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COLETÂNEA II "PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL EM SUAS DIVERSAS AMPLITUDES” TOMO 2 “ANÁLISE DE FRAGILIDADES E VULNERABILIDADES SOCIOAMBIENTAIS” Anderson da Silva Marinho João Filipe Soares da Silva Marcelo Henrique Lopes Silva Francisco Samuel Nobre Ramos Adilson Matheus Borges Machado Ana Caroline Rodrigues Cassiano de Sousa (Organizadores) Copyright © 2022 by EDUFMA UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO Prof. Dr. Natalino Salgado Filho Reitor Prof. Dr. Marcos Fábio Belo Matos Vice-Reitor EDITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO Prof. Dr. Sanatiel de Jesus Pereira Diretor CONSELHO EDITORIAL Prof. Dr. Luís Henrique Serra Prof. Dr. Elídio Armando Exposto Guarçoni Prof. Dr. André da Silva Freires Prof. Dr. Jadir Machado Lessa Profª. Dra. Diana Rocha da Silva Profª. Dra. Gisélia Brito dos Santos Prof. Dr. Marcus Túlio Borowiski Lavarda Prof. Dr. Marcos Nicolau Santos da Silva Prof. Dr. Márcio James Soares Guimarães Profª. Dra. Rosane Cláudia Rodrigues Prof. Dr. João Batista Garcia Prof. Dr. Flávio Luiz de Castro Freitas Bibliotecária Suênia Oliveira Mendes Prof. Dr. José Ribamar Ferreira Junior Anderson dA silvA MArinho João Filipe soAres dA silvA MArcelo henrique lopes silvA FrAncisco sAMuel nobre rAMos Adilson MAtheus borges MAchAdo AnA cAroline rodrigues cAssiAno de sousA (orgAnizAdores) COLETÂNEA II “PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL E SUAS AMPLITUDES” TOMO 2 “AnÁlise de FrAgilidAdes e vulnerAbilidAdes socioAMbientAis” São Luís 2022 Copyright © 2022 by EDUFMA Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida, armazenada em um sistema de recuperação ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia, microimagem, gravação ou outro, sem permissão do autor. EDUFMA | Editora da UFMA Av. dos Portugueses, 1966 – Vila Bacanga CEP: 65080-805 | São Luís | MA | Brasil Telefone: (98) 3272-8157 www.edufma.ufma.br | edufma@ufma.br Capa Projeto Gráfico Revisão Anderson da Silva Marinho David Ribeiro Mourão Arkley Marques Bandeira Leonardo Silva Soares Marcelo Henrique Lopes Silva Coletânea II [recurso eletrônico]: planejamento e gestão territorial em suas diversas amplitudes / Anderson da Silva Marinho... [et al.] (Organizadores). — São Luís: EDUFMA, 2022. t. 2, 486 p.: il. Conteúdo: t. 2. Análise de fragilidades e vulnerabilidades socioambientais. Modo de acesso: World Wide Web <http://www.edufma.ufma.br/index.php/loja/> ISBN: 978-65-5363-037-6 1. Educação ambiental. 2. Gestão territorial. 3. Agroecologia. 4. Permacultura. 5. Vulnerabilidades socioambientais I. Marinho, Anderson da Silva. II. Silva, João Felipe Soares da. III. Silva, Marcelo Henrique Lopes. IV. Ramos, Francisco Samuel Nobre. V. Machado, Adilson Matheus Borges. VI. Sousa, Ana Caroline Rodrigues. CDD 577.370 CDU 502:37 Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Marcia Cristina da Cruz Pereira CRB 13 / 418 Coordenação Editorial Anderson da Silva Marinho Giovanna de Castro Silva Leonardo Silva Soares Edson Vicente da Silva Projeto Gráfico David Ribeiro Mourão Diagramação Luciana Amorim Soares Leonardo Azevedo Serra Adilson Matheus Borges Machado Weslley Leandro Melo Pereira Ian Moura Martins Capa e Ilustração Anderson da Silva Marinho Revisão Arkley Marques Bandeira Leonardo Silva Soares Marcelo Henrique Lopes Silva Catalogação UFMA V Congresso Brasileiro de eduCação amBiental aapliCada e gestão territorial Prefácio Na contemporaneidade, o pensamento interdisciplinar figura como práxis da compreensão da sociedade e suas relações e inter-relações com a paisagem e o meio ambiente, naquilo que está se concebendo como antropoceno. Compreender as interações físicas, biológicas, ecossistêmicas, socioeconômicas e culturais permeia pela necessidade de transcender de uma visão disciplinar/ multidisciplinar, para uma perspectiva interdisciplinar e transversal. Com o aumento da população mundial e a consequente sobrecarga da exploração dos recursos naturais, urge a ampliação da “Pegada Ecológica Mundial”. Mudanças climáticas, efeito estufa, perda