmação “a história da humanidade é a história das lutas de classes” expressa a ideia de que as transformações sociais estão profundamente associadas às contradições existentes entre as classes. 4. (FGV) Leia com atenção as proposições abaixo: I. "A história de qualquer sociedade até aos nossos dias foi apenas a história da luta de classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestre e companheiro, numa palavra opressores e oprimidos em oposição constante, desenvolveram uma guerra que acabava sempre ou por uma transformação revolucionária da sociedade inteira, ou pela destruição das duas classes em luta." II. II. "Se me pedissem para responder à pergunta - 'O que é a escravidão?' e eu respondesse numa só palavra: 'Assassinato!', todos entenderiam imediatamente o significado da minha resposta. Não seria necessário utilizar nenhum outro argumento para demonstrar que o poder de roubar um homem de suas idéias, de sua vontade e sua personalidade é um poder de vida ou morte e que escravizar um homem é o mesmo que matá-lo. Por que, então, não posso responder da mesma forma a essa outra pergunta: 'O que é a propriedade?' com uma palavra só: 'Roubo'." Assinale a alternativa CORRETA: a) A primeira proposição reproduz um trecho de uma das mais importantes obras do filósofo alemão Karl Marx, que serviu de base para a ideologia liberal desenvolvida no século XIX. b) A segunda proposição refere-se ao manifesto cristão proposto por bispos da Igreja, indignados com a miséria que assolava as classes trabalhadoras européias no século XIX. c) A "luta de classes" é um dos principais aspectos da doutrina marxista e a definição da "propriedade como um roubo" tornou-se um dos principais lemas do anarquismo desde o século XIX. d) A segundaproposição é de Joseph Proudhon, teórico liberal francês, indignado com a escravidão ainda praticada em determinados continentes no século XIX. e) A segunda proposição refere-se à região da Palestina na perspectiva sionista, desenvolvida na Europa ao final do século XIX. 5. (Mackenzie) No século XIX, o mundo do trabalho fez surgir novas perspectivas para a compreensão da sociedade contemporânea. O Manifesto Comunista (1848), de Marx e Engels, indica a mudança de concepções abstratas e utópicas sobre a sociedade, para outras mais concretas e combativas. (Carlos Guilherme Mota) Sobre Karl Marx e Friedrich Engels é INCORRETO afirmar: a) A obra que sintetizou as suas teorias econômicas, sociais, políticas e culturais foi O Capital, que retomava a tradição do pensamento dialético, aprofundando-o na linha do Materialismo Histórico. b) A sociedade capitalista é contraditória, uma vez que produz um trabalho excedente que jamais retorna ao trabalhador, isto é, a mais valia. c) Formularam um socialismo de um novo tipo, baseado na concepção de que o capitalismo deve progressiva e pacificamente evoluir para o socialismo. d) Criticavam os socialistas Saint-Simon, Charles Fourier e Robert Owen, que não se baseavam, como eles, num estudo científico da história para aprender as leis da sociedade e da economia. e) As lutas de classes entre proprietários e trabalhadores eram percebidas por eles como uma contradição fundamental do sistema capitalista e que levariam à abolição da ordem burguesa e do Estado que sobre ela se sustentava. 6. (UFRRJ) "A criação de um proletariado despossuído, (...) cultivadores vítimas de expropriações violentas repetidas, foi necessariamente mais rápida que sua absorção pela nascentes manufaturas. (...) Forma-se uma massa de mendigos, ladrões e vagabundos. Desde o final do século XV e durante todo o século XVI na Europa Ocidental foi criada uma legislação sanguinária contra o ócio. Os pais da atual classe operária foram castigados por terem sido reduzidos à situação de vagabundos e pobres. A legislação os tratava como criminosos voluntários; ela pressupunha que dependia de seu livre arbítrio continuar a trabalhar como antes." (MARX, Karl. "O Capital". Paris, Garnier-Flamarion, 1969.) As transformações econômicas e sociais costumam gerar profundas alterações no chamado "mundo do trabalho". A situação apontada por Marx refere-se ao processo histórico a) das revoluções anti-capitalistas, ocorridas na Europa, contra as quais a burguesia determinou severa repressão. b) das revoltas operárias, como o ludismo, voltadas à destruição das máquinas e à exploração por elas causada. c) da Revolução Francesa, na qual os trabalhadores foram transformados em massa de manobra dos interesses burgueses. d) de cercamentos dos campos, com o deslocamento de um grande contingente de despossuídos da sua área rural de origem. e) da Revolução Industrial, quando os criminosos eram expulsos das fábricas e proibidos de trabalhar em outra ocupação, pela legislação vigente. Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 13 de 32 7. (UEL 2011) Observe a charge. Com base na charge e nos conhecimentos sobre a teoria de Marx, é correto afirmar: a) A produção mercantil e a apropriação privada são justas, tendo em vista que os patrões detêm mais capital do que os trabalhadores assalariados. b) Um dos elementos constitutivos da acumulação capitalista é a mais-valia, que consiste em pagar ao trabalhador menos do que ele produziu em uma jornada de trabalho. c) A mercadoria, para poder existir, depende da existência do capitalismo e da substituição dos valores de troca pelos valores de uso. d) As relações sociais de exploração surgiram com o nascimento do capitalismo, cuja faceta negativa está em pagar salários baixos aos trabalhadores. e) Sob o capitalismo, os trabalhadores se transformaram em escravos, fato acentuado por ter se tornado impossível, com a individualização do trabalho e dos salários, a consciência de classe entre eles. 8. (UEL 2010) Ao separar completamente o patrão e o empregado, a grande indústria modificou as relações de trabalho e apartou os membros das famílias, antes que os interesses em conflito conseguissem estabelecer um novo equilíbrio. Se a função da divisão do trabalho falha, a anomia e o perigo da desintegração ameaça todo o corpo social e quando o indivíduo, absorvido por sua tarefa se isola em sua atividade especial, já não percebe os colaboradores que trabalham ao seu lado e na mesma obra, nem sequer tem ideia dessa obra comum. (DURKHEIM, E. A Divisão Social do Trabalho. Apud QUINTEIRO, T.; BARBOSA, M. L. O.; OLIVEIRA, M. G. M. Toque de Clássicos. Vol 1. Durkheim, Marx e Weber. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007. p. 91.) De acordo com K. Marx, uma situação semelhante à descrita no texto, em que trabalhadores isolados em suas tarefas no processo produtivo “não percebem seus colaboradores na mesma obra, nem tem ideia dessa obra comum”, é explicada pelo conceito de: a) Alienação. b) Ideologia. c) Estratificação. d) Anomia social. e) Identidade social. 9. (UEM 2008) Ao discorrer sobre ideologia, Marilena Chauí afirma que “(...) a coerência ideológica não é obtida malgrado as lacunas, mas, pelo contrário, graças a elas. Porque jamais poderá dizer tudo até o fim, a ideologia é aquele discurso no qual os termos ausentes garantem a suposta veracidade daquilo que está explicitamente afirmado”. (O que é ideologia. São Paulo: Brasiliense, 1981, p. 04). Considerando o texto acima e o conceito de ideologia para Karl Marx, assinale o que for correto. 01) Na maioria das sociedades capitalistas, as desigualdades são ocultadas pelos princípios ideológicos que afirmam a importância dos seguintes elementos: o progresso, o “vencer na vida”, o individualismo, a mínima presença do Estado na economia e a soberania popular por meio da representação. 02) Ideologia corresponde às ideias que predominam em uma determinada sociedade, portanto expressa a realidade tal qual ela é na sua objetividade. 04) Uma pessoa pode elaborar uma ideologia, construir uma “questão” individual sem interferências anteriores e influências comunitárias para a sua sustentação. Assim, com base em sua própria ideologia, ela poderá refletir e agir em sua sociedade. 08) Na sociedade brasileira, a ideologia da democracia racial afirma que índios, negros e brancos vivem em harmonia, com igualdade de condições. Essa formulação omite as desigualdades étnicas existentes no país. 16) Ideologia consiste em ideias que predominam na sociedade e que, por isso, são internalizadas por todos os indivíduos. Portanto não existem possibilidades de se romper com seus pressupostos. 10. (UEL 2008) Sobre a exploração do trabalho no capitalismo, segundo a teoria de Karl Marx (1818-1883), é correto afirmar: Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 14 de 32 a) A lei da hora-extra explica como os proprietários dos meios de produção se apropriam das horas não pagas ao trabalhador, obtendo maior excedente no processo de produção das mercadorias. b) A lei da mais valia consiste nas horas extras trabalhadas após o horário contratado, que não são pagas ao trabalhador pelos proprietários dos meios de produção. c) A lei da mais-valia explica como o proprietário dos meios de produção extrai e se apropria do excedente produzido pelo trabalhador, pagando-lhe apenas por uma parte das horas trabalhadas. d) A lei da mais valia é a garantia de que o trabalhador receberá o valor real do que produziu durante a jornada de trabalho. e) As horas extras trabalhadas após o expediente constituem-se na essência do processo de produção de excedentes e da apropriação das mercadorias pelo proprietário dos meios de produção. 11. (UEL 2007) Karl Marx exerceu grande influênciana teoria sociológica. Segundo o autor: “[...] na produção social da sua existência, os homens estabelecem relações determinadas, necessárias, independentes da sua vontade, relações de produção... O conjunto destas relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, a base concreta sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e política e à qual correspondem determinadas formas de consciência social”. (MARX, K. Contribuição à crítica da economia política. Tradução de Florestan Fernandes. São Paulo, Ed. Mandacaru, 1989, p. 28). De acordo com o texto e os conhecimentos sobre o autor, é correto afirmar que: a) A superestrutura jurídica e política é o resultado do modo como as pessoas se organizam para produzir a subsistência material em determinada sociedade. b) A superestrutura jurídica e política é o resultado da consciência social dos líderes políticos e independe do modo de produção em dada sociedade. c) A superestrutura política é o resultado do modo como as pessoas se organizam para produzir a subsistência material em determinada sociedade, mas a esfera jurídica depende da consciência social. d) A superestrutura jurídica é o resultado do modo como as pessoas se organizam para produzir a subsistência material em determinada sociedade, mas a esfera política depende da razão humana, uma vez que a ideia de justiça é inata. e) A superestrutura jurídica e política é o resultado da consciência social dos homens. 12. (UEL 2006) “[...] uma grande marca enaltece - acrescenta um maior sentido de propósito à experiência, seja o desafio de dar o melhor de si nos esportes e nos exercícios físicos ou a afirmação de que a xícara de café que você bebe realmente importa [...] Segundo o velho paradigma, tudo o que o marketing vendia era um produto. De acordo com o novo modelo, contudo, o produto sempre é secundário ao verdadeiro produto, a marca, e a venda de uma marca adquire um componente adicional que só pode ser descrito como espiritual”. O efeito desse processo pode ser observado na fala de um empresário da Internet comentando sua decisão de tatuar o logo da Nike em seu umbigo: “Acordo toda manhã, pulo para o chuveiro, olho para o símbolo e ele me sacode para o dia. É para me lembrar a cada dia como tenho de agir, isto é, ‘just do it’.” (KLEIN, Naomi. Sem logo: a tirania das marcas em um planeta vendido. Rio de Janeiro: Record, 2002, p. 45-76.) Com base no texto e nos conhecimentos sobre ideologia, é correto afirmar: a) A atual tendência do capitalismo globalizado é produzir marcas que estimulam a conscientização em detrimento dos processos de alienação. b) O capitalismo globalizado, ao tornar o ser humano desideologizado, aproximou-se dos ideais marxistas quanto ao ideal humano. c) Graças às marcas e à influência da mídia, em sua atuação educativa, as pessoas tornaram-se menos sujeitas ao consumo. d) O trabalho ideológico em torno das marcas solucionou as crises vividas desde a década de 1970 pelo capital oligopólico. e) Por meio da ideologia associada à mundialização do capital, ampliou-se o fetichismo das mercadorias, o qual se reflete na resposta social às marcas. 