de biodiversidade, catástrofes ambientais, extinções das espécies, ampliação das fronteiras agropecuárias e aumento do nível do mar são alguns exemplos de ações humanas que provocam alterações biofísicas em escala planetária. Estamos há menos de uma década do cumprimento dos desafios postulados para Agenda 2030 da ONU. Não obstante, sabemos que os problemas mundiais se intensificaram nas últimas décadas. Nesta conjuntura, a pandemia mundial da COVID-19 acentua substancialmente os problemas ambientais e socioeconômicos de países em desenvolvimento e periféricos. O apelo global às ações para erradicar a pobreza, proteger o meio ambiente e clima, além de garantir que as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz, bem-estar e de prosperidade, não se encerra em 2030, tornando-se, provavelmente, o desafio do milênio. Os horizontes da Educação Ambiental e da Gestão Territorial permeiam pelos métodos interdisciplinares, contrapondo-se ao método científico cartesiano. Estes campos do saber contribuem para o entendimento do debate das questões socioambientais do cotidiano, numa perspectiva sistêmica, holística e integrada, para a atualidade e futuro. A Gestão Territorial e a Educação Ambiental são esferas com interseções e com flutuações de densidade e elasticidade, que podem contribuir para os tomadores de decisão formularem políticas públicas que convergem com os princípios e metas da Agenda 2030 da ONU. O enfoque interdisciplinar integra estratégias analíticas e metodológicas de várias disciplinas para abordar com maior eficácia os desafios enfrentados para o “Planejamento e Gestão Territorial em Suas Diversas Amplitudes”, título definido para nomear a II Coletânea de livros organizados a partir do VII Congresso Brasileiro de Educação Ambiental Aplicada e Gestão Territorial. Na Obra estão organizados 7 livros e 312 capítulos, com diversas perspectivas científicas para aguçar a criatividade de pesquisadores e o público em geral, para o presente, e para o futuro. leonArdo silvA soAres - uFMA Arkley MArques bAndeirA - uFMA V Congresso Brasileiro de eduCação amBiental aapliCada e gestão territorial sumário “ANÁLISE DE FRAGILIDADES E VULNERABILIDADES SOCIOAMBIENTAIS" a Criação da Zona FranCa de manaus (ZFm) e o seu inCentiVo para o desenVolVimento regional: um estudo BiBliográFiCo..................................................................... 10 análise BiBliométriCa de indiCadores de impaCtos de pestiCidas........................... 18 análise CartográFiCa da VulneraBilidade soCial e dos indiCadores de Casos e óBitos na Cidade de FortaleZa-Ceará-Brasilil.................................................... 27 análise da Fragilidade amBiental e dinâmiCa de CoBertura e uso da terra do muniCípio de CaçapaVa do sul–rs (1988-2018)............................................... 36 análise da Fragilidade potenCial e emergente na suB-BaCia hidrográFiCa do riaCho sitiá – Ceará.................................................................................................... 46 análise da susCetiBilidade à inundação nas CaBeCeiras da BaCia do igarapé moura, Castanhal-pa.................................................................................................. 55 análise das VulneraBilidades e Fragilidades soCioamBientais dos traBalhadores de uma CooperatiVa de resíduos sólidos em maraCanaú-Ce.......................................... 64 análise dos impaCtos amBientais Causados pelo turismo e grandes empreendimentos na planíCie litorânea da Comunidade de guajiru, trairi/Cea rá...................................................................................................................74 análise teóriCa dos ConCeitos de VulneraBilidade soCioamBientais........................ 82 áreas Verdes urBanas e as ContriBuições no miCroClima loCal: leVantamento BiBliométriCo nos últimos deZ anos................................................................. 90 aValiação de agentes Causadores da degradação amBiental do rio mundaú, muniCípio de tururu – Ce.................................................................................. 99 aValiação de eVentos perigosos para gestão de reCursos hídriCos no muniCípio de lençóis paulista - sp.................................................................................... 106 aValiação do risCo de propagação de inCêndio para as áreas protegidas da miCrorregião do Vão do paranã (go)............................................................... 116 BreVe aValiação de impaCtos amBientais: Construção de estrada no entorno de uma área de proteção amBiental em mossoró/rn.................................................... 126 CaraCteriZação geoamBiental do muniCípio de Quixadá-Ce Como suBsídio ao planejamento muniCipal.................................................................................... 134 Comunidade diVidida e o mar aVançando: ConFlito soCioamBiental em oBra de inter- Venção Costeira na praia de peroBa – iCapuí/Ceará/Brasil................................. 143 ContriBuição da análise morFométriCa no planejamento amBiental: um estudo de Caso da BaCia do riBeirão CaFeZal................................................................. 152 CresCimento urBano e reCursos hídriCos: BreVe análise dos impaCtos oCasionados ao lago maCurany, parintins/am................................................ 162 V Congresso Brasileiro de eduCação amBiental aapliCada e gestão territorial sumário danos soCioamBientais da ampliação da eutroFiZação nos usos múltiplos da água na lagoa da parangaBa, FortaleZa - Ce.................................................... 170 desaFios à justiça soCioamBiental urBana a partir das Fragilidades e VulneraBili- dades da legislação urBanístiCa Brasileira......................................................... 177 dinâmiCa de uso e oCupação da terra no muniCípio de Caiapônia (go) entre 1985 e 2019........................................................................................................... 185 eFeitos do aVanço do mar na oCupação das propriedades na praia do iCaraí, CauCaia – Ce................................................................................................... 195 eFeitos eConomiCos , soCiais e amBientais da CoVid – 19: perspeCtiVas para o desenVolVimento sustentáVel .......................................................................... 203 eVidênCias empíriCas dos BeneFíCios das áreas de ConserVação para a saúde púBliCa no Brasil......................................................................................................... 211 Fragilidade amBiental da miCroBaCia hidrográFiCa do Córrego das pedras, loCaliZado no muniCípio de uBerlândia – minas gerais....................................... 220 geograFia FísiCa e a aBordagem geossistêmiCa apliCada à Fragilidade amBiental..... 229 identiFiCação e análise de tipologias morFo-FitogeográFiCas na reserVa BiológiCa do mato grande, arroio grande/rs................................................................ 237 impaCtos à hidrograFia e lagos no interior do parQue estadual do utinga, Belém, pa.................................................................................................................. 246 impaCtos amBientais do desCarte irregular de resíduos de laVanderias no muniCípio de jaraguá, goiás............................................................................................ 254 impaCtos amBientais relaCionados à exploração mineral no distrito de rinaré, mu- niCípio de BanaBuiú-Ce, Brasil.......................................................................... 262 importânCia eCológiCa do rio CoCó, FortaleZa/Ce Como parQue urBano atraVés do leVantamento da aViFauna................................................................................ 269 nFluênCia da pressão industrial na Criação da reserVa extratiVista de tauá- -mirim no muniCípio de são luís – ma............................................................. 277 ileVantamento da aViFauna da BaCia hidrográFiCa do riaCho maCeió/papiCu, FortaleZa,Ce: sua releVânCia históriCa e eCológiCa............................................. 