13. (UFU 2000) De acordo com a teoria de Marx, a desigualdade social se explica a) pela distribuição da riqueza de acordo com o esforço de cada um no desempenho de seu trabalho. b) pela divisão da sociedade em classes sociais, decorrente da separação entre proprietários e não proprietários dos meios de produção. c) pelas diferenças de inteligência e habilidades inatas dos indivíduos, determinadas biologicamente. d) pela apropriação das condições de trabalho pelos homens mais capazes em contextos históricos, marcados pela igualdade de oportunidades. 14. (UFU 1998) A ideia de alienação, segundo Marx, refere-se I. à identidade entre os produtores e seus produtos. II. à separação entre o trabalhador e o produto de seu trabalho, devido à divisão social do trabalho e à propriedade privada dos meios de produção. III. à separação do Estado como um poder autônomo, imparcial, acima da coletividade e que a domina. IV. ao fato de o trabalhador não se reconhecer no produto da sua atividade. a) I, III e IV estão corretas. b) I, II e III estão corretas. c) II, III e IV estão corretas. d) II e IV estão corretas. e) Todas as afirmativas estão corretas. 15. (UNESP 2012) Leia os textos. Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 15 de 32 Texto 1 Ora, a propriedade privada atual, a propriedade burguesa, é a última e mais perfeita expressão do modo de produção e de apropriação baseado nos antagonismos de classes, na exploração de uns pelos outros. Neste sentido, os comunistas podem resumir sua teoria nesta fórmula única: a abolição da propriedade privada. (…) A ação comum do proletariado, pelo menos nos países civilizados, é uma das primeiras condições para sua emancipação. Suprimi a exploração do homem pelo homem e tereis suprimido a exploração de uma nação por outra. Quando os antagonismos de classes, no interior das nações, tiverem desaparecido, desaparecerá a hostilidade entre as próprias nações. (Marx e Engels. Manifesto comunista, 1848.) Texto 2 Os comunistas acreditam ter descoberto o caminho para nos livrar de nossos males. Segundo eles, o homem é inteiramente bom e bem disposto para com seu próximo, mas a instituição da propriedade privada corrompeu-lhe a natureza. (…) Se a propriedade privada fosse abolida, possuída em comum toda a riqueza e permitida a todos a partilha de sua fruição, a má vontade e a hostilidade desapareceriam entre os homens. (…) Mas sou capaz de reconhecer que as premissas psicológicas em que o sistema se baseia são uma ilusão insustentável. (…) A agressividade não foi criada pela propriedade. (…) Certamente (…) existirá uma objeção muito óbvia a ser feita: a de que a natureza, por dotar os indivíduos com atributos físicos e capacidades mentais extremamente desiguais, introduziu injustiças contra as quais não há remédio. (Sigmund Freud. Mal-estar na civilização, 1930. Adaptado.) Qual a diferença que os dois textos estabelecem sobre a relação entre a propriedade privada e as tendências de hostilidade e agressividade entre os homens e as nações? Explicite, também, a diferença entre os métodos ou pontos de vista empregados pelos autores dos textos para analisar a realidade. 16. (UEL 2016) Leia o texto a seguir. O homem faz a religião, a religião não faz o homem. E a religião é de fato a autoconsciência e o sentimento de si do homem, que ou não se encontrou ou voltou a se perder. Mas o homem não é um ser abstrato, acocorado fora do mundo. O homem é o mundo do homem, o Estado, a sociedade. Este Estado e esta sociedade produzem a religião, uma consciência invertida do mundo, porque eles são um mundo invertido. (MARX, K. Crítica à Filosofia do Direito de Hegel. São Paulo: Boitempo, 2005. p.145.) Na teoria do pensador Karl Marx, há um conceito que explica essa inversão da realidade (por conseguinte, da consciência) e, em razão dela, da relação do sujeito (seres humanos) com aquilo que, objetiva e subjetivamente, ele produz. Com referência às ideias de Marx, responda aos itens a seguir. a) Qual é esse conceito? b) O que significa inverter a relação sujeito-objeto? Explique como isso se manifesta na religião. Gabarito: 1. B 2. E 3. (27) 4. C 5. C 6. D 7. B 8. A 9. (25) 10. C 11. A 12. E 13. B 14. D SEMANA 8 – Aristóteles e a teleologia ARISTÓTELES (384 – 322 a.C.) Nasce em Estagira, na Macedônia, e aos dezoito anos muda-se para Atenas para estudar na Academia fundada por Platão. Torna-se tutor de Alexandre, o Grande, e funda sua própria instituição de ensino, chamada de Liceu. Assim como Platão, Aristóteles valoriza a razão como atributo fundamental do homem, mas sua filosofia distingue-seem muitos aspectos da de seu professor. O principal ponto contraditório entre ambos diz respeito ao fato de Aristóteles não apresentar uma concepção dualista sobre a realidade. Para Aristóteles, o mundo das coisas sensíveis, ou a natureza, não é um mundo aparente ou Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 16 de 32 ilusório. Por isso propõe uma nova metafísica, na qual rejeita o plano inteligível. Ou seja, as essências estão nas próprias coisas, nos homens, nas ações e é tarefa da filosofia conhecê-las. Aristóteles desenvolve, então, um pensamento sistemático sobre a realidade, abrangendo os mais diversos campos de estudo: Metafísica, Ética, Política, Arte, Física, Astronomia e Lógica. METAFÍSICA ARISTOTÉLICA Como conhecer a verdade, interpretar de modo seguro a realidade? Uma vez que as essências – conhecimentos verdadeiros sobre o Ser – não se encontram em uma dimensão superior tal qual o plano inteligível de Platão, Aristóteles empreende uma tarefa filosófica de tentar conhecer as essências no mundo físico, considerando que este mundo está em constante mudanças. Conciliar as essências (sentido pleno do ser) com o movimento (transformações do mundo sensível) é grande missão filosófica de Aristóteles. Ao fazê- la, o filósofo abre precedentes para uma compreensão mais empírica do mundo e deixará um imenso legado na história do pensamento ocidental. Seu raciocínio para compreender o mundo de modo mais pleno estrutura-se a partir de alguns pilares importantes: 1. Deve-se partir da sensação até alcançar a intelecção, buscando captar as propriedades essenciais dos seres, sem as quais eles não seriam o que são. Graus de conhecimento: sensação – memória – experiência – arte/técnica – teoria Mesmo o conhecimento sensorial sendo básico e superficial, ele é a base para que possamos conhecer o mundo de modo mais complexo. 2. É importante podermos distinguir os atributos essenciais dos atributos acidentais: Essência é o que faz uma substância ser o que é; sua matéria (aquilo de que o ser é constituído) e sua forma (aquilo que o define). A essência revela-se, segundo o filósofo, por meio do conhecimento das causas fundamentais de uma substância; por isso, além da forma e da matéria, conecta-se também à origem e ao propósito daquele ser. Já os acidentes seriam as propriedades da substância que poderiam ser diferentes sem alterar quem ou o que ela é; particularidades de cada ser, tais como quantidade, qualidade, relação, tempo, posição, lugar, estado, paixão e hábito. Uma das formas de se distinguir os atributos essenciais dos acidentais se dá por meio do Silogismo, base do raciocínio que fundamenta a lógica aristotélica: Todo homem é mortal. Sócrates é homem. Logo, Sócrates é mortal. A conclusão é verdadeira se a lógica for mantida e se as premissas iniciais forem confirmadas. Para isso, não se pode partir de atributos acidentais. 3. Distinguir ato de potência: Aristóteles não exclui o movimento da essência do ser. Os seres da natureza são seres em devir. Todos os seres que existem em ato (instante, forma atual) carregam uma virtualidade contida neles mesmos, um conjunto de mudanças previstas em sua própria natureza substancial. Aristóteles chama essa forma necessária, mas ainda não manifesta, de potência, mostrando que as mudanças acontecem dentro de um processo ordenado, que não descaracteriza a essência do ser. Devir é o movimento de atualização da matéria, a realização de sua potência: a matéria recebe a forma e muda de forma. Esse movimento é sempre impulsionado por uma força anterior, que Aristóteles chama de causa. Existem, segundo o filósofo, quatro causas fundamentais que explicam as substâncias em seus aspectos essenciais: Causa formal – o que é? Causa material – do que é feito? Causa eficiente – quem o criou? Causa final – qual é seu propósito? Para concluir suas reflexões metafísicas, Aristóteles busca entender e explicar o porquê das coisas se movimentarem incessantemente, ou seja, o sentido mais profundo do devir. A partir disso conclui que o devir, sendo uma condição essencial de tudo o que existe na natureza, também tem uma origem e uma causa. Para Aristóteles, a hipótese mais provável é a de que exista um ser pleno e imóvel, que impulsiona o movimento de toda a realidade. Este ser, o primeiro motor, seria a causa final (ou o propósito) de tudo o que existe. Assim, os seres vivos estariam em devir justamente porque desejam encontrar sua essência total e perfeita. Mas como as coisas naturais nunca poderão alcançar a perfeição imutável, uma vez que são de matéria perecível, tudo constantemente se renova, num fluxo sem fim. As mudanças do mundo, portanto, remetem à concepção teleológica que o filósofo assume para interpretá-lo. Tudo tende à realização de seu propósito (telos), por isso o devir se encaminha. Para Aristóteles, é como se tudo na natureza buscasse à sua realização mais plena. ÉTICA E POLÍTICA Para Aristóteles há uma relação direta entre ética e política. O ser humano necessariamente experimenta a vida coletivamente, o que leva o filósofo a definir o homem como Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 17 de 32 “um animal político”. Política é a arte de governar a Polis, ou seja, organizar a vida pública, coletiva. A política é a busca pelo bem comum, por isso seria o propósito maior da vida prática dos seres humanos. Assim como é a forma de poder que modera e organiza todos os outros poderes, próprios da esfera privada. A ética, por sua vez, é a conduta consciente do indivíduo, apto a controlar seus impulsos e desejos e agir de forma orientada para o bem. Segundo o filósofo, a tarefa da ética é educar nosso desejo para que este não se torne vício e colabore com o desenvolvimento da virtude. A felicidade (eudaimonia), finalidade única da existência humana, só pode ser alcançada por meio da conduta virtuosa. Todos os homens orientam sua vida para alcançar um estado de menos sofrimento e perturbação. Para Aristóteles, porém, esse estado não é consequência de um acúmulo de sensações de prazer, mas do desenvolvimento de uma vida virtuosa. As virtudes não são inatas, mas aprendidas ao longo da vida, dependem, portanto, do fortalecimento da consciência ética, o que é uma habilidade racional. “O sujeito ético ou moral não se submete aos acasos da sorte, nem à vontade e aos desejos de um outro, nem à tirania das paixões (ou sentimentos e desejos incontroláveis), mas obedece apenas à sua consciência – que conhece o bem e as virtudes – e à sua vontade racional – que conhece os meios adequados para chegar aos fins morais. A busca do bem e da felicidade são a essência da vida ética.” (Marilena Chauí. Convite à Filosofia). As virtudes não estão nos excessos, mas no equilíbrio entre as qualidades. Elas requerem uma conduta racional, orientada por premissas éticas e caracterizadas pela moderação. Além disso, as virtudes humanas podem ser morais (éticas) ou intelectuais (dianoéticas). As primeiras, que o filósofo denomina de areté, possuem um caráter mais prático e determinam aptidão para a convivência e para o reconhecimento do bem comum. As segundas voltam-se para a vida contemplativa e para o exercício da filosofia. A liderança política, para Aristóteles, não requer necessariamente as virtudes dianoéticas, pois prescinde das habilidades morais, vinculadas à convivência na Polis. Com isso, Aristóteles confronta a perspectiva de Platão de que o filósofo deve administrar a cidade por ser dotado de uma alma racional. Aristóteles: formas de governo Em sua Política, Aristóteles defende que o governo, independente da forma, é bom se puder alcançar seu propósito, que é o bem comum, por isso o filósofo apresenta as formas de governo organizadas em relação à sua finalidade. As formas puras são justas e as corrompidasdevem ser evitadas. A democracia, para Aristóteles, seria uma forma corrompida da Politeia, o governo constituído de modo justo entre as diferentes parcelas que ocupam a sociedade. ESTÉTICA Aristóteles não condena a arte, tal como Platão, mas busca resgatar o valor arcaico tradicional das artes literárias, o que as atrela à sabedoria e verdade. A mímesis para ele não é falsidade, mas representação. A catarse, emoções ou comoções suscitadas pelas ações representadas, possui uma função educativa: motivação para ações mais elevadas (tragédia); vergonha e autorreflexão (comédia). Ambas trabalham com aspectos morais da formação do caráter (virtude). Além disso, as representações poéticas tendem a captar o universal, revelando elementos essenciais da realidade. EXERCÍCIO 1. (UEL 2011) Leia o texto a seguir. A virtude é, pois, uma disposição de caráter relacionada com a escolha e consiste numa mediania, isto é, a mediania relativa a nós, a qual é determinada por um princípio racional próprio do homem dotado de sabedoria prática. Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 18 de 32 (Aristóteles. Ética a Nicômaco. Trad. de Leonel Vallandro e Gerd Bornheim. São Paulo: Abril Cultural, 1973. Livro II, p. 273.) Com base no texto e nos conhecimentos sobre a ética em Aristóteles, pode-se dizer que a virtude ética a) reside no meio termo, que consiste numa escolha situada entre o excesso e a falta. b) implica na escolha do que é conveniente no excesso e do que é prazeroso na falta. c) consiste na eleição de um dos extremos como o mais adequado, isto é, ou o excesso ou a falta. d) pauta-se na escolha do que é mais satisfatório em razão de preferências pragmáticas. e) baseia-se no que é mais prazeroso em sintonia com o fato de que a natureza é que nos torna mais perfeitos. 2. (UFU 2009) Leia atentamente o texto a seguir. “Logo, o que é primeiramente, isto é, não em sentido determinado, mas sem determinações, deve ser a substância. Ora, em vários sentidos se diz que uma coisa é primeira, e em todos eles o é a substância: na definição, na ordem de conhecimento, no tempo.” ARISTÓTELES. Metafísica. (1028a 30-35). Tradução de Leonel Vallandro. Porto Alegre: Globo, 1969. p.147-148. De acordo com o pensamento de Aristóteles, marque a alternativa incorreta. a) Para Aristóteles, o conhecimento somente é possível tendo por objeto as substâncias, pois dos acidentes não é possível se fazer ciência. b) A substância, ao contrário do acidente, é a categoria por meio da qual sabemos o que uma coisa é, pois é a partir da substância que definimos uma coisa. c) Pode-se dizer que, para a metafísica aristotélica, a substância é a característica necessária de uma coisa, uma vez que nos indica em que sentido uma coisa é. d) Segundo a metafísica aristotélica, a definição de cada ser é apreendida pela ordenação e classificação de suas características acidentais. 3. (UEL 2009) Para Aristóteles, Só julgamos que temos conhecimento de uma coisa quando conhecemos sua causa. E há quatro tipos de causa: a essência, as condições determinantes, a causa eficiente desencadeadora do processo e a causa final. (ARISTÓTELES. Analíticos Posteriores. Livro II. Bauru: Edipro. 2005. p. 327.) Com base no texto e nos conhecimentos sobre a metafísica aristotélica, é correto afirmar. a) A existência de um plano superior constituído das ideias e atingido apenas pelo intelecto permite a Aristóteles a compreensão objetiva dos fenômenos que ocorrem no mundo físico. b) A realidade, para Aristóteles, sendo constituída por seres singulares, concretos e mutáveis, pode ser conhecida indutivamente pela observação. c) Para a compreensão das transformações e da mutabilidade dos seres, Aristóteles recorre ao princípio da criação divina. d) Na metafísica aristotélica, a compreensão do devir de todas as coisas está vinculada à determinação da causa material e da causa formal sobre a causa final. e) Para Aristóteles, todas as coisas tendem naturalmente para um fim (telos), sendo esta concepção teleológica da realidade a que explica a natureza de todos os seres. 4. (UFF 2009) Na célebre pintura A escola de Atenas, o artista renascentista italiano Rafael reuniu os principais nomes da filosofia grega, tendo ao centro do quadro as figuras de Platão e de Aristóteles. Na figura, Platão aponta com sua mão para o alto e Aristóteles aponta para baixo. Deste modo, com estes gestos, Rafael estava ilustrando a distinção entre a filosofia de Platão e a filosofia de Aristóteles. Indique e discorre sobre a principal diferença entre a filosofia de Platão e a de Aristóteles. 5. (UEM 2018) “Por natureza, todos os homens desejam o conhecimento. [...] a ciência que investiga causas é mais instrutiva do que uma que não o faz, pois é aquela que nos diz as causas de qualquer coisa particular que nos instrui. Ademais, o conhecimento e o entendimento desejáveis por si mesmos são mais alcançáveis no conhecimento daquilo que é mais cognoscível. Pois o homem que deseja o conhecimento por si mesmo vai desejar sobretudo o conhecimento mais perfeito, que é o conhecimento do mais cognoscível, e as coisas mais cognoscíveis são os princípios e causas primeiros; porque é através e a partir destas que outras coisas vêm a ser compreendidas.” (ARISTÓTELES, Metafísica - livro I. In: MARCONDES, D. Textos básicos de Filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 2012, p. 46-51). A partir do texto citado, assinale o que for correto. Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 19 de 32 01) As coisas cognoscíveis não podem ser conhecidas pelo ser humano. 02) O homem deseja o conhecimento mais perfeito, e isso só é possível pela ciência que investiga as causas. 04) A ciência que investiga a causa das coisas e a ciência dos princípios das coisas são contraditórias. 08) O conhecimento não é natural nos seres humanos, mas um desejo que alguns têm, e outros, não. 16) O conhecimento científico fundamenta-se no conhecimento das causas e dos princípios das coisas. 6. (Unesp 2017) Sendo, pois, de duas espécies a virtude, intelectual e moral, a primeira gera-se e cresce graças ao ensino – por isso requer experiência e tempo –, enquanto a virtude moral é adquirida em resultado do hábito. Não é, pois, por natureza, que as virtudes se geram em nós. Adquirimo-las pelo exercício, como também sucede com as artes. As coisas que temos de aprender antes de poder fazê-las, aprendemo-las fazendo; por exemplo, os homens tornam-se arquitetos construindo e tocadores de lira tocando esse instrumento. Da mesma forma, tornamo-nos justos praticando atos justos, e assim com a temperança, a bravura etc. (Aristóteles. Ética a Nicômaco, 1991. Adaptado). Responda como a concepção de Aristóteles sobre a origem das virtudes se diferencia de uma concepção inatista, para a qual as virtudes seriam anteriores à experiência pessoal. Explique a importância dessa concepção aristotélica no campo da educação. 7. (ENEM 2017) Se, pois, para as coisas que fazemos existe um fim que desejamos por ele mesmo e tudo o mais é desejado no interesse desse fim; evidentemente tal fim será o bem, ou antes, o sumo bem. Mas não terá o conhecimento, porventura, grande influência sobre essa vida? Se assim é, esforcemo-nos por determinar, ainda que em linhas gerais apenas, o que seja ele e de qual das ciências ou faculdades constitui o objeto. Ninguém duvidará de que o seu estudo pertença à arte mais prestigiosa e que mais verdadeiramente se pode chamar a arte mestra. Ora, a política mostra ser dessa natureza, pois é ela que determina quais as ciências que devem ser estudadas num Estado, quais são as que cada cidadão deve aprender, e até que ponto; e vemos que até as faculdades tidas em maior apreço, como a estratégia, a economia e a retórica, estão sujeitas a ela. Ora, como a políticautiliza as demais ciências e, por outro lado, legisla sobre o que devemos e o que não devemos fazer, a finalidade dessa ciência deve abranger as das outras, de modo que essa finalidade será o bem humano. ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. In: Pensadores. São Paulo: Nova Gunman 1991 (adaptado). Para Aristóteles, a relação entre o sumo bem e a organização da pólis pressupõe que a) o bem dos indivíduos consiste em cada um perseguir seus interesses. b) o sumo bem é dado pela fé de que os deuses são os portadores da verdade. c) a política é a ciência que precede todas as demais na organização da cidade. d) a educação visa formar a consciência de cada pessoa para agir corretamente. e) a democracia protege as atividades políticas necessárias para o bem comum. 8. (UEM 2017) “Portanto, quem possua a noção sem a experiência, e conheça o universal ignorando o particular nele contido, enganar-se-á muitas vezes no tratamento, porque o objeto da cura é, de preferência, o singular. No entanto, nós julgamos que há mais saber e conhecimento na arte do que na experiência, e consideramos os homens de arte mais sábios que os empíricos, visto a sabedoria acompanhar em todos, de preferência, o saber. Isto porque uns conhecem a causa, e os outros não. Com efeito, os empíricos sabem o ‘quê’, mas não o ‘porquê’; ao passo que os outros sabem o ‘porquê’ e a causa. (ARISTÓTELES. Metafísica, livro I, cap. 1. Col. Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 12.) A partir do texto citado, assinale o que for correto. 01) Segundo Aristóteles, o conhecimento do singular, adquirido pela experiência, não pode ser tomado como um conhecimento universal sobre algo determinado. 02) Segundo Aristóteles, o conhecimento do universal independe dos entes particulares ou singulares. 04) Segundo Aristóteles, conhecer algo é conhecer as suas causas e não apenas constatar “que” algo existe. 08) Segundo Aristóteles, os empíricos, ou pessoas que possuem um conhecimento calcado na experiência, conhecem o porquê e a causa das coisas. 16) Segundo Aristóteles, o conhecimento do sábio é superior ao do empírico porque engloba este, sem que isso signifique desprezo do conhecimento empírico ou das coisas particulares. 9. (ENEM 2ª aplicação 2016) Ninguém delibera sobre coisas que não podem ser de outro modo, nem sobre as que lhe é impossível fazer. Por conseguinte, como o conhecimento científico envolve demonstração, mas não há demonstração de coisas cujos primeiros princípios são variáveis (pois todas elas poderiam ser diferentemente), e como é impossível deliberar sobre coisas que são por necessidade, a sabedoria prática não pode ser ciência, nem arte: nem ciência, porque aquilo que se pode fazer é capaz de ser diferentemente, nem arte, porque o agir e o produzir são duas espécies diferentes de coisa. Resta, pois, a alternativa de ser ela uma capacidade verdadeira e raciocinada de agir com respeito às coisas que são boas ou más para o homem. (ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Abril Cultural, 1980.) Aristóteles considera a ética como pertencente ao campo do saber prático. Nesse sentido, ela difere-se dos outros saberes porque é caracterizada como a) conduta definida pela capacidade racional de escolha. b) capacidade de escolher de acordo com padrões científicos. Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 20 de 32 c) conhecimento das coisas importantes para a vida do homem. d) técnica que tem como resultado a produção de boas ações. e) política estabelecida de acordo com padrões democráticos de deliberação. 10. (ENEM PPL 2016) Enquanto o pensamento de Santo Agostinho representa o desenvolvimento de uma filosofia cristã inspirada em Platão, o pensamento de São Tomás reabilita a filosofia de Aristóteles – até então vista sob suspeita pela Igreja –, mostrando ser possível desenvolver uma leitura de Aristóteles compatível com a doutrina cristã. O aristotelismo de São Tomás abriu caminho para o estudo da obra aristotélica e para a legitimação do interesse pelas ciências naturais, um dos principais motivos do interesse por Aristóteles nesse período. (MARCONDES, D. Textos básicos de filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 2005). A Igreja Católica por muito tempo impediu a divulgação da obra de Aristóteles pelo fato de a obra aristotélica a) valorizar a investigação científica, contrariando certos dogmas religiosos. b) declarar a inexistência de Deus, colocando em dúvida toda a moral religiosa. c) criticar a Igreja Católica, instigando a criação de outras instituições religiosas. d) evocar pensamentos de religiões orientais, minando a expansão do cristianismo. e) contribuir para o desenvolvimento de sentimentos antirreligiosos, seguindo sua teoria política. 11. (UEL 2015) Leia os textos a seguir. A arte de imitar está bem longe da verdade, e se executa tudo, ao que parece, é pelo facto de atingir apenas uma pequena porção de cada coisa, que não passa de uma aparição. (Adaptado de: PLATÃO. A República. 7.ed. Trad. de Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1993. p.457).. O imitar é congênito no homem e os homens se comprazem no imitado. (Adaptado de: ARISTÓTELES. Poética. 