285 mapeamento de risCos de desastres assoCiados a moVimentos de massa no território do holoFote: uma análise atraVés dos alunos/moradores do projeto niterói joVem eCosoCial........................................................................................................ 292 mapeamento e análise da Fragilidade amBiental do perímetro urBano de maraBá / pa................................................................................................................ 302 morBidade e mortalidade por doenças de VeiCulação hídriCa no estado de ror- aima, amaZônia, Brasil..................................................................................... 313 o aumento da Frota VeiCular em natal-rn: um Caso de saúde púBliCa.................. 322 os impasses nas atiVidades de exploração mineral e a área de proteção amBiental no muniCípio de sento sé na serra da QuixaBa............................... 332 V Congresso Brasileiro de eduCação amBiental aapliCada e gestão territorial sumário perCepção de moradores para o risCo de inundação em períodos de ChuVas: Caso de Bairros VulneráVeis da Zona urBana de mossoró/rn..................................... 338 perCepção dos moradores soBre as ações de responsaBilidade soCioamBiental das empresas produtoras de energia eóliCa no muniCípio de serra do mel/rn..... 348 população riBeirinha: desigualdade soCial atrelada aos proBlemas soCioamBientais e a inVisiBilidade das Comunidades....................................................................... 355 potenCialidades e entraVes na gestão dos parQues urBanos de FortaleZa/Ce........ 362 projeto iguaçu: ConseQuênCias soCioamBientais nos Bairros do pilar (duQue de Caxias/rj) e lote xV (BelFord roxo/rj).......................................................... 372 reCursos hídriCos e degradação de mata Ciliar: um olhar soBre a goVernança à lagoa da FranCesa e ao lago do parananema no muniCípio de parintins/am.......... 381 relatos de experiênCias: a eutroFiZação das águas da laguna manguaBa na Cidade de pilar/al.................................................................................................... 391 rotas teCnológiCas para resíduos sólidos rurais: disCussão preliminar e propos- ta de ações no pós-pandemia.............................................................................. 397 saúde e meio amBiente: a relação entre a CoVid-19 e os resíduos sólidos.............. 408 sustentaBilidade da atiVidade eóliCa no muniCípio de serra do mel, rn.............. 416 sustentaBilidade e Qualidade de Vida no amBiente rural: estudo de Caso na Comunidade sítio rosto em Crato- Ce.................................................................................................................. 424 unidades de paisagem e impaCtos soCioamBientais da apa dos peQuenos lençóis maranhenses, tutóia-ma................................................................................. 431 Vetores de desertiFiCação no muniCípio de miguel Calmon, estado da Bahia.......... 440 VulneraBilidade hídriCa aos eVentos ClimátiCos extremos em região semiárida..... 449 VulneraBilidade soCioamBiental do muniCípio de jaBoatão dos guararapes aos eVentos extremos de preCipitação...................................................................... 459 VulneraBilidade soCioamBiental soB a ótiCa do teCnógeno: uma análise em áreas da periFeria da Zona leste de teresina/pi.............................................. 469 VulneraBilidades no saneamento amBiental em uma Cidade média da região norte do estado do toCantins...................................................................................478 ANÁLISE DE FRAGILIDADES E VULNERABILIDADES SOCIOAMBIENTAIS 391 relatos de experiênCias: a eutroFiZação das águas da laguna manguaBa na Cidade de pilar/al MArys cenAilhA FreitAs costA bAlbino rAFAel dos sAntos bAlbino thiAgo cAlheiros dAntAs derllânio telécio dA silvA Resumo A laguna Manguaba é um importante corpo hídrico para o estado de Alagoas, dela muitas famílias tiram o seu sustento, principalmente a partir de atividades extrativistas, como a pesca. O estudo teve como objetivo entender de que modo a ação humana pode influenciar no processo de eutrofização da laguna. Utilizou-se como recorte espacial a laguna Manguaba, estendendo-se pela planície fluvio-lagunar. Foi observado nessa região o lançamento do esgoto in natura na laguna, sendo estimulado o processo de eutrofização. Este processo, motivado pela poluição constante da laguna, pode inferir danos à natureza e à vida daqueles que buscam na Manguaba o pescado como fonte de renda. O estudo evidencia possíveis soluções, de modo que seja minimizado o processo de poluição e, consequentemente, diminuindo a ocorrência de águas eutrofizadas na região lagunar. Utilizam-se imagens de satélite, fotografias da área e um relatório de campo. Evidencia-se que os dados levantados puderam ajudar na busca da veracidade dos fatos que provocam o processo de eutrofização da localidade e entender que o tratamento de todos os efluentes lançados no rio Paraíba do meio e no Complexo Estuarino Lagunar Mundaú Manguaba, torna-se uma das possíveis soluções de minimizar a frequência de águas eutrofizadas. Palavras-Chave: Saneamento básico; Poluição; Meio-ambiente; Água. Abstract The Manguaba lagoon is an important water body for the state of Alagoas, many families make a living from it, mainly from extractive activities, such as fishing. The study aimed to understand how human action can influence the eutrophication process of the lagoon. The Manguaba lagoon was used as a spatial cut, extending across the fluvial- lagoon plain. In this region, the release of raw sewage in the lagoon was observed, stimulating the eutrophication process. This process, motivated by the constant pollution of the lagoon, can infer damage to the nature and life of those who seek fish as a source of income in Manguaba. The study highlights possible solutions, so that the pollution process is minimized and, consequently, decreasing the occurrence of eutrophic waters in the lagoon region. Satellite images, photographs of the area and a field report are used. It is evident that the data collected could help in the search for the veracity of the facts that provoke the process of eutrophication in the locality and understand that the treatment of all effluents discharged into the Paraiba do Meio River and the Lagunar Mundaú Manguaba Estuary Complex, becomes a possible solutions to minimize the frequency of eutrophic waters. Keywords: Basic sanitation; Pollution; Environment; Water. ANÁLISE DE FRAGILIDADES E VULNERABILIDADES SOCIOAMBIENTAIS 392 1. Introdução A eutrofização é o processo de poluição de corpos d’água, como rios e lagos, que acabam adquirindo uma coloração turva ficando com níveis baixíssimos de oxigênio dissolvido na água provocando a morte de diversas espécies de animais e vegetais, tendo também um grande impacto para o ecossistema aquático. Tal fenômeno, resulta na mortandade de peixes em grande escala que gera um problema socioeconômico que impacta a vida das pessoas que necessitam, por exemplo, dos ambientes lagunares, os pescadores, a fim de conseguir o pescado para comercializar nas feiras livres ou em outros ambientes comerciais. Assim sendo, o presente estudo teve como objetivo entender de que modo a ação humana pode influenciar no processo de eutrofização no município de Pilar/AL a partir de um estudo de caso com a laguna Manguaba. Tal local foi estudado porque nele podemos perceber claramente o lançamento de esgoto público in natura na laguna, sendo um dos porquês que explicam o processo de eutrofização ou verdete. 2. Conceituando Saneamento Básico, Efluentes E Eutrofização Os conceitos de saneamento básico, efluentes e eutrofização estão geralmente relacionados a ação humana modificando as paisagens. Entende-se que muitas das cidades brasileiras revelam a ausência de um sistema eficaz de tratamento do esgoto, infelizmente. Os esgotos produzidos pelos espaços públicos, em muitos casos, são canalizados diretamente as afluentes de rios, corpus d’água, desembocando, por sua vez, no oceano. O lançamento de esgoto in natura nos corpos d’água impacta a vida da fauna e flora das localidades que sofrem por este processo poluidor, desequilibrando as relações entre os seres