4.ed. Trad. De Eudoro de Souza. São Paulo: Nova Cultural, 1991. p.203. Coleção “Os Pensadores”). Com base nos textos, nos conhecimentos sobre estética e a questão da mímesis em Platão e Aristóteles, assinale a alternativa correta. a) Para Platão, a obra do artista é cópia de coisas fenomênicas, um exemplo particular e, por isso, algo inadequado e inferior, tanto em relação aos objetos representados quanto às ideias universais que os pressupõem. b) Para Platão, as obras produzidas pelos poetas, pintores e escultores representam perfeitamente a verdade e a essência do plano inteligível, sendo a atividade do artista um fazer nobre, imprescindível para o engrandecimento da pólis e da filosofia. c) Na compreensão de Aristóteles, a arte se restringe à reprodução de objetos existentes, o que veda o poder do artista de invenção do real e impossibilita a função caricatural que a arte poderia assumir ao apresentar os modelos de maneira distorcida. d) Aristóteles concebe a mímesis artística como uma atividade que reproduz passivamente a aparência das coisas, o que impede ao artista a possibilidade de recriação das coisas segundo uma nova dimensão. e) Aristóteles se opõe à concepção de que a arte é imitação e entende que a música, o teatro e a poesia são incapazes de provocar um efeito benéfico e purificador no espectador. 12. (ENEM PPL 2014) Ao falar do caráter de um homem não dizemos que ele é sábio ou que possui entendimento, mas que é calmo ou temperante. No entanto, louvamos também o sábio, referindo-se ao hábito; e aos hábitos dignos de louvor chamamos virtude. (ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Nova CuIturaI, 1973). Em Aristóteles, o conceito de virtude ética expressa a a) excelência de atividades praticadas em consonância com o bem comum. b) concretização utilitária de ações que revelam a manifestação de propósitos privados. c) concordância das ações humanas aos preceitos emanados da divindade. d) realização de ações que permitem a configuração da paz interior. e) manifestação de ações estéticas, coroadas de adorno e beleza. 13. (ENEM 2013) A felicidade é portanto, a melhor, a mais nobre e a mais aprazível coisa do mundo, e esses atributos não devem estar separados como na inscrição existente em Delfos “das coisas, a mais nobre é a mais justa, e a melhor é a saúde; porém a mais doce é ter o que amamos”. Todos estes atributos estão presentes nas mais excelentes atividades, e entre essas a melhor, nós a identificamos como felicidade. (ARISTÓTELES. A Política. São Paulo: Cia. das Letras, 2010). Ao reconhecer na felicidade a reuniãodos mais excelentes atributos, Aristóteles a identifica como a) busca por bens materiais e títulos de nobreza. b) plenitude espiritual a ascese pessoal. c) finalidade das ações e condutas humanas. d) conhecimento de verdades imutáveis e perfeitas. e) expressão do sucesso individual e reconhecimento público. 14. (ENEM PPL 2012) Pode-se viver sem ciência, pode-se adotar crenças sem querer justificá-las racionalmente, pode-se desprezar as evidências empíricas. No entanto, depois de Platão e Aristóteles, nenhum homem honesto pode ignorar que uma outra atitude intelectual foi experimentada, a de adotar crenças com base em razões e Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 21 de 32 evidências e questionar tudo o mais a fim de descobrir seu sentido último. (ZINGANO, M. Platão e Aristóteles: o fascínio da filosofia. São Paulo: Odysseus, 2002). Platão e Aristóteles marcaram profundamente a formação do pensamento Ocidental. No texto, é ressaltado importante aspecto filosófico de ambos os autores que, em linhas gerais, refere-se à a) adoção da experiência do senso comum como critério de verdade. b) incapacidade de a razão confirmar o conhecimento resultante de evidências empíricas. c) pretensão de a experiência legitimar por si mesma a verdade. d) defesa de que a honestidade condiciona a possibilidade de se pensar a verdade. e) compreensão de que a verdade deve ser justificada racionalmente. 15. (UFU 2012) Em primeiro lugar, é claro que, com a expressão “ser segundo a potência e o ato”, indicam-se dois modos de ser muito diferentes e, em certo sentido, opostos. Aristóteles, de fato, chama o ser da potência até mesmo de não-ser, no sentido de que, com relação ao ser-em-ato, o ser-em-potência é não-ser-em-ato. (REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga. Vol. II. Trad. de Henrique Cláudio de Lima Vaz e Marcelo Perine. São Paulo: Loyola, 1994, p. 349). A partir da leitura do trecho acima e em conformidade com a Teoria do Ato e Potência de Aristóteles, assinale a alternativa correta. a) Para Aristóteles, ser-em-ato é o ser em sua capacidade de se transformar em algo diferente dele mesmo, como, por exemplo, o mármore (ser-em-ato) em relação à estátua (ser-em-potência). b) Segundo Aristóteles, a teoria do ato e potência explica o movimento percebido no mundo sensível. Tudo o que possui matéria possui potencialidade (capacidade de assumir ou receber uma forma diferente de si), que tende a se atualizar (assumindo ou recebendo aquela forma). c) Para Aristóteles, a bem da verdade, existe apenas o ser- em-ato. Isto ocorre porque o movimento verificado no mundo material é apenas ilusório, e o que existe é sempre imutável e imóvel. d) Segundo Aristóteles, o ato é próprio do mundo sensível (das coisas materiais) e a potência se encontra tão- somente no mundo inteligível, apreendido apenas com o intelecto. Gabarito: 1.A 2. D 3. E 4. * 5. (18) 6. * 7. C 8. (21) 9. A 10. A 11. A 12. A 13. C 14. E 15. B ** questões 4 e 6 serão corrigidas em sala. SEMANA 9 – Max Weber e a Sociologia Compreensiva Max Weber (1864 - 1920) Max Weber foi um importante intelectual alemão, considerado um dos fundadores da Sociologia. Sua abordagem ficou conhecida como Sociologia Compreensiva, uma análise de base histórica e que busca explicar a complexidade do fenômeno social, que, em sua visão, pode ter inúmeras causas e motivações. O capitalismo, por exemplo, não pode ser compreendido por causas estritamente econômicas, mas também como parte de uma conjuntura cultural, sendo influenciado por fatores religiosos, tal como é mostrado na obra “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”. Para Weber, a sociedade pode ser considerada como um aglomerado de indivíduos que realizam suas ações de acordo com motivações próprias, mas tendo sempre a cultura como referência. Considerando que o entendimento da sociedade será sempre fragmentado – uma vez que a noção de todo só poderia ser obtida por meio da soma de todas as perspectivas individuais, o que é impossível de se alcançar – Weber propõe que a sociologia deva compreender um determinado aspecto da sociedade por meio de um recorte. Desse modo, Weber afirma, discordando de Durkheim, que é impossível se alcançar uma objetividade plena nas ciências sociais, pois a experiência humana não tem como abranger todos os aspectos de uma realidade. É impossível, assim, alcançar a verdade. O sujeito, inclusive o sociólogo, percebe a realidade de acordo com seus valores. Por isso, a realidade é sempre mais complexa do que entendemos que ela seja. Para facilitar o processo de análise, Weber desenvolve um recurso metodológico conhecido como tipo ideal. Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 22 de 32 Tipo ideal: modelo teórico / construção racional com base em elementos fornecidos pela realidade. Weber analisa o fenômeno como se ele tivesse o grau máximo de racionalidade, tornando-o assim compreensível. Ao sociólogo cabe buscar compreender as formas de interação entre os indivíduos, as ações sociais. AÇÃO SOCIAL: é condicionada pela conduta alheia (leva em consideração a expectativa de outra ação por parte dos demais indivíduos) e dotada de significado para o agente. RELAÇÃO SOCIAL: interação entre um agente e seu interlocutor. Ela estrutura-se numa espécie de pacto recíproco. Para Weber, toda dimensão da vida social tem como base a simples interação entre dois indivíduos, que configura uma relação social. No momento que esta relação é significa e inserida num plano cultural que manifesta padrões e valores, ela adquire o estatuto de uma ação social, que é o objeto de análise da sociologia compreensiva. Ou seja, diferente de Durkheim, que analisa o fato em sua dimensão coercitiva e normativa, aplicada de modo geral a todos os indivíduos, Weber acredita que a ação social só tem sentido à medida que é significada pelo indivíduo, que lhe atribui um valor, o que implica que, diferente de Durkheim, para Weber o fato social não teria um valor em si mesmo. Os 4 tipos de ação social: Tradicional: ancora-se na tradição cultural. Na maioria das vezes existe sem ser contestada. Afetiva: motivadas pela emoção. Racional com relação a valores: o indivíduo segue racionalmente suas convicções (dever, dignidade, honra, sabedoria, ética). Racional com relação a fins: cálculo racional, planejado de acordo com objetivos previamente definidos. Weber também estuda as relações de poder dentro de uma esfera social. Todas as relações humanas são marcadas por hierarquias e disputas de poder. Quando não há legitimidade, os poderes se realizam de forma abusiva, normalmente recorrendo-se ao uso da força. O consenso normalmente é o que garante legitimidade a uma relação de poder. Um dos conceitos fundamentais de Weber, empregado até os dias atuais, é o conceito de Estado, entendido como o “monopólio da força legítima”. Ele também analisa os mecanismos mais comuns de legitimação das relações de dominação configuradas em nível estatal. OS TRÊS TIPOS PUROS DE DOMINAÇÃO LEGÍTIMA DOMINAÇÃO LEGAL – segue regras segundo uma lei, um estatuto, que é aceito por todos os integrantes. O grupo dominante é eleito e o quadro administrativo é nomeado pelo mesmo. O tipo de funcionário é aquele de formação profissional, que é contratado, com pagamento fixo, com direito a promoção conforme regras fixas. O funcionário inferior é subordinado ao funcionário superior. O tipo de quem ordena é o “superior”, cujo direito de mando está fixado no estatuto. DOMINAÇÃO TRADICIONAL – predomina a dominação patriarcal. Quem ordena é o “senhor” e os que obedecem são “súditos”. O quadro administrativo é composto por servidores, os quais normalmente fazem parte da família do senhor. Obedece-se ao senhor por fidelidade, hábito.O costume já está enraizado na sociedade. O quadro administrativo é inteiramente dependente do senhor e não existe nenhuma garantia contra o seu arbítrio. Os servidores estão em seus cargos por privilégio ou concessão do senhor. A hierarquia é frequentemente abalada pelo privilégio. DOMINAÇÃO CARISMÁTICA - neste tipo de dominação a relação se sustenta pela crença dos subordinados, nas qualidades excepcionais do “líder”, essas podem ser dons sobrenaturais, a coragem, a inteligência, faculdades mágicas, heroísmo, poder de oratória. O tipo que manda é o “líder”, quem obedece é o “apóstolo”. Obedece-se ao líder somente enquanto suas qualidades excepcionais lhe são conferidas. Não existem regras na administração, é característica deste tipo de dominação a criação momentânea. O líder tem que se fazer acreditar por meio de milagres, êxitos e prosperidade dos seus apóstolos. Se o êxito lhe falta, seu domínio oscila. Desencantamento do Mundo Max Weber critica a sociedade capitalista moderna. Para ele, ao longo de século XIX e sobretudo nos primórdios do século XX, a sociedade torna-se extremamente racionalizada e burocratizada. O indivíduo moderno (apesar dos avanços da ciência e da tecnologia) tem um conhecimento menor sobre o seu próprio cotidiano e também não exerce controle sobre os meios que utiliza. Há um processo que o autor nomeia de “desencantamento do mundo”, caracterizado por um acúmulo de explicações racionais para os fenômenos, fruto da especialização dos saberes, e que diminui o espaço das religiões e da magia na vida cotidiana das pessoas. Esse processo, contudo, não torna o indivíduo menos alienado na visão de Weber, uma vez que o submete a uma outra forma de dominação: a racionalidade técnica. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo Nesta obra, Weber analisa a figura do protestante como o “tipo ideal” do capitalista. No momento em que o lucro deixa de ser pecado e se converte em uma máxima para uma vida austera e centrada no trabalho disciplinado, passam a existir as condições culturais necessárias para o florescimento do capitalismo. Há, no século XIX, uma moral que relaciona a acumulação a um valor religioso dentro da cultura protestante. No século XX, contudo, o capitalismo perde esse revestimento ético e a acumulação torna-se uma valor em si mesma. Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 23 de 32 ESTUDO COMPLEMENTAR Georg Simmel (1858 – 1918) Nascido em Berlim, numa família judaica, Georg Simmel é um dos menos conhecidos fundadores da Sociologia. Estudou Filosofia e História na Universidade de Berlim, onde terminou seu doutorado em 1881. Contemporâneo a Weber e Durkheim, Simmel foi um dos protagonistas do processo de institucionalização da Sociologia na Alemanha, tendo participado, em 1909, da criação da Associação Alemã de Sociologia. Publicou importantes livros e ensaios, dentre os quais podemos destacar Sociologia (1908), Questões de Sociologia (1917), A metrópole e a vida mental (1903) e A filosofia do dinheiro (1900). Ele desenvolveu uma área que hoje é conhecida como Sociologia Formal, que busca analisar as estruturas (formas) subjacentes ao comportamento humano. Para Simmel, “a unidade básica das ciências sociais não é o indivíduo em abstrato, isolado, mas os indivíduos em interação, em tempos e lugares específicos. Nessa visão, a sociedade não é uma “coisa” fixa nem acabada, mas um processo, o resultado das interações sociais. A interação pode ser de vários tipos e assumir várias formas, como conflito, cooperação, competição, submissão etc. As formas sociais são configurações momentâneas de um complexo de movimentos. Daí Simmel preferir falar em sociação do que em sociedade.” (Celso Castro – Textos básicos de Sociologia) A METRÓPOLE E A VIDA MENTAL Em seu texto, “A metrópole e a vida mental”, Georg Simmel afirma que os problemas mais graves da vida moderna nascem na tentativa do indivíduo de preservar sua autonomia e individualidade em face das esmagadoras forças sociais. Esta seria a mais recente transformação da luta do homem com a natureza para sua existência física. Segundo o autor, o século XVIII exigiu a especialização do homem e de seu trabalho, e conclamou que se libertasse de suas dependências históricas quanto ao Estado e à religião, à moral e a economia. Dentre todas essas posições, o homem resistiria a ser nivelado e uniformizado por mecanismos sócio-tecnológicos. O autor pergunta então, como a personalidade se acomoda no ajustamento às forças externas. Segundo Simmel, há um profundo contraste entre a vida na cidade e a vida no campo. O autor afirma que a metrópole extrai do homem uma quantidade diferente de consciência, sendo que a vida da pequena cidade descansa mais sobre relacionamentos profundamente sentidos e emocionais, ou seja, o homem metropolitano reagiria com a cabeça em lugar do coração: “A reação aos fenômenos metropolitanos é transferida àquele órgão que é menos sensível e bastante afastado da zona mais profunda da personalidade. A intelectualidade, assim se destina a preservar a vida subjetiva contra o poder avassalador da vida metropolitana”. Entende-se, dessa forma, que a pessoa intelectualmente sofisticada é indiferente a toda a individualidade genuína que resulta em relacionamentos e reações que não podem ser exauridos com operações lógicas. Essa razão que dá lugar às emoções é expressa no exercício de transformação de indivíduos em números, reduzindo assim toda qualidade e individualidade à questão: quanto? Este aspecto contrasta profundamente com a natureza da pequena cidade, em que o inevitável conhecimento da individualidade produz diferentes tons de comportamento que vão além do mero balanceamento objetivo de serviços e retribuição. A metrópole, em contraste, é provida quase que inteiramente pela produção para o mercado, ou seja, para compradores desconhecidos que nunca entram pessoalmente em contato com o produtor. Simmel ainda afirma que “através dessa anonimidade, os interesses de cada parte adquirem um caráter impiedosamente prosaico; e os egoísmos econômicos intelectualmente calculistas de ambas as partes não precisam temer qualquer falha devida aos imponderáveis das relações pessoais”. Esse caráter assumido pelas relações metropolitanas estaria intrinsecamente ligado à economia do dinheiro. Como exemplo dessa conjuntura Simmel cita um historiador inglês: “ao longo de todo o curso da história inglesa, Londres nunca funcionou como o coração da Inglaterra, mas frequentemente como seu intelecto e sempre como sua bolsa de dinheiro!”. “A mente do homem moderno se tornou mais e mais calculista”, afirma o autor. A economia do dinheiro criou uma exatidão na vida prática – através da matematização da natureza – que nunca tanto se pesou, calculou, ou se reduziu tanto os valores qualitativos a valores quantitativos. Através da difusão dos relógios de bolso, desenvolveu-se um tamanho controle do tempo sobre os indivíduos, que seria impossível realizar os afazeres típicos dos homens metropolitanos sem essa mais estreita pontualidade. Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 24 de 32 “Assim, a técnica da vida metropolitana é inimaginável sem a mais pontual integração de todas as atividades e relações mútuas em um calendário estável e impessoal”. Todo esse controle, expresso pela pontualidade, calculabilidade e exatidão são introduzidos à força na vida pela complexidade e extensão da existência metropolitana. São instrumentos que favorecem a exclusão de traços e impulsos irracionais e instintivos que visam determinar o modo de vida de dentro, em lugar de receber a forma de vida geral vinda de fora. Dessa forma, Simmel torna possível entender o ódio de homens como Ruskin e Nietzsche pela metrópole, pois descobriram o valor da vida fora de esquemas, passando então, a odiar também a economiado dinheiro e o intelectualismo da existência moderna. Dessa forma entende-se a atitude blasé de determinados indivíduos e em especial das crianças metropolitanas – quando apresentam comportamento indiferente em relação às novidades do mundo sempre que comparadas às crianças de meios mais tranquilos. Essa atitude, segundo Simmel, é um dos dois extremos do comportamento humano influenciado pela vida moderna, no qual a pessoa, em meio à economia do dinheiro e controle rígido do tempo, mergulha em sua própria subjetividade sem se envolver com o ambiente externo. Além disso, há que se ressaltar o distanciamento cada vez maior dos concidadãos, muitas vezes através de uma espécie de desconfiança excessiva e de uma atitude de reserva em face às superficialidades da vida metropolitana. Essa reserva seria o fator que, aos olhos de pessoas de cidades pequenas, nos faz parecer frios e até mesmo um pouco antipáticos. Simmel ainda apresenta a idéia de metrópole como ilustração do princípio da união em grupos sociais (partidos políticos, governos etc.). Esses grupos, inicialmente pequenos e coesos, por natureza, necessitam de regras para se manterem, diminuindo assim as liberdades individuais. Com o crescimento do grupo, a tendência observada em todos os casos é das regras ficarem menos rígidas, dando uma maior liberdade aos indivíduos que compõem o grupo. A antiga polis é um exemplo que parece ter o próprio caráter de uma cidade pequena. Eram constantes as ameaças externas, fazendo com que se desenvolvesse uma estrita coerência quanto aos aspectos políticos e militares, uma supervisão de cidadão pelo cidadão, um ciúme do todo contra o individual, tendo, por fim, a vida individual suprimida. Segundo o autor “isto produziu uma atmosfera tensa, em que os indivíduos mais fracos eram suprimidos e aqueles de naturezas mais fortes eram incitados a pôr-se à prova de maneira mais apaixonada”. Simmel ainda faz uma comparação interessante entre cultura objetiva, que seria a cultura ligada a objetos, coisas, conhecimento, instituições; e a cultura subjetiva, que estaria ligada ao indivíduo. Para o autor há uma diferença grande no ritmo de crescimento das duas culturas. Enquanto a objetiva cresceu grandemente, motivada pela divisão do trabalho e sua crescente especialização – como em “O trabalho alienado” de Karl Marx – a cultura subjetiva cresceu lentamente ou pode até mesmo ter regredido em certos pontos como ética, idealismo, etc. “Não é preciso mais do que apontar que a metrópole é o genuíno cenário dessa cultura que extravasa de toda vida pessoal”. Referência: SIMMEL, Georg. A metrópole e a vida mental. In: VELHO, Otávio G. (Org.). O fenômeno urbano. Rio de Janeiro: Guanabara, 4a. ed., 1987. Fonte: faceaovento.com/2008/07/31/a-metropole-e-a-vida-mental/ TEXTO COMPLEMENTAR A contribuição humanista de Georg Simmel para o pensamento social Estado da Arte – 21 de Março de 2017 Por Heloisa Pait Quem sou eu sem a cidade? E que é a cidade sem mim? Se eu fosse resumir o pensamento do berlinense Georg Simmel num tweet, parafrasearia Hillel com estas duas perguntas. Simmel escreveu inúmeros ensaios, além de alguns tratados, ao final do século XIX e começo do XX; temos apenas o suficiente traduzido para o português. O belo “As Aventuras de Georg Simmel”, de Leopoldo Waizbort, traz o detalhado contexto social em que Simmel cresceu e trabalhou, além de interessantes depoimentos de seus estudantes, trazendo à vida um autor cuja escrita é, ela mesma, pulsante. Seus ensaios sobre figuras urbanas como o aventureiro, a prostituta e o estrangeiro, assim como suas reflexões sobre o dinheiro, os grupos e a cultura feminina, parecem ter apenas alguns anos – o ensaio sobre a sociologia do segredo é especialmente atual, quando nos achamos nadando num mar profundo de informação. Os elementos que Simmel destaca em sua cidade amada são semelhantes àqueles que nós destacaríamos nas nossas, cem anos depois. Quando indico seus textos em aula, os alunos se surpreendem com ele ser anterior ao “pesadão” Max Weber, seu seguidor nos conceitos centrais. Nestes dias de opiniões acaloradas e verdades relativas, é uma bênção ler Simmel, com seu espanto estudado diante da vida dos homens e das mulheres. Sua mirada não reduz o outro a objeto de pesquisa, não o cala, não o subsume a conceitos abstratos e metafísicos. E também não o endeusa, não coloca sobre ele ou seu grupo expectativas espetaculares e redentoras. O homem é o que é. E a mulher é o que é, com suas estratégias próprias de se tornar indivíduo numa sociedade que abre frestas para que o faça. O interesse de Simmel nos homens e suas relações não é externo, isto é, não é utilitário. O grupo não é portador de um destino heróico nem precisa de conserto; ele merece ser estudado enquanto tal, por seu próprio valor. Seus esquemas teóricos são como miniaturas da vida social, maquetes habilidosas que representam o mundo de maneira estilizada e compreensível. Seus tipos sociais não são modelos sobre como as gentes devem ou não devem ser, mas representações esquemáticas que nunca chegam a abarcar o todo humano. Lembram as silhuetas encontradas por G.H., no romance de Clarice Lispector, que os críticos já analisaram em profundidade, delineando o sujeito ausente sem compreendê-lo, apenas demandando https://faceaovento.com/2008/07/31/a-metropole-e-a-vida-mental/ Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 25 de 32 um esforço para que o façamos. São, finalmente, convites a nós, observadores do universo urbano, para que desenhemos nossos próprios tipos sociais, como nosso Sérgio Buarque fez por algum tempo. Simmel faz parte do grupo de intelectuais judeus de língua alemã da virada do século passado que deslocaram o espanto diante do incognoscível – awe em inglês – da esfera religiosa para a esfera científica. Os nomes mais conhecidos são Freud e Einstein; ainda cito o escritor Arthur Schnitzler, e meus colegas mais eruditos lembrarão de outros mais. Outros autores, em outros tempos e lugares, como Walter Benjamin e nossa Clarice Lispector, também fizeram esse estranho trajeto de olhar o mundo humano com o maravilhamento antes devotado a Deus. Simmel analisa os tamanhos dos grupos, as intensidades de suas conexões internas, seus conflitos e modos de pertencimento como quem estuda um ser amado, em detalhes, como se tudo, absolutamente tudo, importasse nessa grande dança da vida humana. E não é assim? E não são nossas relações que imprimem graça e terror à vida? E não merece a forma como nos articulamos entre nós todo esse espanto e interesse? Pois merece sim, e há cem anos já temos o instrumental específico para olhar de modo minucioso para esse objeto de estudo onipresente, nós mesmos. Ao menos nas traduções americanas, que são meu meio de chegar a ele, Simmel não aparece como grande fã dos jargões. Só conheço o “Vergesellschaftung”, em português “constituição do social” ou “sociação”, como aparece nas traduções: uma estrutura que é constituída, não é nem dada a priori nem inexistente. Simmel foi visto em sua época como um narrador impressionista, mas uma leitura mais sistemática o revelaria plantando a semente para uma ciência das relações humanas. Outro dia um economista inglês me questionou se sociologia era ciência ou não. Eu lhe respondi que a sociologia poderia ter se tornado uma ciência, e tinha em mente a proposta de Simmel de exame dessa constituição, que a teoria dos jogos e a análise de redes sociais abraçaram, ainda que sem sua riqueza interpretativa. O projeto de Simmel era construir uma filosofia da vida. Ao final, ofereceu-nos uma sociologia que compete, às vezes em desvantagem, com engenharias sociais, pregações apocalípticas e agitprop. Em desvantagem pois a linguagem de Simmel é de uma poesia discreta que não chama a atenção para si. Simmel não é Žižek. Sua sutileza não serve a movimentos políticosalém de um humanismo moderno que não anda em voga. O personagem mais grandioso da trama de Simmel é a cidade