bióticos, proporcionando para as pessoas um complexo de desordens socioeconômicas, como por exemplo, o corpus d’água de regiões lagunares onde muitos pescadores necessitam buscar da laguna seu sustento. Tal fato, reverbera na vida destes pescadores, pois estes acabam por não conseguir manter as necessidades básicas de suas famílias e, a economia voltada a atividade pesqueira é prejudicada devido a incapacidade das cidades em tratar o esgoto produzido antes de ser lançado no meio ambiente. Na intenção de estimular o debate sobre o conceito de saneamento básico busca-se uma definição para o mesmo, o conceito de saneamento básico ou saneamento ambiental foi definido em 1950 pela Organização Mundial de Saúde – OMS, como: a provisão de sistemas e controle adequados dos seguintes serviços: “abastecimento de água potável, disposição de excretas e esgotos, coleta de lixo, controle de vetores transmissores de doenças, drenagem urbana, habitação salubre, suprimento de alimentos, condições atmosféricas e segurança no ambiente de trabalho”. Essa conceituação foi com o tempo crescendo em complexidade. Hoje, a definição não estaria completa se não incluísse proteção contra a radiação, a ameaça dos produtos químicos sintéticos e a degradação social, principalmente nos países em estágio em desenvolvimento. (REBOLÇAS, 2006, p.286). O conceito de saneamento básico é muito complexo e revela toda uma preocupação com o meio ambiente e suas diferentes maneiras de degradação. O conceito levanta questões ANÁLISE DE FRAGILIDADES E VULNERABILIDADES SOCIOAMBIENTAIS 393 importantes sobre a economia de materiais desde a extração dos produtos até o seu descarte, a maneira de tratamento dos objetos antes de serem lançados nos corpos d’água, destacando a necessidade de se preocupar a atmosfera, litosfera e biosfera, relacionando-se ao conceito de saúde, abarcando questões que envolvem as pessoas, o ambiente e seu uso. O tratamento dos resíduos sólidos está previsto na lei nº 12.305 de 02 de agosto de 2010 e prevê no seu “Art. 1o (...) as diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, incluídos os perigosos, às responsabilidades dos geradores e do poder público e aos instrumentos econômicos aplicáveis” (BRASIL, 2010). O poder público juntamente aos órgãos de fiscalização e a população envolvida devem fazer valer a lei em prol da conservação do meio ambiente. O processo de poluição incentiva a formação de vários problemas ambientais, sociais e econômicos, um deles é a eutrofização. O processo de eutrofização ou verdete pode ser causadopor questões naturais, mas o que está sendo discutido neste estudo é o estímulo do processo em decorrência do acúmulo de potássio, hidrogênio e nitrogênio, por exemplo. Quando lançados em corpos d’água, provocam o aumento da população de microalgas e microbactérias, minimizando o potencial da área para questões turísticas, o lazer, desequilibrando a relação dos seres que fazem parte dos ecossistemas. O fenômeno da eutrofização de corpus d’água interiores consiste, segundo Abe (2010) “no enriquecimento com nutrientes, principalmente fósforo e nitrogênio (...). O crescimento acelerado e a maior abundância de plantas aquáticas causando, frequentemente, a deterioração da qualidade hídrica e crescimento de grandes volumes de algas”. Logo, a diminuição da deposição de nitrogênio e fósforo encontrado no esgoto em natura, lançado na Manguaba, torna-se uma das soluções para minimizar o fenômeno do verdete. O enriquecimento das substâncias citadas por Abe (2010) estimula o crescimento de macrófitas, que por sua vez, necessitam de mais oxigênio para sobreviver. O tempo de vida dessas macrófitas é menor, considerando que as substâncias citadas funcionarão como catalizadoras do seu crescimento e da decomposição, isso altera a tonalidade da água no ambiente lagunar e sua oxigenação, podendo provocar a mortandade de peixes. A mortandade de peixes em grande escala é um problema socioeconômico que impacta a vida das pessoas que necessitam, por exemplo, dos ambientes lagunares, os pescadores, a fim de conseguir o pescado para comercializar nas feiras livres ou em outros ambientes comerciais. A escassez do pescado em uma localidade devido à poluição dos ambientes aquáticos promove que a população de pescadores busque outras atividades econômicas para sobreviver. Outra consequência socioeconômica é aumento do preço do pescado de modo que os comerciantes necessitarão buscar o pescado em localidades mais longínquas, assim o preço da transportação do produto em questão estará estampando no mesmo ao chegar nas prateleiras dos mercados. 3. Processos Metodológicos da Pesquisa O estudo realizado foi de natureza qualitativa, a partir de técnicas participativas. Para que se atendesse aos objetivos da pesquisa, os procedimentos metodológicos da pesquisa foram baseados em levantamento das bibliografias feitas inicialmente por meio da seleção de livros, artigos e pesquisas em sites. Foi feita uma análise do espaço estudado, capturados por fotos e vídeos a fim de solidificar bases teóricas pesquisadas e estudadas. Utilizou-se imagens de satélite, relatório de campo e fotografias da região lagunar escolhida, a fim de se buscar a veracidade dos fatos. Tais análises tiveram como objetivo perceber quais as ações humanas que estimulam o processo de eutrofização ANÁLISE DE FRAGILIDADES E VULNERABILIDADES SOCIOAMBIENTAIS 394 nas águas da Manguaba, a partir de um recorte espacial em relação às margens da laguna, planície fluvio-lagunar, presente na cidade do Pilar em Alagoas. 4. Resultados Ficou evidenciado que o município não possui um tratamento eficaz de esgoto, sendo mais prático para os gestores, o lançamento de todo o esgoto nas redes fluviais. Pôde-se perceber, em um ângulo maior, também, que não só o município que estudamos ajuda com o processo de eutrofização da laguna Manguaba, mas esse processo é causado por quase todos os municípios ribeirinhos à laguna Manguaba. A área estudada é um recorte espacial da laguna Manguaba que se espraia pela planície fluvio lagunar da cidade do Pilar, entre os bairros do Torrão, nome dado pelos locais, até a desembocadura do rio Paraíba do Meio, nas imediações da fazenda Pilarzinho. A área foi selecionada porque é onde se percebe claramente nas paisagens da cidade o lançamento de esgoto público in natura na laguna, sendo um dos porquês que explicam o processo de eutrofização. Buscou-se perceber através de uma visão panorâmica a área selecionada para o estudo, conseguindo uma imagem de satélite que representa todo o espaço (Figura 1). A imagem de satélite captada no software Google Earth, revela a cor em tons de verde e marrom presente na laguna. A tonalidade dos tons de verde é reflexo do lançamento do esgoto in natura e dos sedimentos lançados pelo Paraíba do Meio e outros afluentes na Manguaba. Figura 1: Laguna Manguaba e desembocadura do rio Paraíba do Meio. Fonte: Google Earth, 2015. Sobre os impactos ambientais da laguna Manguaba, é dito por Silva (2008) que são resultantes de ações degradantes: deposição de sedimentos, assoreamento, antropização da paisagem, poluição hídrica, desmatamento, erosão e diminuição da biodiversidade, sendo forte à relação do processo de poluição ligado a ação humana. A tonalidade da água e o conjunto de impactos ambientais detectados, a análise das fotografias de satélite e as visitas realizadas à área estudada, ajudaram a entender o porquê do crescimento da população de macrófitas aquáticas. O crescimento e disseminação de espécies de macrófitas são devido ao acréscimo de nitrogênio e fósforo nas águas da laguna, substâncias presentes no esgoto in natura lançado. Durante as visitações realizadas na cidade do Pilar e na área de estudo, constatou-se que não existem unidades elevatórias que possibilitem o tratamento do esgoto, assim como nas cidades banhadas pelo rio Paraíba do Meio, no Estado de Alagoas. Os principais efluentes depositados na laguna referem-se aos esgotos originados, basicamente, de atividades industriais e de atividades ANÁLISE DE FRAGILIDADES E VULNERABILIDADES SOCIOAMBIENTAIS 395 domésticas (incluem-se aqui residências, comércios, instituições, entre outros). A imagem de satélite (Figura 2) datada de cinco de fevereiro