moderna, que para ele é Berlim, e para cada um de nós, uma outra cidade onde buscamos nos afirmar como indivíduos ao lado da multidão. Onde os conflitos, como ele diz, são laços fortes que nos unem e sem os quais a vida perde o sabor. Esta cidade não paira acima de nós, não nos constrói ou produz. Simmel insiste que não há sociedade além das interações sociais. A cidade, a sociedade, a teia de relações humanas, para usar um termo de Arendt, é apenas isso: uma superposição complexa de milhares, milhões, talvez bilhões de encontros e desencontros que temos uns com os outros e, através das estórias, com os que nos precederam. O que faz Berlim são os berlinenses, e o que faz os berlinenses são os não-berlinenses, pois, sem eles, Berlim não seria Berlim. Numa visita a uma pequena cidade mineira pela qual me apaixonei, depois de conhecer o quitandeiro uruguaio e o restaurateur de Osasco, me dei conta de que são aqueles dois que fazem da pequena Alagoa uma cidade, e que a cada novo habitante – incluindo eu mesma –, Alagoa se refaz como cidade e, em vez de se dissolver na mesmice da globalização, se encontra consigo mesma, se recontando e revelando ao forasteiro. É esse tipo de ideia que Simmel inspira. Nos Estados Unidos, seu pensamento frutificou na Escola de Chicago e nas detalhadas descrições da sociabilidade urbana etnicamente diversa. Perdeu algo da poesia, mas ganhou a sistematização; com Ervin Goffman, ganhou humor. No Brasil, há uma análise muito boa sobre a influência de Simmel na obra de Sérgio Buarque de Holanda, feita pelo mesmo Leopoldo Waizbort – um tema fascinante que pretendo explorar em um futuro artigo. Mas Sérgio não penetrou na sociologia brasileira e, mais ainda, foi muito pouco traduzido no exterior. Por que não? Por que não, se sua proposta sutil e compreensiva dos humores humanos se encaixa tão bem em nossa cultura? O que ficou, e isso será tema do artigo, foram propostas de pensar a sociedade que reforçam nossa estrutura desigual, enaltecendo-a ou desprezando-a, mas de qualquer modo a colocando num pedestal explicatório que o individualismo de Simmel não poderia fazer. Berlim do século XIX, onde viveu Georg Simmel Pois em seu individualismo, e aprendi isso num livro muito belo do escritor israelense Amós Oz, o centro do mundo não é o ser humano abstrato, igual aos demais, apreensível em teorias acachapantes, mas o ser humano particular, dono de um mundo inteiro ele mesmo. Esse individualismo apoiado na particularidade de cada ser humano coloca na coletividade destes homens únicos um peso considerável: ela é responsável por cada uma destas almas. A mim me emociona pensar em Berlim, em São Paulo, como este aglomerado enorme de gentes distintas e mesmo assim tão dependentes umas das outras, até quando se batem, se Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 26 de 32 dividem entre o partido de cima e o partido de baixo, como em Alagoa. Simmel faleceu em 1918. No ano que vem, relembraremos o centenário de seu falecimento. O que aconteceu neste século sem Simmel? O que aconteceu com o pensamento social nesse século depois de Simmel? Mantivemos, nas leis e nas ideias, o amor ao ser humano único, induplicável, cuja mirada e ação sobre o mundo temos o privilégio de testemunhar? Entendido amor aqui como respeito e desejo de que se desenvolva, e não pena por ele ser quem ele é ou vontade que fosse algo distinto. Cuidamos das cidades enquanto morada fenomenal do indivíduo moderno, em sua pluralidade e convivência? Enxergamos de modo claro como a cidade precisa do indivíduo e este da cidade? Em linhas gerais, penso que sim. A Berlim de Simmel foi destruída como símbolo da modernidade e convivência – ainda que nos dias que correm parece ter se reconvertido em reduto de racionalidade e compreensão. Mas outras cidades surgiram, talvez a sua que me lê agora. Mais gente é estrangeiro hoje do que jamais o foi. E portanto mais lugares são cidades do que jamais foram. Mas a cidade está hoje novamente em perigo, depois de cem anos. Seus valores e sua vida enfrentam adversários de peso, e é sempre bom lembrar que cidades maravilhosas, como Bagdá ou Roma, sucumbiram à imbecilidade autóctone ou às armas de fora. Seus adversários, precisamos enfrentar com nossas próprias armas, o diálogo que nos une e a lei que nos protege. Em cada ato, cada voto, precisamos nos perguntar: apoio o projeto de Nero para Roma ou ando de braços dados com Churchill? Votei em Péricles ou no trêbado Jânio Quadros? Vejo cada eleição como um “espetáculo da democracia” ou como uma roleta russa com o futuro de minha urbe? Sair em desabrida cruzada contra a cor dos muros, como nosso alcaide, não vai resgatar a consideração que devemos, cidadãos, ter uns pelos outros e que mantém nossa cidade habitável. Defender com a mesma intensidade a todas as práticas possíveis e imagináveis não vai dar guarida aos habitantes da cidade, que merecem nossa proteção até as últimas consequências. Não será fácil encontrar o equilíbrio entre direitos individuais e coletivos, dos quais depende o futuro do projeto moderno. Como saber quando estamos convidando o fascismo a se instalar, ou exercendo moderação que compensará mais adiante? Como saber quando estamos preservando a cidade para todos ou apenas calando vozes incômodas? Como distinguir a defesa do direito individual – da qual vive a cidade – da licença para oprimir e violar? Para quem quer lutar, Simmel oferece muito pouco: poucas bandeiras, poucos slogans e nenhuma missão. Na minha lembrança, seu argumento mais acalorado defendia o valor do trabalho de um químico que, criando tintas, valoriza a produção de uma infinidade de trabalhadores têxteis. Que movimento político virá desta defesa, que possa incendiar as massas ou alunos de graduação? Não há dois minutos de ódio, há apenas um olhar valorizador para uma atividade humana específica, numa releitura singela do tratado de Adam Smith sobre a Riqueza das Nações. Já para quem quer agir de modo inteligente, a partir de reflexões lúcidas sobre os dilemas sociais contemporâneos, eu não conheço melhor ponto de partida que a obra deste pequeno judeu berlinense, esse sábio discreto e perspicaz que nos deixou como legado uma maneira de olhar o mundo social sem prazo de validade. Heloisa Pait é socióloga e professora da UNESP. Sugestão de bibliografia complementar: • WAIZBORT, Leopold. As aventuras de Georg Simmel. São Paulo: Edusp, 2004. EXERCÍCIOS 1. (UFU 2018) Weber conduziu uma investigação sobre o “desenvolvimento do capitalismo no ocidente e a racionalização da conduta promovida por um sistema ético, tendo como resultado sua obra mais conhecida.” - A ética protestante e o “espírito” do capitalismo. QUINTANEIRO, Tânia; BARBOSA, Maria Ligia de Oliveira; OLIVEIRA, Márcia Gardênia. Um toque de clássicos: Marx, Durkheim e Weber. Belo Horizonte: EdUFMG, 1999. p. 129. Com base nessa informação, faça o que se pede. a) Estabeleça, sinteticamente, uma relação possível entre a ética protestante e o “espírito” do capitalismo que Weber apresentou nessa sua obra. b) A partir dessa relação, estabeleça, ao menos, três traços da análise weberiana. 2. (UEL 2014) Leia o texto a seguir. “Antigamente nem em sonho existia tantas pontes sobre os rios, nem asfalto nas estradas. Mas hoje em dia tudo é muito diferente com o progresso nossa gente nem sequer faz uma ideia. Tenho saudade de rever nas currutelas as mocinhas nas janelas acenando uma flor. Por tudo isso eu lamento e confesso que a marcha do progresso é a minha grande dor. Cada jamanta que eu vejo carregada transportando uma boiada me aperta o coração. E quando olho minha traia pendurada de tristeza dou risada pra não chorar de paixão.” (Adaptado de: Nonô Basílio e Índio Vago. Mágoa de Boiadeiro.)O texto aproxima-se sociologicamente da leitura teórica de a) Comte, que defende a necessidade de formas tradicionais de vida em detrimento da desilusão do progresso. b) Durkheim, que analisa o progresso como elemento desagregador da vida social ao provocar o enfraquecimento das instituições. c) Marx, que condena o desenvolvimento das forças produtivas por seus efeitos alienantes sobre o homem. d) Spencer, que tem uma leitura romântica da sociedade e vê o passado como mais rico culturalmente. e) Weber, para quem a modernização e a racionalização é acompanhada pelo desencantamento do mundo. 3. (UFU 2013) Em artigo intitulado “Clientelismo ainda domina política no interior do Brasil”, da BBC, de 27 de outubro de 2002, o jornalista Paulo Cabral desenha o painel Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 27 de 32 de parte da política nacional. Ele destaca que, em comício de uma certa deputada, um grande churrasco foi oferecido para os eleitores de uma vila: "Sob um sol escaldante, um caminhão de som tocava o jingle – forró da candidata a todo o volume, a população sentia o cheiro da carne sendo assada trancada dentro de uma casa. Comida, só quando chegasse a candidata”. (BBC. Disponível em: Acesso: 11 mar. 2013). A relação descrita entre os eleitores e a candidata aproxima-se, na matriz teórica weberiana, de um tipo puro de relação de dominação, uma vez que a) inscreve-se como relação de poder em que a candidata aproveita-se de uma probabilidade de impor sua vontade, ainda que sem legitimidade. b) estabelece-se, retirando das relações os elementos não racionais, isto é, em evidente processo de desencantamento do mundo. c) sua natureza remonta uma tradição inimaginavelmente antiga e conduz ou orienta a ação habitual do eleitor para o conformismo. d) expõe características típicas das formas carismáticas de dominação, demonstrada pelo dom da graça extraordinário e pessoal manifesto nas práticas clientelistas. 4. (UEL 2013) Em Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva, o sociólogo alemão Max Weber expõe conceitos como carisma, estamento burocrático, tipos de dominação legítima etc. Já Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro, de Raymundo Faoro, fundamenta-se, em boa parte, em Weber, e realiza amplo estudo sobre a formação dos grupos dominantes no Estado brasileiro, vendo-os como frutos do Estado português. Faoro procura demonstrar como isso se mantém arraigado na cultura política do País e como os traços patrimonialistas de nossa formação sobrevivem ao tempo. Essa obra abrange desde a época dos reis de Portugal, no século XIV, até a presidência de Getúlio Vargas, nos anos 1950. a) Aponte os fatores que caracterizam o patrimonialismo como ocorrência mais comum dentro do tipo de dominação legítima tradicional. b) Apresente a definição weberiana para os três tipos de dominação legítima. 5. (UEL 2013) Os documentos de identificação individual podem ser analisados sob a perspectiva dos estudos weberianos a respeito da sociedade moderna. Sobre essa análise, assinale a alternativa correta. a) A ação racional com relação a valores é o tipo conceitual que explica o uso do CPF, uma vez que se refere às riquezas do indivíduo. b) A adoção de documentos de identificação pessoal corresponde aos interesses dos indivíduos pelo prestígio social. c) A identificação pelo CPF é um exemplo de imitação e de ação condicionada pelas massas, fenômenos comuns na sociedade moderna. d) CPF e documentos pessoais fortalecem o processo de desburocratização das estruturas racionais de dominação. e) O uso do CPF é uma ação dotada de sentido, isto é, compreensível pelos demais indivíduos envolvidos na situação. 6. (Unioeste 2013) A Sociologia de Max Weber é considerada uma ciência compreensiva e explicativa. Na sua concepção, compete ao sociólogo compreender e interpretar a ação dos indivíduos, assim como os valores pelos quais os indivíduos compreendem suas próprias intenções pela introspecção ou pela interpretação da conduta de outros indivíduos. Sobre a sociologia compreensiva de Max Weber, é correto afirmar que a) segundo o método da sociologia compreensiva de Max Weber, há uma ênfase metodológica sobre a sociedade como a unidade inicial da explicação para se chegar a significados objetivos de ação social. b) na sociologia compreensiva de Max Weber, a primeira tarefa da sociologia é reformar a sociedade ou gerar algum tipo de teoria revolucionária. Weber herda efetivamente um ponto de vista sociológico compreensivo imputado à escola marxista. c) para Max Weber, a sociologia está voltada unicamente para a compreensão dos fenômenos sociais. Na sociologia compreensiva, o homem não consegue compreender as intenções dos outros em termos de suas intenções professadas. d) no método compreensivo de Weber, os fenômenos sociais são considerados como a simples expressão de causas exteriores que se impõem aos indivíduos. Weber define a sociologia compreensiva em termos de fatos sociais e não em termos de atividade ou ação. e) Max Weber entende por sociologia compreensiva uma ciência que se propõe a compreender a atividade social e, deste modo, explicar causalmente seu desenrolar e seus efeitos. Para explicar o mundo social, importa compreender também a ação dos seres humanos do ponto de vista do sentido e dos valores. 