de dois mil e sete, mostra a quantidade de microalgas que se acumulam nas margens da Manguaba. A datação da imagem revela que esta tenha sido obtida na época de verão daquele ano. As microalgas, em excesso, além de interferir significativamente no equilíbrio natural dos seres vivos da laguna (peixes e crustáceos, por exemplo), também deixa a paisagem local afetada negativamente. Tal fato, se torna em um ponto negativo para o turismo, uma vez que a cidade é também um polo do turismo no estado. Figura 2: Acúmulo de Macrófitas nas margens da Manguaba. Fonte: Google Earth, 2015. As visitações possibilitaram a captação de fotos que retratam o descaso ao tratamento dos resíduos. O lixo é lançado diretamente na Manguaba, havendo o estímulo ao processo de eutrofização (Figura 3). Os espaços públicos geridos pelo município não fogem à regra e os moradores, por não existirem fiscalizações severas em relação às ações que impactam o meio ambiente lacustre, também contribuem para degradação deste corpo hídrico. Figura 3: Lançamento de esgoto in natura na Manguaba. Fonte: Autoria própria. Através da análise das paisagens nas saídas à campo para área de estudo foi percebido que a carência voltada à educação ambiental do povo pilarense e a ineficiência do município em tratar o esgoto produzido, tornam-se o cerne da questão neste estudo. Entretanto, o problema voltado ao verdete e a poluição da laguna não é algo que será resolvido apenas se a cidade do Pilar conseguir minimizar ou erradicar os efluentes que escoam para o corpo d’água e degrada o ecossistema lacustre, mas deve haver uma mobilização geral entre todos os municípios banhados pela Manguaba. ANÁLISE DE FRAGILIDADES E VULNERABILIDADES SOCIOAMBIENTAIS396 Portanto, as possíveis soluções para que sejam minimizados o verdete e a poluição na Manguaba devem abarcar toda a região por onde o Rio Paraíba do Meio passa, desde as terras pernambucanas até o território alagoano, juntamente com a região que compõem o CELMM – Complexo Estuarino Lagunar Mundaú Manguaba, seus canais e Laguna Mundaú, uma vez que todos esses espaços estão interconectados. 5. Considerações Finais A análise das fotografias de satélite, as visitações realizadas na área estudada, as fotografias capitadas da localidade e as referências que basearam o estudo permitiram que fossem pensadas duas possíveis soluções para a gestão dos resíduos lançados na laguna. A primeira possível solução está no tratamento do esgoto e não apenas na sua canalização, porque a canalização só transfere o problema de um ponto da laguna para outro. A segunda possível sugestão corresponde a um conjunto de medidas, tais como, a construção de unidades de tratamento de esgoto em todas as cidades onde o Rio Paraíba passa, o trabalho de conscientização das populações que vivem nas cidades próximas aos espelhos d’água, a regulação do processo de dragagem, o controle do processo de ocupação nas áreas da União, o controle sobre o desmatamento da vegetação de mata ciliar e a proibição efetiva do processo de descarte de resíduos das empresas da região em locais que ocupem as proximidades dos corpos d’água. Portanto, o conjunto de medidas citadas pode desencadear um plano de ação inteligente. O que deve haver é uma reorganização territorial, na intenção de serem efetivadas medidas políticas que privilegiem as pessoas, não atendendo as necessidades exclusivas do Estado ou das grandes empresas da região. 6. Referências ABE, D. S.; GALLI, C. S. Disponibilidade, poluição e eutrofização das águas. In: BICUDO, C. E. M.; TUNDISI, J. G.; SCHEUENSTUHL, M. C. B. (Orgs.). Águas do Brasil: análises estratégicas. São Paulo: Instituto de Botânica, 2010. p. 165-174. BRASIL. Lei Nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso em: 31 mar. 2021 REBOLSAS, Aldo da Cunha et al. Águas doces no Brasil: capital ecológico, uso e conservação. 3º Ed. Escrituras: São Paulo, 2006. SILVA, D. F.; SOUSA, F. A. S. Proposta de manejo sustentável para o complexo estuarino lagunar Mundaú/Manguaba (AL). Revista Brasileira de Geografia Física. Recife, PE, v. 1, n. 2, p. 78-94, set./ dez. 2008.