7. (UEMA 2012) No conjunto da sua Sociologia compreensiva, o sociólogo alemão Max Weber define ação social como ação a) racional em que o agente associa um sentido objetivo aos fatos sociais. b) desprovida de sentido subjetivo e motivacional. c) humana associada a um sentido objetivo. d) cuja intenção fomentada pelos indivíduos se refere à conduta de outros, orientando-se por ela. e) não orientada significativamente pela conduta do outro em prol de um bem comum. 8. (UEM 2012) Sobre a sociologia compreensiva de Max Weber, assinale o que for correto. 01) Segundo essa perspectiva sociológica, a ordem social impõe-se aos indivíduos como força exterior e coercitiva, submetendo, assim, as vontades desses indivíduos aos padrões sociais estabelecidos. Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 28 de 32 02) A ação social é entendida como um comportamento dotado de sentido subjetivamente visado e orientado para o comportamento de outros atores. 04) O sociólogo tem como tarefa fundamental a identificação e a compreensão causal dos sentidos e das motivações que orientam os indivíduos em suas ações sociais. 08) O que garante a cientificidade da análise sociológica é o recurso à objetividade pura dos fatos. 16) As instituições sociais são definidas como resultados de relações sociais estáveis e duráveis, passíveis de serem alteradas a partir de transformações nos sentidos atribuídos pelos indivíduos às suas ações. 9. (UEL 2007) Max Weber afirma que a burocracia ocorre tanto em instituições políticas, quanto em instituições privadas e religiosas. De acordo com os conhecimentos sobre o tema, é correto afirmar que a burocracia: a) É um tipo de dominação racional, resultado da ação exercida pelo quadro administrativo de uma determinada instituição. b) É o resultado do desinteresse dos grupos políticos pela administração pública e corresponde ao tipo de dominação partidária. c) É o resultado da falta de iniciativa dos funcionários na gestão das instituições e corresponde ao tipo de dominação não racional. d) Não é um tipo de dominação, mas o resultado da acomodação dos funcionários de carreira do Estado, das empresas ou das igrejas. e) É um tipo de dominação carismática, caracterizada pela ausência de hierarquia e funções de poder. 10. (UEL 2005) Leia o texto a seguir, escrito por Max Weber (1864-1920), que reflete sobre a relação entre ciência social e verdade: “[...] nos é também impossível abraçarinteiramente a sequência de todos os eventos físicos e mentais no espaço e no tempo, assim como esgotar integralmente o mínimo elemento do real. De um lado, nosso conhecimento não é uma reprodução do real, porque ele pode somente transpô- lo, reconstruí-lo com a ajuda de conceitos, de outra parte, nenhum conceito e nem também a totalidade dos conceitos são perfeitamente adequados ao objeto ou ao mundo que eles se esforçam em explicar e compreender. Entre conceito e realidade existe um hiato intransponível. Disso resulta que todo conhecimento, inclusive a ciência, implica uma seleção, seguindo a orientação de nossa curiosidade e a significação que damos a isto que tentamos apreender”. (Traduzido de: FREUND, Julien. Max Weber. Paris: PUF, 1969. p. 33.) Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, é correto afirmar que, para Weber: a) A ciência social, por tratar de um objeto cujas causas são infinitas, ao invés de buscar compreendê-lo, deve limitar-se a descrever sua aparência. b) A ciência social revela que a infinitude das variáveis envolvidas na geração dos fatos sociais permite a elaboração teórica totalizante a seu respeito. c) O conhecimento nas ciências sociais pode estabelecer parcialmente as conexões internas de um objeto, portanto, é limitado para abordá-lo em sua plenitude. d) Alguns fenômenos sociais podem ser analisados cientificamente na sua totalidade porque são menos complexos do que outros nas conexões internas de suas causas. e) O obstáculo para a ciência social estabelecer um conhecimento totalizante do objeto é o fato de desconsiderar. 11. (UEG 2018) O sociólogo Max Weber desenvolveu estudos sobre a ética protestante e o espírito do capitalismo. A esse respeito tem-se o seguinte: a) a tentativa de constituir uma ciência da sociedade promoveria um processo de pesquisa multidisciplinar e não especializado e por isso Weber concebia a economia como determinante da cultura e o capitalismo determinante do protestantismo. b) o processo de racionalização era o fio condutor da análise do capitalismo ocidental por parte de Weber e por isso ele analisou o papel da ética protestante, que apontaria um primeiro momento de racionalização na esfera religiosa. c) Weber considerava que as ideias dominantes eram as ideias da classe dominante, que, na modernidade, era a classe capitalista, e por isso a ética protestante desenvolvida pelos comerciantes gerou o espírito do capitalismo. d) a inspiração na dialética idealista hegeliana fez com que Weber focalizasse a questão cultural e desenvolvesse um determinismo cultural segundo o qual o modo de produção capitalista seria produto do protestantismo. e) a concepção weberiana surgiu a partir de uma síntese da filosofia kantiana e marxista e por isso ele focaliza o processo de formação do capitalismo ao lado do desenvolvimento do protestantismo e do apriorismo. 12. (UEM 2018) Dentre os conceitos sociológicos construídos por Max Weber para compreender a vida social, figura o de tipo ideal. Sobre o conceito de tipo ideal em Max Weber, é correto afirmar que 01) representa uma construção metodológica, portanto é um modelo sobre o qual se constrói a análise sociológica. 02) inexiste na realidade empírica tal qual como é retratado no modelo. 04) é um recurso de análise que permite conceituar fenômenos e formações sociais e localizar suas manifestações na realidade observada. 08) é uma ferramenta de busca de leis sociais. 16) é denominado “ideal” por representar um objetivo que deve ser buscado pelas sociedades estudadas. 13. (UFU 2018) Para Weber, um tipo de dominação é estabelecido, pois “obedece-se não à pessoa em virtude de seu direito próprio, mas à regra estatuída, que estabelece ao mesmo tempo a quem e em que medida se deve obedecer.” (COHN, Gabriel (Org.). Weber: Sociologia. 5.ed. São Paulo: Ática, 1991. p. 129. Coleção Grandes Cientistas Sociais). Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 29 de 32 Com base na análise weberiana, assinale a alternativa que indica o tipo de dominação a que essa descrição está relacionada. a) Dominação Legal. b) Dominação Carismática. c) Dominação Tradicional. d) Dominação Altruísta. 14. (UEM 2017) Max Weber é um dos autores centrais para a constituição da Sociologia. Um de seus principais temas de investigação foi o da dominação. Para ele, os sistemas de dominação se vinculariam a processos de legitimação. No intuito de compreender tal situação, o autor desenvolveu um modelo de análise com base naquilo que denominou de três tipos ideais de dominação: o racional, o tradicional e o carismático. Assinale o que for correto a respeito desses três tipos weberianos de dominação. 01) Os tipos de dominação propostos por Max Weber não são encontrados de forma pura na realidade. 02) Para que exista dominação, é necessário que os dominados obedeçam à autoridade dos que detêm o poder. 04) Para Max Weber, a dominação carismática é baseada na veneração do poder heroico, na santidade e no caráter exemplar de uma pessoa. 08) A dominação tradicional, segundo Max Weber, consiste no desenvolvimento do aparato burocrático. 16) Max Weber define a dominação racional como aquela que não necessita dos aparatos legislativo e burocrático. 15. (UEL 2016) Leia o texto a seguir. O Estado moderno é uma associação de dominação institucional que, dentro de determinado território, pretendeu com êxito dominar os meios de coação física legítima como meio de dominação e reuniu para este fim, nas mãos de seus dirigentes, os meios materiais de organização, depois de desapropriar todos os funcionários estamentais autônomos que antes dispunham, por direito próprio, destes meios e de colocar-se, ele próprio, em seu lugar, representado por seus dirigentes supremos. (Adaptado de: WEBER, M. Economia e Sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. v.2. Brasília: Editora da UnB, 1999. p.529.) No texto, o sociólogo Max Weber explica que um dos principais traços distintivos do Estado moderno em relação às instituições políticas que o antecederam é o do monopólio da violência física legítima que este deve deter. Com base nisso, responda aos itens a seguir. a) O que significa monopólio da violência física legítima e quem o exerce? b) Cite e explique duas atribuições legais de quem exerce o monopólio da violência física. 16. (UEM 2016) “Obedece-se não à pessoa em virtude de seu próprio direito, mas à regra estatuída, que estabelece ao mesmo tempo a quem e em que medida se deve obedecer. Também quem ordena obedece, ao emitir uma ordem, a uma regra: à ‘lei’ ou ‘regulamento’ de uma norma formalmente abstrata”. (WEBER, M. Os três tipos puros de dominação legítima. In: CASTRO, C. (org). Textos básicos de sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 2014, p. 59). Considerando o texto citado e conhecimentos sobre a perspectiva teórica de Max Weber, assinale o que for correto. 01) O trecho acima destacado apresenta a descrição de um tipo de dominação política que se dá em virtude das qualidades carismáticas, afetivas e intelectuais de líderes comunitários. 02) A obediência às regras e aos estatutos legais encontra na burocracia sua principal expressão histórica. 04) A dominação exercida pelo sistema jurídico legal é constituída por dois processos distintos. Do lado de quem exerce o poder, vigora a dominação constituída pela força, pela vontade e pela virtude. Do lado de quem se submete à lei, vigora o medo, o dever e a fidelidade. 08) A profissionalização, a valorização de competências técnicas e o direito de ascensão e negociação no trabalho são características que compõem o tipo ideal de dominação descrita no trecho citado. 16) Os Estados modernos, por princípio, organizam-se por meio de processos racionais de controle da violência, como os aparatos policiaise jurídicos. Gabarito: 1.* 2. E 3. C 4. * 5. E 6. E 7. D 8. (22) 9. A 10. C 11. B 12. (07) 13. A 14. (07) 15. * 16. * ** questões 1, 4, 15 e 16 são dissertativas. SEMANA 10 – A filosofia helênica HELENISMO As filosofias que seguiram Aristóteles, a partir do século IV a.C., relacionam-se ao contexto histórico de conquista das cidades-Estado gregas pela Macedônia, sob o império comandado por Alexandre. Dois séculos depois, há a conquista romana sobre toda a região. Esse período marca, por um lado, o declínio da autonomia de cidades que estavam habituadas a se autogerir, mas, por outro lado, a expansão dos valores da cultura helênica, dispersa agora pelo Oriente próximo e por uma vasta área do Mar Mediterrâneo. A arte e a filosofia gregas tornam-se referência nos impérios desse período, tanto o Macedônio quanto o Romano. As escolas filosóficas no contexto helenista buscam se afastar de problemas metafísicos mais clássicos e se debruçam sobre questões relacionas à virtude, à ética e à Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 30 de 32 felicidade. As principais escolas que se destacam são: Cinismo, Ceticismo, Epicurismo e Estoicismo. Apesar das diferenças entre as quatro vertentes, podemos afirmar que há uma preocupação comum com a ATARAXIA, palavra grega que significa serenidade, quietude ou paz de espírito. CINISMO Corrente fundada por Antísitines, discípulo de Sócrates, e que teve Diógenes de Sínope (404 – 323 a.C.) como seu principal representante. A escola cínica busca acima de tudo a simplicidade como caminho à ataraxia. Para isso, deve-se afastar das convenções sociais e dos confortos materiais. Uma vida serena e feliz é aquela em que os desejos são controlados e as necessidades reduzidas. Diógenes. Jean-Léon Gérôme (1824-1904) Em sua busca por uma vida virtuosa, Diógenes acreditava ser preciso afastar-se das restrições externas causadas pela sociedade e do descontentamento interno causado pelo desejo e pelo medo. Por isso, optou por uma vida de pobreza e passou a se abrigar dentro de um barril. Para ele, a pessoa mais virtuosa e feliz é aquela que vive em consonância com o mundo natural, assim como um cão que precisa apenas de alimento, água e descanso para sentir- se bem, daí a origem do nome Cinismo, que remete ao grego kynikos (como um cão). CETICISMO Corrente relacionada ao pensamento de Pirro de Élia (360 – 270 a.C.), também conhecida como Pirronismo, e que teve várias vertentes e vários expoentes no universo da Filosofia. Para Pirro, a atitude coerente do sábio, diante da impossibilidade de se conhecer a verdade em termos absolutos, é a suspensão do juízo. Assim, assume-se a imperturbabilidade como o principal caminho à busca pela felicidade. Esses pensamentos foram disseminados pelo filósofo Sexto Empírico, que viveu no século II depois de Cristo. Ele propagou o Pirronismo no contexto do Império Romano. O ceticismo pirrônico afirma que é impossível decidir sobre a verdade ou falsidade de uma proposição qualquer. Sexto Empírico definiu rigorosamente essa doutrina: “a toda razão opõe-se uma razão de igual valor”. Trataremos aqui, resumidamente, da doutrina cética, não sem antes declarar que, daquilo que será apresentado, nada afirmamos que será exatamente da maneira como; cada coisa será exposta em nossa crônica segundo se manifesta agora (...). Diferentemente do dogmático, que tem por existente aquilo sobre o qual dogmatiza, o cético anuncia suas próprias fórmulas de modo tal que elas mesmas se anulam. O cético, que prescinde de valorar essas situações (frio, sede, inquietação) como más por natureza, passa por elas com temperança. (Sexto Empírico – Hipotiposes Pirrônicas I) EPICURISMO O sentido do hedonismo (o bem encontra-se no prazer) grego surgiu com Epicuro de Samos (341 – 270 a. C.). Porém, para Epicuro, os prazeres do corpo são as causas de todo o sofrimento. Para que se possa alcançar a ataraxia, é preciso gozar o prazer com moderação. Para Epicuro, em sua filosofia, a paz de espírito figura como o objetivo fundamental da vida: “é impossível viver de maneira agradável sem viver de maneira sábia, honrada e justa, e é impossível viver de maneira sábia, honrada e justa sem viver uma vida agradável”. Na linguagem comum, o epicurismo é sinônimo de uma vida exageradamente ligada ao desfrute incontrolável dos prazeres carnais. Contudo, isso não está de acordo com a escola de Epicuro, visto que o exagero não proporciona prazer à alma e ao corpo, sendo, portanto, pelo Epicurismo, considerado um vício e não uma virtude. A ética epicurista prega moderação nos prazeres, mas não sua supressão. Sentir esse prazer é uma expressão de nossa natureza e devemos respeitá-la. A virtude é a prudência na busca do prazer, pois “só o desfrute prudente das sensações proporciona paz de espírito”. Para Epicuro, o maior prazer só é alcançado por meio do conhecimento (reflexão filosófica), da independência (que proporciona tempo livre), da amizade (boa companhia) e de uma vida moderada, livre do medo e da dor. “O prazer é o início e o fim de uma vida feliz. Com efeito, nós o identificamos como o bem primeiro e inerente ao ser humano, em razão dele praticamos toda a escolha e toda a recusa, e a ele chegamos escolhendo todo o bem de acordo com a distinção entre prazer e dor. (...) Embora o prazer seja o nosso bem primeiro e inato, nem por isso escolhemos qualquer prazer: há ocasiões em que evitamos muitos prazeres, enquanto deles nos advém efeitos o mais das vezes desagradáveis; ao passo que consideramos muitos sofrimentos preferíveis aos prazeres, se um prazer maior advier de suportarmos essas dores por muito tempo” (Epicuro – Carta sobre a felicidade). Epicuro também escreveu sobre a morte, afirmando que o sábio não deve temê-la: Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 31 de 32 A Morte Não É Nada Para Nós Habitua-te a pensar que a morte não é nada para nós, pois que o bem e o mal só existem na sensação. Donde se segue que um conhecimento exato do fato de a morte não ser nada para nós permite-nos usufruir esta vida mortal, evitando que lhe atribuamos uma idéia de duração eterna e poupando-nos o pesar da imortalidade. Pois nada há de temível na vida para quem compreendeu nada haver de temível no fato de não viver. É pois, tolo quem afirma temer a morte, não porque sua vinda seja temível, mas porque é temível esperá-la. Tolice afligir-se com a espera da morte, pois trata-se de algo que, uma vez vindo, não causa mal. Assim, o mais espantoso de todos os males, a morte, não é nada para nós, pois enquanto vivemos, ela não existe, e quando chega, não existimos mais. Não há morte, então, nem para os vivos nem para os mortos, porquanto para uns não existe, e os outros não existem mais. Mas o vulgo, ou a teme como o pior dos males, ou a deseja como termo para os males da vida. O sábio não teme a morte, a vida não lhe é nenhum fardo, nem ele crê que seja um mal não mais existir. Assim como não é a abundância dos manjares, mas a sua qualidade, que nos delicia, assim também não é a longa duração da vida, mas seu encanto, que nos apraz. Quanto aos que aconselham os jovens a viverem bem, e os velhos a bem morrerem, são uns ingênuos, não apenas porque a vida tem encanto mesmo para os velhos, como porque o cuidado de viver bem e o de bem morrer constituem um único e mesmo cuidado. (Epicuro, in "A Conduta na Vida") ESTOICISMO O Estocismo é a principal escola filosófica do período helenístico, que adentrou o Império Romano e que teve grande influência sobre o Crisitanismo. O principal representante do Estoicismo foi Zenão de Cítio (332 – 265 a. C.). Duas escolas importantes de pensamento filosófico surgiram depois da morte de Aristóteles: a ética hedonista e agnóstica de Epicuro, e o mais popular e duradouro Estoicismo de Zenão de Cítio. Zenão estudou comum discípulo de Diógenes e compartilhou do Cinismo sua abordagem singela. Ele tinha pouca paciência com especulações metafísicas e chegou a acreditar que o cosmos era governado por leis naturais estabelecidas por um legislador supremo (LOGOS ou razão universal). O homem é completamente impotente para mudar essa realidade. Além de desfrutar seus inúmeros benefícios, tem de aceitar sua crueldade e injustiça. (O Livro da Filosofia – Ed. Globo). O Estoicismo considerava o prazer a fonte de todos os males e valorizava atributos como disciplina e resistência ao sofrimento. A virtude do sábio seria eliminar as paixões e viver de acordo com a natureza e com a razão universal. A razão, uma espécie de força divina, estaria impregnada em todos os elementos da natureza. Não se deve, portanto, lutar contra alguns eventos naturais, como morte e envelhecimento, pois são inevitáveis. A melhor maneira de se encontrar a paz de espírito se dá, para os estóicos, por meio da aceitação serena do destino. Para os estoicos, assim, a única coisa que está sob nosso controle somos nós mesmos: nossos pensamentos, nossas paixões e ações. Desse modo, podemos moldá-los para vivermos da maneira mais virtuosa e feliz. A virtude seria justamente compreender como o universo funciona e agir em consonância com suas leis. A ferramenta que proporciona a virtude, portanto, é a razão, que nos permite desenvolver habilidades como inteligência, disciplina e resignação. Assim, a condição essencial para se ter uma vida feliz é agir com virtude, o que depende de um estado de harmonia com o Logos, a razão universal ou divina, da qual não temos controle. A aproximação do Estoicismo com o Cristianismo se dá justamente pelo cultivo de atitudes como autocontrole, austeridade (negação dos prazeres e desejos) e submissão perante a razão divina. EXERCÍCIOS 1. (ENEM) Alguns dos desejos são naturais e necessários; outros, naturais e não necessários; outros, nem naturais nem necessários, mas nascidos de vã opinião. Os desejos que não nos trazem dor se não satisfeitos não são necessários, mas o seu impulso pode ser facilmente desfeito, quando é difícil obter sua satisfação ou parecerem geradores de dano. (EPICURO DE SAMOS. Doutrinas principais. In: SANSON, V. F. Textos de filosofia. Rio de Janeiro: Eduff, 1974). No fragmento da obra filosófica de Epicuro, o homem tem como fim a) alcançar o prazer moderado e a felicidade. b) valorizar os deveres e as obrigações sociais. c) aceitar o sofrimento e o rigorismo da vida com resignação. d) refletir sobre os valores e as normas dadas pela divindade. e) defender a indiferença e a impossibilidade de se atingir o saber. 2. (Enem 2016) Pirro afirmava que nada é nobre nem vergonhoso, justo ou injusto; e que, da mesma maneira, nada existe do ponto de vista da verdade; que os homens agem apenas segundo a lei e o costume, nada sendo mais isto do que aquilo. Ele levou uma vida de acordo com esta doutrina, nada procurando evitar e não se desviando do que quer que fosse, suportando tudo, carroças, por exemplo, precipícios, cães, nada deixando ao arbítrio dos sentidos. (LAÉRCIO, D. Vidas e sentenças dos filósofos ilustres. Brasília: Editora UnB, 1988). Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 32 de 32 O ceticismo, conforme sugerido no texto, caracteriza-se por: a) Desprezar quaisquer convenções e obrigações da sociedade. b) Atingir o verdadeiro prazer como o princípio e o fim da vida feliz. c) Defender a indiferença e a impossibilidade de obter alguma certeza. d) Aceitar o determinismo e ocupar-se com a esperança transcendente. e) Agir de forma virtuosa e sábia a fim de enaltecer o homem bom e belo. 3. (UEM 2008) O Período Helenístico inicia-se com a conquista macedônica das cidades-Estado gregas. As correntes filosóficas desse período surgem como tentativas de remediar os sofrimentos da condição humana individual: o epicurismo ensinando que o prazer é o sentido da vida; o estoicismo instruindo a suportar com a mesma firmeza de caráter os acontecimentos bons ou maus; o ceticismo de Pirro orientando a suspender os julgamentos sobre os fenômenos. Sobre essas correntes filosóficas, assinale o que for correto. 01) Os estoicos, acreditando na ideia de um cosmo harmonioso governado por uma razão universal, afirmaram que virtuoso e feliz é o homem que vive de acordo com a natureza e a razão. 02) Conforme a moral estoica, nossos juízos e paixões dependem de nós, e a importância das coisas provém da opinião que delas temos. 04) Para o epicurismo, a felicidade é o prazer, mas o verdadeiro prazer é aquele proporcionado pela ausência de sofrimentos do corpo e de perturbações da alma. 08) Para Epicuro, não se deve temer a morte, porque nada é para nós enquanto vivemos e, quando ela nos sobrevém, somos nós que deixamos de ser. 16) O ceticismo de Pirro sustentou que, porque todas as opiniões são igualmente válidas e nossas sensações não são verdadeiras nem falsas, nada se deve afirmar com certeza absoluta, e da suspensão do juízo advém a paz e a tranquilidade da alma. 4. (UFF 2010) Filosofia O mundo me condena, e ninguém tem pena Falando sempre mal do meu nome Deixando de saber se eu vou morrer de sede Ou se vou morrer de fome Mas a filosofia hoje me auxilia A viver indiferente assim Nesta prontidão sem fim Vou fingindo que sou rico Pra ninguém zombar de mim Não me incomodo que você me diga Que a sociedade é minha inimiga Pois cantando neste mundo Vivo escravo do meu samba, muito embora vagabundo Quanto a você da aristocracia Que tem dinheiro, mas não compra alegria Há de viver eternamente sendo escrava dessa gente Que cultiva hipocrisia. Assinale a sentença do filósofo grego Epicuro cujo significado é o mais próximo da letra da canção “Filosofia”, composta em 1933 por Noel Rosa, em parceria com André Filho. a) É verdadeiro tanto o que vemos com os olhos como aquilo que apreendemos pela intuição mental. b) Para sermos felizes, o essencial é o que se passa em nosso interior, pois é deste que nós somos donos. c) Para se explicar os fenômenos naturais, não se deve recorrer nunca à divindade, mas se deve deixá-la livre de todo encargo, em sua completa felicidade. d) As leis existem para os sábios, não para impedir que cometam injustiças, mas para impedir que as sofram. e) A natureza é a mesma para todos os seres, por isso ela não fez os seres humanos nobres ou ignóbeis, e, sim suas ações e intenções. 5. (UFSJ 2012) Sobre a ética na Antiguidade, é CORRETO afirmar que a) o ideal ético perseguido pelo estoicismo era um estado de plena serenidade para lidar com os sobressaltos da existência. b) os sofistas afirmavam a normatização e verdades universalmente válidas. c) Platão, na direção socrática, defendeu a necessidade de purificação da alma para se alcançar a ideia de bem. d) Sócrates repercutiu a ideia de uma ética intimista voltada para o bem individual, que, ao ser exercida, se espargiria por todos os homens. 6. (ENEM 2018) A quem não basta pouco, nada basta. (EPICURO. Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural,1985). Remanescente do período helenístico, a máxima apresentada valoriza a seguinte virtude: a) Esperança, tida como confiança no porvir. b) Justiça, interpretada como retidão de caráter. c) Temperança, marcada pelo domínio da vontade. d) Coragem, definida como fortitude na dificuldade. e) Prudência, caracterizada pelo correto uso da razão. Gabarito: 1.A 2. C 3. (31) 4. B 5. A 6. C